quinta-feira, 24 de maio de 2018

A Espiritualidade da AÇÃO SOCIAL e CIDADANIA, no Cinema: O QUARTO SÁBIO.

E se houvesse um quarto Rei Mago seguindo a estrela de Belém para descobrir o local de nascimento do Messias? Outro sábio da antiga Pérsia, que saiu atrasado, e não conseguiu encontrar os outros três, Melquior, Baltasar e Gaspar? Seguindo esta ideia, o filme "O Quarto Sábio", baseado no clássico de Henry Van Dyke traz reflexões interessantes sobre as buscas espirituais da humanidade. O negócio é que a história dos Reis Magos origina da Bíblia, pois foi o evangelista Mateus que anotou a visita de dois deles, ao recém-nascido Jesus de Nazaré. Que viraram três, devido ao número de presentes. E a expressão "sábio", que dá título ao filme expressa bem a personalidade destes homens. Eles seriam astrônomos e filósofos que buscavam conhecimento adiante da ciência comum. Um desejo que os levou a seguir uma estrela do Oriente para Jerusalém, e depois até a cidade de Belém. Eis o enredo básico do provocante filme "O Quarto Sábio" (The Fourth Wise Man), com Martin Sheen e Alan Arkin, e direção de Michael Ray Rhodes; lançado em 1985. A sinopse do site (adoro.cinema) apresenta dados da história: "Artaban (Martin Sheen) é um jovem sábio que deseja seguir a Estrela de Belém para prestigiar o bebê que está sendo chamado de Rei dos Judeus. Contrariando amigos e família, ele tenta seguir os outros três Reis Magos que estão em caravana para conhecer o menino Jesus, mas acaba se perdendo. Em sua jornada para reencontrar o caminho rumo à Belém, Artaban acaba usando suas riquezas para ajudar os mais necessitados...". É isso! O "Quarto Sábio" Artaban saiu de casa com a sacola cheia de presentes para o Messias, e acabou gastando tudo em ações sociais para transformar a vida de uma aldeia humilde. Um drama de cinema que, ao relacionar busca espiritual e ação social ajuda-nos a pensar sobre a proximidade existencial que há entre fazer o bem e tratar os vazios de nossa alma. Afinal, não é de hoje que praticar atos de caridade amadurece a personalidade social e também enriquece a alma espiritual, da gente. Eis a razão porque "amar ao próximo" e realizar ações sociais são vivências integradas desde sempre, como se fora uma virtude da espiritualidade de quase todo mundo. Uma realidade que encontra boa ilustração na história do Quarto Sábio. Pois, ao se perder na viagem até Belém pra participar da chegada ao mundo do Messias prometido; que é um anseio espiritual, Artaban vai vivenciar grande amadurecimento ao partilhar da história de uma comunidade de necessitados; que é um anseio existencial. E vice-versa. Essa integração entre valores espirituais e existenciais que as religiões relacionam desde sempre, tem sido uma experiência unificada que orienta regularmente as vivências da alma dos homens. Sejam as ações sociais bastante planejadas ou ainda, os atos de caridade bem particulares, o fato é que ambos surgem na história para preencher o vazio da gente com mais amor e também, para limitar nosso egoísmo. Mas tem mais. O aprendizado espiritual que relaciona espiritualidade e caridade só aumenta quando "ouvimos" a teologia, conforme vemos na história do Quarto Sábio. Quando Artaban segue atrás do sentido da vida, buscando encontrar o Messias das profecias numa peculiar jornada existencial, que acaba por desafia-lo a descobrir o amor superior de Deus; bem, aqui está uma mensagem essencial do Cristianismo. Pois o maior dos mandamentos do Profeta Jesus é tanto "amar" a Deus, como "amar" o próximo. Um conceito profundo que o próprio Jesus tratou de praticar a vida inteira no propósito de esclarecer seu significado aos homens. Para Jesus, somente após ocorrer um primeiro encontro do nosso espírito com a Pessoa amorosa de Deus é que seremos capazes de amar o próximo de maneira saudável. Sendo algo que será bom para nós e pra todo mundo. Eis o modo em que Jesus integra religião (religação do homem com Deus) e caridade (aproximação dos homens entre si)! Daí pra frente, o negócio é partir para o abraço, com Deus e o próximo. Pois uma verdade se realiza na outra. Neste sentido, a mensagem cristã vai ensinar que os nossos atos de caridade devem prosperar até se tornarem atividades integrais de ação social. E até mais do que isso, pois são a base moral de um compromisso espiritual humano para assumir a co-responsabilidade da manutenção existencial da sociedade e todo planeta. Tá entendendo... Ou seja, na mensagem cristã não há diferença de valor entre praticar atos de caridade e realizar ações de cidadania; que são aquelas atividades que existem para construir uma sociedade mais justa e aprazível pra todo mundo. Um princípio que a teologia define como "mandato cultural". Pensamento que convoca os religiosos a assumirem uma cidadania integral, seja na educação e artes, na profissão e política, na família e parentela. Até que tudo e todos sejam plenamente "abençoados" por nossos dons e talentos na convivência social. Por que, não? Eis a boa reflexão espiritual que o filme "Quarto Sábio" traz pra todos nós, pois o mandato cultural que convoca os espirituais a desenvolverem uma cidadania bendita junto da sociedade, também é um compromisso de "fé" aos cristãos. No entanto, é comum perceber cristãos e outros religiosos, assumirem seu compromisso cultural em detrimento de sua própria fé. Eles se tornam só profissionais competentes e bons cidadãos, ao mesmo tempo em que deixam de lado a sua devoção religiosa e virtude espiritual. Grave engano que acaba afastando o cidadão tanto de Deus, como do próximo! Cuide-se, então, e aproveite pra amadurecer todo sentimento caridoso que leva no coração. Sabendo que a boa compaixão que o chama pra entregar um pedaço de pão ao homem da esquina, será parte também de uma bela amizade com Deus. Pois a espiritualidade das ações sociais é uma mensagem mais profunda do que somente praticar boas obras em obediência a um valor religioso ou filosófico. Sim, a compaixao da caridade é uma sensibilidade da alma que anseia por um relacionamento espiritual transformador. Algo capaz de nos mover para abençoar de verdade, toda humanidade! Bom filme. Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor de ciências da religião e teologia, ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atuando na gestão de ações sociais e evangelização.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

a ESPIRITUALIDADE no Cinema: PAULO, APÓSTOLO de CRISTO

O diretor italiano Sergio Leone (Era uma vez no Oeste) foi um dos maiores cineastas da segunda metade do século 20 e certa vez definiu com as seguintes palavras seu estilo autoral: "Conto fábulas: é um excelente modo de se chegar o mais próximo da verdade." É isso. O filme PAULO, APÓSTOLO DE CRISTO (Drama, EUA, 2018) é uma fábula sim, plenamente espiritual! Mas a razão não é porque as palavras do Apóstolo Paulo ditas no filme não sejam verdadeiras, nem tampouco porque as situações ali vivenciadas pelos cristãos não sejam coerentes com a realidade do cristianismo do primeiro século. Não se trata disso. Ao contrário, as declarações de Paulo e a perseguição aos cristãos no filme são exatamente aquelas que o evangelista Lucas e os historiadores romanos anotaram a partir de pesquisas científicas dignas do nome. No entanto, como o talentoso diretor e roteirista Andrew Hyatt decidiu contar em menos de duas de horas de cinema a essencial história espiritual do cristianismo primitivo, e ainda aproveitou para destacar a liderança do mais místico e doutrinal líder cristão do primeiro século, bem - eis aqui um enredo que tomou forma através de uma objetiva integração de experiências cristãs atemporais junto de um contexto cultural e religioso diverso, tudo no objetivo de transmitir em pouco tempo uma rica história de décadas, de fé. Enfim, o diretor conseguiu! A perspectiva espiritual do filme se esclarece pela frase existencial que o Apóstolo São Paulo utilizava para explicar seu relacionamento cotidiano com a pessoa do próprio Deus do Universo: "O justo viverá pela fé." Que também pode ser entendido como "um homem que anda junto de Deus enquanto vive." Pois Paulo de Tarso começou a experimentar aquela convivência entre Deus e os seres humanos que a teologia ensina ser o resultado da reconciliação que toda religião do planeta busca concretizar. E dentro deste entendimento, eis como duas sinopses apresentam a essência da história deste mais novo filme religioso em cartaz: "Paulo (James Faulkner) era conhecido como um dos perseguidores de cristãos mais cruel de seu tempo. Mas tudo muda quando ele tem um encontro com o próprio Jesus. A partir desse momento, esse jovem se torna um dos apóstolos mais influentes do cristianismo."(sinopses) "A trama espera bastante tempo para fornecer alguns flashbacks explicando em linhas gerais a trajetória de Paulo, que perseguiu os cristãos até encontrar o amor de Jesus."(www.adorocinema) O fato é que as religiões surgiram na história da humanidade no propósito de realizar uma reconciliação (religião significa religação) dos seres humanos físico-espirituais junto da pessoa espiritual de Deus. E nos dicionários mais comuns, Reconciliação "é o ato ou efeito de reconciliar-se", e "ato de restituir a harmonia ou tornar novamente amigável"; enquanto que na teologia cristã, "a reconciliação é o fim da separação entre Deus e a humanidade causada pelo Pecado Original - num restabelecimento de relações". O roteiro desenvolve então, os efeitos desta reconciliação religiosa na vida de Paulo através de uma narração pessoal do Apóstolo enquanto se encontra preso em Roma, vítima que foi da perseguição aos cristãos determinada pelo Imperador Nero. Uma história igualmente compartilhada pelo evangelista Lucas no filme, discípulo cristão que se tornou amigo de Paulo e que descreveu sua caminhada espiritual no livro bíblico de Atos dos Apóstolos, a partir de um olhar científico da história e segundo uma visão teológica das situações narradas. A proposta básica do enredo é que as idas e vindas ao passado e presente da história de São Paulo, junto de situações que revelam o contexto vivencial dos cristãos e dos romanos à época da perseguição, promovam uma boa interação do espectador aos dramas religiosos protagonizados pelo Apóstolo. Eis uma árdua tarefa técnica que o diretor realizou dignamente a partir de um estilo autoral que vale, sim, uma reflexão cinematográfica. Pois o protagonismo do filme escapa da pessoa de Paulo e passa adiante dos fiéis resultando numa instigante valorização da Pessoa de Jesus e seus ensinamentos - opção dramática que São Paulo assinaria embaixo. Mas, enfim, o que transparece gravemente no filme, fazendo jus à espiritualidade do mais místico líder cristão do Novo Testamento, é a fundamental transformação existencial da personalidade e do sentido da vida do Apóstolo. Tudo a partir de uma conversão oriunda da interessante experiência de reconciliação espiritual e justificação religiosa que Paulo vivenciou na estrada de Damasco, região da Síria, no ano de 34 d.C., na presença do Espírito de Jesus, o Messias. Pois como oportunamente anotaram as sinopses acima e a crítica abaixo em destaque, o religioso eficaz que antes perseguia cristãos até à morte - tornou-se ele próprio um seguidor de Jesus Cristo. Uma mudança de rumo existencial ocorrida via um encontro pessoal gerador de um relacionamento espiritual que tornou-se uma fonte contínua de transformação da personalidade interior do Apóstolo. Ufa. Haja religião (religação) espiritual natural, hein... Pois, afinal, tais transformações originaram do básico encontro e do posterior relacionamento - ambos místicos, de Paulo. Sendo que "místico" é expressão que intitula um encontro existencial que acontece entre dois espíritos de seres pessoais distintos. E o relacionamento espiritual místico do Apóstolo Paulo ocorreu exatamente através dos contatos que vivenciou junto de dois espíritos: primeiro, no encontro que teve com o Espírito de Jesus Cristo, na estrada de Damasco. E, logo depois, pelo encontro que se tornou um relacionamento constante no restante de sua vida na Terra, junto da pessoa do Espírito Santo de Deus. Eis então, a experiência inicial e o relacionamento posterior duradouro que são a razão de considerarmos São Paulo o maior místico do Novo Testamento - pois a marca essencial de sua vida passou a ser uma convivência diária com o Espírito Santo em seu ser interior, no espírito. Portanto, é a integral "reconciliação" espiritual que ocorre entre a pessoa de Paulo e a pessoa de Deus que vai transformar um religioso-legalista em espiritual, um ser apaixonado e mordaz em alguém amoroso e disciplinador, e que vai moldar um homem ideólogo e ansioso em uma pessoa idealista e satisfeita, fazendo com que deixe de agir como um ser julgador e mortal até se tornar uma alma perdoadora e pacificadora. O homem passou a carregar em sua pessoa interior um edificante ser espiritual celestial gerador de uma nova existência pessoal para si, sem que isto fizesse sua personalidade perder-se dele mesmo. Ao contrário, o Apóstolo finalmente "se achou" consigo próprio, pois passou a obedecer intimamente as regras da lei que sempre considerou as mais essenciais de sua religião. Uma novidade de vida tão extraordinária que não passou em branco quando da crítica ao filme realizada pela revista Preview, de abril/2018: "Na prisão, (Paulo) recebe o discípulo e médico Lucas, para quem narra sua transformação de cruel assassino dos seguidores de Jesus em um dos maiores difusores do Cristianismo... É uma produção pouco ambiciosa, mas emociona e tem valor histórico." Aproveite o filme não apenas pra se emocionar, mas especialmente, para mover sua busca existencial atrás de logo vivenciar uma experiência "religiosa" tão saudável de reconciliação espiritual quanto a que viveu Paulo, o Apóstolo de Cristo. E não esqueça de ficar bem atento ao final da história, pois todas as pessoas espirituais do mundo que desejam saber como foi o reencontro de Jesus e do ladrão no reino dos céus poucas horas após a morte de ambos aqui na Terra; então, isto logo saberão a partir de uma magnífica cena que ocorre nos minutos derradeiros deste belo filme. Vale a pena!

terça-feira, 8 de maio de 2018

a ESPIRITUALIDADE no Cinema: O RESGATE DO SOLDADO RYAN

O talentoso cineasta Steven Spielberg levou o OSCAR de direção em 1999 com este drama militar em que um grupo de soldados liderados pelo capitão Miller (Tom Hanks) assume uma só missão durante a retomada da Europa das mãos dos nazistas: eles devem resgatar o último sobrevivente (Matt Damon) de quatro soldados da família Ryan, pois três dos irmãos já morreram nas batalhas da II guerra. Eis o argumento do clássico filme de guerra "O Resgate do Soldado Ryan", USA/1988, que dramatizou a mais midiática batalha de guerra do cinema ao apresentar o desembarque dos aliados na Normandia em 1944 como um épico realista inigualável. E já que falamos de Espiritualidade por aqui, eis que a palavra "Resgate" traz consigo a ideia de uma ação ou atividade que é impossível de ser realizada pelo resgatado - ou seja, alguém terá que praticar esta boa ação por ele. Trata-se de uma conquista que depende totalmente daqueles que irão protagonizar o resgate, restando ao condenado somente aguardar a chegada de seus salvadores. E a ocorrência de um "resgate" espiritual é exatamente a experiência principal da Páscoa dos Cristãos, pois nesta a morte do cordeiro sacrificado é que irá resgatar milhões de seres humanos de seu traçado destino de morte. Trata-se de um resgate realizado por um ato de "substituição", afinal, de tal forma que assim que os cordeiros morrem, os homens antes condenados à perecer são consequentemente resgatados e livres de experimentar tal condenação existencial. Um projeto de resgate sacrificial que o Capitão Miller igualmente protagoniza como o amadurecido líder da missão urgente que assume ao liderar um pelotão de soldados em meio à Europa incendiada pela batalha mor da II guerra mundial. Uma atuação que lhe valia outro Oscar! E o ator Tom Hanks preenche sua personalidade com algumas posturas éticas que o aproximam daquelas que edificam as melhores ações espirituais entre os homens. Pois o sacrifício ao qual se dispõe é abraçado por ele integralmente assim que se dedica ao mesmo de corpo e alma. Dá até pra dizer que o (bom) capitão é um voluntário para o que der e vier, apresentando uma personalidade militar sacerdotal interessante, até pela maneira com que finaliza sua missão junto do soldado Ryan, ao desafia-lo à uma vida digna. Valores éticos de uma liderança existencial que observamos grandemente na própria Pessoa essencial da Páscoa Cristã - sim, Jesus de Nazaré também entregou-se às torturas e morte da Sexta-feira da Paixão em atitude consciente e voluntária: "Ninguém tira a minha vida de mim, eu a dou livremente", esclareceu ele na biografia autorizada do Apóstolo João. As razões de Jesus Cristo ter assumido tal sacrifício mortal-espiritual a fim de que os homens de fé não continuassem mortos na eternidade, origina das perspectivas transcendentais de sua experiência de vida terrena enquanto o homem celestial que vêm libertar a humanidade por aqui. Pois o que Jesus veio resgatar essencialmente não foi a natureza e criação ou o governo dominante desta época, mas sim, as próprias almas dos homens. Daí que pra realizar este peculiar resgate era necessário livrar a espécie humana de sua permanente experiência natural de morte, além desta vida. Jesus, então, teve que morrer exatamente pra "matar" a força da morte em si mesmo enquanto um ser humano, livrando assim a humanidade de continuar padecendo sob esta miséria, continuamente. E do mesmo modo com que o Capitão Miller desafia o jovem Ryan a abraçar ferozmente a experiência de uma vida virtuosa a partir dali - oportunidade existencial que lhe foi possível somente a partir do sacrifício de quase todo um pelotão; igualmente Jesus convoca os Cristãos no Domingo de Páscoa para que conheçam (desde já) as vivências excepcionais da Ressurreição da maneira de viver dos homens. Assim como a frase do capitão Miller é simples e direta para Ryan: "Faça valer a pena!"; da mesma forma Jesus convoca seus fiéis a "celebrarem a sua salvação da morte", vivendo desde agora como sal e luz entre os homens, fazendo brilhar uma experiência de vida humana gerada a partir da própria Personalidade de Deus. Eis aquele momento na história em que o resgate por sacrifício chamado Páscoa torce o destino da humanidade assumindo a morte sobre si para que milhares e milhões descubram uma vida, nova. Bom filme!