segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

UMA ORAÇÃO PELO BRASIL EM 2024! "Ó Senhor, faze o bem àqueles que são bons."

A oração do Salmo 125 é a Intercessão vigorosa que os Cristãos precisam fazer pra que Deus Pai visite o mundo e o Brasil com real Justiça social neste novo ano de 2024, a partir de seus versos finais: "Óh Senhor, faze o bem àqueles que são bons, aos que tem coração sincero. Expulsa, porém, os que andam por caminhos tortuosos, Óh Senhor; leva-os embora junto com os que praticam o mal. Que Israel tenha paz." O contexto desta instigante oração decorre de uma situação social em que os perversos governam a vida dos justos através dos atos de um Estado Político na sociedade. Decretos e decisões que vem estabelecer uma realidade existencial e social na qual o povo de Deus será tentado a praticar o que é mal diante do Senhor; conforme esclarece o verso 3, que traz a súplica de que "os perversos não governarão a terra dos justos, para que os justos não sejam tentados a fazer o mal." Segundo a Bíblia de Genebra, este versículo ensina que o "cetro (governo) dos ímpios... é um símbolo de governo político e militar e, neste caso, indica a opressão do povo de Deus por uma força ímpia." Dessa forma, os valores maléficos de um governo ímpio na sociedade agirão como uma força de tentação sobre os cristãos, que vai ocorrer "por meio de imitação, ou sob as pressões de um governo e de uma sociedade corruptos." (p 709). A urgência desta Oração pelo Brasil e todo planeta surge dos movimentos ditatoriais dados por Governos e Juízes que buscam administrar a moral e os valores sociais e familiares das populações, sem levar em conta princípios democráticos e orientações da liberdade de expressão das culturas dos homens. Além disso, especialmente para os Cristãos e suas famílias, as consequências de ser intimidado para viver debaixo de valores existenciais não cristãos poderá impedir parte do povo de Deus de receber as bençãos de que precisa para prosperar em sua jornada aqui na terra, conforme explica Davi no Salmo 18. Nesse texto, o salmista esclarece como o Deus Todo Poderoso se move com bondade especial na vida daqueles que se mantém firmes na aliança, pois "para com o benigno, benigno te mostras" (v. 25), sendo esse o motivo da súplica do salmo 125, que clama para que o povo de Deus seja liberto da autoridade pública opressora. A importância desse modelo de oração foi outrora definida pelo Apóstolo Paulo ao discípulo Timóteo, orientando uma Intercessão vigorosa pelas Autoridades públicas, a fim de que o Povo de Deus tenha "uma vida pacífica e tranquila", com liberdade religiosa na sociedade para anunciar o Evangelho, pois "isso é bom e agrada a Deus, nosso Salvador, cujo desejo é que todos sejam salvos e conheçam a verdade." (1Timóteo 2.1-6). Esse também é um tema valioso no pensamento do teólogo protestante João Calvino, do século XVI, que refletiu sobre a complexa relação entre os Cristãos, o Estado e Sociedade, ao apresentar o modo como os Dez Mandamentos são os fundamentos da Lei moral de Deus na história. Pois representam uma justiça interior e espiritual, já que seus princípios alcançam os pensamentos do coração do homem. Nesse contexto, em que os princípios morais dos 10 mandamentos são os fundamentos da Lei do amor de Jesus ao próximo, Calvino enfatiza a superioridade do padrão moral e relacional da lei de Deus para a vida do ser em sociedade, como sendo os mais excelentes valores e princípios que deverão reger e orientar a vivência comum dos homens. Assim, todo conteúdo da justiça de Deus deve ser percebido como um código de boas obras completo, posto que não haveriam quaisquer outros conhecimentos e virtudes capazes de superar aqueles que nos foram descritos por Moisés e Paulo. (Wiles, p 153-164, 1984). Sobre este assunto, destaca-se o pensamento autorizado de Abraham Kuyper (1837-1920), teólogo e filósofo calvinista que foi Primeiro Ministro da Holanda entre 1901 até 1905. Ele desenvolveu os princípios calvinistas do modo como a Soberania de Deus deve orientar a soberania do Estado diante dos homens, ressaltando o conflito recorrente entre os princípios da Liberdade e Autoridade, sendo que este confronto "revelou-se o meio ordenado por Deus para refrear a autoridade onde quer que ela tenha se degenerado em despotismo.” (Kuyper, p 88, 2003). Ao visualizar o estabelecimento da sociedade na realidade humana do pecado, o Calvinismo busca orientar a instituição do Estado conforme tem sido conduzida por Deus na história. Seja como um elemento necessário de preservação da sociedade através de atos de justiça, seja como um instituto que deverá ser vigiado, posto que carrega consigo o impulso de atuar contra a liberdade pessoal dos homens. (p 88). Assim, pautado pelos atos soberanos de Deus na organização social, Kuyper indica que devemos valorar o Estado e a autoridade do governante, cuidando para que estes se mantenham debaixo dos propósitos divinos. Neste sentido, devemos afirmar a impossibilidade de que um homem reine sobre outro, como atuava o Faraó diante dos camponeses no rio Nilo. Portanto, os cristãos deveriam se dedicar a Interceder pelo Brasil e suas autoridades políticas, para que o Temor de Deus esteja sobre nossa sociedade. Nesse contexto, Jesus afirmou que os cristãos deveriam exercer sua cidadania dando a Deus o que é de Deus, e a César (Estado) o que é de César. Isto significa que o Estado recebe tributos e obediência para atuar diante do crime e do mal; atentando para situações de injustiça. Enquanto que Deus recebe o Temor e honra de uma vida moral e científica, religiosa e artística, econômica e comunitária vivenciada livremente diante de d'Ele, e não aos pés de César. Pois a cultura não pertence ao Estado, mas é de Deus. Acerca deste tema político e social, Jesus definiu que a Igreja não deveria administrar os bens públicos e assumir as responsabilidades do Estado, da mesma forma que o Estado não deve controlar a Mensagem moral do Evangelho da Igreja; de modo que os cristãos não deverão ser controlados em sua ética familiar, social e política pelos valores de César. Sobre o mesmo tema, Paulo esclarece que as Autoridades do Estado foram instituídas por Deus para castigar na sociedade os que praticam o mal, ao que Pedro acrescentou: "Temam a Deus e respeitem o rei."(*) (*Lucas 20.25, Romanos 13.1-7, 1Pedro 2.13-17). REFERÊNCIAS. CALVINO, João. As Institutas. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006. KUYPER, Abraham. Calvinismo. Tradução Ricardo Gouveia e Paulo Arantes – São Paulo: Cultura Cristã, 2003. WILES, J. P. As Institutas da Religião Cristã – um resumo – João Calvino. Tradução do inglês Gordon Chown. Primeira edição em português: 1984. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo – SP. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor, advogado e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

AS PROFECIAS DO EVANGELHO E A FALTA DE FÉ DA HUMANIDADE!

O Evangelho de Jesus de Nazaré jamais foi e nunca será uma mensagem fácil pra humanidade crer e entender! Os religiosos mais dedicados esperavam ver milagres maiores e definitivos diante da realidade pecaminosa do mundo, e os intelectuais aguardavam uma solução coerente e racional conforme a promessa que anuncia uma vitória conclusiva sobre o mal na existência; enquanto isso, "Deus usou a loucura da nossa pregação para salvar os que creem", segundo o Apóstolo Paulo, pois "quando pregamos que o Cristo foi crucificado, os judeus se ofendem, e os gentios dizem que é tolice."* Mas, não são somente os homens que tem atitudes complexas ao tratar com a Palavra do Evangelho, pois o próprio Senhor Jesus decidiu Profetizar o Evangelho por meio de Parábolas, conforme Mateus 13.35: "Eu lhes falarei por meio de parábolas; explicarei coisas escondidas desde a criação do mundo." Você sabe que uma Profecia não é só uma palavra de Deus que traz revelações sobre o futuro, pois, na verdade, toda Palavra de Deus anunciada aos homens é sempre uma Profecia; e, no caso das parábolas, são um método de ensino que "ocultavam a verdade e a revelavam ao mesmo tempo", segundo John Stott.* E assim, Jesus de Nazaré decidiu anunciar o Evangelho especialmente através de parábolas, que são um meio de instrução utilizado para manter em "suspense" os ouvintes, já que "eles olham, mas não veem; escutam, mas não ouvem nem entendem."* Pronto, agora até Jesus está complicando o que já não é fácil, não é mesmo? Na verdade, Jesus não veio pra complicar, mas, Ele também não veio enganar ou só de passagem. No entanto, o fato de Jesus usar parábolas de maneira constante e crescente fez até os díscipulos perguntarem: "Por que o senhor usa parábolas quando fala ao povo?"* O negócio é que diante de uma humanidade que aguardava um sinal milagroso definitivo ou uma realização visível compreensível, não adiantaria Jesus anunciar direto que "o Filho do Homem será traído e entregue em mãos humanas. Será morto, mas no terceiro dia ressuscitará"; pois ao ouvir isso, até os "díscipulos se encheram de tristeza."* Tá entendendo? Então, para se adaptar às dificuldades e incapacidades da humanidade, e para manter a veracidade e profundidade do Evangelho foi que Jesus decidiu anunciar o Amor de Deus que salva o pecador utilizando as "Profecias do Evangelho", as Parábolas! John Stott explica bem este ponto, quando esclarece que as parábolas "tinham a intenção de levar seus ouvintes a algum tipo de decisão", e por isso mesmo, elas "ocultavam a verdade e a revelavam ao mesmo tempo", já que, ao demonstrar a dificuldade das pessoas para entender o Evangelho, Jesus também revelava que esta falta de compreensão era consequência dos homens terem os corações endurecidos e fechados para receber a mensagem do Amor desafiador de Deus.* É isso! Sabendo que a Humanidade ficaria com os "dois pés" atrás pra reagir a uma Mensagem que somente oferece Perdão pra quem se Arrepende de continuar vivendo a vida do jeito que bem quer; então, Jesus de Nazaré escolheu um método de ensino que iria promover surpresas e indagações, reflexões e dúvidas constantes na alma do cidadão, quando ele fosse definir rápida e humanamente o que fazer com a mensagem do Evangelho que tinha acabado de receber. Sim, Jesus dá um jeito de ensinar o Amor de Deus de um modo que a Humanidade que luta pra não aceitar a Mensagem que a desafia para sempre mudar; também não conseguiria logo esquecer ou negar aquilo que acabou de ouvir. Pois a "Palavra do Amor" de Deus irá "embrulhar" no estômago do cidadão até ele perceber que não vai ser fácil enganar a insatisfação existencial que carrega consigo, até saber que as dores e o vazio da alma são consequências dos hábitos de uma vida distante dos mandamentos de Deus. Eita! O bom dessa situação toda é que Jesus esclarece que todos nós que estamos lendo este texto estamos perto de sermos bem aventurados, conforme esclarece aos discípulos que decidiram ir atrás pra saber melhor sobre o que Ele dizia, e por isso, ouviram: "Felizes, porém, são seus olhos, pois eles veem; e seus ouvidos, pois eles ouvem."* Afinal, todo aquele que busca o ensino e a presença de Jesus de Nazaré pra valer, irá receber a resposta de que "a vocês é permitido entender os segredos do reino dos céus... pois ao que tem, mais lhe será dado, e terá em grande quantia; mas do que nada tem, até o que tem lhe será tirado."* E que 2021 seja um ano bem-aventurado pra você! REFERÊNCIAS: (1Coríntios 1.21-23) (Stott, John. A Bíblia toda o ano todo. Viçosa, MG, Editora Ultimato, 2007, p 183) (Mateus 13.13) (Mateus 13.10)(Mateus 18.22-23) (Stott, John. 2007, p 183) (Mateus 13.16) (Mateus 13.11-12). p/ Ivan S Rüppell Jr

sábado, 9 de janeiro de 2021

A ORAÇÃO ESSENCIAL DOS CRISTÃOS SEMPRE!

A Oração que deveria unir os Cristãos bíblicos nesta década de 20 é a petição dada por Paulo a Timóteo para que haja uma Intercessão vigorosa pelas Autoridades públicas, a fim de que o Povo de Deus tenha "uma vida pacífica e tranquila", com liberdade religiosa na sociedade para anunciar o Evangelho. Pois "isso é bom e agrada a Deus, nosso Salvador, cujo desejo é que todos sejam salvos e conheçam a verdade."* Especialmente neste tempo da história em que até o Natal do Messias Jesus passa por uma experiência de cancelamento cultural na sociedade. Afinal, o entendimento racional e o anúncio social de que o Natal trata do nascimento de Jesus é tão somente uma declaração histórica fidedigna da parte da humanidade, revelando nossa natureza consciente diante da realidade, sendo algo essencial na manutenção de nossa personalidade intelectual. Enfim, faz-se importante recordar que a Intercessão é a primeira atitude religiosa dos Cristãos, ao perceber que as Autoridades se desviam dos princípios Civis e Sociais dados por Jesus e os Apóstolos Paulo e Pedro*; seja porque desejam interferir na Igreja, seja porque querem limitar ou impedir o anúncio da mensagem do Evangelho na sociedade e ambiente público. E o propósito da Intercessão por Autoridades é para que o povo de Deus tenha vida pacífica e tranquila na hora de propagar a Palavra, já que a Fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus. Esse é um princípio revelador de que não há nada mais importante na história do que informar toda humanidade da mensagem que irá capacitar o mundo a ter fé. Que é o conhecimento do Evangelho! Ponto. Pensando na importância da oração aos cristãos, Timothy Keller ensina que os dois pedidos iniciais do "Pai Nosso", são as petições para Deus "endireitar o mundo ("venha o teu reino") e alinhar nosso coração a Deus ("seja feita a tua vontade")"; pois "toda oração é também um meio de olhar para fora e participar com Deus de sua obra no mundo". Sendo essa a razão porque é essencial que o povo de Deus assuma a prática de intercessões "tanto pela igreja quanto pelo mundo. Pensando na igreja, ore por sua vitalidade, proteção e fidelidade. No mundo, ore para que haja paz em vez de guerra e conflito; prosperidade em vez de pobreza e fome; liberdade em vez de tirania e escravidão; ore pela virtude dos líderes e pela saúde das sociedades."* Pois o povo Cristão não deve esquecer que enquanto Deus sara as enfermidades das águas amargas e alimenta seus filhos com codornas e pão do céu, além de oferecer o descanso do Sábado e dar-lhes continuamente a Água da vida, também haverá sempre inimigos espirituais e humanos buscando impedir o avanço do conhecimento do Reino de Deus e de sua Luz nas trevas. Algo que aprendemos no exemplo da intercessão fundamental de Moisés pelo Reino de Deus, pois "enquanto Moisés mantinha os braços erguidos, os israelitas tinham a vantagem. Quando abaixava os braços, a vantagem era dos amalequitas."* Portanto, a década de 20 já tem sua Oração capaz de unir e aproximar todo verdadeiro povo de Deus, juntamente, é claro, com a Petição inicial diária dos fiéis do Messias: "Nosso Pai do céu, Revela-nos quem tu és. Dá um jeito neste mundo. Faz o que é melhor - tanto aí em cima quanto aqui em baixo. Conserva-nos vivos com três boas refeições. Preserva-nos perdoados por ti e perdoando os outros. Guarda-nos de nós mesmos e do Diabo. Tu estás no comando! Tu podes fazer tudo o que quiseres! Tua beleza é fascinante! Amém. Amém. Amém." Quê Deus Pai abençoe o povo cristão no compromisso de Orações e Intercessões em favor do Evangelho e pela liberdade religiosa na sociedade! *Referências bíblicas e citações: (*1 Timóteo 2.1-6) (*Lucas 20.25, Romanos 13.1-7, 1Pedro 2.13-17) (*Keller, Timothy. Oração, experimentando intimidade com Deus. São Paulo, Vida Nova, 2016, p 217-226) (*Êxodo 17.11, Êxodo capítulos 15-17) (*Mateus 6.9-13, Bíblia "A Mensagem"). Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é Professor de Ciências da Religião e Teologia, Capelão Escolar e Social.

sábado, 2 de janeiro de 2021

a Espiritualidade da Bondade, no "cinema": O GAMBITO DA RAINHA, Netflix, 2020. p/ Ivan S Rüppell Jr

"Estou aqui porque precisa que eu esteja", diz Jolene para Beth Harmon no último episódio da série, que se torna uma frase representativa dos relacionamentos da protagonista durante o desenrolar de "O Gambito da Rainha", da Netflix. Sim, os seres humanos da história da enxadrista mais famosa do século 21 são pessoas bondosas; vindo daí nosso título, que deseja investigar um pouco sobre a espiritualidade deste sentimento. Segundo Jesus de Nazaré, uma compreensão profunda dessa virtude está descrita na experiência mais simples que a humanidade é capaz de vivenciar, conforme foi descrita na parábola do "Bom Samaritano". Ali, Jesus esclarece que amar ao próximo é simplesmente cuidar de quem está diante de nós, e assim, iremos agir com bondade sempre que remediarmos alguma necessidade das pessoas, conforme nossa condição naquele momento. No caso, o samaritano bondoso conduziu um homem ferido do meio da rua ao pronto socorro, já que lá no primeiro século não tinha serviço público de locomoção de necessitados; sendo que, após contar esta história, e ouvir o comentário de que "aquele que tratou com bondade" o homem ferido, foi quem o amou como seu próximo, Jesus concluiu: "Faça a mesma coisa." O gambito da dama no xadrez é uma abertura de jogo em que se perde uma peça pra alcançar vantagem mais tarde, e a missérie baseada no livro de Walter Trevis, "O Gambito da Rainha" foi gravada nos padrões do cinema clássico norte-americano, já que se propõe a contar uma história de forma linear, assim como os dias na vida da gente seguem sempre pra frente, no tempo. Desta forma, há uma valorização da naturalidade no andamento dos dramas relacionais do enredo do filme, que são aquelas situações que vão chamar a nossa atenção e tocar sentimentos. E quando você agrega a este modelo clássico de contar uma história, algo do realismo europeu cinematográfico que expõe seus temas buscando valorizar a crueza diária da vida comum, extraíndo sua força da sinceridade existencial com que apresenta a humanidade, então, eis como a sétima arte alcança a qualidade que a tornou um veículo de comunicação excepcional. Sendo que, decorridos 125 anos do surgimento do cinema, esta técnica eficaz tem se tornado cada vez mais comum, e, ao seguir com competência este modelo, os produtores Scott Frank e Allan Scott fazem com que as pouco mais de 6 horas de duração da minissérie sejam assistidas tranquilamente, o que permite definir "O Gambito" como uma obra de muito boa qualidade. Segundo o blog de críticas "omelete", esta nova série de ficção "conta a história de Elizabeth Harmon (Taylor-Joy), uma jovem que sobrevive ao acidente de carro que resulta na morte da sua mãe, e conhece o xadrez durante sua estadia em um orfanato, revelando, desde pequena, uma habilidade fora de série. Recontando sua vida da infância até a maturidade e passando por diversos campeonatos regionais e internacionais, a série diverte o espectador mesmo com jogadas previsíveis, apostando na adrenalina bem construída das partidas de xadrez, e investindo em personagens carismáticos." O blog informa que os ex-campeões de xadrez Jennifer Shahade e Garry Kasparov concordam com o modo como a série apresenta o ambiente competitivo dos torneios, e indica o filme sobre a vida de Bobby Fischer, "O Dono do Jogo" (2014), pra quem estiver interessado no tema. (Julia Sabagga, 5/11/2020). Ainda, conforme o crítico Dylan McClain do NYT, as principais vitórias de Beth são baseadas em jogos reais de grandes torneios. Os ambientes e locações da série são caprichados e a fotografia e apresentação cinematográfica das cenas revela o talento dos realizadores, que conseguem transportar o espectador para os anos 60 utilizando cenários e cores, roupas e músicas de um modo intimista, assim como fez Spielberg em "Prenda-me se for capaz", servindo-se dos elementos históricos e cenográficos do filme pra caracterizar os dramas da narrativa. E as apresentações das partidas de xadrez são criativas e interessantes, algo similar ao que Martin Scorsese realizou no filme "A Cor do dinheiro" (1986), sobre a sinuca e jogo de bilhar, ao retomar a história do personagem Eddie Felson, protagonizado pelo astro Paul Newman. A protagonista Taylor-Joy lidera com carisma e vivacidade um elenco de atores bastante capaz e sincero nas atuações, o que valoriza a proposta de mover os sentimentos da história pela força da realidade das situações, ao invés de forçar emoções inesperadas com enredos e personagens desconectados da vida real. Nossa enxadrista excepcional partilha sua história desde pequena, e durante a adolescência e juventude com uma dezena de personagens que carregam consigo igualmente, a virtude de agir bondosamente sempre que possível junto dela. Ao visualizar a aparição dessa virtude nas experiências diversas da protagonista, iremos nos sentir até um pouco desnorteados, tanto ao deparar com esta estranha sensibilidade relacional que anda meio rara em nossos dias, como, pelo fato de que a maioria das séries atuais promovem seus dramas através de traições e grosserias, enquanto buscam extrair emoções da plateia. No entanto, a capacidade espiritual da humanidade em praticar misericórdia ao oferecer uma atitude bondosa ao próximo, surge como uma vivência distinta e peculiar desta minissérie que já seria valiosa em tantos outros aspectos, como citado acima. Sendo que, a simplicidade e facilidade com que esta virtude surge nas situações mais diversas no decorrer da história, evidencia ainda mais a distância que estamos de valorizar hoje em dia, a experiência da bondade gratuita e cotidiana. Neste sentido, o filme vai auxiliar a entender como virtudes importantes podem ser recuperadas na história, desde que a personalidade das pessoas seja educada a compreender o valor das atitudes mais básicas, que de tão simples podem até se tornar um padrão natural nas culturas do futuro. Certa solidariedade que fez parte da década de 60, que foi um período da história em que a humanidade corria atrás de reconstruir valores de respeito e compaixão, devido às desgraças e violência da segunda guerra mundial, que havia terminado somente quinze anos antes. Pois, como bem destaca Jolene para Beth; ela jamais foi um anjo da guarda de sua irmã de orfanato, mas sim, apenas procura fazer o que pode para ajudar o próximo, enquanto vai levando a vida. Portanto, ainda há esperança para todas as gerações e idades deste novo século 21 vislumbrarem para o nosso cotidiano, a possibilidade de nos relacionarmos tendo em mente fazer simplesmente algo de bom para as pessoas nas situações que vivemos. Afinal, a bondade e misericórdia é uma das bem-aventuranças ensinadas por Jesus, que disse: "abençoados são vocês, que se preocupam com o bem-estar dos outros. Na hora em que precisarem de ajuda, também receberão cuidado." Em tempo: o primeiro professor de xadrez de Beth foi William Shaibel, zelador da Casa Mathuen para meninas, sendo que esta experiência de aprendizado é revivida poética e sensivelmente ao final da série. Bom filme, com indicação etária acima de 15 anos.