quarta-feira, 26 de abril de 2017

a ESPIRITUALIDADE da Sabedoria, MÍSTICA (1)

Dizem que Sabedoria é a capacidade de saber o jeito certo e decidir pelo melhor lugar e horário para tratar o tema necessário junto da pessoa mais importante da situação. Daí a questão: será que é possível alcançar essa sabedoria pra vida por meio de uma experiência espiritual mística? Veja que não se trata de uma experiência apenas espiritual ocorrendo em nosso interior, algo somente individual. Não é isso. Trata-se de uma vivência espiritual, sim, mas que vai acontecer por meio de um relacionamento místico. Ora, relacionamento místico é um encontro entre dois espíritos que habitam dimensões diferentes do mundo. E o resultado final deste contato "místico" deve ser que iremos sair dele mais sábios, do que antes. É isso. Lembrando que não vale a ideia de que os dois espíritos que vão se encontrar sejam ambos, de seres humanos "vivos". Até porque esse tipo de relacionamento físico-espiritual já temos todos os dias. Ou seja, um relacionamento espiritual místico só vai acontecer quando um ser humano vivo por aqui se encontrar com um espírito que já não vive mais por aqui, ou nunca viveu, no planeta Terra. Há um bom número de religiões e filosofias espirituais que convocam seus seguidores para praticarem um relacionamento assim, espiritual místico. Algumas religiões orientais indicam um contato místico entre nós e algum parente já falecido, para que nos seja possível obter algum tipo de conhecimento. Algumas filosofias espirituais orientam a invocação de espíritos já mortos, conhecidos da gente ou não, pra buscarmos certas informações. Uma diferença importante pra destacar agora é que tanto as religiões orientais como algumas filosofias espirituais ensinam que assim que este encontro espiritual e místico acontecer conosco, também iremos receber uma informação ou conselho, e pronto. A partir daí vamos viver a vida por nós mesmos, tentando aproveitar a orientação recebida da melhor forma possível. Mas não é bem sobre esse tipo de Espiritualidade da Sabedoria Mística que eu desejo pensar hoje, não. Pois eu pretendo ir um pouco mais além nesta reflexão espiritual, sim. Estou falando de um encontro espiritual e místico que deve durar por algum tempo. O relacionamento precisa ocorrer por alguns dias e assim vamos permanecer em contato com o outro Espírito conforme a nossa necessidade. O objetivo de se manter na experiência mística por mais tempo é para que esse encontro tenha condições de produzir a sabedoria que precisamos. Pois não é sempre que somente uma informação ou bom princípio será suficiente pra nos ajudar a definir o melhor momento e o jeito certo de tratar uma determinada questão, certo? Há situações da vida em que precisamos de algo mais do que apenas informações e provérbios, mandamentos ou conhecimentos misteriosos pra que a gente consiga vivê-las com Sabedoria. Afinal, como já se disse por aqui: Sabedoria é a capacidade de saber o jeito certo e decidir pelo melhor lugar e horário para tratar o tema necessário junto da pessoa mais importante da situação. Daí a questão: será que é possível alcançar essa sabedoria pra vida por meio de uma experiência espiritual mística? Bem, a primeira orientação pra participar desse relacionamento espiritual é de que precisamos comparecer nele com o nosso espírito, integralmente. Pois é preciso ser sincero e também introspectivo na hora de desenvolver esse contato místico. E o outro Ser, a pessoa somente espiritual com quem vamos nos encontrar; bem, ele precisa participar com a sua presença. E também com Sabedoria! Penso que é por aí que esse relacionamento espiritual e místico, vai ser, pra valer, um relacionamento que vai nos trazer alguma Sabedoria pra vida. Então, tá quase tudo pronto, certo? Pra desenvolver um relacionamento espiritual de Sabedoria mística precisamos achar um Ser espiritual que deseje participar da nossa vida. Alguém que deve ser Sábio, e também, que precisa estar a fim de compartilhar sua Sabedoria conosco, mortais finitos. E não se pode esquecer: este relacionamento tem que se manter por alguns dias e até semanas. Não pode ser algo de um momento só, não. Caso contrário, será mais informação. E menos Sabedoria. Se você assistiu o filme A Cabana, vai ficar mais fácil imaginar um tipo de contato espiritual desse tipo. Isso porque o relacionamento que a história desenvolve é exatamente o encontro de um ser humano junto da Pessoa de Deus - o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que tornam-se figuras humanas lá na filme. Então, agora, pense: e se este encontro fosse "somente" espiritual? E se a Pessoa de Deus Pai viesse nos encontrar somente por meio do seu Espírito, sem um corpo físico junto? Você consegue imaginar isso? Então, é disso que estou falando. Um relacionamento espiritual místico vai acontecer mais ou menos desse jeito. Tá entendendo? O Apóstolo São Tiago ensinou o que devemos fazer pra experimentar esse tipo de contato espiritual místico de Sabedoria. Olha o que ele disse: "Se vocês não souberem lidar com a situação por falta de sabedoria, orem ao (Deus) Pai. É com muita alegria que ele os ajudará! Vocês serão atendidos, e não serão ignorados quando pedirem ajuda." Ou seja, é só você iniciar a Oração do Pai Nosso, que diz: "Pai Nosso que está nos céus...". E logo depois, ao dizer: "Venha o teu reino e seja feita a tua vontade - você já pode incluir um outro pedido ali mesmo na oração, dizendo: "Eu preciso de Sabedoria para tal situação e diante de tal pessoa...". Pronto! É isso. Pois Jesus mesmo garantiu que qualquer ser humano que chamasse por Deus Pai pedindo a presença do Espírito Santo sobre si - receberia a visita desse Espírito, sim. Ao fazer esta prece por alguns dias e semanas, penso que você irá desenvolver um relacionamento espiritual e místico mais constante, algo que vai lhe trazer Sabedoria durante algum tempo. Não serão só algumas informações e conselhos. Mas, enfim, semana que vêm, continuamos. Enquanto isso, espero que você tenha uma boa experiência espiritual, e mística de Sabedoria.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

a TEOLOGIA de A CABANA, o filme. A cultura deve ser religiosa?

Assim que assisti ao filme A CABANA no cinema, fiquei sensibilizado pela representação que demonstra como é fácil aos seres humanos desenvolverem um relacionamento direto e real junto da Pessoa de Deus. Ao ver o filme pela segunda vez, me emocionei ao descobrir como as Pessoas do Deus Pai, Filho e Espírito Santo se importam conosco. Um sentimento que demonstram ao cuidar de nós sempre levando em conta quem somos, e também, o que sentimos. Foi a partir destas saudáveis experiências que decidi meditar acerca de certos questionamentos que A Cabana tem gerado, tanto para os bons, quanto para maus debates. Por isso, escrevi este texto: "a Teologia de A Cabana, o filme." Então, se você já leu o livro ou viu o filme - sigamos em frente! O tema que me parece o principal ao analisar as virtudes e defeitos do filme, enquanto uma produção da cultura popular que utiliza conteúdos religiosos em seu enredo dramático, trata exatamente da pergunta que se tornou, também, sub-título deste texto: "A cultura deve ser religiosa?" Proponho tal questão, porque: afinal de contas, será que nossa cultura deve (ou conseguirá) um dia, ser laica? Ou será que nós, os espirituais, sempre iremos correr atrás de uma cultura religiosa pra oferecer à sociedade? De certa forma, ao entender que "cultura" é tudo que o homem cria e organiza a partir do que Deus lhe destinou pra ser e fazer neste mundo. Então, dá pra concluir que tanto o Estado e a educação, como igualmente todas as artes e tudo mais que forma a sociedade, devem ser incluídos como pertencentes a este termo designado, "cultura humana", certo? Daí, eis a questão: será que nossa cultura deve ser somente religiosa? Ou, ao contrário, devemos atuar para que toda a cultura seja um dia, humanista e social, ainda que espiritual? Laica, portanto. Veja bem, caso nos seja possível organizar uma (boa) cultura religiosa, certamente iremos razoavelmente controlar o aumento progressivo (aparente) do que se considera "pecado" na sociedade. Uma realização confessional interessante, sem dúvida. Mas, seria esta, então, a melhor e mais saudável missão espiritual que as religiões tem pra edificar na sociedade dos homens? E até mais do que isto: será que a decisão por controlar a sociedade à luz da gerência da religião que domina o momento, não irá diretamente esvaziar todo bom traço saudável de espiritualidade que estas religiões pretendiam em nosso mundo propagar? Que é a própria missão essencial das religiões na história da humanidade. Até acredito que o desejo de organizar religiosamente a sociedade surja a partir de um bonito sentimento confessional, oriundo das mais puras e boas intenções dos grupos institucionais. Ao mesmo tempo, entendo que tal objetivo se desenvolve a partir de orientações recolhidas de seus textos e mandamentos... doutrinários. Mais do que a partir de seus princípios missionários... que são sua mensagem Profética, afinal. Por exemplo, pensando no contexto religioso cristão: será que o fiel deve organizar a sociedade conforme as definições doutrinárias das cartas do Apóstolo Paulo? Ou, então, ele deve oferecer sim, um bom testemunho de sua fé a partir dos mandamentos morais de Jesus? Pois a doutrina sempre existiu no objetivo de ensinar a igreja a testemunhar com fidelidade, e não para que a instituição pudesse controlar a sociedade. Uma postura confessional que propõe o governo religioso da sociedade quase sempre gera um esquecimento e desapego aos valores missionais da fé. Exatamente aqueles que um dia se pretendia anunciar e propagar através do estilo de vida. Pois somente seremos Sal e Luz - conforme se ensina no Sermão do Monte, a partir de testemunhos morais e caridosos. Jamais, a partir dos religiosos doutrinais. E desenvolvendo a reflexão, entendo que parte da dificuldade religiosa em bem conviver com produtos culturais que expõe publicamente outras visões acerca de Deus e das doutrinas. Pode originar de uma fé religiosa que, mal resolvida em seu propósito essencial de estabelecer pra si uma práxis eficaz de si mesma, busca alívio deste desconforto a partir de uma forte proteção institucional extra-muros. Ou seja, ao perceber sua fraqueza espiritual, já que não consegue dar bom testemunho do que acredita ao mundo; decide então, se reorganizar, através de um fortalecimento que ocorre pela gerência de suas regras institucionais, no mundo. Que é exatamente o projeto que decide controlar a sociedade através da religião, ao invés de nela atuar como um bálsamo espiritual, ofertando-lhe as novidades existenciais oriundas de sua fé essencial. Quando algo assim ocorre, amigos, é hora de começar de novo. De verdade. Neste aspecto, valorizo muito o filme A Cabana. Pois desenvolve quase que somente uma espiritualidade relacional - o que, no caso do Cristianismo, é o supra sumo da comunhão com Deus oferecida ao homem pela fé cristã. Enfim, dentro deste outro objetivo do texto, que é o de analisar o filme segundo o contexto da Fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, gostaria de começar pela CENA QUE TRATA do desafio que Deus Pai faz a Mack para que perdoe o assassino de sua filha. A orientação dada a Mack é no sentido de que haja o perdão para que dois objetivos sejam alcançados: ele irá tanto afrouxar a corda que aperta o pescoço do assassino, libertando-o para que siga em frente com sua jornada existencial. Como também, o perdão precisa ser dado a fim de que ele próprio, Mack, consiga livrar-se deste relacionamento enlaçado que ora o mantém preso ao assassino. E somente a atitude de perdão é que vai transformar a situação de vida em que hoje ambos se encontram. Então, além de nada perceber de anormal nesta situação dramática, é possível até algo essencial recordar com ela. Afinal, a conversa espiritual mais didática que podemos travar com Deus, oriunda dos ensinos do "Pai Nosso", efetivamente nos desafia a duas petições, que são praticamente uma só: "Perdoa-nos... Assim como nós também perdoamos." UMA segunda QUESTÃO acerca do filme trata das escolhas das raças e personalidades através das quais o autor decidiu artisticamente apresentar as três Pessoas da Trindade de Deus. Neste aspecto, parece-me que algumas escolhas são bem interessantes e viáveis, até biblicamente, como nos casos daqueles que representam Jesus e o Espírito Santo. Já a escolha para que a Pessoa de Deus Pai se fizesse representar por uma figura materna, acredito que há bom entendimento de que esta decisão do autor foi essencialmente dramática, a partir da visão de como iria desenvolver melhor o seu enredo. Não encontro qualquer relação desta escolha autoral de A Cabana, com alguns pensamentos contemporâneos que desejam modificar os sexos da Trindade no objetivo de que Deus melhor represente a diversidade sexual da humanidade. Eu até manteria o homem pai da parte final da história como a Pessoa de Deus Pai por todo o filme. Porém, reconheço que tanto o contexto dramático da história narrada, e, principalmente, a liberdade autoral que se deve dar a um contador de histórias que organiza suas próprias ilustrações e metáforas como lhe apraz. Bem, são princípios válidos de respeito aos artistas, reconhecendo até, que não há corrupções doutrinárias razoáveis no que decidiu-se realizar. Uma OUTRA CENA que merece nossa atenção é a que desenvolve o encontro do protagonista adulto, Mack (Mackenzie) com seu pai já falecido. As críticas à esta situação do filme surgem das seguintes ideias: do fato de ocorrer um encontro bi-dimensional entre o filho adulto ainda vivo em nosso mundo, junto de seu pai já falecido em nossa dimensão histórica. Algo que, ou não poderia acontecer desta forma, ou é apresentado de modo errôneo. Embora, importante lembrar, trata-se de uma situação que somente existiu a partir da presença e poder de Deus junto deles. Neste caso, sendo Deus quem é - o próprio Todo Poderoso. E respeitando, ainda, o objetivo dramático que o diretor deseja apresentar, penso que não há nada grave ou negativo neste encontro, não. Trata-se de uma reunião transcendental de seres humanos que agora existem em épocas distintas do tempo, sim, a fim de que Deus cumpra um propósito divino para com eles. Algo que já ocorreu até na bíblia, quando Deus uniu as pessoas de Moisés, Elias e Jesus. Uma outra dificuldade deste encontro entre o filho vivo e o pai morto seria uma certa afirmação, ainda que abstrata, de que a humanidade inteira vai viver junto com Deus na eternidade. Sem que se leve em conta a história de vida das pessoas, ou, eis o ponto essencial - a Fé delas em Deus. Porém, o contexto da situação é tão somente o encontro entre Mack e seu pai, nada mais do que isso. Não há nada na cena que proponha algum ensino ou doutrina que vá além disto. E acerca do fato de vermos reunidos diante de Deus todos os tipos de pessoas da humanidade, e isso em um tempo diverso que se prolonga desde a morte deles até a data do retorno de Jesus à Terra. Bem, parece-me ser esta uma realidade igualmente bíblica. A própria condição da humanidade que já morreu, de existir atualmente junto da Pessoa de Deus: ora, trata-se de uma possibilidade real a partir do anúncio dado ao criminoso na cruz, de que naquela mesma tarde de sexta-feira estaria ele com Jesus lá no paraíso. Neste sentido, penso ser possível afirmar que se trata de uma cena que pouco modifica ou acrescenta de novo ao que a própria bíblia diz, vez ou outra, acerca de situações de encontros humanos atemporais e bi-dimensionais, diante de Deus. A única novidade da cena está no ponto de vista com o qual tanto o escritor, como o diretor buscaram desenvolver o enredo da história a fim de atingir seus objetivos dramáticos. Parece-me uma questão somente cultural. UMA quarta SITUAÇÃO problemática poderia surgir do encontro entre Mack e a personagem "Sabedoria", cena em que ele aprende um pouco (bastante) a respeito do modo como Deus governa o problema do mal no mundo. Penso que tudo que ali se ensina está de acordo ao exposto nos livros sapienciais das Escrituras. Sem esquecer que a Sabedoria já foi personificada na própria bíblia, no bom propósito de oferecer uma melhor compreensão de sua Verdade enquanto a melhor orientação ao bom destino da humanidade. Até o posicionamento (ilustrativo) de Mack ao propor seu auto sacrifício a fim de que nenhum de seus filhos seja condenado ao inferno, ora, creio ser esta uma excelente metáfora acerca do que efetivamente Jesus realizou na cruz pelos homens de fé. Um ensino que praticamente vale o filme. Se quiser saber algo mais acerca das questões que envolvem cultura e espiritualidade, indico o texto deste blog: Uma boa espiritualidade para a nossa religiosidade. É isso,amigos. Bom filme!

sexta-feira, 7 de abril de 2017

a ESPIRITUALIDADE no Cinema: MELANCOLIA, de Lars Von Trier

"Em caso de colisão entre o Melancolia e a Terra, é certo que nosso planeta não sobreviverá externamente, mas o que o cineasta dinamarquês busca mostrar é que internamente a situação já está à beira de uma catástrofe."(Lucas Salgado). Se a Nouvelle Vague (1960) de François Truffaut e Jean-Luc Godard arrancou a câmera do interior dos estúdios de cinema e a colocou direto nas ruas e praças do exterior social humano, o Movimento Dogma 95 limpou os cenários cinematográficos das luzes e sons manipulados pra levar o espectador direto aos sentimentos da alma dos personagens: "Em 1995 os dinamarqueses Lars von Trier e Thomas Vinterberg fazem "um voto de castidade" artístico com o Manifesto Dogma 95." (O Livro do Cinema, Globo) Daí que o definitivo filme apocalíptico de Lars von Trier, MELANCOLIA (2011), com Kirsten Dunst (melhor atriz em Cannes) e Charlotte Gainsboug, aplica nas telas - e projeta direto na veia, uma hecatombe familiar. E já que falamos de um cinema purista em seu propósito autoral de apresentar as sensações humanas mais íntimas, nada melhor que ler, logo de uma vez, parte da objetiva crítica de Lucas Salgado (AdoroCinema): "A maioria das cenas passadas durante o jantar é realizada com a câmera na mão, passando ao espectador a sensação que ele é mais uma daquelas figuras inquietas presentes no salão... A direção de arte e o figurino também chamam muito a atenção e deve surpreender aqueles que conhecem apenas o lado mais minimalista do cinema de von Trier, como Dogville... Não existem soluções simples em Melancolia ou qualquer tipo de redenção. É um longa único, como costumam ser os de von Trier, que deixa o espectador quase que num transe após a sessão. Você pode até não gostar, mas é difícil não se envolver." A primeira parte do filme expõe a amplitude da depressão existencial da protagonista ao tratar da sensação que a domina nos projetos mais comuns de sua vida, particularmente seu casamento e os necessários convívios comunitários que vêm junto da celebração. Uma depressão crescente que irá se transformar em serenidade assim que um desafio existencial maior, e definitivo, aponta no horizonte de todos os personagens - o fim do mundo e a morte de toda a humanidade. De repente, eis que tudo muda! Pois enquanto a protagonista se ergue das cinzas pra bem conviver em família cada novo dia que têm, seus parentes e vizinhos apenas esperam sobreviver enquanto permanecem com os olhos gravados na dança de morte dos planetas. Já que estes orbitam agora, sempre próximos de uma colisão entre si. A condenação do planeta Terra e o Juízo final da população do mundo estão perto demais, pra ser mentira. Eis o modo brilhante como o diretor von Trier torna perceptíveis alguns sentimentos contraditórios da humanidade, o que realiza através de uma metáfora tão grandiosa, que quase nega ao autor seus princípios autorais. Só que não. Fala, então, Thiago Siqueira: "Comumente, a depressão é explicada pelo desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor. Essa colocação fria e lógica não chega aos pés dos efeitos reais dessa condição em uma pessoa e aqueles que a cercam. Nisso, o diretor Lars von Trier se livrou das amarras da sutileza e colocou brilhantemente neste seu novo trabalho uma metáfora clara da depressão: é um planeta atingindo nosso mundo. (...) Melancolia absorve parte do ar da Terra, tornando difícil a respiração. Seu empuxo gravitacional atrai tudo o que estiver próximo e seu impacto em outros corpos não apenas os destrói, mas como parece também absorvê-los." (Cinema Rapadura) Enquanto a história permanece desenrolando direto do projetor de cinema, a "sensação" da depressão também se torna cada vez mais conhecida dos espectadores. Algo que ocorre através de uma proximidade que perturba não por compartilharmos a opressão do outro, mas sim, pela familiaridade que há entre o que se vê na tela com a nossa pessoal dor existencial. Pois a angústia particular da protagonista tornou-se uma ansiedade comunitária da humanidade, assim que certa futilidade inexplicável da vida se fez aparente por meio da chegada do fim, de todos nós. Chegou o Apocalipse! Uma expressão outrora preocupante que virou marketing temático do fim do milênio, de tal forma que hoje poucos com ela se surpreendem, ou atemorizam. Isso até que o filme "MELANCOLIA" nos traz de volta para uma realidade, sim, inescapável da humanidade. A nossa data final! Mas, afinal, o que ensina mesmo a boa Espiritualidade sobre o fim dos tempos - da humanidade? Bem, o que já dá pra dizer, sem estragar a surpresa, é que a cena final de MELANCOLIA tem muito a ver com a cena inicial do mais conhecido Apocalipse de todos - o bíblico! Mas, se ambas as cenas são parecidas, algo fundamental pra saber do fim dos tempos judaico-cristão da humanidade é que... o anunciado Reino de Deus vai um dia chegar inteiro por aqui, sim. Bem definitivo e de uma vez por todas! A primeira revelação essencial é que trata-se de um final, certamente, mas apenas daquilo que chamamos, "a presente época". Não é o fim dos tempos ou da vida, não. Pois está mais para uma transformação do que para extinção. Isto porque o Apocalipse vai promover uma mudança definitiva da autoridade que domina o modo como a vida humana deve acontecer, e ser neste mundo. Só pra melhor entender: assim que Jesus andou pela Palestina curando doentes e livrando pessoas de espíritos malignos, foi quando descobrimos pela primeira vez que o reino dos "céus" estava atuando no planeta Terra. Ou seja, havia um novo monarca na região. Um soberano poderoso cujo alcance de autoridade era comprovado através das boas ações de Jesus pela humanidade. Portanto, os "céus" que no fim dos tempos vão chegar inteiramente pra cá, são exatamente os mesmos daquele reino dos "céus" que um dia Jesus já inaugurou por aqui. O que vai acabar de uma vez por todas no final dos tempos, então, é exatamente esta "presente época" de uma vida bastante distante de Deus, e de seus cuidados e verdades. Haverá uma renovação existencial da história dos homens que a esperança cristã visualiza como uma realidade futura ocorrendo através da presença transformadora de Deus, no meio de todo mundo. Algo diferente das ideias seculares de esperança e bonança social consignadas por meio do Iluminismo ou Marxismo. Eis porque o ensino do Apocalipse bíblico tem mais a ver com a ideia de um "Céu" que "encontra" o nosso mundo, do que com a visão de que faremos uma viagem até um céu onde Deus lá nos espera, assim que o dia chegar. Eu sei que todos aqueles que morrem na Terra antes disso acontecer, vão aguardar nos "céus" até a hora do Apocalipse ocorrer. Mas, se trata mais de uma dimensão da existência humana, do que de um lugar pra morar, e nele depois existir. Portanto, a grande mudança existencial que vai ocorrer assim que o Apocalipse acontecer, não é a de que alguns vão para o "céu". Mas sim, que os próprios "Céus de Deus" vão definitivamente chegar em nosso planeta Terra. Aproveite quem puder! Pois o capítulo 21 do Apocalipse afirma que vai acontecer uma restauração total da condição vivencial da humanidade, pra tornar a vida na Terra algo próximo do que um dia já existiu lá no jardim do Éden. Exatamente o lugar que já foi a morada conjunta de Deus e dos homens neste mundo. "Vi o céu e a terra criados de novo! (...) Ouvi uma voz: "Olhe! Olhe! Deus está de mudança: vai morar entre os homens e mulheres. Eles são seu povo, ele é o Deus deles. Ele vai enxugar toda lágrima dos olhos deles... A primeira ordem das coisas não existe mais." Não é nada, não é nada, eis que o fim dos tempos do Apocalipse bíblico assume - com vantagem, a condição de melhor solução pra qualquer comunitária depressão que surgir, por aí, buscando em nós se encostar. Dentro deste propósito, MELANCOLIA é um filme necessário, pois a profundidade vivencial de sua cena final aponta, sim, para uma real transformação que irá ocorrer da história humana no planeta. Novidade existencial angustiante que seu enredo dramático descreve de jeito brilhante, ao apresentar nossa constante ansiedade habitual de modo sutil e trágico, eterno e diário, aparente e íntimo, tudo pra explicar melhor o que significa existir como "ser" humano nesta presente época inquieta da humanidade. Que o mágico encontro de Melancolia com a Terra nos sirva de visão pra logo enxergar o anunciado e possível encontro final de Deus com a humanidade. E que a boa espiritualidade nos ajude a estar prontos pra tão definitiva ocasião. Bom filme.