quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

JESUS DE NAZARÉ. A REDENÇÃO DA HUMANIDADE, Institutas de João Calvino.

O Natal se aproxima e novamente buscamos nas Escrituras sagradas o conhecimento fundamental para bem celebrar o Nascimento do Messias, Jesus de Nazaré. Observe que a palavra redenção significa comprar algo que fora perdido, fazendo um pagamento pelo resgate. O significado religioso cristão dessa expressão apresenta o modo como Jesus de Nazaré é a Redenção através de Quem a humanidade foi liberta de uma existência maldita, já que distante de Deus. Sobre esse tema, vamos meditar no conteúdo das "Institutas da Religião Cristã", de João Calvino, em seu LIVRO III, Tópico 6: "O Homem Arruinado Precisa Buscar em Cristo a Redenção." Desde que o nosso representante Adão colocou toda humanidade num estado de ruína existencial, o potencial de vida e realizações da raça humana revela mais a nossa vergonha do que indica alguma dignidade acerca de todos nós. Sendo que essa realidade jamais será transformada, "até que Deus apareça como Redentor na pessoa do Seu Filho unigênito", pois, a existência corrompida pelo pecado tem sido a única obra desenvolvida pelos seres humanos. Dessa forma, de nada adianta alguém saber que Deus é o Criador, se não descobrir pela fé a maneira em que seremos capazes de enxergar Deus "como nosso Pai em Cristo", para nos tornar filhos de Deus, novamente. Observe que o caminho natural da existência humana era Temer e Amar a Deus, porém, a queda nos conduziu numa jornada maldita em que somos culpados pela ruína até da natureza e dos animais da criação, dados por Deus. Nesse contexto existencial, o Apóstolo Paulo esclarece a nossa situação de ignorância e o caminho do único conhecimento que pode transformar essa realidade: "Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação." (1 Coríntios 1.21). Portanto, todo aquele que não acreditar na louca pregação da mensagem da cruz, também estará impossibilitado de receber em sua vida o cuidado e benção paternal do Criador. Sendo que a única mensagem capaz de salvar a humanidade desde a queda do representante Adão é o conhecimento de Jesus Cristo como Mediador diante de Deus, "pois as palavras de Cristo aplicam-se a todas as eras do mundo", conforme lemos em João 17.3: "Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." Essa conclusão também retiramos das orientações de Jesus dadas para a mulher samaritana, "Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus." (João 4.22). E aqui fica claro "que a herança do céu somente pertence aos filhos de Deus, e como podem ser considerados filhos de Deus quaisquer indivíduos senão os que são enxertados no Filho unigênito de Deus, os quais crêem no Seu nome - assim se tornando filhos de Deus? (João 1.12)". Portanto, desde a antiga aliança anunciada por Moisés e os Profetas, toda "misericórdia e a graça de Deus sempre foram demonstradas através do Mediador; e a felicidade da igreja sempre foi fundamentada sobre a pessoa de Cristo." Eis a razão para Paulo dizer que Jesus Cristo é "a semente" na qual os povos de todos os tempos poderiam ser abençoados, já que nem todo descendente natural de Abraão é também um descendente espiritual das bênçãos de Deus. Pois, não se pode esquecer de Ismael, e dos irmãos gêmeos, Esaú e Jacó, posto que um deles foi escolhido e o outro foi rejeitado, antes mesmo de haverem nascido, fazendo-nos compreender que o povo de Deus fora adotado pela graça do Mediador desde o início dos tempos. E ainda que esse ensino não estivesse bastante claro nos textos de Moisés, do qual todo judeu piedoso tem conhecimento, observe que antes mesmo de um rei ter sido nomeado para o povo, Ana deu firme declaração sobre esse tema: "Ele dará poder a seu rei e exaltará a força do seu ungido". (2 Samuel 2.10). "Com estas palavras ela quer dizer que Deus abençoará Sua igreja através de Cristo", pois "não há nenhuma dúvida de que o desígnio de Deus era exibir um tipo vivo de Cristo em Davi e nos seus sucessores." Sendo esse o motivo para que o salmista oriente os piedosos para saudarem o Filho, em respeito ao que o próprio Jesus diria oportunamente: "Aquele que não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou." Assim, vemos como após a ruína e desobediência das dez tribos, Deus seguiu honrando a aliança com Davi e sua linhagem, sendo que diante da própria queda de Jerusalém, o Senhor anunciou: "Entretanto, por amor ao seu servo Davi, o Senhor não quis destruir Judá. Ele havia prometido manter para sempre um descendente de Davi no trono". (2 Samuel 8.19). Neste sentido, "a preservação do povo sempre estava ligada com a preservação da linhagem de Davi, conforme diz, em consequência", no Salmo 28. 8-9: "o Senhor é a força do seu povo, a fortaleza que salva o seu ungido. Salva o teu povo e abençoa a tua herança! Cuida deles como seu pastor e conduze-os para sempre." Tudo isso "para demonstrar que a segurança da igreja está inseparavelmente ligada com o reino de Cristo", motivo pelo qual entendemos que as leis cerimoniais indicavam que o Cristo de Deus era "o objeto apropriado da sua fé", já que toda prática religiosa apontava para o Messias. Dessa forma, vemos como qualquer consolo e esperança oferecidos por Deus aos homens nasce sempre a partir do nome de Cristo: "Saíste para salvar o teu povo, para libertar o teu ungido. Esmagaste o líder da nação ímpia, tu o desnudaste da cabeça aos pés." (Habacuque 3.13). "E sempre que os profetas falam da restauração da igreja, lembram o povo da promessa dada a Davi a respeito da estabilidade do seu reino." Eis a razão porque Isaías utilizou o conhecimento do Messias para tratar do modo como Deus iria livrar seu povo, mesmo diante da rebeldia do rei Acaz, que se colocava em confronto diante de Deus: "Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel." (Isaías 7.14). Isaías dava indicações de que a "aliança de Deus não ficaria nula, pois o Redentor viria no devido tempo", mesmo que o rei e toda nação não buscassem nem a Palavra e nem as promessas dadas por Deus a seu povo. "Em resumo, pois, todos os profetas, quando queriam dar segurança ao povo quanto à misericórdia de Deus, trouxeram à tona aquela promessa da estabilidade do reino de Davi, da qual dependiam a redenção e a salvação eterna", conforme também lemos em Isaías 55.3-4: "Vejam, eu o fiz uma testemunha aos povos, um líder e governante dos povos. Com certeza você convocará nações que você não conhece, e nações que não o conhecem se apressarão até você, por causa do Senhor, o seu Deus, o Santo de Israel, pois ele lhe concedeu esplendor." Da mesma forma, o Profeta Jeremias anuncia, "Dias virão", declara o Senhor, "em que levantarei para Davi um Renovo justo, um rei que reinará com sabedoria e fará o que é justo e certo na terra. Em seus dias Judá será salva, Israel viverá em segurança, e este é o nome pelo qual será chamado: O Senhor é a Nossa Justiça." (Jeremias 23.5-6). E junto deles, também o Profeta Ezequiel anuncia o mesmo conhecimento: "Porei sobre elas um pastor, o meu servo Davi, e ele cuidará delas; cuidará delas e será o seu pastor. Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será o líder no meio delas. Eu, o Senhor, falei. Farei uma aliança de paz com elas e deixarei a terra livre de animais selvagens para que as minhas ovelhas possam viver com segurança no deserto e dormir nas florestas." (Ezequiel 34.23-25). Portanto, eu faço citação destes poucos textos para ensinar que a única esperança dos homens de fé jamais esteve amparada em outro, que não o próprio Messias, Mediador único perante Deus, pois "foi propósito de Deus que a mente da nação judaica ficasse permeada por estas profecias de tal maneira que os judeus sempre procurassem a libertação somente em Cristo." Sendo que nem toda a corrupção da existência os faria esquecer "do princípio geral de que Deus livraria Sua igreja pela mão do Messias de acordo com sua promessa a Davi", sendo algo confirmado assim que Jesus entrou em Jerusalém, na semana da Páscoa, quando o povo anunciou: "Hosana ao Filho de Davi." Conforme esse conhecimento das Escrituras, "apenas desejo que meus leitores mantenham firmes nas suas mentes que nunca tem havido e nunca haverá, nenhum conhecimento salvífico de Deus à parte de Cristo." REFERÊNCIA: J P Wiles. As Institutas da Religião Cristã - um resumo - João Calvino. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo SP, 1966. p 140-143. Autor: Ivan Santos Rüppell Junior é professor de Ciências da Religião, e Capelão Escolar e Social.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

JESUS EMANUEL É DEUS CONOSCO! Institutas de João Calvino.

Esse texto contém um resumo e citações do resumo de J P Wiles das Institutas da Religião Cristã, do reformador protestante João Calvino. TÓPICO 12. "Foi Necessário que Cristo se tornasse Homem, a fim de Exercer o Ofício de Mediador." "Era muito necessário para nós que Aquele que haveria de ser nosso Mediador fosse tanto Deus quanto homem." Isto em razão de que os nossos pecados causaram separação entre nós e a Pessoa de Deus, e nos deixaram afastados e distantes do Reino dos céus, e assim, "nenhum mediador poderia restaurar nossa paz senão um que pudesse chegar a Deus." Mas, afinal, quem poderia entrar na presença de Deus? Um dos filhos de Adão? Não! Todos ficavam atemorizados diante de Deus, assim como Adão após o seu pecado e queda. Um anjo poderia fazer isso por nós? Não! Os anjos precisavam de um líder próprio para mantê-los no seu estado original de pureza diante de Deus. Dessa forma, a nossa história com Deus iria acontecer de forma desgraçada e totalmente sem esperanças, "se o grande Deus não tivesse descido até nós, quando era impossível para nós subirmos a Ele." "Por isso, era necessário que, por amor a nós, o Filho de Deus Se tornasse Emanuel, ou seja, Deus conosco; e isto de tal maneira que a Deidade e a natureza humana fossem unidas n´Ele." Afinal, em razão da nossa distância de Deus e da diferença entre sua pureza infinita e nossa contaminação profunda, não haveria outra forma de sermos capazes de estar na Presença d´Ele. A realidade é que jamais poderíamos estar perto de Deus, após termos corrompido toda a vida e a criação de Deus. Eis o motivo para que Paulo chame nossa atenção para o fato de Jesus Cristo ser homem, enquanto também ensina que Ele é nosso Mediador. "Pois há um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus." (1 Timóteo 2.5). Paulo poderia ter dito que Jesus é Deus, e até poderia omitir que Jesus é Homem, "mas devido o Espírito que falou através de Paulo conhecer a nossa enfermidade, o apóstolo adotou um modo de falar admiravelmente apropriado para nos encorajar, colocando o Filho de Deus em nosso meio de modo familiar, como um de nós mesmos." E assim, não vai surgir medo e dúvida em nossos corações, para ficar questionando: "Onde está este Mediador, e como vou chegar até Ele?", pois "Paulo chama-O de homem, para lembrar-nos que Ele está muito próximo de nós, visto que é nossa própria carne." Esse conhecimento é ensinado com detalhes na carta aos Hebreus: "Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado." (4.15). Essa verdade é melhor entendida quando olhamos para a extraordinária obra do Mediador em nosso favor, pois Jesus nos colocou novamente junto de Deus Pai, transformando filhos de homens em filhos de Deus, e fazendo com que os herdeiros do inferno se tornassem herdeiros dos céus. Como poderia essa mudança ocorrer em nossas vidas, "a não ser que o Filho de Deus também Se tornasse o Filho do homem, assumindo desta forma aquilo que era nosso, a fim de transferir para nós pela graça aquilo que era d´Ele próprio por natureza?" Eis a razão de confiarmos totalmente na sua promessa de nos tornar filhos de Deus, pois afinal, o verdadeiro Filho de Deus assumiu em sua pessoa o "corpo do nosso corpo, carne da nossa carne, osso do nosso osso, a fim de que fosse um conosco. Deste modo, juntamente conosco, Ele agora é tanto o Filho de Deus quanto o Filho do homem." A partir disto, Jesus tem segurança e autoridade para falar conosco nas seguintes palavras: "Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês." (João 20. 17). Portanto, a herança do reino dos céus está assegurada para nós, crentes em Cristo, pois o Filho único de Deus que detinha toda a herança para si mesmo, "nos adotou como Seus irmãos; e se somos irmãos, então também somos co-herdeiros da herança." (Romanos 8.17). Porém, há outras razões para que nosso Redentor "fosse tanto Deus quanto homem." Observe que, para ser capaz de levar consigo a morte deste mundo; "quem poderia fazer isso senão Ele, que é a vida? A Ele cabia conquistar o pecado; quem poderia fazer isso senão Ele, que é a própria justiça? A Ele cabia derrotar o mundo e as potestades do ar: quem poderia fazer isso senão Aquele" que é maior do que o mundo e as potestades? Sendo que não há outro com estas virtudes, exceto Deus; Ele mesmo! Portanto, para que a humanidade fosse reconciliada com Deus, era necessário surgir um homem obediente que pudesse superar a desobediência própria do homem, a fim de "satisfazer a justiça de Deus e pagar a penalidade do pecado." E foi por isso que "surgiu um homem verdadeiro na pessoa de nosso Senhor, que personificava Adão e tomou sobre Si o nome dele, a fim de que, no lugar dele, obedecesse ao Pai, e apresentasse nossa carne a um Deus justo com o preço da satisfação, e naquela mesma carne pagasse a penalidade" da nossa desobediência. "Visto, então, que Deus por Si só não poderia provar a morte, e que o homem por si só não poderia vencê-la, Ele tomou sobre Si a natureza humana em união com a natureza divina, para que sujeitasse a fraqueza daquela a uma morte expiatória, e que pudesse, pelo poder da natureza divina, entrar em luta com a morte e ganhar para nós a vitória sobre ela." (leia de novo esse parágrafo) E como um conteúdo complementar à nossa fé, devemos recordar que a Lei e os Profetas prometiam "um Redentor que seria o Filho de Abraão e Davi", sendo que esse anúncio se cumpriu exatamente na pessoa humana de Jesus Cristo, que foi confirmado como o Messias profetizado nas Escrituras. Acima de tudo, "o ponto principal a ser lembrado é que a natureza que Ele compartilha conosco é uma garantia da nossa comunhão com o Filho de Deus (Ele próprio); posto que Ele, vestido da nossa carne, venceu a morte e o pecado, a fim de que a vitória seja nossa e nosso o triunfo." REFERÊNCIAS: J.P. Wiles. As Institutas da Religião Cristã - um resumo - João Calvino. Publicações Evangélicas Selecionadas. São Paulo, SP, 1966, páginas 180 a 183. Autor: Ivan Santos Rüppell Jr é Mestre em Ciências da Religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

JESUS DE NAZARÉ. Profeta, Rei e Sacerdote. Institutas de João Calvino, 2021

Esse texto contém um resumo do conteúdo das Institutas de João Calvino (*), e citações do resumo das Institutas desenvolvido por J P Wiles. INSTITUTAS (citações), cap. 4, Vol.2. 46. Exposição do Credo dos Apóstolos. "A Escritura proclama tantas vezes e tão claramente que só existe um Deus, de essência eterna, infinita e espiritual, que não é preciso fazer longa argumentação para comprovar essa verdade. (...) Mas a distinção de Pai e Filho e Espírito Santo que ocorre em sua divindade, não é fácil saber e deixa inquieta muita gente. Dividamos, pois, esta questão em dois artigos: o primeiro, para confirmar a divindade do Filho e do Espírito; a segunda, para explicar como ocorre a distinção entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo." (*) (p. 38/39, 2006). 49. Demonstração da divindade de Cristo. "Passemos agora a demonstrar a sua divindade, com base numa dupla espécie de prova. Porque o nome e a honra de Deus são claramente atribuídas ao Filho de Deus por evidentes testemunhos da Escritura; e isso é comprovado por suas obras poderosas. 50. Citações do Antigo Testamento. Primeiramente, Davi lhe fala nestes termos: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino". (Salmo 45.6; Isaías 9.6,7; Jr 23.5,6; Isaías 41; Jr 33.6; Isaías 8.13-15). 51. Citações do Novo Testamento. O Novo Testamento está repleto de testemunhos sem fim... Primeiro, é digno de notar-se que os apóstolos mostram que as coisas que foram preditas por parte do Senhor eterno foram cumpridas ou alguma vez se verificaram em Jesus Cristo". (Rm 9. 33; Rm. 14.10,11; Is 45.23; Ef 4.8; Sl 68.18; Jo 12.40; Is 6.10; Jo 1. Rm 9.5; 1 Tm 3.16; Fp 2.6,7). 52. A prova das obras em prol da divindade de Cristo. "Ademais, se estudarmos a sua divindade por suas obras, a ele atribuídas na Escritura, a verdade transparecerá mais claramente. Porque, no que ele diz, que desde o príncipio até agora sempre trabalhou com o Pai, os judeus... entenderam muito bem que com essas palavras Jesus Cristo atribuiu a si próprio o poder de Deus... E não somente o ofício de governador do mundo lhe compete em comum com o Pai, mas também todos os outros ofícios, os quais não podem ser transferidos para nenhuma criatura. O Senhor declara a Israel, mediante o profeta: 'Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim'. Seguindo essa declaração, os judeus pensaram que Jesus fazia injúria a Deus por assumir a autoridade de perdoar pecados. Mas ele não se limitou a arrogar-se esse poder só com palavras, mas o comprovou realizando milagre." (p. 42-45, 2006). Resumo J P Wiles. TÓPICO 14. "As duas naturezas na Pessoa do Mediador." Ao ler no evangelho de João 1.14, que o "verbo se fez carne", não deve-se entender que o Verbo de Deus foi misturado com carne ou transformado em carne, mas sim "que escolheu para Si mesmo um templo formado pelo ventre de uma virgem no qual habitar." Dessa forma, o Filho de Deus se fez Filho do Homem não numa confusão de suas duas naturezas, mas pela unidade destas conforme estão juntas na pessoa do Cristo. A união da divindade com a humanidade foi tão profunda que ambas as naturezas divina e humana mantiveram tudo que lhes é próprio, enquanto se tornaram uma só pessoa, o Cristo! E numa comparação ao entendimento deste fato sobre Jesus Cristo, sabe-se que "o próprio homem consiste em duas partes distintas, corpo e alma, os quais, porém, não estão misturados a ponto de perderem aquilo que pertence à natureza de cada." Pois destacamos sobre a alma algumas coisas que não falamos do corpo, e falamos do corpo algumas coisas que não existem na alma, enquanto também destacamos sobre o ser humano integral certas verdades que não aplicamos ao tratar do corpo e da alma de modo separado. "E mesmo assim, aquele que consiste nestas duas partes é um só homem, e não mais do que um." Então, o fato é que as Escrituras apresentam Jesus Cristo, destacando aspectos somente de sua humanidade ou, falando de verdades acerca da sua divindade, e ainda, afirmando realidades dele que não tem relação com estas duas naturezas, quando vistas separadamente; sendo esta uma doutrina comprovada nas Escrituras. "Quando Cristo disse acerca de Si mesmo, "Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu sou!", arrogou para Si mesmo alguma coisa muito diferente da natureza humana", sendo este um aspecto da sua divindade. Quando o Apóstolo Paulo destaca que Jesus é o primogênito da criação em quem todas as coisas subsistem e quando Cristo trata da glória que vivenciava junto do Pai antes do mundo, então, temos declarações impossíveis de serem dadas acerca de qualquer homem; sendo passagens sobre a sua divindade. No entanto, quando Jesus é declarado como "Servo do Pai" (Isaías 42.1), com a sua infância sendo descrita com destaque a seu crescimento em estatura, graça e sabedoria; e quando Jesus diz que "não procura Sua própria glória, e que não sabe quando será o último dia, que não fala pela Sua própria autoridade nem pratica sua própria vontade", então sabemos que Ele se refere à sua humanidade. Há situações em que atributos divinos são apresentados como se fossem aspectos humanos, e vice versa, como ao ler que Deus comprou a Igreja com seu próprio sangue ou quando o Apóstolo João afirma que "tocou na Palavra da vida". Sabemos que Deus não pode ser tocado e também não tem sangue em Si mesmo, "mas visto que Aquele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem derramou Seu sangue por nós na cruz", então obras realizadas pela natureza humana de Cristo são identificadas junto de sua natureza divina, como quando lemos que "Deus deu sua vida por nós". (1 João 3.16). Agora, o bom conhecimento da Pessoa do Cristo ocorre nas passagens que apresentam aspectos singulares e simultâneos de suas duas naturezas conjuntamente, como quando João descreve em seu Evangelho que Jesus recebeu autoridade do Pai para perdoar pecados, vivificar a vida humana e derramar "justiça, santidade e salvação; que foi nomeado Juiz dos vivos e dos mortos, a fim de que seja honrado como o Pai é honrado; que Ele é a Luz do mundo, o Bom Pastor, a única Porta, a Videira Verdadeira." São capacidades derramadas sobre o Filho do Homem assim que Ele se manifestou para existir carnalmente em nosso mundo, "pois embora as possuísse com o Pai antes da fundação do mundo, contudo não as possuía da mesma maneira até que fosse manifestado em carne; porém elas são de tal natureza que não poderiam ser dadas a um homem que nada mais fosse do que homem." Neste mesmo sentido deve-se entender a afirmação de Paulo de que o Cristo irá entregar o reino a Deus Pai (1 Coríntios 15.24). Observe que o reino de Jesus Cristo não teve começo e não terá fim, com Cristo reinando até se assentar no trono do julgamento. "Quando, porém, formos glorificados e vermos Deus como Ele é, então Cristo, tendo cumprido o ofício de Mediador, cessará de ser o mensageiro do Pai e ficará satisfeito com a glória que tinha antes da fundação do mundo." Cristo não irá perder nada com isto, mas será visto de modo maior e mais profundo em sua Glória, pois será o momento em que sua majestade irá surgir de forma completa e integral diante dos homens. INSTITUTAS, (citações). 78. Benefícios dos ofícios de Cristo para os crentes. "Essas coisas são de grande importância para confirmar e fortalecer a nossa fé. Tratando-se do reino, este não é carnal ou terreno, para estar sujeito à corrupção, mas é espiritual, pelo que pertence mormente à vida futura e ao reino celestial. Ademais, seu modo de reinar não é tanto para o seu proveito como o é para o nosso, porque ele nos arma e nos fortalece com o seu poder, reveste-nos dos ornamentos da sua magnficência e nos enriquece de bens. Em resumo, ele nos eleva e nos exalta pela majestade de seu reino. Sim, pois na comunhão pela qual ele se junta a nós, ele nos torna reis, equipando-nos com o seu poder para guerrearmos contra o Diabo, o pecado e a morte... Quanto a seu ofício de sacerdote, não é menor o nosso proveito. Não somente porque, por sua intercessão, ele torna o Pai propício a nós, em virtude da reconciliação eterna que ele efetuou por sua morte, mas também porque ele nos recebe em sociedade e na participação daquele seu ato sacrificial... 79. Sumário. Em suma, pelo nome Jesus nos é confirmada e fortalecida a confiança na redenção e na salvação, e pelo título Cristo nos é dada aptidão para recebermos a comunicação do Espírito Santo, e o fruto de santificação que dele procede, uma vez que ele se santificou por nós, como ele próprio declara pessoalmente." (p. 65-66, 2006). Resumo J P Wiles. TÓPICO 15. "Para saber porque Cristo foi enviado pelo Pai, e o que Ele nos trouxe, devemos especialmente considerá-lo nos seus três ofícios, de Profeta, Rei e de Sacerdote." Quando o Senhor Jesus é reconhecido apenas pelo nome, e não pela realidade de seus atos como Filho de Deus e Redentor do mundo, estamos diante de uma falsa Igreja que deve ser definida conforme o ensino de Paulo na carta aos Colossenses, que trata daqueles que não se submetem ao "Cabeça da Igreja" (Col 2.19). Portanto, para sermos abençoados de forma real por Cristo em nossa vivência de fé faz-se necessário depender d´Ele segundo cada um dos ofícios que Deus Pai lhe deu pra realizar sobre nós: "Ele é nomeado para ser nosso profeta, nosso rei e nosso sacerdote." Pois, ainda que Deus tenha enviado profetas a seu povo, todos sabiam que a verdadeira luz da revelação somente chegaria na vinda do Messias, sendo um conhecimento destacado até pelos samaritanos, conforme a declaração da mulher no poço: "Quando o Messias vier nos anunciará todas as coisas." (João 4.25). Essa verdade das Escrituras foi afirmada também nas profecias, como a de Isaías 5.4: "Eis que eu o dei por testemunho aos povos, como príncipe e governador dos povos", e ainda pelo autor que destaca a "perfeição da doutrina do evangelho", na carta aos Hebreus: "Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho". (Hebreus 1.1-2). A lei definia que sacerdotes e reis, e ainda profetas fossem ungidos por óleo, vindo daí o nome Messias; Ungido, sendo Cristo o mediador outrora profetizado. "Reconheço que este título Lhe pertence especialmente como rei; mas não devemos esquecer que também indica Seus ofícios profético e sacerdotal." O ofício profético foi anunciado por Isaías, nas seguintes palavras, "o Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados", de modo que Jesus foi ungido com o Espírito para ser pregador e testemunha da graça do Pai, vindo a encerrar as profecias devido a seu ensino ser perfeito e completo. Daí que todo aquele que busca algum conhecimento de Deus além do Evangelho, despreza a autoridade profética de Cristo. Ao falar do reino de Cristo, devemos saber que se trata de um reino espiritual, "isto é, no que diz respeito à igreja como um todo, e no que diz respeito aos membros individuais da mesma"; sendo que foi exatamente para a Igreja que Ele prometeu que a sua posteridade duraria para sempre e seu trono seria como o sol. (Salmo 89.35-37). Neste sentido, vemos como Deus vai cumprir sua promessa de ser guardião e defensor da Igreja diretamente através do reinado de Cristo, posto que a antiga dignidade do reino em Israel fora quebrada pela rebelião de dez, das doze tribos. E cada membro individual da Igreja e pertencente ao reino de Cristo deve se alegrar na esperança da imortalidade, que será uma vida eterna plena de graça e satisfação, pois essa bem-aventurança está descrita no fato de que o reino do Messias é espiritual, portanto eterno e completo em suas realizações. "Agora, algumas palavras acerca do sacerdócio de Cristo." Cristo é um mediador e sacerdote perfeitamente puro que por sua santidade reconcilia Deus conosco. No entanto, a justa maldição divina sobre nossos pecados impede a nossa aproximação a Deus, havendo a necessidade de que ocorra um sacrifício para afastar a Ira do Senhor: "era, portanto, necessário que Cristo, como nosso mediador, oferecesse tal sacrifício." No templo da Antiga Aliança o sacerdote só poderia entrar através de um sacrifício, de forma que o povo sabia que não bastava apenas um mediador para lhe representar, sendo algo ensinado na carta aos Hebreus: "Ali é declarado que a honra do sacerdócio pertence a Cristo somente, pois pelo sacrifício de Sua morte apagou a nossa culpa e ofereceu propiciação pelos nossos pecados." Essa realidade é anunciada pelo "juramento solene de Deus, do qual nunca se arrependerá: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque." Deus aprovou o sacerdócio de Cristo num juramento, já que este sacerdócio sacrificial era o único capaz de assegurar integralmente a nossa salvação. Pois nem a nossa pessoa ou nossas orações podem chegar a Deus, "a não ser que nosso Sacerdote purifique nossas imundicías, santifique-nos e obtenha para nós aquele favor do qual fomos privados pela impureza dos nossos crimes e vícios. Desse modo, vemos que a morte de Cristo é a raiz da qual brota a eficácia e utilidade do Seu sacerdócio. Desta fonte flui Sua intercessão eterna, através da qual obtemos o favor de Deus, apresentamos nossas orações com confiança e desfrutamos da paz de consciência." Observe a diferença do sacerdócio de Arão que oferecia uma vítima retirada da manada, enquanto que "Cristo é tanto vítima como sacerdote. Nenhuma outra vítima poderia ser achada que pudesse fazer expiação pelos nossos pecados; e nenhuma outra pessoa era digna da honra infinita de sacrificar o Filho unigênito de Deus." REFERÊNCIA: Calvino, João. As Institutas da Religião Cristã. (tradução Odayr Olivetti). São Paulo: Cultura Cristã, 2006. Wiles, Joseph Pitts. Ensino Sobre o Cristianismo. Uma edição abreviada de As Institutas da Religião Cristã. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo, SP, 1966. páginas 185-191. AUTOR: Ivan Santos Rüppell Júnior é Mestre em Ciências da Religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Institutas de João Calvino. A lei moral de Deus. Os 10 Mandamentos.

AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. “Meu objetivo nessa obra é preparar e treinar estudantes de teologia para o estudo da palavra de Deus, para que possam ter um fácil ingresso no estudo dessa palavra e sejam capazes de lhe dar continuidade sem obstáculos.” (João Calvino) (McGrath, p 111, 2005). A LEI MORAL DE DEUS. No pensamento de Calvino, a Bíblia ensina que a lei moral de Deus tem três propósitos na história da humanidade e sociedade dos homens. Em primeiro lugar, o teólogo entende que a lei moral divina serve para anunciar e formalizar a culpa de todo homem diante de Deus, no objetivo de gerar temor nos seres humanos, algo que irá conduzi-los a buscar o conhecimento da misericórdia do Senhor; conforme se anuncia no Evangelho de Jesus Cristo. A lei moral de Deus serve, então, para revelar a justiça de Deus, pois somente esta convence o homem de sua própria injustiça. Sendo que, somente os padrões da moralidade divina são capazes de demonstrar ao homem o seu estado de fraqueza e de condenação; conforme explica o Apóstolo Paulo: “pois eu não teria conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.” E, conforme Agostinho, “a lei serve para convencer o homem da sua fraqueza e a compeli-lo a orar pela graça curadora que há em Cristo.” (Wiles, p 149, 1984). O segundo elemento de importância da Lei moral divina orienta que ela serve para Deus governar a história pela sua Providência, no propósito de refrear a maldade dos atos dos homens que não se preocupam com o que é certo e com o que é errado. A lei moral de Deus serve para reprimir os homens através de freios e limites, como uma retidão necessária à toda humanidade, pois se não existisse esta proteção e resguardo da sociedade, o mundo se tornaria um lugar totalmente selvagem. Um terceiro aspecto importante do anúncio da lei de Deus é que a sua instrução é útil para ensinar os cristãos qual é a vontade de Deus para eles, como um elemento de apoio na sua jornada existencial. Pois o Espírito de Deus vive hoje em seus corações, a fim de conduzi-los no conhecimento e obediência dos mandamentos do Senhor. (Wiles, p 149, 1984). Um outro elemento surge a partir de um olhar mais amplo acerca da existência, indicando a forma em que a lei moral divina se torna o instrumento utilizado para gerar um bom conhecimento da Pessoa de Deus à toda humanidade. Pois a lei moral de Deus constrange os homens a adora-lo, enquanto também os conduz à humildade, sobre si mesmos. Calvino esclarece que a própria consciência do ser destaca a maneira em que os princípios morais de Deus foram escritos no interior e coração do homem. No entanto, somente a lei divina irá dar um testemunho claro e seguro acerca do certo e errado para a humanidade, já que a lei interior é insuficiente para fazer isso, em razão de nossa ignorância e vaidade. Nessa situação, os homens poderão admitir que estão longe da vontade de Deus, a cada vez que puderem comparar as suas vidas diante das exigências da lei, algo que também irá conduzi-los a buscar a misericórdia divina como um recanto de segurança. (Wiles, p 151-153, 1984). OS 10 MANDAMENTOS SÃO FUNDAMENTOS DA LEI MORAL DE DEUS. O reformador entende que os 10 Mandamentos representam uma justiça interior e espiritual, pois seus princípios alcançam os pensamentos do coração do homem. Esse aspecto fundamenta o modo como o Senhor Jesus veio resumir toda a lei em dois atos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mateus 22.37, Lucas 10.27). Nesse contexto, em que os princípios morais dos 10 mandamentos são os fundamentos da Lei do amor de Jesus, Calvino enfatiza a superioridade do padrão moral e relacional da lei de Deus na sociedade, como sendo os mais excelentes valores e princípios que deverão reger e orientar a vida dos homens. Assim, todo conteúdo da justiça de Deus deve ser percebido como um código de boas obras completos, posto que não haveriam quaisquer outros conhecimentos e virtudes capazes de superar aqueles que nos foram descritos por Moisés e Paulo. Entendimento que faz o Apóstolo afirmar que “toda a lei se cumpre em uma só palavra, a saber, “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gálatas 5.14). O conteúdo moral dos mandamentos enfatizado no resumo da lei dada por Jesus, traduz os valores que devem nortear a verdadeira obediência aos mandamentos de Cristo; sendo um conhecimento que deve ser oferecido e vivenciado de maneira ampla perante a humanidade, conforme o ensino da parábola do Bom Samaritano. (Wiles, p 153-164, 1984). No entendimento de Calvino, a doutrina dos filósofos orienta a maneira em que o homem será governado pela razão, enquanto que a filosofia cristã afirma que a nossa racionalidade deve estar submetida ao Espírito Santo, no propósito de que possamos viver em Cristo, e não mais, em nós mesmos. (Wiles, p 237-239, 1984). Citação: “Se houve qualquer movimento religioso, no século 16, que tenha tido uma atitude afirmativa em relação ao mundo, esse foi o Calvinismo.” (Alister McGrath) (p 249, 2005). CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENTENDIMENTO DOS 10 MANDAMENTOS. "Seria bom ressaltar três considerações que são aplicáveis aos dez (mandamentos) como um todo." 1. "A lei reinvidica do homem não apenas o decoro externo como também a justiça interior e espiritual." Embora esse aspecto seja percebido, não tem sido levado em conta pelos homens, pois ignoram o caráter do legislador, que é o próprio Deus dos céus e da terra. Se um rei terreno ditasse leis proibindo fornicação, assassinato e furto, então não praticar estes atos seria o bastante. "Mas quando Deus, cujo olho vê todas as coisas, proíbe a fornicação, o assassínio e o furto. Sua proibição estende-se aos pensamentos do coração, tais como a concupiscência, o ódio e a cobiça." 2. "Há mais nos mandamentos e proibições de Deus do que aparece na superfície das palavras. Devemos considerar o objetivo pelo qual foi dado cada mandamento." O mandamento de honrar pai e mãe ensina que devemos prestar honra a todas as pessoas assim designadas por Deus. No entanto, também não devemos "forçar demais este método de interpretação", para que não comecemos a mudar o princípio bíblico conforme nossos interesses. 3. "Não é sem boa razão que a lei foi dada em duas tábuas." Uma tábua da lei trata do relacionamento do homem diante de Deus e a outra do homem diante dos homens. Os primeiros mandamentos ensinam a verdadeira piedade e boa religião, e a segunda tábua orienta como agir diante do próximo. Neste modelo, o próprio Senhor Jesus também nos ensinou sobre o resumo de toda lei: "Amarás o Senhor teu Deus... Este é o primeiro. E o segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Mateus 22.37-40). REFERÊNCIAS. BÍBLIA, Sagrada, NVT. 1 ed – São Paulo : Mundo Cristão, 2016. _______, de Estudo de Genebra. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 1999. CALVINO, João. As Institutas. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006. McGRATH, Alister E. Teologia, sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes. – São Paulo: Shedd Publicações, 2005 WILES, J. P. As Institutas da Religião Cristã – um resumo – João Calvino. Tradução do inglês Gordon Chown. Primeira edição em português: 1984. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo – SP. (páginas 150-154). AUTOR: Ivan S Rüppell Jr é Ministro presbiteriano, Mestre em Ciências da Religião e Advogado, atuando na Igreja Presbiteriana Olaria, em Curitiba/PR, e como professor na Fatesul.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Feliz Ano Novo em 2023. TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE! (Filipenses 4.13)

"Posso fazer qualquer coisa por meio daquele que faz de mim o que sou!" (Carta aos Filipenses, cap 4.13). A orientação do Apóstolo Paulo para que os cristãos "não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas,... apresentem seus pedidos a Deus", é um convite que não precisa ser feito duas vezes, embora seja necessário ter fé pra orar a Deus continuamente; como já ensinava Jesus na parábola da viúva persistente. (Lucas 18.1-8) De qualquer forma, não há doença mais universal que a angústia relacionada ao que sofremos ontem e a ansiedade sobre o que está pra chegar (ou não) amanhã; e daí que receber a paz de Deus no coração nestas situações, não é um sentimento pra se jogar fora, não. Ao mesmo tempo, o desânimo habitual com quê a humanidade vive angustiada diante da realidade; então, isto é algo tão antigo como o pecado. Aliás, é a enfermidade mais visível da nossa costumeira relação de confronto diante da Pessoa de Deus. Dá uma olhada: "E o Senhor Deus ordenou ao homem: "Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia que dela comer, certamente você morrerá." (Gênesis 2. 16-17) A Bíblia de Genebra explica que o ato de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal "envolvia a declaração de autonomia humana, a tentativa de conhecer todas as coisas à parte de Deus", esclarecendo que segundo o Cristianismo, "o homem deve viver pela fé na palavra de Deus e não por uma alegada auto-suficiência de conhecimento." Acerca disto, o comentarista bíblico John Stott aponta que os seres humanos "criados à imagem de Deus, já tinham uma noção de discernimento moral, mas se desobedecessem a Deus teriam uma desastrosa experiência do mal, tanto quanto do bem", até porque somente a "obediência a Cristo conduz à vida." A experiência desastrosa do mal pra existência humana na terra é quando pagamos o bem recebido com algo mal, e também quando somente fazemos bem a quem nos faz bem; daí porque Jesus ensinou que os filhos de Deus abençoam até os inimigos. O negócio é que assim que a humanidade escolheu abraçar e vivenciar todo conhecimento e experiência disponíveis no cosmos, também assumiu a desgraça de viver a vida praticando erros e guardando na alma sensações passadas que causam angústia, como ainda, aquelas dúvidas futuras que geram ansiedade! Agora, pra consertar esta nossa existência inquieta e libertária só mesmo uma volta ao passado original, ou seja, vamos ter que acatar a decisão de que somente Deus é Deus, e de que nós devemos ser os "humanos de Deus"; o que não faz mal pra ninguém, só bem. E como alargamos demais as experiências sem Deus aqui no planeta, precisamos entender a diretiva palavra de Jesus, quando diz que o caminho da vida requer entrar pela porta estreita, Ele mesmo. O quê ocorre aqui é que a Humanidade existe hoje numa espécie de "recuperação" constante diante de Deus, pra utilizar um termo estudantil que seria "prova final" hoje em dia, ou "segunda época" como dizia meu pai; e aí a gente precisa estudar de novo todo o conteúdo da vida pra passar na prova pela fé, a cada novo dia. E para tratar e curar logo essa enfermidade original, vamos ficar atentos ao modo como o Apóstolo Paulo exemplifica o que fazer para viver sob a "autonomia de Deus", especialmente para sermos capazes de dizer um dia: "tudo posso naquele que me fortalece!" Então, vamos prestar atenção no texto que está no início do cap 4, em que Paulo fala da sua experiência de vida resiliente, pra entender como ele vivenciava uma jornada em que se fortalecia cada vez mais "em Deus", até estar capacitado a "fazer qualquer coisa por meio daquele que faz de mim o que sou!" (Fil 4.13) Assim, em meio às lutas e insatisfações daquela igreja, Paulo orienta primeiro, que eles devem ficar alegres "no Senhor Jesus", pois obedecer esse mandamento é uma vivência que vai proporcionar uma satisfação independente de qualquer circunstância interior ou externa da vida. A convocação para estar alegre "em Jesus" origina da experiência de todo cristão, que vivencia uma "restauração existencial pela reconciliação e santificação". Ou seja, trata do amadurecimento que todo homem e mulher de fé vai ter como ser humano logo que iniciar a sua caminhada de aprendizado da vida com Deus, em Jesus. Afinal, como bem esclarece o Apóstolo Tiago, as provações da nossa fé ao seguir Jesus podem ser motivos de alegria, "pois vocês sabem que a provação da sua fé produz perserverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma." (1.3-4) Neste sentido, quando qualquer cristão ignora que ao seguir Jesus, ele está desenvolvendo uma jornada existencial de amadurecimento e crescimento pessoal grandiosos, num processo para se tornar um filho de Deus completo, bem; Paulo lembra que esse é um motivo de alegria e satisfação constante em nossa caminhada de vida, que jamais devemos desprezar, vindo daí a orientação inicial: "Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se!". E junto deste chamado pra obedecer ao mandamento de ficar "alegres no Senhor", Paulo acrescenta que tal alegria deve nos tornar mais amáveis diante das desventuras da vida e perante o próximo, pois a satisfação de saber que Jesus está perto enquanto estamos progredindo como seres humanos através do aprendizado existencial cristão, também nos torna mais moderados e equilibrados diante das derrotas e enganos do dia a dia. Eis o modo como Deus vai desenvolvendo uma personalidade mais contente nos cristãos, a partir do momento em que entendemos a maneira como Ele conduz nossa vida para alcançarmos uma valorosa prosperidade existencial. Segundo a Bíblia de Genebra, somente mediante uma sensação de moderação e contentamento é que as pessoas serão capazes de aprender o "segredo da alegria" cristã. Após animar o coração ao recordar que estamos numa jornada existencial edificante como cristãos, na qual Deus garante que iremos amadurecer como gente até alcançar a "imagem de Cristo", então já podemos olhar para certas sensações mais objetivas da vida, que são as angústias e ansiedades de sempre; para tratar e curar tudo isto, seguindo a orientação do apóstolo: "Não se aflijam nem se preocupem. Em vez de se preocupar, orem. Permitam que as súplicas e os louvores transformem seus receios em orações, permitindo que Deus as conheça. Antes que vocês percebam, a compreensão da integridade de Deus, que só contribui para o bem, virá e os acalmará. É maravilhoso o que acontece quando Cristo retira a preocupação do centro da vida humana." (Filipenses 4.6-7, Bíblia A Mensagem) A orientação de Paulo é bastante direta: Deus precisa conhecer através da oração todas as nossas angústias e ansiedades, e assim "a paz de Deus... guardará o coração e a mente" de todos nós em Cristo. Conforme a Bíblia de Genebra, essa instrução de Paulo esclarece que as "coisas que não podem ser inteiramente compreendidas podem, todavia, ser experimentadas em paz por aqueles que estão "em Cristo". Então, ao invés de querer logo resolver todas as coisas, devemos aprender com Deus a ficar calmos e pacientes enquanto vivenciamos cada uma delas; pois a existência humana não contém soluções prontas. A melhor colocação sobre a urgência destas orações em dias difíceis, foi dada por C S Lewis no filme biográfico, Terra e Sombras (com Antony Hopkins), em que após ouvir do sacerdote cristão que ele deveria estar satisfeito já que Deus ouviu suas orações e a esposa doente estava voltando pra casa; Lewis responde que orava continuamente porque não conseguia fazer nada além disso, já que as súplicas a Deus haviam se tornado tão fundamentais como respirar, e finaliza dizendo: "as orações não mudam Deus, mudam a mim." E agora, após entregar o coração e a mente pra Deus guardar em paz, já podemos prosseguir na caminhada, em duas atitudes: primeiro, devemos ocupar a mente com pensamentos que valem a pena, seja "tudo que é verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo que for correto, tudo o que for puro" etc, pois como esclarece a Bíblia de Genebra, "a necessidade de pensar em coisas assim não tem um fim em si mesma, mas deve ser a preparação para a ação planejada." Tá entendendo? Ora, ao invés de encher a cabeça o dia todo com informações contraditórias e fake news repetitivas por aí, devemos meditar em ideias dignas sobre a vida humana, sendo necessário aprender que nada realizamos ou transformamos na realidade só porque estamos dando opiniões pra todo lado nas mídias sociais ou nas conversas dos outros. Nossa vida não acontece ou se resolve pelo muito opinar e bastante falar. No entanto, ao preencher a mente com "tudo que é amável, tudo o que for digno de boa fama, algo excelente ou digno de louvor", e gastando bom tempo pra refletir a partir daí, o que vai acontecer é que iremos nos preparar adequadamente para perceber o que estamos passando, até tomar atitudes capazes de nos guiar pela vida de maneira saudável. Sendo que é neste sentido que o apóstolo Paulo conclue as orientações que vão nos tornar capazes de amadurecer como gente diante de Deus; dizendo assim: "ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês." (verso 9) É isso! Após começar a viver nossa jornada existencial debaixo da autonomia de Deus, então o próprio Deus da paz estará perto e agindo de forma mais completa em nossa personalidade e espírito, de maneira que seremos cuidados e também iremos conhecer no coração e na mente, algo acerca do equilíbrio inabalável do modo como a própria Pessoa de Deus vive! Pronto! Anote agora, os cinco mandamentos desta caminhada cristã fundamental: devemos sentir alegria por seguir a Cristo nesta vida, procurando viver contentes e sendo amáveis diante de tudo por essa razão, e após orar a Deus falando de nossas angústias e ansiedades, buscando pensar no que é bom e correto para saber praticar boas decisões no cotidiano, bem; seremos capazes de partilhar uma das experiências mais bem-aventuradas da história dos homens junto de Deus: "aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem-alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece." (Filipenses 4.12-13). Portanto, aprenda logo como estar alegre "em Jesus", pois o Senhor está perto daqueles que invocam seu nome e obedecem, de forma que ainda hoje você irá sentir mudanças e bênçãos na sua personalidade. E, especialmente, irá receber a paz do Deus da paz em seu coração! Num conceito mais religioso e doutrinário, o Senhor Jesus de Nazaré já havia resumido esse conhecimento em dois mandamentos essenciais, quando perguntaram: "Mestre, qual é o grande mandamento da Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas." (Mateus 22.34-40). Observe como o Messias Jesus conduz eu e você em cada novo dia direto para uma experiência no jardim do Éden de Deus, e ali podemos esticar o braço para comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, de novo, ou nos alimentar da Verdade da Palavra de Deus. Pois o brado de vitória do apóstolo Paulo: "tudo posso naquele que me fortalece" não representa uma conquista alcançada na "raça", mas sim, significa que os cristãos somente são fortes em Deus quando são fracos em si mesmos, "portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! (Tiago 4.7-8). Feliz Ano Novo! REFERÊNCIAS: Bíblia de estudo de Genebra. Edit Cultura Cristã, SP, 1993, p 1418. John Stott, A Bíblia Toda o Ano Todo. Editora Ultimato, MG, 2006, p 25. Bíblia A Mensagem, Eugene Peterson, Editora Vida, SP, 2011. Autor: Ivan Santos Rüppell Júnior é Professor de Ciências da Religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE! Estudo de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria, 14 a 18 de novembro, 2021.

TEXTO Bíblico Base: "Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se! Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor. Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. (...) Tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto... pensem nessas coisas. Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês. (...) Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem-alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece." (carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses, cap 4, versos 4 a 13). COMENTÁRIO: A palavra do Apóstolo Paulo para encontrarmos alegria no Senhor Jesus é uma orientação de ambição existencial para esta vida. Pois o Cristianismo também é um conhecimento da Pessoa do Messias em nossa própria personalidade, de forma que devemos sempre amadurecer no processo de nos tornarmos filhos de Deus conforme à imagem de Cristo. Neste sentido, a experiência cristã de ser uma pessoa satisfeita em qualquer situação não tem a ver com conquistar algo e realizar planos, ou ter sucesso financeiro. Mas sim, tem relação com ser capaz de vivenciar períodos diversos da vida com contentamento por estarmos vivendo a nossa história, num aprendizado de conhecimento do Senhor Jesus. Se estivermos alegres e contentes com o fato de viver a jornada de nossas vidas em Jesus, e assim continuarmos submissos e obedientes seguindo as suas orientações e atitudes, também iremos partilhar da presença e força, conhecimento e paz de Deus; sendo algo que vai nos capacitar a dizer: "Tudo posso naquele que me fortalece, pois aprendi a viver contente em qualquer situação". COMPARTILHAR. 1. O que chama a sua atenção no tema desenvolvido no estudo e no texto bíblico de Filipenses 4? 2. Você consegue ocupar a mente com tudo que é correto e bom, ou se perde durante a semana com informações inúteis ou negativas, que fazem você ficar ansioso no dia a dia? 3. Você tem conseguido fazer súplicas e petições pelo tempo necessário e de forma habitual em suas orações, para ser capaz de experimentar a paz do "Deus da Paz" em sua vida? ORAÇÃO pelos pedidos do grupo e pela reunião dos Cristãos no Dia do Senhor, na Igreja!

sábado, 6 de novembro de 2021

O DIA MUNDIAL DE AÇÃO DE GRAÇAS, 23/11/2023.

Salmo 104. "Bendiga o Senhor a minha alma! Ó Senhor, meu Deus, tu és tão grandioso! Estás vestido de majestade e esplendor! (...) Firmaste a terra sobre os seus fundamentos para que jamais se abale; (...) Fazes jorrar as nascentes nos vales e correrem as águas entre os montes; delas bebem todos os animais selvagens, e os jumentos selvagens saciam a sua sede. (...) É o Senhor que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento (...) Cantarei ao Senhor toda a minha vida; louvarei ao meu Deus enquanto eu viver." A celebração do Dia de Ação de Graças é a festividade que anuncia integralmente a Majestade e o cuidado de Deus Todo Poderoso sobre a vida da humanidade e tudo que existe no planeta Terra. Conforme o Apóstolo Paulo escreve em Atos 17, explicando como "nos movemos, vivemos e existimos" em Deus, ali aprendemos que o Senhor é o Criador e Sustentador de toda vida, Soberano Governante da História e Gracioso Salvador dos Homens. E são essas obras de Deus Pai, Filho e Espírito Santo que podemos celebrar a cada ano de forma devida, no Dia Mundial de Ação de Graças. Quê é o feriado mais importante dos Estados Unidos da América, o "Thanksgiving Day", sendo celebrado toda quarta quinta-feira do mês de novembro. O início desta celebração de Gratidão a Deus Pai começou em 1621 numa localidade de Massachusetts, quando peregrinos cristãos fundadores da vila na região se reuniram com indígenas locais para agradecer ao Senhor pela colheita recebida naquele período, após muitas dificuldades enfrentadas no ano anterior. A celebração continuou nos anos seguintes a cada outono, até que o Presidente Abraham Lincoln decretou Feriado Nacional em 1863, sendo que Autoridades também instituiram o Dia Nacional de Ação de Graças no Brasil em 1966. Dessa forma, assim como os próprios "céus celebram a glória de Deus e suas obras de arte estão expostas no horizonte" (Salmo 19.1), também pessoas de todas as idades em diversos países tem procurado dedicar um dia especial para agradecer a Deus pelo fato de estarmos vivos neste planeta. Pois temos recebido de Deus o oxigênio e alimentos, o calor e água para continuar existindo na história. O fato é que Deus tem sustentado e abençoado a existência humana no mundo, sendo que esse conhecimento teológico é descrito no princípio reformado da "Graça Comum"; uma benção divina pra toda humanidade. Daí que todos, em qualquer região e país do planeta tem um bom motivo para dar "Graças a Deus" nesta próxima quinta-feira de novembro, que é o Dia Mundial de Ação de Graças. Não deixe passar no vazio essa oportunidade de honrar a Deus Todo Poderoso e de anunciar aos homens o que o Senhor tem realizado em favor de toda humanidade na história. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é ministro licenciado da Igreja Presbiteriana, professor e advogado, atuando na gestão de ações sociais e evangelização.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A ORAÇÃO DO PAI NOSSO. Aprenda a desenvolver um Bom Relacionamento com Deus!

"Ele disse: "Quando vocês orarem, digam: Pai, Revela-nos quem tu és. Dá um jeito neste mundo. Conserva-nos vivos com três boas refeições. Preserva-nos perdoados por ti e perdoando outros. Guarda-nos de nós mesmos e do Diabo." (Lucas 11.2-4, Bíblia A Mensagem). A Oração do Pai Nosso traz os temas e orientações necessárias para que a Humanidade possa conversar com Deus Pai, de modo que possamos viver a existência de maneira saudável e bendita. Um exemplo: quando aprendemos nos mandamentos de Jesus que não se deve "julgar para não ser julgado", então, logo deixamos de prestar atenção nos pensamentos e atitudes que percebemos danosos e de engano, já que rapidamente os condenamos. Mas Jesus e Deus não ensinam que não devemos analisar as pessoas e situações; pelo contrário. No entanto, sem a Presença de Deus conosco, nós não temos o equilíbrio mental e emocional para analisar algo, sem logo nos irritar e também condenar o que vemos como ruim e até maldoso. Assim, através da oração do Pai Nosso iremos desenvolver um relacionamento com Deus que vai colocar a nossa personalidade debaixo dos cuidados divinos, para que possamos aprender no dia a dia a analisar e definir o que, e quem está certo e errado. Sem que com isso fiquemos irados e desanimados diante das realidades humanas e sociais em que vivemos. Esse é um aprendizado espiritual importante, especialmente perante as antigas novidades que nos aguardam no Brasil de 2023. Nesse sentido, vamos meditar nos comentários de um grande teólogo, João Calvino, que buscou entender e explicar o valor dessa oração. COMENTÁRIO das Institutas da Religião Cristã, de Joao Calvino: A ORAÇÃO. "Por meio da oração temos acesso aos tesouros que estão guardados para nós no coração do nosso Pai celestial, pois tudo quanto colocou diante de nós como objeto de esperança também mandou que procurássemos mediante a oração. As palavras nunca poderão expressar plenamente a necessidade e a utilização deste exercício." A oração habitual de pedir o que desejamos alcançar e de clamar sobre o que nos preocupa vai nos ensinar o Temor, confiança e humildade, que irão nos deixar sem medo de invocar o Nome de Deus em toda ocasião e situação. EXPOSIÇÃO DO PAI NOSSO. "As primeiras palavras nos lembram que a oração deve ser dirigida a Deus em nome de Cristo, porque quando chamamos Deus de nosso Pai, inferimos que estamos pleiteando o nome de Cristo. Quem entre nós poderia ousar arrogar a si mesmo o título de filho de Deus, se não fossemos adotados como filhos em Cristo? João diz. "Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus." (João 1.12). "A segunda petição é: "Venha o teu reino." "Deus reina onde os homens negam o próprio eu, elevam-se acima do nível do mundo e seguem a justiça, de modo que possam aspirar à vida celestial." Portanto, nesta petição, há dois aspectos do reino que Deus vem realizar em nossas vidas: primeiro, Ele vem corrigir através do seu Espírito os desejos pecaminosos da nossa natureza; e segundo, "Ele molda todos os poderes da nossa alma em obediência ao Seu governo." "Quando oramos pedindo o nosso pão cotidiano, pedimos não somente o alimento, como também as roupas e todas as coisas necessárias para que possamos comer nosso pão em paz. Dessa maneira, entregamo-nos aos cuidados e à providência de Deus, a fim de que nos alimente, cuide de nós e nos preserve." "As petições, a quinta e a sexta, incluem tudo quanto é necessário para obtermos entrada na vida celestial nas alturas, o perdão dos pecados e a vitória sobre a tentação. Os pecados aqui são chamados "dívidas", porque estamos obrigados a pagar a penalidade proveniente deles, dívida essa que de modo algum poderíamos pagar a não ser que fossemos liberados dela mediante o perdão; e isso nos advém da misericórdia gratuita de Deus." Deus cancela a nossa dívida ao aceitar o pagamento dado por Cristo na cruz, ao morrer pelos pecados." "Na sexta petição, pedimos a Deus que assim nos arme e defenda para que obtenhamos a vitória contra todos os nossos inimigos: "não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal." "Há muitas formas de tentação, pois o termo inclui todos os conceitos corruptos da mente que nos predispõem a transgredir a lei de Deus, quer surjam de nós mesmos, quer sejam sugeridos pelo diabo. Além disso, coisas que em si mesmas não são malignas são transformadas em tentações pela arte de Satanás, sempre que servem para nos desviar de Deus; tais como riquezas, poder e honra, de um lado, ou pobreza, repreeensões e aflições de outro." Ao orar "livra-nos do mal", suplicamos o livramento tanto de Satanás quanto da prática do pecado, "pois embora Satanás pessoalmente seja nosso inimigo e procure nos destruir, o pecado é a arma pela qual ele tenta realizar seu propósito." "Queremos apenas ensinar que ninguém deve buscar, esperar ou pedir coisa alguma que não seja realmente incluída nesta breve oração", pois tudo que é proveitoso para o bem dos homens e está conforme a Glória de Deus está descrito nesta oração. O cristão vive diariamente diante do desafio da Fé, especialmente quando Deus nos convida pra Orar e falar com Ele; pois "sem fé é impossível agradar a Deus, pois aquele que d'Ele se aproxima precisa crer que Deus existe e que recompensa" os que buscam sua face - sem jamais esquecer a promessa pessoal de Jesus, de que "todo aquele que pede, irá receber." Saiba que um homem ou mulher diante de Deus será a pessoa cristã que pedir em oração para ser! Não será mais, e também não será menos. REFERÊNCIA: J. P. Wiles, As Institutas da Religião Cristã - um resumo - João Calvino. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo, SP, 1966, p 265-270. Autor. Ivan S Rüppell Júnior é Professor de Teologia e Ciências da Religião.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO nas Institutas de João Calvino, Outubro 2021

Esse texto contém um resumo e citações do "Resumo" de J P Wiles para as Institutas de João Calvino. INTRODUÇÃO. Comentário de Alister McGrath sobre "As Institutas" de Calvino e o tema da Predestinação: "A análise que Calvino faz da predestinação parte de fatos empíricos. Alguns crêem no evangelho. Outros não. A função primária da doutrina da predestinação é explicar o porquê de alguns indivíduos responderem ao evangelho, e de outros não. Representa uma tentativa de explicar a variedade das respostas humanas diante da graça. A teologia calvinista da predestinação deve ser considerada como uma reflexão sobre os dados colhidos da experiência humana e interpretados à luz das Escrituras, em vez de algo que se deduz com base em ideias preconcebidas sobre a onipotência divina. (...) Longe de ser uma premissa de importância central no pensamento de Calvino, a predestinação é uma doutrina acessória, que se preocupa em explicar um aspecto intrigante das consequências da proclamação do evangelho da graça." (2005, p 533). TÓPICO 21. A ELEIÇÃO. "O evangelho não é pregado em toda parte do mundo, e onde é pregado não encontra sempre a mesma recepção; e esta circunstância, sem dúvida, está subordinada à determinação de Deus na sua eleição eterna." Mas essa decisão soberana da Majestade de Deus em que alguns irão receber a salvação e outros serão impedidos de experimenta-la causa dificuldades que somente serão resolvidas "numa crença reverente e correta na eleição e na predestinação." Alguns entendem não ser razoável imaginar "que alguns homens sejam predestinados à salvação e outros à destruição." Essa visão se torna uma pedra de tropeço, pois jamais saberemos que "nossa salvação flui da fonte da misericórdia gratuita de Deus, até que cheguemos a um conhecimento da Sua eleição eterna." Deus decidiu oferecer a esperança da salvação para alguns homens e nega-la a outros; "e o próprio contraste projeta luz sobre Sua graça." Paulo afirma que a salvação de um remanescente ocorreu em razão da eleição, o que demonstra que é a Bondade Soberana de Deus que define suas decisões; pois Deus não deve nada a homem algum. "Assim, hoje também há um remanescente escolhido pela graça. E, se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça." (Romanos 11.5-6). Então, se é preciso recordar da eleição para conseguir entender que a salvação é pela graça; todos que negam essa doutrina abandonam a humildade e ocultam o testemunho de uma verdade necessária. Penso que as zombarias dos ímpios quando tratam da predestinação não devem nos calar, e nem mesmo a cautela dos que se dizem atenciosos com os de "mente fraca"; pois neste caso, ao defender sua posição também acabam afirmando que Deus não foi sábio ao apresentar a eleição e torna-la conhecida aos homens. "Ninguém que se arroga ser piedoso ousa negar totalmente a doutrina da predestinação; no entanto muitas objeções são levantadas contra ela, e especialmente por aqueles que a consideram ser o efeito da presciência, ou que ensinam que a presciência é a sua causa." "Nós também cremos firmemente que Deus não somente predestina como também pré-conhece, contudo, dizemos que é absurdo fazer da Sua presciência a causa do Seu propósito predestinador." Ao falar da presciência de Deus queremos destacar que tudo sempre esteve diante de seus olhos; "de tal maneira que, para Seu conhecimento, nada é futuro ou passado, mas todas as coisas são presentes." "Todavia, por predestinação queremos dizer o eterno decreto de Deus mediante o qual Ele determinou consigo mesmo o que haveria de ser de todos os homens." "Pois nem todos são criados em condições iguais; mas sim a vida eterna é preordenada para alguns e a condenação eterna para outros." E do modo como cada homem está colocado em uma destas condições distintas, "dizemos que é predestinado para a vida ou para a morte." Deus demonstrou esta verdade acerca da família de Abraão, revelando ser o Juiz da condição de toda uma nação, naquela eleição. Pois foi na pessoa de Abraão que Deus escolheu uma nação e rejeitou outras, conforme também Moisés afirmou ao povo que a razão de sua preferência era o Amor de Deus, sendo este o motivo de serem libertos do Egito. "O Senhor não se afeiçoou a vocês nem os escolheu por serem mais numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de todos os povos. Mas foi porque o Senhor os amou e por causa do juramento que fez aos seus antepassados. Por isso ele os tirou com mão poderosa e os redimiu da terra da escravidão, do poder do faraó, rei do Egito." (Deuteronômio 7.7-8). Portanto, fiquem alertas todos que pensam que Deus faz suas escolhas de acordo com a dignidade dos homens, pois eis aqui a prova do modo como o Senhor preferiu uma nação diante de todas as outras, já que Ele declarou o "Seu favor sobre aqueles que eram poucos e ignóbeis, até mesmo perversos e desobedientes." Quem de vocês ainda vai discutir com Deus sobre isto, questionando com Ele acerca de "porque foi Seu beneplácito dar tal prova da Sua compaixão?". Creio estar provado que Deus age conforme o seu conselho secreto ao escolher livremente quem ele quer, mas também, importa saber que aos que Ele oferece a salvação, igualmente garante a eficácia dos resultados. "Na adoção da família de Abraão brilhou o favor gratuito de Deus, que Ele negou a outras, mas nos membros de Cristo brilha uma demonstração muito mais excelente do poder de Sua graça; pois aqueles que estão unidos com Ele como seu Cabeça nunca decaem da salvação." Desta forma, entendemos que a Eleição Geral de Israel era a imagem visível de uma bênção maior que Deus definiu derramar sobre alguns em detrimento de outros. "Esta é a razão porque Paulo distingue tão cuidadosamente entre os filhos de Abraão segundo a carne, e os descendentes espirituais que são chamados como foi chamado Isaque - não porque era uma coisa vã ou infrutífera ser filho de Abraão, mas porque o conselho imutável de Deus, mediante o qual Ele predestinou a Si mesmo a quem quis, foi eficaz para a salvação destes somente." No próximo capítulo irei destacar os textos bíblicos que apresentam essa doutrina. TÓPICOS 22 a 24. UMA DECLARAÇÃO DO TESTEMUNHO DAS ESCRITURAS À VERDADE DA DOUTRINA DA ELEIÇÃO E UMA REFUTAÇÃO DAS OBJEÇÕES QUE SEMPRE TEM SIDO LEVANTADAS CONTRA ELA. PROVA DA MESMA MEDIANTE A CHAMADA EFICAZ. "A doutrina da eleição encontra oposição de todos os lados, mas a sua verdade não pode ser abalada." Muitos entendem que Deus prefere alguns homens ao invés de outros baseado na presciência de suas atitudes, adotando pela Graça aqueles que sabe que serão dignos de Sua Graça, e declarando a condenação eterna aos que também já sabe que serão indignos. Esse pensamento tem sido aceito por muitas épocas e grande número de bons homens, porém, "a verdade de Deus é sólida de mais para ser abalada pela autoridade de grandes nomes." "Quando Paulo ensina que fomos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1.4), ele certamente anula o pensamento de que Deus tinha qualquer respeito para com nossos méritos." Paulo indica que após nosso Pai celestial saber que ninguém da família de Adão seria digno de sua eleição, então Ele volta seu olhar para Cristo, vindo a dar vida aos que escolheu a partir da honra de Cristo. Assim, Paulo convoca os colossenses para "dar graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz" (Col 1.12). Portanto, ao realizar a eleição antes de derramar a graça que nos capacita para a vida futura, de que forma Deus poderia achar algo em nós que pudesse auxiliar nossa eleição? A carta aos Efésios é mais clara ainda sobre esse ponto: "Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença." (Ef 1.4). "Se Deus nos escolheu para que fossemos santos, não nos escolheu porque previu que seríamos santos." Paulo trata do mesmo tema na carta aos Romanos, ao esclarecer que nem todo o povo de Israel poderia ser considerado israelita, pois estavam sob a mesma bênção de forma hereditária, mas "a sucessão não passou para todos sem distinção". Ainda que os descendentes de Abraão fossem santos em razão daquela aliança perante o povo, Paulo também destaca que muitos ficaram de fora da aliança, o que não ocorreu em razão de sua indignidade, mas "sim por causa da supremacia e domínio da eleição especial de Deus." Jesus Cristo faz a seguinte declaração ao perceber o coração duro dos que ouvem suas palavras: "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim... E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum se perca de todos os que me deu." (João 6.37-39). "Observe aqui que o dom do Pai é definido como sendo a causa da nossa vinda a Cristo e do nosso interesse no Seu cuidado protetor. "Ninguém", diz Ele, "pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer... todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim". (João 6.44-45). Neste sentido, entendemos que a eleição seria comum a toda humanidade se todos viessem até Cristo, mas o que vemos é algo diferente disto, pois há um número menor de crentes. Alguns dizem que seria um contrassenso Deus chamar todos os homens para ele, sendo que somente alguns são escolhidos; e desta forma afirmam que a promessa universal derruba a ideia de uma graça diferente e especial. "Já demonstrei antes como as Escrituras reconciliam estas duas coisas: que pela pregação do evangelho todos os homens são chamados ao arrependimento e à fé, e apesar disso, o espírito de arrependimento e de fé não é dado a todos... ; embora a voz do evangelho seja uma chamada geral a todos os homens, não obstante, o dom da fé é raro." Isaías esclarece o motivo, declarando que o "braço forte do Senhor" não alcança a todos com a revelação do conhecimento de Deus. O profeta esclarece que, "devido à fé ser um dom especial, a chamada externa chega em vão aos ouvidos dos homens." Agostinho orienta aqueles que desejam contraditar a Deus: "Queres disputar comigo? Prefiro que te maravilhes comigo, e exclames: Oh, que profundidade." Paulo também esclarece que Jacó foi escolhido e Esaú foi rejeitado não porque Deus sabia de suas atitudes, mas sim devido à escolha de Deus, antes sequer de terem praticado algum bem ou mal. "Mas procuremos a causa da condenação na corrupção do homem, ao invés de inquirir sobre o mistério inescrutável e incompreensível da predestinação divina." Vamos analisar três mentiras acerca dessa doutrina: 1. "Alguns falsa e impiamente acusam Deus de parcialidade injusta porque não trata todos da mesma maneira." Declaram que Deus deve castigar todos se os acha culpados, ou salvar todos se os acha inocentes, querendo impedir Deus de ser misericordioso ou de realizar seu justo juízo. A nossa confissão é que todos são culpados, e que alguns serão salvos pela misericórdia de Deus; sendo que não irá socorrer a todos, porque cabe a Ele decidir ser o Juiz da sentença justa de condenação. 2. "Diz-se que esta doutrina destrói todo o cuidado para com as boas obras. Admitimos que há muitos suínos que abusam da doutrina da predestinação e fazem dela uma desculpa para desafiar toda a repreensão e toda a exortação às boas obras", dizendo que pela predestinação, Deus vai salva-los ainda que cometam toda barbaridade. "Todavia as Escrituras não encorajam uma tal estultícia e maldade." 3. "Contrapõe-se que esta doutrina milita contra todas as exortações a uma vida piedosa." No entanto, enquanto pregava a eleição, Paulo igualmente foi sempre firme ao exortar e admoestar. Qual mestre zeloso que pensa dessa forma pode se comparar ao Apóstolo Paulo em zelo e determinação? Lembremos de Agostinho: "Visto não sabermos quais são os eleitos, cumpre-nos desejar de coração a salvação de todos. Assim sendo, procuremos fazer de toda pessoa com que encontrarmos participante da paz; e nossa paz permanecerá sobre os filhos da paz." "Deus manifesta Seu conselho secreto ao chamar Seus eleitos; podemos, portanto, corretamente considerar a chamada eficaz como sendo a prova da eleição, porque "aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou." (Romanos 8.30). Neste sentido, eles já começam a viver os benefícios da eleição desde a sua chamada; "e o Espírito que então recebem é, portanto, chamado o Espírito da adoção e o penhor da sua herança futura." (Efésios 1.13). (Wiles, J P. As Institutas da Religião Cristã - um resumo. João Calvino. Editora PES, São Paulo SP, 1966, p 270-277). (McGraht, Alister. Teologia sist, hist e filosófica. Uma Introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações. São Paulo, 2005). Autor: Ivan Santos Rüppell Jr é Teólogo e Cientista da Religião, Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

sábado, 23 de outubro de 2021

SOLA SCRIPTURA! A Reforma do Cristianismo e a Palavra de Deus.

A Reforma Protestante do sec 16 será celebrada mais uma vez no próximo dia 31 de outubro. Esta Reforma da Religião Cristã deu origem ao Protestantismo, e ficou marcada por cinco títulos que se tornaram lemas de sua doutrina religiosa, os quais enfatizam que acima de qualquer instituição e homem, o Cristianismo deve ser estabelecido primeiramente conforme cinco conceitos teológicos: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus e Soli Deo Gloria; ou seja, Somente a Escritura e Somente a Graça, Somente a Fé e Somente Cristo, e Somente a Deus a Glória! O princípio doutrinário Sola Scriptura - Somente a Escritura indica que a Bíblia é a única regra de fé e prática da Igreja, sendo que o protestantismo afirma as doutrinas da inspiração e autoridade, inerrância e clareza, necessidade e suficiência do texto bíblico como fundamentos do Conhecimento de Deus, na Teologia Reformada. Nesse contexto, voltamos nossa atenção para as palavras de Jesus anotadas pelo Apóstolo João, no capítulo cinco do Evangelho, que contém o ensino do Messias para os que negavam sua autoridade como Profeta de Deus: "Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês tem a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida (...) Se vocês cressem em Moisés, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Visto, porém, que não crêem no que ele escreveu, como crerão no que eu digo?" (versos 39 a 47). Jesus revela que sua Autoridade como Cristo para fazer Obras em nome de Deus e declarar Bênçãos e Juízos divinos para os homens tem base e origem nas Escrituras, num princípio relacionado à Torá (Lei) de Moisés, sendo que utilizamos este mesmo princípio para valorar o modo como as Escrituras desenvolvidas nos Evangelhos pelos Apóstolos, igualmente autorizam o conhecimento cristão. Sobre esse tema, o Salmo 19 é um dos textos bíblicos que melhor ensina a importância das Escrituras para que a humanidade possa conhecer Deus de forma verdadeira e profunda. O salmo inicia com uma proposição universal, ao afirmar que "os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos.", apresentando o modo como toda natureza e mundo comprovam a existência do Criador Todo Poderoso sobre a Terra, sendo um conceito teológico entendido como uma "revelação geral" de Deus acerca de sua Majestade, que toca o coração de todos os seres humanos, simplesmente pelo fato de estarem vivos. A seguir, o Salmo 19 acrescenta o ensino do modo como Deus revela a Verdade da existência e oferece Vida pra humanidade: "A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma... os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos e trazem luz aos olhos." (versos 7-8). Desta forma, vemos nestes versículos como o próprio texto bíblico atesta o modo como Deus faz uma "revelação especial" acerca de Si mesmo para a humanidade, vindo a estabelecer as Escrituras como as Palavras de Deus que irão esclarecer aos seres humanos o caráter divino e o conhecimento acerca da Vida real e eterna. Então, vemos como a natureza anuncia a Majestade do Criador, enquanto aprendemos que somente a Bíblia ensina a Verdade sobre Deus e a existência humana. Sendo este um breve e simples exemplo da maneira como surgiu e de como tem se mantido na Igreja Protestante o princípio Sola Scriptura, da supremacia da Bíblia, como um valor cristão básico e fundamental. Agora, para entender um pouco melhor a importância deste princípio e o modo como seu valor foi essencial para a Reforma do Cristianismo iniciada no século 16, vamos aproveitar algumas reflexões e fatos apresentados pelo historiador e teólogo Alister McGrath, em seu livro; A Revolução Protestante - uma provocante história do protestantismo contada desde o século 16 até os dias de hoje. O autor conta na introdução do livro, o modo como a Igreja Anglicana se reuniu ao final do século 20 no objetivo de reforçar a unidade de sua liderança, e assim de todos os fiéis. Em meio às atividades diárias de oração e estudo da Bíblia, eis que uma questão essencial eclodiu: "como a Bíblia deveria ser interpretada - por exemplo, em relação a questões controversas como a da homossexualidade"; sendo que este e tantos outros temas urgentes da chegada próxima do século 21 refletiam as mais diversas contrariedades de entendimento entre liberais e conservadores no meio religioso. "Parafraseando Hugh Latimer, bispo de Worcester... todos queriam o bem - mas certamente eles não queriam a mesma coisa." (p 9-10) Nesta situação, os anglicanos passaram a debater de que maneira a Bíblia poderia "ser o fundamento para a identidade e a união deles quando havia uma desunião tão evidente em relação a como ela tinha de ser entendida?". Para McGrath, "a ideia no cerne da Reforma do século 16, que trouxe o anglicanismo e outras igrejas protestantes à existência, era que a Bíblia podia ser entendida por todos os cristãos - e de que todos eles tinham o direito de interpretá-la e de insistir que as suas percepções fossem levadas a sério." Assim, a proposição de que os cristãos deveriam ter o direito de interpretar as Escrituras segundo seu próprio entendimento se tornou tanto um valor da reforma, como um princípio de consequências incontroláveis na história do Cristianismo, conforme destaca McGrath: "O desenvolvimento do protestantismo como a principal força religiosa do mundo é decisivamente modelada pelas tensões criativas que emergem desse princípio." (p 10) Nesse contexto, anotando a importância fundamental das Escrituras ao Cristianismo, a partir de como Jesus estabelece a Lei de Moisés como base de sua autoridade, a qual somente temos conhecimento exatamente pelas Palavras Bíblicas dos Evangelhos dos Apóstolo; voltamos nossa atenção para o modo como o lema SOLA SCRIPTURA esteve presente na história da Igreja Medieval e particularmente, no surgimento do Protestantismo. Segundo McGrath, "o protestantismo... teve origem nas grandes agitações intelectuais e sociais da época que criaram uma crise nas formas existentes de cristianismo e que ofereceram meios pelos quais isso podia ser resolvido." A própria expressão "protestantismo" para designar esse movimento surgiu de forma casual, em meio aos decretos romanos que definiam Lutero como um herege, sendo que em meio aos conflitos de autoridade entre Roma e Alemanha, diversos príncipes vieram apoiar Martinho Lutero, com um decreto de 1526 liberando-os para decidir por si próprios como atuar diante do reformador, o que acabou impulsionando o movimento reformista luterano na Alemanha. (p 13) Até que anos mais tarde, autoridades do catolicismo romano reunidas na Dieta de Speyer de 1529 aprovaram resoluções contrárias tanto ao Islã quanto diante do movimento da Reforma de Lutero; sendo que nesta ocasião, "seis príncipes alemães e quatorze representantes imperiais, indignados", vieram a realizar um protesto direto diante da opressão contra a liberdade de religião. Sendo que, "o termo latino protestantes foi imediatamente aplicado a eles e ao movimento que representavam." (p 14) Dentro desse contexto histórico e religioso, o termo protestantismo veio a ser utilizado para designar tanto a reforma alemã, como a reforma desenvolvida por Ulrico Zuínglio na Suiça, além de movimentos anabatistas e também, as atividades desenvolvidas em Genebra sob a liderança de João Calvino. Desta forma, ao redor da década de 1560 e em meio ao desenvolvimento das reflexões da Contra Reforma Católica, luteranos e anglicanos, reformados e anabatistas buscaram alinhamento e certa unidade no interesse de colaborarem junto diante de um adversário fortíssimo, a Igreja Católica. "Quaisquer que fossem as diferenças, assim eles raciocinaram: "Somos todos protestantes" - embora houvesse uma evidente falta de clareza em relação ao que isso queria realmente dizer." (p 15) A partir disto, buscamos entender o modo como este "Protestantismo" surgido no séc 16, que agregava diversos movimentos cristãos interessados na "Reforma" do Cristianismo, faz parte de uma realidade que sempre esteve presente na Religião Cristã; especialmente a partir do modo como os cristãos valorizam a Bíblia, o que demonstra a importância e supremacia das Escrituras como o valor essencial de uma Igreja Cristã que pretende atuar continuamente numa reforma válida de suas estruturas e vivências. O autor anota o modo como desde a década de 1170, na Idade Média, um comerciante do sul da França chamado Valdes (Pedro Valdo) iniciou um projeto de reforma da religião cristã baseado na importância da leitura da Bíblia e na atenção aos necessitados, de forma que o movimento cristão valdense veio a se desenvolver nas regiões da França e Itália, nos Alpes, tendo uma base até os dias de hoje na região de Piemonte, norte da Itália. Seguindo o princípio de desenvolver pregações cristãs direto do texto bíblico, o movimento influenciou o reformador suiço Bullinger na época da Reforma, vindo a se integrar ao movimento protestante, assumindo valores de pensamento calvinistas. Para McGrath, "o movimento valdense representa um importante elo histórico entre os primeiros movimentos reformadores medievais, que tinham programas predominantemente morais e fundamento bíblico, e a Reforma." (p 32). Neste mesmo contexto, o autor destaca um certo "evangelicalismo católico" surgido em regiões da Itália, com ênfases na importância da fé pessoal e na responsabilidade do cristão agir no dia a dia segundo princípios bíblicos, sendo uma experiência que também surgiu e se manteve durante a Igreja medieval. Após esse destaque sobre alguns movimentos de reforma do cristianismo, entende-se que a compreensão correta da origem histórica do Protestantismo aponta para uma dupla mudança que ocorria na cultura ocidental ao final da idade média e início do período moderno. Mudança embasada em valores e ideias, e relacionada aos desejos pessoais e aspirações sociais que tomavam conta do ocidente desde o século 14, sendo que, "o advento da imprensa permitiu o descontentamento com os paradigmas existentes e o entusiasmo por uma alternativa para difundir ideias com rapidez sem precedentes." (p 33). Aqui, anotamos que a grande transformação religiosa da época da reforma protestante surgiu a partir de debates sobre a possibilidade de que ideias fundamentais da igreja podiam ter origem e estar embasadas em intepretações errôneas da Bíblia. Sendo que foi o Renascimento do séc 14 que trouxe mudanças para o mundo das ideias, as quais através do Humanismo vieram a promover mudanças na realidade social de toda Europa. Observe que os humanistas do Renascimento, entre o séc 14 até o ano de 1500 se dedicavam a buscar a eloquência e excêlencia da cultura das civilizações clássicas grega e romana, vindo a fortalecer o valor da filosofia como ideias de reflexão e estruturação da sociedade: "seu método básico se resume na expressão latina AD FONTES, "de volta às origens"! O riacho é mais puro na nascente." (p 36). Nesse mesmo movimento, o estilo de arquitetura gótico perdeu espaço para o clássico, enquanto que o latim rebuscado do poeta Cícero se tornou a linguagem das universidades e literatos, diminuindo a importância do latim popular. Em meio a tudo isso, "a maioria dos humanistas da época - como o grande Erasmo de Roterdã - eram cristãos preocupados com a renovação e a reforma da igreja." (p 36). Daí surgiu a reflexão e decisão de que o mesmo método utilizado pelo humanismo renascentista na revolução da literatura e conhecimento, arquitetura e sociedade deveria também ser utilizado para a reforma do Cristianismo. "Mas como isso tinha de ser feito?... Qual era a fonte original do cristianismo? Os humanistas cristãos tinham pouca dúvida: a Bíblia, especialmente o Novo Testamento. Essa era a fonte derradeira da fé. (...) A exigência humanista de retorno à Bíblia mostrou ser um chamado muito mais radical do que muitos homens seniores da igreja podiam digerir (...) O verdadeiro conteúdo da Bíblia devia ser estabelecido por meio de métodos textuais mais confiáveis, e a Bíblia devia ser lida em suas línguas originais." (p 36-37). Neste período, o mesmo Erasmo que havia lançado em 1503 a revolucionária obra, Manual do Soldado Cristão, que valorizava a importância de o cristianismo estar baseado nos crentes leigos que deveriam praticar a religião embasados na leitura bíblica, acabou produzindo em 1516 uma edição do Novo Testamento em grego, apontando diversos erros de tradução na Vulgata latina estabelecida ao redor do ano 800 e tornada oficial na Idade Média. Erasmo esclareceu a partir do texto grego que a convocação cristã de Mateus 4.17 não deveria ser lida como estava na versão latina: "Façam penitência, pois o Reino de Deus está próximo", mas sim, conforme o texto grego "ad fontes", que dizia: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo." E neste exemplo, vemos o modo como a reconciliação Cristã dos homens com Deus foi transferida da esfera de uma instituição histórica para uma relação pessoal diante da Pessoa de Deus, pois a penitência é um ato sacramental ritualístico vivenciado numa instituição diante de homens designados para isto, enquanto que o arrependimento é um sentimento de tristeza afirmado numa súplica e oração de ajuda, dirigida e falada pra Deus Pai, como bem ensinou Jesus Cristo: "Vocês, orem assim: Pai Nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome... Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores..." (Mateus 6.9-12). Sendo que foi este livre acesso às Escrituras e a supremacia do texto bíblico sobre as tradições dos homens, que capacitou Lutero a conhecer o conceito essencial do Evangelho de Jesus Cristo, na carta aos romanos do Apóstolo Paulo, cap 1.17: "Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé". Algo que fez tanto o líder protestante do séc 16, como igualmente qualquer cristão dedicado a Bíblia na história, a ser capaz de confessar seus pecados a Deus em nome de Jesus Cristo, para dizer feliz junto com Paulo: "Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." (Romanos 5.1). Enfim, é dentro deste contexto histórico e social, que McGrath ressalta a seguinte afirmação: "Sem o Humanismo, não teria havido Reforma", sendo que, "esse lema repetido com frequência apresenta o ponto de que o surgimento do humanismo forçou um programa de reforma mais radical sobre a igreja do que fora previsto." É verdade! As transformações culturais dos séculos 14 e 15 oportunizaram as condições sociais e políticas para que os Líderes da Reforma Protestante tivessem um êxito histórico no propósito de promover uma reforma da Religião como jamais houve no Cristianismo. E do mesmo modo, entendemos que nenhuma Reforma saudável do Cristianismo jamais aconteceria separada das Escrituras. Sendo que o momento histórico do sec 16 propiciou a formatação de um protestantismo estabelecido na ideia mais original e perigosa (maravilhosa) da história - o acesso livre do ser humano ao texto das Escrituras Bíblicas, a própria Palavra de Deus! Sola Scriptura - Somente a Bíblia. (REFERÊNCIAS: McGrath, Alister. A Revolução Protestante - uma provocante história do protestantismo contada desde o século 16 até os dias de hoje. Editora Palavra, Brasília DF, 2012) Autor: Ivan Santos Rüppell Junior é Teólogo e Cientista da Religião, Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

A IGREJA PRESBITERIANA E A REFORMA PROTESTANTE.

"O presbiterianismo derivou da Reforma Protestante do século 16. Pouco depois que o protestantismo começou na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, surgiu uma segunda manifestação do mesmo em Zurique, na Suiça, sob a direção de outro ex-sacerdote, Ulrico Zuínglio. Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo movimento ficou conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suiça. (...) Até hoje, as igrejas ligadas a essa tradição no continente europeu são conhecidas como Igrejas Reformadas (da Suiça, França, Holanda, Hungria, Romênia e outros países)... O termo reformado é um termo abrangente que inclui todo um modo de encarar a vida a partir de uma série de presssupostos, dentre os quais se destaca a soberania de Deus." (...) "O termo presbiteriano foi adotado pelos reformados nas Ilhas Britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda)... O sistema presbiteriano, isto é, o governo da igreja por presbíteros eleitos pela comunidade e reunidos em concílios, significava um governo mais democrático e autônomo em relação aos governos civis. Das Ilhas Britânicas, o presbiterianismo foi para os Estados Unidos e dali para muitas partes do mundo, inclusive o Brasil." (...) "A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas que tem em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence à família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Suas origens mais remotas encontram-se nas reformas protestantes suiça e escocesa, no século 16, lideradas por personagens como Ulrico Zuinglio, João Calvino e João Knox. O nome "igreja presbiteriana" vem da maneira como a igreja é administrada, ou seja, através de "presbíteros" eleitos pelas comunidades locais."* Referências: Matos, Alderi Souza e Nascimento, Adão Carlos. O que todo Presbiteriano inteligente deve saber. Socep Editora, Santa Bárbara d´Oeste, SP, 2007, p 9-12. Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é Ministro da IPB, professor de Teologia e Ciências da Religião.

A ORAÇÃO DO PAI NOSSO nas Institutas de João Calvino, Outubro 2021

Esse texto contém um resumo e citações do "Resumo das Institutas de João Calvino" desenvolvido por J P Wiles. Institutas da Religião Cristã. Tópico 20. A ORAÇÃO. "Por meio da oração temos acesso aos tesouros que estão guardados para nós no coração do nosso Pai celestial, pois tudo quanto colocou diante de nós como objeto de esperança também mandou que procurássemos mediante a oração. As palavras nunca poderão expressar plenamente a necessidade e a utilização deste exercício." Mas, afinal, se Deus sabe das nossas necessidades e tem entendimento do que é melhor para nós, não é um engano chamar sua atenção através de orações, como se ele precisasse ouvir de nós estes pedidos? Quem pensa assim ainda não entendeu o propósito da oração. Ainda que Deus esteja continuamente nos protegendo e abençoando, quando nem mesmo sabemos o que ocorre em nossas vidas, devemos aprender como é importante buscar diretamente a Sua presença, até compreender como Ele é o nosso refúgio principal nas necessidades. A prática habitual de pedir o que está em nosso coração e de clamar o que nos preocupa vai nos ensinar o Temor que irá nos deixar sem medo de invocar seu Nome em toda ocasião e situação. "Para orarmos corretamente, quatro regras devem ser observadas: 1. Que nosso estado de coração e postura de mente seja tal como é apropriado para os que procuram comunhão com Deus. 2. Que em todos os nossos pedidos verdadeiramente sintamos necessidade das coisas que pedimos e sinceramente desejamos obtê-las. 3. Que deixemos de lado toda a vanglória e toda a confiança no próprio eu, humildemente dando toda a Glória somente a Deus. 4. Que, apesar da nossa auto-humilhação, sejamos encorajados a orar pela expectativa segura que Deus escutará nossas orações e as responderá, pois assim é o mandamento de Cristo: "Portanto, eu lhes digo: Tudo o que vocês pedirem em oração, creiam que já o receberam, e assim lhes sucederá." (Mc 11.24). Sabemos que nenhum ser humano pecador tem condições de comparecer diante da Presença Santa de Deus Pai celestial, e por isso, Deus enviou Jesus Cristo para ser o Advogado e Mediador de nossas orações e súplicas, já que Deus jamais irá recusar um pedido de seu Filho. EXPOSIÇÃO DO PAI NOSSO. "As primeiras palavras nos lembram que a oração deve ser dirigida a Deus em nome de Cristo somente, porque quando chamamos Deus de nosso Pai, inferimos que estamos pleiteando o nome de Cristo. Quem entre nós poderia ousar arrogar a si mesmo o título de filho de Deus, se não fossemos adotados como filhos em Cristo? João diz. "Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus." (João 1.12). De acordo com isso, Deus Se chama nosso Pai, e deseja que assim O chamemos." "Quando a oração diz que Ele está "no céu" não suponhamos que Ele esteja confinado a certos limites ou que habite nalguma região circunscrita; lembremo-nos pelo contrário, daquilo que Salomão diz: "Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem conter-te. Muito menos este templo que construí." (1 Reis 8.27). "A primeira petição é que o nome de Deus seja santificado." Deus demonstra Seu poder, sabedoria, justiça, misericórdia e verdade no propósito de tocar nosso coração para admirar sua Majestade e cantar em seu louvor; "no entanto, a humanidade rouba d´Ele a glória que lhe é devida. Daí surgir a necessidade de orarmos: "Santificado seja o teu nome." "A segunda petição é: "Venha o teu reino." "Deus reina onde os homens negam o próprio eu, elevam-se acima do nível do mundo e seguem a justiça, de modo que possam aspirar à vida celestial." Portanto, há dois aspectos do reino que Deus vem realizar em nossas vidas, nesta petição: primeiro, Ele vem corrigir através do seu Espírito os desejos pecaminosos da nossa natureza; e segundo, "Ele molda todos os poderes da nossa alma em obediência ao Seu governo." Assim, quem faz essa oração pede que Deus venha purificar o seu coração de todos os interesses e atitudes contra o Reino; e logo após, pede que Deus edifique as suas Igrejas em todo mundo, enriquecendo-as com dons, além de pedir que Deus "abata todos os inimigos da sã doutrina e da religião pura, anulando os seus conselhos e frustrando seus esforços. Mas a oração será completamente cumprida no último advento de Cristo, quando Deus será tudo em todos." "A terceira petição é que a vontade de Deus seja feita na terra como é no céu." Essa oração depende da primeira e somente será cumprida através daquela, mas é um pedido necessário, "porque somos lentos para perceber o que é o Reino de Deus." Trata-se de uma oração que esclarece a petição anterior, "mostrando como Deus será Rei no mundo, quando todos os homens se submeterão à Sua vontade", que é a sua vontade revelada a qual nos submetemos ao obedecer voluntariamente seus princípios. "Da primeira metade desta oração aprendemos que os que não procuram que o nome de Deus seja santificado, que seu Reino venha, e que Sua vontadade seja feita, não são dignos de serem considerados filhos e servos de Deus." "Quando oramos pedindo o nosso pão cotidiano, pedimos não somente o alimento, como também as roupas e todas as coisas necessárias para que possamos comer nosso pão em paz. Desta maneira, entregamo-nos aos cuidados e à providência de Deus, a fim de que nos alimente, cuide nós e nos preserve." "As petições, a quinta e a sexta, incluem tudo quanto é necessário para obtermos entrada na vida celestial nas alturas, o perdão dos pecados e a vitória sobre a tentação. Os pecados aqui são chamados "dívidas", porque estamos obrigados a pagar a penalidade proveniente deles, dívida essa que de modo algum poderíamos pagar a não ser que fossemos liberados dela mediante o perdão; e isso nos advém da misericórdia gratuita de Deus." Deus cancela a nossa dívida ao aceitar o pagamento dado por Cristo na cruz, ao morrer pelos pecados." Portanto, todo aquele que imagina que as suas próprias obras ou ainda, as obras de outros poderão satisfazer essa dívida, não irão experimentar esta redenção gratuita - livramento da condenação e reconciliação com Deus. "Na sexta petição, pedimos a Deus que assim nos arme e defenda para que obtenhamos a vitória contra todos os nossos inimigos: "não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal." "Há muitas formas de tentação, pois o termo inclui todos os conceitos corruptos da mente que nos predispõem a transgredir a lei de Deus, quer surjam de nós mesmos, quer sejam sugeridos pelo diabo. Além disso, coisas que em si mesmas não são malignas são transformadas em tentações pela arte de Satanás, sempre que servem para nos desviar de Deus; tais como riquezas, poder e honra, de um lado, ou pobreza, repreeensões e aflições de outro." Ao orar "livra-nos do mal", suplicamos o livramento tanto de Satanás quanto da prática do pecado, "pois embora Satanás pessoalmente seja nosso inimigo e procure nos destruir, o pecado é a arma pela qual ele tenta realizar seu propósito." Estas três últimas petições indicam que as orações dos cristãos devem ser tanto particulares, como também públicas, "tendo por seu objetivo a edificação da igreja e o proveito de toda a comunidade dos crentes." Esse entendimento não exige que utilizemos somente as palavras e expressões próprias da Oração do Pai Nosso em nossas orações, pois as Escrituras dão testemunho de súplicas diversas que são inspiradas pelo Espírito Santo. "Queremos apenas ensinar que ninguém deve buscar, esperar ou pedir coisa alguma que não seja realmente incluída nesta breve oração", pois tudo que é proveitoso para o bem dos homens e está conforme a Glória de Deus está descrito nesta oração. REFERÊNCIA: J. P. Wiles, As Institutas da Religião Cristã - um resumo - João Calvino. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo, SP, 1966, p 265-270. Autor. Ivan S Rüppell Jr é Professor e Capelão Social.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

A Importância de Deus nos Projetos para o NOVO Ano!

O Apóstolo Tiago escreve o que podemos chamar de carta da Sabedoria no Novo Testamento, seguindo os passos de Salomão, filho de Davi. E com Tiago recordamos e estabelecemos que a Sabedoria Cristã é sempre um conhecimento que se realiza no modo como vivemos a existência, como esclarece o Apóstolo ao explicar que devemos demonstrar a nossa sabedoria pelo bom procedimento, com atitudes oriundas da humildade. (3.13). Nesse sentido, vamos meditar em princípios e atitudes cristãs que possam nortear os nossos projetos de vida para o novo ano. "Ouçam agora, vocês que dizem: "Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro". Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: "Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo". Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna. Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado." (Carta do Apóstolo Tiago, 4.13-17). O comentário da Bíblia de estudo de Genebra para esse texto bíblico vai direto ao ponto: "Tiago repreende a pessoa que vive a sua vida e faz planos sem qualquer consideração da vontade de Deus. Tal pessoa vive sem respeitar a soberania divina... A primeira consideração em todos os planos para o futuro deve ser a soberana vontade de Deus." Sobre esse tema, o Apóstolo Paulo trouxe importante conhecimento sobre a Soberania de Deus na história, quando estava palestrando lá no Areópago de Atenas no primeiro século, dizendo: "De um só fez ele todos os povos, para que povoassem a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar (...) "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos", como disseram alguns dos poetas de vocês: "Também somos descendência dele". (Atos dos Apóstolos, cap 17.26-28). Assim, a primeira e boa decisão diante da realidade de que há um Deus Soberano sobre a história da nossa vida e da humanidade é fazer logo a oração do salmo 131, que diz: "Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma... Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel, desde agora e para sempre!". Então, de um lado deve-se aprender que Deus é Soberano, e de outro, Tiago lembra que os seres humanos não sabem nem o que vai ocorrer amanhã, sendo que podemos nos considerar como a "neblina" que surge e logo se vai, se quisermos comparar a nossa capacidade diante da vida com a capacidade soberana de Deus Todo Poderoso. Jesus contou uma parábola sobre essa realidade, falando da necessidade de nos preocuparmos com o plano fundamental da história - a ressurreição e a vida eterna, além de destacar os cuidados que Deus derrama sobre nós enquanto Ele dirige o mundo e universo. Jesus contava sobre um agricultor que teve uma grande colheita e por isso decidiu construir novos celeiros, afirmando pra si mesmo: "Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se". Mas Jesus chamou sua atenção, dizendo: "Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida... Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus." E seguindo com o ensino, Jesus disse: "Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?... Busquem, pois, o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas." (Lucas 12.13-34). Assim, além de saber que Deus é Soberano sobre a época em que nascemos e os lugares que vivemos, devemos entender como sendo maligna a ideia de querer governar nossa existência negando a vontade de Deus, afora o fato de sermos seres frágeis diante da realidade do mundo e das realidades do conhecimento sobrenatural de Deus. Somente após compreender estas verdades básicas é que nós seremos capazes de seguir em frente, procurando entender o que é bom e o que é ruim de fazer quando tentamos organizar nossas vidas. Veja que o próprio Messias Jesus orientou que as pessoas deveriam ser cuidadosas ao avaliar as suas escolhas antes de tomar decisões e seguir com os seus projetos de vida. Assim, o problema não é planejar o futuro, mas sim, pensar e gerenciar proposições de vida sem prestar atenção e respeitar a vontade de Deus e a sua Soberania sobre toda a história e o mundo, certo? Nesse contexto, uma orientação fundamental e abrangente surge do modo como Salomão afirmou que somente o Temor e a guarda dos Mandamentos são verdades básicas de todos que desejam estar dentro da vontade de Deus enquanto vão vivendo o dia a dia comum da Humanidade. Sendo uma verdade que Jesus aprofundou ao estabelecer a importância interior dos 10 mandamentos e o seu valor como fundamentos de quem deseja estar debaixo da vontade de Deus, concluindo com as seguintes palavras, lá no Sermão do Monte: "Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha." O reformador Lutero também ensinava um sapateiro a viver no dia a dia de maneira digna perante Deus, orientando que ele deveria fazer um bom sapato e vende-lo por preço justo. Enquanto o Apóstolo Paulo afirmava que já não poderia viver sem falar sobre Deus e o Evangelho do Messias que haviam transformado sua história de vida, pois entendia que contar isto aos outros era a principal vontade de Deus em nossos dias; sendo que a experiência de Lutero e Paulo se relaciona com a instrução final de Tiago: "Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado", ao negar seguir a vontade de Deus enquanto vive. Agora, há algo fundamental que devemos saber acerca de como viver de forma abençoada diante do Deus Soberano, enquanto nossos projetos são lentamente conduzidos na vida, em meio a tantas novidades e surpresas que podem vir daonde menos se espera, tendo por exemplo a própria pandemia. Tiago segue falando palavras de sabedoria pra nós, e no início do cap cinco ele orienta os cristãos a praticar sempre a paciência e buscarem se fortalecer no Senhor, pois somente serão felizes diante de Deus aqueles que demonstram perseverança em segui-lo e manter-se junto d´Ele na vida. Na continuidade do capítulo, Tiago indica o que devemos fazer para ficar fortes e "esperar" em Deus, enquanto seguimos com a vida. O apóstolo convoca os cristãos para se aproximar de Deus com todas as suas dificuldades e dores, alegrias e vivências, enfatizando que nossa melhor atitude é falar com Deus sobre tudo que nos acontece, conforme lemos: "Entre vocês há alguém que está sofrendo? Que ele ore. Há alguém que se sente feliz? Que ele cante louvores. Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará... A oração de um justo é poderosa e eficaz." (5.13-16). Então, desenvolva logo a experiência de depender de Deus através de um relacionamento de orações constantes sobre os assuntos mais variados da vida, pois somente assim seremos cuidados pelo Senhor enquanto procuramos viver debaixo da sua Soberana vontade; sabendo que sua Grandiosa Compaixão estará agindo sobre nós na caminhada. E aqui, você pode utilizar o conselho de Paulo sobre o tema de saber andar com Deus enquanto a vida da gente não se resolve, conforme Filipenses 4.6: "Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus." Pois somente a paz de Deus poderá nos livrar de tomar decisões ruins e apressadas enquanto as angústias da existência dominam o nosso coração. É isso! O aprendizado que vai nos ensinar a viver corretamente diante do Deus Soberano é incluir em cada uma de nossas escolhas de vida, o conhecimento de seu controle sobre a nossa história e o respeito aos princípios da sua vontade moral para nós. Portanto, o negócio é não tomar decisões que envolvam escolhas contrárias aos mandamentos de Deus, além de buscar sempre viver na Sua presença, entregando-lhe em oração tudo que somos e respiramos - já que somente a partir disto seremos capazes de experimentar uma relação existencial de proximidade dependente junto de Deus Pai. Sendo algo que nos tornará capazes de dizer com sinceridade a frase que Deus espera ouvir dos cristãos: "Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo." E nesta conclusão, cabe o comentário de John Stott sobre as observações do Apóstolo Paulo ditas lá no Areópago: "O que mais impressiona é a abrangência da mensagem de Paulo. Ele proclamou Deus em sua plenitude, como Criador, Sustentador, Soberano, Pai e Juiz."** Assim, eu e você iremos conhecer e ser abençoados por cada uma destas benditas faces de Deus, exatamente ao procurar estar junto d´Ele tanto nos momentos de análise e decisão sobre o que fazer ano que vem, como também, buscando a Paz e cuidado que somente a sua Presença oferece aos que praticam a religião diante d'Ele. Dessa forma, seremos capazes de seguir andando em cada novo dia de vida que Deus nos dá, aguardando as portas que se fecham e que se abrem, pois somente junto de Deus iremos conseguir achar e permanecer nas que serão saudáveis para nós. Feliz Ano Novo! (*Bíblia de Estudo de Genebra, Edit Cultura Cristã, SP, 1999. p 1490/91) (**A Bíblia Toda o Ano Todo, John Stott, Edit Ultimato, MG 2006 p 334) AUTOR: Ivan Santos Ruppell Jr é Professor de Teologia e Ciências da Religião, e Capelão Social.