segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Em 2019 eu quero PAZ !

A angústia que é uma preocupação exagerada e constante com a próxima situação da vida da gente, já se tornou o "mal do século" 21, sendo que o Brasil tem o maior número de doentes do mundo, com mais de 18 milhões de ansiosos. E o tempo cada vez maior que a gente "vive" nas redes sociais só aumenta a inquietação - pois as opiniões e "conquistas" dos outros me desafiam constantemente a "ser" sempre melhor do que sou, dentro de uma realidade que, na verdade, nem existe. Ou seja, vai ser impossível ganhar uma competição em busca de viver melhor, que sequer está acontecendo... Mas os bons remédios e as interessantes filosofias terapêuticas de controle da ansiedade estão por aí pra ajudar todos os ansiosos, sim. E a Espiritualidade de quase todo mundo também quer participar da solução, por que não? Foi o Apóstolo São Paulo que meditou sobre o assunto da forma mais objetiva que se sabe - escrevendo de maneira tão cristalina, que em poucas palavras já resumiu os objetivos e a razão de ser, da própria religião dos homens. "Não se aflijam nem se preocupem. Em vez de se preocupar, orem. Permitam que as súplicas e os louvores transformem seus receios em orações, permitindo que Deus os conheça. Antes que vocês percebam... a compreensão da integridade de Deus... virá e os acalmará." (Filipenses 4. 6,7). Feliz Ano Novo!

domingo, 30 de dezembro de 2018

MENSAGEM para um NOVO ANO: Diálogos com Jesus no Evangelho de João

HISTÓRIA: Jesus e Nicodemos. INÍCIO DO DIÁLOGO: HAVIA UM FARISEU CHAMADO Nicodemos, líder religioso... Certa noite veio falar com Jesus e disse: "Rabi, todos nós sabemos que Deus enviou o senhor para nos ensinar. Seus sinais são prova de que Deus está com o Senhor". JESUS respondeu: "Eu lhe digo a verdade: quem não nascer de novo, não verá o reino de Deus". "COMO PODE um homem velho nascer de novo?", perguntou Nicodemos. JESUS respondeu: "Eu lhe digo a verdade: ninguém pode entrar no reino de Deus sem nascer da água e do Espírito. Os seres humanos podem gerar apenas vida humana, mas o Espírito dá à luz vida espiritual." "COMO PODE ser isso?", perguntou Nicodemos. JESUS respondeu; "Você é um mestre respeitado em Israel e não entende essas coisas? Eu lhe digo a verdade: falamos daquilo que sabemos e vimos e, no entanto, vocês não creem em nosso testemunho... Ninguém jamais subiu ao céu, exceto aquele que de lá desceu, o Filho do Homem... JESUS RESPONDEU... Pois Deus enviou seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para salva-lo por meio dele. Não há condenação alguma para quem crê nele. Mas quem não crê nele já está condenado por não crer no Filho único de Deus. E a condenação se baseia nisto: a luz de Deus veio ao mundo, mas as pessoas amaram mais a escuridão que a luz, porque seus atos eram maus. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima dela, pois teme que seus pecados sejam expostos. Mas quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que outros vejam que ele faz a vontade de Deus... (Joao capítulo 3). FIM DO DIÁLOGO. FIM DA HISTÓRIA. MENSAGEM para um NOVO ANO: Eu gosto muito da frase que diz que o alvo e objetivo do Cristianismo é conhecer uma "Pessoa", ao invés de saber uma doutrina ou entender uma verdade. Porque tanto aqueles que se encontraram com Jesus visivelmente há 2 mil anos, como aqueles que se encontram com ele em forma invisível nos dias de hoje, precisam tratar "pessoalmente" com Jesus. E o nosso projeto para 2019 com esta mensagem é este: Jesus precisa ser o Senhor e Salvador da gente, se não... A história de Nicodemos é a história de todos nós que já sabemos sobre Deus, e por isso mesmo, nos achegamos "perto" de algo ou alguém relacionado a Deus pra tomar um café, como velhos conhecidos que somos. Mas Jesus sempre faz barba, bigode e cabelo - sempre trata dos instintos do corpo, da mente e do coração, e do espírito do cidadão. Por isso mesmo, Jesus fala rápido conosco da forma devida quando queremos andar junto d´Ele como se fossemos iguais - pois não somos! É preciso nascer de novo pra começar a enxergar o reino de Deus, diz Jesus pra Nicodemos e para todos nós. E Jesus logo esclarece: vai ter que nascer da água - sendo humilde pra confessar pecados, e vai ter que nascer do Espírito - sendo humilde pra entregar o coração para Deus a fim de que Ele consiga escrever novas virtudes e bons sentimentos na gente. Pois é assim que Jesus aparece na nossa vida como Senhor e Salvador, que é o único jeito d´Ele aparecer - pois Ele não pode negar a si mesmo, deixando de ser quem é, só porque a gente quer. Daí a questão: em 2019 nós iremos chegar perto de Jesus confessando pecados e pedindo virtudes, ou iremos chegar de igual pra igual, como se já fossemos semelhantes a Deus no dia a dia? Se escolhermos esta segunda opção, nada vai dar certo. Pois seremos como aquele que pratica o mal e odeia a luz e não se aproxima dela, pois teme que seus pecados sejam expostos. Sim, isso mesmo! Como a relação com Jesus é essencialmente pessoal, sem humildade pra tratar dos "nossos" pecados junto do Salvador, iremos somente "rodear" a pessoa de Deus. Nossa maior preocupação será a de esconder os pecados. E, por isso mesmo - jamais iremos nos encontrar com Ele, de verdade. Feliz Ano Novo!

sábado, 22 de dezembro de 2018

Uma MENSAGEM de NATAL!

"Então todos verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória." (Evangelho de São Marcos, 13. 26). A expressão "Filho do Homem" é usada mais de 70 vezes no Novo Testamento pra falar da Personalidade existencial de Jesus de Nazaré. Trata-se de um título que está relacionado à palavra Messias (no hebraico) e Cristo (no grego), que significam "aquele que foi enviado por Deus." O próprio Jesus preferia este termo mais do que qualquer outro para expor e explicar a sua missão junto da humanidade. Veja que no texto bíblico acima, Jesus fala de uma época em que a história do mundo irá passar pela maior transformação de todos os tempos. Pois a volta de Jesus ao nosso planeta será o início de uma nova era em todas as dimensões do nosso mundo, e também, nas dimensões espirituais que existem no universo. Ao falar de sua segunda vinda ao mundo, Jesus usa a expressão "vindo nas nuvens", algo que na Bíblia simboliza uma visitação da Presença de Deus sobre a terra dos homens. Observe que as visitas de Deus até então eram localizadas e regionais, pois aconteciam principalmente na região do Oriente Médio, sendo que essa visita futura de Jesus será universal e vista por todas as pessoas da terra. Um outro aspecto interessante é que as visitas de Deus no planeta ocorriam de forma um pouco "oculta", pois Deus aparecia através de elementos da natureza, entre as nuvens ou brilhando numa sarça ardente no deserto. Ou ainda, os homens que enxergavam Deus viam um "Anjo" do Senhor, sem nome e sem títulos. No entanto, a futura visitação de Jesus irá ocorrer assim que todos enxergarem o Filho do Homem vindo nas nuvens, sendo que este termo significa "alguém com a aparência de um ser humano". Portanto, essa segunda visita de Jesus ao nosso mundo será uma aparição de Deus em forma humana, de novo. Mas, ainda tem mais, pois essa profecia citada por Jesus e anotada por Marcos, é uma visão do profeta Daniel, que está no capítulo 7 de seu livro. O profeta afirma que Jesus virá com grande poder e glória no fim dos (nossos) tempos. Eis aí um contraste com a primeira visita de Jesus ao mundo (o Natal), pois neste, Jesus veio humilde e depois teve uma vida marcada por perseguição e sofrimento. Algo que irá acontecer de forma diferente na segunda vinda d´Ele, tá entendendo? Pois acerca da segunda vinda, o Profeta Daniel esclarece que Jesus será exaltado, já que irá receber do "Ancião de Dias" (Deus Pai), o domínio sobre toda a terra e céus. Trata-se de uma visão e tanto acerca de como o governo Soberano de Deus ocorre na história. Pois a visão de Daniel revelava o mistério de que haveriam cinco reinos vindo sobre o mundo, e alguns séculos depois descobrimos quais eram eles: os Impérios da Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. Sendo que o quinto Império seria o governo do "Filho do Homem", assim que Jesus nascesse na terra como o Messias - nosso Natal! Eis uma das razões pelas quais Jesus dizia que seu reino já estava "no meio de nós", assim que Ele visitava as aldeias da Palestina pra anunciar o perdão e a bondade de Deus aos homens frágeis e imperfeitos, pecadores e maus. Então, fique atento, pois o Reino de Deus começou há 2000 anos atrás, logo que as pessoas ouviram a voz de Jesus e acreditaram n`Ele. E desde o ano 33 da história até os dias de hoje, o reino do Messias continua surgindo na vida das pessoas quando elas acreditam em Jesus e invocam a presença de Deus através da oração do Pai Nosso. Quê é a maneira pela qual todos nós podemos conhecer Deus hoje mesmo, de forma que estaremos com o Deus Pai, Filho e Espírito Santo na segunda vinda de Jesus, pra existir na presença da Trindade eternamente. É isso. Feliz Natal!

sábado, 24 de novembro de 2018

A Espiritualidade da Religiosidade segundo as Ciências da Religião

PALESTRA UNINTER. Simpósio de Psicologia e Ciências da Religião, 24 e 25 de novembro de 2018. A ESPIRITUALIDADE da RELIGIOSIDADE segundo as CIÊNCIAS da RELIGIÃO. Introdução. As Ciências da religião estudam os fenômenos religiosos (textos e celebrações, hábitos e costumes, história e doutrina, experiências individuais e comunitárias) dos seres humanos, no objetivo de fazer um amplo inventário a fim de tanto identificar semelhanças e diferenças entre as religiões, quanto para compreender as relações desses fatos religiosos com a existência humana. Pois é a compreensão do universo cultural religioso que vai esclarecer a maneira pela qual o ser humano está nele inserido. Veja que a religião é a própria crença e o conceito doutrinário essencial da fé, enquanto que a religiosidade trata da disposição da pessoa para as práticas religiosas, sendo reconhecida exatamente nas atividades de piedade e devoção, o que acaba revelando o real sentido dado pelo indivíduo à sua fé. A religiosidade também observa as práticas espirituais de contato místico que movimentam o psicológico do ser. Enfim, a religiosidade de uma pessoa é que acaba definindo a maneira pela qual ela crê existencialmente, ao invés de só intelectual ou racionalmente. Observe que enquanto o cientista da religião observa esses fenômenos que surgem a partir da vivência religiosa da crença e fé, é preciso estar atento ao terceiro aspecto envolvido nesta relação, que é o da espiritualidade do homem – o que não significa afirmar ou concordar que ele é um ser com espírito ou alma. Mas sim, que a Espiritualidade é um elemento que compõe igualmente a personalidade da espécie humana, algo anterior à religião ou a religiosidade enquanto fenômeno a ser percebido. Portanto, entende-se que a espiritualidade é um aspecto da personalidade humana que existe antes da religiosidade; essa mesma religiosidade que visualizamos na devoção e nas atividades religiosas iniciais que o homem pratica, as quais irão gerar uma cultura religiosa ou elementos religiosos adentro da cultura dos homens. Então, serão estes últimos os elementos sagrados observáveis tanto na religiosidade quanto na cultura – os fenômenos religiosos em si, que se tornarão o objeto de análise e pesquisa do cientista da religião. Nesta perspectiva, as ciências da religião se interessam pelo ser, pois a origem da vivência religiosa da humanidade ocorre a partir do elemento da espiritualidade que se situa exatamente na personalidade dos seres humanos. Daí o nosso título: a Espiritualidade da religiosidade segundo as Ciências da religião. A Espiritualidade segundo a Filosofia. No início de 2018 o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé publicou o livro: Espiritualidade para Corajosos – a busca de sentido no mundo de hoje: “A vida não tem sentido evidente, portanto é necessário dar um sentido a ela, como disse o escritor francês Albert Camus.”, esclarece Pondé. (1, p 11) O filósofo afirma que estava encantado com a possibilidade de ter esperança a partir de uma busca de sentido segundo as perspectivas da espiritualidade. (2, p 11). Uma reflexão, aliás, que todos podemos fazer, pensando se não foi exatamente este o motivo que nos levou ao interesse pelo estudo das religiões e das pessoas, em um certo momento da vida, não é mesmo? O processo desenvolvido pelo filósofo “é uma peregrinação às formas mais comuns de espiritualidade, na medida em que ele não se atém aos limites de uma espiritualidade religiosa clássica.” “Essa terra estrangeira está diretamente ligada à ideia de que a coragem e a esperança são as virtudes capitais na espiritualidade.” (3, p 12). O escritor observa que “espiritualidade” é aquela palavra pela qual as pessoas indicam no seu dia a dia, algo como que uma vida para além da vida meramente material. E aqui o que lhe interessa são os elementos e aspectos relacionados aos conhecimentos práticos da espiritualidade, referindo-se aos aspectos da vida humana que são como que “regados” em experiências místicas – experiências de contato com o divino ou com o sagrado, através de missas e orações, meditações e magistérios, e trabalhos físicos. (4, p 20). Uma perspectiva conceitual do entendimento da palavra “espiritualidade” que foi construída a partir do século 17, numa busca que procura entender a dimensão humana da realidade da espiritualidade, percorrendo um caminho na direção do que pode ser compreendido como aquilo que transcende o mundo propriamente humano. (5, p 19). Segundo a filosofia grega o “espírito” é compreendido a partir de seu sentido intelectual como sendo o “nous”, ou a parte mais alta da alma em Aristóteles, que é o que nos dá uma condição de vida autônoma e racional. O espírito humano aqui é aquele que conhece, reconhece e reproduz a estrutura cósmica imanente que dá ordem e harmonia pra existência. (6, p 44). Já no mundo bíblico de Israel e que irá se desenvolver nas três religiões monoteístas do judaísmo, cristianismo e islamismo, o “espírito” é o próprio coração do ser humano, centro de sua vida consciente, moral e sensível. Daí a busca de uma certa relação mais “pessoal” na vivência do aspecto da espiritualidade nestas religiões. (7, p 45). Enfim, seja numa tradição mais especulativa e filosófica de reencontro junto da harmonia cósmica do sagrado, ou ainda, na busca de um vínculo mais pessoal diante do divino; a questão segundo Pondé, é que a espiritualidade se move ao desenvolver esse “vínculo” integrativo entre o material e o imaterial no próprio ser do homem. Entre sua alma e seu corpo, seu intelecto e coração, entre a eternidade e o presente. Para Pondé, “o cotidiano da vida do espírito é um cotidiano que se realiza nesse vínculo.” (8, p 48). Pois, para o filósofo, a espiritualidade do ser humano é um aspecto da sua personalidade que o orienta a buscar uma resposta para trazer ordem às coisas da sua existência. Assim que ele encontra essa ordem organizada ou orientada (numa religião ou filosofia de vida), é a própria espiritualidade da sua personalidade que irá transparecer gravemente na maneira pela qual ele irá vivenciar sua história a partir desse momento. Observe que esta perspectiva da espiritualidade a partir da filosofia indica o ser humano e sua personalidade como a origem e a base das vivências e manifestações do sagrado e da religião em nosso mundo e cultura. Importa, agora, buscar a partir das ciências da religião possíveis dados verificáveis que propiciem o esclarecimento de tais proposições que visualizam a espiritualidade como um elemento da personalidade. As Ciências da Religião. É uma disciplina que estuda os fatos da religião e da vivência religiosa dos homens – seus textos de doutrina e a história, suas práticas piedosas e devocionais, além dos hábitos e costumes sociais relacionados ao sagrado, além de observar sentimentos e sensações, e as compreensões e perspectivas com as quais o homem enxerga sua vida a partir de algum princípio ou realidade religiosa. Trata-se de um estudo que ocorre a partir do próprio ser humano, enquanto visualizamos sua personalidade e hábitos relacionados à religião. O campo do estudo das religiões se organizou na história perto de 150 anos atrás, na década de 1870, com uma crescente consciência corporativa de autores se articulando a favor da disciplina, a partir de encontros na Suíça, Holanda, França e Bélgica, e a partir do início do século 20, na Inglaterra e Alemanha, e posteriormente, na Itália. (9, p 19 Compêndio da Ciência da Religião). Max Muller declarou em 1882: “O estudante da história das Ciências naturais nem sente raiva com o alquimista nem briga com o astrólogo: ele simplesmente quer entender como eles enxergam as coisas.” 10, (p 20) C P Tiele defendia em 1897 que “o estudo das religiões assegurou um lugar permanente entre as diferentes ciências humanas.” (11, p 19) Edward Caird afirmou em 1899 que as ciências modernas devem tanto estudar os fatos, quanto realizar interpretações conceituais dos mesmos. (12, p 20) Para que isso ocorra a contento, é preciso vistoriar os fatos semelhantes e distintos das religiões, e realizar uma sistematização de tais dados; deve-se descobrir princípios de conexão entre as religiões e seus peculiares elementos; e jamais julgar a qualidade dos fenômenos investigados. James Houghton Woods disse em 1906 que o cientista religioso “deve assumir o ponto de vista de um observador.” (13, p 20) As Ciências clássicas que comumente realizam este estudo são a História, Sociologia, Antropologia e Psicologia, investigando os fatos e vivências da religião. É necessário, ainda, se debruçar sobre a etnicidade, gênero, mito, pós-modernismo e o colonialismo; e estar atento aos aspectos de uma análise que será feita a partir de desafios hermenêuticos, epistemológicos, metodológicos e éticos – todos vinculados ao conceito do sagrado. O objetivo final é desenvolver o estudo das tradições religiosas e seus textos. (14, p 27) (Compêndio de Ciência da Religião, Organizadores: João Décio Passos e Frank Osarski, Paulinas e Paulus, 2013, SP). A Sociologia da Religião estuda tanto a cultura quanto seu agente essencial, o ser humano. Observe que se a religião de uma pessoa esclarece qual é a sua crença conceitual, serão a sua religiosidade e devoção que irão gerar as atitudes e experiências que darão vida a essas ideias no mundo dos homens – e quando isso ocorre, surge a cultura. Pois cultura é tudo aquilo que o homem realiza a partir dos elementos da natureza física e biológica, humana e do cosmos. Remexer a terra e ali colocar sementes dá início ao processo da agricultura. Movimentar nosso coração e mente interiores, e enxergar o cotidiano da vida na perspectiva do sagrado, dá início ao processo de criação de uma cultura religiosa junto da humanidade. Portanto, será importante perceber que a religiosidade do homem em ação no dia a dia e que as atitudes e atividades que este homem organiza a partir de um viés religioso são, igualmente, cultura. Assim como a arte e o lazer, o trabalho e estudo, a política e o comércio. Quanto mais demorarmos para reconhecer que a religiosidade é uma cultura em processo a partir do momento em que o ser humano vivencia ideias e valores a partir de sua personalidade – assim como faz quando realiza qualquer ação e partilha qualquer experiência neste mundo; maior dificuldade teremos de tratar da religião como um componente natural da humanidade, a partir do qual será possível desenvolve-la socialmente de maneira civilizada e edificadora de uma cidadania que traga boa convivência para todos, ao invés de discórdia. Sabe-se que a cultura abarca toda a vivência adquirida pelo convívio social do homem, o que inclui todo o conhecimento e a arte, as crenças e a moral, os costumes e hábitos recebidos. Como, igualmente, entende-se que a cultura é uma experiência contínua de transformação daquilo que o homem recebe do meio em que vive, pois enquanto ele vivencia sua existência na sociedade, ele também desenvolve a cultura. Pois a cultura é transformada constantemente logo que é influenciada por novas concepções inerentes ao desenvolvimento da personalidade. As Ciências da Religião e a Cultura. Os primeiros dados e indícios de uma cultura religiosa da humanidade surgiram perto de 50 mil anos atrás, a partir da análise de um conjunto de manifestações que transcendiam as necessidades imediatas da sobrevivência. Isso porque não existe uma definição simples de religião que consiga expressar todas as suas dimensões. No entanto, é possível reconhecer que uma religião, ou uma religiosidade organizada enquanto cultura, abrange elementos espirituais, pessoais e sociais, sendo um fenômeno que aparece em todas as culturas humanas, desde a pré-história até a atualidade, conforme atestam pinturas em cavernas, costumes funerários e certos objetivos espirituais. Entender a natureza do meio em que se vivia e buscar alguma forma de controle e interação desse ambiente era o objetivo essencial destas vivências religiosas até aproximados 5 mil anos atrás. (15, p 12, O Livro das Religiões). Logo que as sociedades se tornaram mais complexas, os sistemas religiosos acompanharam esse movimento de forma ampla, a fim de atender às necessidades existenciais mais abrangentes destes povos. As religiões ofereciam modelos para que os homens pudessem organizar sua vida – através de ritos e crenças, tornando-se, ainda, um elemento essencial pelo qual o homem poderia compreender seu papel no mundo. (16, p 12). Portanto, a religião não deve ser reconhecida como um artefato social, mas sim, como um elemento fundamental da humanidade, capaz de representar e expressar de forma profunda a nossa existência. Pois a religião atua tanto na perspectiva da experiência pessoal da consciência do ser, como no entendimento da razão e do sentido da vida, se relacionando tanto com o pessoal quanto com o social de todos nós. (17, p 12). Eis o motivo pelo qual as ciências da religião devem observar tanto os elementos externos da vivência religiosa, como as rezas e peregrinações, vestimentas e celebrações; junto de seus objetos físicos, que são os artefatos e relíquias, locais de culto e regiões consideradas sagradas. E, ainda, deve-se notar os elementos subjetivos da religião, que são os aspectos místicos e emocionais pelos quais o homem religioso se sensibiliza enquanto busca alcançar seus anseios pessoais, como a iluminação e a paz interior. Na busca do entendimento de como se organiza uma cultura religiosa, ou da maneira pela qual a cultura humana geral é influenciada pela perspectiva do sagrado, deve-se reconhecer os princípios que norteiam a religião enquanto um sistema de organização e orientação da existência humana. Inicialmente as religiões explicavam e estabeleciam a origem e o sentido da vida a partir dos mitos, narrativas mágicas e misteriosas com personagens heroicos e sobrenaturais; sendo que num segundo momento, as filosofias grega e chinesa buscaram conceitos mais racionais, razoáveis e factuais, a fim de oferecer respostas e projeções para a existência do homem. (18, p 13). Foi então que surgiram os textos sagrados, oferecendo narrativas e relatos destas observações míticas ou filosóficas, gerando uma doutrina com princípios gerais e mandamentos específicos, o que vai definir uma ética pessoal e social ao homem religioso – os sentimentos e atitudes pelos quais ele deve viver: eis, portanto, a maneira pela qual cultura religiosa toma forma em nosso mundo, a qual será investigada e reconhecida, finalmente, pelos pesquisadores da religião. Pois a busca e verificação desses dados razoáveis adentro da vivência humana é o próprio objeto das Ciências da Religião. As Ciências da Religião observam a Cultura a partir do Ser. O Sociólogo americano Jeffrey Alexander argumenta que a cultura – as ideias e as crenças de um grupo que são produzidos coletivamente – é fundamental para o entendimento da vida humana. Pois somente através da vivência e criação da cultura é que os seres humanos conseguem se afastar de um estado primordial para refletir e atuar sobre o mundo ao seu redor. (19, p 207, O Livro da Sociologia). Para ele, “a falha de Bourdieu... é que ele não reconhece... que a cultura tem certa autonomia em relação à estrutura social.” (20, p 209). Pois ainda que os teóricos clássicos da sociologia reconheçam a importância da cultura na existência humana, nem sempre observam a ideia de que a cultura é essencial para entender por que as pessoas pensam e agem da forma como o fazem. K Marx era reducionista porque defendia que a cultura era determinada pela organização social da sociedade, a qual era definida pela economia. Max Weber era racional em suas concepções, vindo a diminuir o papel das emoções e dos valores na reação dos indivíduos junto dos relacionamentos da vida. Alexander utiliza as ideias de Durkheim que propunha um entendimento da religião a partir de uma separação do que era sagrado (ritos e crenças) diante do profano (a vida cotidiana). (21, p 207). Ao perceber a cultura a partir da visão do sagrado como um elemento distinto e também constitutivo da sociedade, Alexander reconhece a cultura como uma estrutura autônoma, mas igualmente dependente da sociedade, a qual tanto capacita para se transformar, como limita para se manter, a partir de aspectos tanto racionais como irracionais que são a base de seu desenvolvimento e materialização. “Sua sociologia cultural foca o entendimento de como os indivíduos e os grupos se envolvem na criação de sentido ao fazer uso da produção coletiva de valores, símbolos e recursos – formas de falar a respeito das coisas – e como isso, por sua vez, molda suas ações.” (22, p 207). Eis a maneira pela qual ele reconhece a cultura como uma realidade distinta, pois separada do meio em que surgiu, mas igualmente, um elemento que atua conjuntamente ao influenciar as pessoas e grupos sociais que nela interagem. Tal compreensão lhe traz o entendimento de que os eventos da realidade da cultura devem ser identificados a partir de “dentro” – a partir daquilo que as pessoas realizam para dar sentido à sua existência naquela sociedade. Trata-se de uma abordagem interpretativa da cultura, com um olhar retrospectivo, o qual deve iniciar na identificação e reconhecimento de dados existentes na pessoa envolvida no processo, o ser humano, antes de tudo. Pois da mesma maneira que se reconhece a existência das estruturas sociais que dão sentido à vivência do homem no mundo, sejam as elites ou as determinações econômicas, igualmente existem as estruturas culturais. E a partir desta estrutura é que a sociologia irá compreender os seres humanos como criaturas sociais, procurando realizar um “estudo de como os indivíduos se comportam em grupos e como seu comportamento é moldado por esses grupos.” “E, já que a sociedade é uma coletânea de pessoas individuais, existe uma conexão inevitável entre as estruturas da sociedade como um todo e o comportamento de seus membros individuais.” (23, O Livro da Sociologia). Eis como, então, ao analisar as instituições e organizações da sociedade, os sociólogos devem singularmente tratar das experiências dos indivíduos e suas relações ali desenvolvidas. Portanto, não se pode compreender ou identificar as instituições sociais e o próprio produto finalizado de sua construção cultural, sem abordar as atividades pessoais oriundas das práticas religiosas dos seres humanos. Atividades da religiosidade que não tem origem essencial na religião (crença), mas sim, na espiritualidade da personalidade humana, que simplesmente visualiza a fé enquanto um código que vai trazer alvo e projeto para suas aspirações de espiritualidade. Uma Hermenêutica de aproximação: Da maneira pela qual as Ciências da religião buscam o homem religioso a partir do método de análise do texto. A Hermenêutica da religião de Etienne Alfred Hiquet indica que a boa análise dos fenômenos religiosos deve realizar uma interpretação de suas linguagens no objetivo de identificar as vivências do sagrado existentes a partir daquele texto. O propósito é esclarecer quais as intenções existenciais resultantes da realidade religiosa dos símbolos e mitos, ritos e doutrinas. “Ao fazer isso, entende que o que será reconhecido neste estudo de um objeto oriundo da religião, é o próprio ser humano ali destacado, assim que o interpretamos em suas obras ali descritas, que podem ser chamadas de “arquivos de humanidades.” (24, p 461). (Compêndio). Pois o objetivo da hermenêutica é exatamente extrair o sentido do texto, desenvolvendo uma análise que faça surgir o significado dos sentidos ainda latentes do mesmo. (25, p 461). Segundo Mircea Eliade, “o comportamento do ser humano religioso é o espelho de sua experiência do sagrado. Tal comportamento manifesta-se em seus símbolos, mitos e ritos, que tem relação com sua vida concreta e história, mas enquanto relacionada com acontecimentos originários e instauradores.” (26, p 462) E dentro desta perspectiva, “o sagrado implica uma ampliação da fonte de sentido além da subjetividade e da linguagem humana para além dos limites da ontologia. O sagrado se dá como uma experiência de excesso de sentido, que ultrapassa o limite da existência doadora do sentido. Os textos (ritos, mitos, crenças) nos remetem a esta experiência. Eles são documentos preciosos para uma arqueologia do humano e do sujeito. O símbolo religioso é o modo de linguagem destes textos...”. (27, p 462). Nesta perspectiva, a análise desenvolvida pela fenomenologia deseja alcançar a compreensão da “experiência do sagrado como fenômeno primeiro... assim poderemos compreender o sagrado a partir dele mesmo, em sua escala.” 28, (p 461) A Espiritualidade da Religiosidade segundo as Ciências da Religião. A espiritualidade enquanto um elemento da personalidade humana passível de ser identificado enquanto se analisam os atos e fatos da religiosidade que um dia a religião orientou para que o homem praticasse... se tornaram o próprio objeto de pesquisa do estudioso Rudolf OTTO, tema de sua obra clássica e revolucionária, O Sagrado, publicada em 1917. Segundo Mircea ELIADE, “em vez de estudar as ideias de Deus e da religião, Rudolf Otto aplicara-se na análise das modalidades da experiência religiosa. Dotado de grande refinamento psicológico e fortalecido por uma dupla preparação de teólogo e de historiador das religiões, Rudolf Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência.” (28, p 16) (O Sagrado e o Profano) R Otto havia lido e compreendido o significado da expressão, o “Deus vivo”, conforme o reformador protestante Lutero a tinha enunciado, reconhecendo que tal palavra não se relacionava a um entendimento filosófico, mas sim, intitulava a realidade de uma existência “outra”, que era perceptível exatamente a partir das sensações que provocava na psique do homem, particularmente, a de ser um “poder terrível” e divino que se sobrepunha sobre a personalidade do homem religioso que a vislumbrava. Segundo Eliade, Rudolf Otto buscou esclarecer em sua obra O Sagrado, o “caráter específico dessa experiência terrífica e irracional.” O propósito era identificar esse “sentimento de pavor diante do sagrado, diante desse mysterium tremendum, dessa majestas que exala uma superioridade esmagadora de poder; encontra o temor religioso diante do mysterium fascinans, em que se expande a perfeita plenitude do ser.” (29, p 16). Estas experiências religiosas do homem serão denominadas de “numinosas” (do latim numem, “deus”) “porque elas são provocadas pela revelação de um aspecto do poder divino.” Importante observar que esta vivência religiosa da personalidade humana surge de uma sensação do indivíduo enquanto este percebe algo que “não se assemelha a nada de humano ou cósmico” – uma experiência da qual ele sairá tendo uma compreensão de si mesmo como sendo a de uma criatura do cosmos, a partir dos próprios termos com que o Pai da fé das religiões da Palestina, Abraão, se utilizou para se colocar diante de Deus; a de que naquele momento, ele não era “senão cinza e pó”. (30, p 16). R Otto e M Eliade reconhecem que estas próprias expressões de linguagem pelas quais se deseja identificar uma realidade absolutamente sobrenatural serão sempre limitadas, pois oriundas da nossa existência somente natural. No entanto, Otto buscou enuncia-las exaustivamente em seu livro, a fim de que as sensações dessa experiência religiosa que se encontra adiante e anterior à religião, à religiosidade e à cultura, pudessem ser reconhecidas como elementos da vivência do sagrado enquanto aspectos pelos quais a nossa personalidade humana expressa o valor da espiritualidade – aquele elemento humano que trata de visualizar o que não é meramente material, enquanto buscamos sentido pra existência. (31, p 17, O Sagrado e o Profano, M Eliade) Conforme R Otto, “este será seu intento no tocante à peculiar categoria do sagrado. Detectar e reconhecer algo como sendo “sagrado’, é, em primeiro lugar, uma avaliação peculiar que, nesta forma, ocorre somente no campo religioso... (pois) apresenta um elemento ou “momento” bem específico, que foge ao acesso racional... sendo algo utilizado árreton (“impronunciável”), um ineffabile (indizível”), na medida em que foge totalmente à apreensão conceitual.” (32, p 36, Otto). Para o pesquisador, “o elemento de que estamos falando e que tentaremos evocar no leitor está vivo em todas as religiões, constituindo seu mais íntimo cerne, sem o qual nem seriam religião. Presença marcante ele tem nas religiões semitas, e de forma privilegiada na religião bíblica. Ali ele também apresenta uma designação própria, que é o hebraico Qadosh, ao qual correspondem o grego hagios e o latino sanctus...”. (33, p 38). Rudolf Otto então, se utiliza do temo “numinoso”, a fim de expressar esta sensação que acomete o homem religioso, segundo ele, “referindo-me a uma categoria numinosa de interpretação e valoração bem como a um estado psíquico numinoso que sempre ocorre quando aquela é aplicada, ou seja, onde se julga tratar-se de objeto numinoso.” A definição de um termo para clarificar a existência desta sensação e peculiar experiência religiosa, tem o objetivo, para o escritor, de “levar o ouvinte a entende-la conduzindo-o mediante exposição àquele ponto de sua própria psique onde então ela surgirá e se tornará consciente...”. (34 p 38-39). Alguns aspectos pelos quais se deseja evocar e perceber a existência da experiência do “numinoso” para Rudolf Otto, são: a) Aspecto Tremendum, arrepiante, um termo latino que evoca medo ou terror, e que algumas línguas designam como “temor”. (35, p 45). b) Aspecto Majestas, que trata do estado de “inacessibilidade absoluta” no qual se encontra o numinoso, revelando algo de sua majestade enquanto é reconhecido a partir de seu poder e domínio. (36, p 51). c) Aspecto Energético, pelo qual se deseja exprimir as características da vivacidade, paixão, vontade, força, comoção e excitação que são inerentes ao divino “vivo”, e que acionam na psique do religioso o sentimento de zelo. (37, p 55). d) Aspecto Mysterium, que trata de revelar um ser estranho e não compreendido, inexplicável; ou seja, o mistério religioso, que em sua melhor formulação, é o “totalmente outro, pois estranho e que causa estranheza. (p 58). Conforme Agostinho: “O que é aquilo que reluz através de mim e percute meu coração sem feri-lo? Estremeço tanto quanto me inflamo. Estremeço no quanto lhe sou dessemelhante. Inflamo-me no quanto lhe sou semelhante.” (Confissões, 11. 9,1). (38, p 60) e) O Aspecto Fascinante, pois ainda que esteja distante a partir do tremendum de sua majestade, segundo R Otto, “ele também parece algo atraente, cativante, fascinante, em curiosa harmonia de contraste com o elemento distanciador. Segundo Lutero: “É como quando reverenciamos com temor um santuário, sem que por isso fujamos dele, mas desejamos nos aproximar dele.” Um autor mais recente escreve: “O que me apavora me atrai.” (39, p 68). Segundo Rudolf Otto, “toda a história da religião atesta essa harmonia contrastante, esse duplo caráter do numinoso...”. “Trata-se, na verdade, do mais estranho e notável fenômeno na história da religião... E a criatura que diante dele estremece no mais profundo receio sempre também se sente atraída por ele, inclusive no sentido de assimilá-lo. O mistério não é só o maravilhoso (wunderbar), mas também aquilo que é prodigioso (wundervoll). Além de desconcertante, é cativante, arrebatador, encantador, muitas vezes levando ao delírio e ao inebriamento – o elemento dionisíaco entre os efeitos do nume. Este chamaremos de aspecto “fascinante” (Fascinans) do nume.” (40, p 68). Observe que a maneira pela qual Rudolf Otto identifica a existência do elemento da espiritualidade na personalidade humana, a fim de revelar a origem das sensações de assombro que nos surgem diante da perspectiva do sagrado, e que irá se materializar na religião, e depois nos atos de religiosidade que vão criar a cultura – trata-se de um método técnico de observação relacionável aos que são utilizados pelos matemáticos e astrólogos quando definem a existência de planetas e astros que eles não conseguem visualizar através de dados visíveis. Veja que o planeta o Netuno foi predito antes de ser observado de fato em 1846 por Johann G. Galle e Heinrich L. d´Arrest. A previsão de sua existência baseou-se nos cálculos matemáticos das perturbações observadas nas órbitas dos planetas Urano, Saturno e Júpiter. Pois o primeiro tipo que caracteriza os métodos de detecção de planetas, está associado aos efeitos dinâmicos na estrela causados pela interação gravitacional com o planeta em órbita. De modo que são as “perturbações” observadas e os efeitos dinâmicos da interação gravitacional que indicam a existência... de planetas que não se podem enxergar. E para o nosso objeto, não se deseja indicar aqui a existência do divino, como o fazem os cientistas das ciências exatas assim que indicam a realidade de planetas que não podem visualizar; mas sim, reconhecer que as sensações e anseios percebíveis na personalidade humana no que refere à busca do que não é material e nem humano, são, sim, traços de um aspecto que denominamos de a “Espiritualidade da Religiosidade segundo as Ciências da Religião.” As sensações humanas que apresentam o elemento da espiritualidade enquanto um componente natural da nossa personalidade, estão expostas igualmente nas pesquisas que reconhecem o valor da esperança e da resiliência enquanto realidades experienciadas naqueles que tem fé ou crenças, ou seja, são movidas a partir de sua espiritualidade. CONCLUSÃO Aproveitando de uma reflexão de Mircea Eliade, que percebia o homem moderno como aquele indivíduo que busca viver cada vez mais num universo dessacralizado, pois totalmente desconectado de qualquer valor religioso; eis que se reconhece que um dos resultados desta busca por uma existência absolutamente “natural”, pois liberta das realidades das religiões, desenvolveu igualmente a compreensão gravemente anti-natural da existência de uma personalidade humana excluída de um elemento que lhe é essencial, a própria espiritualidade da espécie. (41, p 19). Para Eliade, esta dessacralização do mundo, tem impedido o homem moderno de “reencontrar as dimensões existenciais do homem religioso das sociedades arcaicas”. E dentro do nosso propósito, compreende-se que tal posicionamento tem dificultado a humanidade de receber das observações dos cientistas religiosos, algumas valiosas perspectivas existenciais que somente a espiritualidade dos homens poderá nos prover. (42, p 19, M Eliade). Há duas proposições com as quais desejo, simpaticamente, finalizar esta reflexão: a primeira é que se faz necessário que os próprios cientistas da religião reconheçam a espiritualidade enquanto um componente a ser levado em conta assim que observam a psique e os hábitos, os textos e doutrinas, enfim, todos os fenômenos religiosos de todas as religiões, da humanidade. Em segundo lugar, cabe-nos bem utilizar nossos dados religiosos científicos para, segundo os princípios de sabedoria da China e Índia antigas, desenvolver políticas de governança da sociedade, ao invés de somente bem organizar estruturas de pensamento das academias. Somente assim iremos propiciar à nação brasileira, quiçá, uma experiência de convivência civil tolerante em que todas as religiosidades venham a existir conjuntamente sem com isso constantemente colidirem; algo que na civilização indiana, o hinduísmo conseguiu bem edificar. Finalmente, creio que poucos temas serão mais edificantes em nossas vidas, do que o estudo dos fenômenos religiosos – pois sempre estaremos rodeando as mais profundas e íntimas sensações do ser humano, já que abordamos os mistérios mais amplos que nos cercam assim que os visualizamos. E ainda, corremos o risco de não somente saber quase tudo que se pode acerca de nossa espécie enquanto cientistas, como, até, podemos ir além: quem pode negar que não estamos todos estudando a própria alma espiritual da espécie humana. Por que não? Professor M Ivan Santos Ruppell Júnior (Faculdade Fatesul). (ruppelljr@gmail.com) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1, p 11. Espiritualidade para corajosos: a busca de sentido no mundo de hoje, Luiz Felipe Pondé, edit Planeta, 2018, SP) (2, p 11. Pondé) (3, p 12. Pondé) (4, p 20. Pondé) (5, p 19. Pondé) (6, p 44. Pondé) (7, p 45. Pondé) (8, p 48. Pondé) (9, p 19 Compêndio de Ciência da Religião, Org: João Décio Passos e Frank Osarski, Paulinas / Paulus, 2013, SP). 10, (p 20. Compêndio) (11, p 19. Compêndio) (12, p 20. Compêndio) (13, p 20. Compêndio) (14, p 27) (Compêndio) (15, p 12, O Livro das Religiões, GL, Edit Globo, 2014). (16, p 12. Livro das Religiões) (17, p 12. Livro das Religiões) (18, p 13. Livro das Religiões) (19, p 207, O Livro da Sociologia, GL, Edit Globo, 2015) (20, p 209. O Livro da Sociologia) (21, p 207. O Livro da Sociologia) (22, p 207. O Livro da Sociologia) (23, O Livro da Sociologia). (24, p 461. Compêndio) (25, p 461. Compêndio) (26, p 462. Compêndio) (27, p 462. Compêndio) (28, p 461. Compêndio) (29, p 16. Mircea Eliade. O Sagrado e o Profano. A essência das religiões. Livraria Martins Fontes editora, 1992, SP) (30, p 16. Eliade) (31, p 16. Eliade) (32, p 17. Eliade) (33, p 36. Rudolf Otto. O Sagrado. Editora Vozes, 2007, Petrópolis) (34, p 38. Otto) (35, p 38-39. Otto) (36, p 45. Otto) (37, p 51. Otto) (38, p 5. Otto) (39, p 60. Otto) (40, p 68. Otto) (41, p 68. Otto) (42, p 19. Otto) (43, p 19. Eliade, O Sagrado e o Profano)

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

a ESPIRITUALIDADE CRISTÃ e as AUTORIDADES de GOVERNO

A orientação da Espiritualidade Cristã para seus fiéis se relacionarem com as Autoridades do Governo Civil ensina que estas devem ser tão respeitadas em sua área de atuação quanto a própria Pessoa de Deus. Jesus Cristo deixou isso claro ao definir que era necessário obedecer ao César romano nas questões civis, assim como se obedecia a Deus nas questões existenciais do ser; as quais, incluem, sim, as próprias questões civis da humanidade. "Então deem a César o que pertence a César, e deem a Deus o que pertence a Deus." (Mateus 22.21). O Apóstolo Paulo acolhe este princípio de autoridade cidadã entre os homens e esclarece seu fundamento ao ensinar que tanto o princípio da hierarquia comunitária, como a personificação da autoridade em certas pessoas é uma determinação de Deus que deseja promover um convívio social benigno entre os homens. "Todos devem sujeitar-se às autoridades, pois toda autoridade vem de Deus, e aqueles que ocupam cargos de autoridade foram ali colocados por ele." (Romanos, 13.1). O Apóstolo também amplia este princípio de autoridade e hierarquia para todas as relações sociais, desde os pais até os patrões, incluindo as autoridades da vida comunitária, sejam os guardas nas ruas e professores nas escolas, motoristas de ônibus no transporte público e proprietários de qualquer estabelecimento que visitamos: "Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor... Servos, obedeçam a seus senhores terrenos... Senhores, assim também tratem seus servos." (Efésios 6. 1-9). Agora, veja que a maneira pela qual todas as Autoridade de Governo e Familiares e Civis devem atuar com responsabilidade social em nossas vidas ocorre, principalmente, através da orientação e da disciplina acerca do que é certo e errado, a partir da definição do que é legal e ilegal, conforme esclarece São Paulo: "Pois as autoridades não causam temor naqueles que fazem o que é certo, mas sim nos que fazem o que é errado." (Rm 13. 3); e ainda, segundo o Apóstolo Pedro; que ensina: "Por causa do Senhor, submetam-se a todas as autoridades humanas... sejam os oficiais nomeados e enviados por ele para castigar os que fazem o mal e honrar os que fazem o bem." (1 Pedro 2.13-14). E agora, para que a espiritualidade cristã consiga amadurecer nossa vida cidadã, se faz necessário esclarecer qual seria esta "verdade" capaz de definir o certo e errado na sociedade de todos nós. Ou seja, quais seriam os princípios sociais dos cristãos que devem orientar as autoridades governamentais a cumprirem seu papel jurisdicional disciplinar no propósito de bem regular nosso convívio civil a fim de que a sociedade não se transforme num caos, existencial! Isto porque o propósito divino de orientar a vida comunitária a partir deste princípio hierárquico de autoridade de uns para com os outros origina de uma bênção graciosa geral oferecida ao mundo para que a vida na Terra se torne não apenas possível, como também, satisfatória pra humanidade. A partir daí, eis que o modo bíblico pelo qual as Autoridades de Governo dirão o que é correto e o que é errado para a vida em sociedade, definindo o que é legal e ilegal, está descrito para o cristão exatamente nos 10 Mandamentos! E de maneira mais específica, nos Mandamentos de número Cinco a Dez, pois são estes que ensinam o que deve ser administrado pelas autoridades civis na vida social dos homens. Pois os Mandamentos de Um a Quatro apresentam o que será disciplinado pelas próprias autoridades eclesiais na esfera religiosa das pessoas, pois embora todos os Dez coloquem o Cristão diante de Deus, os mandamentos "religiosos" tratam da maneira como o homem cristão desenvolve a sua submissão existencial junto da Pessoa de Deus. Mas, então, de que maneira é possível definir que seriam estes "Dez Mandamentos" os tais preceitos bíblicos capazes de apontar a verdade maior acerca do certo e errado a fim de que os Cristãos amadureçam como cidadãos entre os homens? Bem, porque são exatamente os 10 mandamentos das Escrituras que cumprem integralmente a Lei dos Cristãos; resumida em apenas duas por Jesus: "Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de toda a sua mente... Ame o seu próximo como a si mesmo. Toda a lei e todas as exigências dos profetas se baseiam nestes dois mandamentos." (Mateus 22. 37-40). Trata-se de um resumo da Lei dado por Jesus, o qual foi relacionado integralmente aos mandamentos desta forma pelo Apóstolo Paulo: "Quem ama seu próximo cumpre os requisitos da lei de Deus. Pois os mandamentos dizem: "... Não mate. Não roube. Não cobice. Esses e outros mandamentos semelhantes se resumem num só: "Ame o seu próximo como a si mesmo". O Amor não faz mal ao próximo, portanto o amor cumpre todas as exigências da lei de Deus." (Rm 13. 8-10). É isso! Eis a perspectiva espiritual bíblica acerca das Autoridades de governo civil e sobre as leis da vida em sociedade que permitirão aos Cristãos a condição de tanto Amar a Deus quanto Amar o próximo, enquanto vivem em sociedade. Pois é através destes princípios que tanto obedecemos a Deus socialmente, como também, edificamos o progresso dos homens conforme foi planejado por Deus a partir da autoridade divina dada aos homens. E já concluindo, o próximo passo para um Cristão promover corretamente sua cidadania civil é tornar-se tanto um Eleitor que vota em candidatos e partidos que desejam respeitar e desenvolver na sociedade estes preceitos, como igualmente, é necessário ser um Representante no Legislativo ou Executivo que irá defender a própria legitimidade social destes valores perante a humanidade. Eis a razão bíblica que orienta um Deputado Cristão a legislar criando e protegendo leis sociais relacionadas aos 10 mandamentos. Eis, ainda, o motivo pelo qual um Governador Cristão irá enviar ao Legislativo projetos de lei e irá determinar às Secretarias de governo o desenvolvimento de programas relacionados aos Mandamentos sociais de Deus. Os Cristãos que agirem desta forma irão verdadeiramente dar a Deus o que é de Deus, e logo dar a César o que é de César, conforme determinou Jesus de Nazaré, o único Profeta autorizado da Espiritualidade civil dos cristãos diante dos governos humanos do mundo. Até porque os "não cristãos" irão (com todo direito) apresentar pra sociedade seus próprios preceitos com os quais desejam fazer as leis acerca do que é "certo" e "errado" em sua cosmovisão. E que assim seja, cada qual tendo a democrática oportunidade de votar, legislar e governar socialmente a partir dos preceitos (filosóficos e espirituais) que considera serem os melhores para a cidadania civil da humanidade. Sem desprezar que a democracia se constrói na boa convivência civil entre os diferentes através da essencial liberdade religiosa e de pensamento, num Estado Laico que organiza suas leis e programas de governo, dando oportunidade de atuação a todos. Pois o contrário de um Estado democrático de Direito é sempre uma governança exercida de maneira autoritária e ditatorial, mediante leis religiosas e ideológicas que impedem a liberdade de opinião e a expressão diversa do conhecimento; como se vê na Escola com Partido único, por exemplo.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

a ESPIRITUALIDADE da TENTAÇÃO, no Cinema: INSTINTO SECRETO

A Espiritualidade que mais profundamente trata das tentações e influências de espíritos malignos agindo sobre a nossa consciência e desejos para nos arruinar a vida é o Cristianismo. O que se sabe é que espíritos malignos são anjos rebeldes contra Deus, com personalidade inteligente e que atuam em toda a dimensão do planeta, conseguindo "tocar" as pessoas através de uma influência que direciona nosso olhar e pensamentos para fortalecer nossa vontade e atitudes na busca por realizar algo que irá nos prejudicar existencialmente desde a nossa alma. Se o filme "Advogado do Diabo", com Al Pacino e Keanu Reeves (EUA, 1998, de Taylor Hackford) é o mais contemporâneo e realista drama cinematográfico acerca da realidade maligna junto dos homens, eis que INSTINTO SECRETO, com Kevin Costner e William Hut (EUA, 2007), desenvolve o relacionamento de tentação entre o ser humano e o anjo rebelde (demônio) numa didática exemplar revelando-nos uma perspectiva bíblica bastante correta. Pois conforme esclareceu o Apóstolo Tiago: "a tentação vem de nossos próprios desejos, que nos seduzem e nos arrastam." A tentação maligna que surge das conversas entre K. Costner e W. Hurt enquanto passeiam de carro pela cidade é bem mais objetiva e natural do que a verdadeira influência que recebemos ao sermos tentados na consciência - que ocorre de uma maneira mais subjetiva e espiritual em nossa alma. Ao mesmo tempo, a força volitiva e o grau de convencimento das tentações espirituais são ainda maiores na vida real do que as conversas do filme, pois a tentação acontece de maneira sutil e também incompreensível racionalmente, o que dificulta contrariá-la de maneira somente inteligível. Sem esquecer que a tentação é uma influência que se aproveita de uma sensação e um interesse pessoais que cremos ser bom e satisfatório para nós mesmos - ou seja, vai unir a fome com a vontade de comer. No entanto, essa experiência relacional espiritual subjetiva que surge na consciência de todo mundo também pode ser combatida, assim como ocorre no filme, onde Kevin Costner, vez ou outra, discute com o tentador e procura racionalizar sua vontade a fim de tomar uma decisão diferente da sugerida pela tentação maligna. Trata-se de um enfrentamento da tentação que o filme apresenta em diversas situações, e que enfatiza para nós uma realidade espiritual bastante significativa da humanidade: pois apresenta o fato de que todo aquele que se percebe em um processo de tentação espiritual, poderá sim, lutar contra a má influência que recebe. Mas, que dificilmente irá vencer sozinho a vontade de fazer o que está sendo tramado, conseguindo, no máximo, adiar ou modificar um pouco a maneira como as coisas, certamente irão acontecer! Pois como diz Tiago, "esses desejos dão à luz o pecado, e quando o pecado se desenvolve plenamente, gera a morte." Sim, é verdade, pra coçar e cair na tentação, é só começar (a pensar)! Eis a razão pela qual a Espiritualidade natural percebe que os seres humanos precisam buscar auxílio terapêutico e atividades transcendentes a fim de compreender e se posicionar contra as interações místicas que acometem a consciência (alma) humana. Ao mesmo tempo, a Espiritualidade judaico-cristã orienta que somente um Espírito mais forte e capacitado no conhecimento da Verdade sagrada poderá tanto nos sugerir a atitude mais correta, como - principalmente, irá proteger nossa alma enquanto nos abraça espiritualmente, a fim de que seja possível manter-nos sóbrios através de um equilíbrio que nos fará livres da dependência maligna. Segue a máxima do Profeta Jesus para nos auxiliar nestes dias de profunda batalha espiritual: "Orem para que vocês não cedam à tentação." Bom filme!

terça-feira, 18 de setembro de 2018

O FIM DOS TEMPOS CRISTÃO na Teologia de J CALVINO

ESCATOLOGIA CRISTÃ: A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS NO PENSAMENTO DE JOÃO CALVINO. (p. Ivan Ruppell Jr). RESUMO: O tema da Escatologia ou doutrina das Últimas Coisas tornou-se um conteúdo essencial do pensamento protestante, posto que sempre foi um dos assuntos que maior número de dúvidas e de proposições gestou na história da Teologia Cristã. O teólogo João Calvino analisou o tema com a disciplina interpretativa e a sobriedade analítica que fizeram dele o maior comentarista bíblico da Reforma, razão pela qual suas reflexões irão tanto surpreender aos leitores curiosos da Escatologia, quanto eficazmente irão ensinar a essência bíblica a respeito deste assunto primordial. O Pensamento de J Calvino acerca das Últimas Coisas é que estas se resumem e realizam-se numa só realidade: a Ressurreição dos cristãos para experimentar a plenitude da vida humana na Presença do Deus único, Pai, Filho e Espírito Santo. Palavras-chave: Ressurreição, União com Deus, Eternidade, Comunhão, Últimas Coisas, Escatologia Cristã. INTRODUÇÃO. A Escatologia Cristã e o Pensamento Protestante. O pensamento do reformador protestante João Calvino acerca da Escatologia Cristã conforme exposto em três capítulos do Livro III de sua obra magna “As Institutas da Religião Cristã”, tanto corrobora a técnica interpretativa que ele considera um valor fundamental de análise das Escrituras, como mantém a coerência com que buscou apresentar o conhecimento do Cristianismo em todos os seus comentários: “Quanto ao estado entre a morte e a ressurreição, não nos é lícito, e nem útil, inquirir curiosamente... É loucura e temeridade perscrutar além daquilo que Deus nos permite saber... Contentemo-nos com os limites que Deus nos impôs... .” (III, 25, 6, Institutas). Na mesma perspectiva se posicionaram Lutero e Zuínglio, pois ambos afirmavam o perigo de realizar interpretações fantasiosas e declarar afirmações não ditas nas Escrituras. Uma virtude protestante da leitura das Escrituras que merecia especial cuidado no que refere ao entendimento do livro do Apocalipse, repleto de figuras e imagens oriundas da literatura apocalíptica bíblica, encontrada nos livros dos Profetas Ezequiel, Daniel e Zacarias, com suas visões plenas de elementos simbólicos. “Calvino repete à exaustão que a felicidade eterna é ensinada pela Escritura a partir de imagens tomadas de nosso mundo terreno, o que, naturalmente, não constituem a realidade.” (O Pensamento da Reforma, Strohl, p 163). A partir desta hermenêutica bíblica, o pensamento protestante definiu-se por uma Escatologia neo-testamentaria em duas visões complementares: havia tanto a espera pela vinda completa do Reino de Deus ao mundo, como também, a certeza de que a união com Cristo significava a comunhão eterna dos cristãos junto ao Deus único, Pai, Filho e Espírito Santo. Lutero sentia-se tão digno por tão somente servir ao Senhor, que afirmava que somente por este motivo já viveria para segui-Lo, independente do que lhe sobreviesse no futuro. Zuínglio igualmente celebra sua alegria em servir a Deus, e aproveita para declarar a certeza de uma vitória final do Senhor na chegada do reino do Messias. Já para o autor das Institutas, “mais que outros reformadores, Calvino insiste na escatologia individual.” (Strohl, p 161). De fato, a escatologia calvinista afirma uma experiência gloriosa do fiel cristão no paraíso a partir da ressurreição, a qual inaugura a plenitude da “comunhão do crente” com Deus! “Se Deus... possui em si a plenitude de todo o bem, é a ele que se devem voltar os que buscam o bem supremo... Todos os bens imagináveis estarão incluídos na graça de nossa comunhão com o Senhor” (III, 25, 10). Calvino se serve dos clássicos no entendimento de que a Graça Comum dava aos homens um discernimento estrutural dos conhecimentos de Deus, e neste sentido, cita Platão, que afirmou ser a união com Deus a maior grandeza oferecida aos homens. Ainda que Platão não a tivesse conhecido, bem esclarece João Calvino. E para os cristãos, bem, a essência do que os aguarda na eternidade será a completude do que desde agora já experimentam; nada mais, nada menos, que sua pessoal comunhão com Deus na Pessoa do Espírito Santo. Portanto, a Escatologia Cristã toma forma no pensamento de J Calvino exatamente a partir do reconhecimento da comunhão com Deus que a ressurreição irá propiciar ao cristão pela eternidade. E já que os cristãos experimentam desde agora as primícias desta bênção maior dos homens, é este o tema que se deve investigar acerca dos últimos dias. A Escatologia Cristã segundo o pensamento de João Calvino é a própria Ressurreição do cristão! Um conhecimento teológico que o reformador desenvolve valorando mais a vida futura do que a presente época. Pois é na vida eterna que receberemos os cuidados integrais do Senhor, pelos quais iremos superar as dores atuais da existência, já que somente após a Ressurreição é que iremos experimentar em plenitude a Personalidade completa de nosso Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Observemos a seguir a argumentação destes princípios, conforme ensinados nas “Institutas” da Religião Cristã. 1. MEDITAÇÕES ACERCA DA VIDA FUTURA DA HUMANIDADE. Calvino esclarece que a Soberania de Deus governa completamente a história dos homens, um entendimento que requer ser observado se desejamos adquirir bom conhecimento acerca das doutrinas da Fé Cristã. Pois há uma ação constante de Deus sobre a terra para que diante do brilho que a vida presente exerce sobre a humanidade, nossa raça igualmente possa enxergar a realidade da vida futura dos homens. Pois Deus sabe que nossa natureza corre ansiosa atrás das sensações da vida atual e passageira, um movimento que ocorre em detrimento das aspirações da vida futura e eterna. “Certamente que nenhum de nós há que não aspire à imortalidade (...) mas, com efeito, se examinares os planos, os esforços, os feitos de cada um, outra coisa aí não verás senão terra.” (p 184, Institutas) Calvino adverte que a mente humana fica facilmente deslumbrada pelas emoções do orgulho e nosso coração rapidamente se ocupa das sensações da vaidade, o que nos faz assumir as felicidades da Terra como as conquistas maiores da existência. Daí a necessidade de que haja um firme governo de Deus na história pela sua Providência, movendo dificuldades e perdas, desilusões e insatisfações em todos os lugares e relações, épocas e atividades do cotidiano terreno dos homens a fim de que a mortalidade e fragilidade da vida presente se tornem tão reais quanto verdadeiramente o são. “Ora, se Deus tem necessariamente de instruir-nos, de nossa parte temos o dever de dar-lhe ouvidos enquanto nos chama e nos sacode o desânimo, para que, desprezado o mundo, nos apliquemos, de todo o coração, à meditação sobre a vida futura.” (p 186, Institutas). O que não significa que não há muito para viver e agradecer a Deus pela existência humana no mundo. “Portanto, uma vez que esta vida nos serve para compreender a bondade de Deus, porventura a desdenharemos como se não contivesse nenhuma migalha de bem?” (p 186). Importa recordar que o raciocínio de Calvino tem o bom propósito de oferecer eficaz entendimento ao tema de sua meditação: a “vida futura” dos cristãos. Portanto, seus argumentos não desejam desprezar bênçãos da vida atual e muito menos a Providência bondosa de Deus para os nossos dias. Neste sentido, faz-se necessário compreender o real valor desta época da história, a fim de que alcancemos o conhecimento devido da vida eterna da humanidade que sobrevirá nos últimos dias. “Não há por que temer a morte; ao contrário, ante a glória da vida futura, ela deve ser acolhida com vívida expectativa, em vista da redenção que nos aguarda.” (p 188). Calvino movimenta sensações profundas na alma dos cristãos ao advertir que o pavor da morte não deveria estar junto daquela sensação de extrema alegria que certamente hão de experimentar todos que são chamados para viver na Presença de Deus. “No entanto, se ponderará que nada há que não almeje continuar a existir. Estou de pleno acordo, e por isso contendo que nos é necessário atentar para a imortalidade futura, onde se depare condição estabilizada que na terra jamais se evidencia. Ora, Paulo ensina, com muito acerto, que os fiéis avançam jubilosamente para a morte, não porque queiram ser desvestidos, mas porque desejam ser supervestidos (2 Co 5. 2,3).” (p 189). 2. RECOMPENSA E GALARDÃO NA ETERNIDADE. Um assunto recorrente entre os cristãos encontra-se no capítulo XVII, onde Calvino argumenta acerca das Promessas da Lei e do Evangelho, ali desenvolvendo o tema das recompensas de Deus aos fiéis, ou seja, o Galardão das Boas Obras. Calvino recupera o ensino da Parábola dos Trabalhadores na Vinha (Mt 20. 1-10), esclarecendo que não existe um galardão devido ao cristão por suas obras em momento algum da caminhada dos homens com Deus; afinal, o que ali se recebe não são bens, mas sim, dádivas da graça: “Portanto, não pensemos que o Espírito Santo, com promessa desta natureza esteja enaltecendo a dignidade de nossas obras, como se elas merecessem tal recompensa.” (p 293). Pois a essência da recompensa de Deus para a humanidade ocorre na adoção dos homens de fé para que se tornem seus filhos. É este o momento em que tanto recebem a Vida Eterna junto do Altíssimo, como igualmente, são libertos da condenação de existir separados d´Ele para sempre. A partir disso, compreende-se que a verdadeira recompensa e galardão do cristão são os próprios cuidados e benesses eternais que a Presença de Deus irá lhes propiciar na vida celestial. “Por essa razão, nada impede que à vida eterna, segundo o exemplo da Escritura (2Co 6.13; Hb 10.35; 11.26), chamemos recompensa, porque nela o Senhor afasta aos seus dos labores ao descanso, da aflição a um estado próspero e desejável, da tristeza à alegria, da pobreza à afluência, da ignomínia à glória, enfim, todos os males que tem sofrido ele converta em bens maiores.” (p 294). Eis porque a própria santidade temporal do cristão se torna um caminho para adquirir as recompensas futuras do Senhor, posto que Deus irá glorificar amanhã aos que hoje santifica (Rm 8.30), em sua presença. Calvino esclarece que assim como não temos obras para oferecer a Deus para que sejamos salvos, igualmente não há obras que possamos praticar pelas quais venhamos a ser merecidamente condecorados. No entanto, há boas obras para os cristãos praticarem, sim, e da vivência destas é que originam algumas benditas recompensas que iremos usufruir na Vida Eterna. Nesta compreensão, veja como tanto as riquezas que iremos partilhar na vida futura, como igualmente as recompensas que lá iremos receber, se manifestam em nossa personalidade a partir da experiência relacional de submissão e serviço diante de Deus que a Fé Cristã nos convoca a vivenciar desde agora. Um entendimento que vêm clarificar o melhor conhecimento calvinista acerca da Escatologia: que se cristaliza tanto na experiência da ressurreição quanto na consequente comunhão eterna dos homens com Deus. A partir daí, para João Calvino, há realmente pouco mais que se faz necessário saber, ou experimentar. 3. A RESSURREIÇÃO FINAL E A MENSAGEM ESSENCIAL DOS ÚLTIMOS TEMPOS. Calvino analisou objetivamente o tema da Escatologia no Livro III das Institutas, em seu Capítulo XXV: Da Ressurreição Final. Sendo que o essencial acerca da doutrina das Últimas Coisas está exposto no próprio título do segundo tópico, o qual resume e potencializa a teologia escatológica calvinista: “O Sumo Bem, nosso e de toda a Criação, reside na União com Deus, pelo que a Redenção final, a culminar na Ressurreição, é a grande Aspiração de nosso Viver.” (p 447). Calvino aprofunda o valor da ressurreição ao recordar que todo bom combate cristão nos dias atuais deve sempre vislumbrar esta experiência, que é a própria essência da fé: “(a) razão porque Paulo diz que “a fé e o amor dos piedosos atentam para a esperança que está posta nos céus”, é a que mesmo quando vivendo em graves dificuldades sua existência na Terra, dirão: “nosso coração está onde está nosso tesouro” (Mt 6.21).” (p 446). A didática calvinista sempre buscou anunciar as verdades das Escrituras ao mesmo tempo em que indicava os erros dos homens acerca dos temas analisados. Eis o motivo pelo qual ao tratar da ressurreição dos homens, Calvino recorda que tal experiência irá ocorrer pelo “ressurgir” de nossos próprios corpos terrenos, em glória: conforme Paulo: “Se os mortos não ressuscitam, tampouco Cristo ressuscitou” (1Co 15.13). Pois, para o reformador, a experiência de Cristo irá alcançar plenamente o povo da fé: “(eis) que se começou no Cabeça o que é necessário que se cumpra em todos os membros, segundo o grau e a ordem de cada um.” (p 449). E acerca da questão crucial sobre “como” os nossos corpos enterrados em pó na terra poderão um dia ressurgir, Calvino pronuncia um princípio essencial das Obras de Deus no Universo: “(algo que) não seria tão difícil de crer, se prestássemos atenção como deveríamos a tantos milagres como se oferecem a nossos olhos em todas as partes do mundo.” (p 451). O reformador enumera exemplos do poder com que Deus age na história a fim de cumprir seus desígnios, recordando que a própria incredulidade dos judeus de que Deus iria faze-los regressar do exílio, gerou o ensino do Profeta a partir de uma visão dos ossos secos. Pois ali mesmo, Deus ordenou que recebessem carne e nervos (Ez 37. 1-10). “Posto que, sob essa figura, Deus eleva o povo à esperança do regresso, contudo, ele toma da ressurreição a base da espera, assim como ela nos é o modelo primordial de todos os livramentos que os fiéis experimentam neste mundo”. E de igual modo, ensina o Senhor Jesus: “Não vos admireis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a voz do Filho de Deus e deles sairão”. (João 5.28). (p 452). Calvino reconhece que o desejo de ocultar a realidade da ressurreição do cotidiano dos homens é uma estratégia de Satanás, seja pelo pensamento dos filósofos e até mesmo dos saduceus – que negam a ressurreição do corpo, aos quais se unem aqueles que limitam o reinado de Cristo a mil anos. “E, em verdade, a ficção desses é por demais infantil para que tenha necessidade de refutação ou seja ela digna. Tampouco Apocalipse lhes empresta suporte, do qual certamente tiraram pretexto para seu erro, quando do número milenário (Ap 20.4), pois não se trata da eterna bem-aventurança da Igreja, mas apenas de agitações várias que aguardavam a Igreja a militar na terra. Além disso, toda a Escritura proclama que jamais haverá fim para a bem-aventurança dos eleitos, nem para o suplício dos réprobos (Mt 25. 41, 46).” (p 453). Para o reformador, tais enganos são capazes de afastar o fiel cristão daquele que é o conhecimento essencial da escatologia – a Ressurreição, o que requer a sua grave argumentação contrária: “Outros dois desvarios, além destes, foram introduzidos por homens indevidamente curiosos. Uns pensaram que as almas haverão de ressuscitar com os corpos, como se todo o homem perecesse ao morrer; outros, embora admitam que os espíritos são imortais, sustentam que eles haverão de ser revestidos de novos corpos, com isso negando a ressurreição da carne.” (p 454). A orientação para estes enganos surge pela constatação de que o corpo humano que se tornou o templo do Espírito de Deus no tempo presente jamais será desprezado, citando Paulo: “convém que o que é corruptível se revista de incorruptibilidade; e o que é mortal se revista da imortalidade” (1Co 15.53) (p 456). De igual modo, a continuidade da vida da alma após a morte se confirma tanto pela experiência do ladrão que na tarde da sexta-feira da paixão estaria com Jesus nos céus, quanto pelas palavras de Estevão, que prontamente entregava as almas dos homens a Cristo assim que morriam na terra (At 7.59). E a estes argumentos, Calvino acrescenta as palavras do próprio Jesus: “Destruí este templo e em três dias o reerguerei” (Jo 2.19) (p 457). CONSIDERAÇÕES FINAIS. Certamente que um dos temas mais atrativos acerca da Escatologia é a maneira e lugar pelos quais a vida acontece na personalidade daqueles que chegam aos céus entre as datas históricas da Ressurreição e da Volta de Cristo. Porém, como em tantas outras de suas reflexões bíblicas, também aqui Calvino permaneceu fiel a seu conhecimento das Escrituras: “Entretanto, questionar de seu estado intermediário, com demasiada curiosidade, não é lícito, nem convém. Muitos se atormentam em demasia, disputando que lugar ocupam as almas nesse estado e se porventura já desfrutam ou não da glória celestial. Com efeito, é estulto e temerário indagar de causas desconhecidas mais profundamente do que Deus nos permita saber. A Escritura não avança além de dizer que Cristo está presente com elas e as recebe no Paraíso, para que desfrutem de consolação, e que as almas dos réprobos sofrem tormentos segundo seu merecimento. Que douto ou mestre, agora, nos revelará o que Deus ocultou? Quanto ao lugar, a questão não é menos imprópria e fútil, quando sabemos que a alma não tem a dimensão que tem o corpo.” (p 455). A partir daqui, Calvino recupera para seus leitores o ensino fundamental da Escatologia, que se torna o próprio título do item 10 do capítulo acerca da ressurreição: “O Sumo Bem, nosso e de toda a criação, reside na união com Deus, pelo que a Redenção final, a culminar na Ressurreição, é a grande aspiração de nosso Viver.” (p 447, Institutas, V III). E prossegue argumentando sobre o conhecimento cristão que considera ser o mais valioso para os Últimos Dias: “Ora, por mais que seja verdadeiro o que ouvimos, de que o reino de Deus haverá de ser cheio de esplendor, de alegria, de felicidade, de glória, no entanto, aquelas coisas que se enumeram, permanecem mui remotas de nosso senso e como que envoltas em obscuridade (...) Todavia, visto que, por outro lado, é necessário que nosso coração se inflame no amor e desejo dela, é preciso que nos detenhamos neste pensamento: se Deus contém em si a plenitude de tudo que é bom, como uma fonte inexaurível, nada devem buscar além dele os que lutam pelo sumo bem e por todos os elementos da felicidade, como somos ensinados em muitos lugares da Escritura: Diz o Senhor a Abraão: “Eu sou tua mui grande recompensa” (Gn 15.1), sentença que ecoa em Davi: “Minha porção é o Senhor: caiu-me a sorte excelentemente” (Sl 16. 5,6). De igual modo, em outro lugar: “Quedar-me-ei satisfeito com a visão de teu rosto” (Sl 17.15). De fato, Pedro declara que os fiéis foram chamados para isto: para que sejam feitos participantes da própria natureza divina (2Pe 1.4)”. (p461). Eis que esta declaração do Apóstolo Pedro oferece a J Calvino a oportunidade de retomar seu pensamento essencial acerca da Escatologia cristã e suas benesses vivenciais ao povo de Deus. E o que Calvino observa bem poderia ser o conteúdo existencial das palavras de Jesus aos discípulos, quando lhes afirma: “Já não os chamo de servos, agora vocês são meus amigos, pois eu lhes disse tudo o que meu Pai me disse.” (João 15.15). Isto porque o ensino de Calvino esclarece que o galardão do cristão é a própria herança fundamental dos fiéis: sua adoção como filhos de Deus! Uma adoção que serve para partilhar da própria Personalidade existencial de Deus, a qual vivenciamos desde agora pelos dons do Espírito Santo, que nos permitem usufruir virtudes da vida do Senhor. Bênçãos que são para todos os cristãos, e especialmente, daqueles que serão recompensados nos céus, como os Doze Apóstolos que se assentarão nos tronos diante das doze tribos. Numa governança que os fará reinar junto de Cristo exatamente para realizar a boa administração dos dons que originam da própria Pessoa de Deus que se move na vida de seu povo. Será o tempo final da excepcional comunhão entre Deus e os homens no Paraíso celeste, naquele que será o dia da realização da Escatologia dos cristãos - a própria doutrina das Últimas Coisas do Cristianismo. Sim, a Escatologia cristã em João Calvino é tão somente a Ressurreição dos cristãos para existir na Presença de Deus! REFERÊNCIAS BIÉLER, André. A Força Oculta dos Protestantes. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. BÍBLIA. Estudo de Genebra. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. CALVINO, João. A Verdadeira Vida Cristã. São Paulo: Edit Cristã Novo Século, 2000. CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã: edição especial. São Paulo. Cultura Cristã, 2006. CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã. Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. McGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005. McGRATH, Alister E. A Vida de João Calvino. São Paulo: Ed Cult Cristã, 2004. STROHL, Henri. O Pensamento da Reforma. São Paulo: ASTE, 2 Ed. 2004

a ESPIRITUALIDADE da EDUCAÇÃO, no Cinema: O PACIENTE - O CASO TANCREDO NEVES

O educativo filme O PACIENTE - O CASO TANCREDO NEVES (Brasil, 2018), do diretor Sergio Rezende apresenta os últimos dias do drama pessoal e nacional do presidente eleito que não assumiu o governo ao falecer próximo de sua posse. Acontece que, se o drama pessoal de Tancredo Neves foi encontrar a morte ao invés de assumir a presidência do Brasil, o verdadeiro drama nacional naquela ocasião ocorreu assim que o povo brasileiro foi mal informado como sempre acerca das reais condições de saúde do paciente, num padrão informativo do que se repete como tradição em anos de eleição neste país. Na pertinente crítica de Isabela Boscov (Revista Veja, 16/9), o tema educacional do enredo cinematográfico surge didaticamente: "Na adaptação do livro... o diretor Sergio Rezende trabalha... explicando tim-tim por tim-tim o que se passava. E não é errado que o faça: em um país fadado, pela baixíssima escolaridade, a esquecer seu passado (no qual, às vezes, reitorias obtusas, ainda tocam fogo), Rezende e seu elenco... prestam um serviço inestimável ao passar a limpo um dos muitos rascunhos desavergonhados entregues à nação." É isso! Uma Espiritualidade natural pra refletir em "O Paciente" trata da oportunidade que somente a espécie humana tem de progredir como pessoa através da educação - pois todos fomos criados com um espírito consciente que movimenta a nossa personalidade racional, gente. Algo que nem sempre é valorizado pelas espiritualidades dos homens, numa opção ignorante que vai na contramão da essência interior da humanidade, que deveria reconhecer como virtude o aprendizado do ser humano. Veja que em 1955 os alunos universitários recebiam até 95 vezes mais que um aluno do ensino fundamental, sendo que mais de 50% dos brasileiros eram analfabetos. Situação que começou a mudar assim que a Constituição de 1988 definiu mais investimentos para a educação, o que fez com que o ensino fundamental chegasse a quase todos os brasileiros até o ano 2000. Infelizmente, nos últimos anos o Brasil decidiu investir mais no ensino superior e a educação básica voltou às ruínas, com alunos do ensino fundamental e médio sabendo ler 2% do que deveriam e aprendendo matemática um pouco melhor do que isso. A educação do povo brasileiro encontra-se numa situação sofrível enquanto milhares de professores tornam-se os arautos da esperança ao lutar diariamente sem apoio e com poucos recursos por um futuro razoável para a infância nacional, agindo contrariamente ao desprezo educacional que é a marca dos projetos da classe política brasileira. A Espiritualidade judaico-cristã da educação acredita que o aprendizado científico é um dom dado por Deus para que a humanidade produza uma cultura de trabalho e comunidade, que somente pode existir se os próprios homens vierem a construí-la - pois é impossível progredir socialmente sem um crescimento individual dos cidadãos que compõe a nossa nação. A realidade é que nenhuma ideologia e muito menos a política tradicional de Brasília irão investir pra valer na educação da nação brasileira, pois eles se alimentam da ignorância que oprime pra manter-se na dianteira do poder, alimentando-se do maior dos pecados do espírito, que é a própria vaidade da ego-idolatria. Eis o motivo pelo qual a opção dramática do diretor Sergio Rezende de esclarecer detalhadamente a experiência da enfermidade do político Tancredo Neves, fez seu filme ultrapassar a condição de ser somente um necessário recorte histórico, para tornar-se uma aula essencial da boa educação, exatamente pelo eficaz aprendizado que oferece aos espectadores de seu conteúdo. Bom filme!

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

a ESPIRITUALIDADE da ELEIÇÃO, no Cinema: O PACIENTE - O CASO TANCREDO NEVES

O urgente e necessário filme O PACIENTE - O CASO TANCREDO NEVES (Brasil, 2018), do diretor Sergio Rezende apresenta o drama pessoal e nacional dos últimos dias do presidente eleito que não assumiu o governo ao falecer devido à uma doença que ocultava há meses. Acontece que, se o drama pessoal de Tancredo Neves foi encontrar a morte ao invés de assumir a presidência, o verdadeiro drama nacional daquela ocasião foi que o povo brasileiro foi enganado como nunca e mal informado como sempre, num enredo que se repete especialmente em anos de eleição. Na pertinente crítica de Isabela Boscov (Revista Veja, 16/9), um tema essencial do filme surge didaticamente: "Na adaptação do livro... o diretor Sergio Rezende trabalha... explicando tim-tim por tim-tim o que se passava. E não é errado que o faça: em um país fadado, pela baixíssima escolaridade, a esquecer seu passado (no qual, às vezes, reitorias obtusas, ainda tocam fogo), Rezende e seu elenco... prestam um serviço inestimável ao passar a limpo um dos muitos rascunhos desavergonhados entregues à nação." É isso! Uma Espiritualidade natural pra refletir em "O Paciente" trata da oportunidade que somente a espécie humana tem de progredir como pessoa e personalidade através da educação - pois todos nós fomos criados com um espírito consciente e racional, gente. Algo que nem sempre é valorizado pelas espiritualidades dos homens, numa opção ignorante e opressora que vai na contramão da essência interior da humanidade, que deveria reconhecer como virtude o aprendizado do ser humano. Veja que em 1955 os alunos universitários recebiam até 95 vezes mais que um aluno do ensino fundamental, sendo que mais de 50% dos brasileiros eram analfabetos. Situação que começou a mudar assim que a Constituição de 1988 definiu mais investimentos para a educação, o que fez com que o ensino fundamental chegasse a quase todos os brasileiros até o ano 2000. Infelizmente, nos últimos anos o Brasil investiu mais no ensino superior e a educação básica voltou às ruínas, com alunos do ensino fundamental e médio sabendo ler 2% do que deveriam e aprendendo matemática um pouco melhor do que isso. A educação do povo brasileiro está sofrível e a partir daí, não há prosperidade que possa ser produzida por gerações incapazes de mover o progresso que somente uma sociedade edificada pelos próprios brasileiros pode realizar neste país. A Espiritualidade judaico-cristã da educação acredita que o aprendizado científico é um dom dado por Deus para que a humanidade produza uma cultura de trabalho social que somente pode existir se os próprios homens vierem a construí-la - pois é impossível progredir comunitariamente sem um crescimento individual dos cidadãos que compõe a tal sociedade, afinal. Enfim... estamos novamente num ano de eleições no Brasil. E assim como na eleição de Tancredo Neves, o povo brasileiro recebe informações irreais, e ainda ouve projetos enganosos a respeito da nação - pois as mentiras continuam ocultando as verdades e a educação que poderia separar umas das outras, continua sendo um programa de fachada nas mãos dos poderosos da ideologia. Bom filme!

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

a ESPIRITUALIDADE da MATURIDADE da INFÂNCIA, no Cinema: CHRISTOPHER ROBIN

"Há um tempo certo para cada atividade debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer... tempo de chorar e tempo de rir... tempo de procurar, e tempo de deixar de buscar... tempo de guardar, e tempo de jogar fora." E por aí vai... O negócio aqui gente, é que fora o primeiro "tempo" da lista, o resto não precisa ser definitivo, não! Ou seja, dá pra passar o dia de hoje bem sério e sorrir amanhã de manhã, e ainda dá tempo de dar uma gargalhada daqui dois dias, mesmo que na semana que vêm uma tristeza saudosa também apareça. A vida (normal) é assim! Acontece que o menino que se alegrava com o Ursinho Pooh cresceu, e está mais ranzinza do que nunca em CHRISTOPHER ROBIN - UM REENCONTRO INESQUECÍVEL (2018/EUA). Parece que o tempo da (de)pressão interior de quase todo mundo e da (re)pressão social dos dias de adulto chegou pra valer na alma no rapaz. E agora, Tigrão? Dá uma olhada na sinopse: "Christopher Robin (Ewan McGregor) já não é mais aquele jovem garoto que adorava embarcar em aventuras ao lado de Ursinho Pooh e outros adoráveis animais no Bosque dos 100 Acres. Agora um homem de negócios, ele cresceu e perdeu o rumo de sua vida, mas seus amigos de infância decidem embarcar no mundo real para ajudá-lo a se lembrar que aquele amável e divertido menino ainda existe em algum lugar." É isso. Segundo Carol Prado (G1), o enredo de Christopher Robin fala mais de adultos do que de crianças ao tratar da dura passagem para a vida adulta, sendo que o protagonista tornou-se o contrário do que era na infância: "um homem sem criatividade e sempre ocupado, para quem uma folga do trabalho parece algo inadmissível." Eis o momento em que Tigrão e Corujão, Leitão e o Coelho, e toda a turma deste interessante Ursinho Pooh de um filme de adultos, surgem na cena pra ensinar ao homem maduro que a vida é feita de todos os tempos de que pudermos bem participar, e pelos dias todos em que nossa vida durar. Sem esquecer, claro, que o tempo não para! A presença do Ursinho Pooh nesta obra que une live-action e animação torna-se um exercício constante de meditação existencial pois Pooh é uma espécie de conselheiro vivencial ancião numa aparência infantil melancólica - e haja (boa) reflexão por aqui! Segundo Isabela Boscov (Revista Veja), "o resultado (do filme) é mansinho: algo como uma versão do Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust para crianças". Por que não? A Espiritualidade natural e judaico-cristã essencial surge no enredo que conduz Christopher Robin da inicial depressão ("Nada faz sentido"), direto a um olhar libertador assim que enxerga as oportunidades relacionais variadas da existência (pois "há um tempo certo pra tudo debaixo do céu"), alcançando a boa compreensão de saber que as sensações da vida são distintas umas das outras, exatamente para preencher de experiências diversas o vazio interior da alma da gente. Pois afinal, "Deus colocou um senso de eternidade no coração humano" pra nos desafiar a sempre buscar dias melhores pra nossa história. Uma cena existencial das mais bonitas do cinema ocorre quando Pooh desafia Christopher Robin a se relacionar melhor com a vida, ao convida-lo para o mais simples dos jogos da infância: "Falar o que você vê" é o nome do jogo, uma brincadeira essencial pra vivência social de todos nós, que o Ursinho Pooh "joga" de maneira singela ao descrever olhando pela janela do trem a natureza esplêndida de cada dia, dizendo somente: "casa, nuvens, árvores...". "No fim, fica uma bela e bem-vinda lição de moral: nunca subestime o valor de não fazer nada e simplesmente não se preocupar." (Carol Prado, G1). Bom filme!

domingo, 2 de setembro de 2018

a ESPIRITUALIDADE da JUVENTUDE, no Cinema: FERRUGEN, de Aly Muritiba

"Uma combinação intrigante de drama familiar, suspense e conto moral", é como a ScreenDaily define o dramático novo filme do diretor brasileiro Aly Muritiba, que trata dos desencontros sociais causados pelos complicados encontros virtuais dos jovens nos dias atuais. Assim que a jovem Tati (Tifanny Dopke) perde o celular num fim de semana com amigos, logo na segunda-feira a escola inteira já decidiu que ela é uma vadia porque um vídeo da transa com um ex-namorado está agora disponível pra todo o povo nas redes sociais. Segundo a análise de Isabela Boscov (Revista Veja, 06/9), "começa aí, em FERRUGEM (Brasil, 2018), já em cartaz no país, um turbilhão que traga Tati com ferocidade espantosa, crescendo em força e perversidade à medida que o vídeo se espalha e viraliza." O resumo do enredo segundo a Variety, bem esclarece a profundidade e importância deste filme para os nossos tempos: um "drama sincero e resoluto de uma juventude em crise." É isso. A Espiritualidade natural de "Ferrugem" trata daquela incômoda culpa existencial que todo mundo leva na alma, e que pode nos tornar justiceiros violentos diante das situações que nos angustiam porque revelam da intimidade humana mais do que gostaríamos de saber. É sério! A Espiritualidade judaico-cristã do filme poderia vir junto de (boas) orientações para proteger nossos afetos enquanto cuidamos das carências e de (valiosos) provérbios acerca de como resguardar nossa individualidade de estranhos e até amigos das redes sociais que rápido se revelam inimigos. Mas, o assunto aqui é outro! Trata do princípio que Jesus começou a viralizar popularmente quando decidiu não condenar socialmente uma adúltera samaritana de 6 maridos, como igualmente não condenou uma adúltera prestes a ser apedrejada, que com sua desonra ao cônjuge afrontava a ordem social e familiar da região. Não mesmo! O negócio espiritual de Jesus era ensinar aos homens que todo juízo e bom tratamento da alma pertencem a Deus, ao mesmo tempo que orientava serem prerrogativas divinas toda e qualquer condenação social e relacional definitivas sobre as pessoas. Pois se é pra falar mesmo de possíveis desvios e fraquezas morais, Jesus veio falar direto e de uma vez por todas com os verdadeiros doentes. Logo avisando por aqui que o único saudável nessa história é o próprio Deus! Portanto, que atire a primeira pedra todo aquele que não for humano, tá entendendo? Parece incrível que uma raça que erra tão facilmente como a nossa, ainda se preste a condenar logo já amaldiçoando ao próximo - só porque os desacertos de todos nós ficaram visíveis (ou viralizaram) naquela vida (ou face) da gente. Mas, que droga, não? Veja que a própria juventude que a quase tudo experimenta e conhece nestes tempos de amizade fácil, é a primeira a derramar o sangue uns dos outros na arena virtual contemporânea de quase todo mundo - que desgraça! O desconforto do vazio da alma e a culpa das angústias morais da nossa eternidade jamais serão satisfeitos escolhendo bodes expiatórios de nossas fraquezas e pecados, só pra exibi-los em praça pública acompanhados de nossas piadas e maldades. Até porque essa maldição humanitária já foi resolvida numa sexta-feira santa há muito tempo atrás! A direção de atores e as decisões técnicas de filmagem tanto nos ajudam a vislumbrar a angústia atual da juventude, quanto nos permitem partilhar um drama comum da humanidade, que recai gravemente sobre os adolescentes e a moçada cada vez mais. Um reconhecimento ao diretor por essa interessante e necessária obra social sobre as opressões e desavenças da juventude virtual, de todos nós, os humanos. E como bem anotou, "The Hollywood Reporter": "Ferrugem constrói uma compreensão sutil de como algumas decisões ruins podem arruinar vidas." É verdade. Mas com tanta espiritualidade girando por aí, não precisava ocorrer com tanta frequência na vida da gente, não é mesmo? Boa meditação!

terça-feira, 31 de julho de 2018

DEUS GOVERNA O MUNDO ATRAVÉS DOS BONS E DOS MAUS: as INSTITUTAS do Cristianismo de J CALVINO, Vol 6, um resumo do Resumo de JPWILES

A obra teológica “Institutas” do reformador protestante João Calvino contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo. O tema deste sexto e último volume do Livro I é: DEUS GOVERNA O MUNDO ATRAVÉS DOS BONS E DOS MAUS. O texto a seguir é o volume 06 de 20, deste breve resumo extraído do Resumo de J. P. Wiles, escrito no ano de 1920 (Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP) As citações em destaque são do Resumo de Joseph Pitts Wiles. 17: O EMPREGO DA DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA DIVINA. “Ao controlar todas as coisas pela Sua providência, Deus às vezes opera mediante causas secundárias, às vezes sem elas, outras vezes até mesmo contra elas.” (p 93). Deus governa toda a humanidade através das bênçãos e disciplinas de Sua providência, em especial a sua Igreja, embora seus atos ocultos transmitam a ideia de que tudo acontece por acaso. O que não deveria nos impedir de reconhecer junto com Davi que Deus tem o controle completo de todas as coisas: “Quão grandes, Senhor, são as tuas obras! Os teus pensamentos, que profundos! Que preciosos para mim, Senhor, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles! Se os contasse, excederiam os grãos de areia: contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim.” (Sl 139. 17-18). Sempre que sofremos alguma aflição é necessário procurar a causa em nossos pecados, buscando logo o arrependimento, embora Jesus ensine que Deus sempre supera o ato de transformar nossas aflições em disciplinas, quando ensina acerca do cego de nascença: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”. (João 9.3). Eis uma situação em que vemos a glória do Pai como se a enxergássemos por um espelho, pois não se pode exigir que Deus preste contas a nós, ao contrário, devemos honrar os seus conselhos e a sua vontade soberana. A doutrina da Providência de Deus requer humildade para aqueles que a estudam, pois trata-se da Personalidade e caráter do próprio Deus do Universo. Observe que muitos homens não aceitam que Deus governe o mundo desta maneira, pois a razão deles é contrariada nisto, e por isso atacam o nome do Senhor. Até buscam não fazer isto diretamente, afirmando somente que não concordam com a exposição das Escrituras que temos feito; porém, ao negar que o Senhor governa tudo que existe, não conseguem explicar como a própria Palavra de Deus reconhece o quão profundas são estas verdades: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos!”. É necessário entender que muitos mistérios da Lei e do Evangelho são revelados ao povo de Deus assim que o Senhor nos ilumina na caminhada, como se fossemos amparados por uma lâmpada. Pois o que é profundo e insondável acerca do conhecimento do Senhor - na verdade, é o modo admirável como Deus governa o mundo. Conforme Moisés: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos.” (Dt 29.29). “A mente assim temperada para a reverência e a humildade não murmurará contra Deus por causa das calamidades que sobrevieram à humanidade em tempos passados; nem culpará Deus por crimes que o homem cometeu, dizendo com Agamenom na Ilíada: “A culpa não é minha; Os culpados são o Céu e o Destino.” O homem de coração humilde preferirá buscar a vontade de Deus, e cumpri-la mediante a ajuda do Seu Espírito.” (p 95). Salomão ensina que os projetos futuros do homem operam em conjunto com a providência de Deus: “O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.” (Pv 16.9). E aqui aprendemos que é necessário exercer providência por nós mesmos, ao mesmo tempo em que colocamos toda nossa existência nas mãos de Deus. Pois Deus também nos responsabilizou por ela, para que cuidemos dela com precauções e toda assistência. “Se Deus entregou a nós o cuidado da nossa própria vida, devemos zelar por ela; se fornece meios, devemos usá-los; se nos adverte de antemão dos perigos, não devemos temerariamente correr ao encontro deles; se fornece remédios, não devemos negligencia-los.” (p 95). Mas cuidado com a falsidade e o engano acerca deste conhecimento, pois todo homem que roubar alguém que Deus colocou em pobreza, e todo homem que assassinar aquele para quem o limite da vida definido por Deus já chegou; pois bem, saibam que estes criminosos não estão “sujeitos à vontade de Deus”. Mas sim, a seus próprios desejos malignos. Um coração cristão sempre irá reverenciar o Senhor em primeiro lugar pois sabe que tudo está sujeito ao seu governo. Mas não irá ignorar as causas secundárias. Pois Deus irá mover e direcionar, fazer acontecer e frustrar os planos dos bons e dos maus, cuidando sempre da segurança dos cristãos: “Confia os teus cuidados ao Senhor, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado (Sl 55.22); e igualmente conforme 1 Pedro 5.7, Salmo 91.1, Zacarias 2.8 e Isaías 49.15. Pois Jesus afirma que nem um pardal cai por terra a não ser pela vontade de Deus, só para esclarecer que maior cuidado o Senhor do Universo tem pelas nossas vidas, sempre! Os corações dos homens estão sob o controle de Deus, pois “Ele deu aos israelitas graça aos olhos dos egípcios. Derrotou o conselho de Aitofel quando este ameaçava destruir Davi. O diabo nada podia fazer contra Jó sem a permissão divina.” (p 97). “O conhecimento de tais verdades como estas, nos tornam gratos na prosperidade, pacientes na adversidade e maravilhosamente confiantes da nossa segurança futura.” Quando os homens são bondosos conosco, sabemos que Deus lhes moveu assim para nós. E durante as boas colheitas, saberemos que Deus igualmente agiu nos céus, na terra e nos seus produtos (Oséias 2.21-22). Durante as dificuldades, iremos olhar para Deus e seu governo delas, a fim de andar com paciência e submissão; como fez José, que ao viver suas lutas debaixo da providência de Deus, perdoou seus irmãos, reconhecendo que Deus transformara todo aquele mal em bem. “Mas embora a vontade de Deus seja a grande causa primária, assim como está escrito; “Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz, e crio o mal; eu o Senhor, faço todas estas coisas.” (Isaías 45.7), nenhum homem piedoso fechará seus olhos às causas secundárias.” Ao mesmo tempo em que honramos a Deus pela bondade dos homens, também seremos gratos às pessoas que são boas conosco. “Se sofrer perda mediante sua própria negligência ou descuido, culpará a si mesmo, embora reconheça nisto a mão de Deus.” (p 97). Pois ainda que Deus determine o tempo de duração da vida dos homens, a negligência pela falta de cuidado com os doentes é uma responsabilidade humana. “Não fará abuso da doutrina da providência de Deus para apresentar desculpas por nenhum pecado.” O cristão deve ficar atento às causas secundárias especialmente quanto ao seu futuro, aproveitando o que a bondade de Deus lhe oferece para se proteger, cercando-se de conselhos e toda assistência, utilizando tudo que a providência divina fornece à existência humana. Somente assim ficaremos livres da presunção da soberba, voltando-nos para a oração e para a confiança que nos coloca junto de Deus em meio aos perigos. “Nisto aparece a felicidade inestimável daqueles que temem a Deus. A vida do homem é ameaçada por inúmeros perigos.” (p 98). Nosso próprio corpo carrega milhares de germes e doenças, e em qualquer lugar e situação a morte está por perto – nos meios de transporte e viagens, caminhando ao sair de casa ou utilizando talheres. Até dizemos que raramente tais desgraças ocorrem conosco, mas a verdade é que elas acontecem neste mundo, sim. Eis o motivo pelo qual não devemos viver debaixo do medo do acaso, pois seria uma existência miserável. Nesta cosmovisão, o homem cristão irá buscar refúgio da opressão emocional nas próprias mãos de Deus, a fim de se consolar no governo da vontade e do poder daquele que faz tudo se cumprir conforme sua ordenação. Diz o salmista: “Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa. Cobrir-te-á com as suas penas, sob suas asas estarás seguro...”. (Sl 91). E ainda, “O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que mal poderá fazer o homem?” (Hb 3.6). Devemos lembrar que tanto o diabo quanto os homens maus somente irão pensar e agir maldosamente contra nós “na medida em que Deus permite, ou melhor, ordena.” (p 99). Eis a razão pela qual ignorar a Providência de Deus é a maior das infelicidades! Agora, “é necessário notar algumas passagens das Escrituras que parecem subentender que o propósito de Deus é mutável. Às vezes o arrependimento é atribuído a Ele: “Então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem.” (Gn 6.6). “Arrependo-me de haver constituído rei a Saul.” (1 Sm 15.11). “Se a tal nação se converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe.” (Jr 18.8). Pois parece que ao tomar conhecimento de que Deus cancela seus decretos - como para a cidade de Nínive, ou quando informa para Ezequias que ele iria morrer - e então lhe acrescenta outros 15 anos de vida; logo entendemos que as ações de Deus parecem não estar bem definidas; e que Ele prefere governa-las momento a momento, segundo o transcorrer das situações. “Devemos, no entanto, lembrar-nos que o arrependimento, no sentido rigoroso do termo, subentende a ignorância, o erro ou a falta de poder.” (p 100). Portanto, será que iremos chamar Deus de ignorante, incapaz ou precipitado? “Mas isto está tão longe de ser a mente do Espírito Santo, que no próprio trecho em que fala do arrependimento divino, diz: “Também a Glória de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é homem, para que se arrependa.” (Samuel 15.11, 29). É preciso entender que a expressão “arrependimento” quando se refere a Deus, tem mais a ver conosco do que com a Pessoa do Senhor, pois “Ele é descrito de uma maneira adaptada à nossa capacidade. Ele Se representa a nós, não conforme é em Si mesmo, mas conforme nos parece que Ele é.” Pois embora Deus não tenha sentimentos apaixonantes, nós lemos que Ele tanto se ira quanto se zanga, só para nos recordar como a descrição d´Ele mesmo se adapta ao nosso entendimento. “Assim também quando se diz que Deus Se arrepende, devemos entender que o significado é que visivelmente Ele altera Seu curso de ação.” (p 100). Veja que ainda que Deus jamais modifique seu propósito e sempre faça cumprir plenamente seus decretos, aos nossos olhos irá parecer que houveram algumas mudanças. Quando Deus enviou Jonas aos ninivitas e Isaías ao rei Ezequias, a vontade do Senhor era a reforma da cidade e o livramento do rei – pois estes eram os objetivos da profecia de Jonas e da mensagem de Isaías. A real satisfação do Senhor era despertar nos homens de Nínive o arrependimento para livra-los do juízo. “E assim, o desafio de Isaías (Is 14.27) sempre permanece irrespondível: “Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? E a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?”. 18: DEUS EMPREGA DE MODO JUSTO OS AGENTES ÍMPIOS. “Uma dificuldade maior nos é apresentada por aquelas passagens das Escrituras onde se diz que o próprio Satanás e todos os ímpios são controlados e dirigidos pela vontade de Deus.” (p 101). É muito difícil compreender a partir da razão humana como Deus opera através das atitudes dos maus, sendo que a culpa de seus atos será totalmente deles, e que caberá ao Senhor julga-los justamente pelo que praticaram. “Para enfrentar esta dificuldade, alguns inventaram uma distinção entre aquilo que Deus faz e aquilo que Ele permite.” Mas esta boa intenção é desprezada por Deus, posto que o próprio Senhor assume ter ordenado que estas coisas deveriam acontecer deste jeito. Pois tudo ocorre segundo os decretos de Deus, cfe diz o salmista: “No céu está o nosso Deus, e tudo faz como lhe agrada.” (Sl 115.3). Veja como as ordens que Satanás recebe acerca de Jó provém de Deus, igualmente ao que acontece com os santos Anjos do Senhor. Uma verdade reconhecida por Jó: “o Senhor o deu, e o Senhor o tomou.” E foi da vontade de Deus que um espírito saísse para enganar Acabe, pois lhe disse o Senhor: “Tu o enganarás, e ainda prevalecerás; sai, e faze-o assim.” “Se a cegueira e a estultícia de Acabe lhe sobrevieram como julgamento da parte de Deus, a teoria de uma simples permissão é vã; porque seria absurdo para um juiz meramente permitir a execução de uma sentença, e não decretar que fosse executada.” (p 102). E ainda que os judeus desejassem a morte de Jesus, assassinato que ocorreu através de Pilatos e dos soldados, eis “que os ímpios fizeram somente o que a mão de Deus e o Seu propósito predeterminaram (At 4.27-28).” (p 102). Salomão ensina que ocorre no coração do rei uma ação divina que Deus realiza em todos os homens, inclusive ao tratar dos interesses pelos quais orientamos nossos pensamentos. “Nada pode comprovar isto mais claramente do que o fato de que Deus tão frequentemente nos diz que cega as mentes dos homens, aflige-os com delírio, derrama sobre eles o espírito do sono, fere-os com loucura, endurece seus corações (Romanos 1.26 e 11.8).” Veja que não se trata da “vontade permissiva de Deus”, pois o Espírito Santo declara que a loucura dos maus é uma sentença do juízo do próprio Deus. O importante deste assunto é que somente dissemos o que está claramente exposto nas Escrituras. Portanto, quem despreza este conhecimento alegando que está acima da nossa compreensão rebela-se contra a própria autoridade de Deus, pois assume que decidiu pensar diferente ou que prefere nada saber desta doutrina. “Tais insolentes descobrirão que as palavras de Davi são verídicas, que Deus “será tido por justo... no seu julgar.” (Sl 51.4). “Tem-se argumentado que, se nada acontece senão segundo a vontade de Deus, então Ele deve ter duas vontades contrárias, pois secretamente decreta o que na Sua lei abertamente proíbe.” (p 103). Trata-se de um engano fácil de resolver, mas antes, é importante lembrar que foi o próprio Espírito Santo que ensinou Jó a dizer: “O Senhor o tomou”, quando salteadores o despojaram de seus bens.” É importante compreender que os filhos de Eli desobedeceram a seu pai porque o Senhor resolveu que os dias de suas vidas deveriam terminar, e que Herodes e Pilatos conspiraram juntos para fazer o mal, a fim de realizar um propósito determinado por Deus (Atos 4. 27-28). A vontade de Deus é única e jamais se modifica, portanto, qualquer confusão que fizermos terá origem, sim, na pequenez do nosso entendimento. Agostinho: “Alguns homens têm bons desejos que não estão de acordo com a vontade de Deus, e outros têm maus desejos que estão de acordo com a vontade de Deus.” Observe que um filho bom agrada ao Senhor quando deseja que seu pai viva, embora a vontade de Deus seja sua morte. E um filho mau desagrada a Deus quando deseja a morte de seu pai, embora está seja a vontade do Senhor. Veja como “Deus às vezes cumpre Seus propósitos justos mediante os maus propósitos dos ímpios.” Agostinho disse que tanto os anjos apóstatas quanto os homens ímpios praticaram o que era contrário à vontade de Deus, mas não agiram contra a vontade da Onipotência de Deus – pois isto é impossível! Eis a maneira como eles praticam atos contrários a Deus ao mesmo tempo em que cumprem a vontade do Senhor. “Acrescenta que um Deus bom não permitiria que o mal fosse feito, a não ser que um Deus onipotente pudesse transforma-lo em bem.” (p 104). Mas, “se Deus não somente emprega a instrumentalidade dos ímpios, como também governa seus planos e paixões, porventura não seria Ele o autor de todos os seus crimes? E quanto aos homens que estão sujeitos à sua vontade, não estariam injustamente condenados por cumprirem seus decretos? Este falso raciocínio confunde a vontade de Deus com Seu mandamento, embora fique evidente por muitos exemplos que há uma diferença muito grande entre eles.” (p 104). Veja que o adultério de Davi foi vingado pela imoralidade de Absalão conforme a vontade de Deus, mas o Senhor não ordenou que Absalão praticasse tal corrupção. E “quando o rei disse: “Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou;” (2 Sm 16.11) de modo algum recomendava Simei por sua obediência a Deus,”. Mas sim, se submetia ao que sabia ser um juízo da vontade de Deus para com ele. Precisamos estar convictos de que os ímpios que desobedecem aos mandamentos do Senhor não se tornam inculpáveis em razão de Deus ter se utilizado deles para cumprir os juízos de seus decretos. “É sábio abraçarmos com mansidão e humildade tudo quanto é ensinado nas Sagradas Escrituras.” (p 104). (páginas 93 a 104)