terça-feira, 25 de abril de 2023

THE CHOSEN. Histórias com Jesus. A Espiritualidade do Próximo, no Cinema.

A série de streaming "The Chosen" destaca as experiências de vida das pessoas que se encontraram com Jesus na Palestina no primeiro século, pois o tema essencial do enredo é acompanhar as sensações daqueles que conheceram o Messias do Cristianismo. Os milagres e ensinos de Jesus surgem de forma valiosa nas cenas, de modo que a mensagem espiritual da religião se torna o conteúdo doutrinal fundamental do roteiro dos programas. No entanto, as transformações que homens, mulheres e crianças vivenciaram ao redor de seus encontros com Jesus é o conteúdo dramático principal da narrativa. O produtor norte-americano Dallas Jenkins é o principal responsável pela série, que foi produzida através de grande financiamento coletivo com mais de 10 mil investidores. Foram arrecadados 11 milhões de dólares para realizar os programas, que já foram assistidos por 1 bilhão de espectadores por todo o mundo. (disponível no site oficial, Netflix e Youtube). O mérito indiscutível da série é o modo como as histórias dos Evangelhos ganham novo realce e entendimento a partir do contexto de vida dos que estiveram com Jesus, enquanto Ele anunciava as Palavras e realizava as obras de Deus para a humanidade. Observar o cotidiano existencial de seres humanos que estiveram face a face com o Cristo de Deus é um conhecimento valioso ao nosso aprendizado espiritual. São situações em que anotamos noutra perspectiva o modo como Deus se relaciona com as situações humanas mais comuns. De modo que é possível compreender o significado da Graça de Deus para conosco, já que sempre recebemos uma atenção misericordiosa e bondosa para com a nossa pequenez e mesquinharias. A liberdade poética da série na construção da personalidade e vida dos que estiveram com Jesus pode surpreender, mas também faz perceber a juventude e humanidade de grande parte daqueles que estiveram junto d´Ele neste mundo. A personalidade de Jesus surge com bom carisma espiritual e um adequado carinho pelas pessoas, havendo apenas uma crítica nas cenas em que sua cumplicidade pode ser percebida como ironia; o que deveria ser revisto no desenvolvimento da série. A Espiritualidade do Próximo em "The Chosen" se revela exatamente nas situações e sensações do cotidiano das pessoas que estiveram com Jesus, o que dá veracidade ao propósito espiritual da série, que trata da experiência humana diante de Deus. Um destaque valioso da série é todo um capítulo dedicado a ensinar como somente irão entrar no Reino dos Céus, aqueles que receberem Jesus agindo diante d'Ele com a fé de uma criança. O magistral ensino religioso da primeira temporada surge no encontro do Professor Rabi Nicodemos diante de Jesus, aonde um diálogo pouco mais demorado que o bíblico, revela o significado de um esplêndido ensino: que deve-se nascer de novo para entrar no Reino de Deus! Este novo nascimento deve ocorrer na própria pessoa que somos, definido como uma vivência simbolizada na água e do espírito. Uma experiência existencial que destaca a unidade do ser humano enquanto pessoa única, física e espiritual, diante de Deus e toda realidade. De modo que é preciso se relacionar com Deus nesta perspectiva integral, com a nossa consciência adquirindo a condição de revelar a sinceridade da nossa personalidade pra que sejamos capazes de alcançar a real religiosidade. A experiência cristã de nascer de novo pra eternidade, enquanto estamos conscientes e vivendo nossa história neste período de tempo e dimensão da existência é a Verdade mais revolucionária dada aos homens neste planeta. O distinto fato cinematográfico e teológico da série "The Chosen" é o de que sua narrativa baseada na vida dos que estiveram diante de Jesus neste mundo, oferece aos espectadores a oportunidade de contemplar não apenas um encontro, mas sim, um relacionamento entre Deus e a humanidade. Sendo que, ser capaz de vivenciar esta bendita relação é exatamente a promessa do Evangelho Cristão aos homens, desde que o Filho de Deus se fez humano para que os humanos pudessem ser transformados em filhos de Deus. O título da série, Os Escolhidos, remete a uma doutrina teológica cristã milenar. Foi defendida por Agostinho, Lutero, Calvino e bom número de pensadores cristãos, acerca do modo como a fé para crer e viver com Deus não é uma decisão humana, mas sim, uma dádiva divina que recebemos mediante o conhecimento e a decisão do Senhor, conforme expõe Jesus, no Evangelho de João: "Vocês não me escolheram; eu os escolhi. Eu os chamei para irem e produzirem frutos duradouros, para que o Pai lhes dê tudo que pedirem em meu nome." (João 15.16). Bons filmes! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é Professor de Ciências da Religião e autor da publicação: A Espiritualidade de Quase Todo Mundo no Cinema; Resenhas espirituais de Meditações cinematográficas, Editora Dialética, 2022.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

TEOLOGIA APOCALÍPTICA. Texto 3. Resumo "Entendes o que lês?". SPS - extensão Curitiba, 2023.

Este breve resumo com citações tem objetivo didático para a disciplina Teologia Apocalíptica, do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. Resumo do livro: Entendes o que lês?, de Gordon Fee e Douglas Stuart, Ed Vida Nova, São Paulo-SP, 1982. O CONTEXTO LITERÁRIO. (p. 226). A situação histórica e o significado das figuras do Livro do Apocalipse deve ser complementada pelo entendimento de "como esta visão específica funciona no livro como um todo." Assim, deve-se ler Apocalipse como lemos as cartas, e não como lemos os textos dos Profetas do AT, pois os antigos profetas trazem mensagens específicas enquanto o Apocalipse tem seu conteúdo todo relacionado. "Devemos pensar em parágrafos", porque cada parágrafo é um bloco para edificar o argumento inteiro", tanto nas Epístolas como no Apocalipse. "O livro é uma totalidade global, com estrutura criativa, e cada visão faz parte integrante da totalidade." Sendo um livro único e singular em seu estilo literário no NT, o melhor é desenvolver nossa avaliação direto no conteúdo, para termos bom aprendizado. (p. 226). "O livro desdobra-se como um grande drama, em que as primeiras cenas preparam o palco e definem o elenco de personagens, e as cenas posteriores precisam das primeiras para podermos seguir o enredo." (p. 227). O "palco" e os personagens estão dispostos nos capítulos 1 a 3: João (1.1-11); Cristo (1.12-20); a Igreja (2.1-3.22), Pois, "em cartas para sete igrejas reais, porém também representativas, João encoraja e adverte a igreja"; Deus reinando como Majestade Soberana (cap. 4); Cristo, o Cordeiro agindo em favor do povo de Deus (cap. 5). "Os capítulos 6-7 começam a desdobrar o próprio drama. Três vezes no livro, as visões são apresentadas em conjuntos de sete, cuidadosamente estruturadas (capítulos 6-7, 8-11, 15-16)." Os quatro primeiros aspectos formam uma só visão, sendo que nos cap. 6-7 e 8-11 há dois itens a mais, com elementos de outra perspectiva, até que há duas visões interrompendo o quadro até surgir o sétimo aspecto. "Nos capítulos 15-16, os três finais formam um só agrupamento sem o interlúdio." Exemplo, cap. 6-7: "1. Cavaleiro branco = Conquista 2. Cavaleiro vermelho = Guerra (p. 227) 3. Cavaleiro preto = Fome 4. Cavaleiro amarelo = Morte 5. A pergunta dos mártires: "Até quando?" 6. O terremoto (o julgamento de Deus): "Quem é que pode suster-se?" a. 144.000 selados b. Uma grande multidão 7. A ira de Deus: as sete trombetas dos capítulos 8-11." (p. 228). Assim, os capítulos 8-11 trazem o conteúdo do juízo, com quatro trombetas anunciando a desgraça na natureza, "a quinta e a sexta trombeta indicam que o julgamento também virá das hordas bárbaras e de uma grande guerra." Há um intervalo e anúncio sobre as testemunhas, e "a sétima trombeta soa a conclusão: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos". (p. 228). O contéudo revelado traz o sofrimento da igreja e o juízo de Deus até seu triunfo. "As visões, no entanto, não se acabaram. Nos capítulo 8-11, recebemos o quadro global; os caps. 12-22 oferecem pormenores daquele julgamento e triunfo." O quadro Capela Sistina (Miguel Angelo) traz uma cena nessa persperctiva, com um quadro geral impressionante cheio de fatos menores a serem percebidos. "O capítulo 12 é a chave teológica do livro. Em duas visões, somos informados acerca da tentativa de Satanás no sentido de destruir a Cristo, e da derrota dele, Satanás, em contrapartida." O conteúdo integral do NT traz o já/ainda não acerca de Satanás, como um inimigo derrotado, que ainda age. "Há, portanto, regozijo porque "Agora veio a salvação" (12.10), mas ainda há ais para a igreja porque Satanás sabe que seu tempo está limitado e está tirando vingança contra o povo de Deus." (p. 228). Os caps. 13-14 identificam a vingança como o Império Romano que exige fidelidade religiosa, sendo que Roma e seus líderes estão condenados (caps. 15-16), com o livro sendo concluído "na história das duas cidades", nos capítulos 17 até 22. "A cidade terrrestre (Roma) está condenada por sua participação na perseguição do povo de Deus. É seguida pela cidade de Deus, onde o povo de Deus habita eternamente." Destaca-se em todo quadro, que há dificuldades sobre elementos do conteúdo acerca de seu significado e função em todo contexto, o que requer um estudo aprofundado. (p. 229). AS QUESTÕES HERMENÊUTICAS. (p. 229). A dificuldade do Apocalipse é a dificuldade dos textos proféticos, pois o entendimento de um texto deve ser aquele que foi dado aos ouvintes originais, no entanto, conteúdos proféticos tratam de situações futuras para os primeiros ouvintes. "Frequentemente, aquilo que "deveria ser" tinha um aspecto temporal imediato, que do nosso ponto de vista histórico já aconteceu. Desta forma, Judá foi mesmo para o cativeiro, e foi restaurado, exatamente como Jeremias profetizara; e o Império Romano realmente foi sujeitado ao julgamento temporal, parcialmente através das hordas bárbaras, exatamente como João previu." (p. 229). Nestas questões as dificuldades hermenêuticas não são problemáticas, pois os princípios dados antes para o juízo de Deus ocorrido servem igualmente para nós, além do fato de que assim como outrora, igualmente hoje e no futuro, Deus irá julgar os perseguidores de cristãos, seja Roma antes ou a Rússia (e outros) no mundo contemporâneo. Especialmente, devemos ouvir e receber assim como os originais ouvintes do livro, "que o discipulado segue o caminho da Cruz, que Deus não nos prometeu livramento do sofrimento e da morte, mas, sim, o triunfo através deles." (p. 230). "Sendo assim, o Apocalipse é a Palavra de Deus de consolo e encorajamento aos cristãos que sofrem, seja na Rússia, na China vermelha, no Camboja, em Uganda, ou em qualquer outro lugar. Deus está no controle. Viu a labuta do Seu Filho, e ficará satisfeito." (p. 230). Eis a Palavra que deve ser ouvida na Igreja hoje, amanhã e sempre. Por isso, nossa dificuldade de interpretação e entendimento não está na "palavra de advertência e de consolo que é a razão de ser do livro". O nosso problema reside em que, a Profecia dada numa "palavra temporal está frequentemente tão estreitamente vinculada às realidades escatológicas finais." (p. 230). Se a queda de Roma (cap. 18) é o primeiro ato do quadro final, e outras profecias igualmente assim se apresentam, afirmando que o "término definitivo" é parte do quadro exposto, o que fazer, então, com essa profecia? Sugestões: 1. Quadros proféticos apresentam a realidade, mas não são a realidade em si mesmos, ou seja, as calamidades das primeiras quatro trombetas não precisam ocorrer daquele modo. 2. Os anúncios do irremediável juízo de Deus não significam a sua urgência temporal em nosso tempo e perspectiva, de forma que "pouco tempo" pode significar "limitado" ao invés de breve. 3. "Os quadros em que o "temporal" é estreitamente vinculado com o "escatológico" não devem ser considerados como sendo simultâneos - ainda que os próprios leitores originais os tenham entendido assim" (ver análise de Marcos 13 e Mateus 24-26 dada em aula). A perspectiva escatológica evidencia o aspecto do já/ainda nãok, sendo algo que faz parte da profecia. "O que devemos tomar cuidado de não fazer é gastar tempo em demasia especulando sobre como quaisquer dos nossos eventos contemporâneos possam ser encaixados nos quadros do Apocalipse. O livro não pretendeu profetizar a existência da China Vermelha, por exemplo, nem nos dar pormenores literais da conclusão da história." (p. 231). 4. Uma possível "segunda dimensão" a ser cumprida dos quadros anunciados não é possível de ser compreendida pelo conteúdo a nos revelado. O NT traz, por exemplo, uma figura diversa sobre o Anti-Cristo, sendo alguém específico para Paulo (2 Ts 2.3-4), o Imperador em Apocalipse (13-14) e os gnósticos em 1 João. "Historicamente, a igreja tem visto (em certo sentido, corretamente) uma varidade de governantes mundiais como sendo uma expressão de um anticristo {...} Neste sentido, muitos anticristos continuam a vir (1 João 2.18)"; no entanto, a personalidade mundial destacada em Apc 13-14 nos eventos finais permanece sendo uma interpretação sempre ambígua, a partir do próprio NT. 5. Quadros escatológicos devem ser entendidos como foram anunciados, como os de Apc 11.15-19 e 19.1-22.1. (p. 231). "Assim como a primeira palavra da Escritura fala de Deus e da criação, assim também a palavra final fala de Deus e da consumação." (p. 232). Se há incerteza de interpretação sobre como tudo irá ocorrer, já há confirmação de que sim, tudo que foi anunciado irá ser realizado. "Tal certeza deve servir a nós, como para eles, para advertir e encorajar." (p. 232). Deve-se aguardar a vinda do Senhor, partilhando deste futuro certo no tempo presente, ouvindo e obedecendo a Palavra de Deus, até o dia em que nem o livro do Apocalipse será necessário: "Não ensinará jamais cada um ao seu próximo... porque todos me conhecerão (Jr. 31.34)." (p. 232). Autor. Professor Ivan S Rüppell Jr. Professor de Ciências da Religião e Teologia. Curitiba, 2023.

sábado, 8 de abril de 2023

MEDITAÇÃO DOMINICAL. O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas.

TEXTO Bíblico. "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas {...} e proclamar o ano da graça do Senhor." (Lucas 4.18-19). MEDITAÇÃO. "Então vi na mão direita daquele que está assentado no trono um livro em forma de rolo, escrito de ambos os lados e selado com sete selos. Vi um anjo poderoso, proclamando em alta voz: "Quem é digno de romper os selos e de abrir o livro?" Mas não havia ninguém, nem no céu nem na terra nem debaixo da terra, que pudesse abrir o livro, ou sequer olhar para ele. Eu chorava muito, porque não se encontrou ninguém que fosse digno de abrir o livro e de olhar para ele. Então um dos anciãos me disse: "Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos". Depois vi um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono, cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos. (...) Ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita daquele que estava assentado no trono. Ao recebe-lo, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro." (Livro do Apocalipse, Cap. 5). ORAÇÃO. "Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. (...) Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam: "Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!" Os quatro seres viventes disseram: "Amém"." (Apc cap 5). Feliz PÁSCOA Cristã. Jesus RESSUSCITOU! Autor. Ivan S Rüppell Jr é Professor de Ciências da Religião e Teologia.