sexta-feira, 30 de outubro de 2020

A Justificação pela Fé nas INSTITUTAS de J Calvino

Esse texto contém o pensamento do reformador João Calvino sobre o tema da “Justificação pela Fé”, conforme exposto em quatro tópicos no terceiro livro das Institutas. O maior exegeta da Reforma dedicou grande parte de sua vida para articular uma teologia didática e profunda do conhecimento de Deus na Bíblia, no interesse de orientar os cristãos líderes e leigos numa boa doutrina protestante. O texto a seguir foi escrito através de resumos, citações e paráfrases, a partir do Resumo das Institutas, de J. P. Willes. Boa leitura! LIVRO TRÊS. Tópico 11. A Justificação pela Fé. A maior dádiva do amor de Deus por nós é Cristo, e iremos tomar conhecimento e experimentar as suas bênçãos através de dois benefícios principais. Primeiro, sabendo que somos reconciliados com Deus mediante a inocência de Cristo, e assim, temos um Pai clemente nos céus ao invés de um Juiz. Segundo, enquanto o Espírito santifica as nossas personalidades, passamos a experimentar a inocência e a pureza verdadeiras da vida. A nossa reconciliação com Deus mediante a Justiça de Cristo é a principal doutrina dos fundamentos da nossa religião. Pois, até que o homem conheça a sua verdadeira posição perante Deus e de como estamos situados diante da sua Justiça, jamais teremos uma base firme de esperança para nossa salvação, a fim de que venhamos adorar ao Senhor de maneira satisfatória. Observe que um homem é justificado perante Deus quando ele é considerado justo no julgamento do Senhor, sendo então, aceito por Deus. Pois todo pecado é odioso a Deus e os pecadores não irão permanecer na sua presença, se os pecados que eles praticaram forem levados em conta, afinal, a ira de Deus é revelada toda vez que algum pecado é achado na vida do homem. No entanto, quando um homem é considerado justo, e não mais um pecador diante de Deus, dizemos que esse homem foi justificado! Dessa forma, esse homem vai ficar de pé diante do tribunal da justiça de Deus, enquanto os pecadores ali irão cair. Observe que, um homem inocente poderia ser declarado justificado diante de um juiz, se fosse demonstrado no tribunal que ele não é culpado de nada do que o acusam; e assim, da mesma forma, uma pessoa que tem Deus por sua testemunha e por garantia da sua justiça, de igual modo, ela será considerada justificada diante do Senhor. Ao mesmo tempo, um homem seria justificado por suas próprias obras se fossem achadas na sua vida aquela pureza e santidade que fizessem Deus declarar que ele era um justo. E nesse mesmo propósito, mas numa outra perspectiva, também pode-se dizer que um homem teria condições de ser declarado justo diante de Deus e justificado perante o Senhor, quando ele, ainda que não tenha praticado as suas próprias obras de justiça, viesse a receber e incorporar na sua pessoa e existência a justiça das obras praticadas por Jesus Cristo. Nessa situação, quando esse homem é revestido das obras da justiça de Cristo, ele tem a condição de se colocar diante de Deus como uma pessoa justa, e não mais, como um pecador. Nesse caso, o significado da justificação consiste na retirada da condenação dos pecados praticados por esse homem, e na declaração da justiça vivenciada por Cristo, sobre ele. Agora, irei mencionar algumas das muitas provas que as Escrituras dão sobre essa doutrina. Observe que, quando Paulo diz que as Escrituras previram que Deus justificaria os gentios pela fé; o que estaria ele dizendo senão, que Deus considera que eles são justos exatamente pela fé? (Gálatas 3.8). E quando Paulo diz que Deus justifica o ímpio “que tem fé em Jesus”; o que poderia ele dizer senão, que Deus está utilizando a fé como um instrumento para libertar os ímpios da condenação, que a sua impiedade merece? (Romanos 3.26). O apóstolo fala disso de forma direta na mesma carta, ao clamar: “Quem se atreve a acusar os escolhidos de Deus? Ninguém, pois o próprio Deus nos declara justos diante d´Ele. Quem nos condenará, então? Ninguém, pois Cristo Jesus morreu e ressuscitou e está sentado no lugar de honra, à direita de Deus, intercedendo por nós.” (Romanos 8.33-34). Paulo destaca o seguinte argumento: Quem vai acusar aqueles que Deus inocentou? Quem vai condenar aqueles por quem Jesus intercede? Portanto, já que Deus nos declara justos devido à intercessão e mediação de Jesus Cristo, também sabemos que não somos ou seremos inocentes a partir de nossos próprios atos, mas sim; nós somos inocentes porque a Justiça de Cristo foi entregue e colocada sobre a nossa pessoa. Por isso, quando o publicano voltou para sua casa justificado, não se pode dizer que ele alcançou a justiça pelos méritos das obras que ele praticou; mas sim, dizemos que ele foi justificado porque Deus o declarou inocentado. Porém, a melhor passagem bíblica para confirmar essa doutrina é a declaração que expõe a síntese da mensagem do evangelho, em 2 Coríntios 5.18-21: “E tudo isso vem de Deus, aquele que nos trouxe de volta para si por meio de Cristo e nos encarregou de reconciliar outros com ele. Pois, em Cristo, Deus estava reconciliando consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados das pessoas. E ele nos deu esta mensagem maravilhosa de reconciliação. Agora, portanto, somos embaixadores de Cristo; Deus faz seu apelo por nosso intermédio. Falamos em nome de Cristo quando dizemos: “Reconciliem-se com Deus!” Pois Deus fez de Cristo, aquele que nunca pecou, a oferta por nosso pecado, para que por meio dele fôssemos declarados justos diante de Deus.” Muitos imaginam que a Justificação cristã é parcialmente pelas obras e parcialmente pela fé; mas as Escrituras ensinam que a justificação pela fé e a justificação pelas obras são de tal maneira opostas entre si que, se uma ficar de pé, a outra deve cair. Nós só iremos confiar plenamente na misericórdia de Deus e na perfeição de Cristo para nossa justificação, quando abandonarmos qualquer confiança e expectativa de sermos justos por nossas próprias obras e atitudes. Agostinho diz que nesta vida a justiça dos cristãos consiste mais na remissão dos seus pecados, do que na perfeição de suas virtudes. E outro escritor antigo anuncia de forma admirável essa questão, ao dizer: “Não pecar é a justiça de Deus; receber perdão de Deus é a justiça do homem!” LIVRO TRÊS. Tópico 12. Para entender a Necessidade da Justificação Gratuita, devemos elevar os pensamentos para o Trono do Julgamento Divino. Observe que nossa necessidade de receber uma justificação graciosa da parte do Senhor, decorre do fato de que o julgamento que vai avaliar nossas vidas não será num tribunal humano, mas sim, diante do tribunal de Deus! E isso requer levar em conta a perfeição das obras que poderão ser aceitas ali. Pois a Justiça de Deus só irá considerar e aceitar o que está absolutamente perfeito e livre de qualquer mancha de impurezas. Vamos meditar juntos: “Como responderemos diante do tribunal de Deus quando Ele nos chamar para prestar contas?” Deus não é um Juiz do tipo que imaginamos, mas sim, Ele é conforme está descrito nas Escrituras: Ele é um Juiz cujo esplendor deixa as estrelas ofuscadas, e por cujo poder as montanhas são derretidas, por cuja ira a terra é sacudida, por cuja sabedoria os sábios são presos na sua astúcia; de quem se diz: “Os céus não estão puros à sua vista”. E que não irá inocentar os culpados de qualquer jeito, pois sua vingança, uma vez despertada, alcança até as profundezas do inferno. Se Deus subir ao seu trono para examinar as obras dos homens, quem ficará em pé diante d´Ele? E se Ele guardar um registro de nossas iniquidades, quem poderá sobreviver? (Salmo 130.3). A sua justiça ultrapassa a nossa compreensão, e se for exigido que a nossa vida seja conforme a sua lei para que sejamos absolvidos no seu Tribunal e aceitos na sua Presença, então, devemos tremer diante das maldições reveladas no propósito de nos acordar para esta realidade, especialmente a que diz: “Maldito quem não confirmar e cumprir os termos dessa lei.” (Deuteronômio 27.26). Portanto, devemos ficar atentos para os juízos deste tribunal, ao invés de ficar olhando para nossas boas intenções e ações. Pois, mesmo pensando que somos iguais a outros homens, ou melhor do que eles, isto nada tem a ver com a realidade de que todos nós iremos, sim, comparecer diante de Deus! Jesus disse o seguinte para aqueles que se consideravam justos a seus próprios olhos: “Vocês gostam de parecer justos em público, mas Deus conhece o seu coração. Aquilo que este mundo valoriza é detestável aos olhos de Deus.” (Lucas 16.15). A sabedoria de Salomão ensina que “todo caminho do homem é reto aos seus próprios olhos”, porém, o “Senhor sonda os corações” e “pesa os espíritos” (Provérbios 21.2, 16.2). Assim, enquanto o homem se lisonjeia com uma aparência vã de justiça, o Senhor coloca a sua vida numa balança, até revelar a iniquidade oculta de seu coração. Portanto, não vamos mais nos iludir desta forma, pois isto só aumenta a nossa própria destruição. A análise e compreensão correta acerca da nossa existência requer que estejamos diante do tribunal de Deus. A luz do Senhor é necessária para penetrar os recantos profundos e ocultos de nossa natureza corrompida; e somente nessa luz iremos compreender a veracidade das palavras de Isaías: “Todos nós nos desviamos como ovelhas; deixamos os caminhos de Deus para seguir os nossos caminhos.” (53.6). Por isso, devemos realizar um exame severo acerca de nós mesmos, para logo perceber a realidade da nossa dor e desgraça, pois somente assim estaremos preparados para receber a graça de Cristo, já que Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes Ele dá sua graça! Sim, as Escrituras testificam continuamente que devemos ser humilhados antes que possamos ser exaltados, e nosso excelentíssimo Mestre Jesus de Nazaré demonstra esta verdade como num quadro, na parábola do fariseu e do publicano; pois somente aquele que se humilhou e confessou seus pecados voltou justificado para sua casa. A sonolência dos pecadores que não prestam atenção no julgamento de Deus, enquanto se embriagam com a doçura de seus vícios, colocam a si mesmos num estado constante de preguiça e inércia, e assim, não demonstram interesse na misericórdia oferecida no Evangelho. Esta sonolência e toda a confiança em nós mesmos deveriam ser jogadas fora, para que todos possamos correr para Cristo, a fim de preencher as nossas almas vazias e famintas com as bênçãos que Ele nos oferece. Pois só iremos confiar em Cristo assim que viermos a desconfiar de nós mesmos, e nunca seremos exaltados até que sejamos humilhados; já que nunca acharemos consolo n´Ele até que sintamos o real vazio e desolação que alcançamos, quando confiamos em nós mesmos.” LIVRO TRÊS. Tópico 13. A Justificação pela Fé Glorifica a Deus, e traz Paz à Consciência. As Escrituras exortam o povo fiel para que somente Deus receba toda a Glória acerca da Justiça, sendo que o Apóstolo Paulo esclarece que Deus derramou sobre nós a Justiça de Cristo, exatamente no propósito de declarar ao mundo qual era o tipo e modelo da única e singular Justiça proveniente de Deus, a qual pertence somente a Ele. Deus fez assim para que a humanidade viesse a reconhecer que somente Deus é Justo, sendo também, o único Justificador dos homens. (...) Saiba que a justiça operada em nós pela regeneração nunca será perfeita e completa enquanto estivermos neste corpo, e por isso, se dependermos dela para sermos aceitos por Deus, teremos um grande número de razões que só irão aumentar nossas dúvidas e temores. O único remédio é edificar nossas esperanças no fundamento acima, isto é, que somos enxertados no corpo de Cristo, e, portanto, somos livremente justificados n´Ele! LIVRO TRÊS. Tópico 14. O Começo e o Progresso contínuo da Justificação. Para expor mais claramente a nossa doutrina, vamos classificar os homens em quatro grupos. a) aqueles que estão atolados na idolatria sem qualquer conhecimento de Deus; b) aqueles que por suas vidas impuras negam o mesmo Deus que confessam com suas bocas, e que se tornam meros cristãos nominais; c) os hipócritas que escondem a maldade de seu coração mediante aparências vãs; d) e, aqueles que são regenerados pelo Espírito de Deus e seguem na santidade. Se houver no primeiro grupo alguns homens com atitudes morais dignas de reconhecimento exterior, parecendo que possuem alguma medida de santidade; não devemos esquecer que Deus não olha apenas para a aparência externa, mas sim, para o coração. (...) O segundo e terceiro grupos podem ser reunidos num só. A impureza das suas consciências prova que nenhum deles foi ainda, regenerado pelo Espírito de Deus; e, não sendo regenerados, não tem fé! Daí fica claro que ainda não estão reconciliados com Deus, e nem justificados diante d´Ele. No entanto, todos os ímpios, especialmente os hipócritas, embora saibam que seus corações estão cheios de impureza, ainda pensam que as suas boas ações são dignas de aceitação. Vamos ver agora, quanta justiça pode ser encontrada no quarto grupo. Nós sabemos que ao ser reconciliados com Deus mediante a Justiça de Cristo, sendo então, considerados justos devido à retirada da condenação oriunda de nossos pecados; o que vai ocorrer a partir daí é que Deus vem habitar em nossas vidas pelo Seu Espírito, para nos santificar pelo Seu poder. No entanto, nesta nova situação, ainda vamos carregar conosco a vaidade daquelas obras que iremos continuar praticando por nós mesmos, algo que vai exigir que o nosso orgulho seja refreado continuamente pela virtude da humildade. Desta forma, não devemos esquecer que, jamais alguma boa obra foi realizada por qualquer homem na história; e mesmo que algo bom tivesse sido realizado, essa atitude perderia seu valor, pelas outras obras imperfeitas de que seu autor seria culpado de ter praticado. Portanto, os cristãos não devem colocar nenhuma confiança nas suas próprias boas obras, mas simplesmente, devem considera-las como dádivas da bondade de Deus e sinais da sua própria vocação e eleição. Pois é um erro comum supor que nossa justiça poderia ser realizada parcialmente pelas nossas próprias obras; razão pela qual, devemos vigiar cuidadosamente contra essa ideia, recordando que a Justiça de Deus vem a nós somente através de Cristo, e unicamente pela fé! (WILES, Joseph Pitts. As Institutas da Religião Cristã – um resumo. João Calvino. Tradução do inglês: Gordon Chown. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo, SP, 1984. p 246-255). Autor: Ivan Santos Rüppell Júnior, Pastor da Igreja Presbiteriana Olaria, Curitiba/PR e Professor de Ciências da Religião.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Dinâmica dos Encontros de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria, 2021

Olá, seja bem vindo aos Encontros de amizade e estudos biblicos da Igreja Presbiteriana Olaria. O objetivo é que os participantes possam receber um breve estudo bíblico, e depois, que tenham tempo para compartilhar suas impressões, sentimentos e experiências, e também para orarmos por pedidos pessoais. Segue a dinâmica básica das reuniões, para lhe auxiliar no entendimento do formato dos encontros. Que Deus Pai abençoe você! DINÂMICA das reuniões de Pequenos Grupos: QUEBRA-Gelo: (10 min). O quebra-gelo é utilizado para aquecer os participantes, de uma forma descontraída e perguntas simples, é uma oportunidade de interação e conhecimento mútuos. ORAÇÃO Inicial: Neste momento nos colocamos na presença do nosso Deus e Pai e pedimos auxílio para nos orientar e instruir em Sua Palavra. COMPARTILHAR da Palavra: (10 min). O líder do PG se torna o FACILITADOR desse momento expondo o texto através da leitura bíblica e na sequência inicia as perguntas para todos os participantes. PERGUNTAS: As perguntas realizadas pelo FACILITADOR auxiliam a compreensão e aplicação do texto bíblico na vida diária. ORANDO Por Nossos Amigos e Familiares: Neste momento apresentamos os nomes de pessoas que gostaríamos que participassem dos PGs, pedindo a Deus que toque os corações e que possamos ser usados por Deus para convida-los, além de intercedermos por pedidos diversos. (formato baseado em orientações de PGs, da Igreja Presbiteriana do Barreto.).

sábado, 24 de outubro de 2020

Meditação Dominical. VIVER PELA FÉ!

TEXTO Bíblico: "As boas-novas revelam como opera a justiça de Deus, que, do começo ao fim, é algo que se dá pela fé. Como dizem as Escrituras: "O justo viverá pela fé". (Carta aos Romanos, 1.17). "A inquietação espiritual que atormentava outros grandes cristãos, ao longo de todas as épocas, também influenciou o Monge Martinho Lutero. Ele estava consciente do próprio pecado, da santidade divina e da sua grande incapacidade de obter o favor de Deus. Em 1510, Lutero viajou para Roma e ficou desiludido com o tipo de fé mecânica que encontrou ali. Fez tudo o que pôde para ser piedoso. Subiu a escada de Pilatos, em que Cristo supostamente caminhou. Lutero orava e beijava cada degrau à medida que prosseguia, mas, mesmo ali, suas dúvidas ainda fervilhavam. Em 1515, começou a estudar e ensinar a Carta de Paulo aos Romanos. As palavras de Paulo consumiram a alma de Lutero. "Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos poderiam satisfazê-lo", escreveu Lutero. "Noite e dia eu ponderava, até que vi a conexão entre a justiça de Deus e a afirmação de que "o justo viverá pela fé". Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão (de Cristo) pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão dessa descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda a Escritura passou a ter um novo significado (...), esta passagem de Paulo tornou-se para mim, o portão para o céu". (Curtis, 2003, p 110). O verso bíblico "O justo viverá pela fé" explica o modo como os cristãos conseguem estar junto da presença de Deus, mesmo sendo pecadores e falhos. Pois eles não são aceitos por Deus porque são bons, mas sim porque Jesus é bom. E eles irão aproveitar o que Jesus fez diante de Deus, tomando isto para as suas próprias vidas com Deus. Ou seja, irão viver com Deus pela fé no que Jesus realizou, quando ele foi homem justo e levou os pecados dos injustos, na cruz. A angústia de Lutero sobre ter a consciência atormentada por não conseguir obedecer a lei de Deus para sentir-se aceito e próximo de Deus, é uma experiência que você passa? ORAÇÃO. Santo Deus e Pai nosso que está nos céus. Que a graça e a paz do Senhor estejam sobre mim. Perdoa os meus pecados e purifica os meus desejos ruins. Quebranta o meu coração e me faz humilde. Derrama fé e temor no meu coração. Que venha o seu reino e seja feita a sua vontade sobre mim. Não me deixes cair em tentação, mas livra-me do mal. AMÉM! Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de ciências da religião e teologia, e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil. REFERÊNCIAS: CURTIS, A Kenneth. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: tradução Emirson Justino - São Paulo : Editora Vida, 2003.

A Justificação pela Fé na Carta de Paulo aos Romanos

A doutrina cristã da "Justificação pela Fé", ensinada por Agostinho e revitalizada por Lutero se tornou uma bandeira da Reforma Protestante de Outubro de 1517, anunciando que a salvação religiosa do ser humano no cristianismo é um dom gratuito oferecido por Deus, que iremos receber somente pela fé; ponto! Para Lutero, "cada aspecto da fé depende dessa doutrina central e dominante, e escritores protestantes posteriores se referiam a isso como os articulus stantis et cadentis ecclesia - "artigos pelos quais a igreja permanece ou cai". (McGrath, 2012, p 62). Essa publicação é a primeira de uma série que iremos divulgar nesta "Semana da Reforma Protestante 2020", e seu conteúdo vai apresentar a mensagem de Paulo sobre o tema conforme foi descrito na carta aos romanos. Acompanhe a seguir, cerca de 40 versículos bíblicos sobre este tema que estão na carta entre os cap. 1 a 12, e faça suas próprias meditações acerca da Justificação pela Fé, segundo as Escrituras. TEXTO BIBLICO DA CARTA AOS ROMANOS: "Eu, Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo e enviado para anunciar as boas-novas de Deus, escrevo esta carta. Deus prometeu as boas-novas muito tempo atrás nas Escrituras Sagradas, por meio de seus profetas. Elas se referem a seu Filho, que, como homem, nasceu da linhagem do rei Davi, e, quando o poder do Espírito Santo o ressuscitou dos mortos, foi demonstrado que ele era o Filho de Deus. Ele é Jesus Cristo, nosso Senhor." (1.1-4). "Pois não me envergonho das boas-novas a respeito de Cristo, que são o poder de Deus em ação para salvar todos os que creem, primeiro os judeus, e também os gentios. As boas-novas revelam como opera a justiça de Deus, que, do começo ao fim, é algo que se dá pela fé. Como dizem as Escrituras: "O justo viverá pela fé". (1.16-17). "Pois bem, devemos concluir que nós, judeus, somos melhores que os outros? Não, de maneira nenhuma, pois já mostramos que todos, judeus ou gentios, estão sob o poder do pecado. Como afirmam as Escrituras: "Ninguém é justo, nem um sequer. Ninguém é sábio, ninguém busca a Deus. Todos se desviaram...". (...) "É evidente que a lei se aplica àqueles a quem ela foi entregue, pois seu propósito é evitar desculpas e mostrar que todo mundo é culpado diante de Deus. Pois ninguém será declarado justo diante de Deus por fazer o que a lei ordena. A lei simplesmente mostra quanto somos pecadores." (1.9-12, 19-20). "Agora, porém, conforme prometido na lei de Moisés e nos profetas, Deus nos mostrou como somos declarados justos diante dele sem as exigências da lei: somos declarados justos diante de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e isso se aplica a todos que creem, sem nenhuma distinção. Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, mas ele, em sua graça, nos declara justos por meio de Cristo Jesus, que nos resgatou do castigo por nossos pecados. Deus apresentou Jesus como sacrifício pelo pecado, com o sangue que ele derramou, mostrando assim sua justiça em favor dos que creem... Com isso, Deus se mostrou justo, condenando o pecado, e justificador, declarando justo o pecador que crê em Jesus... Portanto, somos declarados justos por meio da fé, e não pela obediência à lei." (2.21-28). "Portanto, uma vez que pela fé fomos declarados justos, temos paz com Deus por causa daquilo que Jesus Cristo, nosso Senhor, fez por nós. Foi por meio da fé que Cristo nos concedeu esta graça que agora desfrutamos com segurança e alegria, pois temos a esperança de participar da glória de Deus." (5.1). "Pois bem, devemos continuar pecando para que Deus mostre cada vez mais sua graça? Claro que não! Uma vez que morremos para o pecado, como podemos continuar nele? Ou acaso se esqueceram de que, quando fomos unidos a Cristo Jesus no batismo, nos unimos a ele em sua morte? Pois, pelo batismo, morremos e fomos sepultados com Cristo. E, assim como ele foi ressuscitado dos mortos pelo poder glorioso do Pai, agora nós também podemos viver uma nova vida." (6.1-4). "Na verdade, estou dizendo que a lei de Deus é pecaminosa? Claro que não! Na verdade, foi a lei que me mostrou meu pecado. Eu jamais saberia que cobiçar é errado se a lei não disesse: "Não cobice". Mas o pecado usou esse mandamento para despertar dentro de mim todo tipo de desejo cobiçoso." (...) "O problema não está na lei, pois ela é espiritual e boa. O problema está em mim, pois sou humano, escravo do pecado. Não entendo a mim mesmo, pois quero fazer o que é certo, mas não o faço... E eu sei que em mim, isto é, em minha natureza humana, não há nada de bom, pois quero fazer o que é certo, mas não consigo. Quero fazer o bem, mas não o faço. Não quero fazer o que é errado, mas, ainda assim, o faço (...) Como sou miserável? Quem me libertará deste corpo mortal dominado pelo pecado? Graças a Deus, a resposta está em Jesus Cristo, nosso Senhor." (7.7-8, 14-19, 24-25). "Agora, portanto, já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus. Pois em Cristo Jesus a lei do Espirito que dá vida os libertou da lei do pecado, que leva à morte. A lei não era capaz de nos salvar por causa da fraqueza de nossa natureza humana, por isso Deus fez o que a lei era incapaz de fazer ao enviar seu Filho na semelhança de nossa natureza humana pecaminosa e apresenta-lo como sacríficio por nosso pecado. Com isso, declarou o fim do domínio do pecado sobre nós, de modo que nós, que agora não seguimos mais nossa natureza humana, mas sim o Espírito, possamos cumprir as justas exigências da lei." (8.1-4). "Aqueles que são dominados pela natureza humana pensam em coisas da natureza humana, mas os que são controlados pelo Espírito pensam em coisas que agradam o Espírito... Vocês, porém, não são controlados pela natureza humana, mas pelo Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, a ele não pertence." (8. 5,9). "Portanto, irmãos, vocês não tem de fazer o que sua natureza humana lhes pede, porque, se viverem de acordo com as exigências dela, morrerão. Se, contudo, pelo poder do Espírito, fizerem morrer as obras do corpo, viverão, porque todos que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois vocês não receberam um espírito que os torne, de novo, escravos medrosos, mas sim o Espírito de Deus, que os adotou como seus próprios filhos. Agora nós o chamamos "Aba, Pai", pois o seu Espírito confirma a nosso espírito que somos filhos de Deus." (8.12-15). "E o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos orar segundo a vontade de Deus, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos que não podem ser expressos em palavras... E sabemos que Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito. Pois Deus conheceu de antemão os seus e os predestinou para se tornarem semelhantes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primeiro entre muitos irmãos... Que podemos dizer diante de coisas tão maravilhosas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?... E estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o que existe hoje nem o que virá no futuro, nem poderes, nem altura nem profundidade, nada, em toda a criação, jamais poderá nos separar do amor de Deus revelado em Cristo Jesus, nosso Senhor." (8.26-29, 31, 35-39). "Portanto, irmãos, suplico-lhes que entreguem seu corpo a Deus, por causa de tudo que ele fez por vocês. Que seja um sacrifício vivo e santo, do tipo que Deus considera agradável. Essa é a verdadeira forma de adora-lo. Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês." (12.1-2). BREVE Interpretação de Romanos 1.17: "As boas-novas revelam como opera a justiça de Deus, que, do começo ao fim, é algo que se dá pela fé. Como dizem as Escrituras: "O justo viverá pela fé". Comentário da Bíblia de Genebra: "1.17 a justiça de Deus. Essa é a frase-chave da epístola aos Romanos (3.21; 5.19; 10.3), regularmente explicada na epístola como "justiça... através (ou da) fé" (3.22; 9.30; 10.6). Na qualidade de juiz justo e reto, Deus justifica ou declara reto, por meio da morte de seu Filho, aqueles pecadores que confiam em Cristo com verdadeira fé (3.21-26; 5.10). A leitura deste versículo, por parte de Lutero, exerceu um decisivo impacto em sua compreensão sobre a justificação. Paulo acentua o fato de que o evangelho reclama a necessidade da fé. "O justo VIVERÁ pela fé": o verso se refere à vida em contraste com a morte espiritual, e a vida no sentido de uma contínua comunhão com Deus. Do princípio ao fim, viver piedosamente significa confiar em Deus e depender de sua graça." (p 1318, 1319). REFERÊNCIAS: Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. McGrath, Alister. Revolução Protestante / tradução Lena e Regina Aranha. - Brasília, DF : Palavra, 2012. Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora : letra grande / - 1. ed. - São Paulo : Mundo Cristão, 2016.

domingo, 18 de outubro de 2020

A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA! Estudo de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria, 19 a 23 de Outubro

TEXTO Bíblico Inicial: “A religião pura e verdadeira aos olhos de Deus, o Pai, é esta: cuidar dos orfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo." (Tiago 1.27). MEDITAÇÃO. As viúvas se tornaram a primeira preocupação social da Igreja de Cristo, assim que os cristãos começaram a se reunir como Povo de Deus (Atos 6.1), e essa situação não mudou, mesmo que hoje existam a rede de assistência da Saúde e de Aposentadoria do governo. E quanto às crianças orfãs, bem, mesmo que existam Casas Lares para atende-las, as suas necessidades serão sempre maiores do que qualquer outro ser humano, devido sua idade e carências. Então, o que parece não ter mudado é o fato da Igreja do Senhor ainda precisar ser exortada para organizar a fraternidade da Família de Deus junto aos que precisam de atenção e sustento. Mas, isso também não é novidade, pois a todo instante nós temos conhecimento de novas notícias sobre o desamparo que acomete as viúvas e os orfãos neste mundo, além de tantas outras pessoas. Então, vamos meditar num conselho simples do Apóstolo Tiago, que ao seguir o entendimento de Paulo, que dizia que a "fé se expressa pelo amor", afirmou que os cristãos deveriam mostrar a sua fé pelas obras: "Não se limitem, porém, a ouvir a palavra; ponham-na em prática. Do contrário, só enganarão a si mesmos. Pois, se ouvirem a palavra e não a praticarem, serão como alguém que olha no espelho, vê a si mesmo, mas, assim que se afasta, esquece como era sua aparência." (Tiago 1.22-24). COMPARTILHAR em Grupo. Leitura bíblica base: “A religião pura e verdadeira aos olhos de Deus, o Pai, é esta: cuidar dos orfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo". Pergunta 1. O que esse texto bíblico fala a seu coração, até pelo fato do Apóstolo usar a expressão: "religião pura e verdadeira"? Pergunta 2. Quê tipos de atividades a Igreja poderia realizar pensando nos órfãos e viúvas da Igreja e da Sociedade? Pergunta 3. Meditamos nas últimas semanas em dois textos da Palavra de Deus que ensinam sobre a sujeição do cristão ao Senhor em todas as áreas da vida, conforme Tiago 4.7: “Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês"; e acerca de como os cristãos devem ser reconhecidos pela sua bondade, conforme Gálatas 6.9: “Portanto, não nos cansemos de fazer o bem. No momento certo, teremos uma colheita de bênçãos, se não desistirmos”. (Gálatas 6.9). O que mudou em seus sentimentos e na sua atitude desde que meditamos nestes versículos, à luz da exortação de Tiago para que os cristãos "não se limitem, porém, a ouvir a palavra..."? Boa Semana! DINÂMICA das reuniões de Pequenos Grupos: QUEBRA-Gelo: (10 min). O quebra-gelo é utilizado para aquecer os participantes, de uma forma descontraída e perguntas simples, é uma oportunidade de interação e conhecimento mútuos. ORAÇÃO Inicial: Neste momento nos colocamos na presença do nosso Deus e Pai e pedimos auxílio para nos orientar e instruir em Sua Palavra. COMPARTILHAR da Palavra: (10 min). O líder do PG se torna o FACILITADOR desse momento expondo o texto através da leitura bíblica e na sequência inicia as perguntas para todos os participantes. PERGUNTAS: As perguntas realizadas pelo FACILITADOR auxiliam a compreensão e aplicação do texto bíblico na vida diária. ORANDO Por Nossos Amigos e Familiares: Neste momento apresentamos os nomes de pessoas que gostaríamos que participassem dos PGs, pedindo a Deus que toque os corações e que possamos ser usados por Deus para convida-los, além de intercedermos por pedidos diversos. (formato baseado em orientações de PGs, da Igreja Presbiteriana do Barreto.).

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

ESTADO E POLÍTICA nas Institutas de J. Calvino. Outubro de 2020.

Citações iniciais: (1) “As autoridades são servos de Deus, para o seu bem. Mas, se você estiver fazendo algo errado, é evidente que deve temer, pois elas têm o poder de puni-lo, pois estão a serviço de Deus para castigar os que praticam o mal.” (Carta aos Romanos, 13.4). (2) “Calvino foi um patrono dos direitos humanos; lutou contra os abusos do poder em seu tempo e chegou até mesmo a lidar com o problema político-filosófico da desobediência civil e do direito de revolta. Em seu pensamento ele antecipou os fundamentos da moderna forma de governo republicano, tornou-se um dos pais da democracia moderna, e contribuiu decisivamente para a compreensão cristã do relacionamento entre lei natural e lei positiva.” (R. Q. Gouvêa) (Calvino, p 8, 2001). ESTADO E POLÍTICA, segundo AS INSTITUTAS, de João Calvino. Citação: “Meu objetivo nessa obra é preparar e treinar estudantes de teologia para o estudo da palavra de Deus, para que possam ter um fácil ingresso no estudo dessa palavra e sejam capazes de lhe dar continuidade sem obstáculos.” (João Calvino) (McGrath, p 111, 2005). O maior pensador da Reforma Protestante desenvolveu um valioso tratado religioso ao apresentar os conteúdos do Cristianismo num modelo que valoriza a teologia bíblica, ao mesmo tempo em que comunica de modo sistêmico, coerente e sequencial as doutrinas cristãs. Nas palavras de Alister McGrath, “o único princípio que parece nortear a forma como ele organizou seu sistema teológico é, por um lado, a preocupação de ser fiel às Escrituras e, por outro lado, a obtenção de máxima clareza possível na apresentação dos temas.”(p 103, 2005) Na apresentação da introdução ao livro de J. Calvino, “A verdadeira Vida Cristã”, o teólogo Ricardo G. destaca o seguinte aspecto hermenêutico acerca do reformador: “Calvino foi um exegeta notável, tornando-se o mais importante modelo da aplicação do método histórico-gramatical... Calvino insistia ainda na unidade e harmonia do ensino bíblico, evitando assim o erro tão comum em nossos dias de interpretar um referido texto alienado de seu contexto canônico-teológico.” (p 6, 2001) O interesse constante por resguardar o ensino divino existente em cada um dos versos bíblicos, aliado ao propósito de anunciar tal verdade conforme o contexto geral da revelação das Escrituras, fez com que os comentários e, especialmente, “As Institutas” de Calvino, viessem a se tornar um conteúdo teológico ímpar no Cristianismo, devido à profundidade e alcance de suas formulações. Nessa perspectiva, iremos apresentar nesse tópico a visão reformada de Calvino acerca da Sociedade e Estado, para visualizar seu entendimento sobre a vocação cristã na área da cidadania e política. “É suficiente que saibamos que a vocação de Deus é como um princípio e fundamento baseados no qual podemos e devemos governar bem todas as coisas (...) Além de tudo mais, se não tivermos a nossa vocação como uma regra permanente, não poderá haver clara consonância e correspondência entre as diversas partes de nossa vida.” (João Calvino) (Institutas, p 225, 2006). Segundo o conteúdo das “Institutas”, o entendimento do pensamento de Calvino acerca da responsabilidade do cristão perante a sociedade requer o destaque do modo como o reformador definia a maneira em que a humanidade seria capaz de adquirir algum conhecimento verdadeiro da história. Para Calvino, a sabedoria verdadeira acerca da existência consiste no conhecimento que temos de Deus, e no conhecimento que temos de nós mesmos. Sendo que “conhecer a Deus” significa saber que Ele é nosso Criador, além de ser o sustentador de tudo que há através de sua providência, governando a história com sabedoria, justiça e cuidado amoroso.” (Wiles, p 25, 1994). O primeiro conhecimento bíblico que adquirimos ao olhar para Deus aponta o princípio com que Deus governa a história e a sociedade dos homens, o qual irá indicar aos cristãos o modo em que devem perceber e praticar a sua responsabilidade de mandato social. Para Calvino, ao governar a humanidade através de sua providência, Deus revela sua bondade aos justos e sua severidade aos ímpios, sendo necessário salientar que há crimes que recebem castigos hoje, enquanto outros serão castigados apenas no futuro. (Wiles, p 34-35, 1984). Observe que o conhecimento desse princípio da Providência irá nos ensinar o conteúdo mais amplo acerca do modo como Deus é o Criador do Universo, dando-nos a compreensão da maneira como Ele sustenta, governa e preserva tudo que existe, movendo toda providência segundo o seu poder. Portanto, a filosofia e razão dos homens que define Deus como sendo apenas a causa primária da criação, vai limitar o nosso conhecimento da providência, enquanto também nos fará desprezar a bondade que o Senhor dedica a todas as suas criaturas. (Wiles, p 87-89, 1984). Um segundo aspecto importante de nossa compreensão do tema, é descobrir que no instante em que Deus governa todas as coisas pela sua providência, Ele vai atuar na história através de causas secundárias, como também, sem estas causas e até contrariamente a elas. Ele é o Soberano Senhor! Calvino utiliza o conselho bíblico de Salomão em Provérbios 16.9, para expor o modo como os decretos da governança de Deus sobre a existência não devem nos impedir de assumir uma atitude de “providência pessoal” no dia a dia. Pois foi o próprio Deus que nos deu tanto a responsabilidade de cuidar de nossas vidas, como igualmente nos capacitou com tudo que é necessário para preserva-la, já que nos orienta a prever perigos, agir com precaução e utilizar remédios. Portanto, ao perceber que os seres humanos se tornam uma das “causas secundárias” da providência pelas quais Deus governa a terra, devemos assumir a responsabilidade de zelar por nossas vidas, usando os meios fornecidos pelo Senhor, a fim de não sermos negligentes neste conhecimento. Nesse contexto, assim que o cristão reconhece que tudo está debaixo da ordenação de Deus, também dedica o devido valor e atenção às causas secundárias, sabendo que os meios cotidianos de cuidar de sua segurança foram dados pelo Senhor. A partir disso, irá utilizar os meios divinos como instrumentos da providência do Senhor para cuidar da humanidade, vindo a abraçar e assumir, tanto sua dependência de Deus, como a sua responsabilidade no mandato social cristão diante do mundo. (Wiles, p 95-98, 1984). Estes dois elementos do Governo de Deus sobre a Terra revelam tanto o cuidado do Senhor sobre a história, como a responsabilidade dos cristãos, já que estes recebem de Deus um mandato para atuar na sociedade dos homens. Afinal, o Senhor irá agir no mundo a partir da vida e personalidade de cada fiel, que irão servi-lo como agentes das “causas secundárias” de sua Providência. Um terceiro aspecto da governança bendita de Deus sobre o mundo surge no conhecimento da importância de sua lei moral, como sendo um elemento utilizado para instruir o homem, resguardar a sociedade do mal e propor o conhecimento da necessidade do Evangelho para a salvação de todo aquele que crê! Segundo Calvino, a Bíblia ensina que a lei moral de Deus tem três propósitos na história da humanidade e sociedade dos homens. Em primeiro lugar, o teólogo entende que a lei moral divina serve para anunciar e formalizar a culpa de todo homem diante de Deus, no objetivo de gerar temor nos seres humanos, algo que irá conduzi-los a buscar o conhecimento da misericórdia do Senhor; conforme se anuncia no Evangelho de Jesus Cristo. A lei moral de Deus serve, então, para revelar a justiça de Deus, pois somente esta convence o homem de sua própria injustiça. Sendo que, somente os padrões da moralidade divina são capazes de demonstrar ao homem o seu estado de fraqueza e de condenação; conforme explica o Apóstolo Paulo: “pois eu não teria conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.” E, conforme Agostinho, “a lei serve para convencer o homem da sua fraqueza e a compeli-lo a orar pela graça curadora que há em Cristo.” (Wiles, p 149, 1984). Esse é um aspecto relevante acerca da responsabilidade social do cristão, pois a sociedade dos homens somente terá conhecimento da justiça do caráter de Deus, caso os cristãos venham anunciar tal verdade moral, mediante toda cultura e política, artes e educação que tiverem sob sua responsabilidade para praticar e desenvolver socialmente. O segundo elemento de importância da Lei moral divina orienta que ela serve para Deus governar a história pela sua Providência, no propósito de refrear a maldade dos atos dos homens que não se preocupam com o que é certo e com o que é errado. A lei moral de Deus serve para reprimir os homens através de freios e limites, como uma retidão necessária à toda humanidade, pois se não existisse esta proteção e resguardo da sociedade, o mundo se tornaria um lugar totalmente selvagem. Esse segundo aspecto complementa a responsabilidade social dos cristãos enunciada no primeiro, revelando o modo como leis civis originárias de valores cristãos irão oportunamente refrear a natureza humana na sociedade, segundo os padrões da justiça e moralidade de Deus. Um terceiro aspecto importante do anúncio da lei de Deus é que a sua instrução é útil para ensinar os cristãos qual é a vontade de Deus para eles, como um elemento de apoio na sua jornada existencial. Pois o Espírito de Deus vive hoje em seus corações, a fim de conduzi-los no conhecimento e obediência dos mandamentos do Senhor. (Wiles, p 149, 1984). Um outro elemento surge a partir de um olhar mais amplo acerca da existência, indicando a forma em que a lei moral divina se torna o instrumento utilizado para gerar um bom conhecimento da Pessoa de Deus, à toda humanidade. Pois a lei moral de Deus constrange os homens a adora-lo, enquanto também os conduz à humildade, sobre si mesmos. Calvino esclarece que a própria consciência do ser destaca a maneira em que os princípios morais de Deus foram escritos no interior e coração do homem. No entanto, somente a lei divina irá dar um testemunho claro e seguro acerca do certo e errado para a humanidade, já que a lei interior é insuficiente para fazer isso, em razão de nossa ignorância e vaidade. Nessa situação, os homens poderão admitir que estão longe da vontade de Deus, a cada vez que puderem comparar as suas vidas diante das exigências da lei, algo que também irá conduzi-los a buscar a misericórdia divina como um recanto de segurança. (Wiles, p 151-153, 1984). Após destacar os três aspectos de importância da lei moral bíblica no exercício do governo da Providência sobre a humanidade, e após esclarecer o valor da lei perante a consciência do homem, a fim de também convoca-lo a conhecer a misericórdia de Deus no Evangelho; Calvino apresenta o modo como os 10 Mandamentos são os fundamentos da Lei moral de Deus na história. O reformador entende que os 10 Mandamentos representam uma justiça interior e espiritual, pois seus princípios alcançam os pensamentos do coração do homem. Esse aspecto fundamenta o modo como o Senhor Jesus veio resumir toda a lei em dois atos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mateus 22.37, Lucas 10.27). Nesse contexto, em que os princípios morais dos 10 mandamentos são os fundamentos da Lei do amor de Jesus, Calvino enfatiza a superioridade do padrão moral e relacional da lei de Deus na sociedade, como sendo os mais excelentes valores e princípios que deverão reger e orientar a vida dos homens. Assim, todo conteúdo da justiça de Deus deve ser percebido como um código de boas obras completos, posto que não haveriam quaisquer outros conhecimentos e virtudes capazes de superar aqueles que nos foram descritos por Moisés e Paulo. Entendimento que faz o Apóstolo afirmar que “toda a lei se cumpre em uma só palavra, a saber, “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gálatas 5.14). O conteúdo moral dos mandamentos enfatizado no resumo da lei dada por Jesus, traduz os valores que devem nortear a verdadeira obediência aos mandamentos de Cristo; sendo um conhecimento que deve ser oferecido e vivenciado de maneira ampla perante a humanidade, conforme o ensino da parábola do Bom Samaritano. (Wiles, p 153-164, 1984). Calvino recorda a importância de nos relacionarmos perante a humanidade segundo os padrões morais de Cristo, pois as exortações morais provenientes dos filósofos nos mandam viver a vida conforme é apropriado à natureza humana. Algo impróprio para ser praticado ou defendido pelos cristãos, já que afora o fato de somente as Escrituras ensinarem o exemplo de Jesus aos homens, todos aqueles que seguem o conteúdo dos filósofos não irão carregar ou ensinar nada de Cristo, além do título. Para Calvino, a doutrina dos filósofos orienta a maneira em que o homem será governado pela razão, enquanto que a filosofia cristã afirma que a nossa racionalidade deve estar submetida ao Espírito Santo, no propósito de que possamos viver em Cristo, e não mais, em nós mesmos. (Wiles, p 237-239, 1984). Citação final: “Se houve qualquer movimento religioso, no século 16, que tenha tido uma atitude afirmativa em relação ao mundo, esse foi o Calvinismo.” (Alister McGrath) (p 249, 2005). Considerações Finais. “Por causa do Senhor, submetam-se a todas as autoridades humanas, seja o rei como autoridade máxima, sejam os oficiais nomeados e enviados por ele para castigar os que fazem o mal e honrar os que fazem o bem.” (1 Pedro 3.13-14). As declarações teológicas e ensinos de Calvino apontam o valor dos princípios bíblicos orientadores da cidadania do povo de Deus, que devem ser considerados como sendo a única prática social que os cristãos deveriam reconhecer como verdadeiras para praticar e desenvolver na sociedade dos homens. Algo razoável e coerente, até porque os propósitos dados como princípios para que o Todo Poderoso venha abençoar o mundo dos homens na história, ao utilizar os cristãos na condição de cidadãos responsáveis perante o próximo, foram: anunciar a injustiça dos homens para conduzi-los a buscar a misericórdia de Deus existente no Evangelho de Cristo, e ainda, preservar e proteger, manter e fazer progredir a existência humana na presente época, até a volta de Jesus. E nesta análise, percebemos a importância da lei moral de Deus no mandato social dos cristãos. Pois, toda vez que um cristão for atuar socialmente, seja como pai/mãe e cidadão, professor e autoridade, legislador e governante, profissional e funcionário público, ele deverá fazê-lo tendo em vista a sua responsabilidade de ajuntar com Deus, nos atos constantes da Providência bendita com que o Senhor preserva o mundo dos homens, além de estar atento para anunciar as verdades daquela justiça eterna, que se encontra somente no Evangelho de Cristo. Nesse sentido, o pensamento calvinista entende, que: 1. O Estado é uma instituição criada por Deus em razão do pecado da humanidade. Serve para refrear o mal e livrar a sociedade do caos, e neste propósito e interesse, tem poder de justiça para manter a ordem através das leis civis. E como toda Autoridade de Estado foi instituída por Deus para proteger os que praticam o que é correto na sociedade, e para penalizar os desobedientes, compreendemos que as leis civis não deverão desprezar os valores morais dos mandamentos bíblicos; posto que o certo e o errado que Deus deseja regular na sociedade, deve ser coerente ao seu pensamento sobre o tema. 2. Deus criou as Instituições sociais para orientar a Humanidade através das Autoridades. Todo homem que praticar o bem será protegido e quem fizer o mal será disciplinado; pois a Lei foi dada para ensinar o homem sobre o pecado que arruína a vida hoje, e condena o espírito na eternidade! Não matar e não roubar significa amar o próximo. A supremacia do Estado sobre o espirito do homem e a consciência do ser não deve ser tolerada pelos cristãos, posto que essa instituição pode vir a afrontar as liberdades civis e individuais; enquanto também poderá atuar para limitar as liberdades de expressão e religiosa dos cidadãos, agindo na corrupção do propósito para que foi instituída por Deus. Concluo esse artigo numa breve reflexão voltada à Vocação Cristã Reformada na Sociedade, utilizando alguns princípios bíblicos, conforme foram destacados pela Bíblia de Genebra, na nota teológica supra citada, “Os Cristãos e o Governo Civil.” Observe que quando a Igreja é orientada a não ditar os programas de ação dos governos, isso se refere à separação entre Estado e Igreja, conforme orientada por Jesus e o Apóstolo Paulo; o que ensina a importância do Estado Laico, que requer ocorra uma distinção entre as instituições do estado e da igreja. Os comentários sobre a moralidade de governos como sendo uma responsabilidade das igrejas, conduzem os cristãos à ação política, a fim de que atuem na plenitude de sua capacidade de cidadãos. Que se apresentem como candidatos aos cargos do Legislativo e Executivo, e procurem votar em candidatos que irão representar seus valores e princípios morais, tanto na feitura das leis civis, como na governança do Estado. O cristão que deixa de assumir a cidadania política será alguém irresponsável perante Deus no exercício de sua Vocação, pois irá abandonar a sociedade dos homens ao acaso de outros princípios e valores, que não serão os bíblicos. Tal desobediência irá conduzir a sociedade a um destino cada vez mais selvagem e enganoso, além de atrapalhar a Igreja na missão de evangelizar a Terra através do anúncio das Boas Novas, já que o desconhecimento da Lei na sociedade impede a busca do arrependimento de pecados para a salvação eterna. Nessa perspectiva, a abordagem enunciada pela interpretação da Missão Integral da Igreja dada na Bíblia de Genebra, acerca dos temas essenciais do Estado e Política, demonstra como o pensamento calvinista tem se revelado na história como sendo o conteúdo doutrinário mais profundo e fiel às Escrituras; sendo o pensamento cristão mais abrangente acerca da Soberania de Deus, da Responsabilidade humana e da Vocação social da humanidade, no propósito de que as bênçãos comuns e especiais do Senhor sejam estabelecidas sobre toda terra. (*Esse texto faz parte de um artigo com três tópicos, incluídos o pensamento reformado para o Estado e Sociedade segundo Abraham KUYPER e a análise de Henri STROHL acerca do pensamento protestante de Calvino, conforme publicado integralmente na Revista Teológica Fatesul, o qual pode ser acessado no link a seguir: http://fatesul.com/publicacoes/revista-teologica/). Bibliografia. BÍBLIA, Sagrada, NVT. 1 ed – São Paulo : Mundo Cristão, 2016. _______, de Estudo de Genebra. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 1999. CALVINO, João. As Institutas. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006. _________, A Verdadeira Vida Cristã. Novo Século, São Paulo, 2001. McGRATH, Alister E. Teologia, sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes. – São Paulo: Shedd Publicações, 2005 WILES, J. P. As Institutas da Religião Cristã – um resumo – João Calvino. Tradução do inglês Gordon Chown. Primeira edição em português: 1984. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo – SP. AUTOR: Ivan S Rüppell Jr é Ministro presbiteriano, Mestre em Ciências da Religião e Advogado, atuando na Igreja Presbiteriana Olaria, em Curitiba/PR, e como professor na Fatesul.

domingo, 11 de outubro de 2020

MEDITAÇÃO DOMINICAL. Tudo posso naquele que me fortalece.

TEXTO Bíblico: “Não digo isso por estar necessitado, pois aprendi a ficar satisfeito com o que tenho (...) Posso todas as coisas por meio de Cristo, que me dá forças." (Filipenses 4.11-13). MEDITAÇÃO. Certa vez, num concurso de artes cristãs, o quadro de pintura vencedor teve por tema a segurança e a paz que Deus envia aos homens, nas situações de angústias e dores. A cena apresentava uma gaivota encolhida numa pequena fenda de um grande rochedo. A gaivota guardava seus filhotes com as asas e tinha um semblante de serenidade, enquanto uma tempestade e trovões dominavam o ambiente da região. De modo que a segurança dos filhotes não estava no que acontecia no ambiente, mas devido a presença que os guardava. Essa pintura nos desafia a conhecer a força de Deus para nós, em todas as situações da vida. Sabendo que, para estar seguro e forte na presença de Deus em tempos difíceis, deve-se colocar em prática algumas atividades piedosas da religião cristã, que nos aproximam de Deus. Isso começa quando ouvimos os conselhos de Deus, por exemplo, como aquele que diz que há tempo para tudo debaixo do céu (Eclesiastes 3.1). Aí, descobrimos que haverá tempos de dificuldade e tempos de prosperidade na vida. E não vai dar pra pular os tempos da história da gente. Depois, devemos praticar a dependência espiritual do Espírito Santo, entregando as vontades e sentimentos de nosso coração para Deus. Pois cada tempo tem a sua própria angústia e ansiedade. E para receber a Paz de Deus em todas as horas, é preciso fazer conhecidas d´Ele as nossas lutas, através de muitas e continuadas petições e orações (Filipenses 4.6). Então, após receber o conselho divino de sabedoria na mente e entregar o coração pra Deus nas orações, estaremos vivendo as nossas situações difíceis "em Cristo". Essa experiência junto da presença de Deus irá nos capacitar a superar as dificuldades ao nosso redor, e a entender o que significa o ensino bíblico de que, eu "posso todas as coisas por meio de Cristo, que me dá forças." ORAÇÃO. Santo Deus e Pai Nosso que está nos céus. Santificado seja o teu Nome pela sua bondade e poder. Olha pra mim nestes dias e guarda o meu coração. Volta o teu rosto pra mim e ilumina meus pensamentos. Enquanto nada parece ter sentido ou acontecer, derrama tua paz sobre mim, pra que eu viva cada dia debaixo do teu cuidado e proteção. Amém. Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor de ciências da religião e teologia.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A CRIAÇÃO DA HUMANIDADE! Devocionais nas INSTITUTAS de Calvino, p/ Ivan S. Rüppell Jr

Devocionais nas Institutas de João Calvino, Semana 15, Tópico 15, Out/2020. A obra teológica “Institutas” contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo, na perspectiva reformada protestante. Esse texto apresenta breves devocionais no objetivo de comunicar o pensamento doutrinário das “Institutas”. A CRIAÇÃO DO HOMEM. “Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós... Assim Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1.26-27). “Ao criar o homem e distingui-lo com tão excelente formosura e tantas grandiosas capacidades, Deus exibiu nele a mais ilustre das Suas obras.” (p 77). “Deste conhecimento há dois ramos, o conhecimento do homem conforme originalmente foi criado, e o conhecimento da condição do homem desde a queda de Adão.” (p 80). Primeiro, devemos sempre recordar como o ser humano era em seu estado original, assim que foi criado por Deus, para que a maldade da humanidade não recaia sobre o Autor da criação. Pois desde sempre, o homem procura arranjar desculpas para os seus atos, e mesmo quando trata Deus com reverência, ainda assim, entende que as nossas corrupções tem origem na condição comum dos homens. Portanto, devemos meditar nos motivos que ocasionaram a ruína dos seres humanos, para que sejam anuladas as falsas desculpas dos homens sobre sua condição pecaminosa. Acerca da essência do ser, não há dúvida alguma que “o homem consiste em corpo e alma; e com “alma” quero dizer uma essência imortal, embora seja criada, que é a parte mais nobre dele.” Pois, sabemos que quando a palavra espírito é usada isoladamente, a mesma significa alma, como nos textos em que “Salomão diz que o espírito volta para Deus que o deu”, da mesma forma como Cristo entregou o seu espírito ao Pai e Estevão entregou seu espírito a Cristo, “o que significa que quando a alma é liberta da prisão (o corpo) Deus é seu guardião constante.” (p 81). A questão é que os homens se entregam de tal modo ao materialismo que esquecem que irão viver após a morte, ao mesmo tempo em que, mesmo estando em trevas devido a este entendimento limitado da existência, mantém consigo a percepção da realidade da imortalidade. Afinal, “a consciência, que reage ao julgamento de Deus e assim discerne entre o bem e o mal, é uma indicação segura da imortalidade.” Sendo que o temor da morte e a culpa do juízo não são ideias que surgem do corpo do ser, mas estão presentes na sua alma; “segue-se daí que a alma está dotada de essência ou existência pessoal.” (p 81). Então, a imortalidade da alma é comprovada pelo conhecimento de Deus que ela carrega consigo, de modo que o intelecto humano percebe que há na alma um selo dado por Deus. Observe que “a atividade da mente humana atravessa o céu e a terra, penetra os segredos da natureza, compreende e se lembra do curso das eras e infere coisas futuras baseadas nas coisas passadas, o que prova claramente que alguma coisa distinta do corpo jaz oculta no homem.” Sendo que é através dessa vivência que “sabemos o que é certo, o que é justo, o que é honroso; e a sede de tal entendimento deve ser o espírito.” (p 82). As Escrituras ensinam que a alma tem uma existência própria pois descrevem que “habitamos em casas de barro”, e que deixaremos esse tabernáculo físico na morte, ao nos livrar deste corpo corruptível. Dessa forma, a Palavra de Deus tanto diferencia a alma do corpo, como a percebe “como se fosse a própria pessoa, e assim indicam que é sua parte principal.” (p 82). Paulo exorta para que haja uma purificação tanto do corpo como do espírito, reconhecendo que o pecado corrompe ambos, esclarecendo ainda, a distinção de ambos. “Pedro chama Cristo o Pastor e Bispo das almas, que seria uma declaração absurda se não existissem almas para Cristo cuidar.” (p 82). O próprio Jesus nos falou da alma de Lázaro, que descansava junto de Abraão, enquanto a alma do rico sofria tormentos, sendo que o erro dos saduceus foi exatamente a sua negação da existência de espíritos (Atos 23.8). Dessa forma, a declaração de que os seres humanos foram feitos à imagem de Deus se refere às nossas almas, já que mesmo as marcas externas das virtudes divinas nos homens, tem sempre um caráter espiritual. “As faculdades excelentes que o homem originalmente possuía, e que refletiam a glória de Deus, podem melhor ser conhecidas ao considerarmos a renovação da imagem de Deus no homem por Cristo...”. (p 83). Os aspectos principais desta renovação em Cristo, são: “primeiramente, o conhecimento (Col 3.10), em segundo lugar, a justiça e a verdadeira santidade (Ef 4.24); mediante o que concluímos que, antes da queda, a imagem de Deus consistia na luz que enchia a mente do homem, na retidão do seu coração, e na integridade das suas faculdades todas.” (p 84). Não vamos adquirir um bom conhecimento acerca da alma humana nas ideias dos filósofos, pois exceto Platão, eles são unânimes em limita-la ao mundo terreno, sendo que a alma dos homens tem uma essência imaterial e não física, que anima o corpo humano inteiro para agir, de modo que a alma também governa a vida humana. Sendo que a alma “não somente governa as ações comuns do homem, como também o desperta para adorar a Deus.” (p 84). Observe que a própria vontade e ânimo corrompidos que orientam os homens pecadores a correr em busca da fama e das realizações, origina de um conhecimento e percepção interior de que foram criados para praticar a justiça. Certamente há alguns pensamentos dos filósofos que são interessantes, porém, são sempre acompanhados da ideia de que o homem é capaz de governar completamente a si mesmo: “Não sabiam que a natureza do homem havia-se corrompido pela queda (no pecado) e, portanto, confundem duas coisas que são inteiramente diferentes: o estado do homem conforme foi criado e o estado do homem conforme é depois da queda.” (p 85). Portanto, e “visando nosso presente propósito, basta dizer que a alma humana tem duas partes, o entendimento e a vontade; e que é do âmbito do entendimento discernir entre o bem e o mal, e da vontade fazer sua escolha entre os dois.” Fique atento ao fato de que “na retidão original do homem, a vontade estava livre, e, mediante a liberdade da sua vontade, poderia ter chegado à vida eterna.” Aqui, estou falando da natureza original dos seres humanos, pois Adão era capaz de permanecer junto de Deus, sendo que foi pela sua própria vontade que ele decidiu cair. Adão podia escolher entre o bem e o mal, já que tinha sua mente e vontade perfeitas, e todos os órgãos e membros do seu corpo cumpriam a orientação que ele lhes dava, “até que se arruinou, corrompendo assim todas as suas faculdades.” (p 85). No entanto, os filósofos se mantiveram na escuridão acerca desse conhecimento, pois “apegavam-se ao princípio de que o homem não seria um ser razoável, a não ser que fosse livre para escolher entre o bem e o mal.” (p 85). Eles argumentavam que um homem que não consegue governar sua vida conforme seus princípios, é um ser incapaz de distinguir entre a virtude e o vício; sendo que esse pensamento até seria válido caso a natureza humana não tivesse sido completamente transformada, na queda. Portanto, ao ignorar a queda, o entendimento dos filósofos acerca da humanidade se tornou confusa na sua essência, sendo este o motivo pelo qual os seguidores de Cristo que acreditam no livre arbítrio acabam por dividir a “sua lealdade entre os dogmas dos filósofos e a doutrina do céu” – tornando-se como tolos que não irão prosperar em nenhum dos dois conhecimentos. (p 85). ORAÇÃO: Pai Nosso que estás no céu; Bendito seja o teu Nome por nos criar à sua imagem e semelhança, com a condição de entender e sentir toda a bondade e justiça. Ó Deus, ilumina os nossos corações com humildade e temor diante da tua Palavra, para que saibamos que toda a grandeza da nossa criação se tornou impossível após a separação do Senhor. Quê venha o seu Reino e seja feita a sua Vontade em nossas vidas, a começar pela nossa alma, para que possamos receber do teu Espírito Santo a renovação das virtudes da vida verdadeira. Amém! Ivan Santos Rüppell Jr. Teólogo, Cientista da religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. REFERÊNCIAS: CALVINO, João. AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Editora Cultura Cristã, SP, 2006. WILES, J. P. Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP. (pgs 72 a 85 do Resumo das Institutas de J P Wiles).

domingo, 4 de outubro de 2020

DE DEUS NÃO SE ZOMBA! Estudo de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria. 5 a 9 de Outubro.

“Portanto, não nos cansemos de fazer o bem. No momento certo, teremos uma colheita de bênçãos, se não desistirmos”; pois, não se enganem, ninguém pode zombar de Deus. (Gálatas 6.9). Dinâmica das reuniões de Pequenos Grupos: QUEBRA-GELO: (10 min). O quebra-gelo é utilizado para aquecer os participantes, de uma forma descontraída e perguntas simples, é uma oportunidade de interação e conhecimento mútuos. ORAÇÃO INICIAL: Neste momento nos colocamos na presença do nosso Deus e Pai e pedimos auxílio para nos orientar e instruir em Sua Palavra. COMPARTILHAR A PALAVRA: (10 min). O líder do PG se torna o FACILITADOR desse momento expondo o texto através da leitura bíblica e na sequência inicia as perguntas para todos os participantes. PERGUNTAS: As perguntas realizadas pelo FACILITADOR auxiliam a compreensão e aplicação do texto bíblico na vida diária. ORANDO POR NOSSOS AMIGOS E FAMILIARES: Neste momento apresentamos os nomes de pessoas que gostaríamos que participassem dos PGs, pedindo a Deus que toque os corações e que possamos ser usados por Deus para convida-los, além de intercedermos por pedidos diversos. MEDITAÇÃO. Leitura Bíblica: Gálatas 6. 7-10. O salmo 131 inicia com uma oração invocando a graça de Deus para que o nosso orgulho e vaidade não transformem a nossa vida em uma correria sem sentido e sem boas obras, já que sempre iremos correr atrás de coisas grandiosas demais para a nossa realidade. “Senhor, meu coração não é orgulhoso... Não me envolvo com questões maravilhosas demais para minha compreensão.” A vontade de fazer grandes coisas para ajudar os outros, também pode nos impedir de realizar o que podemos praticar de bom no dia a dia. As muitas informações das redes sociais podem se tornar preocupações irreais e distantes da nossa vida, que apenas irão manter nossa mente e coração afastados do que ocorre diante de nossos olhos. Então, será que este estilo de vida virtual e vaidoso, com tantas informações e preocupações distantes, e com tantos desejos e vontades grandiosos demais para nós, não está desenvolvendo mais o nosso orgulho do que o conhecimento da Pessoa de Jesus e da vontade de Deus para nós, no dia a dia? Compartilhar. Pergunta 1. Comentário: Um dos pensadores cristãos mais importantes do século 20 disse que “é impossível amar a humanidade, mas que é perfeitamente possível amar as pessoas, os indivíduos.” (G. K. Chesterton). Nesse sentido, a frase, “ame a humanidade e você acabará não amando nada”, explica um pouco acerca dos desejos orgulhosos do homem. Você entende ou percebe que toda vez que desejamos fazer obras grandes demais, também acabamos deixando de fazer as boas obras que estão diante de nós, e que precisamos fazer? Pergunta 2. Comentário: “Amar a humanidade é uma desculpa para não amar ninguém. Cristo não nos ensinou a amar uma massa de pessoas, mas, ao contrário, a amar o nosso próximo como a nós mesmos. Ame uma pessoa de cada vez e você acabará amando como Cristo amou. Ele amou o mundo de tal maneira, que amou cada indivíduo em particular.” (*) Quais as pessoas e situações de sua vida que estão aguardando pra receber o seu amor e sua atenção? Pergunta 3. Como você entende e o que fala a seu coração, o texto bíblico base de nosso estudo, Gálatas 6.9-10? Boa Semana! (formato baseado em orientações de PGs, da Igreja Presbiteriana do Barreto.). (*Maurício Avoletta Jr, Revista Ultimato; Quem salva uma vida salva o mundo inteiro)

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O DEUS TODO PODEROSO É O CRIADOR DO UNIVERSO! Devocionais nas INSTITUTAS de Calvino, p/ Ivan S. Rüppell Jr

Devocionais nas Institutas de João Calvino, Semana 14, Tópico 14, parte 3, Outubro/2020. A obra teológica “Institutas” do reformador protestante, contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo. Esse texto apresenta breves devocionais no objetivo de comunicar o pensamento doutrinário das “Institutas”. 14: AS ESCRITURAS, NO SEU REGISTRO DA CRIAÇÃO, DISTINGUEM O DEUS VERDADEIRO DE TODOS OS DEUSES FALSOS. Texto Bíblico: “Os céus proclamam a glória de Deus; o firmamento demonstra a habilidade de suas mãos. Dia após dia, eles continuam a falar; noite após noite, eles o tornam conhecido. Não há som nem palavras; nunca se ouve o que eles dizem. Sua mensagem, porém, chegou a toda a terra, e suas palavras, aos confins do mundo.” (Salmo 19. 1-4). Quando entendemos que Deus é o Criador de tudo que existe no Universo, ficamos maravilhados e nos tornamos reverentes diante d´Ele. “Por meio deste registro aprendemos que Deus, pelo poder da Sua palavra e do Seu Espírito criou do nada o céu e a terra; que fez trazer à existência todas as criaturas animadas e inanimadas; que distinguiu umas das outras... deu a cada coisa sua própria natureza peculiar, atribuiu-lhes suas várias funções e colocou-as nas suas várias posições... algumas espécies Ele conserva de modo misterioso... a outra dá o poder de procriação... Desta maneira, adornou o céu e a terra com todas as coisas em maravilhosa abundância...”. (p 77). Não há palavras capazes de expressar as obras de Deus com a dignidade merecida, a fim de que consigamos “demonstrar quão inestimável sabedoria, poder, justiça e bondade brilham no sistema do universo...”. (p 78). A criação é como um espelho das infinitas riquezas da sabedoria e virtudes do Senhor, e por isso é da vontade de Deus que todos possamos contemplar as suas obras com a devida atenção. Pois jamais iremos honrar a Deus como o Senhor Criador de toda terra, se continuarmos ignorando os Seus atributos visíveis na criação, pois essa realidade precisa chegar ao nosso coração a fim de que estimule o nosso conhecimento sobre o Senhor. Vamos prestar atenção na magnitude da grandeza do Criador a partir do fato de que Ele colocou nos céus as estrelas, definiu as suas posições e o seu curso, e governa seus movimentos de maneira a medir dias e semanas, meses e anos. Observe e contemple a grandeza do poder d´Aquele que sustenta toda a estrutura da natureza e controla a evolução dos astros nos céus, pois estes são alguns exemplos dos milagres da majestade de Deus que se encontram em todas as obras da criação. “Pela fé percebemos que Deus designou todas as coisas para nosso proveito e bem-estar, e assim aprendemos a erguer nosso coração a Ele em confiança, oração, louvor e amor.” (p 78). Devemos perceber o modo como Deus criou o mundo cuidadosamente, para nos oferecer uma existência bendita na terra, sendo essa uma boa razão para jamais duvidarmos de Sua Paternidade amorosa para conosco. Ele nos abençoou grandemente ao criar tudo de que necessitamos antes de nascermos, sujeitando toda a criação ao nosso proveito e deleite. “Portanto, sempre que falamos de Deus como o Criador do céu e da terra, lembremo-nos que Ele retém o domínio de todas as obras das Suas mãos, e que nós somos Seus filhos, aos quais Ele se empenhou em nutrir, sustentar e proteger.” (p 79). Amparados nesse conhecimento, devemos fortalecer a confiança em Deus acerca da nossa existência e necessidades, esperando unicamente n´Ele e pedindo-Lhe tudo de que precisamos, já agradecidos pelo que temos recebido desde sempre. E constrangidos pela grandeza do amor e cuidado do Senhor para conosco nas obras da criação, “esforcemo-nos a amar e adorá-Lo de todo o nosso coração.” (p 79). Oração: Pai Nosso que estás no céu; Santificado seja o seu nome em todo Universo! Louvado seja o Senhor! De todo o meu coração darei graças ao Senhor quando me reunir com os justos. Como são grandiosas as obras do Senhor! Todos que tem prazer nele devem nelas meditar. Tudo que ele faz revela sua glória e majestade; sua justiça permanece para sempre. O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; todos que obedecem a seus mandamentos mostram bom senso. Louvem-no para sempre! Ivan Santos Rüppell Jr. Teólogo, Cientista da religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. REFERÊNCIAS: CALVINO, João. AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Editora Cultura Cristã, SP, 2006. WILES, J. P. Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP. (pgs 72 a 85 do Resumo das Institutas de J P Wiles).