sábado, 18 de maio de 2024

Meditação. O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ!

O justo viverá pela fé, já dizia e ensinou o Apóstolo Paulo. O justo viverá pela fé - com Deus, e viverá com Deus - pela fé. O justo vai manter um relacionamento com Deus, pela fé. O justo vai viver o dia a dia na presença de Deus. Pela fé. O justo irá descobrir como Deus transforma e abençoa as nossas vidas, pela fé. Especialmente hoje, dia 19 de maio de 2024 - Domingo de Pentecostes, celebramos a vinda do Espírito Santo ao mundo. A partir disto, Deus envia o Espírito Santo para viver em nós e por isso, vamos viver no dia a dia com Deus. Pela fé. Viver com a própria Trindade! É isso. O ser humano que tiver fé para crer que Jesus é o Messias e isto declarar falando para Deus Pai, será um justo diante de Deus pra viver para sempre com o Pai Celestial. Pois a fé bíblica é a certeza do que se espera e a convicção do que não se vê. Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois todo aquele que se aproxima de Deus, precisa acreditar que Deus existe e abençoa os que a Ele se achegam. ORAÇÃO. "Tem misericórdia de mim, ó Deus, por causa do teu amor. Por causa da tua grande compaixão, apaga as manchas de minha rebeldia. Lava-me de toda minha culpa, purifica-me do meu pecado. (...) Devolve-me a alegria e a felicidade! Tu me quebraste; agora, permite que eu exulte outra vez. (...) Cria em mim, ó Deus, um coração puro; renova dentro de mim um espírito firme. Não me expulses de tua presença e não retires de mim teu Santo Espírito. Restaura em mim a alegria de tua salvação e torna-me disposto a te obedecer." (Salmo 51). Autor. Ivan S Rüppell JR é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana, atuando como capelão da Repas e na gestão de ações sociais de igrejas.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

COSMOVISÃO CALVINISTA. Fundamentos e Desenvolvimento. Citações.

Esse conteúdo foi organizado com fins somente didáticos para a Disciplina Cosmovisão Calvinista do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba, 2024. Prof Ivan S Rüppell Jr. "Uma vez que o evangelho diz respeito ao governo de Deus sobre toda a criação, todas as nações e toda a vida humana, a missão dos seguidores de Jesus é tão vasta quanto a própria criação. Eles receberam a comissão de testemunhar acerca do evangelho em todas as áreas da vida pública - nos negócios, na vida acadêmica, na política, na família, na justiça criminal, nas artes, nos meios de comunicação - e em todos os outros aspectos da experiência humana." (p. 29, Goheen, 2016). "Como aqueles que abraçaram o evangelho, somos membros de uma comunidade que crê que a Bíblia é a verdadeira narrativa do mundo. Mas, como membros que vivem e participam na comunidade cultural, também fazemos parte da outra narrativa que há muito tempo vem moldando a cultura ocidental. Não podemos simplesmente optar por nos isolar da cultura ao redor... Nossa corporificação do reino de Deus precisa assumir forma cultural em nosso tempo e lugar específicos." (p; 31-32, 2016). "Mais de um século atrás, dois pensadores cristãos vieram a perceber, como aconteceu com Newgbin, que a narrativa cultural do Ocidente estava solapando a narrativa bíblica como a base da vida na comunidade cristã e, por conseguinte, estava obstruindo um embate missionário autêntico entre o evangelho e a cultura... James Orr e Abraham Kuyper chamaram a igreja de volta à afirmação de Cristo de que só o evangelho oferece uma visão do mundo verdadeira e abrangente." (p. 33, 2016). "De acordo com Orr, uma cosmovisão cristã é cristocêntrica, centralizada em Cristo como o cumprimento da história da salvação e adota (como o próprio Cristo fez) a perspectiva do Antigo Testamento acerca da criação." (p. 39, 2016). "Para Kuyper, a única abordagem cristã adequada diante do desafio do modernismo se encontrava no calvinismo e, por isso, seu projeto particular era enunciar com clareza as implicações de uma cosmovisão calvinista para a religião, a política, a ciência e a arte." (p. 40, 2016). "A tradição que surgiu do pensamento de Kuyper... é conhecida como "neocalvinismo", e seus principais temas são: - Na redenção de Deus em Cristo e por meio dela, a graça restaura a natureza, A graça é como remédio que estabelece a saúde de um corpo doente. A obra salvífica de Cristo está voltada para a criação como um todo, a fim de restaurá-la para que alcance o objetivo que Deus sempre teve em mente para ela. - Deus é soberano e, pela sua lei e palavra, ordena toda a realidade. - O mandato cultural dado em Gênesis 1.26-28 (de administrar regiamente a criação) tem relevância contínua: Deus chama a humanidade a desenvolver, para a glória dele, a criação dele ao longo da história." (p. 42). "Nossa definição operacional de cosmovisão. (...) `Cosmovisão é uma enuciação das crenças básicas embutidas em uma grande narrativa compartilhada, as quais estão arraigadas em um compromisso de fé e dão forma e sentido à totalidade de nossa vida individual e coletiva`." (p. 52). "Como Eclesiastes 3.11 indica, todos os seres humanos se apropriam, de uma forma ou de outra, de uma grande narrativa, porque somos criaturas e não o Criador. Nosso coração, o âmago religioso de nosso ser, está voltado ou para o Deus vivo ou para um ídolo, e a grande narrativa em que vivemos é uma expressão dessa inclinação de nosso coração." (p. 53). Relação entre Escrituras e Cosmovisão. REFERÊNCIAS. Gohee, Michael e Bartholomew, Craig. Introdução à cosmovisão cristã. Vida Nova, SP, 2016.

COSMOV. CALVINISTA, SPS. Soberania de Deus e Responsabilidade Humana.

“É suficiente que saibamos que a vocação de Deus é como um princípio e fundamento baseados no qual podemos e devemos governar bem todas as coisas (...) Além de tudo mais, se não tivermos a nossa vocação como uma regra permanente, não poderá haver clara consonância e correspondência entre as diversas partes de nossa vida.” (João Calvino) (Institutas, p 225, 2006). (...) Para Calvino, a sabedoria verdadeira acerca da existência consiste no conhecimento que temos de Deus, e no conhecimento que temos de nós mesmos. Sendo que “conhecer a Deus” significa saber que Ele é nosso Criador, além de ser o sustentador de tudo que há através de sua providência, governando a história com sabedoria, justiça e cuidado amoroso.” (Wiles, p 25, 1994). O primeiro conhecimento bíblico que adquirimos ao olhar para Deus aponta o princípio com que Deus governa a história e a sociedade dos homens, o qual irá indicar aos cristãos o modo em que devem perceber e praticar a sua responsabilidade de mandato social. (...) Observe que o conhecimento desse princípio da Providência irá nos ensinar o conteúdo mais amplo acerca do modo como Deus é o Criador do Universo, dando-nos a compreensão da maneira como Ele sustenta, governa e preserva tudo que existe, movendo toda providência segundo o seu poder. Portanto, a filosofia e razão dos homens que define Deus como sendo apenas a causa primária da criação, vai limitar o nosso conhecimento da providência, enquanto também nos fará desprezar a bondade que o Senhor dedica a todas as suas criaturas. (Wiles, p 87-89, 1984). Um segundo aspecto importante de nossa compreensão do tema, é descobrir que no instante em que Deus governa todas as coisas pela sua providência, Ele vai atuar na história através de causas secundárias, como também, sem estas causas e até contrariamente a elas. Ele é o Soberano Senhor! Calvino utiliza o conselho bíblico de Salomão em Provérbios 16.9, para expor o modo como os decretos da governança de Deus sobre a existência não devem nos impedir de assumir uma atitude de “providência pessoal” no dia a dia. Pois foi o próprio Deus que nos deu tanto a responsabilidade de cuidar de nossas vidas, como igualmente nos capacitou com tudo que é necessário para preserva-la, já que nos orienta a prever perigos, agir com precaução e utilizar remédios. Portanto, ao perceber que os seres humanos se tornam uma das “causas secundárias” da providência pelas quais Deus governa a terra, devemos assumir a responsabilidade de zelar por nossas vidas, usando os meios fornecidos pelo Senhor, a fim de não sermos negligentes neste conhecimento. Nesse contexto, assim que o cristão reconhece que tudo está debaixo da ordenação de Deus, também dedica o devido valor e atenção às causas secundárias, sabendo que os meios cotidianos de cuidar de sua segurança foram dados pelo Senhor. A partir disso, irá utilizar os meios divinos como instrumentos da providência do Senhor para cuidar da humanidade, vindo a abraçar e assumir, tanto sua dependência de Deus, como a sua responsabilidade no mandato social cristão diante do mundo. (Wiles, p 95-98, 1984). Estes dois elementos do Governo de Deus sobre a Terra revelam tanto o cuidado do Senhor sobre a história, como a responsabilidade dos cristãos, já que estes recebem de Deus um mandato para atuar na sociedade dos homens. Afinal, o Senhor irá agir no mundo a partir da vida e personalidade de cada fiel, que irão servi-lo como agentes das “causas secundárias” de sua Providência. Um terceiro aspecto da governança bendita de Deus sobre o mundo surge no conhecimento da importância de sua lei moral, como sendo um elemento utilizado para instruir o homem, resguardar a sociedade do mal e propor o conhecimento da necessidade do Evangelho para a salvação de todo aquele que crê! Segundo Calvino, a Bíblia ensina que a lei moral de Deus tem três propósitos na história da humanidade e sociedade dos homens. Em primeiro lugar, o teólogo entende que a lei moral divina serve para anunciar e formalizar a culpa de todo homem diante de Deus, no objetivo de gerar temor nos seres humanos, algo que irá conduzi-los a buscar o conhecimento da misericórdia do Senhor; conforme se anuncia no Evangelho de Jesus Cristo. A lei moral de Deus serve, então, para revelar a justiça de Deus, pois somente esta convence o homem de sua própria injustiça. Sendo que, somente os padrões da moralidade divina são capazes de demonstrar ao homem o seu estado de fraqueza e de condenação; conforme explica o Apóstolo Paulo: “pois eu não teria conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.” E, conforme Agostinho, “a lei serve para convencer o homem da sua fraqueza e a compeli-lo a orar pela graça curadora que há em Cristo.” (Wiles, p 149, 1984). Esse é um aspecto relevante acerca da responsabilidade social do cristão, pois a sociedade dos homens somente terá conhecimento da justiça do caráter de Deus, caso os cristãos venham anunciar tal verdade moral, mediante toda cultura e política, artes e educação que tiverem sob sua responsabilidade para praticar e desenvolver socialmente. O segundo elemento de importância da Lei moral divina orienta que ela serve para Deus governar a história pela sua Providência, no propósito de refrear a maldade dos atos dos homens que não se preocupam com o que é certo e com o que é errado. A lei moral de Deus serve para reprimir os homens através de freios e limites, como uma retidão necessária à toda humanidade, pois se não existisse esta proteção e resguardo da sociedade, o mundo se tornaria um lugar totalmente selvagem. Esse segundo aspecto complementa a responsabilidade social dos cristãos enunciada no primeiro, revelando o modo como leis civis originárias de valores cristãos irão oportunamente refrear a natureza humana na sociedade, segundo os padrões da justiça e moralidade de Deus. Um terceiro aspecto importante do anúncio da lei de Deus é que a sua instrução é útil para ensinar os cristãos qual é a vontade de Deus para eles, como um elemento de apoio na sua jornada existencial. Pois o Espírito de Deus vive hoje em seus corações, a fim de conduzi-los no conhecimento e obediência dos mandamentos do Senhor. (Wiles, p 149, 1984). Um outro elemento surge a partir de um olhar mais amplo acerca da existência, indicando a forma em que a lei moral divina se torna o instrumento utilizado para gerar um bom conhecimento da Pessoa de Deus, à toda humanidade. Pois a lei moral de Deus constrange os homens a adora-lo, enquanto também os conduz à humildade, sobre si mesmos. Calvino esclarece que a própria consciência do ser destaca a maneira em que os princípios morais de Deus foram escritos no interior e coração do homem. No entanto, somente a lei divina irá dar um testemunho claro e seguro acerca do certo e errado para a humanidade, já que a lei interior é insuficiente para fazer isso, em razão de nossa ignorância e vaidade. Nessa situação, os homens poderão admitir que estão longe da vontade de Deus, a cada vez que puderem comparar as suas vidas diante das exigências da lei, algo que também irá conduzi-los a buscar a misericórdia divina como um recanto de segurança. (Wiles, p 151-153, 1984). Após destacar os três aspectos de importância da lei moral bíblica no exercício do governo da Providência sobre a humanidade, e após esclarecer o valor da lei perante a consciência do homem, a fim de também convoca-lo a conhecer a misericórdia de Deus no Evangelho; Calvino apresenta o modo como os 10 Mandamentos são os fundamentos da Lei moral de Deus na história. (...) Calvino recorda a importância de nos relacionarmos perante a humanidade segundo os padrões morais de Cristo, pois as exortações morais provenientes dos filósofos nos mandam viver a vida conforme é apropriado à natureza humana. Algo impróprio para ser praticado ou defendido pelos cristãos, já que afora o fato de somente as Escrituras ensinarem o exemplo de Jesus aos homens, todos aqueles que seguem o conteúdo dos filósofos não irão carregar ou ensinar nada de Cristo, além do título. Para Calvino, a doutrina dos filósofos orienta a maneira em que o homem será governado pela razão, enquanto que a filosofia cristã afirma que a nossa racionalidade deve estar submetida ao Espírito Santo, no propósito de que possamos viver em Cristo, e não mais, em nós mesmos. (Wiles, p 237-239, 1984). Citação final: “Se houve qualquer movimento religioso, no século 16, que tenha tido uma atitude afirmativa em relação ao mundo, esse foi o Calvinismo.” (Alister McGrath) (p 249, 2005). ÉTICA SOCIAL DO CALVINISMO HOLANDÊS. Este texto traz uma Resenha/Resumo com objetivos didáticos, do artigo, "Nicholas Wolterstorff e a Ética Social do Calvinismo Holandês", de Luiz Roberto França de Mattos, do livro: Cosmovisão Cristã e Transformação, Guilherme Vieira Ribeiro de Carvalho (org) - Viçosa, MG : Ultimato, 2006. Segundo nosso autor, Luiz Roberto, "o objetivo primário... é introduzir o pensamento da escola calvinista holandesa como base na qual Nicholas Wolterstorff desenvolve sua ética social." Wolterstorff foi bacharel em Artes Liberais e Phd em Filosofia, vindo a assumir como Professor de Teologia Filosófica, durante 30 anos no Calvin College. Sobre o termo "calvinismo holandês", o destaque do autor esclarece sua associação com a expressão "neo-calvinismo", sendo um movimento de retorno ao pensamento da tradição calvinista, que houve na Holanda em meados do século 19, na liderança de Abraham Kuyper e Herman Bavinck, tendo por sucessores no decorrer do século 20, Herman Dooyeweerd e ainda, Nicholas Wolterstorff. São muitos os temas refletidos e publicados por Wolterstorff, desde Teologia até Estética, e Educação, com destaque especial relacionado nesta resenha, para os textos socio-políticos, além das leituras das Cartas de Kuyper, proferidas na Universidade de Amsterdâ, em 1981. No destaque do autor, "a ética social de Wolterstorff será avaliada... com base... (nas) esferas sociocultural, econômica e religiosa", o que irá auxiliar no entendimento de sua visão da socidade moderna e igualmente, suas proposições para a mesma. O primeiro tópico do artigo traz um tema central do pensamento calvinista acerca das sociedades; "Sociedades Humanas: Sociedades Decaídas e Necessitadas de Reforma." Neste sentido, o princípio base da observação da realidade social humana requer o entendimento de que as mesmas "estão alienadas de Deus", gerando um desenvolvimento oriundo da vontade dos homens, o qual gera uma sociedade "decaída, necessitada de reforma; sendo este, um pensamento "consistente com a tradição calvinista e puritana". (...) O Modelo Econômico para as nações, que tem sido orientado pela modernidade é criticado por Wolterstorff, que entende que os dois princípios deste não são inteiramente verdadeiros e válidos. Quais sejam, de que todas as sociedades tem as condições de alcançar progresso sem que isto ocorra em meio a mudanças naquelas que já alcançaram; e, de que a falta de desenvolvimento numa certa realidade são oriundas tão somente de situações específicas daquela sociedade. Assim, essa chamada "teoria da modernização" é refletida de modo negativo pelo pensador holandês, posto que "a falta de desenvolvimento entre os (países) não desenvolvidos não pode ser explicada sem levar em conta o impacto das áreas altamente desenvolvidas sobre as não desenvolvidas." (p. 222). Wolterstorff entende como razoável, que deveria existir "uma economia integrada unificando nações distintas", vindo a criticar o modelo em que o terceiro mundo tem sido usurpado em favor do progresso do primeiro mundo. Neste sentido, o mundo como um todo observa uma distribuição de valores e capitais, que se caracteriza pela supremacia das áreas centrais diante das periféricas, nas quais acontece uma "preponderância econômica no sistema global, como consequência da concentração de riqueza." (p. 222). (...) Wolterstorff cita os três valores destacados por Dooyeweerd nessa relação de desenvolvimento social, os quais tem sido um conteúdo do neocalvinismo, oriundo do pensamento reformado. Primeiro, cada uma destas esferas da vida deve entender bem a sua natureza e realidade; segundo, instituições de esferas distintas não podem agir com domínio nas áreas das outras, posto que sua ação irá corromper e distorcer aquela área; e, terceiro, cabe ao seres humanos perceber e trazer à realidade os "potenciais da criação inerentes a cada esfera." (p. 224). (...) Para Wolterstorff, os cristãos calvinistas "tem um papel fundamental na reforma da ordem social", sendo que esse papel tem base nas tradições puritanas e calvinistas, posto que todo conhecimento acerca de Deus, para Calvino, orienta uma "resposta apropriada às suas obras." (...) "Esta resposta, brotando da gratidão, deve ser exercitada por todas as ocupações na sociedade", já que todas elas tem valor essencial no desenvolvimento das sociedades. (p. 227). A partir disso, o Shalom e paz social que agrada a Deus, pode vir a ocorrer a partir de três aspectos: acerca do modelo sócio-politico-cultural, cada ser humano dedicado a uma devida ocupação social deverá desenvolver sua atividade tendo por objetivo a glória de Deus, visando ao bem comum. Sendo que cada nação poderá ser flexível na escolha de seu modelo econômico e social, desde que este "permita o desenvolvimento dos potenciais da criação": "qualquer sistema sociopolítico que permita o florescimento da cultura em áreas como as esferas de poder da ciência, arte, Estado, indústria, comércio, escola e organizações voluntárias, para usar alguns dos exemplos mencionados por Dooyeweerd, deve ser considerado aceitável." (p. 230). O Modelo Econômico oriundo da tradição neocalvinista respeita tanto a realidade de que o homem deve dominar a criação, como também, que a sua utilização deverá ocorrer segundo e para o bom desenvolvimento de seus potenciais. De modo que as atividades e profissões ligadas à indústria e comércio deverão ser praticadas perante a face de Deus, havendo o devido cuidado para que a esfera econômica não venha a dominar sobre as outras esferas da vida. A área da economia deve estar "genuinamente aberta para as normas de outras esferas", em que deve haver liberdade de desenvolvimento e busca de regulamentação das atividades. "A visão de Wolterstorff é de uma sociedade cujas instituições servem à causa da justiça e do shalom. Trata-se de uma visão social caracterizada por relações harmônicas com outros seres humanos, e com a natureza, bem como uma forte preocupação com o pobre." (p. 231). Desta forma, surge a crítica tanto de um sistema político que determina igualdade retirando de ricos para dar aos pobres, como igualmente, críticas para um sistema que libera grandemente a atuação econômica sobre a sociedade. Neste contexto, "arranjos socioeconômicos deveriam necessariamente assegurar que outros seres humanos sejam "adequadamente sustentados em sua existência." (...) "De qualquer modo, o regime socioeconômico adotado deve garantir que o povo seja protegido da perda de seu sustento, evitando, simultaneamente, a construção de estruturas opressivas." (p. 232-233). Acerca do modelo religioso, a visão neocalvinista propõe o equilíbrio das atividades, em respeito às realidades: "O modo cristão de ser-no-mundo é a resposta apropriada, uma resposta que incorpora tanto gratidão a Deus quanto o cuidado responsável pela criação divina. Uma vida de gratidão, expressa pela alternância rítmica de trabalho e adoração encontra-se no âmago do modelo religioso proposto por Wolterstorff para uma sociedade que persegue shalom." (p. 233). Conclusão. Wolterstorff reflete um pensamento diferenciado da "teoria da dependência" (sobre o abuso econômico do primeiro mundo definir as sociedades do terceiro mundo), posto que, amplia o entendimento da realidade da sociedade a partir "da adoção de uma perspectiva neocalvinista da relação entre seres humanos e a criação"; pois a humanidade deve dominar a criação no desenvolvimento de ambos os potenciais, seja da natureza, seja do ser. (p. 234). "Esta atividade é propriamente traduzida por mordomia, que torna claro que seres humanos são chamados a governar sobre a criação, embora conscientes de que tal criação não pertence a eles, mas a Deus. Este governo envolve todas as áreas da vida nas quais os seres humanos devem expressar sua gratidão, por meio de suas vocações terrenas, com o objetivo último de dar glória a Deus." (p. 234). "A ênfase neocalvinista no florescimento de diferentes esferas de poder, cada qual com seu conjunto de normas e com autonomia em relação às demais", busca desenvolver a necessária liberdade na economia e tecnologia, mercado e propriedades, junto de uma capacidade de regulamentação destas atividades. Sendo que, "a visão de Wolterstorff acerca de nações se esforçando cooperativamente por shalom é um desafio e um chamado à responsabilidade". O que gera a necessidade de apresentar uma proposição de como a "ética socioeconômica neocalvinista" poderia se tornar um projeto viável, diante da realidade dos temas sociais contemporâneos, a fim de que o shalom social surja em nossas sociedades. (p. 235). Referências. BÍBLIA, Sagrada, NVT. 1 ed – São Paulo : Mundo Cristão, 2016. _______, de Estudo de Genebra. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 1999. CALVINO, João. As Institutas. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006. _________, A Verdadeira Vida Cristã. Novo Século, São Paulo, 2001. Mattos, Luiz Roberto França. Cosmovisão Cristã e Transformação. Artigo: Nicholas Woltrstorff e a Ética Social do Calvinismo Holandês. (org. Guilherme Vieira Ribeiro de Carvalho, Viçosa, MG: Edit. Ultimato, 2006). McGRATH, Alister E. Teologia, sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes. – São Paulo: Shedd Publicações, 2005 WILES, J. P. As Institutas da Religião Cristã – um resumo – João Calvino. Tradução do inglês Gordon Chown. Primeira edição em português: 1984. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo – SP. AUTOR: Ivan S Rüppell Jr é ministro da IPB e professor do Sem. Presb. do Sul - extensão Curitiba.

terça-feira, 14 de maio de 2024

SÍMBOLOS DE FÉ. SPS 2024. Necessidade e Relevância.

Conteúdo organizado para fins didáticos da Disciplina Símbolos de Fé do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. Prof. Ivan S Rüppell Jr. I. A QUESTÃO DA NECESSIDADE. "... Devemos nos reportar ao Novo Testamento. Este contém claras e sérias admoestações dos apóstolos associadas à preservação da ortodoxia e à genuidade do testemunho da fé ao ensejo da celebração dos sacramentos. E junto a essas declarações encontramos vários modelos de declaração de fé...". (p 18, Simões, 2002). 1. Formulações unitárias: Mt 16.16, Jo 1.49, Jo 20.28, I Co 15.3-8, I Tm 3.16. Form. binitárias: Atos 8.37, Rm 10.9, I Co 8.6, I Tm 2.5-6, Hb 6.1-2, I Jo 4.15. Form. trinitárias: Mt 28.19, I Co 6.11, I Pe 1. 1-2, 2.21-25, 3. 15-22." Um destaque de busca de unidade de fé em concílio de líderes está expressa no livro de Atos, cap. 15, sobre o tema da circuncisão diante dos gentios convertidos, com a questão de Paulo e Barnabé sendo enviada a Jerusalém. (p. 20). Sendo importante anotar que, "desde a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém (Atos 15) até ao Concílio de Nicéia (325 AD), quando surgiu o primeiro credo ecumênico da igreja Cristã, foram quase três séculos de controvérsias entre bispos, presbíteros e outros mestres no seu seio", sendo que além das doutrinas, igualmente o tema da autoridade e legitimidade apostólica na formação das Escrituras foi tratado pelas lideranças da igreja, posto que, "a genuidade do ensino apostólico, também chamado de tradição apostólica, estava sob risco com o passar dos tempos e o multiplicar das concepções." Segue destaque de J Kelly, prof de Oxford: "O próprio Deus, reconheceram todos os teólogos antigos, foi o autor último da revelação; mas Ele a comissionou a profetas e legisladores inspirados, sobretudo aos apóstolos os quais foram testemunhas oculares do verbo encarnado, e eles passaram adiante à Igreja... (e) os bispos que se preocupavam com a fidelidade à Escritura e sua correta interpretação... tomaram emprestado de um termo grego clássico, ortodoxein, o vocábulo latino ortodoxia, que significa "ciência correta" (ortos, certo e doxa, opinião, de dokmazô); assim, eles o aplicaram aos ensinos bíblicos e à tradição apostólica. Com tal intuito, buscavam salientar a distinção dos que permaneciam fiéis com relação aos que estavam "em desacordo com a doutrina que aprendestes" (Romanos 16.17). (p. 21-22). Nesse contexto, "as regras de Fé e Confissões Batismais que encontramos entre os escritores eclesiásticos do segundo e terceiro séculos marcam a transição da Bíblia para os Credos Ecumênicos. Elas contém aproximadamente todos os artigos dos Credos Apostólico e Niceno, e algumas são mesmo mais completas, especialmente as do Oriente." (p. 24, Simões apud Schaff, Philip. The Creeds of Christendom). II. A NECESSIDADE dos Credos. "... a nova fase, que viria a ser inaugurada em Nicéia (325. AD), sem dúvida alguma tornaria os credos elementos responsáveis por estabelecer a identidade da crença e da interpretação do que ensina a Bíblia dentro de um grupo de cristãos. Por conseguinte, desempenharam o mesmo papel no tocante à distinção em relação aos cristãos que divergiam quanto a uma única identidade de crença e uma única linha de interpretação." (p. 29). O quarto século era marcado por controvérsias e o surgimento de entendimentos muito diferentes de doutrina dentro do Cristianismo, de forma que o próprio surgimento das heresias tornou necessário o desenvolvimento dos Credos: "A necessidade dos credos repousa numa quarta razão - a da preservação da pureza e da doutrina... Sem Ário, Atanásio não teria completado a grande obra de sua vida. Agostinho nunca teria extraído da Palavra de Deus suas profundas conclusões sobre a graça, o livre-arbítrio, predestinação, e a igreja, sem um Donato e um Pelágio... Portanto, desenvolveram-se as confissões não apenas com forma de unidade, mas também de pureza." (p. 29). III. A NECESSIDADE DAS Confissões. Durante a Reforma o embate doutrinal e as diferenças de entendimento entre os que buscavam reformas e os que eram contrários - utilizando para isso definições de fé históricas, tornou necessária a elaboração das Confissões de Fé dos Reformadores. "Assim, tornaram-se conhecidos dois distintos períodos dogmáticos no Cristianismo: o período dos Credos e o período das Confissões; o primeiro foi característico dos séculos quatro e cinco... sendo o segundo característico da Reforma." Os temas e necessidades desse segundo período foram: "a distinção do Catolicismo Romano, a identificação nacional das novas igrejas da Reforma, e a carência acentuada de maior aprofundamento e extensão nas definições credais." Segundo Norman Sheperd, o principal motivo para existirem confissões é a "identificação da igreja como tal no mundo". (p. 39-40). Assim, "a confissão se torna um padrão para favorecer aos crentes demonstrarem ao mundo o que a igreja entende estar revelado nas Escrituras", e se faz guia para anunciar e dar testemunho do que se acredita, de modo que solucione a dúvida e confusão dos incrédulos. "Isto se tornou particularmente necessário no período da Reforma, uma vez que os reformadores estavam se posicionando perante uma igreja cristã já existente. Esse posicionamento, a princípio, significou distinção ao nível interno da Igreja Romana..." (já que Lutero postou as 95 teses quando era monge agostiniano e não pretendia ruptura - de forma que estes doc. junto aos de Melanchton vieram a trazer as primeiras distinções entre a crença romana e dos protestantes). (p. 40). Um aspecto determinante do período da Reforma foi o surgimento das igrejas nacionais que se libertavam do domínio do império romano, de modo que cada igreja que surgia em uma determinada região e país também indicavam o modo de pensamento e de compreensão das Escrituras daquele povo. Shepherd entende que os credos são essenciais para definir o que a igreja deve acreditar e no que não deve acreditar, posto que a origem dos credos está na "busca de uma resposta autorizada e esclarecedora para esses conflitos." (p. 41). "Calvino, ao subscrever a Confissão Genebrina (1536), uma espécie de síntese catequética de sua obra magna, as Institutas, ressaltou o objetivo de contrapor-se às "doutrinas infelizmente tão negligenciadas dos Papistas... Da mesma sorte aconteceu com outras confissões, de caráter nitidamente polêmico, apologético, distintivo: a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg, a Apologia da Confissão de Augsburgo, entre outras, foram elaboradas com finalidades explicitamente apologéticas." Ainda, "uma outra necessidade contemplada pelas confissões foi a de servir à unidade da igreja, diz Shepherd.", como se observa na Confissão Galicana preparada por Calvino, e nas Confissões Helvética pra agregar regiões suiças e a Confissão Escocesa, organizada no interesse de "unificar a fé reformada dentro da Escócia." (p. 41-42, Simôes, 2002). REFERÊNCIAS. Simôes, Ulisses Horta. Subscrição Confessional - Necessidade, Relevância e Extensão; Belo Horizonte: Efrata Publicações e Distribuição, 2002. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor do Seminário Presb do Sul ext Curitiba e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Meditação. COMO ADORAR A DEUS HOJE?

É preciso Amar a Deus e Amar o próximo, que é o resumo de toda lei, como explicou Jesus, o Messias. Acontece que para ser capaz de Amar, bem, o cidadão precisa entrar antes no Reino dos Céus. Afinal, como somos pecadores complicados que não sabem amar direito, então primeiro a gente precisa começar a participar do Reino de Deus pra ser capaz de amar com o verdadeiro amor, que está disponível lá mesmo, no Reino dos Céus. A partir daí, iremos Adorar a Deus em espírito e verdade ao nos relacionar com Ele levando toda a nossa personalidade. Nós seremos transformados na alma para amar a Deus e ao próximo a cada oração sincera de confissão e dedicação feita, tá entendendo? Dá uma olhada: "Mestre, qual o mandamento mais importante na lei de Deus?". Jesus respondeu: "Ame o Senhor seu Deus com toda a paixão, toda a fé e toda a inteligência'. Esse é o mais importante, o primeiro de qualquer lista. Mas há um segundo, ligado a esse: 'Ame o próximo como a você mesmo'. Esses dois mandamentos são como elos de uma corrente: tudo que está na Lei de Deus e nos Profetas deriva deles". (Evang. de Mateus, 22. 36-40, Bíblia A Mensagem). ORAÇÃO. "Amem as pessoas sem fingimento. Odeiem tudo que é mau. Apeguem-se firmemente ao que é bom. Amem-se com amor fraternal e tenham prazer em honrar uns aos outros... Alegrem-se em nossa esperança. Sejam pacientes nas dificuldades e não parem de orar... Abençoem aqueles que os perseguem... Vivam em harmonia uns com os outros... Nunca paguem o mal com o mal. Pensem sempre em fazer o que é melhor aos olhos de todos.... "A vingança cabe a mim, eu lhes darei o troco, diz o Senhor"... Não deixem que o mal os vença, mas vençam o mal praticando o bem." (Carta de Paulo aos romanos, cap. 12. 9-21). Autor. Ivan S Ruppell Jr é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atuando na capelania da Repas e gestão de ações sociais de igrejas.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Meditação. VIVENDO NA MISERICÓRDIA DE DEUS.

Quando falamos para Deus Todo Poderoso que Jesus é o Messias da História e o Cristo que leva embora os pecados dos homens, somos recebidos na hora na Presença de Deus Pai sem a culpa e a condenação dos pecados. Nesta situação, nós somos recebidos lá porque nos tornamos um pecador perdoado e com acesso a Deus, ao invés de um pecador condenado a ficar distante da Pessoa de Deus. Pois é dessa forma que Jesus age como Mediador entre Deus e os homens, levando com Ele os pecados que afastam a gente de Deus. Tá entendendo? Veja que esse relacionamento direto com Deus Pai que o cidadão pecador perdoado recebe pra desenvolver na vida é uma Misericórdia de Deus, já que os cristãos recebem isto pela graça e favor divinos, que entregou Jesus pra morrer pelos nossos pecados, sem que a gente mereça isto. A partir daí, o desafio diário aos cristãos é acreditar nestas misericórdias divinas e então correr para o abraço com Deus Pai num encontro de oração em espírito e em verdade. Esse relacionamento bendito ocorre quando levamos toda a nossa personalidade pra ser curada, cuidada e transformada através do saudável relacionamento religioso cristão que o Espírito Santo promove em nossa pessoa. Dá uma olhada: "Portanto, com a ajuda de Deus, quero que vocês façam o seguinte: entreguem a vida cotidiana - dormir, comer, trabalhar, passear - a Deus como se fosse uma oferta. Receber o que Deus fez por vocês é o melhor que podem fazer por Ele. Não se ajustem demais à sua cultura, a ponto de não poderem pensar mais. Em vez disso, concentrem a atenção em Deus. Vocês serão mudados de dentro para fora. Descubram o que ele quer de vocês e tratem de atenďê-lo. Diferentemente da cultura dominante, que sempre os arrasta para baixo, ao nível da imaturidade, Deus extrai o melhor de vocês e desenvolve em vocês uma verdadeira maturidade." (Carta aos Romanos, cap. 12. 1-2, Bíblia A Mensagem). ORAÇÃO. "Tem misericórdia de mim, ó Deus, por causa do teu amor... Purifica-me de minha impureza e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais branco que a neve. Devolve-me a alegria e a felicidade!... Restaura em mim a alegria de tua salvação e torna-me disposto a te obedecer. Então ensinarei teus caminhos aos rebeldes, e eles voltarão a ti." (Salmo 51. 1 - 13). Autor. Ivan S Rüppell JR é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana, atuando na capelania da Repas e gestão de parcerias de ações sociais de igrejas.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

SÍMBOLOS DE FÉ. CITAÇÕES. Sem. Presb. do Sul. 2024.

Esse texto contém apenas citações de um livro dedicado ao conteúdo informativo sobre a história e temas teológicos da Igreja Presbiteriana do Brasil. Este resumo de citações é de uso exclusivo para utilização em aulas do SPS, no objetivo de definir contextos e entendimentos importantes acerca da Disciplina Símbolos de Fé de Westminster. "QUEM SOMOS. A Igreja Presbiteriana do Brasil - IPB - é uma federação de igrejas que tem em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence à família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Suas origens mais remotas encontram-se nas reformas protestantes suiça e escocesa, no século 16, lideradas por personagens como Ulrico Zuinglio, João Calvino e João Knox. O nome "igreja presbiteriana" vem da maneira como a igreja é administrada, ou seja, através de "presbíteros" eleitos pelas comunidades locais. (...) Quanto à sua teologia, a Igreja Presbiteriana do Brasil é herdeira do pensamento do reformador João Calvino (1509-1564) e das notáveis formulações confessionais (confissões de fé e catecismos) elaboradas pelos reformados do século 16 e 17. Dentre estas se destacam os documentos produzidos pela Assembléia de Westminster, reunida em Londres na década de 1640. A Confissão de Fé de Westminster, bem como os seus Catecismos Maior e Breve, são adotados oficialmente pela IPB como os seus símbolos de fé ou padrões doutrinários." (p. 9-10, Nascimento e Matos, 2007). "REFORMADOS. O presbiterianismo derivou da Reforma Protestante do século 16. Pouco depois que o protestantismo começou na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, surgiu uma segunda manifestação do mesmo no Cantão de Zurique, na Suiça, sob a direção de outro ex-sacerdote, Ulrico Zuinglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo movimento ficou conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suiça. O entendimento de que a reforma suiça foi mais profunda em sua ruptura com a igreja medieval e em seu retorno às Escrituras, fez com que recebesse o nome de movimento reformado e seus simpatizantes ficassem conhecidos simplesmente como "reformados". Inicialmente, o movimento reformado esteve mais ligado à pessoa de Zuinglio. Porém, com a morte prematura deste, o movimento veio a associar-se com seu maior teólogo e articulador, o francês João Calvino (1509-1564). (...) Portanto, o movimento reformado é o ramo do protestantismo que surgiu na Suiça, no século 16, tendo como líderes originais Ulrico Zuinglio, em Zurique, e João Calvino, em Genebra. (...) Até hoje, as igrejas ligadas a essa tradição no continente europeu são conhecidas como Igrejas Reformadas (da Suiça, França, Holanda, Hungria, Romênia e outros países). Porém, o termo reformado é mais que a designação de uma tradição teológica ou eclesiástica. É um conceito abrangente que inclui todo um modo de encarar a vida e o mundo a partir de uma série de pressupostos, dentre os quais se destaca a soberania de Deus." (p. 10-11). "CALVINISTAS. O calvinismo, como o nome indica, é o sistema de teologia elaborado pelo mais articulado e profundo dentre os reformadores, João Calvino. Esse sistema, contido especialmente na obra magna de Calvino, a Instituição da Religião Cristã ou Institutas, resulta de uma interpretação cuidadosa e sistemática das Escrituras, e tem como um de seus principais fundamentos a noção da absoluta soberania de Deus como criador, preservador e redentor. (...) Todo calvinista é reformado, mas nem sempre a recíproca é verdadeira." (p. 12). "PRESBITERIANOS. O termo presbiteriano foi adotado pelos reformados nas ilhas britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda). Isso se deve ao contexto político-religioso em que o protestantismo foi introduzido naquela região, no qual a forma de governo da igreja teve uma importância preponderante. Os reis ingleses e escoceses preferiam o sistema episcopal, ou seja, uma igreja governada por bispos e arcebispos, o que permitia maior controle da igreja pelo Estado. Já o sistema presbiteriano, isto é, o governo da igreja por presbíteros eleitos pela comunidade e reunidos em concílios, significava um governo mais democrático e autônomo em relação aos governantes civis. Das Ilhas Britânicas, o presbiterianismo foi para os Estados Unidos e dali para muitas partes do mundo, inclusive o Brasil." (p. 12). "Em conclusão, ao dizermos que somos reformados, calvinistas e presbiterianos, ficam implícitos outros dois elementos igualmente importantes da nossa identidade (...) somos cristãos e somos evangélicos." (p. 13). "EUROPA CONTINENTAL. Logo após o início da carreira de Calvino, o movimento reformado começou a difundir-se em muitas regiões da Europa, notadamente na França, no vale do Reno (Alemanha e Países Baixos), no leste europeu e nas Ilhas Britânicas. (fatores de difusão: a imprensa divulgando as ideias teológicas de Calvino; o deslocamento de refugiados entre as nações; e a condição de Genebra, local em que "eram treinados (homens e mulheres) nos preceitos da fé reformada e retornavam aos seus países imbuídos das novas ideias.) (...) Em 1559, reuniu-se o primeiro sínodo da Igreja Reformada da França representando centenas de comunidades locais. Pela primeira vez, o presbiterianismo era organizado em âmbito nacional. Esse sínodo aprovou uma importante declaração da fé reformada, a Confissão Galicana. (em razão da proximidade, houve penetração no sul da Alemanha, sendo que "nos Países Baixos, a fé reformada surgiu inicialmente em Antuérpia, em 1555", sendo formadas mais 300 igrejas, que adotaram a "declaração de fé, a Confissão Belga, escrita por Guido de Brés em 1561"). (p. 19-20). "ILHAS BRITÂNICAS... Nessa região é que surgiu o outro nome histórico associado ao movimento: "presbiterianismo". Esse nome tinha ao mesmo tempo conotações teológicas e políticas. (Os reis da Escócia e Inglaterra desejavam uma igreja episcopal com liderança de bispos o que daria maior controle do Estado sobre a religião, enquanto os "reformados da Escócia e Inglaterra (buscavam) uma igreja governada por presbíteros, eleitos pelas congregações e reunidos em concílios, era uma reinvidicação de independência da igreja em relação ao poder público. Tal foi a origem histórica do termo "presbiteriano" ou "igreja presbiteriana".) (p. 20). "O PROTESTANTISMO REFORMADO FOI LEVADO PARA A ESCÓCIA POR GEORGE WISHART, que estudara na Suiça e foi morto na fogueira em 1546. As primeiras igrejas reformadas surgiram no final da década seguinte. Os eventos se precipitaram com o retorno do líder John Knox (1514-1572), que passou alguns anos em Genebra como refugiado, estudou aos pés de Calvino e regressou ao país em 1559. No ano seguinte, o Parlamento aboliu o catolicismo, adotou a fé reformada e criou uma igreja nacional presbiteriana. Sua declaração doutrinária ficou conhecida como Confissão Escocesa. (A Escócia presbiteriana foi governada pela Rainha Católica Maria Stuart entre 1561 e 1567, enquanto que os reis escoceses seguintes buscaram "impor o anglicanismo e perseguiram os presbiterianos - especialmente Carlos II, entre 1660-1685). "Somente em 1689 o presbiterianismo foi estabelecido definitivamente." (p. 20-21). "NA INGLATERRA, surgiram fortes influências reformadas e calvinistas durante o reinado de Eduardo VI (1547-1553). No reinado de Carlos I (1625-1649) ocorreu um evento marcante na história do presbiterianismo. Esse rei precisou convocar a eleição de um parlamento, o que, para sua surpresa, resultou em uma maioria parlamentar puritana. Dissolvido o parlamento, foi feita nova eleição, que tornou a maioria puritana ainda mais expressiva. Esse parlamento puritano convocou a célebre Assembléia de Westminster (1643-1648), que produziu os "padrões presbiterianos" de culto, governo e doutrina. Quando esses documentos foram aprovados pelo parlamento, a Igreja da Inglaterra deixou de ser episcopal e tornou-se presbiteriana. Porém, depois que Carlos II assumiu o trono em 1660, houve a restauração do episcopado e seguiram-se vários anos de repressão contra os presbiterianos. Com o tempo, os padrões de Westminster tornaram-se os principais documentos teológicos adotados pelas igrejas reformadas ao redor do mundo." (p. 21). "ESTADOS UNIDOS. O calvinismo chegou à América do Norte com os puritanos ingleses que se radicaram em Massachusetts no início do século 17. O primeiro grupo fixou-se em Plymouth em 1620 e o segundo fundou as cidades de Salem e Boston em 1629-1630. Nas décadas seguintes, mais de 20 mil puritanos cruzaram o Atlântico em busca de liberdade religiosa e novas oportunidades. Todavia, esses calvinistas optaram pela forma de governo congregacional, e não pelo sistema presbiteriano. A Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos foi criada pelos escoceses-irlandeses que emigraram em grande número para a América do Norte no século 18, e pelos seus descendentes. O primeiro presbitério surgiu em 1706 e o primeiro sínodo em 1717, ambos em Filadélfia, na Pensilvânia. Finalmente, em 1789 foi organizada a Assembléia Geral da nova denominação. Os presbiterianos foram um dos grupos mais destacados na luta pela independência da nova nação... Outros grupos reformados que se estabeleceram nos Estados Unidos foram holandeses, alemães e franceses. (A guerra civil trouxe divisão para a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, surgindo a igreja do norte, PCUSA e a igreja do sul, PCUS. "Os missionários pioneiros dessas duas igrejas chegaram ao Brasil respectivamente em 1859 (Ashbel G. Simonton) e em 1869 (Edward Lane e George Nash Morton)." (p. 21-22). "NOSSOS SÍMBOLOS DE FÉ (...) A Confissão foi aprovada pelo Parlamento somente em 1648, com o seguinte título: "Artigos da religião cristã, aprovados e sancionados por ambas as casas do Parlamento, segundo o conselho da Assembléia de teológos ora reunida em Westminster por autoridade do Parlamento". (...) Como declaração da doutrina reformada e como afirmação do calvinismo do século 17, a Confissão de Fé é um documento extremamente moderado e judicioso. O autor William Beveridge concluiu: "Devemos agradecer a Deus por essa declaração sábia, completa e equilibrada de nossa fé, que chegou até nós como uma preciosa herança da Assembléia de Westminster." Com o auxílio dos escoceses, as forças parlamentares lideradas por Oliver Cromwell esmagaram o rei Charles e seus exércitos. Cromwell e o exército inglês eram partidários do congregacionalismo; assim sendo, os presbiterianos foram expulsos do Parlamento em 1648. O rei foi decapitado na Torre de Londres em janeiro de 1649, sendo então criada a Comunidade (Commonwealth), tendo Cromwell como Lorde Protetor da Inglaterra e da Escócia. Cromwell morreu em 1658 e dois anos depois foi restaurada a monarquia, com Carlos II no trono dos dois países. O episcopado foi restaurado, sendo aprovadas rígidas leis que impunham submissão ao governo e ao culto da Igreja da Inglaterra. Cerca de dois mil ministros presbiterianos foram expulsos de suas igrejas e residências. Seguiu-se um longo período de intolerância e cerceamento. Somente no século 19 foi organizada a Igreja Presbiteriana da Inglaterra (1876). Na Escócia, os Padrões de Westminster foram prontamente adotados pela Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana, substituindo os antigos documentos que vinham desde a época de John Knox. Isso é notável se lembrarmos que a Assembléia de Westminster era composta de 121 ministros puritanos ingleses e apenas quatro ministros escoceses. Os presbiterianos escoceses agiram assim por causa dos méritos intrínsecos dos Padrões de Westminster e em especial devido ao seu desejo de promover a unidade entre os presbiterianos das Ilhas Britânicas. Através da imigração e do esforço missionário dos presbiterianos escoceses, esses padrões foram levados para a Irlanda do Norte, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Brasil e muitos outros países ao redor do mundo." (p. 74). "RELEVÂNCIA ATUAL. A Confissão de Fé de Westminster é considerada uma das melhores e mais equilibradas exposições da fé reformada. Suas definições doutrinárias foram cuidadosamente elaboradas por alguns dos homens mais cultos e piedosos do século 17... Temos de reconhecer que a maior parte das suas formulações continuam plenamente válidas para os dias atuais. Embora seja um documento muito importante e valioso para os reformados, ela não está no mesmo nível das Escrituras, ficando subordinada à mesma. Que essas considerações estimulem os leitores a conhecer melhor esse documento histórico que é parte essencial da nossa identidade presbiteriana." (p. 73-74). NASCIMENTO, Adão Carlos, e MATOS, Alderi Souza de. O que todo presbiteriano inteligente deve saber. Santa Bárbara do Oeste, SP : SOCEP Editora, 2007. Autor. Ivan S R Jr é professor do Seminário Presbiteriano do Sul, extensão Curitiba, e ministro da IPB, atuando na gestão de ações sociais de igrejas. RESENHA TEMÁTICA. "A Igreja Presbiteriana do Brasil - IPB - é uma federação de igrejas que tem em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence à família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. (...) O presbiterianismo derivou da Reforma Protestante do século 16. Pouco depois que o protestantismo começou na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, surgiu uma segunda manifestação do mesmo no Cantão de Zurique, na Suiça, sob a direção de outro ex-sacerdote, Ulrico Zuinglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo movimento ficou conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suiça. O entendimento de que a reforma suiça foi mais profunda em sua ruptura com a igreja medieval e em seu retorno às Escrituras, fez com que recebesse o nome de movimento reformado e seus simpatizantes ficassem conhecidos simplesmente como "reformados". (...) O calvinismo... é o sistema de teologia elaborado (por)... João Calvino. Esse sistema... resulta de uma interpretação cuidadosa e sistemática das Escrituras, e tem como um de seus principais fundamentos a noção da absoluta soberania de Deus como criador, preservador e redentor. (...) O termo presbiteriano foi adotado pelos reformados nas ilhas britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda). Isso se deve ao contexto político-religioso em que o protestantismo foi introduzido naquela região, no qual a forma de governo da igreja teve uma importância preponderante. (...) Logo após o início da carreira de Calvino, o movimento reformado começou a difundir-se em muitas regiões da Europa, notadamente na França, no vale do Reno (Alemanha e Países Baixos), no leste europeu e nas Ilhas Britânicas. (fatores de difusão: a imprensa divulgando as ideias teológicas de Calvino; o deslocamento de refugiados entre as nações; e a condição de Genebra, local em que "eram treinados (homens e mulheres) nos preceitos da fé reformada e retornavam aos seus países imbuídos das novas ideias.) (...) As primeiras igrejas reformadas surgiram no final da década seguinte (década de 1550, na Escócia). Os eventos se precipitaram com o retorno do líder John Knox (1514-1572), que passou alguns anos em Genebra como refugiado, estudou aos pés de Calvino e regressou ao país em 1559. No ano seguinte, o Parlamento aboliu o catolicismo, adotou a fé reformada e criou uma igreja nacional presbiteriana. Sua declaração doutrinária ficou conhecida como Confissão Escocesa. (...) Na Inglaterra, surgiram fortes influências reformadas e calvinistas durante o reinado de Eduardo VI (1547-1553). No reinado de Carlos I (1625-1649) ocorreu um evento marcante na história do presbiterianismo. Esse rei precisou convocar a eleição de um parlamento, o que, para sua surpresa, resultou em uma maioria parlamentar puritana. Dissolvido o parlamento, foi feita nova eleição, que tornou a maioria puritana ainda mais expressiva. Esse parlamento puritano convocou a célebre Assembléia de Westminster (1643-1648), que produziu os "padrões presbiterianos" de culto, governo e doutrina. Quando esses documentos foram aprovados pelo parlamento, a Igreja da Inglaterra deixou de ser episcopal e tornou-se presbiteriana. Porém, depois que Carlos II assumiu o trono em 1660, houve a restauração do episcopado e seguiram-se vários anos de repressão contra os presbiterianos. Com o tempo, os padrões de Westminster tornaram-se os principais documentos teológicos adotados pelas igrejas reformadas ao redor do mundo." (...) O calvinismo chegou à América do Norte com os puritanos ingleses que se radicaram em Massachusetts no início do século 17. O primeiro grupo fixou-se em Plymouth em 1620 e o segundo fundou as cidades de Salem e Boston em 1629-1630. Nas décadas seguintes, mais de 20 mil puritanos cruzaram o Atlântico em busca de liberdade religiosa e novas oportunidades. (...) A Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos foi criada pelos escoceses-irlandeses que emigraram em grande número para a América do Norte no século 18, e pelos seus descendentes. O primeiro presbitério surgiu em 1706 e o primeiro sínodo em 1717, ambos em Filadélfia, na Pensilvânia. Finalmente, em 1789 foi organizada a Assembléia Geral da nova denominação. Os presbiterianos foram um dos grupos mais destacados na luta pela independência da nova nação... Outros grupos reformados que se estabeleceram nos Estados Unidos foram holandeses, alemães e franceses. (A guerra civil trouxe divisão para a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, surgindo a igreja do norte, PCUSA e a igreja do sul, PCUS. "Os missionários pioneiros dessas duas igrejas chegaram ao Brasil respectivamente em 1859 (Ashbel G. Simonton) e em 1869 (Edward Lane e George Nash Morton)." (...) A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER foi aprovada pelo Parlamento somente em 1648, com o seguinte título: "Artigos da religião cristã, aprovados e sancionados por ambas as casas do Parlamento, segundo o conselho da Assembléia de teológos ora reunida em Westminster por autoridade do Parlamento". (...) Como declaração da doutrina reformada e como afirmação do calvinismo do século 17, a Confissão de Fé é um documento extremamente moderado e judicioso. O autor William Beveridge concluiu: "Devemos agradecer a Deus por essa declaração sábia, completa e equilibrada de nossa fé, que chegou até nós como uma preciosa herança da Assembléia de Westminster." Com o auxílio dos escoceses, as forças parlamentares lideradas por Oliver Cromwell esmagaram o rei Charles e seus exércitos. Cromwell e o exército inglês eram partidários do congregacionalismo; assim sendo, os presbiterianos foram expulsos do Parlamento em 1648. (...) Na Escócia, os Padrões de Westminster foram prontamente adotados pela Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana, substituindo os antigos documentos que vinham desde a época de John Knox. Isso é notável se lembrarmos que a Assembléia de Westminster era composta de 121 ministros puritanos ingleses e apenas quatro ministros escoceses. Os presbiterianos escoceses agiram assim por causa dos méritos intrínsecos dos Padrões de Westminster e em especial devido ao seu desejo de promover a unidade entre os presbiterianos das Ilhas Britânicas. Através da imigração e do esforço missionário dos presbiterianos escoceses, esses padrões foram levados para a Irlanda do Norte, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Brasil e muitos outros países ao redor do mundo." (...) A Confissão de Fé de Westminster é considerada uma das melhores e mais equilibradas exposições da fé reformada. Suas definições doutrinárias foram cuidadosamente elaboradas por alguns dos homens mais cultos e piedosos do século 17... ela não está no mesmo nível das Escrituras, ficando subordinada à mesma. Que essas considerações estimulem os leitores a conhecer melhor esse documento histórico que é parte essencial da nossa identidade presbiteriana." FIM.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Meditação. EM ESPÍRITO E EM VERDADE.

Para Adorar a Deus em espírito e em verdade, o cidadão precisa comparecer com toda a sua personalidade e cheio de sinceridade na presença de Deus Pai. Isto porque o Reino dos Céus é uma manifestação da Graça e Poder de Deus no planeta Terra que inicia no espírito do ser humano, até avançar pelo nosso corpo e assim tomar conta dos ambientes em que vivemos. Portanto, nós precisamos entregar para Deus o nosso pensar e o sentir nas orações, para que o Reino dos Céus ocupe espaço nos lares e negócios através de nossas atitudes benditas até que a família e sociedade sejam abençoadas. Tá entendendo? É isso! O Reino dos Céus já está no meio de nós aqui no mundo físico em que vivemos, e agora é preciso abraçar a Pessoa do Espírito de Deus direto lá em nossos corações. Isto ocorre quando nascemos da água e do espírito - através de um arrependimento inicial muito simples na consciência da personalidade: é preciso crer e declarar que Jesus é o Messias de Deus Todo Poderoso, já que não há outro a quem se deve amar e temer para ser capaz de estar na Presença de Deus Pai. ORAÇÃO. "É assim que eu quero que vocês façam: encontrem um local tranquilo e isolado, de modo que não sejam tentados a interpretar diante de Deus. Apenas fiquem lá, tão simples e honestamente quanto conseguirem. Desse modo, o centro da atenção será Deus, não vocês, e vocês começarão a perceber sua graça (...) Na oração, há uma conexão entre o que Deus faz e o que você faz. Por exemplo, você não pode obter perdão de Deus se não perdoa os outros. Se recusar a fazer sua parte, você estará separado de Deus." (Evangelho de Mateus, cap. 6, versos 6 - 15, Bíblia A Mensagem). Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor e advogado, capelão da Repas e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atuando na gestão de parcerias de ações sociais de igrejas.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Meditação. COMO POSSO ENXERGAR O REINO DOS CÉUS?

É preciso nascer de novo para enxergar o Reino dos Céus aqui no planeta Terra, como bem explicou Jesus. O ser humano precisa nascer da água e do espírito, ao invés de ter que voltar ao ventre de sua mãe, como pensou sem pensar, o bom fariseu Nicodemos no evangelho de João, cap. três. Ora, nascer da água e do espírito são palavras que representam as atividades religiosas transcendentes que a humanidade precisa vivenciar como pessoas fiéis diante de Deus Pai, ou seja, gente que pratica a religião cristã de verdade. No caso, tem que se arrepender e se converter! Isto é assim porque o Reino dos Céus é uma dimensão divina celestial tomando forma e ocupando espaço no planeta Terra através da vida, corpo e mente dos seres humanos. Tá entendendo? Então, vai ser necessário ocorrer um movimento religioso - de religação entre o Deus dos céus junto aos humanos aqui da terra. Neste sentido, vemos no capítulo quatro de João, o modo como a mulher samaritana pensou direito pra conversar sobre o tema fundamental para ser capaz de enxergar o Reino dos Céus. Dá uma olhada: "A mulher então lhe disse: - Agora eu sei que o senhor é um profeta! Nossos pais adoravam neste monte, mas vocês dizem que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Jesus respondeu: - Mulher, acredite no que digo: vem a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém vocês adorarão o Pai... Mas vem a hora - e já chegou - em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. Porque são esses que o Pai procura para seus adoradores. Deus é Espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e verdade." (João, cap. 4. 19-24). É isso! Para enxergar o Reino dos Céus é preciso prestar toda atenção na Pessoa de Deus, levando junto o ardente desejo do coração de se relacionar de forma espiritual e sincera junto da Trindade. ORAÇÃO. "Abençoados são vocês, que nada mais têm para oferecer. Quando vocês saem de cena, há mais de Deus e do seu governo. Abençoados são vocês, que sofrem por terem perdido o que mais amavam. Só assim, poderão ser abraçados por aquele que é o amor supremo. Abençoados são vocês, que se contentam com o que são - nem mais, nem menos. Assim, vocês se verão como orgulhosos donos de tudo que não pode ser comprado. Abençoados são vocês, que sentem fome de Deus. Ele é comida e bebida - é alimento incomparável." (Evangelho de Mateus, cap. 5. 3-6, Bíblia A Mensagem). Boa semana! Autor. Ivan S Rüppell JR é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atuando na gestão de ações sociais cristãs.

sábado, 6 de abril de 2024

Meditação. ONDE ESTÁ O REINO DOS CÉUS?

O Reino dos Céus está no meio de nós! Jesus de Nazaré explica que os seres humanos são capazes de participar do Reino dos Céus vivendo as suas vidas aqui na Terra mesmo, em nosso corpo físico e na dimensão deste mundo, desde agora. Essa mensagem é surpreendente porque estamos acostumados a pensar que uma vida espiritual valiosa e próspera é algo que virá somente no decorrer de um longo período de tempo, ou então só vai acontecer em outra vida ou noutra dimensão. Por isso, fique atento, pois quando Jesus Cristo ensina que o reino celestial já está no meio de nós, também nos convoca e desafia para entrar nele desde agora. Isto significa que a realidade da nossa existência pessoal como seres humanos pode ser transformada e vivenciada de uma maneira absolutamente diferente e inovadora hoje mesmo, tendo Jesus como Mestre e Messias. Tá entendendo? Uma pequena renovação de princípios também vai se tornar uma transformação ética que fará eu e você vivenciarmos os valores do reino de Deus agora mesmo em nossa existência. "Certo dia, os fariseus perguntaram a Jesus: "Quando virá o reino de Deus?" Jesus respondeu: "O reino de Deus não é detectado por sinais visíveis. Não se poderá dizer: "Está aqui!" ou "Está ali!", pois o reino de Deus já está entre vocês". (Evangelho de Lucas, cap. 17, versos 20-21). ORAÇÃO. "Nosso Pai do céu, Revela-nos quem tu és. Dá um jeito neste mundo. Faz o que é melhor - tanto aí em cima quanto aqui em baixo. Conserva-nos vivos com três boas refeições. Preserva-nos perdoados por ti e perdoando os outros. Guarda-nos de nós mesmos e do Diabo. Tu estás no comando! Tu podes fazer tudo o que quiseres! Tua beleza é fascinante! Amém. Amém. Amém." (Evangelho de Mateus, cap. 6, versos 12-13, Bíblia A Mensagem). Boa Semana! Autor. Ivan S R Junior é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana, atuando na gestão de parcerias de ações sociais de igrejas.

sexta-feira, 29 de março de 2024

A Espiritualidade do DESTINO, no Cinema. DUNA PARTE 2, 2024.

A ESPIRITUALIDADE DO DESTINO, NO CINEMA. DUNA PARTE 2. O grande cineasta Steven Spielberg descreveu DUNA 2 como uma das ficções cientificas mais brilhantes já realizadas na Sétima Arte. Logo ele que aponta o filme "Lawrence da Arábia" (1962) de David Lean, como um dos maiores clássicos do cinema, sendo inclusive, o predileto de Spielberg. Anoto esse destaque porque considero o filme DUNA 2 o legítimo herdeiro da grandiloquência cinematográfica vista em "Lawrence da Arábia", devido à comum exuberância da fotografia do ambiente de deserto e das batalhas de guerra travadas nestes filmes; e também pela complexa personalidade tanto majestosa como simplíce que marca ambos os protagonistas de Duna e Lawrence. O Diretor de Duna 1 e 2, Denis Villeneuve já tem excelentes histórias de cinema no curriculo para contar, especialmente o maravilhoso filme "A Chegada" e o inspirativo "Blade Runner 2049". Em nossa perspectiva por aqui, vê-se que a temática da Espiritualidade do Destino se relaciona com o desafio existencial premeditado que conduz o enredo da história e também o amadurecimento dramático do protagonista Paul Atreides; sendo este um tema que Jesus igualmente apresenta aos cristãos quando os desafia para a vivência da espiritualidade: "Se alguém quer ser meu seguidor, negue a si mesmo, tome diariamente sua cruz e siga-me." (Evangelho de Lucas, cap. 9, verso 23). Observe que essa convocação dada por Jesus Cristo diretamente no coração dos que creem revela tanto um destino, como também esclarece a importância das escolhas e decisões tomadas no decorrer da jornada espiritual. Nessa perspectiva, sabe-se que o destino da espiritualidade cristã é a própria Pessoa de Jesus de Nazaré, no entanto, tanto Paul Atreides na realização de seu chamado em Duna, como os discípulos de Cristo em sua vocação deverão ambos abraçar as decisões éticas da jornada até alcançar o destino de suas histórias. O desafio é desenvolver valorosa e sensivelmente a vivência dos relacionamentos familiares e sociais, funcionais e de cidadania a partir dos propósitos éticos que se busca tanto ao forjar a personalidade que precisamos nos tornar, como ao promover a sociedade que almejamos estabelecer. Pois um destino manifesto não vêm pronto com o anúncio de sua existência, mas sim, se torna o princípio da efetivação de sua realidade. Até porque não há duas jornadas existenciais pra se viver, mas somente uma, que nasce agora e se consolida no decorrer da eternidade que se experimenta em espírito e verdade desde hoje, como bem apregoa o Cristianismo. Portanto, tanto Paul Atreides em "Duna" como os cristãos no Reino de Jesus em movimento neste mundo são identificados como pessoas com um destino virtuoso já traçado. Mas que será plenamente realizado somente a partir do entendimento consciente da jornada que se deve trilhar, junto das atitudes de renúncia e coragem que deve-se obrigatoriamente assumir. Sabendo que as perdas e dores das escolhas estarão sempre presentes, seja nos sonhos de amor negados e nas tragédias mortais multiplicadas de Duna, seja no aniquilamento da vaidade e no desgaste do corpo do fiel Cristão que decide negar a si mesmo pra amar como Jesus amou. Diante de tais desafios, Jesus promete estar junto dos cristãos "até a consumação dos séculos", sendo que amparado nesta companhia, o Apóstolo Paulo apregoa que ainda não alcançou o alvo, mas prossegue "a fim de conquistar essa perfeição para a qual Cristo Jesus me conquistou". (Filipense 3. 13). Sim, a Espiritualidade Cristã do Destino é uma jornada em que a vivência ética virtuosa dos meios na atualidade nos fará alcançar fielmente os valorosos fins na eternidade, como bem aprendemos nas verdades existenciais dignas do nome. Especificamente acerca da espiritualidade de DUNA, obra literária e filme, destaco a seguir, algumas passagens extraídas de uma análise que você poderá ler em seu conteúdo completo ao final dessa resenha: "Mas os caminhos do destino, em Duna, são traçados pelo passado, e, particularmente, pela memória. Pois é a memória, a memória genética, a memória dinástica, e a sua curadoria, que dirigem as ações dos principais personagens. Quase todos os eventos e ações que se desenvolvem no enredo são o reflexo dos planos milenares das Bene Gesserit, a sororidade religiosa que comanda a vida espiritual da aristocracia intergalática a alguns 10 mil anos. As membras dessa ordem exibem poderes telepáticos quase sobrenaturais, que lhe conferem o poder de controlar minuciosamente os processos químicos intracorporais (...); e, o mais importante, a habilidade – exibida pelas irmãs de posição mais elevada, as Reverendas Mães – de vislumbrar o passado e prever coisas futuras. Todos esses dons, e especialmente o último, derivam do acesso que as acólitas e mestras possuem, em graus mais ou menos elevados, das memórias e da consciência de suas antepassadas mulheres. (...) O segundo filme, que cuida, com significativas alterações, da segunda metade do livro inicial, se inicia com a tentativa de Paul de tentar ser aceito pelo povo nativo do planeta, os Fremen, e sobre sua ambivalência frente ao seu destino, tanto como herdeiro de uma família nobre, quanto como o Messias profetizado pela religião de sua mãe. Esse povo do deserto planetário possui suas próprias tradições religiosas, que foram, todavia, manipuladas por missionárias das Bene Gesserit, que introduziram na mitologia autóctone dos Fremen o conceito de um Messias que viria de outro planeta, o “Lisan al-Ghaib” ou “Mahdi”, a fim de permitir que o Kwisatz Haderach pudesse encontrar aliados dentre os povos guerreiros de Arrakis. Essas profecias são, inicialmente, negadas pelo personagem principal, que busca integrar-se numa comunidade Fremen, a fim de buscar vingança contra os Harkonnen. Ele inicia um relacionamento com uma das guerreiras, Chani, é aceito pelo Fremen, toma o nome de “Maud-Dib Usul” e promove, junto deles, a destruição das facilidades do inimigo. Ainda assim, ele tenta fugir, a todo custo, do destino que sua linhagem e suas crenças traçaram para ele. (...).” (por Ivan Santos Rüppell Netto). Bom filme! Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor de ciências da religião e ministro da Igreja Presbiteriana, tendo publicado o livro, Resenhas espirituais de Meditações cinematográficas, com quase 40 análises de filmes, (Edit. Dialética, 2020). A ESPIRITUALIDADE DE DUNA. (por Ivan Santos Rüppell Netto): "Mas os caminhos do destino, em Duna, são traçados pelo passado, e, particularmente, pela memória. Pois é a memória, a memória genética, a memória dinástica, e a sua curadoria, que dirigem as ações dos principais personagens. Quase todos os eventos e ações que se desenvolvem no enredo são o reflexo dos planos milenares das Bene Gesserit, a sororidade religiosa que comanda a vida espiritual da aristocracia intergalática a alguns 10 mil anos. As membras dessa ordem exibem poderes telepáticos quase sobrenaturais, que lhe conferem o poder de controlar minuciosamente os processos químicos intracorporais (permitindo-lhes, por exemplo, controlar o sexo dos seus filhos durante a gestação, manipular a temperatura corporal, e transmutar venenos e outras substância nocivas); a capacidade de influenciar as ações de terceiros, atráves de comandos vocalizados em uma frequência sonora específica; e, o mais importante, a habilidade – exibida pelas irmãs de posição mais elevada, as Reverendas Mães – de vislumbrar o passado e prever coisas futuras. Todos esses dons, e especialmente o último, derivam do acesso que as acólitas e mestras possuem, em graus mais ou menos elevados, das memórias e da consciência de suas antepassadas mulheres. E é, de fato, essa manutenção das memórias ancestrais que rege o principal objetivo da Ordem: a geração do “Kwisatz Haderach” (expressão que, em sua língua ficcional, significa “O Encurtamento do Caminho”), um telepata masculino que conseguirá evocar todos os seus ancestrais, tanto masculinos quanto femininos, acessando toda a riqueza da memória humana a fim de conduzir a humanidade pelo “Caminho Dourado”. Para esse fim, as Bene Gesserit manipularam, durante milênios, os genes das famílias aristocráticas que dominam o Império intergalático, a fim de produzir esse grande telepata. O nosso protagonista, Paul Atreides, é o produto desse messianismo eugenista: nascido uma geração antes da calculada chegada do Kwisatz Haderach, ele é criado pela sua mãe, a acólita Jessica, com a convicção de que as Reverendas Mães erraram em seus cálculos, e que ele mesmo poderá ser o tão esperado mensageiro de Deus. Por isso, as Bene Gesserit manipulam os ânimos do Imperador, que acaba por mandar a Casa Atreides para uma missão suicida no planeta Arrakis, onde eles são praticamente todos exterminados pelos seus rivais, a Casa Harkonnen, à exceção de Paul, Jessica, e alguns poucos servos da Casa. É essa tragédia dramatizada no primeiro filme, que adaptou a primeira metade do primeiro volume da série de romances de Frank Herbert. O segundo filme, que cuida, com significativas alterações, da segunda metade do livro inicial, se inicia com a tentativa de Paul de tentar ser aceito pelo povo nativo do planeta, os Fremen, e sobre sua ambivalência frente ao seu destino, tanto como herdeiro de uma família nobre, quanto como o Messias profetizado pela religião de sua mãe. Esse povo do deserto planetário possui suas próprias tradições religiosas, que foram, todavia, manipuladas por missionárias das Bene Gesserit, que introduziram na mitologia autóctone dos Fremen o conceito de um Messias que viria de outro planeta, o “Lisan al-Ghaib” ou “Mahdi”, a fim de permitir que o Kwisatz Haderach pudesse encontrar aliados dentre os povos guerreiros de Arrakis. Essas profecias são, inicialmente, negadas pelo personagem principal, que busca integrar-se numa comunidade Fremen, a fim de buscar vingança contra os Harkonnen. Ele inicia um relacionamento com uma das guerreiras, Chani, é aceito pelo Fremen, toma o nome de “Maud-Dib Usul” e promove, junto deles, a destruição das facilidades do inimigo. Ainda assim, ele tenta fugir, a todo custo, do destino que sua linhagem e suas crenças traçar para ele. Esse conflito interno do protagonista corre em paralelo com o conflito entre diferentes facções do povo Fremen: alguns deles acreditam piamente nas profecias das Bene Gesserit, e aceitam Paul como o Messias já de cara; outros, inclusive a própria Chani, negam a necessidade de um “libertador estrangeiro”, insistindo que “o Mahdi deve ser Fremen”. Essa divisão interna na sociedade Fremen, que não estava presente no romance adaptado, serve diversos propósitos narrativos: como já dito, ela expande a caracterização de Paul Atreides, oferecendo um paralelo às suas próprias dúvidas acerca de seu papel messianico; também expande arco da personagem de Chani, que ganha complexidade maior que aquela vista no texto original; o mais relevante, no entanto, é o adiantamento de uma gama de temas explorados em volumes posteriores, como “Filhos de Duna” e “Imperador Deus de Duna”, que o diretor, Denis Villeneuve, sinalizou que não pretende adaptar. O motto de que “o Mahdi deve ser Fremen” não representa uma rejeição completa da profecia, nem um quase-ateísmo, que pretende abandonar as tradições e a espiritualidade daquele povo. É, antes, uma reinterpretação dessa tradições, que serve tanto para edificar a identidade dos Fremen, quanto para, inadvertidamente, subverter os objetivos das Bene Gesserit. Se o Mahdi é Fremen, os povos do deserto não ficarão vinculados às promessas messiânicas daquela ordem estrangeira; o seu Messias é, ao contrário, aquele que liberta o planeta Arrakis da submissão ao Império Intergalático e aos seus emissários, os Harkonnens. E, de fato, ao longo do filme, o Mahdi quase vira Fremen; Paul inicia sua campanha o Império não como um emissário do espaço sideral, mas como Muad’Dib Usul, como um guerreiro assimilado àquele povo e às suas tradições. A promessa de libertação que ele oferece, espiritual, política e civilizacional, é, para ele, uma fuga das profecias do Kwisatz Haderach; para os Fremen, uma oportunidade para redefinir as suas tradições; para ambos, é uma chance de tomar as rédeas dos próprios destinos. Essa chance é, no entanto, frustrada pelos rumos da Guerra de Libertação, pelo fundamentalismo dos grupos Fremen que se apegam às profecias e, não menos importante, pelos desígnios da mãe de Paul, que, no final, consegue acordar nele os poderes do Kwisatz Haderach e colocá-lo de volta no “Caminho Dourado” das Bene Gesserit. Isso é ilustrado pelo seu discurso posterior aos Fremen, em que ele se identifica não mais como Muad’Dib, mas como “Paul Atreides, Duque de Arrakis”, brandindo, orgulhosamente, o anel que recebeu do seu pai, símbolo da continuidade dinástica da Casa Atreides. A luta não se dirige mais à libertação planetária e à conservação da religião autóctone, mas à guerra santa profetizada pelas Bene Gesserit, de cujos escombros emergirá o Messias. O destino, então, retorna como uma continuação dos objetivos dos ancestrais: os poderes de premonição de Paul se escoram na experiência e nas memórias de seus ancestrais. Seguem, portanto, a linhagem construída pela manipulação genética das Reverendas Mães: uma linhagem de oligarcas, elitista e incestuosa, fruto de um projeto eugenista que ultrapassa os sonhos mais ambiciosos da doutrina racialista do Terceiro Reich – uma comparação que é traçada, implicitamente, nos próprios livros. Sob o comando de seu Mahdi, os Fremen abandonam seus preciosos ideais libertários e igualitários, e assumem o papel de super soldados fanáticos na Guerra Santa (chamada, explicitamente, de “jihad” nos livros) que não servirá senão para o fortalecimento do sistema imperial, agora encabeçado pelo Kwisatz Haderach. O destino é, portanto, a escravização do futuro pelo passado, por meio à submissão do presente aos ditames da memória: as previsões de Paul, pelas quais ele procura traçar não o melhor caminho, mas o menos pior, pautam-se no agregado das experiências dos seus antepassados, e, por isso, refletem os valores e a visão de mundo do passado. É a dominação “das Filhas da Memória, sem as Filhas da Inspiração” , de uma humanidade incapaz de se libertar do seu passado. É essa a visão que triunfa no final do filme: Paul vence o herdeiro dos Harkonnen, Feyd-Rautha, casa-se com a Princesa Imperial Irulan e assume o trono, bem a tempo de iniciar sua Guerra Santa contra as demais famílias nobres do Imperium. O povo Fremen é, agora, reduzido a um novo exército imperial, e o sonho do Mahdi autóctone – de uma Arrakis paradisíaca e livre do controle imperial, e de uma religião extirpada das ambições temporais das Bene Gesserit alienígenas – sobrevive apenas no coração partido de Chani, que, ao contrário do que ocorre no livro, em que ela permanece ao lado do protagonista, deixa o novo Imperador para, na última cena, voltar sozinha ao deserto – a última crente de uma doutrina, que, como certamente veremos em “Messias de Duna”, ainda poderá dar frutos." Autor. Ivan Santos Rüppell Netto é Advogado, pós graduando em Direito Tributário.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Meditação Bíblica. A PÁSCOA CELESTIAL.

TEXTO Bíblico. "Vi, na mão direita daquele que estava sentado no trono, um livro em forma de rolo escrito por dentro e por fora, e selado com sete selos. Vi, também, um anjo forte, que proclamava com voz forte: "Quem é digno de quebrar os selos e abrir o livro? (...) E eu chorava muito, porque ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar para ele. Então um dos anciãos me disse: Não chore! Eis que o Leão da Tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para quebrar os sete selos e abrir o livro. Então vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, em pé, um Cordeiro que parecia que tinha sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados por toda a terra." (Livro do Apocalipse, cap. 5, versos 1-6). MEDITAÇÃO. A Páscoa Cristã é a realização divina mais importante da história da Humanidade. A primeira Páscoa ocorreu no Egito há 3500 anos e a Páscoa original aconteceu nos arredores de Jerusalém há quase 2 mil anos atrás. Hoje é dia de meditar na Páscoa celestial, especialmente porque a primeira é sua "sombra" e a Páscoa original em Jerusalém é seu evento fundamental. E ao olhar agora para a Páscoa celestial iremos ter boa noção do que aconteceu realmente na ocasião da Páscoa original em Jerusalém. Somente assim iremos saber melhor quem é Jesus de Nazaré, que pegou o livro da Vida dos seres humanos nas mãos para abrir a eternidade para nós na Páscoa Cristã: "O Cordeiro foi e pegou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono. E, quando ele pegou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos se prostraram diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e cantavam um cântico novo, dizendo: "Digno és de pegar o livro e de quebrar os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra." (Apocalipse, 5. 7-10). ORAÇÃO. "Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor." (...) Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o domínio para todo o sempre." "E os quatro seres viventes respondiam: "Amém!" Também os anciãos se prostraram e adoraram." (Apocalipse, cap. 5. 12-14). Feliz Páscoa! Autor. Ivan S R Junior é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana, atuando na gestão de parcerias de ações sociais de igrejas.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Meditação Bíblica. A PÁSCOA ORIGINAL!

TEXTOS Bíblicos. "No dia seguinte, João (Batista) estava novamente com dois de seus discípulos. Quando viu Jesus passar, olhou para ele e declarou: "Vejam! É o Cordeiro de Deus!" Ao ouvirem isso, os dois discípulos de João seguiram Jesus." (Evangelho de João, cap. 1. 35-37). "Mas, quando chegou o plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher e sob a lei. Assim o fez para resgatar a nós que estávamos sob a lei, a fim de nos adotar como seus filhos. E, porque nós somos seus filhos, Deus enviou ao nosso coração o Espírito de seu Filho, e por meio dele clamamos: "Aba, Pai". (Gálatas 4.4-6). MEDITAÇÃO. A plenitude do tempo revela o momento em que ocorreu no planeta Terra e todo Universo a Páscoa original, que é algo bem diferente de ser a primeira Páscoa. Afinal, a primeira Páscoa ocorreu no Egito assim que instituida por Deus e ali realizada junto da última das dez pragas. Pois a praga da morte dos primogênitos foi derramada sobre a terra egípcia até alcançar toda a população, sendo que os filhos de Israel foram libertos desta maldição porque seus pais tiveram fé e colocaram sangue de um cordeiro nas laterais das portas de suas casas. E assim a morte passou sobre essas casas não causando desgraças ali, vindo dai o nome Pessach - passar sobre, Páscoa! No entanto, a Páscoa original não ocorreu no Egito, e não ficou limitada naquela região e nem foi feita com o sangue derramado de um bicho cordeiro. Na verdade, a Páscoa original do Universo ocorreu em Jerusalém e alcançou todas as dimensões da existência, quando o Filho do Homem Jesus de Nazaré foi sacrificado para que toda a Humanidade pudesse ser salva da morte espiritual eterna, pois "Deus tanto amou o mundo que entregou seu filho unigênito para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna". (João 3.16). Conforme o destaque do comentarista biblico John Stott sobre a plenitude dos tempos em que a Páscoa aconteceu; no início do primeiro milênio do Cristianismo havia a pax romana que garantia certa ordem e segurança no império, o que iria facilitar o envio de discípulos de Cristo para anunciar a muitas nações o evento da Páscoa Cristã, numa época em que o grego era a língua predominante, sendo algo que ajudaria na propagação da mensagem. Ainda, era um período de grande fome espiritual da humanidade, devido ao cansaço com as divindades romanas e o engano das religiões de mistério e gnosticismo, ao mesmo tempo em que os povos tementes a Deus se achegavam nas sinagogas em busca do conhecimento dado pelos profetas sobre a verdade do monoteísmo oriundo do judaismo. Em meio a tudo isso, o apóstolo Paulo definiu a sua missão de anunciar para todas as pessoas em todos os lugares a mensagem da Páscoa original: "Assim, desde Jerusalém a arredores, até o Ilírico, proclamei plenamente o evangelho de Cristo". (Rm 15.19). Feliz semana de Páscoa! ORAÇÃO. Pai Nosso que está nos céus. Ilumina os nossos corações e renova a nossa Fé Cristã nesta semana de Páscoa. Abençoa nossas mentes e alegra nosso espírito no conhecimento da Páscoa original de todas as eras e lugares, que ocorreu na plenitude dos tempos do Amor de Deus derramado sobre a humanidade, amém! Autor. Ivan S Rüppell JR é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atuando na gestão de ações sociais de igrejas.

sábado, 16 de março de 2024

Meditação Bíblica. OS MILAGRES DO SACRIFÍCIO!

TEXTO Bíblico. "Então o Senhor disse a Moises e a Arão no Egito: "De agora em diante, este mês será para vocês o primeiro do ano. Anunciem a toda a comunidade de Israel que, no décimo dia deste mês, cada família escolherá um cordeiro ou um cabrito para fazer um sacrifício, um animal para cada casa". (Êxodo 12. 1-3). MEDITAÇÃO. No Cristianismo, os milagres fundamentais são realizados por Deus no propósito de se aproximar dos homens e levar os homens pra perto d'Ele. Estes podem ser chamados de milagres religiosos, que são aquelas obras divinas em que Deus intervém na realidade para religar a humanidade com Ele, que é o bom propósito da religião. Assim, Deus age milagrosamente em nossa dimensão para aproximar os seres humanos do seu Reino, vontade e especialmente de sua Presença! Aprendemos sobre estes milagres ao observar a primeira Páscoa no Egito, em que Deus abençoou as pessoas através dos milagres que fluem do Sacrifício, livrando-as da morte e guardando-as sob seu cuidado: "Nesse dia, toda a comunidade de Israel sacrificará seu cordeiro ou cabrito ao anoitecer. Em seguida, tomarão um pouco do sangue e o passarão nos batentes laterais e no alto das portas das casas onde comerem o animal (...) Quando eu vir o sangue, passarei por sobre aquela casa. E, quando eu ferir a terra do Egito, a praga de morte não a tocará." (Êxodo 12. 13). ORAÇÃO. Santo Deus e Pai Nosso que está nos céus, obrigado por fazer os milagres que precisamos na nossa existência. Nós agradecemos porque o sangue de um cordeiro foi utilizado no Egito para oferecer justiça e bondade ao teu povo que ali acreditou na tua Palavra e desafio. Abençoa cada um de nós, familiares e amigos pra que consigamos enxergar a Paixão e Ressurreição do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo como os milagres que fazem a nossa religação eterna com Deus Pai, Filho e Espírito Santo, pois o "justo viverá pela fé". Amém! Autor: Ivan S R Jr é advogado, professor e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

sábado, 9 de março de 2024

a Espiritualidade da PAIXÃO da Páscoa, no Cinema. À ESPERA DE UM MILAGRE, 1999.

O filme "À Espera de um Milagre" (do Diretor Frank Darabont), baseado em texto de Stephen King, conta em seu "drama existencial" a história de um homem negro enorme com feições gentis que é acusado injustamente de matar duas meninas de forma cruel e abusiva. O ambiente da narrativa do filme é a penitenciária de Could Mountain, na década de 1930 na região sulista dos EUA, sendo que o astro de cinema Tom Hanks é o policial Paul Edgecomb, supervisor da equipe de vigilância dos presos que aguardam a pena de morte. O cotidiano relacional entre os presos e policiais é marcado por personagens diversos e situações bizarras, até que uma perspectiva poética assume as rédeas do enredo quando conhecemos o preso John Coffey, (Michael Clarke Duncan), condenado injustamente pelo homicidio das meninas. A partir deste enredo, a Espiritualidade da Paixão da Páscoa é um tema profundo da existência de que podemos refletir alguns aspectos na história do personagem John Coffey, um inocente à espera de um milagre. Afinal, esse não é o único milagre que aguardamos na impactante história que se torna o drama essencial do filme. Pois para além e adiante do que se pensa e imagina, o nosso preso inocente Coffey também carrega na alma e no corpo a capacidade de realizar milagres diversos, especialmente a cura de doenças das pessoas que cruzam seu caminho. Sim, ele foi preso com as meninas mortas em seus braços e tomado de sangue por todo o corpo, exatamente porque dedicou todo seu esforço para ressuscita-las. Nesse contexto, sabemos que Jesus de Nazaré foi o cidadão palestino de origem judaica que demonstrou ser o Messias de Deus Pai Todo Poderoso ao morrer na sexta-feita e ressuscitar no domingo. Depois, ainda viveu mais 40 dias aqui no planeta e encontrou quase 500 pessoas até subir aos céus de corpo e tudo. Ocorre que o fato essencial da Paixão da Páscoa - ou seja, o sofrimento e morte cruéis de Jesus na sexta-f revela que esse ato de sacrifício ocorreu exatamente para curar a humanidade de uma enfermidade e maldição gravissimas - a morte comum e histórica das pessoas. Pois o ato da morte encerra a existência de todos os seres humanos neste mundo, numa experiencia que deixa saudades e dor, e causa angústias e temor em todo mundo que um dia já nasceu. Observe que a realidade espiritual da paixão da páscoa é que a cura da morte da humanidade foi um fato histórico e transcendente que provocou grande dor e desgraça na pessoa de Jesus, exatamente quando Ele entregou a sua vida e espírito pra ser tragado pela morte no lugar dos cristãos. Essa mesma perspectiva de sofrimento ocorre quando o preso inocente John Coffey realiza alguns milagres, pois ele também absorve e toma para si próprio as doenças e horrores dos enfermos que se dedica a curar. Uma das cenas impactantes apresenta o modo como ele absorveu em seu organismo as células cancerosas de uma pessoa doente, até cuspi-las de forma violenta como se fora uma praga bíblica. Neste sentido, as cenas em que visualizamos as curas milagrosas de homens e mulheres doentes no filme revela um aspecto do que houve na crucificação e morte de Jesus de Nazaré. Pois o Messias de Deus levou consigo a morte da espécie humana para curar as pessoas desta enfermidade maldita, sendo que o seu sofrimento fisico e existencial ocorreu exatamente porque Jesus abraçou as nossas enfermidades e castigo como se fora uma "esponja" de nossos pecados, que recairam todos sobre o Filho de Deus. Uma vivência espiritual predita pelo Profeta Isaias 700 anos antes do nascimento de Jesus, em que aprendemos que o Messias seria o Servo Sofredor, na citação do evangelista Marcos do tema do cap. 53 do livro do profeta: "O Filho do Homem deve sofrer muitas coisas e ser rejeitado (...) ser morto e depois de três dias ressuscitar" (Mc. 8.31). Junto desta verdade bíblica, o Profeta Daniel revelou a vinda do Filho do Homem como o Rei dos céus e da terra, um conhecimento que Jesus mesmo anotou sobre si, conforme Marcos 14.62; "Vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu". Sendo que foi o teólogo e pensador cristão John Stott quem bem explicou a unidade destes dois conceitos proféticos, ao dizer que "Jesus fez algo que ninguém antes dele havia feito: ele fundiu a glória de Daniel 7 com o sofrimento de Isaías 53 a fim de ensinar que somente através do sofrimento ele entraria em sua glória. Ao usar a expressão: "o Filho do Homem deve sofrer", ele uniu as duas imagens." (p. 140, 2007). Diante destas profecias, dedicar um tempo para refletir a Paixão de Cristo como o sofrimento necessário do Filho de Deus na obra de cura da humanidade, também conduz os cristãos a entender porque um bom número das virtudes que eles devem praticar na sociedade igualmente irão maltratar o coração e gastar o corpo dos que obedecem a Jesus, afinal, é assim que se vence o mal com o bem. Bom filme. Feliz Páscoa! Referências. A Bíblia toda, ano todo : meditações diárias de Gênesis a Apocalipse / John Stott : tradução: Jorge Camargo. - Viçosa, MG : Ultimato, 2007. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de ciências da religião e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, tendo publicado o livro, Resenhas espirituais de Meditações cinematográficas, com quase 40 análises de filmes, Editora Dialética, 2020.

sexta-feira, 8 de março de 2024

1 JOÃO. Luz e Trevas. Jesus e o Hábito dos Cristãos, a CONFISSÃO!

JESUS, A LUZ DO MUNDO. A CONFISSÃO, o Hábito dos Cristãos. Evangelho de João, 3. 16-21: "Porque Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus enviou seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para salva-lo por meio dele. Não há condenação alguma para quem crê nele. Mas quem não crê nele já está condenado por não crer no Filho único de Deus. E a condenação se baseia nisto: a luz de Deus veio ao mundo, mas as pessoas amaram mais a escuridão que a luz, porque seus atos eram maus. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima dela, pois teme que seus pecados sejam expostos. Mas quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que outros vejam que ele faz a vontade de Deus." PENSAMENTO. A história jamais seria a mesma, pois a Justiça de Deus e a injustiça da humanidade iriam se encontrar na existência, de modo que a diferença essencial entre a Luz e as Trevas seria revelada na própria espécie humana, no contraste entre o Filho de Deus e os filhos dos homens. TÓPICO 1. PENSAMENTO. A primeira vez que Deus compartilhou sua Luz com nosso mundo e dimensão foi através de sua Palavra lá no início da criação, quando agiu para transformar o caos em harmonia. Gênesis 1. 1-5. "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas. Então Deus disse: "Haja luz", e houve luz. E Deus viu que a luz era boa, e separou a luz da escuridão. Deus chamou a luz de "dia" e a escuridão de "noite". A noite passou e veio a manhã, encerrando o primeiro dia." COMENTÁRIO, Bíblia de Genebra: "Este relato da criação estabelece o fundamento da cosmovisão de Israel com respeito a Deus, aos seres humanos, à criação e às leis referentes à humanidade (...) "A palavra hebraica para "Deus"... é plural para denotar sua majestade. (...) A atividade criadora de Deus... não foi a mera organização da matéria pré-existente..., porque outros textos ensinam claramente que o universo foi criado do nada, (Jo 1.3; Hb 11.3). (...) "A terra, porém, estava sem forma e vazia". Esta descrição expressa o estado da criação, ainda desordenada ou incompleta. Alguns a vêem como uma ameaça negativa do caos que é superada pelo poder criativo de Deus. (...). O ESPÍRITO DE DEUS dá vida a todos; quando Deus retira seu Espírito a vida cessa. (...) O Espírito também constrói "templos": o cosmos, o tabernáculo, Cristo, a igreja. (...) DISSE DEUS. O ato livre da criação de Deus através da Palavra divina (Sl 33.6-9, cf Jo. 1. 1,3) 1.4 LUZ. Deus é a fonte última da luz do dia que se alterna com a escuridão; o sol é introduzido mais tarde como causa imediata. A luz simboliza vida e bênção (Sl 4.7, 56.13, Is 9.2, João 1.4-5).". REPRESENTAÇÃO DA CRIAÇÃO! TÓPICO 2. PENSAMENTO. Após o estabelecimento do pecado em nossa raça e dimensão, Deus revelou o plano para compartilhar sua Luz de uma forma definitiva em nossa existência, vindo a estabelecer a sua Luz a partir de nossa própria espécie, até alcançar toda a nossa dimensão, com a sua Palavra se tornando carne entre nós. João 1.1-5. "No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. Ele existia no princípio com Deus. Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado. Aquele que é a Palavra possuía a vida, e sua vida trouxe luz a todos. A luz brilha na escuridão, e a escuridão nunca conseguiu apagá-la". COMENTÁRIO, Bíblia de Genebra: "O termo "verbo" (Palavra) (grego logos) designa Deus, o Filho, referindo-se à sua divindade; "Jesus" e "Cristo" referem-se à sua encarnação e obra salvífica. (...) Na filosofia neoplatônica e na heresia gnóstica (séculos II e III d.C), o Logos era visto como um dos muitos poderes intermediários entre Deus e o mundo. Tais noções estão bem longe da simplicidade do Evangelho de João. (...) 1.14. E O VERBO SE FEZ CARNE. Comentário. Genebra. "Nesta afirmação o início do Evangelho de João atinge o seu clímax... aqui um abismo é transposto: o Verbo Eterno de Deus não só parece um ser humano, mas realmente tornou-se carne. Tomou sobre si a plena e genuína natureza humana". NOTA da Bíblia de Genebra. A doutrina da Trindade declara que Cristo é verdadeiramente divino; a doutrina da Encarnação declara que o mesmo Cristo é também plenamente humano. (...) Tornando-se carne, o Logos foi revelado como o Filho de Deus e a fonte da "graça e da verdade", o "unigênito do Pai" (vs. 14,18). A HUMANIDADE DE JESUS. Conf. João Calvino, resumo e citações. Ao ler no evangelho de João 1.14, que a "Palavra se fez carne", não deve-se entender que o Verbo de Deus foi misturado com carne ou transformado em carne, mas sim "que escolheu para Si mesmo um templo formado pelo ventre de uma virgem no qual habitar." Dessa forma, o Filho de Deus se fez Filho do Homem não numa confusão de suas duas naturezas, mas pela unidade destas conforme estão juntas na pessoa do Cristo. A união da divindade com a humanidade foi tão profunda que ambas as naturezas divina e humana mantiveram tudo que lhes é próprio, enquanto se tornaram uma só pessoa, o Cristo! E numa comparação ao entendimento deste fato sobre Jesus, sabe-se que "o próprio homem consiste em duas partes distintas, corpo e alma, os quais, porém, não estão misturados a ponto de perderem aquilo que pertence à natureza de cada." Então, o fato é que as Escrituras apresentam Jesus Cristo, destacando aspectos somente de sua humanidade ou, falando de verdades acerca da sua divindade, e ainda, afirmando realidades dele que não tem relação com estas duas naturezas, quando vistas separadamente; sendo esta uma doutrina comprovada nas Escrituras. "Quando Cristo disse acerca de Si mesmo, "Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu sou!", arrogou para Si mesmo alguma coisa muito diferente da natureza humana", sendo este um aspecto da sua divindade. Quando o Apóstolo Paulo destaca que Jesus é o primogênito da criação em quem todas as coisas subsistem e quando Cristo trata da glória que vivenciava junto do Pai antes do mundo, então, temos declarações impossíveis de serem dadas acerca de qualquer outro ser humano; sendo passagens sobre a divindade de Jesus de Nazaré, o Cristo dos Homens. A DIVINDADE DE JESUS. Conf. João Calvino, resumo e citações. Agora, vamos prosseguir e pensar sobre a humanidade de Jesus e sobre o significado dele ser o Messias e Cristo da Humanidade. Nesse sentido, quando Jesus é declarado como "Servo do Pai" (Isaías 42.1), e na descrição da sua infância enquanto crescia em estatura, graça e sabedoria. E quando Jesus diz que "não procura Sua própria glória, e que não sabe quando será o último dia (da história neste mundo), e que Ele não fala pela Sua própria autoridade nem pratica a sua própria vontade", então sabemos que Jesus se refere à sua humanidade, a partir de aspectos da sua natureza humana. Já o bom conhecimento da Pessoa do Messias ocorre nas passagens bíblicas que apresentam aspectos singulares e simultâneos das duas naturezas de Jesus conjuntamente, a divina e humana. Isto ocorre quando João descreve em seu Evangelho que Jesus recebeu autoridade do Pai para perdoar pecados, vivificar a vida humana e derramar "justiça, santidade e salvação sobre a humanidade; que Ele foi nomeado Juiz dos vivos e dos mortos, a fim de que seja honrado como o Pai é honrado. Que Ele é a Luz do mundo, o Bom Pastor, a única Porta, a Videira Verdadeira." São capacidades derramadas sobre o Filho do Homem assim que Ele se manifestou para existir carnalmente em nosso mundo, "pois embora as possuísse com o Pai antes da fundação do mundo, contudo não as possuía da mesma maneira até que fosse manifestado em carne; porém elas são de tal natureza que não poderiam ser dadas a um homem que nada mais fosse do que homem," e assim somente o Filho de Deus que se tornou homem tem tais atributos. Observe que o reino de Jesus Cristo não teve começo e não terá fim, com Cristo reinando até se assentar no trono do julgamento, e também ali Ele irá reinar. "Quando, porém, formos glorificados e vermos Deus como Ele é, então Cristo, tendo cumprido o ofício de Mediador, cessará de ser o mensageiro do Pai e ficará satisfeito com a glória que tinha antes da fundação do mundo." Jesus Cristo não irá perder nada com isto, mas será visto de modo maior e mais profundo em sua Glória, pois será o momento em que sua majestade irá surgir de forma completa e integral diante dos homens; a Glória de Deus, o Filho! JESUS, O MESSIAS E LUZ DO MUNDO. SIGNIFICADO E REALIZAÇÕES. O Evangelho está pontilhado com a expressão "Eu Sou", que tem relevância especial porque "Eu Sou" era a expressão usada como nome divino, devido à tradução grega do Êx 3.14; quando João revela Jesus como "Eu Sou", a reivindicação de sua divindade está explícita. Exemplos disso temos em João 8.28,58 e em sete declarações de Jesus como: o pão da vida, alimento espiritual; a luz do mundo banindo as trevas (8.12; 9.5); a porta das ovelhas que dá acesso a Deus; o bom pastor, que protege dos perigos; a ressurreição e a vida sobrepujando a morte; o caminho, a verdade e a vida, que leva ao Pai; a videira verdadeira, em quem podemos dar frutos. (20.29-31)." (Bíblia de Genebra, p. 8/9, 1228/29, 1999. REPRESENTAÇÃO DA VINDA DA LUZ EM JESUS. TÓPICO 3. A SIMPLICIDADE dada no EVANGELHO e CARTAS de JOÃO. "E a vida se manifestou, e nós a vimos e dela damos testemunho. E anunciamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada." (1 Carta de João, cap. 1.2). MEDITAÇÃO. Quando o Apóstolo João viu Jesus vivo e ressurreto após a morte, em nova pesca lá na praia com os discípulos, ele soube que Jesus era o Cristo. Anos mais tarde, quando João foi levado ao terceiro céu em espírito, assim que viu Jesus sentado à direita de Deus Todo Poderoso, então a ficha que já havia caído antes, se tornou um turbilhão de conhecimento. João descobriu que Jesus era Deus! E como Deus tem vida em si mesmo, uma vida completa e eterna, então João entendeu que quando Jesus se tornou um ser humano, a qualidade da vida de Deus foi compartilhada com a nossa espécie. Sim, a partir dali, a raça humana jamais seria a mesma. A qualidade de sentimentos e atitudes dos homens mudou para sempre tendo Jesus como Messsias e Salvador. E a ressurreição do homem Jesus ainda garante que tudo de bom que pode-se viver hoje, será melhor, aperfeiçoado e integral, verdadeiro e eterno; amanhã! TÓPICO 4. O GRANDE CONSTRASTE. LUZ E TREVAS. "Esta é a mensagem que ouvimos dele e que agora lhes transmitimos: Deus é luz, e nele não há escuridão alguma." (1 Joao, cap. 1.5). MEDITAÇÃO. Deus é Luz, e por isso os cristãos precisam andar na Luz para que consigam viver com Deus, de verdade. E o apóstolo João vai explicar para nós que viver e andar junto de Deus não é tão difícil, mas é complicado. E complexo. Pois a humanidade pecaminosa é complicada e complexa. Mas, fora isto, agora já é possível andar e viver com Deus. Afinal, a Luz de Deus está no mundo e se fez homem; e aí surge um caminho para a humanidade seguir direto até Deus. Dá uma olhada: "Mas, se andarmos na luz, como o próprio Deus é luz, vamos experimentar também uma vida de comunhão uns com os outros, enquanto o sangue derramado de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo o nosso pecado." (v. 7). Observe então, que a comunhão religiosa que faz os homens viverem com Deus acontece quando os cristãos andam na Luz, que é Jesus; pois ao estar diante de Deus através de Jesus, as nossas trevas de pecados são tratadas pelo sangue derramado do Filho de Deus, que purifica sempre de todo pecado. TÓPICO 5. COMO CARREGAR AS TREVAS E ANDAR NA LUZ, QUE É JESUS. "Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Mas se alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo." (1 Carta de João, cap. 2.1). MEDITAÇÃO. Um cristão não é alguém que não comete pecados. Mas sim, é uma pessoa que acredita no Evangelho de Jesus Cristo para tratar os seus pecados. Desta forma, a Religião e Religação cristã do homem para com Deus requer levar sempre em conta a vontade e os mandamentos de Deus, que apontam os nossos pecados e também anunciam a retidão de Deus. E no meio desta realidade de pecados vindos das trevas, bem, a Religião Cristã do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo vai manter a gente ligado aos céus, vivendo continuamente um relacionamento com Deus dia a dia, mesmo quando caímos em pecados. Essa benção é dada a todos que invocam Jesus como o nosso Advogado diante da Justiça de Deus. TÓPICO 6. 1 Carta de João, capítulo 3. "Todo aquele que permanece nele, não vive pecando; todo aquele que vive pecando, não o viu nem o conheceu". (1 João 3.6). MEDITAÇÃO. A diferença entre um cristão e um não cristão é o hábito do pecado, e não o fato de não pecar. Pois todo ser humano é pecador e por isso todos praticamos pecados. No entanto, Jesus Cristo está fazendo as pessoas nascerem de novo direto lá dos céus, e por isso os cristãos estão aprendendo a deixar de cometer o pecado como um hábito constante e incurável. E já são capazes de transformar atitudes malditas em benditas. Dessa forma, uma marca dos cristãos é aprender a pecar cada vez menos, sendo que alguns pecados mais graves também serão praticados de modo mais leve, pra não causar danos pra si mesmo e problemas ao próximo. Embora qualquer pecado sempre provoque o afastamento de Deus. Daí a palavra de João para que os cristãos procurem não pecar, mas se pecarem, devem saber que pela confissão de pecados, Jesus se faz nosso Advogado Salvador diante da Justiça de Deus. Em meio a todo esse conhecimento, refletimos que a dimensão do pecado é uma realidade existencial perigosa e misteriosa da humanidade e de todo nosso ambiente existencial, pois Jesus sem dar motivo para a enfermidade do paralítico que Ele a pouco havia curado em Betesda, decidiu dar a ele , no entanto, uma razão, ao orientar que não deveria voltar a pecar para que não lhe sobreviesse mal pior: "Olha, você foi curado. Não peque mais, para que não lhe aconteça coisa pior." (João 5.14). O que fazer diante disto? Nesta realidade, "Dois homens foram ao templo para orar: um era fariseu e o outro era publicano. O fariseu ficava em pé e orava de si para si mesmo, desta forma: "Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo o que ganho. O publicano, estando em pé, longe, nem mesmo ousava levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: "Ó Deus, tem pena de mim, que sou pecador!" Digo a vocês que este desceu justificado para a sua casa, e não aquele." (Lucas 18. 10-14). Desta forma, e renovando a nossa verdade essencial; "Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado." (1João 1.6-7). PENSAMENTO. Através da realização e estabelecimento da obra do Evangelho de Jesus de Nazaré em nossa existência, Deus transformou a Luz da perfeição de seus mandamentos na própria Pessoa humana de Jesus de Nazaré. Desta forma, os homens não precisam obedecer a todos os mandamentos para conseguir ficar na luz. Agora, basta aos homens estar em Cristo, sendo Ele a própria Luz dos homens. Assim, nós saímos das trevas não através da obediência aos mandamentos da luz, mas sim pela confiança em Jesus Cristo, o Messias, que sendo Ele a própria Luz do mundo, nos mantém na Luz. Jesus então, é a nossa comunhão, e religião, e religação, e relação única com Deus perante toda existência. Pois não há outro! Por isso, diz João: "O que vimos e ouvimos anunciamos também a vocês, para que também vocês tenham comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo." (1 João 1.3). CONCLUSÃO. Em suma, irmãos; "A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas e as trevas não prevaleceram contra ela. (...) Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está junto do Pai, é quem o revelou." (João 1. 4-5, 17-18). Desta forma, "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." (1 João 1.9). É ISSO. O Hábito dos cristãos da Luz é a Confissão, pois Jesus Cristo levou os nossos pecados. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.