terça-feira, 29 de agosto de 2023

CREDOS E CONFISSÕES, Texto 3. Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Credos e Confissões do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. O CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA. Após definir que Jesus era um ser divino, era necessário compreender melhor sua natureza humana, sendo um debate que veio a ocorrer em um grave e grandioso jogo de poder político e religioso. Em meio ao crescimento da igreja no império, a influência teológica se tornava um poder político a partir dos patriarcados de Roma e Alexandria que se opunham a Antioquia e Constantinopla. A escola alexandrina com bases filosóficas gregas criam na plena humanidade de Jesus, mas acabavam dedicando-se mais a expor sua personalidade como o Logos da Palavra divina, sendo que o alexandrino Apolinário acabou ditando a ideia que Jesus era humano somente em corpo, posto que o Logos divino estava no lugar da alma humana na encarnação de Jesus; sendo que esse ensino foi condenado no Segundo Concílio Ecumênico em 381. Já Antioquia valorizava a humanidade de Jesus como sendo plena e normal. Nesse contexto, questões políticas e jogos de poder se tornaram o ambiente fértil para denúncias sobre declarações que podiam ser consideradas ou que carregavam elementos considerados negativos acerca da humanidade de Jesus, sendo um tema constante de diversos concílios no século 5, envolvendo os centros teológicos mais importantes e suas regiões. Assim ocorreu a reunião do Concílio de Éfeso, em que houve declarações de heresia e oposição entre Constantinopla e Alexandria, até que o Papa Leão I definiu tal reunião como "Sínodo de Ladrões", o que veio a definir esse encontro como irregular. A pedido do Papa, o Imperador convocou o Concílio de Calcedônia em 451, com a presença de 400 Bispos, em que foi definida e declarada a afirmação oficial sobre a natureza de Jesus Cristo, a qual veio a ser conhecida como "Definição de Fé de Calcedônia"; que afirma que Jesus "reconhecidamente tem duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação (...) a propriedade característica de cada natureza é preservada e se reúne para formar uma pessoa". Essa proposição veio a definir o modo em que os pensamentos de Apolinário, Eutíquio e Nestório foram definitivamente condenados pela Igreja. Observe que o Concílio de Calcedônia foi o primeiro a ser convocado pelo Papa, além de ser o último que teve a representatividade de todas as regiões do império, numa situação de concordância, sendo o último a ser entendido como Oficial tanto pelo Oriente e Ocidente, em meio ao crescimento da separação entre Roma e Constantinopla. O Concílio da Calcedônia veio a definir o erro de Apolinário e Eutíquio, ainda que não tenha desenvolvido uma proposição completa e final sobre as duas naturezas de Cristo. (p. 54 a 57, Curtis, 2003). AS DUAS NATUREZAS DE JESUS. Institutas de Calvino. O texto a seguir contém um resumo e citações do resumo de J P Wiles, das Institutas de Calvino. TÓPICO 14. "As duas naturezas na Pessoa do Mediador." Ao ler no evangelho de João 1.14, que o "verbo se fez carne", não deve-se entender que o Verbo de Deus foi misturado com carne ou transformado em carne, mas sim "que escolheu para Si mesmo um templo formado pelo ventre de uma virgem no qual habitar." Dessa forma, o Filho de Deus se fez Filho do Homem não numa confusão de suas duas naturezas, mas pela unidade destas conforme estão juntas na pessoa do Cristo. A união da divindade com a humanidade foi tão profunda que ambas as naturezas divina e humana mantiveram tudo que lhes é próprio, enquanto se tornaram uma só pessoa, o Cristo! E numa comparação ao entendimento deste fato sobre Jesus Cristo, sabe-se que "o próprio homem consiste em duas partes distintas, corpo e alma, os quais, porém, não estão misturados a ponto de perderem aquilo que pertence à natureza de cada." Pois destacamos sobre a alma algumas coisas que não falamos do corpo, e falamos do corpo algumas coisas que não existem na alma, enquanto também destacamos sobre o ser humano integral certas verdades que não aplicamos ao tratar do corpo e da alma de modo separado. "E mesmo assim, aquele que consiste nestas duas partes é um só homem, e não mais do que um." Então, o fato é que as Escrituras apresentam Jesus Cristo, destacando aspectos somente de sua humanidade ou, falando de verdades acerca da sua divindade, e ainda, afirmando realidades dele que não tem relação com estas duas naturezas, quando vistas separadamente; sendo esta uma doutrina comprovada nas Escrituras. "Quando Cristo disse acerca de Si mesmo, "Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu sou!", arrogou para Si mesmo alguma coisa muito diferente da natureza humana", sendo este um aspecto da sua divindade. Quando o Apóstolo Paulo destaca que Jesus é o primogênito da criação em quem todas as coisas subsistem e quando Cristo trata da glória que vivenciava junto do Pai antes do mundo, então, temos declarações impossíveis de serem dadas acerca de qualquer homem; sendo passagens sobre a sua divindade. No entanto, quando Jesus é declarado como "Servo do Pai" (Isaías 42.1), com a sua infância sendo descrita com destaque a seu crescimento em estatura, graça e sabedoria; e quando Jesus diz que "não procura Sua própria glória, e que não sabe quando será o último dia, que não fala pela Sua própria autoridade nem pratica sua própria vontade", então sabemos que Ele se refere à sua humanidade. Há situações em que atributos divinos são apresentados como se fossem aspectos humanos, e vice versa, como ao ler que Deus comprou a Igreja com seu próprio sangue ou quando o Apóstolo João afirma que "tocou na Palavra da vida". Sabemos que Deus não pode ser tocado e também não tem sangue em Si mesmo, "mas visto que Aquele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem derramou Seu sangue por nós na cruz", então obras realizadas pela natureza humana de Cristo são identificadas junto de sua natureza divina, como quando lemos que "Deus deu sua vida por nós". (1 João 3.16). Agora, o bom conhecimento da Pessoa do Cristo ocorre nas passagens que apresentam aspectos singulares e simultâneos de suas duas naturezas conjuntamente, como quando João descreve em seu Evangelho que Jesus recebeu autoridade do Pai para perdoar pecados, vivificar a vida humana e derramar "justiça, santidade e salvação; que foi nomeado Juiz dos vivos e dos mortos, a fim de que seja honrado como o Pai é honrado; que Ele é a Luz do mundo, o Bom Pastor, a única Porta, a Videira Verdadeira." São capacidades derramadas sobre o Filho do Homem assim que Ele se manifestou para existir carnalmente em nosso mundo, "pois embora as possuísse com o Pai antes da fundação do mundo, contudo não as possuía da mesma maneira até que fosse manifestado em carne; porém elas são de tal natureza que não poderiam ser dadas a um homem que nada mais fosse do que homem." Neste mesmo sentido deve-se entender a afirmação de Paulo de que o Cristo irá entregar o reino a Deus Pai (1 Coríntios 15.24). Observe que o reino de Jesus Cristo não teve começo e não terá fim, com Cristo reinando até se assentar no trono do julgamento. "Quando, porém, formos glorificados e vermos Deus como Ele é, então Cristo, tendo cumprido o ofício de Mediador, cessará de ser o mensageiro do Pai e ficará satisfeito com a glória que tinha antes da fundação do mundo." Cristo não irá perder nada com isto, mas será visto de modo maior e mais profundo em sua Glória, pois será o momento em que sua majestade irá surgir de forma completa e integral diante dos homens. TÓPICO 15. "Para saber porque Cristo foi enviado pelo Pai, e o que Ele nos trouxe, devemos especialmente considerá-lo nos seus três ofícios, de Profeta, Rei e de Sacerdote." Quando o Senhor Jesus é reconhecido apenas pelo nome, e não pela realidade de seus atos como Filho de Deus e Redentor do mundo, estamos diante de uma falsa Igreja que deve ser definida conforme o ensino de Paulo na carta aos Colossenses, que trata daqueles que não se submetem ao "Cabeça da Igreja" (Col 2.19). Portanto, para sermos abençoados de forma real por Cristo em nossa vivência de fé faz-se necessário depender d´Ele segundo cada um dos ofícios que Deus Pai lhe deu pra realizar sobre nós: "Ele é nomeado para ser nosso profeta, nosso rei e nosso sacerdote." Pois, ainda que Deus tenha enviado profetas a seu povo, todos sabiam que a verdadeira luz da revelação somente chegaria na vinda do Messias, sendo um conhecimento destacado até pelos samaritanos, conforme a declaração da mulher no poço: "Quando o Messias vier nos anunciará todas as coisas." (João 4.25). Essa verdade das Escrituras foi afirmada também nas profecias, como a de Isaías 5.4: "Eis que eu o dei por testemunho aos povos, como príncipe e governador dos povos", e ainda pelo autor que destaca a "perfeição da doutrina do evangelho", na carta aos Hebreus: "Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho". (Hebreus 1.1-2). A lei definia que sacerdotes e reis, e ainda profetas fossem ungidos por óleo, vindo daí o nome Messias; Ungido, sendo Cristo o mediador outrora profetizado. "Reconheço que este título Lhe pertence especialmente como rei; mas não devemos esquecer que também indica Seus ofícios profético e sacerdotal." O ofício profético foi anunciado por Isaías, nas seguintes palavras, "o Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados", de modo que Jesus foi ungido com o Espírito para ser pregador e testemunha da graça do Pai, vindo a encerrar as profecias devido a seu ensino ser perfeito e completo. Daí que todo aquele que busca algum conhecimento de Deus além do Evangelho, despreza a autoridade profética de Cristo. Ao falar do reino de Cristo, devemos saber que se trata de um reino espiritual, "isto é, no que diz respeito à igreja como um todo, e no que diz respeito aos membros individuais da mesma"; sendo que foi exatamente para a Igreja que Ele prometeu que a sua posteridade duraria para sempre e seu trono seria como o sol. (Salmo 89.35-37). Neste sentido, vemos como Deus vai cumprir sua promessa de ser guardião e defensor da Igreja diretamente através do reinado de Cristo, posto que a antiga dignidade do reino em Israel fora quebrada pela rebelião de dez, das doze tribos. E cada membro individual da Igreja e pertencente ao reino de Cristo deve se alegrar na esperança da imortalidade, que será uma vida eterna plena de graça e satisfação, pois essa bem-aventurança está descrita no fato de que o reino do Messias é espiritual, portanto eterno e completo em suas realizações. "Agora, algumas palavras acerca do sacerdócio de Cristo." Cristo é um mediador e sacerdote perfeitamente puro que por sua santidade reconcilia Deus conosco. No entanto, a justa maldição divina sobre nossos pecados impede a nossa aproximação a Deus, havendo a necessidade de que ocorra um sacrifício para afastar a Ira do Senhor: "era, portanto, necessário que Cristo, como nosso mediador, oferecesse tal sacrifício." No templo da Antiga Aliança o sacerdote só poderia entrar através de um sacrifício, de forma que o povo sabia que não bastava apenas um mediador para lhe representar, sendo algo ensinado na carta aos Hebreus: "Ali é declarado que a honra do sacerdócio pertence a Cristo somente, pois pelo sacrifício de Sua morte apagou a nossa culpa e ofereceu propiciação pelos nossos pecados." Essa realidade é anunciada pelo "juramento solene de Deus, do qual nunca se arrependerá: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque." Deus aprovou o sacerdócio de Cristo num juramento, já que este sacerdócio sacrificial era o único capaz de assegurar integralmente a nossa salvação. Pois nem a nossa pessoa ou nossas orações podem chegar a Deus, "a não ser que nosso Sacerdote purifique nossas imundicías, santifique-nos e obtenha para nós aquele favor do qual fomos privados pela impureza dos nossos crimes e vícios. Desse modo, vemos que a morte de Cristo é a raiz da qual brota a eficácia e utilidade do Seu sacerdócio. Desta fonte flui Sua intercessão eterna, através da qual obtemos o favor de Deus, apresentamos nossas orações com confiança e desfrutamos da paz de consciência." Observe a diferença do sacerdócio de Arão que oferecia uma vítima retirada da manada, enquanto que "Cristo é tanto vítima como sacerdote. Nenhuma outra vítima poderia ser achada que pudesse fazer expiação pelos nossos pecados; e nenhuma outra pessoa era digna da honra infinita de sacrificar o Filho unigênito de Deus." ANEXO. CONCÍLIO DE ÉFESO. (CITAÇÃO. Blog. Teologia em alta, André Rodrigues. https://teologiaemalta.blogspot.com/2015/12/concilio-de-efeso-em-431-como-foi-por.html) Éfeso – (22/06 a 17/07 de 431) Cirilo e seus leais bispos foram os primeiros a chegar e tiveram de esperar alguns dias. Quando ninguém mais apareceu, Cirilo, o único patriarca presente, abriu a seção e deu início aos trabalhos na ausência de Nestório ou de qualquer outro bispo leal de Antioquia. Primeiramente, os bispos reunidos leram em voz alta o Credo Niceno de Constantinopla I e o reafirmaram, declarando que eram suficiente como credo e que tinha a verdade essencial da cristologia ortodoxa. Em seguida, foi lida a segunda carta de Cirilo a Nestório. Continha suas declarações a respeito do Filho de Deus como o sujeito da vida humana de Jesus Cristo e criticava severamente o dualismo cristológico de Nestório. (Nestorianismo - [Do lat. Nestorianismus] Heresia pregada por Nestório, patriarca de Constantinopla. O cerne desta doutrina era a não admissão da união hipostática das duas naturezas em Jesus Cristo: a divina e a humana). Os bispos voltaram em favor dela como a interpretação verdadeira e autorizada do Credo Niceno no que dizia respeito à pessoa de Jesus Cristo. Finalmente o concílio condenou Nestório e sua cristologia como heresia. O Concílio de Éfeso, em geral considerado o terceiro concílio ecumênico da Cristandade, não promulgou qualquer credo novo, mas endossou uma crença e a declarou obrigatória para todos os cristãos. É uma fórmula dogmática tirada quase que palavra por palavra das cartas de Cirilo a Nestório: “O eterno Filho do Pai é um e exatamente a mesma pessoa que o Filho da Virgem Maria, nascido no tempo e na sua carne; por isso, ela pode ser corretamente chamada Mãe de Deus”. Além da condenação de Nestório, houve também a de Pelágio com sua doutrina palegiana (Pelagianismo – [Do lat. Pelagianismus] Doutrina formentada por Pelágio, clérigo britânico do séc. IV. Entre outras coisas, ele minimizava a eficácia da graça divina, e afirmava que a realidade humana nada sofreu em conseqüência do pecado de Adão. Ou seja: negava o pecado original e a corrupção do gênero humano.) Decisões principais: Cristo é uma só Pessoa e duas natureza; Definição do dogma da maternidade divina de Maria, contra Nestório, que foi deposto; Maria é Mãe de Deus – THEOTOKOS; "Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que Ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne". (DS 251) Condenou o pelagianismo, de Pelágio, que negava os efeitos do pecado original; Condenou o messalianismo, que apregoava uma total apatia ou uma Moral indiferentista. BIBLIOGRAFIA: História da Teologia Cristã Roger Olson Ed. Vida Dicionário Teológico Claudionor Corrêia de Andrade CPAD Dicionário de Aurélio B. H. F. (edição virtual). REFERÊNCIAS. Curtis, A kenneth, Lang, J Stephen e Petersen, Randy. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo. Editora Vida, São Paulo, 2003. Wiles, Joseph Pitts. Ensino Sobre o Cristianismo. Uma edição abreviada de As Institutas da Religião Cristã. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo, SP, 1966. páginas 185-191. AUTOR: Ivan Santos Rüppell Júnior é Mestre em Ciências da Religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor de ciências da religão e teologia, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana. REFERÊNCIAS. Curtis, A kenneth, Lang, J Stephen e Petersen, Randy. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo. Editora Vida, São Paulo, 2003.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Meditação Dominical. VIVENDO COM DEUS, Cartas de João.

TEXTO Bíblico: "O que vimos e ouvimos, anunciamos também a vocês, para que também vocês tenham comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo. E escrevemos estas coisas, para que a nossa alegria seja completa." (1 Carta de João, cap 1. 3-4). MEDITAÇÃO. Para ter comunhão com Deus é preciso viver com Deus. Pra viver com Deus é preciso viver a vida do jeito de Deus. O jeito de Deus viver está demonstrado na forma como Jesus viveu. E assim cresce no mundo o círculo virtuoso da vida celestial que o Cristianismo está compartilhando com a humanidade. O princípio existencial do que se deve fazer pra viver com Deus Pai é exatamente viver a vida como Jesus, o Filho! E sobre como fazer isto, lembro que anos atrás alguns cristãos carregavam uma pulseira em que se lia: "O que Jesus faria?". Essa inscrição no pulso deveria lembrar os cristãos a pensar melhor sobre o que dizer ou fazer em determinada situação, para que naquele momento fosse possível seguir a Jesus. E assim, ser capaz de viver junto com Deus naquela situação. Veja que Deus envia o Espírito Santo a todo aquele que pede, então é só pedir que venha o Reino de Deus na oração do Pai Nosso, para que Jesus comece a reinar em você pra você viver como Ele viveu! Ao meditar no que Jesus faria em determinada situação, isto vai ajudar você em suas orações. Pois depois, você irá pedir pra perdoar o próximo ou pra confiar em Deus, exatamente como aprendeu ao prestar atenção em Jesus! ORAÇÃO. Pai Nosso que está nos céus. Santificado seja o teu nome. Que venha sobre nós o teu reino. Me dá o pão nosso de cada dia pra eu conseguir trabalhar e ter sustento. Me perdoa e me faz perdoar. Ajuda-me e não deixa eu cair nas tentações. Senhor Deus, guarda a minha alma e livra-nos do mal. Amém! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor de ciências da religião e teologia, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

APOLOGÉTICA. Texto 3. Seminário Presbiteriano do sul - extensão Curitiba.

ORIENTAÇÃO. Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Apologética do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, de diversos livros e obras, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2024. PARÁGRAFO. APOLOGÉTICA. TÓPICO 1. A IMPORTÂNCIA DO PÚBLICO. "Apologética para judeus: o discurso de Pedro no Pentecostes (At 2). Apologética para gregos: o sermão de Paulo em Atenas (At 17). Apologética para romanos: os discursos de cunho legal de Paulo (At 24-26). Apologética e públicos: questões gerais - questões específicas." (Mcgrath, sumário, 2013). Posto que o Evangelho deve ser comunicado com eficácia, a apologética se preocupa tanto com a "análise teológica da proclamação cristã", como igualmente, "com a aplicação imaginativa e criativa de seus elementos constituintes a diferentes públicos." Neste sentido, percebemos o modo em que o Novo Testamento apresenta "argumentos apologéticos e estilos de interação" voltados para "públicos específicos, com o objetivo de facilitar a interação com eles." Observe o modo em que Paulo utiliza o tema familiar e social da "adoção" para anunciar aspectos da Redenção teológica cristã, no entanto, tal situação não era comum para o judaísmo, e sim, bastante evidente na sociedade greco-romana; sendo um argumento usado nas cartas aos romanos, efésios e gálatas. Deve-se anotar que a maioria das cartas do NT foi escrita para cristãos, porém, "dois livros do Novo Testamento partem do presssuposto de que seu público seja constituído por descrentes interessados na fé: os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos." (Mcgrath, p 56-57, 2013). As narrativas e argumentos dos Evangelhos apresentam o encontro de Jesus com pessoas e povos descrentes, enquanto que o livro de Atos apresenta situações diversas em que o Apóstolo Paulo e Pedro desenvolveram declarações de base apologética. (*observe que a série The Chosen traz seu foco na realidade social, familiar e pessoal dos que estiveram diante de Jesus nas narrativas históricas dadas nos Evangelhos). "As primeiras estratégias apologéticas registradas no livro de Atos oferecem insights importantes de métodos apologéticos autênticos encontrados na Bíblia, além de sugerir táticas de interação com grupos específicos de grande importância para o desenvolvimento da igreja primitiva." (Mcgrath, p. 57, 2013). Apologética para judeus: o discurso de Pedro no Pentecostes (At 2). "É evidente que uma das questões fundamentais dizia respeito à identidade de Jesus, sobretudo sua posição em referência ao povo de Israel." Análise de Atos 2.14-40. Descrição dos acontecimentos, 14-21; Descrição da exaltação de Jesus conforme profecias, 22-28; Exaltação de Jesus à luz da teologia, 29-36; Convite ao arrependimento e salvação, 37-40. "O primeiro assunto a observar aqui é a forma em que a apologética de Pedro está diretamente relacionada com os temas que eram importantes e compreensíveis para o público judeu." Observe que, "a apologética histórica é vulnerável. Ela detalha fatos; o evangelho se preocupa com a intepretação dos fatos", pois não apenas propõe a evidência dos acontecimentos, mas se dedica ao sentido e valor existencial do que está sendo narrado. Assim, "na verdade, pode-se dizer que é o significado neles percebido que confere duração histórica aos fatos." (Mcgrath, p 59, 2013). "Apologética para gregos: o sermão de Paulo em Atenas (At 17). (...) De acordo com Lucas, Paulo começa seu discurso aos atenienses com a introdução gradual do tema do Deus vivo, permitindo assim que a curiosidade religiosa e filosófica dos atenienses desse forma à sua exposição teológica. O apóstolo apela ao "sentido de divindade" presente em todas as pessoas como ponto de contato com a fé cristã. (...) Aquilo que os gregos consideravam impossivel de saber, porque talvez fosse incognoscível, Paulo diz que se tornou conhecido pela ressurreição de Cristo. O apóstolo estabelece uma relação com o mundo experiencial e cognitivo de seu público, mas sem comprometer a integridade da fé cristã." (Mcgrath, p. 62, 2013). "Apologética para romanos: os discursos de Paulo de cunho legal (At 24-26). A convivência dos cristãos diante dos romanos trazia um aspecto de conflito bastante grave, devido ao culto ao imperador, que dentre outros aspectos, buscava manter a ordem social em todas as regiões conquistadas e administradas por Roma. Neste contexto, participar de cultos cristãos podia ser considerada uma experiência de rebeldia e agressão política, sendo que "Paulo foi acusado exatamente desse tipo de sublevação em dado momento de sua carreira", conforme Atos 24.1-8. Ao responder ao que fora acusado, Paulo desenvolve uma defesa legal (apologia em grego) que irá se tornar um fundamento das declarações da apologética. Os capítulos 24 a 26 do livro de Atos trazem as declarações de Paulo neste propósito, sendo que o modelo e padrão de seus argumentos e a situação em que são desenvolvidos representam com exatidão a realidade das reuniões oficiais dos tribunais romanos do primeiro século. O que importa aos apologetas não é tanto o resultado das declarações dadas por Paulo, mas sim, anotar o modo em que "Paulo sabia de que maneira os tribunais romanos avaliavam as provas, e isso lhe permitiu trabalhar em conformidade com o protocolo do sistema." Ao saber o contexto social e legal em que precisava manifestar sua fé e defender sua atitude, o Apóstolo Paulo "usa com muita eficácia as "regras de engajamento" do sistema legal romano. Ele entende a importância de certos argumentos aos olhos daqueles que tomariam as decisões que selariam seu futuro." Outro aspecto que causava problemas era a ignorância e má interpretação acerca dos conteúdos e ética da fé cristã, sendo que Paulo aproveitou a oportunidade para dar esclarecimento às autoridades sobre os valores e doutrina cristãos. Neste sentido, "para Paulo, defende melhor a fé cristã quem a explica." (Mcgrath, p. 64-66, 2013). PARÁGRAFO. TÓPICO 2. FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA APOLOGÉTICA. 1 Pedro 3.15-16. "A apologética cristã (que nada tem a ver com "apologia" no sentido de pedir desculpas) busca servir a Deus e à igreja, ajudando os crentes a levar a cabo a ordem de 1 Pedro 3. 15-16. Poderemos defini-la como a disciplina que ensina os cristãos a dar uma razão para sua esperança." (Frame, p. 12, 2010). Apologética. Três aspectos. "1. Apologética como prova: apresentando uma base racional para a fé ou "provando que o cristianismo é verdadeiro". Jesus e discípulos davam evidências da veracidade do evangelho, como em João 14.11, 20.24-31, 1 Coríntios 15.1-11. Sendo que as próprias dúvidas dos cristãos serão tratadas pela apologética, num confronto aos que creem e que não creem. "2. Apologética como defesa: respondendo às objeções dos descrentes." O ministério de Paulo se movia na "defesa e confirmação do evangelho" (Fp 1.7, v. 16). A confirmação trata de respostas de esclarecimento argumentativo dadas às questões levantadas na igreja ou possíveis dúvidas na mente dos ouvintes, sendo um estilo e método de argumentação de Paulo em Romanos e Jesus no evangelho de João. "3. Apologética como ofensiva: atacando a estultícia (Sl 14.1, 1 Co 1.18-2.16) do pensamento descrente." Nesse entendimento, a comunicação do conteúdo cristão atua tanto para responder questões e tratar dúvidas, como para "atacar a falsidade", conf. 2 Coríntios 10.4-5, posto que o pensamento cristão é a verdade que deverá ser revelada. Há uma intercomunicação entre esses três tipos de apologética, de forma que a palavra dada a partir de um princípio trará valores dos outros, sendo três pontos de vista que se completam. "Para fornecer uma explanação completa da razão da crença (n. 1), a pessoa terá de justificar o raciocínio contra as objeções (n. 2) e as alternativas (n. 3) colocadas pelos descrentes", de forma que as três colocações se incluem e equivalem. Porém, é importante saber qual princípio norteia a nossa comunicação, posto que cada situação requer conteúdos e temas próprios para atender às dúvidas e enganos de sua questão. "Assim, em termos de apologética, será quase sempre útil indagar se um argumento tipo 1 poderá ser melhorado com alguma argumentação suplementar do tipo 2 ou 3 ou ambos." (Frame, p. 13-14, 2010). PARÁGRAFO. TÓPICO 3. PANORAMA HISTÓRICO. CONTEXTO. Patrística e Idade Média. (citação*) "O Cristianismo e a Idade Média. (...) Fundamentos Culturais e Teológicos: a Patrística e a Escolástica. O pensamento teológico de Santo Agostinho. (...) Ainda que o período inicial (primeiro milênio) da Idade Média seja denominado de Idade das Trevas, devido ao total controle que a Igreja Cristã exercia sobre a busca do conhecimento e a vivência cultural da humanidade, os períodos patrístico (anos 100 a 451) e escolástico (1300 a 1500) são considerados aqueles em que ocorreram alguns dos movimentos religiosos e intelectuais mais importantes da história. Foram épocas em que se buscou relacionar de forma harmônica a perspectiva racional da filosofia grega e os ensinamentos religiosos cristãos, no propósito de que as doutrinas do evangelho de Cristo fossem percebidas como coerentes e inteligíveis para a razão. Nesse contexto, o pensamento filosófico cristão somente se cristalizou como uma realidade conceitual na Idade Média porquanto fora gestado anteriormente a partir da razão oriunda da cultura grega e sob a segurança do poderio político do império romano. (Nauroski, 2017, p 32). Esse poder imperial tornou-se um braço governamental eclesiástico do Cristianismo assim que o imperador Galério (311) fez cessar a perseguição aos cristãos e Constantino promulgou o edito de Milão (313), o que propiciou a liberdade de culto público à fé cristã. Esse fato promoveu uma reconciliação entre Igreja e Estado, numa situação em que os entes políticos apoiavam inclusive, a prática de debates teológicos, pois as autoridades desejavam solucionar diversas controvérsias doutrinais. O objetivo era de que houvesse uma igreja una e indivisa em todas as regiões, o que fez a teologia cristã atingir seu apogeu enquanto definia nos credos ecumênicos os fundamentos de sua fé religiosa. (McGrath, 2013, p 43)." (Ruppell Jr e Turetti, 2020, Intersaberes). PARÁGRAFO. TÓPICO 4. TEÓLOGOS DA PATRÍSTICA. A defesa da fé. Há seis escritores que devem ser destacados no período patrístico. Justino Mártir, 100-165; provavelmente o maior apologeta do ségundo sec. na defesa cristã diante dos conceitos pagãos, tendo escrito "Primeira apologia" propondo que havia "sinais da verdade cristã em grandes escritores pagãos", vindo a desenvolver a doutrina da palavra geradora (logos spermatikos) pela qual Deus preparou o conhecimento do evangelho através de indícios na filosofia clássica. "Justino, nos fornece um importante exemplo inicial da tentativa de um teólogo em relacionar o evangelho à perspectiva da filosofia grega", como costume na Igreja do Oriente. (McGrath, p. 44-45, 2005). Ireneu de Lion, 130-200; Nascido na Turquia e sendo Bispo em Lion em 178, foi defensor da ortodoxia cristã diante do gnosticismo, tendo desenvolvido argumentos sobre a importância da tradição diante de interpretações não-cristãs, especialmente na obra, "Contra as Heresias". (p. 45, 2005). Orígenes, 185-254; tornou-se grande defensor do cristianismo no séc. III, desenvolvendo a interpretação alegórica no objetivo de diferenciar entendimento superficial do espiritual nas escrituras, sendo que, ao propor reflexão indicando diferenças entre a divindade plena do Pai e a divindade limitada do Filho, pode ter gerado as interpretações do arianismo. Tertuliano, 160-225; considerado Pai da teologia latina por sua importância na igreja do Ocidente. Orientou os fundamentos da doutrina da Trindade ao se opor ao pensamento de Marcião, que afirmava haverem deuses distintos no AT e NT. "Ele se opunha intensamente ao fato de a teologia ou a apologética cristãs tornar-se dependentes de fontes estranhas às Escrituras." Refletiu fortamente contra os da Academia de Atenas, criticando o uso de filosofias seculares na busca do conhecimento de Deus, valorando a suficiência das Escrituras. Atanásio, 296-373; foi importante ao tratar de temas valiosos no séc. IV, como na obra "a encarnação do verbo" em defesa de como Deus assumiu a natureza humana em Cristo, vindo a ser importante diante da controvérsia ariana; nos argumentos de que Deus não poderia salvar a raça humana se fosse somente uma criatura agindo, em Cristo; apontando ainda, que a igreja seria idólatra caso viesse adorar a Cristo, se ele fosse meramente humano. (p. 46, 2005). Agostinho de Hipona, 354-430. (citação:*) "Um importante personagem desse contexto foi Santo Agostinho, ou Aurélio Agostinho, que nasceu no norte da África em 354 d.C., e tendo sido criado pela mãe no conhecimento da fé cristã, acabou abandonando essa religião na juventude, vindo a retornar após ouvir as mensagens do Bispo Ambrósio de Milão, para ser batizado em 387, até tornar-se Bispo da Igreja em Hipona no ano de 396. Agostinho “pregou e escreveu prolificamente sobre controvérsias teológicas até sua morte... é considerado um dos maiores pensadores cristãos, e seus ensinamentos continuam a influenciar o pensamento cristão em todo o mundo ocidental.” (Fortino, 2014, p 221) Algumas das mais importantes controvérsias teológicas assumidas por Agostinho, que era tanto um entusiasta como também um crítico do pensamento de Platão, foram opostas diante dos maniqueus , quando ele defendeu a importância da autoridade da instituição, posto que não teria crido no Evangelho sem que isso lhe fosse determinado pela Igreja; e também, em um confronto junto aos donatistas, em que defendia a existência de uma autoridade universal da igreja, em detrimento do que se afirmava ser apenas um poder local. O debate mais famoso de que participou ocorreu a partir do ano 412, diante do monge britânico Pelágio, acerca do tema da graça de Deus, numa meditação sobre qual seria a amplitude do livre arbítrio do homem quando da percepção e desenvolvimento de sua salvação religiosa; sendo que a posição assumida por Agostinho afirmava que a humanidade era incapaz de voltar-se para Deus se não fosse pela graça de Cristo. (Chadwick e Evans, 2007, p 30) Ao tratar desse tema religioso que versava sobre a soberania de Deus e a responsabilidade humana, Agostinho defendia fortemente o ensino cristão da importância e realidade das duas proposições. O pensamento agostiniano compreende que o ser humano é incapaz de buscar a verdade de Deus, pois o episódio da Queda colocou a humanidade numa situação existencial débil e que inclina a vontade da espécie para o mal. Portanto, somente quando Deus visita o ser com a graça de Cristo é que a humanidade se torna capaz de exercer uma vontade livre, sendo ainda, conduzida por Deus nos passos que deverá caminhar em sua salvação: “A graça, de acordo com Agostinho, é um favor generoso e totalmente imerecido que Deus concede à humanidade, por meio do qual esse processo de restauração pode ser iniciado.” (McGrath, 2005 p 510) “A natureza humana foi, com certeza, originalmente criada sem culpa e sem pecado (vitium); mas essa natureza, que cada um de nós agora herda de Adão, precisa de um médico, pois está enferma... a deficiência que ofusca e incapacita todas essas excelentes habilidades naturais, motivo pelo qual essa natureza precisa ser iluminada e restaurada, não tem origem no criador irrepreensível, mas no pecado original, cometido por intermédio do livre arbítrio (liberum arbitrium). Por essa razão, nossa natureza culpada está sujeita a uma punição justa. (...) Mas Deus, que é rico em misericórdia... ressuscitou-nos para a vida em Cristo, por meio de cuja graça somos salvos. Mas essa graça de Cristo, sem a qual nem as crianças nem os adultos podem ser salvos, não é concedida como recompensa por méritos próprios, mas é gratuitamente (grátis) concedida e, por esse motivo, é chamada graça (gratia).” A nova realidade política e social que abrangia positivamente o Cristianismo através dos movimentos do Império Romano desde o século IV até a metade do século V (451), transformou a Igreja Católica numa força institucional que ampliou consideravelmente seus limites espirituais e territoriais enquanto Constantino estabelecia a cidade de Bizâncio (futura Constantinopla, atual Istambul) como a sede do Império em 330." (Ruppell Jr, e Turetti. Interesaberes, 2020). PARÁGRAFO. TÓPICO 5. SÍNTESE da Idade Média Antiga: o evangelho e o neoplatonismo (do século 5 ao 10). "O homem cujo pensamento proporcionaria a estrutura para a cultura medieval foi Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), cujo livro A cidade de Deus haveria de moldar o pensamento de gerações ao longo do milênio seguinte." (Goheen e Bartholomew, p. 123, 2016). Agostinho dedicou-se firmemente na tarefa de contextualizar o evangelho em sua época, porém, estudiosos entendem que há indícios de proposições neoplatônicas no pensamento do grande filosófo e teólogo cristão, tanto por seu passado platônico como por ele ser discípulo de Ambrósio, pensador neoplatônico. Agostinho teve destaque na defesa do ponto de vista cristão sobre a criação, indo contra a visão neoplatônica de uma criação má, deu destaque à evidência do pecado em sua perspectiva religiosa e não criacional, vindo a propor que a redenção inclui aspectos de restauração da vida presente. No entanto, na obra "A cidade de Deus", Agostinho parece dedicar atenção para aspectos neoplatônicos, ao propor que o povo de Deus se preocupe em demasia com a cidade celestial, em detrimento da realidade humana; sendo algo que, mesmo não sendo tão explicito ou claro no pensamento de Agostinho, acabou por reverberar um valor demasiado espiritual para o cristianismo do período medieval: "Na visão de Agostinho (...) a esfera espiritual transcendente era a única esfera que de fato importava". "Essa orientação vertical deixaria profundas marcas no imaginário medieval: a vida humana estava cada vez mais voltada para a esfera "espiritual". (p. 124, 2016). Neste sentido, entende-se que "a orientação medieval voltada para o céu tem, portanto, elementos tanto cristãos quanto pagãos. O elemento neoplatônico pagão produziu uma orientação transcendental e vertical que solapava o viver cristão autêntico; mesmo assim, a influência cristã no período medieval moldou aquela cultura de maneiras que trariam muitos benefícios às gerações subsequentes." (Goheen, p. 124, 2016). PARÁGRAFO. SÍNTESE da Idade média tardia: o cristianismo platonizado e Aristóteles (do século 11 ao século 13). Os primeiros séculos do novo milênio viram uma Europa dedicada aos negócios e cultura, tecnologia e sociedade. "O elemento vertical e de negação do mundo característico da cosmovisão da Alta Idade Média foi confrontado por um interesse crescente neste mundo." (p. 125, 2016). O conflito de valores entre o pensamento do novo milênio diante do pensamento da era medieval foi valorado pela renovação do interesse em Aristóteles, quando universidades tiveram acesso às obras do filósofo, de modo que as proposições neoplatônicas mais espirituais do cristianismo medieval seriam confrontadas com as proposições de valor à realidade terrena da humanidade. De forma que, "o espírito mais secular e naturalista de Aristóteles rapidamente ganhou impulso na sociedade medieval." (p. 125, 2016). A atuação de Tomás de Aquino surge neste contexto, em que o teólogo buscou valorar a orientação espiritual cristã da idade medieval, sem desprezar o valor da vida experiencial humana que se buscava entender e desenvolver no decorrer da Idade Média. "Tomás de Aquino estava comprometido com a autoridade da Bíblia, ao mesmo tempo que também procurava dentro de sua fé um lugar para Aristóteles." (p. 125, 2016). Tomás de Aquino valorizava a criação e igualmente a vida cultural da humanidade como dons virtuosos e benditos de Deus, anotando que a observação razoável da realidade servia para bom conhecimento das obras de Deus. No desenvolvimento de suas ideias no interesse de valorar ambos os aspectos da realidade a partir da perspectiva do Deus Criador e Sustentador cristão, Tomás de Aquino propôs uma estrutura dualista que integrava ambas as visões, porém, as apresentando em um mundo superior, espiritual e transcendente, e um mundo inferior, físico e humano. "Ele, porém, subordinou tudo isso à alma, à igreja, à fé, à verdade revelada, à natureza ímpar da vida cristã e à teologia. (a seguir, um destaque crítico do autor:) No sistema filosófico de Aquino, a vida cultural ainda não é livre para se desenvolver como era o propósito de Deus." (Goheen, p. 126, 2016). Enquanto Agostinho entendia que a razão e razoabilidade deveriam servir à teologia, Aquino entende que as proposições e observações racionais também devem ser usadas empiricamente, no entendimento e percepção das leis naturais e sociais do mundo. "Essa nova definição conduziria a um interesse cada vez maior no mundo natural e a um aumento da confiança no poder da razão de compreender este mundo. Aqui se encontram as sementes da ciência moderna." (p. 126, 2016). Analistas entendem que a proposição de Aquino buscava valorar as duas realidades e ainda, mantê-las debaixo da graça de Deus, que a tudo move e sustenta, no entanto, teólogos como João Duns e Guilherme de Ockham (séculos 13 e 14) desligaram o andar de cima do debaixo, vindo a esquecer dos fundamentos bíblicos e da unidade cuidadosa desenvolvida por Aquino. "Nos séculos subsequentes, o andar de baixo - o do mundo natural, da vida cultural e da razão - foi sendo cada vez mais desvinculado do de cima. De fato, a maior parte da vida humana seria separada da autoridade de Deus e do poder do evangelho. A razão foi divorciada da fé (...) Nessas divisões estão as sementes do secularismo que logo floresceria na história do Ocidente (...) Se Deus e o cristianismo já eram basicamente irrelevantes para a maior parte da vida, por que não tornar completa sua irrelevância? (...) O secularismo que conhecemos atualmente tem sua fonte nas ideias de teólogos escolásticos da Idade Média Tardia." (Goheen, p. 127, 2016). O pensador Newbigin citado pelo autor reflete que mesmo com esse desenvolvimento negativo em alguns aspectos, acerca da proximidade entre cristianismo e cultura pagã que foi a tônica do primeiro milênio e início da Idade Média (praticamente entre os séculos 1 até 13), não se deve deixar de observar o modo positivo em que o cristianismo foi estabelecido como um valor e fundamento na vida cultural e social da Europa neste período da história. Ao observar a civilização hindu na Índia, formatada em valores religiosos distintos, Newbigin enaltece as conquistas político-sociais e humanitárias presentes na Europa, destacando o modo como a "cultura ocidental tem sido positivamente moldada pelo evangelho e que ainda vivemos, em grande parte, do capitual espiritual que ela gerou." (Goheen e Bartholomew, p. 128, 2016). SÉCULOS 15 e 16. O Renascimento e o Humanismo. "Enquanto os historiadores imaginavam a história dividida em duas eras - antes de Cristo e depois de Cristo -, na Renascença começou a surgir uma nova estrutura tríplice em que a história era dividida nos períodos antigo, medieval e moderno. (...) Contudo, é claro que a maior parte da Europa ainda estava muito arraigada na Idade Média. Alías, não foi senão no final do século 19 que a Renascença começou a ser reconhecida como um período histórico distinto da Idade Média. Mas é evidente que, em algum momento entre os séculos 14 e 17, os fundamentos religiosos da Europa mudaram." (Goheen, p. 129-130, 2016). Na época medieval, as disciplinas valorizadas eram do direito, teologia e lógica, havendo uma limitação da área do conhecimento a partir do cristianismo neo-platônico. Os séculos 14 e 15 renovaram o desejo pelo conhecimento clássico, com valorização da literatura, poesia e línguas. Ainda que um cristão venha a concordar com a abertura e interesse dados a esses ramos do conhecimento humano, especialmente as novas dedicações à ciência e tecnologia, deve-se destacar que a nova "orientação de seu pensamento se opunha cada vez mais a uma cosmovisão bíblica." (p. 131, 2016). Neste contexto, a partir da perspectiva de entendimento e desenvolvimento de uma postura apologética de diálogo e defesa da fé cristãs na sociedade, anotamos alguns aspectos importantes a partir do fim da Idade Média, que foram marcados por diversos movimentos e valores. (*citação, livro: O Cristianismo e a civilização ocidental, Rüppell Jr e Turetti). PARÁGRAFO. TÓPICO 6. RESUMO. IDADE MÉDIA. "A Renascença ou Renascimento foi um movimento de renovação cultural que surgiu no século 14 na Europa, vindo a formatar a cosmovisão ocidental da Idade Moderna a partir de elementos clássicos greco-romanos. A maior mudança ocasionada por este movimento foi colocar o ser humano no centro da sociedade, com suas reflexões e aspirações, capacidades e projeções, retirando das mãos da Igreja a condição de definir a maneira como a civilização deveria entender a realidade e organizar o mundo. Os principais líderes da Reforma Protestante iniciada em 31 de outubro de 1517 foram os teólogos Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino, que vieram a organizar os fundamentos teológicos e as propostas éticas de uma nova instituição religiosa cristã no ocidente. Este movimento trouxe grandes transformações na sociedade e na política, na economia e costumes da sociedade moderna, vindo a influenciar a Europa e o Reino Unido, e especialmente os Estados Unidos da América a partir do século 17. Enquanto o protestantismo se desenvolvia na primeira metade do século 16, a Igreja Católica Romana organizava o movimento da Contra-reforma em 1545, como um projeto de renovação e fortalecimento das doutrinas e das atividades da igreja romana. A liderança católica decidiu fortalecer as suas doutrinas diante do protestantismo e buscou investir em missões na Europa e restante do mundo. Os Estados Unidos da América foram descobertos em 1492 por Cristóvão Colombo, que se associou aos reis da Espanha num empreendimento que pretendia descobrir novas rotas comerciais ao oriente pelos mares. A conquista de Colombo estabeleceu uma relação duradoura e profícua entre a Europa e as Américas, abrindo espaço também para o incremento das missões cristãs, que enviavam sacerdotes junto dos colonizadores a fim de doutrinar os habitantes dos novos territórios. A Idade moderna foi marcada pelos debates entre dois ramos com pensamentos distintos acerca da teoria do conhecimento: o racionalismo, de René Descartes, que entendia que o conhecimento pode ser apreendido somente pela razão humana, na perspectiva de Platão; e o empirismo, de John Locke, que acreditava que o conhecimento é oriundo da observação do mundo exterior, com bases em Aristóteles. Sendo que as proposições racionalistas que entendiam que a lógica compreensão da realidade traria um conhecimento definitivo para a humanidade acerca da existência, foram colocadas em dúvida pelo filósofo Immanuel Kant, que buscou levantar dados acerca da complexidade e dos limites do alcance da teoria do conhecimento." PARÁGRAFO. TÓPICO 7. RACIONALISMO E EMPIRISMO. (texto anexo. * citação). I. O Racionalismo e o Empirismo. “A ideia de que a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário, é aceita atualmente como fato. Mas no início do século XVII, essa teoria publicada pelo astrônomo polonês Copérnico em 1543, contradizia os ensinamentos da Igreja católica, gerando uma polêmica que envolveu os maiores cientistas da época, entre eles Galileu Galilei... As visões da Igreja e de Galileu diferiam por causa das diferentes formas de se chegar à “verdade”. De acordo com a Igreja, a verdade era revelada por Deus... A ciência, por outro lado, valia-se de observações experimentais...” Os movimentos intelectuais da modernidade e o pensamento cristão pós reforma protestante e contrarreforma católica se tornaram práticas racionais e religiosas de reflexão do ser e do mundo, que foram construídas numa dialética distintiva na história da humanidade, devido ao modo como tão gravemente influenciavam e questionavam uma à outra, enquanto também ampliavam significativamente o conhecimento cultural do ocidente. A integração entre estes elementos religiosos e culturais no cerne da civilização ocidental são uma amostra da importância da religiosidade na construção da sociedade, sendo que anotar alguns de seus elementos, e perceber suas conexões é um propósito de nossa pesquisa. I. 1. Introdução. A Teoria do Conhecimento (epistemologia) busca compreender a condição e a maneira pela qual os seres humanos adquirem conhecimento. Nesse contexto, o início da Idade Moderna foi marcado por duas correntes de pensamento que se dedicaram a aprimorar a busca do conhecimento diante das possibilidades e necessidades da época; que foram o racionalismo, sob a liderança do filósofo francês René Descartes, e o empirismo, que se serviu do empenho do inglês John Locke para seu desenvolvimento e propagação a partir da Inglaterra. No entanto, antes de avançar na compreensão dos conceitos destes dois pensadores, vale a pena recordar o entendimento clássico da filosofia a respeito do tema, a partir das reflexões de Platão e Aristóteles. Platão nasceu em Atenas (427-347 a.C.) e conviveu com Sócrates, sendo que o aspecto mais importante de seu pensamento está descrito na “Teoria das Formas”. Trata-se de um conceito que entende que a realidade material que conseguimos enxergar é uma imagem específica relacionada às formas, sendo que as “formas” tem o propósito de comunicar princípios do “ser” imanente ao nosso mundo. A partir desse entendimento, Platão explicava que o Logos (palavra) era a “forma” do Bem em nosso mundo, a fim de nos apresentar a lógica transcendente que organizava o Universo. O Cristianismo se utilizou dessa perspectiva filosófica platônica para identificar a encarnação de Jesus Cristo como sendo “o logos” de Deus; uma forma visível do princípio do ser, que tanto anunciava, como possibilitava aos homens alcançar o conhecimento da Verdade. Portanto, a maneira pela qual Platão entendia que era possível adquirir conhecimento pressupunha que o homem deveria praticar uma reflexão com dados oriundos somente da própria mente para compreender a realidade, pois o verdadeiro conhecimento já se encontrava no interior do homem. Aristóteles nasceu na Grécia (384-322) e desenvolveu um princípio de conhecimento que se baseava na observação da realidade, no objetivo de adquirir informações acerca da existência, vindo a se tornar o pensador mais influente de toda a cultura ocidental. Aristóteles frequentou a academia de Platão até que as diferenças entre seus modelos de pensamento fizeram com que ele fundasse sua própria escola em Atenas no ano 335 a.C., o Liceu, onde ele se dedicou ao estudo da natureza, através da observação do mundo natural na busca por realizar uma descrição de seus princípios. O Cristianismo da Idade Média utilizou o pensamento de Aristóteles através das argumentações de Santo Tomás de Aquino no século 13, que aproveitou o princípio da física aristotélica, com a ideia de que tudo que se move é movido por uma outra força superior, no objeto de explicar a existência soberana de Deus sobre o Universo. Portanto, Aristóteles entendia que a maneira pela qual pode-se adquirir conhecimento origina da análise dos dados que a observação da realidade exterior nos permite identificar no mundo. Observe, então, que tanto o racionalismo, que entende que o conhecimento depende somente da razão humana, como o empirismo, que orienta a busca do conhecimento a partir da observação do mundo exterior, tem bases no pensamento clássico de Platão e Aristóteles. Vamos nos dedicar agora a observar mais de perto estes dois movimentos, que influenciaram bastante a reflexão religiosa cristã e o pensamento da cultura ocidental." REFERÊNCIAS. FRAME, James W Sire. Breve cartilha de apologética. Edit Cultura Cristã, São Paulo, 2023. MCGRATH, Alister. Apologética pura & simples. Vida Nova, São Paulo, 2013. RÜPPELL Jr, Ivan e TURETTI, Marli. O Cristianismo e a civilização ocidental. Editora Intersaberes, 2020, Curitiba PR. GOHEEN E BARTHOLOMEW, Introdução à cosmovisão cristã. Vida Nova. São Paulo, 2016.

RELIGIÃO E PÓS MODERNIDADE. Texto 3. Seminário Presbiteriano do sul - extensão Curitiba.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Religião e Pós-modernidade do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, de diversos livros e obras, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. INTRODUÇÃO ao Pensamento Reformado, Abraham Kuyper. “No Calvinismo encontra-se a origem e a garantia de nossas liberdades constitucionais.” (Groen Van Prinsterer) (Kuyper, p 85, 2003). Abraham Kuyper (1837-1920) “foi um teólogo e filósofo calvinista holandês que se envolveu intensamente nas áreas acadêmicas e políticas de seu país", vindo a atuar no Parlamento durante trinta anos, se tornando Primeiro Ministro da Holanda entre os anos de 1901 até 1905. Seu livro “Calvinismo” contém as palestras ministradas na Universidade e Seminário de Princeton no ano de 1898, expondo temas teológicos “como um fundamento para uma visão abrangente de vida.” (Kuyper, p 5-6, 2003). COSMOVISÃO REFORMADA. ANÁLISE E DISTINÇÃO DIANTE DE OUTRAS COSMOVISÕES e Pensamentos. Temas: 1. Nossa relação com Deus; 2. Nosso relacionamento com o homem; 3. Nosso relacionamento com o mundo. Segundo o autor, é preciso argumentar de forma válida no objetivo de apresentar o "calvinismo" como "um sistema de vida abrangente", com bases no passado pra nos dar segurança na atualidade e confiança futura. Nessa reflexão, "primeiro devemos perguntar quais são as condições requeridas para sistemas gerais de vida, tais como o Paganismo, o Islamismo, o Romanismo e o Modernismo, e então mostrar que o Calvinismo realmente preenche essas condições." Assim, vamos olhar o entendimento e proposições destes diferentes sistemas acerca das "três relações fundamentais de toda vida humana: a saber, (1) nossa relação com Deus, (2) nossa relação com o homem, (3) nossa relação com o mundo." 1. A Primeira Condição - Nossa Relação com Deus. Entender o que um sistema de vida propõe acerca das bases e fundamentos da nossa existência será sempre a primeira reflexão, pois "esse ponto encontra-se na antítese entre tudo que é finito em nossa vida humana e o infinito que encontra-se além dela." O Paganismo - Vê Deus na Criatura. Esse sistema de pensamento, "em sua forma mais geral é conhecido pelo fato de supor, assumir e adorar a Deus na criatura", desde o animismo primitivo até o budismo, "o Paganismo não eleva para a concepção da existência independente de Deus, além e acima da criatura... simplesmente por possuir esse ponto de partida significativo foi capaz de produzir uma forma para toda a vida humana própria dele." O Islamismo - Separa Deus da Criatura. A partir de seus fundamentos puros e anti-pagãos, a religiosidade do Alcorão e Maomé "isola Deus da criatura, a fim de evitar toda mistura com a criatura", o que lhe permitiu desenvolver uma visão de mundo própria, com uma contrariedade total ao paganismo. O Catolicismo - Coloca a Igreja Entre Deus e a Criatura. Nesse sistema religioso, "Deus entra em comunhão com a criatura por intermédio de um meio místico, que é a Igreja... como instituição visível, palpável e tangível. Aqui a Igreja se posiciona entre Deus e o mundo" e na forma como consegue se relacionar com o mundo, "o Romanismo criou sua própria forma para a sociedade humana." No Calvinismo - Deus se Comunica com a Criatura. O Calvinismo "não procura Deus na criação, como o Paganismo; não isola Deus da criatura, como o Islamismo; não postula comunhão intermediária entre Deus e a criatura, como faz o Romanismo. Ele proclama o pensamento glorioso que, embora permanecendo em alta majestade acima da criatura, Deus entra em comunhão imediata com a criatura, como Deus o Espírito Santo... Portanto, a oposição contra Roma pretendia com o Calvinismo... rejeitar uma Igreja que colocou a si mesma entre a alma e Deus... Os próprios crentes eram a Igreja porque pela fé permaneciam em contato com o Poderoso." O autor faz um destaque, primeiro fazendo uma distinção entre Protestantismo e Calvinismo, ao entender a igualdade de busca e valores dessa relação própria com Deus para ambos os movimentos, ao mesmo tempo em que enfatiza que foi Calvino aquele que, "teve o discernimento mais claro do princípio reformador, quem trabalhou mais plenamente e o aplicou mais amplamente." 2. A Segunda Condição. Nosso Relacionamento com o Homem. Conforme Kuyper, "como nos posicionamos com Deus é a primeira, e como nos posicionamos com o homem é a segunda questão principal que decide a tendência e a construção de nossa vida." Nesse sentido, a diversidade encontrada na humanidade, seja nas diferenças entre homem e mulher, e nas aptidões e capacidades fisica e espiritualmente nos seres humanos, iremos notar que tais "diferenças são, de um modo especial, enfraquecidas ou acentuadas em cada sistema de vida...". O Paganismo Acentua as Diferenças. Ao pontuar que Deus habita na criatura, o paganismo eleva a condição de heróis e ídolos alguns seres, como se faz na dedicação divina dada a César, enquanto que também se define o que é inferior e mau, como o que ocorre nas castas da Índia e na escravidão no Egito, "colocando com isso um homem sob uma base de sujeição a seu próximo." O Islamismo e o Catolicismo Acentuam as Diferenças. O Islamismo propõe as mulheres como prêmios aos homens no paraíso, enquanto as torna escravas na sociedade, junto com os descrentes, que serão igualmente escravos dos muçulmanos. O Romanismo desenvolve uma hierarquia constante, desde os céus até a terra, desenvolvendo essa distinção e diferença entre anjos, na Igreja e entre os homens, "conduzindo a uma interpretação inteiramente aristocrática da vida como a encarnação do ideal." O Modernismo Procura Eliminar Todas as Diferenças. Esse sistema nega toda diferença, e assim busca produzir o "mulher-homem e homem-mulher", acabando por destruir "a vida por colocá-la sob a maldição da uniformidade. Um tipo deve responder a todos, uma uniformidade, uma posição e um mesmo desenvolvimento de vida...". A Interpretação Peculiar do Calvinismo. "Do mesmo modo o Calvinismo tem derivado de sua relação fundamental com Deus uma interpretação peculiar do homem com o homem... Se o Calvinismo coloca toda nossa vida humana imediatamente diante de Deus, então segue-se que todos", homens e mulheres de todas as condições sociais e aptidões, e força e raça, "não tem de reivindicar qualquer domínio sobre o outro, e que permanecemos iguais diante de Deus, e consequentemente iguais como seres humanos. Por isso, não podemos reconhecer qualquer distinção entre os homens...". Nesse contexto, o Calvinismo procura condenar toda escravidão dos homens e qualquer sistema de castas e diferença social, além da escravidão comunitária da mulher e do pobre; sendo que, "assim o Calvinismo foi obrigado a encontrar sua expressão na interpretação democrática da vida; a proclamar a liberdade das naçõees; e a não descansar até que, tanto política como socialmente, cada homem, simplesmente porque é homem, seja reconhecido, respeitado e tratado como uma criatura à semelhança de Deus." Nesse sentido, "o Calvinismo tem modificado a estrutura da sociedade não pela inveja de classes, nem por um apreço indevido pela possessão do rico, mas por uma interpretação mais séria da vida. Por meio de um melhor trabalho e um desenvolvimento superior do caráter das classes média e trabalhadora, ele conduziu ao ciúme a nobreza e os cidadãos mais ricos. Olhar primeiro para Deus e depois para a pessoa do próximo foi o impulso, o pensamento e o costume espiritual ao qual o Calvinismo deu entrada", dando ênfase ao modo em que "uma ideia democrática mais santa tem se desenvolvido e tem continuamente ganho terreno (...) A diferença entre ele (calvinismo) e o sonho selvagem de igualdade da Revolução Francesa é que, enquanto em Paris ocorreu uma ação de comum acordo contra Deus, aqui, todos, rico e pobre, estavam sobre seus joelhos diante de Deus, consumidos com um zelo comum pela glória de seu nome." 3. A Terceira Condição. Nosso Relacionamento com o Mundo. A terceira relação fundamental a ser percebida nos diferentes sistemas de vida ao mundo é exatamente: "sua atitude com o mundo". A Visão de Mundo do Paganismo e Islamismo. "Do Paganismo pode geralmente ser dito que ele coloca uma estimativa muito alta do mundo e, por isso, em alguma extensão, ele tanto permanece com medo dele como perde-se nele. Por outro lado, o Islamismo coloca uma estimativa muito baixa do mundo, zomba dele e triunfa sobre ele ao alcançar o mundo visionário de um paraíso sensual." Sobre outros sistemas, deve-se ressaltar o modo em que uma certa "antítese entre o homem e o mundo tem assumido a forma mais estreita da antítese entre o mundo e os círculos cristãos. As tradições da Idade Média deram origem a isto. Sob a hierarquia de Roma, a Igreja e o Mundo foram colocados em oposição um ao outro, o primeiro como sendo santificado e o outro como estando ainda sob a maldição. (...) Portanto, em um país cristão, toda a vida social deveria estar coberta pelas asas da Igreja." Magistrados e governantes precisavam ser abençoados, artes e o conhecimento científico deveriam estar sujeitos ao domínio eclesial, e a economia e profissões deveriam seguir os rigores dos sindicatos, sendo que igualmente a família tinha sua realidade determinada pela visão da instituição da igreja. "Como resultado natural, o mundo corrompeu a Igreja, e por seu domínio sobre o mundo, a Igreja proveu um obstáculo a todo desenvolvimento livre de sua vida." O Calvinismo Reconhece Deus no Mundo. "Surgindo num estado social dualista, o Calvinismo tem realizado mudança completa no mundo dos pensamentos e concepções." Diante de Deus em primeiro lugar, o calvinismo respeita o homem criado à imagem e semelhança de Deus, e define o mundo a partir de uma realidade criada por Deus. O Calvinismo destaca os atos favoráveis de Deus na história sobre a vida, entendendo que Deus derrama sua Graça Especial no propósito de salvação pelo Evangelho, enquanto derrama continuamente sua Graça Comum para manter a vida, regular a maldição sobre o mundo e assim limitar seu estado de corrupção, "e assim permite o desenvolvimento de nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como Criador." Neste sentido, o Calvinismo busca purificar a Igreja como a congregação dos crentes, enquanto orienta uma visão cosmológica em que o mundo deve ser liberto da instituição, mas mantido debaixo dos cuidados e vontade de Deus. "Assim, a vida doméstica recobrou sua independência, os negócios e o comércio atualizaram suas forças em liberdade, a arte e a ciência foram libertas de todo vínculo eclesiástico e restauradas à sua própria inspiração, e o homem começou a entender a sujeição de toda natureza, com suas forças e tesouros ocultos, a ele mesmo como um santo dever, imposto sobre ela pela ordenança original do Paraíso: "Tenha domínio sobre eles"... Em vez de vôo monástico para fora do mundo é agorar enfatizado o dever de servir a Deus no mundo, em cada posição da vida. (...) O Calvinismo apresenta-se como um auxílio audacioso, especialmente em sua antítese ao Anabatismo. Pois o Anabatismo adotou o método oposto e, em seu esforço de evitar o mundo, confirmou o ponto de partida monástico, generalizando e fazendo-o uma regra para todos os crentes.". Dessa forma, debaixo da orientação Anabatista, protestantes de regiões da Europa Ocidental vieram a abraçar o "acomismo" (crença que nega o universo como tendo uma existência distinta de Deus), vindo a assumir princípios romanistas da relação do homem com o mundo, ainda que com definições peculiares. RESUMO DOS TRÊS PRIMEIROS RELACIONAMENTOS. "Para nossa relação com Deus: uma comunhão imediata do homem com o Eterno, independentemente do sacerdote ou igreja. Para a relação do homem com o homem: o reconhecimento do valor humano em cada pessoa, que é seu em virtude de sua criação conforme a semelhança de Deus... E para nossa relação com o mundo: o reconhecimento que no mundo inteiro a maldição é restringida pela graça, que a vida do mundo deve ser honrada em sua independência, e que devemos, em cada campo, descobrir os tesouros e desenvolver as potências ocultas por Deus na natureza e na vida humana." (Kuyper, p 28-40, 2003). (RESUMO, citações e texto a partir do livro CALVINISMO, de Abraham Kuyper). PÓS-MODERNIDADE. INTRODUÇÃO GERAL. 1. A PÓS-MODERNIDADE E A RELIGIÃO DO CRISTIANISMO. "A Pós-modernidade é um movimento que surgiu a partir da década de 1950 no objetivo de se contrapor ao modernismo nas artes, vindo a assumir no decorrer dos anos uma posição de contrariedade perante a cultura moderna de forma geral, sendo que o próprio título do movimento ressalta o seu objetivo de promover uma superação da narrativa modernista, que prometia trazer prosperidade à humanidade mediante a utilização de um conhecimento baseado somente na ciência e na razão. (Goheen, p 165). É importante destacar que a pós-modernidade é um conceito bastante amplo, pois cada área do conhecimento humano desenvolve o seu próprio entendimento sobre o significado deste movimento, seja nas artes e na filosofia, na sociologia e na psicologia, na arquitetura etc. Portanto, a nossa compreensão deste termo precisa ser abrangente a fim de alcançarmos um bom entendimento acerca dessa postura cultural que tem influenciado grandemente a sociedade nas últimas décadas. Conforme destacamos acima, pode-se dizer que a pós-modernidade busca desenvolver pensamentos distintos e contrários ao pensamento moderno, vindo a negar enfaticamente as proposições modernistas de que através da razão é possível se adquirir um conhecimento confiável da realidade da existência; sendo que, no tocante à religião, a pós-modernidade entende que os sistemas institucionais religiosos deixaram de ser um princípio essencial na formação da vida individual e social das pessoas. Segundo McGrath, um aspecto importante dos fundamentos da Pós-Modernidade advém da sua decisão de não utilizar e nem reconhecer a validade das narrativas absolutas e universais da Modernidade, no objetivo de explicar e desenvolver a existência e a história da humanidade. Esta postura de enfrentamento aos princípios modernos que acaba intitulando o próprio movimento, enquanto uma proposição que surge depois e além da modernidade, surge de maneira bastante clara assim que elencamos lado a lado, alguns dos elementos de ambos os movimentos: pois enquanto a modernidade se propõe a desenvolver os princípios do propósito e do planejamento, a pós-modernidade se apoia na diversão e casualidade, havendo igualmente uma distinção que surge a partir dos valores modernos da hierarquia e centralização, em oposição a uma certa anarquia e dispersão observáveis de forma mais comum na pós-modernidade. Portanto, assim como o modernismo se interessa pela análise e a organização, o pós-modernismo ressalta e valoriza uma certa liberalidade e descontrole para com as questões da vida, tornando-se um princípio geral que acaba resultando numa vivência pautada pelo relativismo e pluralismo, em grande contraste aos absolutos da modernidade – que mantém seus valores bastante relacionados às metanarrativas. (p 141). 2. METANARRATIVAS. Metanarrativas são aquelas grandes histórias ou narrativas abrangentes que visam explicar de modo completo todos os acontecimentos e perspectivas da história da humanidade, sendo que a narrativa básica da Modernidade orienta que a razão e a ciência são capazes de explicar e organizar a realidade através de modelos universais que devem reger o desenvolvimento da civilização humana. Nesse contexto, perceba como alguns dos valores pós-modernos estão relacionados à intensa comunicação desenvolvida pelas redes sociais, que tem se tornado um fato cultural essencial na promoção dos relacionamentos humanos, tornando tudo mais rápido e efêmero acerca da maneira como convivemos em sociedade. Um outro elemento que expõe bastante o pensamento pós-moderno surge da grande valorização que se dá ao consumo, como se este fora uma conquista existencial e pessoal para o indivíduo, o que acaba transformando a própria cultura num elemento bastante descartável, pois tudo requer ser apreciado de forma imediata e objetiva, a fim de que rapidamente possamos suprir as necessidades momentâneas de cada um de nós. Uma outra consequência que surge do desprezo às narrativas modernas e da valorização das experiências pessoais se expressa na maneira como o mundo contemporâneo deixou de ser uma estrutura social orientada para a busca de um propósito comum e unificado, posto que a sociedade pós-moderna já não se constrói a partir de valores universais. O que ocorre na sociedade atual é que há outros elementos sustentando o modo como a civilização humana se organiza, pois a pós-modernidade se desenvolve através de uma postura subjetiva acerca da maneira como percebemos a realidade, valorando o multiculturalismo e buscando extrair da pluralidade das vivências pessoais e dos pequenos grupos as suas fundamentais experiências de conhecimento. Ou seja, o conhecimento para o aprendizado da vida já não é mais uma verdade absoluta que adquirimos da cultura, mas sim, trata-se de uma compreensão que se constrói a partir da situação que vivenciamos no tempo presente. E no objetivo de adquirir boa compreensão acerca do significado da Pós-Modernidade, enquanto um movimento relacionado à busca do conhecimento e à definição de valores a partir da realidade, vamos relatar de forma breve algumas importantes transformações culturais ocorridas na história, neste contexto intelectual. 3. A IDADE MODERNA. TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS. Inicialmente, vamos recordar que o conhecimento padrão acerca da existência humana e do mundo na Idade Média eram ditados pelas doutrinas da Igreja e por seus representantes junto da sociedade. Até que a chegada da Renascença oportunizou uma grande transformação cultural, a partir do instante em que o conhecimento se tornou um conteúdo que poderia ser buscado por qualquer indivíduo segundo os ditames da razão, sendo que a própria religião se tornou objeto das reflexões racionalistas que norteavam o pensamento da época. A consolidação do período da Idade Moderna chegou através do Iluminismo, que veio propagar os valores da razão e da ciência como superiores a quaisquer outras formas de conhecimento humano, sendo que tanto a religião como a monarquia vieram a ser confrontados na sua condição de autoridades supremas em suas áreas de atuação. O conhecimento científico e a industrialização do ocidente apontavam para um período de progresso contínuo que iria solucionar todas as questões fundamentais da sociedade. No entanto, o século 20 acabou sendo dominado por duas guerras mundiais, além de ter sido marcado pelo avanço da miséria e da opressão política no mundo, o que levantou dúvidas acerca da credibilidade da narrativa moderna que apregoava conduzir a humanidade para um tempo de prosperidade. Eis, portanto, o contexto histórico e cultural do surgimento da Pós-Modernidade ao final do século 20, enquanto um movimento que pretende questionar as certezas dos princípios e valores conceituais da Modernidade. Nesse contexto, o movimento pós-moderno entende que o conhecimento e a verdade acerca da realidade já não se encontra nos processos e dinâmicas da ciência ou da igreja, mas sim, estão presentes nos relacionamentos e nas experiências da vida, pois são estas que oferecem as verdadeiras histórias que merecem ser contadas, já que carregam consigo os valores individuais e também as experiências reais dos pequenos grupos que as vivenciam. Sendo que este conteúdo existencial é que deve ser utilizado pelas pessoas no objetivo de que venham a construir narrativas originadas das suas próprias vivências, que são as que tem valor no momento presente da história. Neste sentido, “a construção da comunidade é um componente essencial na busca pós-moderna da verdade. À medida que cada um compartilha a parte da verdade que experimenta e conhece, todos se beneficiam disso. No ambiente pós-moderno, construir comunidade é mais importante que as ideias que antes mantinham as comunidades juntas.” (Deus na pós-modernidade) 4. NO TOCANTE ÀS RELIGIÕES. , há um aspecto dentre tantos outros que pode nos ajudar a entender a maneira como a Pós-Modernidade tem influenciado a religiosidade da humanidade no início do século 21, e particularmente, o Cristianismo e o Islamismo. Trata-se do valor pós-moderno que tem propagado o princípio do Relativismo cultural na sociedade contemporânea. Relativismo: O relativismo é a teoria de que a base para os julgamentos sobre conhecimento, cultura ou ética difere de acordo com as pessoas, com os eventos e com as situações. A compreensão da maneira como o relativismo tem se desenvolvido na sociedade requer o entendimento inicial de que o grande rompimento da pós-modernidade diante da modernidade é mais intelectual do que histórico, pois as duas formas de pensamento ainda coexistem nestas duas primeiras décadas do novo milênio. Portanto, vivenciamos diariamente um confronto cultural que posiciona de um lado o princípio moderno das narrativas universais, e de outro, o valor das vivências mais particulares e subjetivas da pós-modernidade; sendo que esta contraposição constante acaba gerando uma sensação de desorientação cada vez maior em nossa sociedade. Pois à medida que ficamos sem valores universais e objetivos comuns para propor aos seres humanos, também começamos a experimentar um vazio e uma perda de propósitos para a própria realidade da existência humana no mundo. (Edwards Jr, 2013). Ainda, vamos analisar brevemente a maneira como o princípio do relativismo pós-moderno tem influenciado o modo como as religiões cristã e islâmica tem se posicionado no novo milênio. Trata-se de uma reflexão bastante objetiva: veja que as três maiores religiões do mundo (cristã, islâmica e judaica) carregam em suas doutrinas determinadas verdades universais, através das quais procuram ensinar aos seus adeptos de maneira absoluta que eles devem acatar e obedecer plenamente aos preceitos da fé, a fim de que sua existência se desenvolva de maneira saudável e satisfatória neste mundo e nos céus. Portanto, observe como uma certa desorientação que o relativismo tem trazido à sociedade do século 21, também se torna um fato social que oportuniza às religiões cristã e islâmica, um ambiente cultural bastante favorável de atuação, que se torna real a partir de dois aspectos: primeiro, estas religiões começam a perceber a possibilidade de que boa parcela da sociedade esteja em busca de conceitos absolutos para si, os quais lhe tem sido tirados pelos valores pós-modernos; e, segundo, eis que o Cristianismo e o Islamismo serão tanto motivados – pelas oportunidades, e provocados – pelas necessidades, a propagar exatamente aqueles seus princípios de fé mais tradicionais, pois são exatamente estes que a sociedade atual mais urgentemente deseja ouvir e receber das religiões espirituais e das filosofias existenciais. SÍNTESE. O movimento iluminista acabou dominando culturalmente o século 18 na Europa enquanto desenvolvia um projeto intelectual que buscava superar as concepções de mundo medievais, vindo a formatar os valores do pensamento moderno da humanidade. A publicação da obra “Enciclopédia”, por Denis Diderot, tornou-se um dos marcos do Iluminismo, sendo que a orientação era de que fosse utilizado somente o raciocínio lógico na feitura de seus textos acerca dos temas mais diversos. Essa proposição se tornou uma importante distinção deste movimento em contraponto às reflexões do Renascimento, pois o pensamento iluminista buscou questionar e criticar amplamente as doutrinas da Igreja Cristã; sendo que o Cristianismo buscou responder tais indagações através de formulações mais racionais, através de um movimento que ficou conhecido historicamente como “protestantismo liberal”. A Revolução de 1789 e o início da República em 1792 determinaram o fim do governo monárquico na França, num acontecimento que veio a influenciar transformações políticas em diversos Estados europeus nos séculos seguintes, os quais buscaram organizar sistemas de governo baseados na igualdade social e a partir de uma divisão de poderes entre o legislativo, executivo e judiciário. (...) Finalmente, chegamos até a Pós-Modernidade: um movimento cultural que tem se propagado bastante nas últimas décadas, mediante a defesa de perspectivas e reflexões que procuram criticar e fazer oposição aos paradigmas existenciais absolutos e universais oriundos da Modernidade. Trata-se de um contexto cultural bastante diverso e também controverso, pois a pretensa liberdade e veracidade que a pós-modernidade advoga através do desenvolvimento de valores mais particulares e locais, em contraponto aos grupais e globais modernos, não tem impedido o crescimento da (descartável) cultura do consumo e da (fugaz) cultura dos relacionamentos virtuais. No tocante às religiões, vimos que o princípio do relativismo tem trazido certa desorientação à sociedade contemporânea, sendo este um fator que acaba desafiando e tornando-se uma oportunidade para as religiões mais universais, como as do judaísmo, cristianismo e islamismo; pois suas proposições desejam oferecer propostas de vida mais absolutas às dúvidas existenciais oriundas da subjetividade pós-moderna." (CITAÇÃO. Livro: O Cristianismo e a Civilização Ocidental. Ivan S Rüppell Jr e Marli Turetti. Editora Intersarberes, Curitiba, 2020).

sábado, 19 de agosto de 2023

Meditação Dominical. A VIDA DE DEUS, Cartas de João.

TEXTO Bíblico. "E a vida se manifestou, e nós a vimos e dela damos testemunho. E anunciamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada." (1 Carta de João, cap. 1.2). MEDITAÇÃO. Quando o Apóstolo João viu Jesus vivo e ressurreto após a morte, lá na praia em nova pesca com os discípulos, ele soube que Jesus era o Cristo. Anos mais tarde, quando João foi levado ao terceiro céu em espírito, assim que viu Jesus sentado à direita de Deus Todo Poderoso, então a ficha que já havia caído antes, se tornou um turbilhão de conhecimento. João descobriu que Jesus era Deus! E como Deus tem vida em si mesmo, uma vida completa e eterna, então João entendeu que quando Jesus se tornou um ser humano, a qualidade da vida de Deus foi compartilhada com a nossa espécie. Sim, a partir dali, a raça humana jamais seria a mesma. A qualidade de sentimentos e atitudes dos homens mudou pra sempre tendo Jesus como Messsias e Salvador. E a ressurreição do homem Jesus ainda garante que tudo de bom que pode-se viver hoje, será melhor, aperfeiçoado e integral, verdadeiro e eterno; amanhã! ORAÇÃO. Santo Deus e Pai nosso que está nos céus. Santificado seja o teu nome. Ilumina a minha mente pra eu entender o sentido da vida e a importância do Messias. Abençoa o meu coração pra que eu possa crer nas verdades da vida do Cristo de Deus. Que venha o teu reino e seja feita a tua vontade na minha vida! Amém. Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

RELIGIÃO E PÓS MODERNIDADE, Texto 2. Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba, 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Religião e Pós-modernidade do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, de diversos livros e obras, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. RESUMO. RENASCIMENTO E ILUMINISMO. NOVOS PARADIGMAS, DO RENASCIMENTO AO ILUMINISMO, SÉCULOS 15 A 19. A denominada “Idade da Razão” acabou realizando uma integração da reflexão científica junto da área da filosofia no século 17, a qual foi liderada pelos filósofos Francis Bacon e Thomas Hobbes, sendo que René Descartes, Blaise Pascal e Gottfried Leibniz a desenvolveram valorando a lógica no objetivo de afirmar que o raciocínio matemático era o método mais confiável para se alcançar o conhecimento da realidade. Ao mesmo tempo, nesse mesmo contexto científico-filosófico, John Locke assumia na Inglaterra a liderança das reflexões do movimento do empirismo, que entendia que o conhecimento somente poderia ser adquirido pelos homens a partir da experiência de seus sentidos. Observe que essa contraposição de ideias entre o racionalismo e o empirismo se desenvolvia mediante uma perspectiva comum de ambos os movimentos, que era a base de suas argumentações: a centralidade do ser humano como o agente responsável por refletir acerca do conhecimento a partir de suas faculdades intelectuais. (...) Segundo Gonzalez, a observação da natureza e as reflexões puramente racionais se integravam na busca e demonstração do que era possível conhecer da realidade, pois a ordem da natureza se ajustava à lógica da razão humana, segundo os princípios do racionalismo. Pois quanto mais a análise de dados externos propiciava uma melhor explicação acerca da natureza, igualmente aumentava a confiança dos intelectuais na expectativa de que somente a razão iria prover o conhecimento mais verdadeiro que se poderia alcançar acerca da realidade da existência. (2011, p 319). Nesse contexto e época, houve um movimento racionalista dentro do Cristianismo, denominado de “deísmo”, que pretendia explicar a religião sem utilizar os limites e as regras das doutrinas dogmáticas da Igreja. Os deístas buscavam esclarecer os princípios universais daquela que viria a ser considerada como uma religião natural e cristã, a qual teria suas bases e princípios oriundos dos instintos interiores dos homens, e não das revelações da bíblia ou de acontecimentos históricos “sagrados”. A religiosidade natural do deísmo apregoava a existência de Deus e a obrigação de adora-lo através de princípios éticos, sendo que haveria tanto uma recompensa para os bons, quanto um castigo para os maus. O ILUMINISMO. “O ceticismo é o primeiro passo em direção à verdade”. (Denis Diderot) O Iluminismo; uma expressão surgida apenas no século 19 que origina do alemão “die Aufklärung” (aclarar) e do francês “les lumières” (as luzes), foi um movimento cultural abrangente da Idade Moderna bastante relacionado a uma determinada época do século 18, entre os anos 1720 até 1780. Seu princípio essencial orientava que a razão deveria ser utilizada de forma livre e progressista pelo homem no objetivo de que a humanidade pudesse superar as concepções de mundo medievais que a tinham estruturado até então, posto que tais valores mantinham a sociedade submissa a paradigmas opressores do passado. Um elemento importante acerca do iluminismo se refere ao fato de que os intelectuais desse movimento se interessavam mais com o modo e a maneira como iriam pensar e desenvolver as suas reflexões, do que com o conteúdo que cada um deles iria abordar em suas análises e textos. (McGrath, 2005, p 125) O ESTADO MODERNO. "O Ocidente havia perdido sua fé (em Deus) - e encontrou uma nova, na ciência e no ser humano." (Tarnas, Passion of the Western mind, p. 286 apud Goheen, 2016). Conforme Goheen, "as mudanças iniciadas pelas Revoluções Industrial e Francesa transformaram a sociedade no estado moderno, baseado no humanismo confessional... "No mundo moderno, o estado é a principal e mais poderosa força institucional na comunidade internacional e, provavelmente, o mais bem-sucedido promotor institucional do processo de modernização." (Walker, Telling the story, p. 110-1, apud Goheen, 2016). Nesse contexto de transformações da cosmovisão do Ocidente, Goheen assinala um pensamento e reflexão valiosos: "A sociedade que experimentou uma reviravolta como triunfo da modernidade não era propriamente cristã, mas a cristandade medieval - uma mistura de elementos cristãos e pagãos. Tal quals os humanistas, os cristãos estão propensos a rejeitar a hierarquia da Idade Média e o poder excessivo da igreja, mas farão isso por razões diferentes... "Com base em que autoridade devemos, então, moldar aquelas áreas da vida que foram emancipadas? Deve ser de acordo com os ditames da razão ou de acordo com a revelação de Deus? (Goheen e Bartholomew, p 153, 2016). MOVIMENTOS contrários e distintos diante do pensamento cristão: NATURALISMO. "A principal concorrência para a cosmovisão cristã na parte do mundo normalmente tida como a cristandade é um sistema que muitas vezes se conhece pelo nome de naturalismo. A proposição pedra de toque, ou pressuposição básica, do naturalismo afirma: "Nada existe fora da ordem material, mecânica (isto é, sem propósito) e natural". S. D. Gaede, explica: "A cosmovisão naturalista repousa na crença de que o universo material é a soma total da realidade. Para colocar em termos negativos, o naturalismo sustenta a proposição de que o sobrenatural, em qualquer forma, não existe... A cosmovisão naturalista assume que a matéria ou substância que compõe o universo nunca foi criada, mas sempre existiu. Isso porque um ato de criação pressupõe a existência de alguma realidade fora de, ou maior que, a ordem mundial - incompatível com o princípio de que o universo material é a soma total da realidade... O ser humano, como parte do universo natural, também é resultado da matéria, tempo e acaso. Dentro do contexto da cosmovisão naturalista, os milagres, como tais, não existem; são eventos naturais que ainda tem de ser explicados." C S Lewis apresenta no livro Milagres o modo em que todo cidadão ocidental, que se coloca contrário às crenças cristãs, está em verdade assumindo sua decisão por uma cosmovisão naturalista. "O Naturalista acredita que o Fato definitivo... é um vasto processo que se desenrola por conta própria... Dentro de todo esse sistema, cada acontecimento específico ocorre porque houve outro acontecimento; no final das contas, porque o Acontecimento Completo está ocorrendo... Todos os fatos e acontecimentos estão interligados de tal forma que não podem exercer a mínima independência em relação "ao espetáculo completo".... Por isso nenhum naturalista radical acredita em livre arbítrio... A espontaneidade, a originalidade e a ação "por iniciativa própria" são privilégios reservados ao "espetáculo completo", que ele denomina Natureza." (...) "O Naturalismo e a Fé Cristã são inimigos naturais no mundo das ideias. Se um deles é verdadeiro, o outro deve ser falso. (Nash, p 149-164, 2012). DUAS NARRATIVAS DIFERENTES DE PROGRESSO. A LIBERAL E A MARXISTA. Conforme Goheen e Bart., "a fim de manter a fé na narrativa iluminista, apesar das evidências cada vez mais pessimistas da Revolução Industrial, aqueles que criam fielmente no progresso sentiram a necessidade de reunir todos os sinais visíveis da miséria humana em um mito maior. E duas narrativas pós-iluministas que surgem no século 19 procuram fazer exatamente isso, ambas mantendo a fé no progresso por meio da ciência e da tecnologia e interpretando o testemunho contrário como parte daquela narrativa. Essas duas narrativas são o liberalismo e o marxismo... O liberalismo... oferecia um projeto de sociedade baseado na soberania do indivíduo... valoriza a liberdade do indíviduo em questões econômicas; em sua forma política, valoriza os direitos humanos individuais..."; e sobre as dificuldades e ruínas ocasionadas no decorrer do século 19, os liberais entendem que o sofrimento é um preço a pagar pelo progresso (Herbert Spencer), enquanto que John Mill e Thomas Hill voltaram sua atenção para promover alguma consciência social em meio ao processo liberal, "mas ambas as respostas liberais sustentaram a fé no progresso, e ambas explicaram o sofrimento humano como parte da narrativa." Nesse contexto, "Karl Marx apresentou uma narrativa de progresso que explicava o sofrimento... tal como Spencer, ele apresenta uma explicação racional acerca do sofrimento que também se baseia em Darwin. No pensamento político de Marx, a observação de Darwin da conquista via luta no mundo natural é traduzida em termos sociais: a história é impelida pelo conflito de classes. A narrativa de progresso é uma história de sucessivas revoluções de classe que, no final, conduzirão à igualdade e à distribuição justa e equitativa de toda a riqueza criada pelo desenvolvimento econômico. O liberalismo e o marxismo, duas noções opostas de progresso histórico com raízes no humanismo do século 19, haveriam de se apoderar do mundo durante a maior parte do século 20 - um com sede em Washington; outro, em Moscou." (p 154-155, 2016). DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO MODERNO. ANÁLISE E PERSPECTIVA CRISTÃ. O Desenvolvimento do Pensamento no Ocidente. Sobre o modo como Deus age no mundo, e dessa forma, como se compreende a realidade e o movimento histórico e transcedente da realidade, destacamos posições variadas, como, o Deísmo, em que "Deus age por intermédio da natureza", de forma que a "posição deísta pode ser resumida" no entendimento de que Deus agiu criando o universo "de forma ordenada e racional", num espelho da pessoa divina, sendo que agora, toda ordem e regularidade do mundo está disponível para a compreensão do homem, pois "as leis da natureza foram estabelecidas por Deus; e apenas restava a um ser humano brilhante descobri-las", conforme declaração de Alexander Pope: "A natureza e suas leis escondem-se na noite. E disse Deus, que haja Newton, e tudo se transformou em luz." "O deísmo defendia a ideia de que Deus havia criado o mundo, dotando-o com a capacidade de evoluir e funcionar sem que houvesse a necessidade da contínua presença e interferência de Deus. Essa perspectiva", bastante influente especialmente no século 18, "via o mundo como um relógio, e Deus como um relojoeiro. Deus havia dotado o mundo como um modelo auto-sustentável para que pudesse funcionar sem a necessidade de sua contínua intervenção." E assim, diante da pergunta, "Como Deus agiria no mundo? A resposta para essa pergunta é bastante simples: Deus não age no mundo." Deus criou todo o sistema e o ordenou e o colocou em movimento, criando um mundo "completamente autônomo e auto-suficiente. Não é necessária nenhuma ação da parte de Deus." (...) Ainda sobre o tema de como Deus age no mundo, temos o "Tomismo", em que "Deus age por intermédio de causas secundárias". O entendimento do teólogo da Idade Média percebe que Deus age utilizando "causas primárias e secundárias", enfatizando que Deus não age diretamente, mas através dessas causas. Assim, para que um grande pianista possa realizar um grande concerto, é preciso tanto a causa primária, o pianista, como a causa secundária, um piano afinado: "a capacidade da causa primária para alcançar o efeito desejado depende da causa secundária a ser usada." Tomás de Aquino reflete a partir desse entendimento sobre o problema do mal: "O sofrimento e a dor não devem ser atribuídos à ação direta de Deus, mas sim à fragilidade e à debilidade das causas secundárias por meio das quais Deus opera. Deus, em outras palavras, deve ser visto como a causa primária, e os vários agentes que existem no mundo, como as causas secundárias a ele relacionadas. (...) O autor faz uma reflexão importante, pois destaca que no pensamento de Aristotéles, em que se baseia a compreensão inicial, mas não total, de Aquino, "as causas secundárias são capazes de agir por si próprias. Os elementos naturais são capazes de agir como causas secundárias em virtude de sua própria natureza", sendo importante salientar que teólogos renomados eram contra essa concepção aristotélica, inclusive Aquino, "que alegava ser Deus o "impulso ontológico inicial", a causa principal de toda ação, sem a qual nada poderia existir... Assim, a interpretação teísta das causas secundárias apresenta a ação de Deus no mundo da seguinte forma. Deus age de maneira indireta no mundo, por meio das causas secundárias. Pode-se notar a existência de uma grande cadeia de causalidade, que aponta para Deus como o impulso originário e principal de tudo o que acontece no mundo. Entretanto, ele não age diretamente no mundo, mas por meio de uma cadeia de eventos que Deus inicia e controla." Aquino parece entender que Deus inicia uma cadeia de ações sob sua orientação, e que a partir daí, Deus "delega a ação divina às causas secundárias existentes dentro da ordem natural. Por exemplo, Deus pode mover a vontade do homem de forma que alguém que esteja doente receba assistência"; assim, uma ação que é da vontade divina será realizada de forma indireta, sendo que a mesma será causada por Deus, mediante uma causa secundária. Nessa visão, Deus age e se mantém atuante durante todo o processo, embora surjam reflexões diversas sobre o modo como isto ocorre. Nesse contexto, iremos estudar nas últimas aulas a compreensão de Calvino nas Institutas e citações da Bíblia de Genebra, sobre o Governo de Deus e as causas secundárias etc. (McGrath, p 222, e 336-338, 2006). A DESCRIATINIZAÇÃO DA SOCIEDADE, Século 19. Conforme destaque de Carlos de Souza, a Europa viu o surgimento ao fim do século 19 de um processo de "profunda descriatinização da sociedade. Todas as dimensões da vida social, como as artes, a ciência, a política, a economia e a filosofia se tornaram predominantemente secularizadas, relegando à fé cristã o papel estreito de veículo inspirador de uma devoção subjetiva, desprovida de engajamento com as realidades manifestas da vida. Isso passou a ser aceito por movimentos inteiros, como o pietismo extremo, o liberalismo e existencialismo teológico." Foi nesse período que o teólogo e educador escocês James Orr levantou a voz, "propondo um retorno do cristianismo e um sistema integral de percepção do mundo, vida e pensamento. (...) Nas palavras de Orr: "A oposição que o cristianismo enfrenta não está confinada a doutrinas especiais ou a pontos supostamente em conflito com as ciências naturais... Mas estende-se à forma total de se conceber o mundo, do lugar do homem nele, da maneira de conceber o sistema total das coisas, naturais e morais, das quais nós somos uma parte. Não temos mais uma oposição de detalhes, mas de princípios. Esta circunstância precisa de uma extensão igual na linha de defesa. É a visão cristã das coisas em geral que é atacada, e é apenas pela exposição e vindicação da visão cristã das coisas como um todo que esse ataque poderá ser detido." (p 48-51, 2006). REFERÊNCIAS. Goheen, Michael W e Bartholomew, Craig G. Introdução à Cosmovisão Cristã. São Paulo, Vida Nova, 2016. McGrath, Alister. Teologis sist, hist e filosófica. Sheed Publicações, São Paulo SP, 2005. Nash, Ronald. Cosmovisões em conflito. Brasília, Edit Monergismo, 2012. Leite, Carvalho e Cunha (org). Cosmovisão Cristã e Transformação. Carlos Souza, artigo. Viçosa,MG, Edit Ultimato, 2006. Kuyper, Abraham. Calvinismo. São Paulo, Edit Cultura Cristã, 2003. Ruppell Jr, Ivan Santos e Andrade, Marli. O Cristianismo e a Civilização Ocidental. Edit Intersaberes, Curitiba Pr, 2020.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

CREDOS E CONFISSÕES. Texto 2. Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba, 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Credos e Confissões do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. CREDO APOSTÓLICO. "O termo "credo" em nosso idioma é a própria palavra latina credo. Como essa palavra indica, trata-se de uma declaração de fé. É uma tentativa de resumir os pontos principais daquilo que os cristãos creem. Não é um texto exaustivo, nem é essa sua intenção." (p. 13, Mcgrath, 2013). Os evangelhos apresentam algumas situações em que as declarações de fé em Jesus como o Messias ocorriam, anotando a confirmação desta fé nos batismos e "em nome do Senhor Jesus". "Parece que a forma mais simples do primeiro credo cristão foi apenas "Jesus é o Senhor". (Rm 10.9; 1Co 12.3; 2Co 4.5; Fp 2.11). A declaração de fé que indica a afirmação de que Jesus é o Cristo, agrega a confissão da "lealdade do crente a Jesus Cristo e seu compromisso com ele." (p. 13, 2013). Essa afirmação de fé reconhece Jesus como Senhor da nossa vida e declara que iremos viver de acordo com a vontade dele. No decorrer do tempo, surgiram as situações em que era preciso esclarecer e desenvolver esse testemunho básico, com respostas para as questões sobre Quem é Deus, sobre Jesus, e sobre o Espírito Santo. Assim, "no quarto século, o Credo Apostólico como o conhecemos hoje já tinha adquirido uma fórmula mais ou menos fixa", com as variações posteriores sendo pequenas, até não mais existirem no sétimo século. Observe que "o Credo Apostólico é um resumo excelente dos ensinos dos apóstolos acerca do evangelho, apesar de não ter sido de fato escrito pelos apóstolos." (p. 14, 2013). Aos que se tornavam cristãos na igreja primitiva, e em situações e celebrações propícias, como às próximas à Páscoa, surgia a experiência coletiva em que os novos discípulos "recitavam o Credo juntos" no que agora já entendiam, pois haviam sido instrúidos anteriormente. Neste momento, ocorria o batismo, como símbolo e "demonstração pública de que o fiel morrera para o mundo e nascera para uma nova vida em Jesus Cristo." Sendo que, um momento essencial e valioso, e também perigoso devido às perseguições, desta celebração ocorria quando da declaração pública de fé em Jesus, que o crente deveria assumir. "O crente, contudo, não se limitava a recitar um credo. Antes de ser batizado, cada indivíduo era indagado se cria pessoalmente no evangelho." (p. 14-15, 2013). "Historicamente, portanto, o Credo era a profissão de fé dos convertidos na ocasião do batismo e constituía o fundamento da instrução deles." (p. 16, 2013). No decorrer dos primeiros séculos do Cristianismo, surgiram duas controvérsias doutrinárias que se tornaram ocasiões para o desenvolvimento de conteúdos mais amplos sobre as bases da fé, como houve na controvérsia diante de Ário, acerca da relação entre Jesus e Deus. Assim surgiu em 451 d.C. o Credo Niceno no Concílio de Calcedônia, com o dobro de texto do Credo Apostólico, no objetivo de afirmar a divindade de Jesus. A segunda questão que gerou outra declaração de fé cristã no início do Cristianismo, foi sobre o tema da Trindade. Assim, o Credo Atanasiano discorria sobre as pessoas e relações do Pai, Filho e Espírito Santo, vindo a se tornar o credo com mais texto e conteúdo dentre estes três. LEITURA DOS TRÊS CREDOS. (p. 16, 2013). SOBRE O CREDO APOSTÓLICO, "o mais simples e mais antigo credo da igreja. Todas as tradições cristãs reconhecem a importância e a autoridade dele como padrão de doutrina. Estudar o Credo Apostólico é investigar um elemento fundamental da herança cristã comum a todos nós. É uma afirmação das convicções básicas que unem os cristãos de todo o mundo e de todos os séculos." (p. 16-17, 2013). CITAÇÃO. Texto aula 1. “O período patrístico representa um dos mais empolgantes e criativos da história do pensamento cristão... Todos os principais ramos da igreja cristã – incluindo as igrejas anglicanas, ortodoxa oriental, luterana, reformada e católica romana – consideram o período patrístico como um marco decisivo na evolução da doutrina cristã. Cada uma dessas igrejas se considera como uma continuação, uma extensão e, naquilo que for necessário, uma crítica às visões dos escritores da igreja primitiva.” O símbolo e representação teológica de unidade conceitual que identifica as mais diversas igrejas e denominações que são consideradas pertencentes ao Cristianismo no decorrer da história recebeu sua forma fixa no período patrístico, ainda no decorrer do quarto século, através da finalização do conteúdo do “Credo Apostólico”. Essa declaração contendo os elementos essenciais da fé cristã tornou-se o conteúdo a ser afirmado por todos aqueles que desejavam ser batizados a fim de se tornarem cristãos nas cerimônias de recepção de novos convertidos à religião do Cristianismo, as quais começaram a ser organizadas desde os primeiros movimentos da Igreja primitiva. A seguir, destacamos alguns de seus principais elementos: “Creio em Deus, o Pai todo-poderoso, criador dos céus e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, Ele foi concebido por obra do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria... Foi crucificado, morto e sepultado... Ressuscitou no terceiro dia, Subiu aos céus e está sentado à mão direita do Pai... Creio no Espírito Santo... na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.” Observe a grande influência da religião do Cristianismo em nossa sociedade, a partir do conhecimento cotidiano contemporâneo que todos temos acerca do próprio conteúdo do Credo Apostólico; sendo este um aspecto revelador do modo em que esta religião se tornou uma força cultural da civilização ocidental." (Mcgrath, 2005). CREDO APOSTÓLICO E NICENO. Naturezas de Cristo. Doutrinas da Trindade, Igreja e da Graça. O Concílio de Nicéia. Ainda que Tertuliano tivesse desenvolvido o pensamento sobre o Deus único e as Três pessoas, a doutrina da Trindade permanecia um tema incompreendido. Nesse contexto, o Pastor Ário de Alexandria e defensor da teologia grega, ensinava no ínicio do quarto século a unicidade de Deus, bem como a incapacidade dele ser conhecido. Ário escreveu a obra Thalia, apresentando que Jesus era divino mas não imortal, sendo ainda, um ser criado, de forma que Jesus era um com o Pai, mas não deveria ser percebido como Deus verdadeiro. Como a cultura e o intelecto gregos entendiam que Deus era um ser impossível de ser conhecido, as ideias de Ário alcançaram protagonismo, sendo que suas proposições avançavam tanto pela sua pregação entusiasta, como até por canções que apresentavam seus princípios. No entanto, Alexandre, bispo de Ário, entendia que Jesus só poderia salvar a humanidade se fosse plenamente Deus, vindo a condenar Ário em uma reunião da igreja. Isto fez surgir defensores de Ário, gerando um conflito que fez Constantino definir por conduzir uma solução para essa questão religiosa, que o imperador considerava pior do que guerras, já que envolvia questões da eternidade da alma. Foi nesse contexto que Constantino promoveu um Concílio de todo o império em Nicéia, na Ásia, em 325. Ário teve oportunidade de falar e defendeu que Jesus era o Filho criado de Deus, sendo diferente do Pai, de modo que a assembléia decidiu negar essas ideias, vindo a desenvolver o tema na busca de um conteúdo afirmativo para a questão. Assim surgiram as afirmações sobre Deus Pai e Deus Filho, sendo Jesus declarado como "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial com o Pai"; sendo que essa expressão "consubstancial" foi expressamente defendida, no uso do termo grego "homoousious" que significa igual, ao invés de "homoiousious" que se refere a semelhante e similar. Após a expulsão do concílio de Ário e dois bipos que o acompanharam, a doutrina de Ário ainda teve apoio por algumas décadas, numa situação em que o diácono de Alexandria, Atanásio, que se fez Bispo, começou a enfrentar o pensamento de Ário, em meio a um conflito bastante importante que ocorria na igreja do Oriente, acerca deste tema. A decisão final veio com a confirmação das decisões de Nicéia no Concílio de Constantinopla, ocorrido em 381. Observe que "o Concílio de Niceia foi convocado tanto para estabelecer uma questão teológica quanto para servir de precedente para questões da igreja e do Estado." (p. 38-40, Curtis, 2003). "O Credo Niceno é a versão mais longa do credo (mais especificamente conhecido como "Credo Niceno Constantinopolitano"), que inclui um conteúdo adicional relacionado à pessoa de Cristo e à obra do Espírito Santo... esse credo introduz fortes declarações acerca de sua unidade com Deus, incluindo as expressões "Deus de Deus" e "consubstancial ao Pai". Como parte integrante de sua polêmica contra os arianos, o Concilio de Nicéia (junho/325) formulou uma breve declaração de fé, fundamentada em um credo batismal, adotado em Jerusalém. Esse credo pretendia afirmar a plena divindade de Cristo, em oposição ao entendimento dos arianos, que defendiam sua condição de criatura, e incluía quatro condenações explícitas às perspectivas arianas, bem como três artigos de fé." (McGrath, p. 55, 2005). "As duas naturezas de Cristo". "As duas doutrinas, em relação às quais pode-se afirmar que o período patrístico deu uma contribuição decisiva, referem-se à pessoa de Cristo (... Cristologia) e à natureza de Deus. Essas duas doutrinas estão organicamente ligadas uma à outra. Até o ano 325, a igreja primitiva havia chegado à conclusão de que Jesus era "um em substância" (homoousios) com Deus. (um em existência, ou consubstancial). As implicações dessa afirmação cristológica eram duas: em primeiro lugar, consolidava, sob o ponto de vista intelectual, a importância espiritual de Jesus para os cristãos; porém, em segundo lugar, representava um poderoso desafio às concepções simplistas de Deus. Pois se Jesus é considerado como aquele que "é um em substância" com Deus, então toda a doutrina sobre Deus deve ser revista à luz dessa crença. Por esse motivo, o desenvolvimento histórico da doutrina da Trindade é considerado posterior ao surgimento de um consenso cristológico no seio da igreja." (McGrath, p. 56, 2005). A CONTROVÉRSIA ARIANA. "Ário enfatiza a auto-subsistência de Deus. Deus é a única fonte de toda a criação; nada existe que basicavamente não seja derivado de Deus. Esta visão de Deus, que muitos comentaristas sugeriram ser devido muito mais à filosofia helenística do que à teologia cristã, claramente levanta a questão da relação do Pai com o Filho. Atanásio, crítico de Ário, em sua obra Against the Arians (Contra os arianos), retrata-o como responsável pelas seguintes afirmações em relação a esta questão: "Deus nem sempre foi Deus pai. Houve um tempo em que Deus estava só e não era ainda Deus Pai. Somente mais tarde ele tornou-se Deus Pai. O Filho nem sempre existiu. Todas as coisas foram criadas do nada... assim, o Logos de Deus veio a existir do nada. Houve um tempo em que ele não era. Antes de ele vir a ser, ele não existia. Sua existência também teve um início." Essas declarações são extremamente importantes e trazem-nos ao cerne do arianismo... O Pai é considerado como aquele que existia antes do Filho. "Houve um tempo em que ele não era". Esta afirmação decisiva situa o Pai e o Filho em posições diferentes, sendo consistente com a rigorosa insistência de Ário de que o Filho é uma criatura. Apenas o Pai "não foi gerado"; o Filho, como todas as outras criaturas, deriva-se dessa única fonte de existência... o Filho não é como qualquer outra criatura. Há uma distinção de posição entre o Filho e as demais criaturas, incluindo os seres humanos... Um importante aspecto da distinção que Ário faz entre o Pai e o Filho diz respeito à incapacidade de conhecer a Deus... Ário reforça sua lógica defendendo que o Filho não pode conhecer ao Pai: "Aquele que tem um princípio não está em posição de compreender ou entender aquele que não o tem."... Tal é a distância estabelecida entre eles, que o Filho por si mesmo não pode conhecer o Pai. Em comum com todas as outras criaturas, o Filho é dependente da graça de Deus, se ele (o Filho) tiver de executar a função, qualquer que seja ela, que lhe for atribuída. São considerações como essas que levaram os críticos de Ário a defender que, no âmbito da revelação e da salvação, o Filho está precisamente na mesma posição que as outras criaturas... Os oponentes de Ário eram facilmente capazes de apresentar uma série de passagens bíblicas que apontavam para a unidade fundamental entre o Pai e o Filho. Fundamentado na controvertida literatura do período, fica claro que o quarto evangelho era de muita importância nesse debate, sendo as passagens de João 3.35; 10.30; 14.10; 17.3 e 17.11, frequentemente debatidas. (...) Atanásio tinha pouco tempo para as diferenças sutis de Ário... Para Atanásio, a afirmação de que Jesus Cristo era uma criatura tinha duas consequências decisivas, cada qual com implicações igualmente negativas para o arianismo. Primeiro, Atanásio defende que somente Deus é capaz de salvar. Deus, e somente Deus, pode romper o poder do pecado e trazer-nos a vida eterna. Uma característica essencial da criatura reside em sua necessidade de redenção. Nenhuma criatura pode salvar uma outra. Apenas o criador pode redimir a criação. Tendo enfatizado que somente Deus pode salvar, Atanásio elabora assim um raciocínio difícil de ser rebatido pelo arianismo. O Novo Testamento e a tradição litúrgica cristã consideram Jesus como Salvador. Entretanto, como Atanásio enfatizou, apenas Deus pode salvar. Assim, como podemos compreender isso? A única solução possível, conforme defende Atanásio, é aceitar que Jesus é Deus encarnado. A lógica de seu argumento é a seguinte: 1. Nenhuma criatura pode redimir uma outra criatura. 2. De acordo com Ário, Jesus Cristo é uma criatura. 3. Portanto, de acordo com Ário, Jesus Cristo não pode redimir a humanidade. (a seguir, argumentos da Escritura e tradição) 1. Somente Deus pode salvar. 2. Jesus Cristo salva. 3. Portanto Jesus Cristo é Deus. A salvação, para Atanásio, envolve a intervenção divina. Atanásio, portanto, interpreta João 1.14 argumentando que "a Palavra tornou-se carne": em outras palavras, Deus assumiu a condição humana, com a finalidade de transforma-la. O segundo ponto defendido por Atanásio é que os cristãos oram e adoram a Jesus Cristo. Para a teologia cristã, isso representa um excelente exemplo da importância das práticas cristãs relativas à adoração e à oração. Até o século IV, a oração e o culto a Cristo eram características comuns da maneira pela qual o culto público acontecia... Atanásio, desse modo, argumenta que Ário parece culpado de tornar o modo de orar e de adorar dos cristãos em algo sem sentido. Ele argumenta ainda, que os cristãos estavam corretos ao adorar Jesus Cristo, porque ao fazê-lo, eles o reconheciam por aquilo que ele era: o Deus encarnado. A controvérsia ariana teve de ser resolvida de alguma maneira, para que a paz fosse estabelecida no interior da igreja. O debate veio a concentrar-se em torno de dois termos, como possíveis descrições da relação do Pai com o Filho. O termo homoiousios, "de substância similar", era visto por muitos como um acordo sensato, permitindo que a proximidade entre o Pai e o Filho fosse assegurada sem requerer qualquer especulação adicional sobre a precisa natureza dessa relação. Entretanto, o temo rival homoousios, "da mesma substância" ou "da mesma essência", eventualmente veio a destacar-se... Este último incorpora um entendimento bastante diferente da relação entre o Pai e o Filho... O Credo Niceno... de 381, declarava que Cristo era "da mesma substância" que o Pai. Essa afirmação veio a ser, desde essa época, amplamente considerada como um marco da ortodoxia cristológica no âmbito das principais igrejas cristãs, quer protestantes, quer católicas, quer ortodoxas." (Mcgrath, p. 414-417, 2005). "Concílios. O Concílio de Nicéia (325) foi convocado por Constantino, o primeiro imperador cristão, a fim de solucionar os desentendimentos cristológicos que desestabilizavam seu império. Esse foi o primeiro "concílio ecumênico" (isto é, uma assembléia de bispos vindos de todo o mundo cristão, cujas decisões eram tidas pelas igrejas como normativas). O Concílio de Nicéia... pôs fiz à controvérsia ariana, declarando que Jesus era homoousios ("um em existência" ou "um em substância") com o Pai, rejeitando, portanto, a posição ariana, em favor de uma veemente afirmação da divindade de Cristo. O Concílio de Caldeônia (451), foi o quarto concílio ecumênico, confirmou as decisões tomadas no Concílio de Nicéia e respondeu a novas polêmicas a respeito da humanidade de Cristo, que haviam surgido posteriormente." (McGrath, p. 57, 2005). CREDO APOSTÓLICO. Declarações. Conceitos. CREIO. 1. "Fé" significa aceitação. Ter fé é crer que determinadas coisas são verdadeiras. "Creio em Deus" significa "acredito que existe um Deus" ou "em minha opinião, Deus existe". (...) 2. "Fé" significa confiança. Quando declaro que "Creio em Jesus Cristo", não estou apenas dizendo que em certa época houve um homem chamado Jesus. Estou anunciando minha confiança nele... A fé é o modo que o nosso ser inteiro se comporta em relação à pessoa de Deus... A fé diz sim a Deus. É uma decisão, um ato deliberado de confiar em Deus. Os cristãos não apenas creem - eles creem em alguém. (...) 3. "Fé" significa compromisso... Quando os cristãos convertidos declaravam que criam em Deus, em Jesus Cristo e no Espírito Santo, professavam publicamente seu compromisso com o evangelho... "Creio em Deus" significa "assumi um compromisso com Deus". Acreditar em Deus é pertencer a ele. De modo reiterado, as Escrituras nos estimulam a pensar em nossa fé como uma relação pessoal com Deus... 4. "Fé" é obediência... Paulo fala de forma enfática sobre "a obediência que vem pela fé" (Rm 1.5). (Rm 1.8 e 16.19)... Somos chamados para praticar, e não apenas ouvir a Palavra de Deus (Tg 1.22; 2.14-20). DEUS PAI TODO PODEROSO. "O Pai todo-poderoso". "1. Deus. Quando fala de Deus, o Credo se refere ao "Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Pe 1.3). Não está tratando de um conceito filosófico de Deus, mas do Deus que se revelou nas Escrituras e, de modo extraordinário, em Jesus Cristo. Não se refere a uma noção abstrata de Deus, mas ao Deus vivo e pessoal a quem os cristãos cultuam e adoram." (...) 2. Pai. Qualquer ideia de Deus de um ente ou força impessoal é imediatamente descartada quando nos referimos a Deus como "Pai". A Oração do Senhor (ou Pai-Nosso) talvez seja o exemplo mais conhecido de Deus sendo tratado dessa maneira (Mt 6.9), apesar do tratamento Aba ser mais íntimo (Mc 14.36; Rm 8.15; Gl 4.6). (...) A afirmação "Deus é nosso pai" significa que Deus é semelhante a um pai humano. Em outras palavras, Deus tem ações análogas às de um pai. Em alguns aspectos, se parece com um pai humano, noutros, não. Existem pontos de semelhança genuínos. Deus toma conta de nós, assim como um pai humano toma conta de seus filhos. (v. Mt 7.9-11). Deus é a origem suprema de nossa existência, assim como nossos pais nos deram origem. (a imagem do Pai celestial também está em nós, o Senhor Deus exerce autoridade sobre nós, Ele sabe nossas fraquezas e dificuldades)... Todavia, também há pontos verdadeiramente distintos. Falar de Deus como "Pai" não quer dizer que ele é um ser humano, por exemplo. Nem tampouco a necessidade de uma mãe humana indica a necessidade de uma mãe divina. Deus se revela em imagens e ideias associadas ao mundo de nossa existência cotidiana, mas isso não o reduz a este nosso mundo cotidiano... É uma analogia... Ainda assim, é um modo extremamente expressivo e útil de pensar em Deus. (...) 3. Todo Poderoso. (todo poder e autoridade deste mundo originam de Deus, e todos são responsáveis diante de Deus pelo que são e fazem, e o que é impossível ao homem é possível a Deus, e a fidelidade de Deus é garantida por seu poder). Criador dos céus e da terra. Dizer que Deus é "nosso Pai" é falar de sua autoridade e seu cuidado, mas também é falar de seu poder criador. Existimos porque Deus nos criou. Tudo que vemos no mundo foi criado por Deus e pertence a ele... O universo reflete a sabedoria, o poder e a majestade do Deus que o criou. (Rm 1.20). (Porém, o conhecimento de Deus na natureza é limitado, de forma que as Escrituras anunciam a verdade do Senhor e Jesus revela a expressão exata do Ser de Deus). "A suprema manifestação do contínuo cuidado e envolvimento de Deus com sua criação é seu ato de redenção em Jesus Cristo. A criação é o palco em que se encena o grande drama da redenção. Ao nos redimir, Deus entrou como um de nós no mundo que criou (Jo 1.14). O prólogo do Evangelho de João (Jo 1.1-18) deixa claro que a obra da redenção está intimamente ligada à da criação. Deus não abandonou suas criaturas depois do pecado." (...) Pensar em Deus como Pai é muito útil no que diz respeito à oração (Mt 7.9-11)... Reconhecer que o mundo pertence a Deus tem importantes implicações para o entendimento de nossas responsabilidades neste planeta. Fomos colocados na criação de Deus para cuidar dela e cultivá-la (Gn 2.15)." (McGrath, p. 21 a 42, 2013). Sobre o conhecimento e declarações acerca de Deus no Credo Apostólico, segue pensamento de John Stott, sobre o Deus Criador, Sustentador, Soberano, Pai e Juiz. No destaque de entendimento de Stott sobre a pregação do Apóstolo Paulo em Atenas (Atos 17), anotamos certas perspectivas de conhecimento e da comunicação das verdades da Pessoa de Deus. Conforme Sott, Paulo "proclamou Deus em sua plenitude, como Criador, Sustentador, Soberano, Pai e Juiz. Tudo isso é parte, ou, no mínimo uma introdução necessária ao evangelho. Muitas pessoas tem rejeitado o evangelho não por entenderem que ele é falso, mas por considerarem sua mensagem trivial. Elas estão à procura de uma visão de mundo integrada, que faça sentido à sua experiência de vida. Paulo nos ensina que não podemos pregar o evangelho de Jesus separado da doutrina de Deus, ou falar da cruz sem falar da criação, ou da salvação sem o juízo, e vice-versa." (2007, p. 334). REFERÊNCIAS. MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. Shedd publicações. tradução Marisa de Siqueira Lopes. São Paulo, 2005. MCGRATH, Alister. Creio. Um estudo sobre as verdades essenciais da fé cristã no Credo Apostólico. São Paulo, Vida Nova, 2013. STOTT, John. A Bíblia toda o ano todo. São Paulo, 2007. Curtis, A kenneth, Lang, J Stephen e Petersen, Randy. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo. Editora Vida, São Paulo, 2003. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana.