quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

JESUS DE NAZARÉ. A REDENÇÃO DA HUMANIDADE, Institutas de João Calvino.

O Natal se aproxima e novamente buscamos nas Escrituras sagradas o conhecimento fundamental para bem celebrar o Nascimento do Messias, Jesus de Nazaré. Observe que a palavra redenção significa comprar algo que fora perdido, fazendo um pagamento pelo resgate. O significado religioso cristão dessa expressão apresenta o modo como Jesus de Nazaré é a Redenção através de Quem a humanidade foi liberta de uma existência maldita, já que distante de Deus. Sobre esse tema, vamos meditar no conteúdo das "Institutas da Religião Cristã", de João Calvino, em seu LIVRO III, Tópico 6: "O Homem Arruinado Precisa Buscar em Cristo a Redenção." Desde que o nosso representante Adão colocou toda humanidade num estado de ruína existencial, o potencial de vida e realizações da raça humana revela mais a nossa vergonha do que indica alguma dignidade acerca de todos nós. Sendo que essa realidade jamais será transformada, "até que Deus apareça como Redentor na pessoa do Seu Filho unigênito", pois, a existência corrompida pelo pecado tem sido a única obra desenvolvida pelos seres humanos. Dessa forma, de nada adianta alguém saber que Deus é o Criador, se não descobrir pela fé a maneira em que seremos capazes de enxergar Deus "como nosso Pai em Cristo", para nos tornar filhos de Deus, novamente. Observe que o caminho natural da existência humana era Temer e Amar a Deus, porém, a queda nos conduziu numa jornada maldita em que somos culpados pela ruína até da natureza e dos animais da criação, dados por Deus. Nesse contexto existencial, o Apóstolo Paulo esclarece a nossa situação de ignorância e o caminho do único conhecimento que pode transformar essa realidade: "Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação." (1 Coríntios 1.21). Portanto, todo aquele que não acreditar na louca pregação da mensagem da cruz, também estará impossibilitado de receber em sua vida o cuidado e benção paternal do Criador. Sendo que a única mensagem capaz de salvar a humanidade desde a queda do representante Adão é o conhecimento de Jesus Cristo como Mediador diante de Deus, "pois as palavras de Cristo aplicam-se a todas as eras do mundo", conforme lemos em João 17.3: "Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." Essa conclusão também retiramos das orientações de Jesus dadas para a mulher samaritana, "Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus." (João 4.22). E aqui fica claro "que a herança do céu somente pertence aos filhos de Deus, e como podem ser considerados filhos de Deus quaisquer indivíduos senão os que são enxertados no Filho unigênito de Deus, os quais crêem no Seu nome - assim se tornando filhos de Deus? (João 1.12)". Portanto, desde a antiga aliança anunciada por Moisés e os Profetas, toda "misericórdia e a graça de Deus sempre foram demonstradas através do Mediador; e a felicidade da igreja sempre foi fundamentada sobre a pessoa de Cristo." Eis a razão para Paulo dizer que Jesus Cristo é "a semente" na qual os povos de todos os tempos poderiam ser abençoados, já que nem todo descendente natural de Abraão é também um descendente espiritual das bênçãos de Deus. Pois, não se pode esquecer de Ismael, e dos irmãos gêmeos, Esaú e Jacó, posto que um deles foi escolhido e o outro foi rejeitado, antes mesmo de haverem nascido, fazendo-nos compreender que o povo de Deus fora adotado pela graça do Mediador desde o início dos tempos. E ainda que esse ensino não estivesse bastante claro nos textos de Moisés, do qual todo judeu piedoso tem conhecimento, observe que antes mesmo de um rei ter sido nomeado para o povo, Ana deu firme declaração sobre esse tema: "Ele dará poder a seu rei e exaltará a força do seu ungido". (2 Samuel 2.10). "Com estas palavras ela quer dizer que Deus abençoará Sua igreja através de Cristo", pois "não há nenhuma dúvida de que o desígnio de Deus era exibir um tipo vivo de Cristo em Davi e nos seus sucessores." Sendo esse o motivo para que o salmista oriente os piedosos para saudarem o Filho, em respeito ao que o próprio Jesus diria oportunamente: "Aquele que não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou." Assim, vemos como após a ruína e desobediência das dez tribos, Deus seguiu honrando a aliança com Davi e sua linhagem, sendo que diante da própria queda de Jerusalém, o Senhor anunciou: "Entretanto, por amor ao seu servo Davi, o Senhor não quis destruir Judá. Ele havia prometido manter para sempre um descendente de Davi no trono". (2 Samuel 8.19). Neste sentido, "a preservação do povo sempre estava ligada com a preservação da linhagem de Davi, conforme diz, em consequência", no Salmo 28. 8-9: "o Senhor é a força do seu povo, a fortaleza que salva o seu ungido. Salva o teu povo e abençoa a tua herança! Cuida deles como seu pastor e conduze-os para sempre." Tudo isso "para demonstrar que a segurança da igreja está inseparavelmente ligada com o reino de Cristo", motivo pelo qual entendemos que as leis cerimoniais indicavam que o Cristo de Deus era "o objeto apropriado da sua fé", já que toda prática religiosa apontava para o Messias. Dessa forma, vemos como qualquer consolo e esperança oferecidos por Deus aos homens nasce sempre a partir do nome de Cristo: "Saíste para salvar o teu povo, para libertar o teu ungido. Esmagaste o líder da nação ímpia, tu o desnudaste da cabeça aos pés." (Habacuque 3.13). "E sempre que os profetas falam da restauração da igreja, lembram o povo da promessa dada a Davi a respeito da estabilidade do seu reino." Eis a razão porque Isaías utilizou o conhecimento do Messias para tratar do modo como Deus iria livrar seu povo, mesmo diante da rebeldia do rei Acaz, que se colocava em confronto diante de Deus: "Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel." (Isaías 7.14). Isaías dava indicações de que a "aliança de Deus não ficaria nula, pois o Redentor viria no devido tempo", mesmo que o rei e toda nação não buscassem nem a Palavra e nem as promessas dadas por Deus a seu povo. "Em resumo, pois, todos os profetas, quando queriam dar segurança ao povo quanto à misericórdia de Deus, trouxeram à tona aquela promessa da estabilidade do reino de Davi, da qual dependiam a redenção e a salvação eterna", conforme também lemos em Isaías 55.3-4: "Vejam, eu o fiz uma testemunha aos povos, um líder e governante dos povos. Com certeza você convocará nações que você não conhece, e nações que não o conhecem se apressarão até você, por causa do Senhor, o seu Deus, o Santo de Israel, pois ele lhe concedeu esplendor." Da mesma forma, o Profeta Jeremias anuncia, "Dias virão", declara o Senhor, "em que levantarei para Davi um Renovo justo, um rei que reinará com sabedoria e fará o que é justo e certo na terra. Em seus dias Judá será salva, Israel viverá em segurança, e este é o nome pelo qual será chamado: O Senhor é a Nossa Justiça." (Jeremias 23.5-6). E junto deles, também o Profeta Ezequiel anuncia o mesmo conhecimento: "Porei sobre elas um pastor, o meu servo Davi, e ele cuidará delas; cuidará delas e será o seu pastor. Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será o líder no meio delas. Eu, o Senhor, falei. Farei uma aliança de paz com elas e deixarei a terra livre de animais selvagens para que as minhas ovelhas possam viver com segurança no deserto e dormir nas florestas." (Ezequiel 34.23-25). Portanto, eu faço citação destes poucos textos para ensinar que a única esperança dos homens de fé jamais esteve amparada em outro, que não o próprio Messias, Mediador único perante Deus, pois "foi propósito de Deus que a mente da nação judaica ficasse permeada por estas profecias de tal maneira que os judeus sempre procurassem a libertação somente em Cristo." Sendo que nem toda a corrupção da existência os faria esquecer "do princípio geral de que Deus livraria Sua igreja pela mão do Messias de acordo com sua promessa a Davi", sendo algo confirmado assim que Jesus entrou em Jerusalém, na semana da Páscoa, quando o povo anunciou: "Hosana ao Filho de Davi." Conforme esse conhecimento das Escrituras, "apenas desejo que meus leitores mantenham firmes nas suas mentes que nunca tem havido e nunca haverá, nenhum conhecimento salvífico de Deus à parte de Cristo." REFERÊNCIA: J P Wiles. As Institutas da Religião Cristã - um resumo - João Calvino. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo SP, 1966. p 140-143. Autor: Ivan Santos Rüppell Junior é professor de Ciências da Religião, e Capelão Escolar e Social.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

JESUS EMANUEL É DEUS CONOSCO! Institutas de João Calvino.

Esse texto contém um resumo e citações do resumo de J P Wiles das Institutas da Religião Cristã, do reformador protestante João Calvino. TÓPICO 12. "Foi Necessário que Cristo se tornasse Homem, a fim de Exercer o Ofício de Mediador." "Era muito necessário para nós que Aquele que haveria de ser nosso Mediador fosse tanto Deus quanto homem." Isto em razão de que os nossos pecados causaram separação entre nós e a Pessoa de Deus, e nos deixaram afastados e distantes do Reino dos céus, e assim, "nenhum mediador poderia restaurar nossa paz senão um que pudesse chegar a Deus." Mas, afinal, quem poderia entrar na presença de Deus? Um dos filhos de Adão? Não! Todos ficavam atemorizados diante de Deus, assim como Adão após o seu pecado e queda. Um anjo poderia fazer isso por nós? Não! Os anjos precisavam de um líder próprio para mantê-los no seu estado original de pureza diante de Deus. Dessa forma, a nossa história com Deus iria acontecer de forma desgraçada e totalmente sem esperanças, "se o grande Deus não tivesse descido até nós, quando era impossível para nós subirmos a Ele." "Por isso, era necessário que, por amor a nós, o Filho de Deus Se tornasse Emanuel, ou seja, Deus conosco; e isto de tal maneira que a Deidade e a natureza humana fossem unidas n´Ele." Afinal, em razão da nossa distância de Deus e da diferença entre sua pureza infinita e nossa contaminação profunda, não haveria outra forma de sermos capazes de estar na Presença d´Ele. A realidade é que jamais poderíamos estar perto de Deus, após termos corrompido toda a vida e a criação de Deus. Eis o motivo para que Paulo chame nossa atenção para o fato de Jesus Cristo ser homem, enquanto também ensina que Ele é nosso Mediador. "Pois há um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus." (1 Timóteo 2.5). Paulo poderia ter dito que Jesus é Deus, e até poderia omitir que Jesus é Homem, "mas devido o Espírito que falou através de Paulo conhecer a nossa enfermidade, o apóstolo adotou um modo de falar admiravelmente apropriado para nos encorajar, colocando o Filho de Deus em nosso meio de modo familiar, como um de nós mesmos." E assim, não vai surgir medo e dúvida em nossos corações, para ficar questionando: "Onde está este Mediador, e como vou chegar até Ele?", pois "Paulo chama-O de homem, para lembrar-nos que Ele está muito próximo de nós, visto que é nossa própria carne." Esse conhecimento é ensinado com detalhes na carta aos Hebreus: "Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado." (4.15). Essa verdade é melhor entendida quando olhamos para a extraordinária obra do Mediador em nosso favor, pois Jesus nos colocou novamente junto de Deus Pai, transformando filhos de homens em filhos de Deus, e fazendo com que os herdeiros do inferno se tornassem herdeiros dos céus. Como poderia essa mudança ocorrer em nossas vidas, "a não ser que o Filho de Deus também Se tornasse o Filho do homem, assumindo desta forma aquilo que era nosso, a fim de transferir para nós pela graça aquilo que era d´Ele próprio por natureza?" Eis a razão de confiarmos totalmente na sua promessa de nos tornar filhos de Deus, pois afinal, o verdadeiro Filho de Deus assumiu em sua pessoa o "corpo do nosso corpo, carne da nossa carne, osso do nosso osso, a fim de que fosse um conosco. Deste modo, juntamente conosco, Ele agora é tanto o Filho de Deus quanto o Filho do homem." A partir disto, Jesus tem segurança e autoridade para falar conosco nas seguintes palavras: "Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês." (João 20. 17). Portanto, a herança do reino dos céus está assegurada para nós, crentes em Cristo, pois o Filho único de Deus que detinha toda a herança para si mesmo, "nos adotou como Seus irmãos; e se somos irmãos, então também somos co-herdeiros da herança." (Romanos 8.17). Porém, há outras razões para que nosso Redentor "fosse tanto Deus quanto homem." Observe que, para ser capaz de levar consigo a morte deste mundo; "quem poderia fazer isso senão Ele, que é a vida? A Ele cabia conquistar o pecado; quem poderia fazer isso senão Ele, que é a própria justiça? A Ele cabia derrotar o mundo e as potestades do ar: quem poderia fazer isso senão Aquele" que é maior do que o mundo e as potestades? Sendo que não há outro com estas virtudes, exceto Deus; Ele mesmo! Portanto, para que a humanidade fosse reconciliada com Deus, era necessário surgir um homem obediente que pudesse superar a desobediência própria do homem, a fim de "satisfazer a justiça de Deus e pagar a penalidade do pecado." E foi por isso que "surgiu um homem verdadeiro na pessoa de nosso Senhor, que personificava Adão e tomou sobre Si o nome dele, a fim de que, no lugar dele, obedecesse ao Pai, e apresentasse nossa carne a um Deus justo com o preço da satisfação, e naquela mesma carne pagasse a penalidade" da nossa desobediência. "Visto, então, que Deus por Si só não poderia provar a morte, e que o homem por si só não poderia vencê-la, Ele tomou sobre Si a natureza humana em união com a natureza divina, para que sujeitasse a fraqueza daquela a uma morte expiatória, e que pudesse, pelo poder da natureza divina, entrar em luta com a morte e ganhar para nós a vitória sobre ela." (leia de novo esse parágrafo) E como um conteúdo complementar à nossa fé, devemos recordar que a Lei e os Profetas prometiam "um Redentor que seria o Filho de Abraão e Davi", sendo que esse anúncio se cumpriu exatamente na pessoa humana de Jesus Cristo, que foi confirmado como o Messias profetizado nas Escrituras. Acima de tudo, "o ponto principal a ser lembrado é que a natureza que Ele compartilha conosco é uma garantia da nossa comunhão com o Filho de Deus (Ele próprio); posto que Ele, vestido da nossa carne, venceu a morte e o pecado, a fim de que a vitória seja nossa e nosso o triunfo." REFERÊNCIAS: J.P. Wiles. As Institutas da Religião Cristã - um resumo - João Calvino. Publicações Evangélicas Selecionadas. São Paulo, SP, 1966, páginas 180 a 183. Autor: Ivan Santos Rüppell Jr é Mestre em Ciências da Religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

JESUS DE NAZARÉ. Profeta, Rei e Sacerdote. Institutas de João Calvino, 2021

Esse texto contém um resumo do conteúdo das Institutas de João Calvino (*), e citações do resumo das Institutas desenvolvido por J P Wiles. INSTITUTAS (citações), cap. 4, Vol.2. 46. Exposição do Credo dos Apóstolos. "A Escritura proclama tantas vezes e tão claramente que só existe um Deus, de essência eterna, infinita e espiritual, que não é preciso fazer longa argumentação para comprovar essa verdade. (...) Mas a distinção de Pai e Filho e Espírito Santo que ocorre em sua divindade, não é fácil saber e deixa inquieta muita gente. Dividamos, pois, esta questão em dois artigos: o primeiro, para confirmar a divindade do Filho e do Espírito; a segunda, para explicar como ocorre a distinção entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo." (*) (p. 38/39, 2006). 49. Demonstração da divindade de Cristo. "Passemos agora a demonstrar a sua divindade, com base numa dupla espécie de prova. Porque o nome e a honra de Deus são claramente atribuídas ao Filho de Deus por evidentes testemunhos da Escritura; e isso é comprovado por suas obras poderosas. 50. Citações do Antigo Testamento. Primeiramente, Davi lhe fala nestes termos: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino". (Salmo 45.6; Isaías 9.6,7; Jr 23.5,6; Isaías 41; Jr 33.6; Isaías 8.13-15). 51. Citações do Novo Testamento. O Novo Testamento está repleto de testemunhos sem fim... Primeiro, é digno de notar-se que os apóstolos mostram que as coisas que foram preditas por parte do Senhor eterno foram cumpridas ou alguma vez se verificaram em Jesus Cristo". (Rm 9. 33; Rm. 14.10,11; Is 45.23; Ef 4.8; Sl 68.18; Jo 12.40; Is 6.10; Jo 1. Rm 9.5; 1 Tm 3.16; Fp 2.6,7). 52. A prova das obras em prol da divindade de Cristo. "Ademais, se estudarmos a sua divindade por suas obras, a ele atribuídas na Escritura, a verdade transparecerá mais claramente. Porque, no que ele diz, que desde o príncipio até agora sempre trabalhou com o Pai, os judeus... entenderam muito bem que com essas palavras Jesus Cristo atribuiu a si próprio o poder de Deus... E não somente o ofício de governador do mundo lhe compete em comum com o Pai, mas também todos os outros ofícios, os quais não podem ser transferidos para nenhuma criatura. O Senhor declara a Israel, mediante o profeta: 'Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim'. Seguindo essa declaração, os judeus pensaram que Jesus fazia injúria a Deus por assumir a autoridade de perdoar pecados. Mas ele não se limitou a arrogar-se esse poder só com palavras, mas o comprovou realizando milagre." (p. 42-45, 2006). Resumo J P Wiles. TÓPICO 14. "As duas naturezas na Pessoa do Mediador." Ao ler no evangelho de João 1.14, que o "verbo se fez carne", não deve-se entender que o Verbo de Deus foi misturado com carne ou transformado em carne, mas sim "que escolheu para Si mesmo um templo formado pelo ventre de uma virgem no qual habitar." Dessa forma, o Filho de Deus se fez Filho do Homem não numa confusão de suas duas naturezas, mas pela unidade destas conforme estão juntas na pessoa do Cristo. A união da divindade com a humanidade foi tão profunda que ambas as naturezas divina e humana mantiveram tudo que lhes é próprio, enquanto se tornaram uma só pessoa, o Cristo! E numa comparação ao entendimento deste fato sobre Jesus Cristo, sabe-se que "o próprio homem consiste em duas partes distintas, corpo e alma, os quais, porém, não estão misturados a ponto de perderem aquilo que pertence à natureza de cada." Pois destacamos sobre a alma algumas coisas que não falamos do corpo, e falamos do corpo algumas coisas que não existem na alma, enquanto também destacamos sobre o ser humano integral certas verdades que não aplicamos ao tratar do corpo e da alma de modo separado. "E mesmo assim, aquele que consiste nestas duas partes é um só homem, e não mais do que um." Então, o fato é que as Escrituras apresentam Jesus Cristo, destacando aspectos somente de sua humanidade ou, falando de verdades acerca da sua divindade, e ainda, afirmando realidades dele que não tem relação com estas duas naturezas, quando vistas separadamente; sendo esta uma doutrina comprovada nas Escrituras. "Quando Cristo disse acerca de Si mesmo, "Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu sou!", arrogou para Si mesmo alguma coisa muito diferente da natureza humana", sendo este um aspecto da sua divindade. Quando o Apóstolo Paulo destaca que Jesus é o primogênito da criação em quem todas as coisas subsistem e quando Cristo trata da glória que vivenciava junto do Pai antes do mundo, então, temos declarações impossíveis de serem dadas acerca de qualquer homem; sendo passagens sobre a sua divindade. No entanto, quando Jesus é declarado como "Servo do Pai" (Isaías 42.1), com a sua infância sendo descrita com destaque a seu crescimento em estatura, graça e sabedoria; e quando Jesus diz que "não procura Sua própria glória, e que não sabe quando será o último dia, que não fala pela Sua própria autoridade nem pratica sua própria vontade", então sabemos que Ele se refere à sua humanidade. Há situações em que atributos divinos são apresentados como se fossem aspectos humanos, e vice versa, como ao ler que Deus comprou a Igreja com seu próprio sangue ou quando o Apóstolo João afirma que "tocou na Palavra da vida". Sabemos que Deus não pode ser tocado e também não tem sangue em Si mesmo, "mas visto que Aquele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem derramou Seu sangue por nós na cruz", então obras realizadas pela natureza humana de Cristo são identificadas junto de sua natureza divina, como quando lemos que "Deus deu sua vida por nós". (1 João 3.16). Agora, o bom conhecimento da Pessoa do Cristo ocorre nas passagens que apresentam aspectos singulares e simultâneos de suas duas naturezas conjuntamente, como quando João descreve em seu Evangelho que Jesus recebeu autoridade do Pai para perdoar pecados, vivificar a vida humana e derramar "justiça, santidade e salvação; que foi nomeado Juiz dos vivos e dos mortos, a fim de que seja honrado como o Pai é honrado; que Ele é a Luz do mundo, o Bom Pastor, a única Porta, a Videira Verdadeira." São capacidades derramadas sobre o Filho do Homem assim que Ele se manifestou para existir carnalmente em nosso mundo, "pois embora as possuísse com o Pai antes da fundação do mundo, contudo não as possuía da mesma maneira até que fosse manifestado em carne; porém elas são de tal natureza que não poderiam ser dadas a um homem que nada mais fosse do que homem." Neste mesmo sentido deve-se entender a afirmação de Paulo de que o Cristo irá entregar o reino a Deus Pai (1 Coríntios 15.24). Observe que o reino de Jesus Cristo não teve começo e não terá fim, com Cristo reinando até se assentar no trono do julgamento. "Quando, porém, formos glorificados e vermos Deus como Ele é, então Cristo, tendo cumprido o ofício de Mediador, cessará de ser o mensageiro do Pai e ficará satisfeito com a glória que tinha antes da fundação do mundo." Cristo não irá perder nada com isto, mas será visto de modo maior e mais profundo em sua Glória, pois será o momento em que sua majestade irá surgir de forma completa e integral diante dos homens. INSTITUTAS, (citações). 78. Benefícios dos ofícios de Cristo para os crentes. "Essas coisas são de grande importância para confirmar e fortalecer a nossa fé. Tratando-se do reino, este não é carnal ou terreno, para estar sujeito à corrupção, mas é espiritual, pelo que pertence mormente à vida futura e ao reino celestial. Ademais, seu modo de reinar não é tanto para o seu proveito como o é para o nosso, porque ele nos arma e nos fortalece com o seu poder, reveste-nos dos ornamentos da sua magnficência e nos enriquece de bens. Em resumo, ele nos eleva e nos exalta pela majestade de seu reino. Sim, pois na comunhão pela qual ele se junta a nós, ele nos torna reis, equipando-nos com o seu poder para guerrearmos contra o Diabo, o pecado e a morte... Quanto a seu ofício de sacerdote, não é menor o nosso proveito. Não somente porque, por sua intercessão, ele torna o Pai propício a nós, em virtude da reconciliação eterna que ele efetuou por sua morte, mas também porque ele nos recebe em sociedade e na participação daquele seu ato sacrificial... 79. Sumário. Em suma, pelo nome Jesus nos é confirmada e fortalecida a confiança na redenção e na salvação, e pelo título Cristo nos é dada aptidão para recebermos a comunicação do Espírito Santo, e o fruto de santificação que dele procede, uma vez que ele se santificou por nós, como ele próprio declara pessoalmente." (p. 65-66, 2006). Resumo J P Wiles. TÓPICO 15. "Para saber porque Cristo foi enviado pelo Pai, e o que Ele nos trouxe, devemos especialmente considerá-lo nos seus três ofícios, de Profeta, Rei e de Sacerdote." Quando o Senhor Jesus é reconhecido apenas pelo nome, e não pela realidade de seus atos como Filho de Deus e Redentor do mundo, estamos diante de uma falsa Igreja que deve ser definida conforme o ensino de Paulo na carta aos Colossenses, que trata daqueles que não se submetem ao "Cabeça da Igreja" (Col 2.19). Portanto, para sermos abençoados de forma real por Cristo em nossa vivência de fé faz-se necessário depender d´Ele segundo cada um dos ofícios que Deus Pai lhe deu pra realizar sobre nós: "Ele é nomeado para ser nosso profeta, nosso rei e nosso sacerdote." Pois, ainda que Deus tenha enviado profetas a seu povo, todos sabiam que a verdadeira luz da revelação somente chegaria na vinda do Messias, sendo um conhecimento destacado até pelos samaritanos, conforme a declaração da mulher no poço: "Quando o Messias vier nos anunciará todas as coisas." (João 4.25). Essa verdade das Escrituras foi afirmada também nas profecias, como a de Isaías 5.4: "Eis que eu o dei por testemunho aos povos, como príncipe e governador dos povos", e ainda pelo autor que destaca a "perfeição da doutrina do evangelho", na carta aos Hebreus: "Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho". (Hebreus 1.1-2). A lei definia que sacerdotes e reis, e ainda profetas fossem ungidos por óleo, vindo daí o nome Messias; Ungido, sendo Cristo o mediador outrora profetizado. "Reconheço que este título Lhe pertence especialmente como rei; mas não devemos esquecer que também indica Seus ofícios profético e sacerdotal." O ofício profético foi anunciado por Isaías, nas seguintes palavras, "o Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados", de modo que Jesus foi ungido com o Espírito para ser pregador e testemunha da graça do Pai, vindo a encerrar as profecias devido a seu ensino ser perfeito e completo. Daí que todo aquele que busca algum conhecimento de Deus além do Evangelho, despreza a autoridade profética de Cristo. Ao falar do reino de Cristo, devemos saber que se trata de um reino espiritual, "isto é, no que diz respeito à igreja como um todo, e no que diz respeito aos membros individuais da mesma"; sendo que foi exatamente para a Igreja que Ele prometeu que a sua posteridade duraria para sempre e seu trono seria como o sol. (Salmo 89.35-37). Neste sentido, vemos como Deus vai cumprir sua promessa de ser guardião e defensor da Igreja diretamente através do reinado de Cristo, posto que a antiga dignidade do reino em Israel fora quebrada pela rebelião de dez, das doze tribos. E cada membro individual da Igreja e pertencente ao reino de Cristo deve se alegrar na esperança da imortalidade, que será uma vida eterna plena de graça e satisfação, pois essa bem-aventurança está descrita no fato de que o reino do Messias é espiritual, portanto eterno e completo em suas realizações. "Agora, algumas palavras acerca do sacerdócio de Cristo." Cristo é um mediador e sacerdote perfeitamente puro que por sua santidade reconcilia Deus conosco. No entanto, a justa maldição divina sobre nossos pecados impede a nossa aproximação a Deus, havendo a necessidade de que ocorra um sacrifício para afastar a Ira do Senhor: "era, portanto, necessário que Cristo, como nosso mediador, oferecesse tal sacrifício." No templo da Antiga Aliança o sacerdote só poderia entrar através de um sacrifício, de forma que o povo sabia que não bastava apenas um mediador para lhe representar, sendo algo ensinado na carta aos Hebreus: "Ali é declarado que a honra do sacerdócio pertence a Cristo somente, pois pelo sacrifício de Sua morte apagou a nossa culpa e ofereceu propiciação pelos nossos pecados." Essa realidade é anunciada pelo "juramento solene de Deus, do qual nunca se arrependerá: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque." Deus aprovou o sacerdócio de Cristo num juramento, já que este sacerdócio sacrificial era o único capaz de assegurar integralmente a nossa salvação. Pois nem a nossa pessoa ou nossas orações podem chegar a Deus, "a não ser que nosso Sacerdote purifique nossas imundicías, santifique-nos e obtenha para nós aquele favor do qual fomos privados pela impureza dos nossos crimes e vícios. Desse modo, vemos que a morte de Cristo é a raiz da qual brota a eficácia e utilidade do Seu sacerdócio. Desta fonte flui Sua intercessão eterna, através da qual obtemos o favor de Deus, apresentamos nossas orações com confiança e desfrutamos da paz de consciência." Observe a diferença do sacerdócio de Arão que oferecia uma vítima retirada da manada, enquanto que "Cristo é tanto vítima como sacerdote. Nenhuma outra vítima poderia ser achada que pudesse fazer expiação pelos nossos pecados; e nenhuma outra pessoa era digna da honra infinita de sacrificar o Filho unigênito de Deus." REFERÊNCIA: Calvino, João. As Institutas da Religião Cristã. (tradução Odayr Olivetti). São Paulo: Cultura Cristã, 2006. Wiles, Joseph Pitts. Ensino Sobre o Cristianismo. Uma edição abreviada de As Institutas da Religião Cristã. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo, SP, 1966. páginas 185-191. AUTOR: Ivan Santos Rüppell Júnior é Mestre em Ciências da Religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil.