sábado, 26 de fevereiro de 2022

ORAÇÃO PESSOAL É UMA BÊNÇÃO! A importância de Conversar com Deus.

"De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança." (Salmo 5.3). Jesus de Nazaré deixou para os seus seguidores a oração do Pai Nosso "como um padrão a ser copiado" e "como uma forma a ser usada", no destaque de John Stott, conforme as orientações do Cristo, anotadas pelos evangelistas Mateus ("Vocês, orem assim...") e Lucas ("Quando vocês orarem, digam..."). Já para o teólogo protestante, João Calvino, os cristãos devem orar não "com o objetivo de informar a Deus sobre coisas que lhe sejam desconhecidas", ou para que Deus cumpra a sua obrigação ou atue com mais ânimo nas situações de que precisamos. "Pelo contrário, eles oram a fim de que possam exercitar sua fé na meditação em suas promessas, e aliviar-se de suas ansiedades... para que possam declarar que tem esperança de coisas boas e esperam em Deus somente, tanto para si mesmos, como para os outros." Lembre que o mais importante é sempre acreditar em Deus, pois "sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam." (Hebreus 11.6). Nesse sentido, Jesus chamou a atenção do povo para alguns "pecados" da oração. Pois os fariseus (religiosos vaidosos) eram hipócritas e falsos nas suas palavras. Enquanto que os pagãos, que não conhecem nem acreditam em Deus, praticavam orações "mecânicas", com repetições sem nexo e pedidos sem sentimento e sem confiança. Daí o modo como Calvino valoriza a sinceridade diante de Deus na hora da oração: "Ao orar devemos verdadeiramente sentir nossas carências e... acompanhar a oração de um desejo sincero; na verdade, de um desejo sincero de obter essas coisas (...) Ademais, podemos imaginar algo mais detestável a Deus do que a ficção em que se pede perdão dos pecados, mas aquele que o faz não acredita ser pecador ou, ao menos, não está pensando ser pecador?". Então, ao perceber os erros que fazem com que as nossas orações não sejam respondidas ou as tolices que nos deixam distantes de Deus. Seja porque pedimos sem temor, ou porque as nossas petições são erradas (Tiago 4.1-3), observe algumas dicas da Oração do Pai Nosso, para que sejamos abençoados ao orar: "Jesus ensinou a nos dirigirmos a Deus como "Pai nosso, que estás nos céus". Isso implica que Deus é um Ser pessoal... Em segundo lugar, ele é amoroso... alguém que preenche os ideais de paternidade no cuidado amoroso para com seus filhos. Em terceiro lugar, ele é poderoso. Aquilo que o seu amor indica, seu poder é capaz de realizar... (Por isso), é sempre sábio, antes de orarmos, passar um tempo lembrando quem é aquele a quem estamos nos dirigindo." (John Stott). Por isso, a importância de ler a Bíblia, especialmente os salmos e evangelhos, para recordar e aprender Quem é a Pessoa de Deus e Qual é o sentimento que Ele tem pelos que invocam seu nome. Dessa forma, iremos aprender a não cometer um outro pecado que pode-se praticar nas orações, como destaca Calvino: "Alguns murmuram a oração sem meditação, sendo seu único princípio o fato de que Deus deve se tornar favorável pela oração. Os cristãos devem estar especialmente alertas (sobre isso)... Por exemplo, quando oramos dizendo que Seu nome seja santificado, devemos ter sede e fome sincera por essa santificação." Assim, uma boa maneira de começar a falar com Deus numa oração sincera é utilizar cada uma das frases da Oração do Pai Nosso como um "padrão" e "forma" de nossas conversas, aproveitando logo a petição inicial, "Santificado seja o Teu Nome". Nesta frase, iremos dizer palavras benditas sobre o Amor e o Poder, a Dignidade e a Majestade de Deus Pai Todo Poderoso. A partir daí, Timothy Keller fala da importância de praticar as nossas orações diante de Deus de uma maneira em que ocorra tanto um encontro pessoal com Ele, como também, a entrega para Deus das necessidades que temos no coração: "Não devemos traçar uma linha divisória entre buscar a comunhão pessoal com Deus e buscar o avanço do seu reino nos corações e no mundo. Se as duas coisas permanecerem juntas, a comunhão não será apenas consciência mística sem palavras, por um lado, nem serão nossas petições um modo de obter o favor de Deus "com nossas muitas palavras" (Mt 6.7). Pois a oração é tanto conversa quanto encontro com Deus... As formas tradicionais de oração - adoração, confissão, ações de graças e súplica - são práticas concretas bem como experiências profundas. (...) Conforme o livro de J.I. Packer e Carolyn Nystrom, Orar é ir "do dever ao deleite". Essa é a jornada da oração." Para concluir, lembre-se que Oração é o momento de estar na Presença de Deus com súplicas e pedidos, ao crer que Jesus é o Messias que retira os pecados que nos separam de Deus. Sabendo que a Oração do Pai Nosso também é uma conversa interior e transcendente com Deus, que o Espirito Santo utiliza para transformar as nossas vidas. Assim, é só começar a orar e perceber o modo como o Espírito de Deus já escreve em nossa personalidade a resposta de nossos pedidos, para que sejamos abençoados com novos sentimentos e entendimentos. Além das bençãos que Deus vai realizar nas pessoas e situações para que oramos. E não se preocupe com os "aparentes" atrasos de Deus na perspectiva humana, pois segundo Calvino, o Senhor governa todas as situações e nosso aprendizado espiritual, segundo as nossas necessidades. Então, boas orações e conversas com Deus pra você! REFERÊNCIAS. Calvino, João. Dia a Dia com Calvino, devocional diário. trad Elisa de Castro, Publicações Pão Diário, Curitiba PR 2021. Stott, John. A Bíblia Toda o Ano Todo. trad Jorge Camargo, Edit Ultimato, Viçosa MG 2006. Keller, Timothy. Oração. Experimentando intimidade com Deus. trad Jurandy Bravo, Vida Nova São Paulo SP 2016. Autor. Ivan S Ruppell Jr é prof de Ciências da Religião e Teologia, e Capelão Social e Escolar.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

SÍMBOLOS DE FÉ DA IPB, AULA 2. Contexto Histórico.

Esse texto tem objetivo didático na disciplina de Símbolos de Fé no Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba. Daí a utilização de resumos e citações mais longas no interesse de oferecer aos alunos o conteúdo apropriado para o entendimento necessário aos debates e explanações em aula. CONTEÚDO da Aula: CONTEXTO HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. Resumo e citações da Obra: O que todo Presbiteriano Inteligente deve saber. Autores: Alderi de Souza de Matos e Adão Carlos do Nascimento. NOSSOS SÍMBOLOS DE FÉ. "A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única norma de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em virtude de a Bíblia não apresentar as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura." (p 67). Vimos o modo como no período da Reforma Protestante houve grande valorização da autoridade das Escrituras, sendo um princípio comum de todos os grupos e lideranças que se organizavam na primeira metade do século 16, como os da reforma alemã (luterna) e reformas suiça e francesa. Nesse contexto de leitura e conhecimento da Bíblia e definição de princípios doutrinais para a Igreja e fiéis, havia, segundo McGrath, "aspectos de interpretação que tanto eram propícios a causar divergências quanto difíceis de definir. Existia a necessidade evidente de encontrar-se algum tipo de recurso "oficial" para delimitação de ideias da Reforma, a fim de evitar confusão. As "Confissões de fé" desempenharam essa função." (p 109, 2005). Sendo que, as autorizadas Confissões de Fé protestantes vieram a se consolidar através de movimentos "pós-reforma", como destaca McGrath: "Tanto a Reforma protestante quanto a católica, foram sucedidas por um período de consolidação da teologia, em ambos os movimentos. No seio do protestantismo, luterano e reformado (ou "calvinista"), iniciou-se o período conhecido como "ortodoxia", caracterizado por sua ênfase em normas e definições doutrinárias. (...) O luteranismo e o calvinismo eram, sob muitos aspectos, bastante semelhantes. Ambos alegavam ser evangélicos e rejeitavam, de modo geral, os mesmos aspectos centrais do catolicismo medieval. Entretanto, eles precisavam se diferenciar." (p 112 -114, 2005). Nesse contexto, anotamos que "a Confissão de Fé e os Catecismos são conhecidos, historicamente, como Símbolos de Westminster. Eles foram elaborados pela Assembleia de Westminster (1643-1648), convocada pelo Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários, litúrgicos e administrativos para a Igreja da Inglaterra. Para se entender as circunstâncias da formulação desse importante documento, é preciso relembrar a história da Reforma Inglesa." (Matos e Nascimento, p 67, 2007). ANTECEDENTES históricos. No ano de 1534 o Rei Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica de Roma e através do Ato de Supremacia tornou-se chefe da Igreja da Inglaterra. Nascia a Igreja Anglicana separada da Igreja Católica, porém, com celebrações e doutrinas semelhantes, até que em 1547 subiu ao trono o Rei Eduardo VI, sendo que o Arcebispo de Cantuária Thomas Cranmer organizou dois documentos orientados pelo pensamento calvinista: o Livro de Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos. Nesse período, outras ações ocorreram com propósito reformista, até a morte do rei Eduardo em 1553. Maria Tudor (Maria sanguinária) assumiu o trono decidida a unir-se novamente com a Igreja Católica de Roma, o que levou à perseguição e morte de Cranmer e outros líderes da Reforma, enquanto os religiosos protestantes fugiam da Inglaterra para outros países, sendo que muitos deles foram residir em Genebra, debaixo da influência de João Calvino. Até que em 1558 Maria Tudor faleceu e a nova Rainha Elizabete retornou com o Ato de Supremacia, o que propiciou o retorno dos protestantes pra Inglaterra. (p 67-68). PURITANOS. Nesse período, um movimento que valorizava as Escrituras e a Teologia Calvinista se desenvolvia fortemente na Inglaterra. "Seus partidários defendiam uma forma de governo, um sistema de doutrinas, um culto e uma vida mais puros, ou seja, mais bíblicos. Por volta de 1565, eles passaram a ser conhecidos como "puritanos". Durante o restante do século, a rainha Elizabete buscou limitar a ação e crescimento do movimento dos puritanos, até que em 1603 assumiu o Rei Tiago VI, "rei da Inglaterra e da Escócia e chefe da Igreja". O rei havia sido educado segundo valores presbiterianos na Escócia, mas decidiu valorar o sistema episcopal na organização da igreja. (p 68). A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER. Carlos I sucedeu Tiago e reinou entre 1625 até 1649, sendo aconselhado pelo Arcebispo de Cantuária William Laud, adepto da uniformidade religiosa e teologia arminiana, em oposição ao movimento puritano e pensamento calvinista. Ambos atuaram a partir de 1637 para controlar os presbiterianos da Escócia para que viessem a obedecer o governo e celebração próprios da Igreja da Inglaterra (sistema episcopal), momento em que os presbiterianos da Escócia juraram defender o sist presbiteriano, vindo a entrar em guerra diante do Rei. Assim, Carlos I tentou eleger um parlamento na Inglaterra para ficar mais forte na guerra diante da Escócia, porém a população inglesa elegeu um parlamento puritano, ocasião em que o Rei promoveu nova eleição, sendo que o novo Parlamento eleito teve mais representação puritana do que o anterior. Nesta ocasião, logo que o Rei agiu para dissolver o Parlamento uma segunda vez, os parlamentares entraram em guerra com o Rei, dando início à guerra civil inglesa. (p 69) "Entre outras coisas, esse Parlamento puritano voltou sua atenção para a questão religiosa. Fazia quase um século que os puritanos vinham insistindo que a Igreja da Inglaterra tivesse uma forma de governo, doutrinas e culto mais puros. Assim sendo, o Parlamento convocou a "Assembléia de Teólogos de Westminster", composta de 121 dos ministros mais capazes da Inglaterra, além de 20 membros da Câmara dos Comuns e 10 membros da Câmara dos Lordes. Todos os ministros, exceto dois, eram da Igreja da Inglaterra. Praticamente todos eram puritanos, calvinistas." (Matos e Nascimento, p 69, 2007). O PURITANISMO. "Um dos mais importantes estilos teológicos associados ao mundo de língua inglesa surgiu na Inglaterra, no final do século XVI. Provavelmente, o puritanismo seja mais bem definido como uma versão da ortodoxia reformada que enfatizava de maneira especial os aspectos empírico e pastoral da fé. Os escritos dos principais teólogos puritanos, William Perkins (1558-1602), William Ames (1576-1633) e John Owen (1618-83), sofreram claramente forte influência de Beza, particularmente em relação a seus ensinamentos a respeito da extensão do sacrifício de Cristo e da soberania divina nas questões da providência e eleição." (Mcgrath, p 117, 2005). TEODORO BEZA. (1519-1599). "Notável escritor calvinista, professor de teologia na Academia de Genebra, de 1559 a 1599. Os três volumes de sua obra Tratctationes theologicae (Tratados teológicos), de 1570 a 1582, apresentam uma descrição racionalmente coerente dos principais elementos da teologia reformada mediante o uso da lógica aristotélica. O resultado é uma descrição que apresenta argumentação consistente e defesa racional da teologia de João Calvino...". (McGrath, p 115, 2005). REFERÊNCIAS. Matos, Alderi de Souza e Nascimento, Adão Carlos. O que todo presbiteriano inteligente deve saber. Edit Socep, Santa Barbára do Oeste SP, 2007. McGrath, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. Shedd Publicações. São Paulo SP, 2005. AUTOR. Ivan S Ruppell Jr é Professor de Ciências da Religião e Teologia.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

SÍMBOLOS DE FÉ DA IPB, Introdução, 2023

ORIENTAÇÃO de Estudo. Esse texto foi preparado para uso didático na disciplina de SÍMBOLOS DE FÉ do Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba, pelo professor Ivan S Rüppell Jr. Contém texto do professor e longas citações de duas obras, uma do próprio professor e outra do teólogo e cientista religioso Alister McGrath. O objetivo é trazer dados e informações diversas e importantes aos alunos da disciplina, motivo para que as citações sejam longas nesse texto. ITEM 1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IPB. O termo religioso "credo" origina da palavra em latim: "credo" e significa "Eu Creio", que é como inicia o Credo Apóstolico. O termo se refere ao modo como se deseja definir uma específica "declaração de fé", sendo que, o mais famoso credo cristão, segundo McGrath, "sintetiza os principais pontos da fé cristã, os quais são compartilhados por todos os cristãos." (2005, p 54). Devido a essa aceitação geral e ampla que designa a existência e aceite de um "credo", essa expressão não deve ser utilizada para referir "declarações de fé" representativas do pensamento particular de determinadas denominações religiosas; sendo que estas serão assim chamadas, como "confissões". Nesse contexto, e no destaque de nosso autor, "a confissão pertence a uma denominação e inclui dogmas e ênfases especificamente relacionados a ela; o "credo" pertence a toda a igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma declaração de crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e observar." Neste sentido, "o "credo" veio a ser considerado como uma declaração concisa, formal, universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da fé cristã." (2005, p 54). O período histórico e doutrinal reconhecido como período patrístico (compreende desde o ano 100 d.C - a partir do término da escrita dos textos do Novo Testamento, até o ano 451 d.C - em que houve o Concílio da Calcedônia) foi a época do estabelecimento de dois credos fundamentais devido sua autoridade e aceitação integral pela Igreja Cristã: o Credo Apostólico e o Credo Niceno (versão alongada do credo apostólico). Segundo McGrath, "um requisito essencial era que cada convertido, que desejasse se batizar, deveria declarar publicamente sua fé"; de forma que os credos se tornaram uma declaração básica e aceita por todos os cristãos, de forma que veio a ser a afirmação de fé que se deveria testemunhar publicamente. O Credo Apóstolico contém três partes que destacam a Pessoa de Deus, de Jesus Cristo e do Espírito Santo, além de temas cristãos essenciais, sendo que suas doze afirmações são reconhecidas como tendo sido autorizadas e declaradas pelos apóstolos. O Credo Niceno surge num período de controvérsias sobre a divindade de Cristo, e apresenta afirmações da unidade do Filho com o Pai, além de se referir ao Espírito Santo e sua atuação e obras. (McGrath, 2005, p 55). Para McGrath, "a evolução dos credos representou um importante elemento no processo para se chegar a um consenso doutrinário no seio da igreja primitiva", sendo que a doutrina sobre a Pessoa de Cristo veio a ser o tema mais desenvolvido historicamente. ITEM 2. O DESENVOLVIMENTO INICIAL E O PENSAMENTO TEOLÓGICO CRISTÃO NA PATRÍSTICA. (*conteúdo extraído do livro "O Cristianismo e a Civilização Ocidental"). "A história da vida de Jesus de Nazaré encontra-se narrada nos quatro Evangelhos autorizados que levam os nomes de seus escritores, os apóstolos Mateus e Marcos, Lucas e João. (...) Segundo o estudioso anglicano John Stott, os evangelhos são narrativas históricas diversas e complementares em seus detalhes, vindo a refletir em seus pontos de vista distintos a própria personalidade dos escritores, pois as suas histórias de vida e formações intelectuais e religiosas acabaram orientando a maneira em que eles investigam e anotam as experiências e ministrações de Jesus, até escreve-las numa forma ordenada por situações consequentes e também segundo um conteúdo relacionável por temas. Nas palavras desse mesmo autor, “no caso dos Evangelhos (...) parece que os evangelistas planejaram suplementar um ao outro à luz de seus propósitos e preocupações individuais. Assim, Mateus expandiu muito Marcos, Lucas influiu novas ênfases no material extraído dos outros dois e acrescentou ainda mais, e João pintou um retrato de Jesus que foi além dos outros três, tanto em conteúdo quanto em profundidade espiritual.” (Homens com Uma Mensagem, 1996, p 10) (...) Conforme Fortino, “desde seu início na Judeia romana (...) o cristianismo moldou a cultura de grande parte da civilização ocidental. Os primeiros cristãos foram perseguidos tanto por autoridades judaicas quanto pelo Império Romano, e muitos foram mortos. Mesmo assim, a religião resistiu, sob a liderança da primeira Igreja. Gradualmente, o cristianismo passou a ser tolerado pelos líderes romanos e, após o Concílio de Niceia... foi adotado como religião oficial do Império Romano em 380 d.C.” (2014, p 202) Segundo McGrath, enquanto as lideranças cristãs da cidade de Roma fortaleciam suas influências sobre as igrejas e seguidores residentes no grande território do Império, o que também já gerava as primeiras tensões entre Roma e Constantinopla, alguns centros de estudos doutrinários eram organizados em determinadas regiões, como: a cidade de Alexandria, situada no Egito, que se tornou um centro educacional relacionado à tradição platônica; a cidade de Antioquia, situada na atual Turquia, região que auxiliou grandemente no desenvolvimento da doutrina da Trindade; e, a região norte da África, atual Argélia, que confrontava abertamente a liderança de Roma, sendo a localidade de importantes escritores cristãos, como Tertuliano e Santo Agostinho. E conforme o pensamento desse mesmo autor, “o termo “patrístico” (...) tanto designa o período referente aos pais da igreja quanto as ideias características que se desenvolveram ao longo desse período. (...) esse termo representa algo definido de forma vaga que frequentemente é considerado como o período a partir do término dos documentos do Novo Testamento (100 d.C.) até o decisivo Concílio da Calcedônia (451).” (2205, p 39-41) “O período patrístico representa um dos mais empolgantes e criativos da história do pensamento cristão... Todos os principais ramos da igreja cristã – incluindo as igrejas anglicanas, ortodoxa oriental, luterana, reformada e católica romana – consideram o período patrístico como um marco decisivo na evolução da doutrina cristã. Cada uma dessas igrejas se considera como uma continuação, uma extensão e, naquilo que for necessário, uma crítica às visões dos escritores da igreja primitiva.” O símbolo e representação teológica de unidade conceitual que identifica as mais diversas igrejas e denominações que são consideradas pertencentes ao Cristianismo no decorrer da história recebeu sua forma fixa no período patrístico, ainda no decorrer do quarto século, através da finalização do conteúdo do “Credo Apostólico”. Essa declaração contendo os elementos essenciais da fé cristã tornou-se o conteúdo a ser afirmado por todos aqueles que desejavam ser batizados a fim de se tornarem cristãos nas cerimônias de recepção de novos convertidos à religião do Cristianismo, as quais começaram a ser organizadas desde os primeiros movimentos da Igreja primitiva. A seguir, destacamos alguns de seus principais elementos: “Creio em Deus, o Pai todo-poderoso, criador dos céus e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, Ele foi concebido por obra do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria... Foi crucificado, morto e sepultado... Ressuscitou no terceiro dia, Subiu aos céus e está sentado à mão direita do Pai... Creio no Espírito Santo... na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.” Observe a grande influência da religião do Cristianismo em nossa sociedade, a partir do conhecimento cotidiano contemporâneo que todos temos acerca do próprio conteúdo do Credo Apostólico; sendo este um aspecto revelador do modo em que esta religião se tornou uma força cultural da civilização ocidental." ITEM 3. ACERCA DA UNIDADE DE PENSAMENTO ENTRE OS CRISTÃOS a partir do Credo Apostólico, segue um destaque com conteúdo extraído do livro "O Cristianismo e a Civilização Ocidental", que atualiza o tema para os períodos do séc 20 e 21. "Um outro movimento importante e historicamente relacionado ao desenvolvimento do Pentecostalismo é o “Movimento Evangelical”, de origem europeia e que, após passar pelos Estados Unidos da América, chegou ao Brasil no decorrer do século 20. Seu propósito era unificar as diversas ramificações protestantes ao redor de alguns princípios doutrinários essenciais do Cristianismo, tanto para se fortalecerem em suas atividades, como para se posicionarem diante da expansão católica. Houve a organização de uma espécie de frente-unida protestante para desenvolver uma grande Era missionária, através de um programa de atividades que se prolongou até o início da primeira guerra. E nas palavras desse mesmo autor, “a auto identificação de “evangélico” era individual e significava o compromisso da pessoa com aquele conjunto de princípios doutrinários; antes de pertencer a esta ou aquela denominação, o indivíduo era “evangélico”. (Mendonça, 2002, p 15) (...) Dentro desse contexto, é possível formular um quadro das denominações protestantes que se desenvolveram no Brasil no decorrer do século passado, a partir da definição de suas origens, havendo três grupos distintos: há os grupos de origem migratória, que vieram atender inicialmente os migrantes ingleses e alemães, como os ramos protestantes da Igreja Anglicana e Luterana; há os grupos de origem missionária, como os das Igrejas Presbiteriana, Congregacional, Igreja Reformada Holandesa, Batistas e os Menonitas; e, há os grupos de origem pentecostal, tanto os clássicos, como a Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja “O Brasil para Cristo”; como aqueles mais relacionados à cura divina, como a Igreja Deus é Amor. (Mendonça, 2002, p 18) (...) O Movimento cristão ecumênico do século 20. Desde o grande cisma histórico do Cristianismo que separou a Igreja ocidental romana da Igreja oriental ortodoxa em 1054, passando pela divisão da Igreja Ocidental que redundou na Reforma Protestante em 1517, até as disputas doutrinárias e eclesiais que ocasionaram o surgimento de incontáveis denominações e grupos cristãos no decorrer dos séculos 19 e 20; um dos fatos que se tornaram marcantes na história do Cristianismo foram as divisões desta religião. “Os fiéis compartilham um mesmo Senhor, uma mesma fé e um mesmo batismo, mas para eles foi muito difícil permanecer unidos, e suas dissensões enfraqueceram profundamente o testemunho cristão no mundo.” São divisões que se tornaram importantes a partir de meados do século 19 e no século passado, assim que as lideranças e os missionários cristãos se dedicaram a atuar junto às nações asiáticas e africanas; situações em que a falta de unidade, tanto de mensagem, como de projetos se tornava um aspecto negativo e revelador das divisões “internas” da Igreja Cristã, conforme Chadwich. Esse autor identifica as origens das divisões fundamentais do Cristianismo a partir de quatro aspectos doutrinário-históricos: o das igrejas “pré-cacedonianas”, como a armênia, síria ortodoxa e copta egípcia, que não se submetem ao concílio de Calcedônia; o cisma entre as igrejas romana ocidental e ortodoxa oriental; a divisão ocasionada pela reforma protestante; e, as denominações contrárias ao tradicionalismo protestante, como as igrejas batistas em razão do batismo por imersão, e os pentecostais que valorizam os dons do Espírito Santo. (2007, p 222) Em meio a esse contexto e na busca por um sentido de unidade religiosa, lideranças cristãs reunidas na conferência missionária protestante internacional de Edimburgo (1910), orientaram a realização de reuniões e conferências nos anos seguintes, com destaque para o Movimento de Vida e Trabalho, que se reuniu em Estocolmo em 1925 para debater a relação do Cristianismo com a sociedade, e o Movimento de Fé e Ordem, que promoveu encontros em 1927 no objetivo de definir elementos de unidade doutrinal entre as igrejas cristãs. Até que em 1937 ambos os grupos decidiram atuar em conjunto, o que não foi possível desenvolver plenamente em razão dos acontecimentos da segunda guerra mundial. (Curtis, 2002, p 221) Esse grande número de esforços ecumênicos redundou na criação do Conselho Mundial das Igrejas em 1948, com sede em Genebra, Suíça, tendo por seu primeiro secretário, o teólogo holandês W. A. Viser `t Hooft; sendo que as igrejas que desejavam participar deveriam manifestar seu compromisso com as doutrinas da divindade de Cristo e da Trindade, conforme esclarece Chadwick. E, nas palavras desse mesmo autor, esta organização “preocupou-se não apenas com promover a compreensão teológica, mas também com questões sociais e políticas: paz e controle de armamentos, racismo (...), liberdade religiosa e ajuda aos refugiados e aos oprimidos pela injustiça.” (2007, p 222-223) A continuidade desse processo histórico avançou a partir de decisões da Igreja Católica Romana, que se reuniu no Concílio Vaticano II em 1962, sob a liderança do Papa João XXIII, para debater a “atualização da igreja” em meio a um contexto de crescimento do ateísmo e materialismo na sociedade. Dentre as inúmeras decisões do colegiado, houveram algumas que foram de encontro aos desejos do movimento ecumênico do século: primeiro, a afirmação de que as Escrituras eram a base principal da verdade divina, e não a tradição; e segundo, a decisão por chamar de “irmãos” aos membros de outras denominações cristãs, havendo a orientação de que estes não precisariam retornar “à Roma” para serem assim considerados. (Curtis, 2003, p 228) Alguns dos desdobramentos das decisões do concílio católico nos anos seguintes revelam a importância do ecumenismo cristão no século 20, com destaque para os seguintes acontecimentos: entre os anos de 1964/65, o Papa Paulo VI liderou proposições no sentido de tornar a ideia da unidade cristã num projeto para toda a Igreja, enquanto se unia ao Patriarca Atenágoras de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), para juntos determinarem o fim dos atos de excomunhão dados no século 16; também, houve uma aproximação junto às Igrejas históricas protestantes, com a liderança Católica vindo a participar em 1983 da Assembleia do Conselho Ecumênico das Igrejas; e, ainda, nas últimas décadas do século anterior houve um fortalecimento das atividades da Secretaria para a Unidade dos Cristãos, um órgão interno da igreja romana. (Greco, 2008, p 157) A partir desses movimentos ocorridos nos primeiros anos após a segunda grande guerra, e de inúmeras outras atividades e conferências que foram realizadas nas últimas décadas do século 20, o movimento ecumênico do Cristianismo teve bom crescimento, vindo a alcançar a participação de diversas denominações e importantes lideranças contemporâneas da religião. Sendo possível afirmar que o século 21 tem sido marcado por um respeito e consideração mútuos bastante significativos entre as diferentes vertentes religiosas cristãs, ao mesmo tempo em que o diálogo inter-religioso e as ações sociais conjuntas continuam ocorrendo no decorrer dos anos." ITEM 4. SÍMBOLOS DE FÉ. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DAS CONFISSÕES DE FÉ PROTESTANTES. O Período de consolidação da doutrina Protestante. Ao mesmo tempo em que a Reforma Protestante atualizava de modo distinto na história a autoridade das Escrituras, as diversas visões diferentes de interpretação entre os líderes da reforma também se tornava uma realidade, especialmente no pensamento distinto entre os "reformadores magisteriais" (que respeitavam as autoridades) e os "reformadores radicais" (mais revolucionários diante do Estado). Nesse contexto, surgiu a necessidade de definições "oficiais" que pudessem esclarecer tanto o que pensavam como o que desejavam os reformadores do cristianismo, sendo que, segundo McGrath, "as confissões de fé desempenhararm essa função (...) (posto que) em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade: 1. As Escrituras. Eram consideradas pelos reformadores magisteriais como a autoridade suprema em matéria de dogma e conduta cristãos. 2. Os credos do cristianismo. Esses documentos, como, por exemplo, os credos Apostólico e Niceno, eram considerados pelos reformadores magistrais como representativos do consenso da igreja primitiva, bem como interpretações precisas e autorizadas das Escrituras. (os credos eram considerados textos secundários em relação às Escrituras, e serviam para delimitar o individualismo da reforma radical) A autoridade desses credos era reconhecida tanto por protestantes quanto por católicos, bem como por vários elementos pertencentes à corrente dominante da Reforma. 3. As confissões de fé. Esses documentos eram tidos como oficiais por determinados grupos integrantes da Reforma. Assim, as igrejas luteranas primitivas reconheciam a autoridade da Confissão de Augsburg (1530) (embora nem todos os grupos protestantes entendessem desta forma)... Para exemplificar, pode-se mencionar o fato de que as confissões de fé específicas foram elaboradas por alguns grupos. Algumas estavam vinculadas à Reforma em determinadas cidades - por exemplo, a Primeira Confissão da Basiléia (1534) e a Confissão de Genebra (1536). Portanto, o padrão básico adotado pelos integrantes da Reforma era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal e das confissões de fé como de caráter terciário e local (pelo fato de essas confissões ser consideradas obrigatórias somente por uma denominação ou igreja de determinada região). (Mcgrath, p 109-110, 2005). A Posição Reformada sobre a Questão. "Houve um grande número de confissões reformadas. Como assinala Schaff, isto se deve particularmente ao fato de que a tradição reformada alcançou uma extensão maior do que a luterana, atingindo mais nações. Zuínglio, conquanto tenha escrito uma confissão, chamada "Os Sessenta e Sete Artigos", jamais obteve uma aceitação plena da mesma nas igrejas da Suiça; tampouco essa, ou as outras obras de cunho confessional de que tomou parte, foram usadas para exigência subscricional. Da parte de Calvino, como já foi dito, surgiu a Confissão Genebrina (1536); o objetivo original desta não chegou a ser alcançado, a saber, ser subscrita por todos os moradores de Genebra (devemos lembrar que, dois anos depois, Calvino foi banido de Genebra por três anos). Assim, ao seu retorno em 1541, Calvino tratou de coloca-las na forma de catecismo, isto é, perguntas e respostas, para catequese do povo. Como um apêndice, ele manteve uma síntese da confissão na forma expositiva, destinada aos líderes. Mais tarde, a Segunda Confissão Helvética suplantou esse catecismo na Reforma suiça", com destaque para o modo em que a década de 60 foi bastante ativa na feitura de confissões reformadas." (Simões, p. 57, 2002). As seguintes possuem importância especial. 1559, Confissão Gálica, França. 1560, Confissão Escocesa, Escócia. 1561, Confissão Belga, Países Baixos. 1563, Trinta e Nove Artigos, Inglaterra. 1566, Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental." (Mcgrath, p 109-110, 2005). REFERÊNCIAS. MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações. SP São Paulo, 2005. RUPPELL JR, Ivan Santos e TURETTI, Marli. O Cristianismo e a Civilização Ocidental, Edit Inter-saberes, Curitiba PR, 2020. SIMÕES, Ulisses. A Subscrição Confessional. Necessidade, Relevância e Extensão. Belo Horizonte: Efrata. Publicações e Distribuição, 2002.