quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

SABEDORIA CRISTÃ PARA UM NOVO BRASIL em 2023.

"Construam casas e habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos; casem-se e tenham filhos e filhas (...); busquem a prosperidade da cidade." (Livro do Profeta Jeremias, cap 29.5-7). Quando Jerusalém foi destruída em 597 a.C. e o povo judeu foi levado cativo pra Babilônia, o Profeta Jeremias avisou que o exílio iria durar setenta anos. Por esse motivo, o povo de Deus deveria assumir uma cidadania responsável em terra estrangeira, debaixo de um governo hostil e numa cultura de valores contrários a da nação de Israel. De certa forma, sabe-se que os valores judaico-cristãos para o Estado, Família e Sociedade poderão ser confrontados por algumas novas lideranças politicas do Brasil, buscando transformar os princípios sociais do povo brasileiro. Nesse contexto, é preciso ter sabedoria para não ser surpreendido nem desanimar, mas sim, ser capaz de atuar diante das possíveis novas proposições de vida do Estado para a sociedade. Neste sentido, a orientação do Profeta Jeremias é um valor de sabedoria para nós, cristãos e pessoas de princípios tradicionais, para que tenhamos força de viver nossos dias de modo digno. Vamos lembrar que, ao redor da década de 470 a.C., na Pérsia, o povo de Deus conseguiu ser protegido e até valorizado quando Ester agiu com sabedoria e coragem diante do Rei estrangeiro. Enquanto isso, seu primo Mardoqueu atuava com caráter na sociedade e o povo de Deus jejuava e orava em meio aos confrontos e desafios diante dos corruptos líderes de governo. De igual maneira, devemos ser sábios e dignos perante Deus e na sociedade brasileira, para que pelo nosso bom procedimento e caráter bíblico, venhamos a calar até possíveis perseguidores da Religião e Direitos Civis; conforme bem ensinou o Apóstolo Pedro. Um aspecto essencial que não devemos desprezar no momento de abraçar hoje as prescrições de Jeremias, foram os últimos seis meses de orações pelas Autoridades pra que tivessemos vida tranquila e pacífica no Brasil,com toda piedade e dignidade; conforme ensina o Apóstolo Paulo na carta a Timóteo. Portanto, que os cristãos e todos com valores religiosos busquem edificar suas vidas na sociedade, com prudência e atenção diante da Justiça, construindo casas e fazendo crescer a economia. Devemos orar e interceder pelas Autoridades e nação brasileira como jamais fizemos, aguardando que Deus proteja a liberdade religiosa e o trabalho básico em nosso país. E assim sigamos, pois toda vez que um cristão se torna sal da terra e luz do mundo, ele tanto abraça a Deus, como é por Deus abraçado, já que decidiu buscar primeiro o Reino de Deus. Feliz Ano Novo! Autor. Ivan S Rüppell Jr é Professor de Ciências da Religião e Teologia, e Capelão Escolar e Social.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

NÃO SE DEVE DAR A CÉSAR, O QUE É DE DEUS.

Tudo aquilo que se entrega nas mãos de Deus a fim de que Ele oriente o modo em que devemos viver, também é uma situação em que nós seremos capazes de experimentar sentimentos e atitudes de forma mais integral e verdadeira em nossa personalidade e existência, acerca do tema que oferecemos para Deus. Seja nossa religião e família, profissão e cidadania etc. O Apóstolo Paulo explica isto no cap 12 da carta aos Romanos, ao definir que devemos oferecer a nossa maneira de viver para Deus, para que consigamos vivenciar uma vida boa, perfeita e agradável em nossa experiência humana aqui no mundo. Ou seja, sempre que viermos saber e obedecer um princípio de Deus para algo em nossas vidas, isso significa que a nossa vivência nesta situação será uma experiência de vida pessoal e livre para nós. No sentido em que não será controlada por outros, nem será distante e superficial para nós mesmos. E o mais importante de tudo isso é que essa experiência será abençoada por Deus, tanto para nós como para a comunidade e sociedade de que somos parte. Neste sentido, um grave pecado dos Cristãos neste século 21 é tanto abandonar a liberdade espiritual do Messias para abraçar uma libertação só temporal e terrena; como especialmente, desprezar o ensino de Jesus, Paulo e Pedro acerca da função do Estado na sociedade, a partir da chegada do Reino de Deus ao mundo. O aspecto mais danoso de abraçar uma visão libertária terrena para a Humanidade é o modo em que tal escolha resulta no abandono da instrução que a Palavra de Deus propõem como benção para a Sociedade organizada. Afinal, o Deus Soberano somente abençoa os povos e suas classes oprimidas a partir dos princípios e propósitos do Senhor para as nações. Jesus definiu de modo breve e amplo o princípio cristão social que os Apóstolos Paulo e Pedro vieram a desenvolver mantendo as bases e diretrizes do Messias, conforme expressas no Evangelho de Mateus, 22.21: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus", disse Jesus aos que pretendiam coloca-lo em conflito com o Estado de César e com a Nação de Israel. Ora, se o Império Romano estava oferecendo ao povo de Deus a condição de ter paz social e oportunidades econômicas através de seu exército e sua organização monetária, então, que assim os cristãos viessem a se servir e, especialmente, a contribuir com impostos para tais realizações. Ponto. A partir dessa orientação, vemos que o grande problema que ainda existe e cresce entre os cristãos na hora de serem cidadãos, surge de sua ignorância das letras bíblicas, sendo que tal vaidade é apoiada pela entrega de sua mente e coração às ideologias dos homens. Observe que uma boa leitura bíblica irá demonstrar que os valores e a moralidade do ser humano são exatamente os aspectos que devem ser dados a Deus; e jamais entregues nas mãos de César. Pois a cultura é de Deus, jamais do Estado. No entanto, há um grande número de cristãos que abandonam o que é de Deus ou são neutros em suas atitudes cidadãs, unindo-se assim aos que escolhem entregar a moralidade e civilidade dos homens direto nas mãos das ideologias de Estado, sejam elas de direita, esquerda ou centro. Isto é um erro! Jesus foi enfático ao definir que deveríamos "dar a Deus o que é de Deus", num ensino em que tanto valorou a proposição social dos 10 mandamentos que veio cumprir, como também as atualizou em seu esplêndido Sermão da Montanha. E no desenvolvimento do ensino de Jesus, vemos como Paulo e Pedro afirmam que o Estado deve especialmente organizar e fazer cumprir a atuação judicial de proteger o inocente e disciplinar o criminoso, posto que para isto recebeu de Deus a espada da justiça. Neste sentido, pode-se incluir tantos outros aspectos de vivência básica do homem e de suas relações e necessidades, em que o Estado poderá representar os anseios da sociedade, e assim construir igualdade e justiça. Ponto. Infelizmente, o que vemos é o modo em que a ideologia dos homens tem feito cristãos abraçarem até a indisciplina moral como valor de regulação social, de maneira que não só desobedecem a Jesus, mas inclusive negam e agem contra os seus princípios para a sociedade. Parecem aquela juventude que deseja salvar da morte os filhotes de papagaios, desde que isto não impeça o aborto de bebês. Assim, aprendemos que a cultura das artes e economia, profissões e ciência, agricultura e literatura, moralidade e sociedade é de Deus; de modo que os cristãos devem assumir a responsabilidade de afastar do Estado a oportunidade de que César venha com sua retórica legal desviar moralmente e dominar socialmente toda comunidade humana. Afinal, se o sal não tiver mais sabor e nem a condição de preservar a sociedade de que faz parte, melhor é ser lançado fora. Eis a razão bíblica para que cristãos não sigam totalmente ideologias quaisquer que buscam controlar toda criatividade cultural do espírito humano, especialmente, a cultura religiosa; a qual nas mãos de César irá redundar na censura do Evangelho e no desprezo ao espírito humano. É isso. Boa semana. Referências: Carta de Paulo aos Romanos 13. 1-11. 1Pedro 2.11-17. Autor. Ivan Rüppell Jr é Professor de Teologia e Ciências da Religião, e Capelão Escolar e Social.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

NÃO SE DEIXE VENCER PELO MAL, MAS VENÇA O MAL COM O BEM. (Carta aos Romanos, cap 12.21)

Os cristãos devem enfrentar o mal! Mas, vencer o mal com o bem é um dos desafios mais profundos e complexos do Cristianismo num mundo que jaz no maligno e no qual os homens são pecadores. Ou seja, tem instintos e ideias contra Deus. Essa declaração virtuosa do Apóstolo Paulo para vencer o mal com o bem, foi escrita num contexto de ensino bíblico que indica a leitura dos capítulos 12 e 13 da Carta aos Romanos, para que possamos entender seu significado. O escritor e conferencista cristão John Stott orienta nosso entendimento, com sua admirável clareza e objetividade bíblica: "Conforme Romanos 12.19, não devemos procurar a vingança, mas "deixar com Deus a ira". De acordo com Romanos 13.4, a autoridade é "serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal... Não temos o direito de tomar a lei em nossas mãos e punir os ofensores. A punição do mal é prerrogativa de Deus, e no presente momento deve ser exercida pelas cortes de justiça." (p. 359, 2007). Os cristãos precisam vencer o mal! No entanto, às vezes, cristãos seguem o mau hábito de não enfrentar o mal para serem bonzinhos, ou então, enfrentam o mal com atos próprios do mal, e até dele se aproximam; algo que ocorre quando os princípios do mal conduzem o nosso coração e atitudes. Observe que esse desafio cristão não é nada simples, nem fácil de viver. Por isso mesmo, o Apóstolo Paulo escreveu dois capítulos em Romanos para apresentar essa questão, com quatro princípios: a) os cristãos devem ter outro padrão de valores ao invés de seguir os padrões pecaminosos da humanidade neste mundo (12.2); b) os cristãos devem praticar um amor sincero, apegando-se ao que é bom e detestando o que é mau, abandonando a ira e os atos de vingança, pois "Minha é a vingança; eu retribuirei", diz o Senhor." (12.9 e 19); c) os cristãos devem se sujeitar às autoridades ao invés de se rebelar, pois as autoridades são o modelo de ordem humanitária instituída por Deus na sociedade, sendo "serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal." (13.1 e 4); e, finalmente, d) os cristãos devem cumprir neste mundo a lei do amor, "pois estes mandamentos: "Não adulteráras", "Não matarás", "Não furtarás", "Não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". (13.9-10). Agora, vamos resumir: para vencer o mal com atos do bem é preciso amar o nosso próximo como amamos a nós mesmos. Sendo algo que faremos ao praticar os mandamentos do amor divino na sociedade dos homens; como, não matar e não furtar e também qualquer outro mandamento da lei de Deus. Assim, enquanto estivermos desenvolvendo a vida em família e na sociedade, devemos organizar junto das pessoas estes mandamentos, em nome de Deus. Ao mesmo tempo, Deus também visita a humanidade com sua ira diante do pecado e através de ordens dadas às autoridades para coibir o mal que assola os seres humanos e arruína o mundo. E Deus faz isto na seara pública através de autoridades como os juízes e policiais, que agem como servos de Deus na sociedade, atuando como um "agente da justiça para punir quem pratica o mal." Tá entendendo? Observe o modo desafiador como Deus vence o mal neste mundo utilizando o bem, ao invés de abandonar a humanidade à própria sorte, sendo que Deus também não luta contra o mal, agindo como o mal atua. Eis o motivo porque os cristãos não são revolucionários, pois agindo desse modo, eles já estarão derrotados perante a face de Deus, antes da batalha iniciar. Mas, e quando as autoridades são servas do mal, e utilizam o cetro da justiça e da ordem social para promover o contrário do bem? Ou seja, o que fazer quando autoridades agem para desenvolver os princípios do mal ao invés dos mandamentos de Deus, desprezando os princípios divinos com os quais os cristãos devem vencer o mal neste mundo? Jesus tratou dessa questão, certa vez, afirmando: "Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus." (Marcos 12.17). Conforme John Stott, "Jesus não estava dizendo que havia duas esferas independentes (uma de César e outra de Deus)... Antes, ele estava dizendo que o povo de Deus devia dar o reconhecimento que lhe era devido, pois não poderia desfrutar das bênçãos do domínio romano (com paz, justiça, educação e estradas) sem contribuir com algo. No entanto, havia limites àquilo que era devido a César... Ainda hoje há regimes totalitários de esquerda e de direita que exigem fidelidade incondicional, que os cristãos não podem oferecer... Os cristãos são cidadãos leais, que dão a César o que é de César, mas reservam sua adoração a Deus somente, dando a Deus o que é de Deus." (p 222, 2007). Leia de novo esse breve texto acima, pois os comentários de John Stott dão um conhecimento essencial sobre a Palavra de Deus. Desta forma, entendemos que organizar e apoiar Autoridades públicas para controlar o mal é uma forma autorizada por Deus para vencer o mal com o bem. E aqui, também aprendemos o princípio com que Jesus convoca os cristãos para não entregarem a cultura humana nas mãos de César. Ou seja, não podemos oferecer ao Estado e a seus políticos e juízes a condicão de definir e regular as artes e ciência, educação e religiosidade, lazer e esporte, trabalho e profissões, valores e princípios morais dos homens. Pois estas atividades foram dadas para a humanidade vivê-las diante de Deus, e não aos pés de César. São um dom de Deus aos homens que nos capacita a vivenciar a bendita liberdade e satisfação que pode-se alcançar nesse período da história. Os cristãos devem dar a César somente o que é de César, ou seja, o respeito e obediência devidos diante do Estado, como instituição da ordem e paz social. Contribuindo para que essa instituição cumpra os mandamentos de amor na sociedade, agindo como servos dignos de Deus, sendo um "agente da justiça para punir quem pratica o mal". Quando os cristãos deixam de lado a sua missão de fazer o bem na sociedade, vindo a entregar a organização e vivência social para o Estado e César administrarem do jeito que quiserem, então, também serão submetidos por estas autoridades e juízes, que poderão atuar como seguidores do mal. Nestas ocasiões, os cristãos tanto poderão entregar a sociedade nas mãos do mal, como serão tentados a se aproximar e até desenvolver o mal na sociedade, acreditando que por serem bonzinhos ou revolucionários, estão fazendo algum bem. Grave engano! Sem esquecer que, ao entregar a cultura para o Estado, os cristãos irão deixar a religião e o Evangelho nas mãos de César, que se sentirá no direito de decidir se a humanidade vai ouvir, ou não vai ouvir acerca do conhecimento de que Jesus é o Cristo de Deus para a salvação da humanidade. Daí a importância dos cristãos atuarem como cidadãos também na política, para controlar democraticamente o Estado, a fim de que suas Autoridades não venham a dominar de forma impositiva e arbitrária sobre a sociedade e instituições públicas. Pois o cristão como cidadão tem a oportunidade de eleger ou ser eleito como um Deputado que promova leis humanitárias de acordo aos mandamentos de Deus, para que o Estado venha a atuar na ordem e paz social protegendo inocentes e condenando criminosos, conforme ensinou o Apóstolo Paulo em Romanos cap. 13. Portanto, o verdadeiro cristão não deve desprezar o poder da influência e desgraça que o mal traz para a sociedade através de homens e ideologias. Por isso, deve assumir a responsabilidade de ser sal e luz no desenvolvimento do valor divino de que "o amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei." (Romanos 13. 10). E para concluir, facamos uma oração: "Senhor, trata com bondade os que fazem o bem, os que tem coração íntegro. Mas aos que se desviam por caminhos tortuosos, o Senhor infligirá o castigo dado aos malfeitores. Haja paz em Israel." (Salmo 125). REFERÊNCIAS: Stott, John. A bíblia toda o ano todo. Editora Ultimato, Viçosa MG, 2007. Autor. Ivan S Ruppell Jr é Professor de Ciências da Religião e Teologia, e Capelão Social.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

A BÍBLIA E A REFORMA PROTESTANTE DE 31 DE OUTUBRO DE 1517. Encontro de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria, Novembro de 2022, Estudo 1.

TEXTO Bíblico Base: "Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: "Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens." (Evangelho de Marcos, cap 7, versos 6-8). COMENTÁRIO. Jesus estava preocupado com o fato das tradições terem se tornado mais importantes que a Palavra de Deus para os fariseus, no momento de obedecer ao Senhor. O Teólogo John Stott destaca a importância histórica da exortação de Jesus: "esse foi o tema principal durante a Reforma. A igreja católica medieval havia asfixiado a Palavra de Deus com uma grande quantidade de tradições extrabíblicas. Desse modo, assim como Jesus desprezou a tradição dos antigos, os reformadores desprezaram as tradições da igreja medieval, a fim de que a Palavra de Deus pudesse ocupar lugar de destaque. Os reformadores ensinaram a supremacia da Escritura sobre a tradição." (p 210, 2007). Nessa mesma preocupação, vemos o modo como "a igreja reformada, sempre se reformando segundo a Palavra de Deus" tornou-se um lema para um grupo de igrejas protestantes e evangélicas através da história, vindo a ser uma marca do modo como todo ensino e práticas da Igreja Cristã deveriam estar fundamentados somente segundo as Escrituras! A Igreja Presbiteriana do Brasil tem três símbolos de fé, que são documentos que trazem o que a Igreja ensina acerca do Evangelho, a partir da Bíblia. Seguem três breves citações das Confissões de Fé, sobre a importância das Escrituras: 1. Confissão de Fé de Westminster: "A autoridade das Escrituras Sagradas, razão pela qual elas devem ser cridas e obedecidas, não depende do testemunho de qualquer homem, mas somente de Deus (que é a própria verdade) que é o seu autor; elas devem, portanto, ser recebidas, porque são a Palavra de Deus." 2. Breve Catecismo de Westminster: "A Palavra de Deus, que se encontra nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, é a única regra para nos orientar quanto ao modo de glorifica-lo e goza-lo." 3. Catecismo Maior de Westminster: "As Escrituras Sagradas do Antigo e Novo Testamentos são a Palavra de Deus, a única regra de fé e prática." (Beeke e Ferguson,p. 11-13, 2006). COMPARTILHAR. 1. O que chama a sua atenção nas informações deste texto sobre a Reforma Protestante e o valor das Escrituras para a Igreja Presbiteriana do Brasil? 2. Qual a preocupação de Jesus, conforme o versículo 6: "Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim?"? 3. Cite um texto da Palavra de Deus importante para você, e compartilhe como isso tem fortalecido a sua fé no conhecimento e nas promessas de Deus? MOMENTO DE ORAÇÃO pelos pedidos da Igreja, pelas Autoridades e pelas celebrações dominicais da Igreja Presbiteriana Olaria. REFERÊNCIAS: BEEKE, Joel R e FERGUSON, Sinclair B. Harmonia das confissões de Fé Reformadas. Edit Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006. STOTT, John. p 210. A Bíblia toda, o ano todo: meditações diárias de Gênesis a Apocalipse / ; tradução: Jorge Camargo. - Viçosa, MG.

sábado, 15 de outubro de 2022

OS SALMOS DE ADORAÇÃO E A IDENTIDADE DO POVO DE DEUS. Salmo 104, Outubro 2022.

"Bendiga o Senhor a minha alma! Ó Senhor, meu Deus, tu és tão grandioso!... Firmaste a terra sobre os seus fundamentos para que jamais se abale... Dos teus aposentos celestes regas os montes; sacia-se a terra com o fruto das tuas obras! É o Senhor que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento... Ele fez a lua para marcar estações; o sol sabe quando deve se pôr... Quantas são as tuas obras, Senhor! Fizeste todas elas com sabedoria!" (Salmo 104.1-24). Ao anotar o significado das expressões grega e hebraica referentes ao título do livro de Salmos, temos boa noção de seu conteúdo e valor. A palavra grega psalmos traduz-se como cântico ou hino, enquanto que a palavra hebraica tehilim significa louvores, de modo que o compêndio bíblico dos Salmos pode ser entendido como sendo o Livro de Cânticos de Louvor a Deus. Ainda que seu amplo conteúdo forneça outros conhecimentos e orações ao povo de Deus. Um significado essencial dos Salmos da Bíblia surge através do fato que os seus conteúdos são inspirados por Deus, revelando a Personalidade e o Caráter do Senhor aos cristãos. E sendo um escrito bíblico inspirado, os Salmos se tornam um conhecimento de sabedoria aos homens, já que o seu conteúdo apresenta verdades sobre Deus e acerca da realidade do mundo criado e governado por Deus, que não saberíamos se os salmos não viessem revelar. Assim, tanto o povo de Israel na história de sua jornada de conhecimento e convivência com Deus, como também os cristãos desde sempre até a volta de Jesus; tem a condição de utilizar os Salmos bíblicos para renovar o conhecimento do que significa "ser povo de Deus". Desta forma, os cristãos podem restaurar e desenvolver sua verdadeira identidade existencial nesta vida. Vamos lembrar que o povo de Deus em Israel passou por dois exílios históricos em que a nação teve que deixar a sua terra e sociedade, passando a viver em outros países e sendo dominada e oprimida na sua cultura e religião. Como ocorreu na queda do Reino do Norte para a Assíria em 722 e depois, com a queda de Jerusalém em 597 a.C. A partir do ano 538 a.C e no século seguinte o povo de Deus começou a retornar para a terra de Israel, vindo a recuperar as Escrituras da Lei e Profetas, enquanto também editava o livro de Salmos, que se tornou o conteúdo dos Louvores dedicados a Deus pelo seu povo em Adoração. Observe que a oportunidade do povo de Deus começar a se reunir em assembléias e ajuntamentos, nas casas e no Templo, se tornou um tempo e experiência excelentes para o povo redescobrir a sua identidade existencial. A cada novo encontro no Dia do Senhor, os louvores entoados em Israel ensinavam sabedoria ao informar o modo como o Deus Criador era Bondoso e Salvador pela sua providência e perdão na vida deles. Eles aprendiam sabedoria e também cantavam Cânticos de Louvores a Deus, dando graças e testemunhando honras ao Bendito Senhor de suas vidas. Esse conhecimento dos Salmos junto do testemunho de gratidão dos Louvores, vieram a se tornar sinais e argumentos da verdadeira identidade do povo de Deus diante de novas situações e de um mundo em transformação. Sendo que, essa é uma experiência bastante necessária para todos os cristãos aqui no planeta Terra até que o Senhor Jesus volte. Tá entendendo? A cada novo Dia do Senhor que vivencia em adoração, o povo de Deus tem a oportunidade de aprender sobre a realidade da Pessoa de Deus e do modo como Deus criou e preserva o mundo em que vivemos. Também experimenta o privilégio de Adorar o Senhor no Corpo de Cristo, testemunhando e celebrando a nossos próprios corações e ao mundo, a Bondade e Providência de Deus que são derramadas sobre a terra e os cristãos. Eis o modo em que o Dia do Senhor se torna o Sábado de descanso aos cristãos, sendo este o seu propósito, como disse Jesus, pois o sábado foi feito para o homem. E neste objetivo é que o ajuntamento de Adoração é convocado e celebrado no Antigo Testamento, em expressões como: "Alegrei-me quando me disseram, vamos à Casa do Senhor", e "Como é bom viverem unidos os irmãos, ali ordena o Senhor a sua bênção". Cada segunda-feira de nossas vidas após passarmos a boa experiência de um verdadeiro Dia do Senhor no domingo irá reordenar a nossa identidade como cristãos, debaixo dos cuidados e amor do Deus Soberano sobre tudo que acontece. Os Atos e Promessas de Deus que transcendem os limites do tempo da vida terrena e os limites do espaço da vida neste mundo farão eu e você superarmos a vida material e finita através do conhecimento da Pessoa de Deus, e da realidade do mundo de Deus nesta Terra. Sendo algo que vai transformar a nossa vida mais comum em uma experiência além das horas e dos anos, e adiante do espaço físico, transportando-nos para uma existência satisfatória e bendita na repetição de nosso cotidiano básico. A partir disto, ao simplesmente sermos pessoas cristãs no dia a dia, em casa e nas ruas, em família e no trabalho, na igreja e sociedade, pronto; a nossa pessoa e toda a nossa vida terão outro desenvolvimento e propósito para nós. Seremos capazes de enxergar e viver a história de acordo com a nossa verdadeira identidade: somos filhos de Deus, e amigos e servos do Rei Jesus Cristo, até que Ele volte! Essa experiência de conhecimento de Deus que recebemos enquanto Adoramos ao Senhor, se torna um aprendizado igual ao vivenciado pelo salmista: "Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim... De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma... Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel, agora e para sempre!" (Salmo 131). O teólogo John Stott destaca estas verdades sobre Deus em meio à beleza poética descritiva do salmo: "alimento e preservação da vida são necessidades básicas de todas as criaturas, e o salmista atribui a primeira à mão aberta de Deus e a segunda ao sopro reanimador do fôlego de Deus... Assim é correto agradecer a Deus não só por ele ter nos criado, mas também por preservar nossas vidas." (p. 98, 2007). Somente a boa adoração dominical em meio aos louvores dos salmos irá nos desviar de afundar na vaidade das conquistas da semana, que jamais satisfazem a alma e o corpo. "Cantarei ao Senhor toda a minha vida; louvarei ao meu Deus enquanto eu viver. Seja-lhe agradável a minha meditação, pois no Senhor tenho alegria... Bendiga o Senhor a minha alma! Aleluia!" (Salmo 104.33-35). Ref. Stott, John. A bíblia toda o ano todo. Edit Ultimato, Viçosa MG, 2007. Autor. Ivan S Ruppell Jr é Ministro Presbiteriano, Professor e Advogado.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

OS DOIS CAMINHOS DIANTE DE DEUS. Encontro de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria, Outubro 2022, Estudo 1.

TEXTO Bíblico Base. Salmo 1. Fazer leitura completa! Verso inicial temático: "Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios... Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite." COMENTÁRIO. Este salmo de sabedoria dá uma introdução e orientação geral para os leitores dos salmos, indicando a atitude correta para sermos bem-aventurados (receber favor e graça do Senhor), quando formos conversar com Deus em oração e ao meditar na Bíblia: "antes de ter uma conversa íntima com Deus, a atitude do leitor para com a lei de Deus precisa ser considerada. A pessoa reta ama e estuda a lei, mas a pessoa ímpia a odeia." (Bíblia de Genebra, p 615, 1999). O salmo orienta e explica como uma pessoa se torna bem-aventurada, ao meditar e crer na Palavra de Deus, e como as pessoas se tornam ímpias, ao recusar e desacreditar na Palavra e nos caminhos de Deus. A partir dessa decisão, o salmo desenvolve o modo como a vida das pessoas vai ocorrer, com o seguinte destaque do teólogo John Stott: "os justos prosperarão, embora nem sempre materialmente. Eles são cuidadosos ao escolher as pessoas com quem andam e buscam por conselhos. Eles tem prazer na lei de Deus... Por isso, (serão) como árvore plantada junto às águas, e (desfrutarão) de pérpetuo refrigério, alimento e prosperidade." (p 94, 2007). A tradução da Bíblia A Mensagem enfatiza a atitude daquele que decide meditar na Palavra de Deus: "Como Deus deve gostar de você: você não aparece no Bar do Pecado, você não anda à espreita do Beco Sem Saída, você não frequenta a Escola dos Desbocados! Pelo contrário, você vibra com a Palavra do Eterno." (Salmo 1.1, p 696, 2011). COMPARTILHAR. 1. O que chama a sua atenção nas explicações sobre o ensino e propósitos do Salmo 1? 2. Você recorda de épocas ou situações da sua vida em que você se deixou levar por conselhos de ímpios ou participou da roda dos zombadores, se acostumando ou gastando tempo com pensamentos de impiedade (descrença)? 3. De que forma você tem vivenciado a experiência narrada nos versículos 2 e 3 do salmo primeiro? ORAÇÃO pelos pedidos do grupo e da igreja, pelas Autoridades do Brasil e pela celebração dominical da Igreja. Boa semana! Referências: Bíblia A Mensagem em linguagem contemporânea. Eugene H Peterson. São Paulo: Editora Vida, 2011. Bíblia de Estudo de Genebra, Editora Cultura Cristã, São Paulo SP, 1999. Stott, John. A bíblia toda o ano todo. Viçosa MG, Ultimato, 2007.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

UMA SEXUALIDADE SAUDÁVEL PARA UMA VIDA SATISFATÓRIA. Outubro, 2022.

Em artigo publicado no jornal Gazeta do Povo em 05/10/22, a colunista Bruna Frascolla traz sentimentos narrados em livro pela escritora Marcia Tiburi (O que não se pode dizer). O destaque inicial é para a declaração de Marcia que foram necessários "alguns anos de análise para entender que não teria que viver com ninguém e que o desejo sexual não precisa ser obrigatório, embora a ordem simbólica e imaginária nos convide a isso." Observe que uma boa orientação psicológica, científica ou cristã do ser humano vai indicar o bom valor e a fundamental importância de um entendimento que a escritora alcançou sobre a sexualidade. No entanto, como Marcia Tiburi orienta suas análises existenciais segundo a ideologia da esquerda progressista; o que ela entendeu sobre si mesma, juntamente com Bruna Marquezine e Giovanna Ewbank - que disse que precisa de envolvimento emocional para se sentir bem na relação sexual - é que nenhuma delas é uma mulher do sexo feminino, mas são sim, pessoas "Assexuadas". E por esse motivo, a escritora Marcia entende que deve "começar uma transição para fora do gênero", até se perceber como uma pessoa completa conforme a definição do item A do movimento LGBTQIA+. Esse item descreve os seres humanos que não precisam de sexo para viver. Só que não! A necessidade de envolvimento emocional para que a relação sexual seja saudável é uma perspectiva bastante desenvolvida na psicologia, além de na própria natureza humana pelo modo em que os corpos masculino e feminino se encaixam na proximidade física e sentimental. Sendo algo bastante difundido igualmente, pelo Cristianismo. Portanto, quando mulheres como Marcia, Bruna e Giovanna, e tantas outras e também homens pelo mundo refletem que desejam praticar relações sexuais com mais sentimentos emocionais numa melhor convivência pessoal, bem; trata-se de uma evolução da vivência da sexualidade. Só (tudo) isso! Algo que jamais deverá significar uma mudança de gênero do ser humano, muito pelo contrário. No decorrer do artigo, a articulista Bruna apresenta outras declarações de Marcia Tiburi e também de Jean Wyllys, destacando o modo em que eles entendem que tem sido infelizes nas vivências emocionais, sendo algo que Bruna reflete como consequência da ideologia dos dois. É uma compreensão apropriada, pois utilizar a mudança de gênero na perspectiva de tratamento da personalidade gera enfraquecimento e desprezo da identidade humana, o que vai resultar na corrupção e ruína de suas sensações e interesses, desencadeando grande dor e vazio. Dá uma olhada na proposta que o teólogo John Stott apresenta sobre a sexualidade humana, conforme a religião cristã: "Em Gênesis 2.24 encontramos a definição bíblica para casamento; ela é ainda mais importante porque foi endossada pelo Senhor Jesus Cristo (Mc 10,7). Este é um relacionamento com cinco características especiais:... Compromisso. Quando um homem deixa a casa de seus pais para se casar, ele deve "unir-se" à sua mulher, juntar-se a ela como cola (como sugere o texto equivalente no Novo Testamento.) (...) Físico: "Eles se tornarão uma só carne"... Adão e Eva certamente não experimentaram nenhum constrangimento com relação ao sexo. "O homem e a mulher viviam nus, e não sentiam vergonha." (p 28, 2007). Tá entendendo? Uma sexualidade saudável requer uma experiência física integrada com a consciência e os sentimentos do cidadão, assim como deve ocorrer em todas as áreas da vida da gente, em qualquer situação. Mas, afinal, sobre o quê falam Marcia Tiburi e tantas outras milhões de mulheres e homens mundo afora, que de repente, sentem-se vazios em suas vivências sexuais? Bem, pra variar, Jesus Cristo foi direto ao ponto: "Os olhos são a candeia (lâmpada) do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz." (Mateus 6. 22). Essa palavra foi dita num contexto de busca de riquezas para ensinar algo maior sobre a conquista de tesouros do céu ou da terra, vindo daí a importância de bem direcionar o seu olhar para o que você deseja na vida, "pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração." (Mt 6.21). É isso! Ao invés de olhar para o traseiro da moça e a cintura do rapaz quando movemos o olhar atrás de companhia na solidão, bem, deve-se olhar para o ser humano inteiro. Se é que desejamos ter uma sexualidade saudável e uma vida satisfatória. A espiritualidade oriental ensina que devemos esconder os sentidos, ou até vive-los de forma dramática, ou ainda, regrada pelas fases da vida; o que não deixa de ser razoável. A espiritualidade da ideologia de gênero orienta a mudança mental da personalidade, entendendo que ao convencer a consciência de que nosso corpo é diferente do que nele desgostamos, então, iremos viver bem conosco mesmos. Infelizmente, só piora! Pouco vai adiantar nominar meu corpo físico-espiritual-integral em algo diferente do que sou e sinto, pra conseguir estar bem e satisfeito com a minha existência. Meus sentimentos e desejos, conquistas e decepções, satisfação e vazio vão continuar lá comigo. Dizer que você não tem sexualidade, a fim de tentar curar suas relações sexuais exageradas ou a falta de cumplicidade pessoal nelas, bem, não vai curar a sua sexualidade, só vai desconstruir a sua personalidade. A solução está nos olhos, que como lâmpadas da alma deverão apontar os seus desejos para uma pessoa inteira, tendo em mente o interesse de vivenciar uma relação integral com ela. E como Jesus é a Luz da vida, deve-se perguntar pra ele de que forma iremos nos relacionar sexualmente uns com os outros - conforme está basicamente descrito no texto citado, de John Stott. Dessa forma, vamos começar a experimentar um padrão de relacionamento iluminado. E como nosso olhar tanto preenche o coração, como também busca alcançar o que o coração quer, então, só mesmo a espiritualidade da oração do Pai Nosso irá capacitar você a receber no interior os bons desejos que seus olhos deverão procurar pela vida. E por aqui segue nosso círculo virtuoso. Por isso que se diz: "Que venha o seu Reino e seja feita a sua Vontade", e "Não me deixes cair em tentação", nessa Oração. Pois tudo inicia ao pedir a vontade de "estar" e "ser" companheiro de alguém com quem estamos, enquanto também se pede para não desejar "ser" amante de quem nada somos, afastando a tentação de arruinar a sexualidade numa multidão de insatisfações, ou na ideologia de gênero. Sendo que a Boa Oração sobre sexualidade é o pedido cotidiano pra que essa experiência não se torne paixão animal, que leva ao vício e desequilibrio, mas que seja amor humano, que conduz pra traquilidade. Felicidades! REFERÊNCIAS. Bruna Frascolla. Cartas entre Jean Wyllys e Marcia Tiburi mostram como a ideologia faz as pessoas infelizes. coluna publicada na Gazeta do Povo, on line, 05/10/2022. STOTT, John. A bíblia toda o ano todo : meditações diárias de Gênesis a Apocalipse ; tradução: Jorge Camargo. - Viçosa, MG : Ultimato, 2007. Autor. Ivan S Ruppell Jr é Ministro Presbiteriano, Professor e Advogado.

sábado, 1 de outubro de 2022

O PENSAMENTO REFORMADO E A REFORMA PROTESTANTE DO SÉC. 16. Seminário Presbiteriano do Sul - Curitiba. Outubro, 2022.

"Ecclesia reformata et semper reformanda secundum verbum Dei": (A igreja reformada, sempre se reformando segundo a Palavra de Deus). A Igreja de Cristo sendo continuamente reformada na história conforme a Palavra de Deus foi um pensamento descrito de forma conclusiva no século 20, pelo teólogo Karl Barth. Uma declaração que remete a debates da Reforma Protestante do século 16, tanto na defesa do Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria (Somente Cristo, Graça, Fé e a Deus a Glória), como especialmente na proclamação do Sola Scriptura; "Somente as Escrituras"! Segundo o historiador Michale Bush e outros pesquisadores, essa expressão não surgiu em sua forma completa nos séculos 16 e 17; embora esse período tenha sido marcado por diversas manifestações refletindo o valor superior das Escrituras para a Igreja de Cristo. Assim, o reformador holandês Jodocus van Lodenstein uniu as palavras "reformando" com "se reformando" no decorrer do séc. 17, enquanto que o pensador holandês reformado Gisbertus Voetius (1589-1676) declarava que, a “igreja reformada está sempre se reformando”. Na mesma visão, os pensadores reformados ingleses do século 16, William Perkins e William Ames, o teólogo reformado holandês Jacobus Koelman no séc. 17, e ainda, teólogos da Assembléia de Westminster estabeleceram o princípio de que a Igreja de Cristo viesse a ser edificada conforme doutrinas embasadas unicamente nas Escrituras, devendo tal valor ser continuamente preservado através da história. (voltemosaoevangelho.com/blog/2017). Desta forma, percebemos como João Calvino e teólogos reformados vieram anotar na história do Cristianismo o valor de que o ensino e práticas da Igreja de Cristo deveriam estar fundamentados somente em acordo à verdade bíblica. Numa relação de constante dependência da instituição da Igreja para com as Escrituras da Palavra de Deus! Esse propósito impulsionou igualmente a escrita e organização das confissões de fé. Nessa perspectiva, recordamos o modo em que o Senhor Jesus buscou confrontar aquelas tradições religiosas dos homens que os afastavam da Palavra de Deus, negando ao Senhor o acesso a seus corações, conforme exorta o Messias no Evangelho de Marcos, cap. 7.9: "Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira de pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecerem às suas tradições." O evangelista anota de forma dramática a citação do Profeta Isaías pronunciada por Jesus, a qual define a grave disposição idólatra dos que desprezam o conhecimento da Palavra de Deus, em favor das tradições de homens: "Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim." (Isaías 29.13). Conforme destaque do escritor John Sttot, observamos a importância doutrinal histórica da exortação de Jesus: "esse foi o tema principal durante a Reforma. A igreja católica medieval havia asfixiado a Palavra de Deus com uma grande quantidade de tradições extrabíblicas. Desse modo, assim como Jesus desprezou a tradição dos antigos, os reformadores desprezaram as tradições da igreja medieval, a fim de que a Palavra de Deus pudesse ocupar lugar de destaque. Os reformadores ensinaram a supremacia da Escritura sobre a tradição." (p 210, 2007). O comentário da Bíblia de Genebra sobre a passagem de Marcos, orienta que "o verbo "negligenciar" pode significar também "cancelar" ou "abandonar". Jesus não é um antinominiano... Ele não é nem mesmo contra a tradição, mas é contra aquilo que nela anula as Escrituras." (p 1158, 1999). (antinominiano: contra a lei e a legalidade). A instrução de Jesus acerca do erro ocasionado pelo valor superior dado às tradições dos homens diante das Escrituras tornou-se um fundamento dos debates da Reforma Protestante. Foi um período da história da Teologia Cristã em que os textos da Bíblia vieram a ocupar lugar primordial no estudo e compreensão, reflexão e ensino das verdades de Deus acerca da religião. Essa perspectiva teológica diferencial na história diante do período medieval, tornou-se um princípio a ser buscado pelos pensadores reformados, no decorrer dos séculos. Nesse contexto, um movimento histórico que veio estabelecer no Cristianismo este valor bíblico recuperado na Reforma Protestante, se deu através do surgimento das denominadas "Confissões de Fé". Estas se tornaram documentos oriundos das denominações cristãs, o que veio a ser desenvolvido no interesse de esclarecer e comunicar de modo adequado aos fiéis os ensinamentos distintivos da Palavra de Deus. Neste sentido, apresentamos a seguir alguns aspectos da formação das Confissões de Fé Protestantes, especialmente de viés reformado. Enquanto a Reforma Protestante atualizava na história a autoridade primária das Escrituras, diferentes visões de interpretação se tornavam reais entre os líderes e pensadores do movimento. Algo visto especialmente na contrariedade surgida entre os "reformadores magisteriais"; que respeitavam as autoridades, e os "reformadores radicais"; mais revolucionários diante do Estado e tradições teológicas. Nesse período, houve a necessidade de afirmar definições oficiais que pudessem esclarecer o que pensavam e buscavam os reformadores do cristianismo diante do Estado e Sociedade, e acerca da teologia cristã como um todo. Segundo McGrath, "em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade:" O padrão básico adotado era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal, e ainda, das confissões de fé como de caráter terciário e local; já que estas confissões vieram a ser consideradas por uma denominação ou igreja de determinada região e pensamento doutrinal definido. Essa graduação se refere à primazia e área de alcance, o que não significa desprezo à autoridade de cada um destes textos doutrinais, posto que válidos exatamente a partir de sua conformidade à Bíblia. Acerca da "Autoridade das Escrituras" numa perspectiva mais ampla, a Bíblia de Genebra destaca o modo como o "protestantismo histórico aceita as Escrituras como a única revelação escrita de Deus. Elas são inspiradas ou "sopradas" por Deus (2Tm 3.16), o que as distinguem de todas as outras palavras... São suficientes e contêm tudo o que é necessário saber para a salvação e a vida eterna." (p 1453, 1999). Assim, um aspecto essencial de proximidade teológica entre a Reforma Protestante como um todo, junto do Pensamento Reformado como movimento eclesial oriundo desse período foi a grande valorização da autoridade das Escrituras para o Cristianismo. Esse valor se tornou um princípio comum de outros grupos que se organizavam na primeira metade do século 16, como os da reforma alemã, luterana e das reformas suiça e francesa. Esse contexto de redescoberta do valor das Escrituras ocorria, segundo McGrath, num momento e situação doutrinária históricos, em que haviam "aspectos de interpretação que tanto eram propícios a causar divergências quanto difíceis de definir. Existia a necessidade evidente de encontrar-se algum tipo de recurso "oficial" para delimitação de ideias da Reforma, a fim de evitar confusão." No destaque desse autor, "as "Confissões de fé" desempenharam essa função." (p 109, 2005). Sendo que, as autorizadas Confissões de Fé protestantes vieram a se consolidar através de movimentos "pós-reforma", conforme esclarece, ainda, McGrath: "tanto a Reforma protestante quanto a católica, foram sucedidas por um período de consolidação da teologia, em ambos os movimentos. No seio do protestantismo, luterano e reformado (ou "calvinista"), iniciou-se o período conhecido como "ortodoxia", caracterizado por sua ênfase em normas e definições doutrinárias. (...) O luteranismo e o calvinismo eram, sob muitos aspectos, bastante semelhantes. Ambos alegavam ser evangélicos e rejeitavam, de modo geral, os mesmos aspectos centrais do catolicismo medieval. Entretanto, eles precisavam se diferenciar." (p 112 -114, 2005). Na perspectiva do pensamento reformado, destacamos algumas das confissões de fé que se tornaram relevantes nas primeiras décadas após a ocorrência da Reforma Protestante: A Confissão Gálica, França, em 1559; A Confissão Escocesa, Escócia, 1560; A Confissão Belga, Países Baixos, 1561; Os Trinta e Nove Artigos, Inglaterra, 1563; e, A Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental, 1566." (p 109-110, 2005). Em um contexto nacional, trazemos a citação de Matos e Nascimento, sobre a organização dos Símbolos de Fé da IPB: "A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única norma de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em virtude de a Bíblia não apresentar as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura." (p 67, 2007). E na conclusão deste texto acerca da autoridade do pensamento cristão reformado a partir das Escrituras, observando o modo em que as Confissões de Fé surgiram como declaração autoritativa e didática dessa visão, destacamos a seguir breves citações da relevância das Escrituras, conforme os Símbolos de Fé da Igreja Presbiteriana do Brasil: 1. Confissão de Fé de Westminster: "A autoridade das Escrituras Sagradas, razão pela qual elas devem ser cridas e obedecidas, não depende do testemunho de qualquer homem, mas somente de Deus (que é a própria verdade) que é o seu autor; elas devem, portanto, ser recebidas, porque são a Palavra de Deus." 2. Breve Catecismo de Westminster: "A Palavra de Deus, que se encontra nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, é a única regra para nos orientar quanto ao modo de glorifica-lo e goza-lo." 3. Catecismo Maior de Westminster: "As Escrituras Sagradas do Antigo e Novo Testamentos são a Palavra de Deus, a única regra de fé e prática." (Beeke e Ferguson,p. 11-13, 2006). REFERÊNCIAS: BEEKE, Joel R e FERGUSON, Sinclair B. Harmonia das confissões de Fé Reformadas. Edit Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006. BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Editora Cultura Cristã, São Paulo SP, 1999. MATOS, Alderi de Souza e NASCIMENTO, Adão Carlos. O que todo presbiteriano inteligente deve saber. Edit Socep, Santa Barbára do Oeste SP, 2007. MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações. SP São Paulo, 2005. STOTT, John. p 210. A Bíblia toda, o ano todo: meditações diárias de Gênesis a Apocalipse / ; tradução: Jorge Camargo. - Viçosa, MG : Ultimato, 2007. (voltemosaoevangelho.com/blog/2017/11/igreja-reformada-sempre-se-reformando/). Autor: Ivan S Ruppell Jr é Ministro Presbiteriano, Professor e Advogado.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

A VERDADE E O AMOR. Encontro de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria. Estudo 2, Setembro de 2022.

"Amado, não imite o que é mau, mas sim o que é bom. Aquele que faz o bem é de Deus; aquele que faz o mal não viu a Deus." (3 João, verso 11). TEXTO Bíblico Base. Terceira Epístola do Apóstolo João. COMENTÁRIO. O Apóstolo João escreve da cidade de Éfeso para parabenizar o Ancião Gaio por seu compromisso com a Verdade, o Evangelho e o Messias. Ele dá orientações sobre a má atitude de Diótrefes e a boa atitude de Demétrio, utilizando uma carta para se comunicar com a comunidade de cristãos, sendo que epístola é esse tipo de carta pessoal em que se desenvolve algum argumento ou tema orientado. Segundo o comentário da Bíblia, "Descobrindo o Novo Testamento", "Diótrefes não está querendo ajudar outros trabalhadores cristãos. Ele prefere a fofoca, rejeita o conselho de João, e expulsa da igreja aqueles que querem ajudar a expandir o verdadeiro evangelho". Enquanto isso, Gaio e Demétrio são elogiados pela hospitalidade com os evangelistas peregrinos e por atos de bondade ao próximo. De forma especial, "Gaio é elogiado por ser fiel e andar com a verdade (3,4)", sendo que o tema da "verdade" em João é bem descrito na sua primeira carta, cap. 1.2 e 3, e cap. 4.15. COMPARTILHAR. 1. O que chama a sua atenção nas palavras e expressões utilizadas pelo Apóstolo João para se dirigir a Gaio e aos cristãos daquela igreja, como lemos nos versos 2 a 4, e 13 a 15? 2. O que você aprende no ensino desta carta, a partir do tema geral descrito no verso 11? 3. Parece que alguns cristãos gentios decidiram sair em viagem no propósito de anunciar a "Verdade", sendo que isto lhes causou problemas com familiares e a comunidade de gentios, que decidiram não lhes apoiar na decisão de seguir o Evangelho de Jesus. O que você conhece sobre as Missões cristãs hoje em dia, e sobre a perseguição aos cristãos? MOMENTO DE ORAÇÃO pelos pedidos do grupo e pelas Autoridades e Eleições no Brasil. Paz de Cristo e Boa semana. REFERÊNCIAS. Elwell, Walter e Yarbrough, Robert. Descobrindo o Novo Testamento. Editora Cultura Cristã, 2002, São Paulo SP.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O Senhor dos Anéis. OS ANÉIS DO PODER, 2022. A Espiritualidade da Luz nas Trevas!

O escritor J R R Tolkien era católico tradicional e um pensador cristão crítico da modernidade no séc 20, cuja obra literária oferece importante conteúdo filósofico e teológico aos leitores, sendo o criador da série "O Senhor dos Anéis", que além da trilogia de cinema lançada no início do século 21, chega agora às plataformas de streaming com a série da Amazon na Prime Vídeo: "O Senhor dos Anéis. Os Anéis do Poder". Os textos de Tolkien utilizam lendas e fantasias para apresentar ao público os mitos históricos e verdadeiros do Evangelho, já que ele entende que o Cristianismo tem a função de anunciar o valor da dignidade do ser humano e a importância das liberdades para a humanidade. Segundo Tolkien, "o Evangelho contém um conto fantástico, algo maior que envolve a essência de todas as histórias fantásticas. Ele contém muitas maravilhas - especialmente artísticas, belas e emocionantes: "míticas" em seu significado perfeito e conciso...". (Bradley Birzer, The Imaginative Conservative, artigo: Gazeta do Povo, Curitiba PR, 09/11/2020). "Houve um tempo em que o mundo era tão jovem, que o nascer do sol ainda não existia. Porém, mesmo assim havia luz." Eis a primeira frase do episódio inicial da nova série da Amazon, que foi inspirada na obra literária magistral de O Senhor dos Anéis e apêndices, de J R R Tolkien. Os Anéis do Poder mantém a produção caprichada da trilogia de cinema, que oferecia imagens belíssimas aos espectadores, sendo que a primeira cena da nova série nos conduz entre belos jardins e riachos de uma realidade transcendente, que são apresentados através de uma natureza terrena protegida e pura, o que remete às origens da humanidade no planeta. E sem perder tempo, o drama essencial da série e nosso tema nesse artigo; a Espiritualidade da Luz nas Trevas, surge forte e profunda na primeira conversa entre dois irmãos elfos angelicais, enquanto tratam do que deve-se fazer para permanecer na luz, assim que nos vemos em situações em que a escuridão toma conta de nosso coração: nas palavras da Elfo Galadriel: - "Mas, às vezes, o reflexo da luz na água é tão brilhante quanto a luz no céu. É difícil saber onde é em cima e onde é embaixo. Como saberei que luz seguir?". A resposta simples, mas ainda misteriosa virá no decorrer do primeiro capítulo, enquanto que o conhecimento real de seu significado existencial é simplesmente o tema de toda série, sendo algo valioso a ser buscado em nossa jornada da vida. E lá se foram os três minutos iniciais do prólogo da série, vindo a comunicar verdades maiores e propor reflexões mais valorosas do que filmes inteiros que assistimos por aí. A Espiritualidade de quase todo mundo no cinema que vemos nesta introdução da série apresenta de modo simples e natural, poético e idealista a realidade de uma criação boa e bendita, em que o conteúdo dos pensamentos de Tolkien aponta para a descrição bíblica cristã original, que se encontra no livro de Gênesis. E a questão fundamental que o elfo Finrod Felagund, irmão mais velho responde ao pé do ouvido da elfa irmã mais nova Galadriel, vai se tornar uma instigante proposição acerca das experiências espirituais da humanidade. Vindo a destacar o modo em que na situação atual de nossa realidade existencial, alguns conhecimentos somente serão alcançados na proximidade do convívio junto das situações em que este se apresenta. Ainda que sejam vivências perigosas em suas realidades morais; o que já é um conceito pra lá de complexo sobre o que se pode conhecer e aprender da vida humana. A apresentação dramática do tema essencial da história se desenvolve rapidamente nos primeiros quinze minutos do capítulo inicial, numa situação em que a harmonia da vida é corrompida pela chegada da escuridão. Algo que provoca a fuga dos cidadãos saudáveis para a Terra Média, aonde terão que lutar pela sobrevivência no eterno conflito entre bem e mal, verdade e engano, luz e escuridão. Pois não há vida nem verdade num mundo de valores diversos e distintos, sem a luta e sacrifícios na busca do que se acredita. A chegada e o conhecimento da morte numa existência em que a separação dos queridos e a perda da vida eram desconhecidos, chega sem avisos e fora do tempo, assim como as tragédias e calamidades. Situações e dores a que nos acostumamos, sem jamais com elas concordar, pois nosso espírito original sempre irá negar que tal condenação e miséria seja nosso destino real. Foi neste período da história que o príncipe da escuridão que mantém a Terra Média em conflito constante ganha seu nome, Sauron. Que após derrotado em grandes lutas, se retira pra longe, o que faz com que no passar dos séculos a sua presença e poder, influência e horror sejam esquecidos e vistos como extintos; mas não por todos! Conflito primordial que apresenta o modo como a luminosa menina que abre o filme com sua candura e sonhos, surja no decorrer da história como a corajosa Comandante Elfo Galadriel, vindo a conduzir os elfos discípulos que como ela, se negam a esquecer do mal e de Sauron. Eles seguem até os confins da terra e aonde a luz quase não resiste, pois a escuridão assumiu o ambiente, negando através da obscuridade a própria possibilidade de uma terra que se acreditava ser bendita. Um "lugar tão maligno que nem as rochas o esquentam", num ambiente em que bruxarias e ocultismo praticados pelos orcs demônios sobreviventes se torna a base espiritual em que ainda vive e respira o artífice do mal; Sauron, cujo sinal anteriormente gravado no corpo do irmão de Galadriel, como se fora um selo de conquista na morte, agora surge nas pedras frias diante do olhar atento da Comandante elfo. Em meio a essa situação grave e desafiadora, Galadriel compartilha seu desejo de voltar pra casa e viver entre as árvores da floresta pueril, lá no ambiente seguro e saudável da luz que não se apaga. No entanto, a líder elfo mantém firme o seu compromisso, afirmando que não tem como fazer isso sem antes investigar e esclarecer a situação dos orcs e seu príncipe maligno, que deixaram vestigios de estar ainda vivos, após a derrota nas guerras iniciais entre a luz e as trevas. E foi assim que em menos de 20 minutos, o instingante prólogo da série nos conduziu adentro ao enredo da história, para logo compartilharmos de seu drama essencial. Afinal, a narrativa cinematográfica não apenas conta a história da série, mas também a realiza e faz acontecer de modo real e sensível em nossa personalidade, enquanto dela visualizamos e vivenciamos. Sendo essa uma talentosa e capaz realização técnica dos produtores, que propicia bom interesse aos espectadores, enquanto cenas variadas apresentam personagens diversos em seus dramas particulares, mas nem tanto, como veremos no decorrer dos três primeiros capítulos. Dois aspectos espirituais de semelhança com a narrativa cristã da história podem ser percebidos neste prólogo, especialmente em distinção e também proximidade diante da trilogia Senhor dos Anéis no cinema, de Peter Jackson. Primeiro, esta série "Os Anéis do Poder" ocorre na Segunda Era da Terra Média, como se fora um período bíblico anterior ao dos filmes de cinema, já que retrata tanto as origens da terra e humanidade conforme descritas no Gênesis e ainda, o desenvolvimento inicial de raças e etnias diversas em sua jornada terrena. Sendo que, a trilogia de filmes girava ao redor da organização dos povos do bem à espera da vinda do Messias, para que ele viesse conquistar homens para o Reino da Luz; tudo ao redor do drama de se conviver com o poder, sem se deixar dominar pela vaidade. Um segundo aspecto a refletir neste primeiro capítulo apresenta o modo como o reino da luz somente se realiza na história da humanidade quando as suas benesses avançam sobre as maldades da escuridão presentes em nossa personalidade e sociedade. Sendo algo predito por Jesus ao anunciar que a sua mensagem de vida deveria seguir adiante por todo o mundo, já que, nas suas próprias palavras: será "uma igreja tão exuberante e tão cheia de energia que nem as portas do inferno serão capazes de obstruir seu avanço." (Mateus 16.18). Voltando ao enredo fílmico da série, vemos o modo em que logo após o poético e necessário prólogo, somos conduzidos numa viagem de apresentação dos diversos povos que residem nas muitas regiões do mundo. Numa jornada que vai até a terra do pequeno e humilde, simpático e amigável povo dos "pés peludos", passando pelas montanhas em que vivem o príncipe Durin e povos anões, chegando até a "terra dos homens", que surgem como seres inquietos e provocadores, em meio à presença de elfos anjos que tanto os protegem como observam com atenção as suas vidas, devido a seu passado confuso e conflituoso, em que alguns homens se aliaram a Sauron na propagação da escuridão pela Terra Média. Sem dúvida, o diferencial da série está fundado nos ricos e profundos conteúdos dos textos de Tolkien, que se tornam ambientes e cenas, falas e conversações, encontros e relacionamentos que nos transportam eficazmente até um rico universo poético e transcendente, que em sua naturalidade e magia nos fazem vivenciar a complexidade e riqueza da existência humana, conforme suas muitas dimensões da Terra e Céus. A descrição e apresentação deste universo humano e transcendente em seus aspectos distintos e interessantes, revelam o talento dos produtores, roteiristas e diretores da série, que seguem o legado de Peter Jackson como realizadores diferenciados e capazes da arte do cinema. Pois conseguem unificar a grandeza do ambiente e de suas belas imagens com a profundidade e o valor dos conteúdos das falas que traduzem as experiências mais íntimas das pessoas. Vemos a natureza em cenas amplas e através de movimentos grandiosos de câmeras, em meio a cortes rápidos e suaves com que somos levados ao drama das relações pessoais das muitas espécies de seres do mundo de Tolkien. Assim como Peter Jackson havia nos dado em sua grandiloquente apresentação dos filmes Senhor dos Anéis, na trilogia. O tema da Espiritualidade da luz nas trevas propõe uma reflexão profunda sobre a existência humana na Terra diante de nossas origens transcendentes, atualizando de modo realista o modo em que a presente realidade da humanidade já se encontra ocorrendo entre dois polos opostos de moralidade. Sendo que assim como no mundo, igualmente os seres humanos carregam em sua complexa personalidade físico espiritual as duas vivências, luz e trevas. De forma que, qualquer entendimento verdadeiro sobre as realidades da luz e trevas nesta vida, vai requerer a percepção e vivência de seus aspectos contrários no dia a dia de nossa personalidade e relacionamentos. Um encontro identificado não somente para realizar uma compreensão conceitual destas realidades, mas sim, para dar um conhecimento experiencial que permita ao homem seguir em seu aprendizado fundamental da história; que é o discipulado de si mesmo rumo a uma existência saudável e satisfatória. Realidades humanas propostas na série Anéis do Poder que remetem à biblica Árvore do conhecimento do bem e do mal. Sendo um fruto de que a humanidade se alimentou, o que agora nos conduz na experiência indicada pelo Elfo Finrod a sua irmã Galadriel, ao orienta-la sobre a necessidade de ter que passar por experiências contraditórias para então delas extrair o seu real significado. Recordamos ainda, a orientação do Apóstolo São João em sua primeira carta, na qual descreve os encontros e desencontros entre luz e trevas que Jesus consegue tratar de forma satisfatória na personalidade humana. Já que em nossa espécie essas duas facetas se tornaram vivências contrárias permanentes. E assim, posto que ambas coexistem numa única situação ou pessoa, o Apóstolo indica o modo possível de superar essa conflituosa experiência de vida, a qual deverá ocorrer a partir de dois princípios: o primeiro apresenta o modo como a luz deverá necessariamente se manifestar na região e situação em trevas através do anúncio da Palavra de Deus; e o segundo, esclarece a maneira em que esse encontro essencial irá propor os tratamentos necessários da realidade das trevas, por um tratamento via arrependimento. Sem no entanto, provocar sua destruição, mas sim, a redenção da situação e da pessoa em que tudo isso ocorre, para que não se perca a ave enquanto se colhem os ovos. Ou seja, é preciso avançar e abraçar a escuridão a fim de que a luz ali se manifeste, exatamente como num ataque de células boas diante de células ruins no ser. Trata-se de um encontro existencial que deverá ser norteado primeiro pela sinceridade, de modo que o ser humano deverá aceitar a sua fragilidade moral e condição infeliz de querer e até praticar o mal das trevas em certas situações. E em seguida, pela humildade, pois nesse entendimento, o homem deverá entregar a si próprio nas mãos espirituais do Profeta e Deus que lhe são mais fortes e sábios. Algo que os faz capazes de guia-lo numa experiência vitoriosa perante este conflito constante da história; conforme se lê no texto bíblico de 1 João 1.7: "Mas, se andarmos na luz, como o próprio Deus é luz, vamos experimentar também uma vida de comunhão uns com os outros, enquanto o sangue derramado de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo nosso pecado." Algo que torna possível se aproximar da luz de Deus através da mediação do Sacerdote Messias, de forma que haverá um bendito tratamento dos desejos das trevas no ser humano, enquanto este é mantido vivo. E olha que tudo isso está disponível somente nos dois primeiros capítulos da série. Bom filme! AUTOR. Ivan Santos Rüppell Jr é Mestre em ciências da religião e professor de teologia. Referências. Bíblia, Textos bíblicos da versão A Mensagem, São Paulo, Edit Vida, 2011.

A IGREJA E O ESTADO. Estudo de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria, Setembro, Estudo 1, 2022

"Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas (...) É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal." (Romanos 13.1,4). COMENTÁRIO: No dia 7 de setembro de 1822, o Brasil se tornou uma nação independente diante de Portugal, quando Dom Pedro afirmou "Independência ou Morte", próximo do riacho Ipiranga em São Paulo. Nosso país permaneceu sendo uma monarquia, até que em 15 de novembro de 1889 ocorreu a Proclamação da República Brasileira, e assim teve início a oficialização do sistema presidencialista. O principal teólogo das Igrejas Reformadas e Presbiterianas começou a publicar os seus estudos de doutrina bíblica num momento que ocorriam transformações políticas e sociais na Europa, que são semelhantes ao período da Independência em nosso país. Calvino foi chamado para auxiliar na organização social, civil e nas relações entre Estado e Igreja na cidade de Genebra, na Suiça, sendo que essa cidade havia conquistado a sua independência no ano de 1535. Esse fato se tornou um dos motivos porque o historiador Henri Strohl entende que, "Calvino é, dentre os Reformadores, quem melhor elaborou seu pensamento político." Esse autor destaca que João Calvino veio definir que deveria ocorrer uma distinção entre as instituições do Estado e da Igreja, pois o propósito de Deus é abençoar toda a humanidade através das delimitações das áreas de atuação destes dois poderes: “daí porque a “liberdade espiritual pode coexistir com a submissão civil, e o poder temporal não é incompatível com o reino espiritual de Cristo.” Calvino destaca que a sociedade humana necessita do Estado, no interesse de que a ordem seja mantida num mundo que se encontra submetido ao pecado: “Os que desejam privar o homem desse amparo... necessário para sua peregrinação na terra... fazem violência à sua natureza humana”. (Henri Strohl; p 230, 2004). COMPARTILHAR. 1. O que chama sua atenção nesta história do período em que João Calvino começou a publicar estudos bíblicos, no período da Reforma Protestante no sec 16? 2. Como você entende o versículo bíblico base de nosso estudo e a orientação de João Calvino sobre a importância do Estado para a sociedade? 3. O que chama a sua atenção na seguinte orientação bíblica do Apóstolo Paulo a Timóteo: "Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade." (1 Timóteo 2.1-4). MOMENTO DE ORAÇÃO pelos pedidos do grupo, autoridades e eleições no Brasil e celebrações e o culto aos domingos na Igreja. Boa semana!

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

O PENSAMENTO REFORMADO E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL. Seminário Presbiteriano do Sul - Curitiba. Setembro, 2022.

“Calvino foi um patrono dos direitos humanos; lutou contra os abusos do poder em seu tempo e chegou até mesmo a lidar com o problema político-filosófico da desobediência civil e do direito de revolta. Em seu pensamento ele antecipou os fundamentos da moderna forma de governo republicano, tornou-se um dos pais da democracia moderna, e contribuiu decisivamente para a compreensão cristã do relacionamento entre lei natural e lei positiva.” (R. Q. Gouvêa; Calvino, p 8, 2001). No dia 7 de setembro de 1822, o Brasil se tornou uma nação independente diante de Portugal, quando Dom Pedro afirmou "Independência ou Morte" próximo do riacho Ipiranga em São Paulo. Nosso país permaneceu sendo uma monarquia e teve uma constituição imperial promulgada em 1824. Até que em 15 de novembro de 1889 ocorreu a Proclamação da República Brasileira. Foi a oportunidade para que nosso país viesse a receber uma carta constitucional republicana em 24 de fevereiro de 1891, com a oficialização do sistema político presidencialista. No contexto político-social do modo em que as nações são estruturadas em sua governança perante a população, atualizamos neste período de celebração da Independência do Brasil agora em 2022, o pensamento cristão reformado acerca do tema. São valores bíblicos que a Igreja Presbiteriana tem refletido na história sobre a ordem social dos povos, a partir do pensamento do teólogo protestante João Calvino. Nessa perspectiva, faz-se importante recordar que o estabelecimento de Calvino como teólogo da Reforma Protestante se dá num contexto histórico e social de profundas transformações políticas na Europa. Afinal, a cidade de Genebra conquistou sua independência do Ducado de Savoia em 1535, sendo um período em que as lideranças da cidade estavam em busca de se organizar civilmente à luz dos novos padrões sociais e religiosos oriundos do humanismo e da reforma. Dessa forma, o ministro religioso e líder social da Reforma, Guilherme Farel voltou-se para a pessoa de Calvino já em 1536, posto que o reformador "falava e escrevia fluentemente o francês; publicara um excelente livro de instruções da doutrina cristã, o que indicava sua habilidade como educador; e era graduado em Direito Civil e, portanto, podia ajudar Genebra a elaborar suas leis civis." (McGrath, p. 92-94, 2012). Nesse contexto, Henri Strohl destaca na obra "O Pensamento da Reforma"; o aspecto em que, “Calvino é, dentre os Reformadores, quem melhor elaborou seu pensamento político. Seus estudos jurídicos prévios concorreram muito nesse sentido. Haja visto o capítulo sobre o governo civil com que termina a primeira edição da IRC e que já se apresentava em forma tão acabada que não sofreu maiores alterações nas edições posteriores”. (Henri Strohl; p 230, 2004). Strohl ressalta que João Calvino foi aquele que mais se dedicou ao tema, vindo a definir que deveria ocorrer uma real distinção entre as instituições do Estado e da Igreja. Pois o propósito de Deus é abençoar toda a humanidade através das delimitações das áreas de atuação destes dois poderes: “daí porque a “liberdade espiritual pode coexistir com a submissão civil, e o poder temporal não é incompatível com o reino espiritual de Cristo.” Nesse sentido, Calvino destaca que a sociedade humana necessita do Estado, no interesse de que a ordem seja mantida num mundo que se encontra submetido ao pecado: “Os que desejam privar o homem desse amparo... necessário para sua peregrinação na terra... fazem violência à sua natureza humana”. Ainda, o entendimento calvinista de que as autoridades são vigários de Deus nas suas diversas funções na sociedade, sejam eles reis, governadores ou chefes de grupos, orienta o modo como os fiéis devem acatar toda autoridade existente, mesmo que a monarquia seja a menos aceitável, conforme indica o pensamento dos “espíritos elevados”, de Aristóteles, Platão e Sêneca, segundo Calvino. Para o reformador, devemos reconhecer “a providência de Deus no fato de que diferentes regiões são governadas por diferentes formas de autoridade”; sendo que, “o melhor sistema de governo é aquele em que há liberdade adequada e durável”, com um destaque acerca da importância de que esse peculiar modelo de autoridade social que provê liberdade à população seja preservado; já que “o primeiro dever daqueles que governam um povo livre é velar para que “a liberdade do povo, do qual são protetores, não se restrinja.” (Strohl, p 232-233, 2004). Henri Strohl finaliza as considerações sobre o pensamento de Calvino acerca do Estado, ressaltando o valor de que as autoridades instituídas por Deus para manter a ordem e preservar o mundo não devem ser percebidas como um “mal necessário”, mas sim, devem ser acolhidas com a devida honra, atenção e obediência, conforme ensinam os apóstolos Paulo, em Romanos 13, e Pedro, em sua segunda carta, no capítulo 2. (p 236-237) Acerca desse mesmo tema, Matos e Nascimento destacam o modo em que Calvino se manteve atuante como um "pastor e estudioso das Escrituras" diante da sociedade, mesmo enquanto se dedicava a refletir acerca do Estado e situações sociais, fiel ao entendimento de que "a Bíblia contém princípios que devem reger todas as áreas da vida". Nesse sentido, conforme nossos autores, "Calvino afirma que o governo civil é uma dádiva de Deus (ver Romanos 13.1-7) e que o ofício de governante é uma elevada vocação, a mais sagrada e honrosa que existe (Institutas, 4.20.4)." (...) posto que a função da governança entre os homens é "proteger o serviço externo de Deus, defender o sadio ensino da piedade e a condição da igreja, regular as nossas vidas para a sociedade humana, moldar a nossa moral para a justiça civil, reconciliar-nos uns aos outros, e fomentar a paz e tranquilidade comum" (Institutas, 4.20.2)." (p. 23-25, 2007). E concluindo esse breve artigo de princípios cristãos reformados acerca dos sistemas de governo, à luz do pensamento de João Calvino, destacamos alguns aspectos elaborados por André Biéler, na obra "O Pensamento Econômico e Social de Calvino": "Cabe, com efeito, ao Estado, não somente manter certa ordem na sociedade, mas também prover o sustento da Igreja e da pregação fiel da Palavra de Deus entre os cidadãos". Sendo que, no destaque desse mesmo autor, tais proposições são dadas expressamente por João Calvino em seus "comentários ao Novo Testamento (I Timóteo 2.2)", conforme a seguinte citação: dos "frutos que nos provém de um principado ou governo bem regrado. O primeiro é a vida tranquila e pacífica, visto que os magistrados são armados da espada para suster-nos em paz (...) O segundo fruto é a conservação da piedade, isto é, quando os magistrados se dedicam a promover a religião, a manter o culto de Deus e a dar ordem a que as santas cerimônias sejam devidamente administradas e com reverência." (p 379-380, 1990). Nesse período de celebrações da Independência do Brasil, recordamos princípios cristãos reformados que observam a importância da organização da atuação governamental das nações perante os homens. Na fundamental orientação de que as autoridades civis são dadas aos homens por Deus para regular a ordem social, e para que tenhamos liberdade enquanto cidadãos políticos e livre expressão religiosa enquanto seres humanos espirituais. REFERÊNCIAS: BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. tradução de Waldyr Carvalho Luz. - São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990. CALVINO, João. A Verdadeira Vida Cristã, 2001. SP. MATOS, Alderi Souza e NASCIMENTO, Adão Carlos. O que todo Presbiteriano inteligente deve saber. Santa Bárbara d´Oeste, SP :SOCEP Editora, 2007. MCGRATH, Alister. A Revolução Protestante. tradução Lena e Regina Aranha. - Brasília, DF : Palavra, 2012. STROHL, Henri. O Pensamento da Reforma. tradução de Aharon Sapsezian, Aste. São Paulo, 2004. AUTOR. Ivan S Rüppell Jr é Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, professor de ciências da religião e teologia na Fatesul, e Advogado.

domingo, 28 de agosto de 2022

Carta a Filemon. Encontros de PEQUENOS GRUPOS da Igreja Presbiteriana Olaria, Agosto de 2022, II.

TEXTO Bíblico Base: Carta do Apóstolo Paulo a Filemon. COMENTÁRIO: No verso 6, o Apóstolo Paulo faz orações para que a "Comunhão da Fé" de Filemon possa crescer, até ele receber tudo de bom que Deus derrama sobre nós, em Cristo. A Comunhão da Fé que deve ser desenvolvida por Filemon tem a ver com "compartilhar as vivências" da fé cristã junto dos irmãos da igreja. No caso e naquela situação, Paulo também pede que Filemon perdoe um escravo fugitivo e comece a trata-lo como um irmão em Cristo, pois em Jesus; Paulo, Filemon e Onésimo são filhos de Deus em igualdade de valor e dignidade. COMPARTILHAR: 1. Paulo pede para Filemon algo que ele poderia ordenar como Apóstolo e lider cristão, já que o perdão é um mandamento. Você aceita que alguém lhe ordene algo em nome de Cristo, e você entende que isto seria algo bom para os cristãos hoje em dia? 2. Como vai a sua "Comunhão da Fé", ou seja, você consegue meditar na Palavra e orar junto com os irmãos, e consegue desenvolver boas obras e ministérios na companhia dos irmãos? 3. Paulo ora pelo crescimento da fé de Filemon e ora pra ser liberto da prisão. Como está a sua confiança na oração atualmente? TEMPO DE ORAÇÃO pelos pedidos do grupo e pela Celebração e Comunhão dominical dos irmãos na Igreja, aos domingos. BOA SEMANA!

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE J. CALVINO. Fatesul, 2022.

A doutrina cristã que iniciou na história a formatação de uma Teologia Reformada surgiu a partir do pensamento e reflexões do lider protestante João Calvino, no século 16. Iremos apresentar nessa aula, textos introdutórios sobre o pensamento de João Calvino acerca do conhecimento de Deus e do homem, e da Soberania de Deus sobre a história e sociedade dos homens, além de citações do livro de André Biéler, e ainda, um artigo de Henri Strohl, do livro A Obra dos Reformadores. INTRODUÇÃO. “Meu objetivo nessa obra é preparar e treinar estudantes de teologia para o estudo da palavra de Deus, para que possam ter um fácil ingresso no estudo dessa palavra e sejam capazes de lhe dar continuidade sem obstáculos.” (João Calvino. Comentário sobre a obra: Institutas da Religião Cristã. McGrath, p 111, 2005). O maior pensador da Reforma Protestante desenvolveu um valioso tratado religioso ao apresentar os conteúdos do Cristianismo num modelo que valoriza a teologia bíblica, ao mesmo tempo em que comunica de modo sistêmico, coerente e sequencial as doutrinas cristãs. Nas palavras de Alister McGrath, “o único princípio que parece nortear a forma como ele organizou seu sistema teológico é, por um lado, a preocupação de ser fiel às Escrituras e, por outro lado, a obtenção de máxima clareza possível na apresentação dos temas.”(p 103, 2005) Na apresentação da introdução ao livro de J. Calvino, “A verdadeira Vida Cristã”, o teólogo Ricardo G. destaca o seguinte aspecto hermenêutico acerca do reformador: “Calvino foi um exegeta notável, tornando-se o mais importante modelo da aplicação do método histórico-gramatical... Calvino insistia ainda na unidade e harmonia do ensino bíblico, evitando assim o erro tão comum em nossos dias de interpretar um referido texto alienado de seu contexto canônico-teológico.” (p 6, 2001) O interesse constante por resguardar o ensino divino existente em cada um dos versos bíblicos, aliado ao propósito de anunciar tal verdade conforme o contexto geral da revelação das Escrituras, fez com que os comentários e, especialmente, “As Institutas” de Calvino, viessem a se tornar um conteúdo teológico ímpar no Cristianismo, devido à profundidade e abrangência de suas formulações. CONTEÚDO. O Conhecimento de Deus. A Soberania e Providência de Deus. A responsabilidade do homem. Para Calvino, a sabedoria verdadeira acerca da existência consiste no conhecimento que temos de Deus, e no conhecimento que temos de nós mesmos, segundo a revelação de Deus, pois somente assim iremos anotar um entendimento real de nossa natureza. Sendo que “conhecer a Deus” significa saber que Ele é nosso Criador, além de ser o sustentador de tudo que há através de sua providência, governando a história com sabedoria, justiça e cuidado amoroso.” (Wiles, p 25, 1994). O PRIMEIRO conhecimento bíblico que adquirimos ao olhar para Deus aponta o princípio com que Deus governa a história e a sociedade dos homens, o qual irá indicar aos cristãos o modo em que devem perceber e praticar a sua responsabilidade de mandato social. Para Calvino, ao governar a humanidade através de sua providência, Deus revela sua bondade aos justos e sua severidade aos ímpios, sendo necessário salientar que há crimes que recebem castigos hoje, enquanto outros serão castigados apenas no futuro. (Wiles, p 34-35, 1984). Observe que o conhecimento desse princípio da Providência irá nos ensinar o conteúdo mais amplo acerca do modo como Deus é o Criador do Universo, dando-nos a compreensão da maneira como Ele sustenta, governa e preserva tudo que existe, movendo toda providência segundo o seu poder. Portanto, a filosofia e razão dos homens que define Deus como sendo apenas a causa primária da criação, vai limitar o nosso conhecimento da providência, enquanto também nos fará desprezar a bondade que o Senhor dedica a todas as suas criaturas. (Wiles, p 87-89, 1984). UM SEGUNDO ASPECTO importante de nossa compreensão do tema, é descobrir que no instante em que Deus governa todas as coisas pela sua providência, Ele vai atuar na história através de causas secundárias, como também, sem estas causas e até contrariamente a elas. Ele é o Soberano Senhor! Calvino utiliza o conselho bíblico de Salomão em Provérbios 16.9, para expor o modo como os decretos da governança de Deus sobre a existência não devem nos impedir de assumir uma atitude de “providência pessoal” no dia a dia. Pois foi o próprio Deus que nos deu tanto a responsabilidade de cuidar de nossas vidas, como igualmente nos capacitou com tudo que é necessário para preserva-la, já que nos orienta a prever perigos, agir com precaução e utilizar remédios. Portanto, ao perceber que os seres humanos se tornam uma das “causas secundárias” da providência pelas quais Deus governa a terra, devemos assumir a responsabilidade de zelar por nossas vidas, usando os meios fornecidos pelo Senhor, a fim de não sermos negligentes neste conhecimento. Nesse contexto, assim que o cristão reconhece que tudo está debaixo da ordenação de Deus, também dedica o devido valor e atenção às causas secundárias, sabendo que os meios cotidianos de cuidar de sua segurança foram dados pelo Senhor. A partir disso, irá utilizar os meios divinos como instrumentos da providência do Senhor para cuidar da humanidade, vindo a abraçar e assumir, tanto sua dependência de Deus, como a sua responsabilidade no mandato social cristão diante do mundo. (Wiles, p 95-98, 1984). Estes dois elementos do Governo de Deus sobre a Terra revelam tanto o cuidado do Senhor sobre a história, como a responsabilidade dos cristãos, já que estes recebem de Deus um mandato para atuar na sociedade dos homens. Afinal, o Senhor irá agir no mundo a partir da vida e personalidade de cada fiel, que irão servi-lo como agentes das “causas secundárias” de sua Providência. Um terceiro aspecto da governança bendita de Deus sobre o mundo surge no conhecimento da importância de sua lei moral, como sendo um elemento utilizado para instruir o homem, resguardar a sociedade do mal e propor o conhecimento da necessidade do Evangelho para a salvação de todo aquele que crê! SEGUNDO CALVINO, a Bíblia ensina que a lei moral de Deus tem três propósitos na história da humanidade e sociedade dos homens. Em primeiro lugar, o teólogo entende que a lei moral divina serve para anunciar e formalizar a culpa de todo homem diante de Deus, no objetivo de gerar temor nos seres humanos, algo que irá conduzi-los a buscar o conhecimento da misericórdia do Senhor; conforme se anuncia no Evangelho de Jesus Cristo. A LEI MORAL de Deus serve, então, para revelar a justiça de Deus, pois somente esta convence o homem de sua própria injustiça. Sendo que, somente os padrões da moralidade divina são capazes de demonstrar ao homem o seu estado de fraqueza e de condenação; conforme explica o Apóstolo Paulo: “pois eu não teria conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.” E, conforme Agostinho, “a lei serve para convencer o homem da sua fraqueza e a compeli-lo a orar pela graça curadora que há em Cristo.” (Wiles, p 149, 1984). Esse é um aspecto relevante acerca da responsabilidade social do cristão, pois a sociedade dos homens somente terá conhecimento da justiça do caráter de Deus, caso os cristãos venham anunciar tal verdade moral, mediante toda cultura e política, artes e educação que tiverem sob sua responsabilidade para praticar e desenvolver socialmente. O SEGUNDO elemento de importância da LEI MORAL divina orienta que ela serve para Deus governar a história pela sua Providência, no propósito de refrear a maldade dos atos dos homens que não se preocupam com o que é certo e com o que é errado. A lei moral de Deus serve para reprimir os homens através de freios e limites, como uma retidão necessária à toda humanidade, pois se não existisse esta proteção e resguardo da sociedade, o mundo se tornaria um lugar totalmente selvagem. Esse segundo aspecto complementa a responsabilidade social dos cristãos enunciada no primeiro, revelando o modo como leis civis originárias de valores cristãos irão oportunamente refrear a natureza humana na sociedade, segundo os padrões da justiça e moralidade de Deus. UM TERCEIRO aspecto importante do anúncio da lei de Deus é que a sua instrução é útil para ensinar os cristãos qual é a vontade de Deus para eles, como um elemento de apoio na sua jornada existencial. Pois o Espírito de Deus vive hoje em seus corações, a fim de conduzi-los no conhecimento e obediência dos mandamentos do Senhor. (Wiles, p 149, 1984). OUTRO ELEMENTO surge a partir de um olhar mais amplo acerca da existência, indicando a forma em que a lei moral divina se torna o instrumento utilizado para gerar um bom conhecimento da Pessoa de Deus, à toda humanidade. Pois a lei moral de Deus constrange os homens a adora-lo, enquanto também os conduz à humildade, sobre si mesmos. Calvino esclarece que a própria consciência do ser destaca a maneira em que os princípios morais de Deus foram escritos no interior e coração do homem. No entanto, somente a lei divina irá dar um testemunho claro e seguro acerca do certo e errado para a humanidade, já que a lei interior é insuficiente para fazer isso, em razão de nossa ignorância e vaidade. Nessa situação, os homens poderão admitir que estão longe da vontade de Deus, a cada vez que puderem comparar as suas vidas diante das exigências da lei, algo que também irá conduzi-los a buscar a misericórdia divina como um recanto de segurança. (Wiles, p 151-153, 1984). Após destacar os três aspectos de importância da lei moral bíblica no exercício do governo da Providência sobre a humanidade, e após esclarecer o valor da lei perante a consciência do homem, a fim de também convoca-lo a conhecer a misericórdia de Deus no Evangelho; Calvino apresenta o modo como os 10 Mandamentos são os fundamentos da Lei moral de Deus na história. O REFORMADOR entende que os 10 MANDAMENTOS representam uma justiça interior e espiritual, pois seus princípios alcançam os pensamentos do coração do homem. Esse aspecto fundamenta o modo como o Senhor Jesus veio resumir toda a lei em dois atos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mateus 22.37, Lucas 10.27). Nesse contexto, em que os princípios morais dos 10 mandamentos são os fundamentos da Lei do amor de Jesus, Calvino enfatiza a superioridade do padrão moral e relacional da lei de Deus na sociedade, como sendo os mais excelentes valores e princípios que deverão reger e orientar a vida social da humanidade. Assim, todo conteúdo da justiça de Deus deve ser percebido como um código de boas obras completos, posto que não haveriam quaisquer outros conhecimentos e virtudes capazes de superar aqueles que nos foram descritos por Moisés e Paulo. Entendimento que faz o Apóstolo afirmar que “toda a lei se cumpre em uma só palavra, a saber, “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gálatas 5.14). O conteúdo moral dos mandamentos enfatizado no resumo da lei dada por Jesus, traduz os valores que devem nortear a verdadeira obediência aos mandamentos de Cristo; sendo um conhecimento que deve ser oferecido e vivenciado de maneira ampla perante a humanidade, conforme o ensino da parábola do Bom Samaritano. (Wiles, p 153-164, 1984). Calvino recorda a importância de nos relacionarmos perante a humanidade segundo os padrões morais de Cristo, pois as exortações morais provenientes dos filósofos nos mandam viver a vida conforme é apropriado à natureza humana. Algo impróprio para ser praticado ou defendido pelos cristãos, já que afora o fato de somente as Escrituras ensinarem o exemplo de Jesus aos homens, todos aqueles que seguem o conteúdo dos filósofos não irão carregar ou ensinar nada de Cristo, além do título. Para Calvino, a doutrina dos filósofos orienta a maneira em que o homem será governado pela razão, enquanto que a filosofia cristã afirma que a nossa racionalidade deve estar submetida ao Espírito Santo, no propósito de que possamos viver em Cristo, e não mais, em nós mesmos. (Wiles, p 237-239, 1984). Citação final: “Se houve qualquer movimento religioso, no século 16, que tenha tido uma atitude afirmativa em relação ao mundo, esse foi o Calvinismo.” (Alister McGrath) (p 249, 2005). O PENSAMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DE CALVINO, André Biéler. Vamos abordar agora, citações de Calvino e anotações do pesquisador André Bieler, como um conteúdo que vem ampliar o conteúdo de João Calvino sobre a Cosmovisão Reformada para a vida do cristão em sociedade. "O movimento da Reforma em Genebra é antes de tudo um movimento religioso que diz respeito à fé, seja dos indivíduos, seja da comunidade. Não é senão em consequência desta fé que a Reforma repercute - necessária, mas secundariamente - na vida social e política." (Biéler, p 105, 1990). "A redenção do mundo por Jesus Cristo se realiza, então, no universo como um todo e sua natureza; o alvo primário desta ação de Deus, porém, é a restauração da humanidade. É este o aspecto da obra de Cristo que desejamos considerar agora. Que significa esta restauração para a vida da sociedade? (...) A Igreja constitui entre os homens uma sociedade nova, uma comunidade no seio da qual as relações humanas originais são restauradas por Jesus Cristo; através desta comunidade tende a Igreja à restauração parcial da sociedade humana autêntica. (...) Na comunidade cristã as relações sociais naturais são-no na perspectiva da restauração." (p 334-335, 1990). "É também pela vontade de Deus, e por sua Providência operando por Jesus Cristo, que a economia primitiva da sociedade, corrompida pelo pecado dos homens é, a despeito de tudo, mantida até o fim dos tempos." (p 341, 1990). "A igualdade espiritual que reina e impera na Igreja não suprime, pois, a legitimidade de uma ordem política e social provisória onde as funções são diferenciadas e hierarquizadas. (...) Pode parecer que a moral social reformada seja favorável à conservação de uma ordem social estática. Não o é. O Evangelho, ao contrário, é uma força dinâmica, sempre tendendo a reformar a ordem estabelecida, para transformá-la em uma ordem mais justa, pois que, não importa qual ordem, está sempre em vias de corromper-se sob o efeito do pecado." (p 342, 348, 1990). "Toda esta ordem social relativa necessária à conservação da sociedade, não menos que a ordem parcialmente restaurada na igreja, não tém valor nem fim em si. Não existem, uma e outra, senão em vista da vinda definitiva do Reino de Deus. Não tem, pois até lá senão uma existência provisória. E toda a história humana se desenrola na expectação desse evento." (* "Nessa cruz percebemos um triunfo mais do que magnífico, triunfo que aos maus está oculto, pois que nós aí reconhecemos que, apagados estando os pecados, foi o mundo reconciliado a Deus, a maldição abolida, Satanás derribado." Calvino, comentários ao Novo Testamento apud Biéler). "Em consequência da vocação fundamental do homem, chamado, em primeira planta, a conhecer a Deus e, então, incumbido de associar-Lhe á obra da Providência, com sujeitar a si a terra e toda a Criação, apresenta-nos a Bíblia mui naturalmente o trabalho agrícola como a atividade primária da humanidade (...) Esta vocação essencial, entretanto, não é limitada ao trabalho do campo. Por sua inteligência, por sua reflexão e por sua atividade técnica, a criatura de Deus é chamada à descoberta, ao conhecimento e ao senhorio de todo o Universo." (p 565-566, 1990). (* "Entretanto, não há como esquecer que todas essas graças são dádivas do Espírito de Deus, que Ele distribui com quem bem lhe parece, para o bem do gênero humano." Calvino, Institutas tomo II cap II apud Biéler p 569). "A ciência, com efeito iluminada pela fé, ajuda-nos a compreender Deus." (p 571, 1990). (* "Infinitos ensinamentos há tanto no céu quanto na terra para no-Lo atestar o admirável poder, tais os segredos da própria natureza que requerem estudo especial e o saber da astronomia, da medicina e de toda a física..." Calvino, Institutas Tomo I cap V apud Biéler p 571). "Em numerosas passagens de seus escritos, definiu Calvino as artes como dons de Deus extremamente preciosos, inspirados por Seu Santo Espírito. O Criador de todas as coisas é também Aquele Que embeleza a vida dos homens com todos os ornamentos do espírito que Ele lhes prodigaliza e com todas as obras que lhes permite executar para Sua glória." (p 573, 1990). (* "A invenção das artes e outras coisas que servem ao bem comum e ao conforto desta vida é um dom de Deus que não é de desprezar e uma virtude digna de louvor." "Artistas e artesãos: servidores da sociedade. * "Somos ensinados que nenhum artesão, da mais baixa condição, não atua em sua profissão, senão na medida em que o Espírito de Deus nele opera. Embora diversos sejam os dons, não há senão um Espírito do qual defluem os dons todos (1 Co 12.4), segundo a Deus haja aprazido a cada um distribuir por medida. Isto não se aplica somente em relação aos dons espirituais, que se seguem à regeneração, mas a todas as ciências que concernem ao viver comum." Calvino, comentários aos cinco livros de Moisés apud Biéler p 579). "Como já observamos a propósito da doutrina calviniana do trabalho, o Reformador de Genebra é o primeiro dos teólogos de sua época a discernir, com tanta clareza, o papel providencial que exercem na sociedade e na conservação do gênero humano... as trocas e, consequentemente, todos aqueles que se voltam ao comércio. (...) Levantou-se Calvino contra os monopólios que se atribuíam certos grandes mercadores, certos representantes das altas finanças, e contra os prejuízos que estes causavam ao resto da sociedade por sua contribuição à alta dos preços e ao encarecimento do custo de vida." (Biéler, p 584, 1990). O PENSAMENTO DE CALVINO, segundo Henri Strohl. “Se houve qualquer movimento religioso, no século 16, que tenha tido uma atitude afirmativa em relação ao mundo, esse foi o Calvinismo.” (Alister McGrath; p 249, 2005). A obra, “O pensamento da reforma”, de Henri Strohl veio suprir na década de 1960 uma lacuna considerável na formação de estudantes e acadêmicos de teologia. O conteúdo do livro aborda de forma didática, temas abrangentes do pensamento dos principais teólogos da Reforma. E, nesse tópico de nosso artigo, iremos utilizar as considerações do tema da Providência de Deus, segundo análise desenvolvida pelo autor ao pensamento de João Calvino. O PENSAMENTO de João Calvino acerca da importância da moralidade divina no mandato social do cristão está contido dentro do tema maior da Providência de Deus. Segundo Strohl, Calvino trata do tema da Providência na perspectiva de realçar o “equilíbrio entre a dependência absoluta de Deus e o dever humano da previdência.” (p 153, 2004) Calvino se posiciona contrariamente à visão “estoica” da providência, que entendia o mundo como sendo uma máquina em movimento, o que o fez salientar o aspecto sobre o modo em que a providência divina tem uma atenção e cuidado especiais pela existência de cada criatura. Portanto, a Pessoa de Deus deve ser percebida como o mestre e moderador de todas as coisas, o que significa que o Senhor vai “presidir de tal modo que as coisas presididas se conduzam com ordem e harmonia” Nesse contexto, a experiência de José no Egito se torna um exemplo utilizado por Calvino, para representar o modo como Deus governa os atos maus dos homens no interesse de que se tornem algo bom, segundo seus propósitos. (p 108, 196, 2004). UM SEGUNDO ASPECTO destacado pelo autor, apresenta o olhar calvinista de que os atos da providência de Deus não negam a importância dos atos da previdência humana, posto que, ao contrário, requerem da humanidade que assuma e pratique integralmente toda ação que for de sua particular responsabilidade. A interpretação dada ao texto bíblico de Provérbios 16.9 esclarece o princípio: “O coração do homem deve considerar seus próprios caminhos, e o Senhor governará os seus passos.”; sendo que nesse texto, Calvino deseja salientar a maneira como “o decreto eterno de Deus não impede que conduzamos em ordem nossa vida,” conquanto as nossas atitudes ocorram segundo a sua vontade. Segue um destaque das afirmações dadas pelo reformador: “Reconheçamos, portanto, nosso dever. Se o Senhor confiou-nos a guarda de nossa vida, conservemo-la; se nos concedeu meios para tal fim, usemo-lo; se nos aponta perigos, não nos lancemos neles estupidamente; se nos oferece remédios, não os desprezemos... O acautelar-se e o proteger-se são dons inspirados por Deus para que os homens conservem a vida e, assim, sirvam ao seu propósito.” (Strohl, p 113-115, 2004). A plena confiança em Deus não deve impedir o homem de fazer o que lhe cabe, mas sim, obriga-nos a praticar o que Deus delegou sob a nossa responsabilidade. Nesse contexto, os fiéis irão entender que todos os meios disponibilizados por Deus para que o homem aja com previdência, devem ser considerados como bênçãos divinas dadas à humanidade; daí que não devemos recusar os instrumentos dados pela providência divina para o cuidado de nossas vidas. Deve-se, então, acatar a segura orientação de Deus para agir com sabedoria diante da realidade, sabendo que os recursos que temos irão fortalecer a nossa confiança n`Ele; ao invés de serem utilizados para aumentar nossa soberba ou dar demasiada atenção para a nossa falta, ou abundância de recursos. (Strohl, p 154-155, 2003). Conforme Strohl, “para Calvino, a soberania absoluta de Deus, e a inteira responsabilidade do homem são dois elementos da verdade, ambos revelados, não obstante nossa mente não possa harmonizá-los.” A compreensão desse conteúdo está na afirmação de que toda vez que os propósitos de Deus são realizados através da maldade dos ímpios em desobediência a seus mandamentos, isto não significa que eles não serão culpados do que fizeram, conforme o exemplo da paixão de Cristo: “O Pai celestial entregou seu Filho à morte; Jesus Cristo entregou-se à morte; Judas entregou seu mestre à morte”. (p 155, 2004). O AUTOR ressalta um dos pensamentos mais significativos de João Calvino e do calvinismo histórico, ao expor o princípio da “GRAÇA COMUM” de Deus. E para enfatizar o modo em que esta graça foi disponibilizada a toda humanidade, o reformador assinala que “a natureza humana, conquanto decaída na sua integridade, continua possuidora de muitos dons de Deus”. Estes dons são denominados “graças naturais”, tendo sido dados a homens bons e maus, o que torna imperativo que a humanidade faça bom uso de cada um deles, para que não sejamos negligentes diante desta graça recebida. Segundo o autor, Calvino percebia alguns frutos e resultados dessa graça de um modo positivo e abrangente, posto que estes dons vieram a produzir “ideias divinas disfarçadas nos textos dos filósofos”, e uma “boa ordem e justa disciplina” nas reflexões desenvolvidas pelos juristas da antiguidade, sendo este, um princípio central da valorização dedicada pelo calvinismo para as artes e a ciência na história. (p 156, 2004). Conforme as funções do Estado, como sendo uma instituição criada por Deus para regular o bem na sociedade dos homens, o reformador ensina que o magistrado (governante) deve agir positivamente acerca da religião, posto que “a finalidade da ordem temporal é manter o culto público de Deus, a doutrina e a religião puras, e o bem geral da Igreja”. “Calvino desenvolve extensivamente a tese de que, segundo a Escritura e os filósofos, às autoridades civis cabe o dever de fazer observar “as duas tábuas da Lei”. (Strohl, p 232, 2004). Strohl anota o aspecto em que Calvino rejeita a proposição do reformador Bucer, pois este entendia que as leis de um Estado cristão deveriam seguir as regras das ordens comunitárias definidas por Moisés. Acerca deste tema, Calvino faz uma distinção de entendimento e importância entre as leis moral e cerimonial; vindo a definir que o resumo da Lei moral dada por Jesus, deve ser reconhecida como sendo a “verdadeira e eterna regra de justiça válida em todos os lugares e em todos os tempos para todos os homens que desejam orientar sua vida pela vontade de Deus”. Nesse contexto, o calvinismo entende que as leis judaicas que asseguravam o ordenamento comunitário dos homens tinham o propósito de orientar uma “pedagogia dos judeus”. Portanto, no estabelecimento de sua estruturação social, cada nação deverá legislar através das regras que forem mais adequadas às suas sociedades, com destaque para a orientação de que essas leis não devem ser contrárias às leis morais eternas de Deus, “de tal modo que, embora assumindo formas diferentes, tenham todas o mesmo propósito” (p 15, 2004). Ao tratar dos fundamentos do Direito e das Leis, Calvino ressalta a importância do direito romano na história da humanidade, posto que suas bases foram orientadas sobre “o testemunho da lei natural e da consciência que o Senhor implantou no coração de todos os homens”. O pensamento calvinista entende que a lei natural está resumida na observância do princípio da equidade, o qual orienta que as mais diversas regras e ordens dadas pelas legislações em cada época da história resguardem sempre o objetivo principal da justiça. Nesse contexto, as penalidades dadas aos crimes de furto e homicídio poderão ser mais ou menos severas, “conforme as circunstâncias do tempo, do lugar e da nação”. (Strohl, p 235, 2004). João Calvino destaca a afirmação do Apóstolo Pedro, de que é mais importante obedecer a Deus do que aos homens, no propósito de orientar que nenhuma destas autoridades ou ordens de governantes seja reconhecida como tendo valor, caso atue contra a vontade de Deus: “Porventura Deus, ao entregar o governo a homens mortais, renunciou inteiramente ao seu direito?”. (p 239, 2004). (Os elementos de ambos estes textos; o pensamento de Calvino nas Institutas e o pensamento de Calvino segundo Strohl, são parte de um artigo com três tópicos, incluídos o pensamento reformado para o Estado e Sociedade segundo Abraham KUYPER, conforme publicado integralmente na Revista Teológica Fatesul, o qual pode ser acessado no link a seguir: http://fatesul.com/publicacoes/revista-teologica/). REFERÊNCIAS. BÍBLIA, Sagrada, NVT. 1 ed – São Paulo : Mundo Cristão, 2016. _______, de Estudo de Genebra. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 1999. BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. trad Waldyr Carvalho Luz - São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990. CALVINO, João. As Institutas. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006. _________, A Verdadeira Vida Cristã. Novo Século, São Paulo, 2001. McGRATH, Alister E. Teologia, sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes. – São Paulo: Shedd Publicações, 2005 WILES, J. P. As Institutas da Religião Cristã – um resumo – João Calvino. Tradução do inglês Gordon Chown. Primeira edição em português: 1984. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo – SP. STROHL, Henri. O Pensamento da Reforma. Tradução Aharon Sapsezina. – 2 ed. – São Paulo : ASTE, 2004. Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é Ministro da IPB, professor de Teologia e ciências da religião, e Advogado.