sexta-feira, 28 de julho de 2023

APOLOGÉTICA Texto 1. Resumo e citações. Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Apologética do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2024. AULA 1. Conceito e Introdução. LIVRO. Apologética pura & simples. Como levar os que buscam e os que duvidam a encontrar a fé. Alister McGrath. Ed Vida Nova, São Paulo, 1 ed, 2013. CITAÇÕES. "Este livro é uma introdução à apologética, campo do pensamento cristão que se debruça sobre os temas fundamentais da fé cristã e estuda sua transmissão eficaz ao mundo não cristão." (p. 9). "A apologética tem por objetivo converter crentes em pensadores e pensadores em crentes. Ela cativa a razão, a imaginação e nossos anseios mais profundos. Abre corações, olhos e mentes." (p. 9). "Quem abre a mente, assim como quem abre a boca, quer encontrar algo sólido ao fechá-la." (Chesterton G. K. 1936, p. 29, p. 9). "A apologética celebra e proclama a solidez intelectual, a riqueza imaginativa e a profundidade espiritual do evangelho, de tal modo que possibilita a interação com a cultura." (p. 9). A apologética deve ser vista como oportunidade de comunicação de ideias virtuosas, ao invés de ocasião de confronto e conflito. É uma oportunidade para apresentar o conteúdo rico e profundo do pensamento cristão acerca da racionalidade, moralidade e relacionamentos da fé. O livro de McGrath tem objetivo de expor princípios e estratégias básicas da apologética, sem se preocupar em contrapor conceitos distintos e variados do tema, mas tem o interesse de oferecer amplo conhecimento do assunto desenvolvido por diversos pensadores. "Sob muitos aspectos, a estratégia adotada aqui lembra a de C. S. Lewis (1898-1963), talvez o maior apologeta do século 20. Nosso propósito é ajudar o leitor a ter uma ideia das objeções que se colocam à fé e de que maneira o cristão pode responder a elas." (p. 10). O QUE É APOLOGÉTICA? "Ide, fazei discípulos de todas as nações" segue sendo a Comissão maior dada aos cristãos, e cada geração tem o desafio e oportunidade de desenvolve-la em seu tempo e junto das pessoas com quem convive. Diante de tão grande tarefa, devemos olhar para o Senhor Deus que nos sonda e conhece, sabendo que Ele irá agir através e junto de nossos pontos fracos e fortes acerca da realização da Grande Comissão. "A Grande Comissão inclui tanto uma ordem quanto uma promessa. A ordem do Cristo ressuscitado a seus discípulos é, a um só tempo, ousada e desafiadora: "...ide, fazei discípulos de todas as nações..." (Mt 28.19). Sua promessa àqueles discípulos igualmente tranquiliza e encoraja: "... e eu estou convosco todos os dias, até o final dos tempos" (Mt. 28.20). São palavras de grande consolo. Não estamos sós. O Cristo ressurreto está ao nosso lado, caminha conosco, e a nós cabe fazer o melhor que pudermos para transmitir e irradiar a boa-nova de quem Cristo é e do que ele fez por nós." (p. 9-10). No entanto, eis a questão: "Como poderíamos transmitir à altura o entusiasmo, a alegria e a admiração que o evangelho cristão nos proporciona?" (p. 12). Como expor a fé cristã para quem está fora da Igreja? Como agir e atuar diante do conhecimento falso e corrompido que podemos perceber acerca do Evangelho? "Como comunicar à nossa cultura a verdade, os atrativos e a alegria do evangelho cristão? São perguntas que desde os tempos do Novo Testamento tem ocupado a atenção dos cristãos. É disso que trata, tradicionalmente, a disciplina da Apologética, assunto deste livro." (p. 12). DEFINIÇÃO DE APOLOGÉTICA. Agostinho de Hipona gastou algum tempo refletindo sobre o valor e condição das palavras, "três pessoas, um Deus", serem as melhores para expressar a doutrina da Trindade. Pensou que deveria haver algum modo melhor de falar da natureza de Deus do que usar "pessoas"; até que entendeu que essa expressão era a mais adequada que poderia existir. O mesmo ocorre com a palavra "Apologética, que muitos pensadores buscaram modificar por bom tempo, mas segue sendo o melhor termo para o nosso conteúdo. "Contribui muito para a compreensão do significado do termo "apologética" quando levamos em conta o sentido da palavra grega da qual ela provém: apologia". (p. 13). Apologia tem relação com o conteúdo que se declara num tribunal para defesa de alguém, e para apresentar o modo em que uma crença está correta. A declaração bíblica tradicional está em 1 Pedro 3.15-16a. Essa carta tinha por destinatários aos crentes da Ásia Menor (Turquia), no propósito de oferecer tranquilidade diante das ameaças de perseguição, vindo a motivar os cristãos "a interagir com seus críticos e com quem os questiona, e assim explicar a essas pessoas a base e o conteúdo de sua fé com mansidão e temor, isto é, com delicadeza e respeito." (p. 13). O Apóstolo Pedro entende que a apologética é um instrumento de defesa da fé através de um diálogo educado, e por isso não deve gerar confronto ou desprezo para com quem se fala, devendo ser uma conversação capaz de "abrir seus olhos para a realidade, a confiabilidade e a relevância da fé cristã." (p. 13). "Não deve haver incompatibilidade ou contradição entre a mensagem proclamada e o tom da proclamação do mensageiro. (...) O evangelho só deve causar dificuldades por sua natureza e conteúdo intrínsecos, não pela maneira em que é anunciado" (p. 14). Há uma diferença entre o evangelho ser o motivo de causar uma ofensa, ou da atitude de seus comunicadores serem o motivo de ofender as pessoas. "O Novo Testamento apresenta diversas passagens importantes - principalmente em Atos dos Apóstolos - em que a fé cristã é explicada, enaltecida e defendida perante públicos diversos." Seja no Sermão de Pedro em Atos 2 no Pentecostes, seja na mensagem de Paulo aos filósofos em Atenas, em Atos 17. A história da Igreja observa esse modelo sendo seguido, como fizeram os pais da Igreja em sua tentativa de diálogo com o platonismo: "para se dirigir a essas pessoas, era preciso identificar as possibilidades e os desafios, explorando, em seguida, essas mesmas possibilidades e neutralizando os desafios." A partir da valorização de Aristóteles, entre os séculos 13 e 16, os pensadores cristãos moveram-se diante deste modelo de reflexão, anotando suas dificuldades - "a crença na eternidade do mundo" - e utilizando certas possibilidades que o aristotelismo oferecia; sendo algo que devemos refletir e desenvolver diante das dificuldades e facilidades que a cultura e intelectualidade de nossos dias apresenta para nós, apologetas deste século. (p. 14). AULA 2. Conceito. Análise de textos bíblicos. CONCEITO. A partir do conteúdo do livro, Breve Cartilha de Apologética, de James W Sire, iremos apresentar conceitos de apologética, bem como, estudar seu desenvolvimento nos textos bíblicos. "O que é apologética?" Há definições específicas e mais genéricas, com destaque para que apologética envolve "relacionamentos": entre o apologista e sua audiência; entre os indíviduos presentes na audiência; entre apologista, audiência e seus contextos sociais; e entre Deus agindo junto do apologista, da audiência, e perante estes como indivíduos. "A apologética acadêmica, que foca primordialmente em argumentos amplamente abstratos na defesa da fé cristã, costuma falhar quando colocada no contexto da vida das pessoas. Uma apologética efetiva e prática envolve todo o panorama dos relacionamentos divinos e humanos." É desenvolvida ao redor do que pensamos e também do que sentimos, sendo algo humano que atua em confronto ao mover do Espírito Santo. "Definindo Apologética": "A apologética é, ao mesmo tempo, menos e mais do que uma demonstração abstrata e racionalmente válida da verdade da fé cristã." "No nível mais básico e abstrato, portanto, apologética cristã é simplesmente a apresentação de uma defesa da verdade bíblica; destacadamente, a verdade central de Jesus Cristo como Filho de Deus e Salvador." Uma definição a partir da preocupação central da apologética: "A apologética cristã apresenta aos olhos do mundo tal personificação cativante da fé cristã, que para qualquer pessoa, ou para todos os que estiverem dispostos a considerá-la, haverá um crível testemunho intelectual e emocional de sua verdade fundamental." (a apologética cristã apresenta comunicação tão cativante da fé, de forma que os ouvintes irão receber um valioso testemunho intelectual e emocional da verdade fundamental do cristianismo, *professor). "O sucesso de um argumento apologético qualquer não é se ele produz conversões, mas se ele é fiel a Jesus." Os argumentos e a exposição devem demonstrar verdades cristãs, e ainda que Deus utilize testemunhos frágeis e superficiais, devemos honrar ao Senhor "fazendo de nossas vidas uma viva personificação da verdade do evangelho - antes e depois, acima e além de nossas incursões apologéticas. Esse é nosso culto espiritual, conforme Romanos 12.1-2. (p. 11, 19-20, Sire, 2023). ANÁLISE. Bíblia. Texto 1. 1 Pedro 3. 13-17. "O núcleo intelectual da apologética está no coração dessa passagem. Os cristãos da Ásia Menor devem estar prontos para apresentar sua defesa (apologia) da esperança especial que possuem. Mas esse núcleo intelectual é estabelecido em meio à situação social que os cristãos estavam enfrentando." "No grego antigo, apologia era um termo associado com a resposta a uma acusação em juízo". (p. 12, 2023). Texto 2. "Apologética como explicação e proclamação." Atos 2. Na vinda do Espírito Santo no Pentecostes, o Apóstolo Pedro "explicou o que estava acontecendo, estabeleceu a ligação com a profecia hebraica, e então lhes explicou quem era aquele a quem haviam, há pouco, crucificado, o que havia sucedido posteriormente (a ressurreição) e, novamente fazendo referência às Escrituras, o que tudo aquilo significava." (p. 14, 2023). AUTOR. Ivan Santos Rüppell Jr é professor de ciências da religião e teologia, ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Referências: MCGRATH, Alister. Apologética pura & simples. Como levar os que buscam e os que duvidam a encontrar a fé. Ed Vida Nova, São Paulo, 1 ed, 2013. SIRE, James W. Breve Cartilha de Apologética. São Paulo, Cultura Cristã, 2023.

CREDOS E CONFISSÕES Texto 1. Seminário Presbiteriano do Sul, 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Credos e Confissões do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. Contém texto escrito pelo professor e longas citações de duas obras, do professor e do teólogo e cientista religioso Alister McGrath. O objetivo é trazer dados e informações diversas e importantes aos alunos da disciplina. ITEM 1. INTRODUÇÃO. O termo religioso "credo" origina da palavra em latim: "credo" e significa "Eu Creio", que é como inicia o Credo Apóstolico. O termo se refere ao modo como se deseja definir uma específica "declaração de fé", sendo que, o mais famoso credo cristão, segundo McGrath, "sintetiza os principais pontos da fé cristã, os quais são compartilhados por todos os cristãos." (2005, p 54). Devido a essa aceitação geral e ampla que designa a existência e aceite de um "credo", essa expressão não deve ser utilizada para referir "declarações de fé" representativas do pensamento particular de determinadas denominações religiosas; sendo que estas serão assim chamadas, como "confissões". Nesse contexto, e no destaque de nosso autor, "a confissão pertence a uma denominação e inclui dogmas e ênfases especificamente relacionados a ela; o "credo" pertence a toda a igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma declaração de crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e observar." Neste sentido, "o "credo" veio a ser considerado como uma declaração concisa, formal, universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da fé cristã." (2005, p 54). O período histórico e doutrinal reconhecido como período patrístico (compreende desde o ano 100 d.C - a partir do término da escrita dos textos do Novo Testamento, até o ano 451 d.C - em que houve o Concílio da Calcedônia) foi a época do estabelecimento de dois credos fundamentais devido sua autoridade e aceitação integral pela Igreja Cristã: o Credo Apostólico e o Credo Niceno (versão alongada do credo apostólico). Segundo McGrath, "um requisito essencial era que cada convertido, que desejasse se batizar, deveria declarar publicamente sua fé"; de forma que os credos se tornaram uma declaração básica e aceita por todos os cristãos, de forma que veio a ser a afirmação de fé que se deveria testemunhar publicamente. O Credo Apóstolico contém três partes que destacam a Pessoa de Deus, de Jesus Cristo e do Espírito Santo, além de temas cristãos essenciais, sendo que suas doze afirmações são reconhecidas como tendo sido autorizadas e declaradas pelos apóstolos. O Credo Niceno surge num período de controvérsias sobre a divindade de Cristo, e apresenta afirmações da unidade do Filho com o Pai, além de se referir ao Espírito Santo e sua atuação e obras. (McGrath, 2005, p 55). Para McGrath, "a evolução dos credos representou um importante elemento no processo para se chegar a um consenso doutrinário no seio da igreja primitiva", sendo que a doutrina sobre a Pessoa de Cristo veio a ser o tema mais desenvolvido historicamente. ITEM 2. O DESENVOLVIMENTO INICIAL E O PENSAMENTO TEOLÓGICO CRISTÃO NA PATRÍSTICA. (*conteúdo extraído do livro "O Cristianismo e a Civilização Ocidental"). Contexto histórico e teológico de formação do Credo Apostólico. "A história da vida de Jesus de Nazaré encontra-se narrada nos quatro Evangelhos autorizados que levam os nomes de seus escritores, os apóstolos Mateus e Marcos, Lucas e João. (...) Segundo o estudioso anglicano John Stott, os evangelhos são narrativas históricas diversas e complementares em seus detalhes, vindo a refletir em seus pontos de vista distintos a própria personalidade dos escritores, pois as suas histórias de vida e formações intelectuais e religiosas acabaram orientando a maneira em que eles investigam e anotam as experiências e ministrações de Jesus, até escreve-las numa forma ordenada por situações consequentes e também segundo um conteúdo relacionável por temas. Nas palavras desse mesmo autor, “no caso dos Evangelhos (...) parece que os evangelistas planejaram suplementar um ao outro à luz de seus propósitos e preocupações individuais. Assim, Mateus expandiu muito Marcos, Lucas influiu novas ênfases no material extraído dos outros dois e acrescentou ainda mais, e João pintou um retrato de Jesus que foi além dos outros três, tanto em conteúdo quanto em profundidade espiritual.” (Homens com Uma Mensagem, 1996, p 10) (...) Conforme Fortino, “desde seu início na Judeia romana (...) o cristianismo moldou a cultura de grande parte da civilização ocidental. Os primeiros cristãos foram perseguidos tanto por autoridades judaicas quanto pelo Império Romano, e muitos foram mortos. Mesmo assim, a religião resistiu, sob a liderança da primeira Igreja. Gradualmente, o cristianismo passou a ser tolerado pelos líderes romanos e, após o Concílio de Niceia... foi adotado como religião oficial do Império Romano em 380 d.C.” (2014, p 202) Segundo McGrath, enquanto as lideranças cristãs da cidade de Roma fortaleciam suas influências sobre as igrejas e seguidores residentes no grande território do Império, o que também já gerava as primeiras tensões entre Roma e Constantinopla, alguns centros de estudos doutrinários eram organizados em determinadas regiões, como: a cidade de Alexandria, situada no Egito, que se tornou um centro educacional relacionado à tradição platônica; a cidade de Antioquia, situada na atual Turquia, região que auxiliou grandemente no desenvolvimento da doutrina da Trindade; e, a região norte da África, atual Argélia, que confrontava abertamente a liderança de Roma, sendo a localidade de importantes escritores cristãos, como Tertuliano e Santo Agostinho. E conforme o pensamento desse mesmo autor, “o termo “patrístico” (...) tanto designa o período referente aos pais da igreja quanto as ideias características que se desenvolveram ao longo desse período. (...) esse termo representa algo definido de forma vaga que frequentemente é considerado como o período a partir do término dos documentos do Novo Testamento (100 d.C.) até o decisivo Concílio da Calcedônia (451).” (2205, p 39-41) “O período patrístico representa um dos mais empolgantes e criativos da história do pensamento cristão... Todos os principais ramos da igreja cristã – incluindo as igrejas anglicanas, ortodoxa oriental, luterana, reformada e católica romana – consideram o período patrístico como um marco decisivo na evolução da doutrina cristã. Cada uma dessas igrejas se considera como uma continuação, uma extensão e, naquilo que for necessário, uma crítica às visões dos escritores da igreja primitiva.” O símbolo e representação teológica de unidade conceitual que identifica as mais diversas igrejas e denominações que são consideradas pertencentes ao Cristianismo no decorrer da história recebeu sua forma fixa no período patrístico, ainda no decorrer do quarto século, através da finalização do conteúdo do “Credo Apostólico”. Essa declaração contendo os elementos essenciais da fé cristã tornou-se o conteúdo a ser afirmado por todos aqueles que desejavam ser batizados a fim de se tornarem cristãos nas cerimônias de recepção de novos convertidos à religião do Cristianismo, as quais começaram a ser organizadas desde os primeiros movimentos da Igreja primitiva. A seguir, destacamos alguns de seus principais elementos: “Creio em Deus, o Pai todo-poderoso, criador dos céus e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, Ele foi concebido por obra do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria... Foi crucificado, morto e sepultado... Ressuscitou no terceiro dia, Subiu aos céus e está sentado à mão direita do Pai... Creio no Espírito Santo... na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.” Observe a grande influência da religião do Cristianismo em nossa sociedade, a partir do conhecimento cotidiano contemporâneo que todos temos acerca do próprio conteúdo do Credo Apostólico; sendo este um aspecto revelador do modo em que esta religião se tornou uma força cultural da civilização ocidental." ITEM 3. ACERCA DA UNIDADE DE PENSAMENTO ENTRE OS CRISTÃOS a partir do Credo Apostólico. Segue destaque com conteúdo extraído do livro "O Cristianismo e a Civilização Ocidental", que atualiza o tema para os períodos do séc 20 e 21. "Um outro movimento importante e historicamente relacionado ao desenvolvimento do Pentecostalismo é o “Movimento Evangelical”, de origem europeia e que, após passar pelos Estados Unidos da América, chegou ao Brasil no decorrer do século 20. Seu propósito era unificar as diversas ramificações protestantes ao redor de alguns princípios doutrinários essenciais do Cristianismo, tanto para se fortalecerem em suas atividades, como para se posicionarem diante da expansão católica. Houve a organização de uma espécie de frente-unida protestante para desenvolver uma grande Era missionária, através de um programa de atividades que se prolongou até o início da primeira guerra. E nas palavras desse mesmo autor, “a auto identificação de “evangélico” era individual e significava o compromisso da pessoa com aquele conjunto de princípios doutrinários; antes de pertencer a esta ou aquela denominação, o indivíduo era “evangélico”. (Mendonça, 2002, p 15) (...) Dentro desse contexto, é possível formular um quadro das denominações protestantes que se desenvolveram no Brasil no decorrer do século passado, a partir da definição de suas origens, havendo três grupos distintos: há os grupos de origem migratória, que vieram atender inicialmente os migrantes ingleses e alemães, como os ramos protestantes da Igreja Anglicana e Luterana; há os grupos de origem missionária, como os das Igrejas Presbiteriana, Congregacional, Igreja Reformada Holandesa, Batistas e os Menonitas; e, há os grupos de origem pentecostal, tanto os clássicos, como a Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja “O Brasil para Cristo”; como aqueles mais relacionados à cura divina, como a Igreja Deus é Amor. (Mendonça, 2002, p 18) (...) O Movimento cristão ecumênico do século 20. Desde o grande cisma histórico do Cristianismo que separou a Igreja ocidental romana da Igreja oriental ortodoxa em 1054, passando pela divisão da Igreja Ocidental que redundou na Reforma Protestante em 1517, até as disputas doutrinárias e eclesiais que ocasionaram o surgimento de incontáveis denominações e grupos cristãos no decorrer dos séculos 19 e 20; um dos fatos que se tornaram marcantes na história do Cristianismo foram as divisões desta religião. “Os fiéis compartilham um mesmo Senhor, uma mesma fé e um mesmo batismo, mas para eles foi muito difícil permanecer unidos, e suas dissensões enfraqueceram profundamente o testemunho cristão no mundo.” São divisões que se tornaram importantes a partir de meados do século 19 e no século passado, assim que as lideranças e os missionários cristãos se dedicaram a atuar junto às nações asiáticas e africanas; situações em que a falta de unidade, tanto de mensagem, como de projetos se tornava um aspecto negativo e revelador das divisões “internas” da Igreja Cristã, conforme Chadwich. Esse autor identifica as origens das divisões fundamentais do Cristianismo a partir de quatro aspectos doutrinário-históricos: o das igrejas “pré-cacedonianas”, como a armênia, síria ortodoxa e copta egípcia, que não se submetem ao concílio de Calcedônia; o cisma entre as igrejas romana ocidental e ortodoxa oriental; a divisão ocasionada pela reforma protestante; e, as denominações contrárias ao tradicionalismo protestante, como as igrejas batistas em razão do batismo por imersão, e os pentecostais que valorizam os dons do Espírito Santo. (2007, p 222) Em meio a esse contexto e na busca por um sentido de unidade religiosa, lideranças cristãs reunidas na conferência missionária protestante internacional de Edimburgo (1910), orientaram a realização de reuniões e conferências nos anos seguintes, com destaque para o Movimento de Vida e Trabalho, que se reuniu em Estocolmo em 1925 para debater a relação do Cristianismo com a sociedade, e o Movimento de Fé e Ordem, que promoveu encontros em 1927 no objetivo de definir elementos de unidade doutrinal entre as igrejas cristãs. Até que em 1937 ambos os grupos decidiram atuar em conjunto, o que não foi possível desenvolver plenamente em razão dos acontecimentos da segunda guerra mundial. (Curtis, 2002, p 221) Esse grande número de esforços ecumênicos redundou na criação do Conselho Mundial das Igrejas em 1948, com sede em Genebra, Suíça, tendo por seu primeiro secretário, o teólogo holandês W. A. Viser `t Hooft; sendo que as igrejas que desejavam participar deveriam manifestar seu compromisso com as doutrinas da divindade de Cristo e da Trindade, conforme esclarece Chadwick. E, nas palavras desse mesmo autor, esta organização “preocupou-se não apenas com promover a compreensão teológica, mas também com questões sociais e políticas: paz e controle de armamentos, racismo (...), liberdade religiosa e ajuda aos refugiados e aos oprimidos pela injustiça.” (2007, p 222-223) A continuidade desse processo histórico avançou a partir de decisões da Igreja Católica Romana, que se reuniu no Concílio Vaticano II em 1962, sob a liderança do Papa João XXIII, para debater a “atualização da igreja” em meio a um contexto de crescimento do ateísmo e materialismo na sociedade. Dentre as inúmeras decisões do colegiado, houveram algumas que foram de encontro aos desejos do movimento ecumênico do século: primeiro, a afirmação de que as Escrituras eram a base principal da verdade divina, e não a tradição; e segundo, a decisão por chamar de “irmãos” aos membros de outras denominações cristãs, havendo a orientação de que estes não precisariam retornar “à Roma” para serem assim considerados. (Curtis, 2003, p 228) Alguns dos desdobramentos das decisões do concílio católico nos anos seguintes revelam a importância do ecumenismo cristão no século 20, com destaque para os seguintes acontecimentos: entre os anos de 1964/65, o Papa Paulo VI liderou proposições no sentido de tornar a ideia da unidade cristã num projeto para toda a Igreja, enquanto se unia ao Patriarca Atenágoras de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), para juntos determinarem o fim dos atos de excomunhão dados no século 16; também, houve uma aproximação junto às Igrejas históricas protestantes, com a liderança Católica vindo a participar em 1983 da Assembleia do Conselho Ecumênico das Igrejas; e, ainda, nas últimas décadas do século anterior houve um fortalecimento das atividades da Secretaria para a Unidade dos Cristãos, um órgão interno da igreja romana. (Greco, 2008, p 157) A partir desses movimentos ocorridos nos primeiros anos após a segunda grande guerra, e de inúmeras outras atividades e conferências que foram realizadas nas últimas décadas do século 20, o movimento ecumênico do Cristianismo teve bom crescimento, vindo a alcançar a participação de diversas denominações e importantes lideranças contemporâneas da religião. Sendo possível afirmar que o século 21 tem sido marcado por um respeito e consideração mútuos bastante significativos entre as diferentes vertentes religiosas cristãs, ao mesmo tempo em que o diálogo inter-religioso e as ações sociais conjuntas continuam ocorrendo no decorrer dos anos." ITEM 4. SÍMBOLOS DE FÉ. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DAS CONFISSÕES DE FÉ PROTESTANTES. O Período de consolidação da doutrina Protestante. Ao mesmo tempo em que a Reforma Protestante atualizava de modo distinto na história a autoridade das Escrituras, as diversas visões diferentes de interpretação entre os líderes da reforma também se tornava uma realidade, especialmente no pensamento distinto entre os "reformadores magisteriais" (que respeitavam as autoridades) e os "reformadores radicais" (mais revolucionários diante do Estado). Nesse contexto, surgiu a necessidade de definições "oficiais" que pudessem esclarecer tanto o que pensavam como o que desejavam os reformadores do cristianismo, sendo que, segundo McGrath, "as confissões de fé desempenhararm essa função (...) (posto que) em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade: 1. As Escrituras. Eram consideradas pelos reformadores magisteriais como a autoridade suprema em matéria de dogma e conduta cristãos. 2. Os credos do cristianismo. Esses documentos, como, por exemplo, os credos Apostólico e Niceno, eram considerados pelos reformadores magistrais como representativos do consenso da igreja primitiva, bem como interpretações precisas e autorizadas das Escrituras. (os credos eram considerados textos secundários em relação às Escrituras, e serviam para delimitar o individualismo da reforma radical) A autoridade desses credos era reconhecida tanto por protestantes quanto por católicos, bem como por vários elementos pertencentes à corrente dominante da Reforma. 3. As confissões de fé. Esses documentos eram tidos como oficiais por determinados grupos integrantes da Reforma. Assim, as igrejas luteranas primitivas reconheciam a autoridade da Confissão de Augsburg (1530) (embora nem todos os grupos protestantes entendessem desta forma)... Para exemplificar, pode-se mencionar o fato de que as confissões de fé específicas foram elaboradas por alguns grupos. Algumas estavam vinculadas à Reforma em determinadas cidades - por exemplo, a Primeira Confissão da Basiléia (1534) e a Confissão de Genebra (1536). Portanto, o padrão básico adotado pelos integrantes da Reforma era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal e das confissões de fé como de caráter terciário e local (pelo fato de essas confissões ser consideradas obrigatórias somente por uma denominação ou igreja de determinada região). Na Reforma, a constituição da ala reformada foi um processo complexo que resultou no fato de que várias Confissões - cada qual ligada a uma determinada região - tornaram-se influentes. As seguintes possuem importância especial. 1559, Confissão Gálica, França. 1560, Confissão Escocesa, Escócia. 1561, Confissão Belga, Países Baixos. 1563, Trinta e Nove Artigos, Inglaterra. 1566, Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental." (Mcgrath, p 109-110, 2005). REFERÊNCIAS. MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações. SP São Paulo, 2005. RUPPELL JR, Ivan Santos e TURETTI, Marli. O Cristianismo e a Civilização Ocidental, Edit Inter-saberes, Curitiba PR, 2020. Autor. Ivan S R Jr é professor de ciências da religião e teologia, e ministro licenciado da Igreja Presbiterina do Brasil.

RELIGIÃO E PÓS MODERNIDADE Texto 1. Seminário Presbiteriano do Sul. 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Religião e Pós-modernidade Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, de diversos livros e obras, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. INTRODUÇÃO. O conhecimento inicial de nossa matéria requer a abordagem do tema e contexto formativo do pensamento moderno, sendo que iremos utilizar o texto a seguir para esse propósito, na orientação de que seja utilizado somente para fins didáticos desta matéria, devido a ser um conteúdo extenso extraído em citação. INTRODUÇÃO HISTÓRICA AO ILUMINISMO. O FIM DA IDADE MÉDIA. "SÍNTESE do Capítulo 5. Vimos que o início da Idade Moderna na Europa foi marcado pelo enfraquecimento do feudalismo e o crescimento de uma sociedade mais mercantil, na qual surgiria com a força a classe social da burguesia. O movimento do Renascimento reavivou o espírito criativo dos intelectuais e artistas que buscaram nas civilizações clássicas as ideias e princípios de uma nova maneira de pensar e mover cultura. A Igreja Cristã iria passar pelo seu segundo e maior cisma, assim que algumas importantes questões teológicas e políticas criaram o ambiente que gestou a Reforma Protestante no continente. Os séculos 16 e 17 foram a época da ascensão dos novos comerciantes e artesãos que moravam nas cidades (burgus), sendo que enquanto os proprietários de terras feudais viam seu poder fragilizar, a burguesia se aproximava dos monarcas em busca de apoio para incrementar o crescimento do comércio em todo o continente, uma das razões para que o dinheiro viesse a se tornar a maior fonte de riquezas desse período, em substituição à posse de terras. A Renascença ou Renascimento foi um movimento de renovação cultural que surgiu na Europa no século 14, vindo a formar a cosmovisão ocidental da idade moderna a partir de elementos clássicos greco-romanos. A maior mudança ocasionada por este movimento foi colocar o ser humano, com suas reflexões e aspirações, capacidades e projeções no centro da sociedade, retirando das mãos da Igreja a condição de definir a maneira como a civilização humana deveria entender a realidade e organizar o mundo. Foi neste contexto que a Europa viu surgir o humanismo, um movimento de “retorno às fontes”, que buscava entender a maneira como os clássicos se expressavam em sua literatura e erudição. Vimos que os principais líderes da Reforma Protestante iniciada em 31 de outubro de 1517 foram os teólogos Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino, os quais vieram a organizar os fundamentos teológicos e as propostas éticas de uma nova instituição religiosa cristã no ocidente. Pois o movimento protestante acabou desenvolvendo grandes transformações na sociedade e na política, na economia e costumes da sociedade moderna, vindo a influenciar a Europa e o Reino Unido, e especialmente os Estados Unidos da América a partir do século 17. Enquanto o protestantismo se desenvolvia na primeira metade do século 16, a Igreja Católica Romana organizava o movimento da Contra Reforma em 1545, como um projeto de renovação e fortalecimento das doutrinas e das atividades da igreja romana. A liderança católica decidiu tanto fortalecer as suas doutrinas diante do protestantismo, como buscou investir em missões na Europa e para o restante do mundo, a fim de sedimentar e fazer crescer o seu rebanho. A divisão doutrinária entre as igrejas católica e protestante logo se tornaria uma grande disputa política, resultando na ocorrência das chamadas “guerras religiosas” entre os séculos 16 e 17, as quais desestabilizaram gravemente a Europa. Os Estados Unidos da América foram descobertos em 1492 por Cristóvão Colombo, que se associou aos reis da Espanha num empreendimento que pretendia descobrir novas rotas comerciais ao oriente pelos mares, vindo a chegar nas Américas; um fato que se tornou símbolo das conquistas e descobertas das explorações dos séculos 15 e 16. A conquista de Colombo estabeleceu uma relação comercial e social duradoura e profícua entre a Europa e a América, abrindo espaço também para o incremento das missões cristãs, que enviavam sacerdotes junto dos colonizadores a fim de doutrinar os habitantes dos novos territórios descobertos. Analisamos a teoria do conhecimento - a Epistemologia, que deseja compreender o modo como a humanidade pode conhecer a realidade, sendo que a Idade moderna foi marcada pelos debates entre dois ramos com pensamentos distintos acerca desta teoria: o racionalismo, de René Descartes, que entendia que o conhecimento pode ser apreendido somente pela razão humana, na perspectiva de Platão; e o empirismo, de John Locke, que acreditava que o conhecimento é oriundo da observação do mundo exterior, com bases em Aristóteles. As proposições racionalistas que entendiam que uma lógica compreensão da realidade traria um conhecimento definitivo para a humanidade acerca da existência, foram colocadas em dúvida pelo filósofo Immanuel Kant, que buscou levantar dados acerca da complexidade e dos limites do alcance da teoria do conhecimento. Ao mesmo tempo, enquanto os intelectuais e filósofos da modernidade buscavam explicar racionalmente a existência de Deus, o movimento cultural do Iluminismo, que seria preponderante no século 18 na Europa, iria confrontar radicalmente tanto a autoridade da Igreja, quanto da monarquia." (...) DO ILUMINISMO AO MODERNISMO. "CAPÍTULO 6 O Iluminismo transformou substancialmente os fundamentos culturais da Europa a partir do século 18, gerando mudanças que ocasionaram a Revolução Francesa e os movimentos republicanos dos séculos 19 e 20 no continente, além de sedimentar e propagar os valores modernistas que indicavam pra humanidade um futuro próspero e solidário. Mas, após um século 20 marcado por duas grandes guerras mundiais e pelo crescimento exponencial da miséria e da desigualdade social, eis que iniciamos o século 21 convocados pelos intelectuais da Pós-Modernidade para contrapor e rever toda cosmovisão Moderna que nos foi legada desde o fim da Idade Média. 6.1 ILUMINISMO “O ceticismo é o primeiro passo em direção à verdade”. (Denis Diderot) O Iluminismo – uma expressão surgida apenas no século 19 que origina do alemão “die Aufklarung” (aclarar) e do francês “les lumières” (as luzes), foi um movimento cultural abrangente da Idade Moderna bastante relacionado a uma determinada época do século 18, entre os anos 1720 até 1780. Seu princípio essencial orientava que a razão deveria ser utilizada de forma livre e progressista pelo homem no objetivo de que a humanidade pudesse superar as concepções de mundo medievais que a tinham estruturado até então, posto que tais valores mantinham a sociedade submissa a paradigmas opressores do passado. Um elemento importante acerca do iluminismo se refere ao fato de que os intelectuais desse movimento se interessavam mais com o modo e a maneira como iriam pensar e desenvolver as suas reflexões, do que com o conteúdo que cada um deles iria abordar em suas análises e textos. (McGrath, p 125). Nesse contexto, o filósofo francês Denis Diderot publicou no ano de 1751 o primeiro dos dezessete volumes da fundamental obra iluminista, “Enciclopédia”, a qual ele organizou numa divisão feita a partir de três grandes temas: - assuntos históricos; - a razão e a filosofia; - a poesia e a imaginação. Diderot se preocupou em editar esta obra tendo em mente que a mesma iria propor reflexões que não deveriam se submeter aos dogmas religiosos e às limitações dadas por autoridades de Estado, sendo que para atingir seu objetivo ele convocou um grande número de escritores, filósofos e intelectuais para que escrevessem artigos sobre os temas mais diversos. A orientação comum era de que todos eles deveriam utilizar a razão e a lógica a fim de compreender e expor tanto o mundo natural, quanto a realidade da existência humana. Um princípio essencial desses textos é que deveriam se preocupar em estabelecer parâmetros com bases somente racionais para a organização da sociedade, em contraponto aos valores dogmáticos católicos que vinham definindo a estrutura das instituições sociais nos últimos séculos. (Werner, p 192). Observe que o Iluminismo enquanto um movimento intelectual que veio abordar todas as áreas do conhecimento confiando na capacidade da razão humana para conseguir solucionar as questões da existência, tem sua origem exatamente nos pensadores do século 17, que foram os pioneiros do moderno pensamento científico e filosófico. Pois o movimento iluminista abraçou a razão humana e o questionamento de todo e qualquer conhecimento como sendo as ferramentas de sua reflexão acerca da realidade, já que pretendia superar qualquer cosmovisão embasada nas doutrinas da Igreja. Foi dentro deste contexto de mudança de paradigmas acerca da busca do conhecimento, que o iluminismo conseguiu incentivar o desenvolvimento do entendimento científico nas mais diversas áreas, vindo a desenvolver pesquisas na biologia e botânica, além de setores da tecnologia, vindo a influenciar as universidades e o meio literário da época. Segundo McGrath, o iluminismo tornou-se um movimento crítico que buscou questionar os fundamentos e bases intelectuais estruturais da religião cristã, vindo a utilizar conceitos e reflexões oriundas do cartesianismo e do deísmo a fim de requerer da Igreja que viesse apresentar e expor suas doutrinas segundo um sistema absolutamente racional e coerente. Neste sentido, o pretenso apoio que o Cristianismo havia recebido dos intelectuais da Renascença e do movimento do racionalismo, que acreditavam na existência de Deus e de valores religiosos cristãos oriundos de uma religião natural e racional, acabaram criando a oportunidade para que toda e qualquer doutrina cristã que não fosse completamente explicitada nos limites da razão, viesse a ser fortemente criticada e rejeitada pelo padrão analítico iluminista. (p 127). Observe que embora a teologia cristã tenha se desenvolvido historicamente através de uma integração entre os conceitos da revelação natural e revelação sobrenatural (bíblia), esta unidade de pensamento era realizada procurando observar os limites e as funções de cada um destes distintos tipos de conhecimento. De um lado havia a revelação natural acerca de Deus que seria encontrada na Criação, e de outro, havia a revelação sobrenatural (Escrituras) mediante a qual Deus iria se relacionar religiosamente junto da humanidade. No entanto, tanto os mandamentos éticos da Bíblia, como as situações históricas narradas pelos profetas e apóstolos na Bíblia, e especialmente o nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, vieram a se tornar os elementos da doutrina cristã mais analisados e criticados pela nova vertente intelectual racionalista do século 18. Neste contexto, eis que surgiu no século 19 na Europa, um movimento teológico cristão que tanto tomou nas mãos a responsabilidade de responder diretamente às questões levantadas pelo iluminismo, como igualmente, acabou sendo bastante influenciado pelo intelectualismo racionalista, o qual veio a ser denominado de Protestantismo liberal. O Protestantismo Liberal clássico é um movimento do pensamento cristão moderno que surgiu na Alemanha na metade do século 19, vindo a desenvolver o entendimento de que as crenças e a fé do Cristianismo deveriam ser renovadas e reformuladas, de maneira que todos os seus dogmas religiosos deveriam se adequar ao conhecimento moderno. Ao mesmo tempo em que se propunha a revisitar qualquer ensino e dogma religioso a partir dos parâmetros da razão, o iluminismo tornou-se um movimento gerador de grandes transformações sociais assim que se posicionou contra os próprios ideais da monarquia francesa. As conquistas científicas que progrediam no século 18 enquanto este movimento continuava influenciando os intelectuais e cientistas, também fortaleceram os ideais de que as leis naturais relacionadas aos seres humanos deveriam se submeter igualmente aos critérios da razão, fazendo surgir o pensamento de que a religião deveria existir em separado ao Estado e de que a liberdade de expressão deveria se tornar o valor principal da sociedade. O Iluminismo estava se tornando um grande movimento progressista através do qual os intelectuais entendiam que seria possível estabelecer normas gerais de direitos civis para todos os homens. (Werner, p 194) Alguns personagens franceses foram essenciais para as mudanças políticas e sociais que iriam acontecer a partir da Revolução Francesa e durante todo o século 19 na Europa e Novo Mundo: François-Marie Arouet, Voltaire, que desenvolveu ideias de tolerância religiosa e liberdade de imprensa; Carlos de Secondat, o Barão de Montesquieu, que defendeu um governo compartilhado junto da sociedade através da divisão de poderes entre o legislativo, executivo e judiciário; e, finalmente, o filósofo Jean Jacques Rosseau, que apresentou um modelo de governo civil que deveria gerenciar os direitos e os deveres da sociedade, afirmando que os governantes deveriam se tornar empregados do povo a fim de promover a liberdade e a justiça. (Gonzalez, p 327). As posturas e reflexões oriundas do contexto histórico e ambiente intelectual do iluminismo denunciavam uma ordem social bastante injusta na Europa do século 18, vindo a se tornar uma proposição existencial que iria gerar grandes transformações a partir da Revolução Francesa de 1789, conforme veremos no próximo tópico do capítulo. 6.2 A REPÚBLICA E A ASCENÇÃO DA BURGUESIA. Contexto histórico e político. A proclamação da primeira República francesa no dia 21 de setembro de 1792 determinou o fim do sistema de governo absolutista e monárquico francês, tornando-se um fato histórico que impulsionou o surgimento de diversos governos republicanos na Europa durante os séculos 19 e 20, os quais desenvolveram as propostas iluministas da igualdade social na sociedade, junto de um governo equilibrado a partir da divisão de seus poderes entre o legislativo, o judiciário e o executivo. O termo “República” origina do latim “res publica” (coisa pública), sendo um sistema político de Estado organizado basicamente através de um consenso social que se constrói a partir da vontade do povo – que elege um chefe de governo junto dos representantes da sociedade no congresso e dos magistrados, que atuam na justiça. Atualmente, trata-se de um sistema de governo identificado pelo fato de que sua autoridade é oriunda da vontade do povo, ao contrário da monarquia, por exemplo, que tem as bases de seus direitos na hereditariedade familiar do rei. Observe que a Revolução Francesa do século 18 somente ocorreu porque houve um confronto entre a classe social dominante – a aristocracia, diante de uma classe social ascendente desde os fins da Idade Média – a burguesia. Sendo que a aristocracia dominante sobre o Estado francês era formada pelo clero e pela nobreza, que submetiam o resto da população composta de burgueses e camponeses. Pois, ao mesmo tempo em que a monarquia se fortalecia como um poder central de cada um dos territórios europeus mobilizando investimentos através da expansão das rotas marítimas, da organização das colônias comerciais e pela construção de estradas, igualmente propiciou por meio destes empreendimentos que a burguesia viesse a se fortalecer dentro da sociedade. Eis a razão e motivo para que estes movimentos modernos que transformaram o sistema de Estado absolutista monárquico num Estado liberal progressista, os quais foram implementados sob a liderança da classe burguesa a partir de valores iluministas, viessem a ser intitulados historicamente de “revoluções burguesas”. De tal forma que o crescimento do comércio e o incremento de um sistema financeiro nas sociedades da Idade moderna desencadearam tanto um enfraquecimento do poder da monarquia, quanto um contínuo abandono do sistema do feudalismo, em prol do mercantilismo e do artesanato burgueses. A crise econômica francesa gerada pelas guerras em que era protagonista ou se envolvia (revolução americana), e o alto custo do estilo de vida da aristocracia se tornaram motivos para que a monarquia viesse a cobrar mais impostos da produção agrícola dos camponeses, além de dificultar o avanço do comércio da burguesia que desejava implementar um sistema capitalista em substituição ao feudalismo. Foi dentro deste contexto histórico, social e econômico que o rei Luiz XVI convocou em 1789 a Assembleia dos Estados Gerais. (...) Nesse contexto de grandes transformações sociais e políticas oportunizadas pelos valores iluministas, a Igreja Cristã vivenciava situações diferentes dependendo da região em que estava localizada e da doutrina que seguia, se Católica ou Protestante. Na França, a Igreja Católica sofreu uma forte oposição dos líderes do Iluminismo, que afirmavam que o Cristianismo se tornara um sistema de doutrinas ultrapassado, sendo praticamente um símbolo do antigo sistema social opressor. Ao mesmo tempo, tanto na Inglaterra Anglicana, quanto na Alemanha Protestante, os pensamentos iluministas não foram tão radicais, vindo inclusive a contribuir no desenvolvimento das reflexões religiosas, até pelo fato destas duas nações terem vivenciado alguns valores do movimento cristão pietista – que ressaltava a importância da experiência da fé como um aspecto fundamental da vivência cristã, sendo este um fator que acabou enfraquecendo a influência do racionalismo nestas duas nações, e consequentemente as críticas iluministas ao Cristianismo. (McGrath, p 128). Enfim, o fato é que os próprios valores do Iluminismo e as condições econômicas da Burguesia que se tornaram tão essenciais para promover a Revolução Francesa, se tornaram fatores estruturais e políticos essenciais para as novas organizações sociais liberais que vieram se desenvolver na Europa e na América no decorrer dos séculos 19 e 20, as quais se tornaram sistemas preponderantes na sociedade tanto através do regime capitalista, quanto pelo estilo de governo democrático. Em meio a todos esses acontecimentos, a sociedade da Idade Moderna iria se transformar gravemente a partir das grandiosas mudanças que seriam desenvolvidas pela Revolução industrial e pelas Revoluções republicanas durante o século 19. 6.3 O POSITIVISMO E O SÉCULO 19. Desde o século 18 a sociedade europeia vinha experimentando grandes transformações a partir do Iluminismo e da Revolução industrial, que já avançava na Inglaterra até chegar ao continente no século 19. Foi o surgimento histórico da chamada sociedade modernista, que apresentava uma realidade de convívio e organização sociais inteiramente novas a partir das influências e consequências da industrialização e do capitalismo, trazendo consigo, também, uma desintegração do convívio comunitário em meio ao crescimento das injustiças sociais. Os pensadores da época voltaram sua atenção para as relações sociais utilizando os mesmos princípios de análise que haviam orientado as reflexões da chamada Idade da razão iluminista, que buscava observar a realidade atrás de fatos que pudessem ser comprovados, conforme já ocorria nas áreas de conhecimento da física e astronomia. Neste contexto, o homem que seria o precursor de uma disciplina específica para a ciência dos estudos da sociedade, a Sociologia, foi o francês Auguste Comte (1798-1857), que desenvolveu os argumentos da chamada filosofia “positivista”, defendendo a ideia de que qualquer conhecimento válido requer ser apreendido mediante a realização de questionamentos científicos. (Simoni, p 18). “O nome “positivismo” tem sua origem no adjetivo “positivo”, que significa certo, seguro, definitivo. Como escola filosófica, derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder dominante e absoluto da razão humana em compreender a realidade e demonstra-la sob a forma de leis que iriam regular a vida do homem, da natureza e do mundo. Observe que o pensamento social de Auguste Comte se organizou sobre os fundamentos do contexto científico-filosófico de sua época, pois enquanto a revolução francesa e a industrialização lhe forneciam um novo sistema social de análise, a razão iluminista do conhecimento científico acabou se tornando a base de seu modelo de reflexão para as ciências humanas, que viriam a estudar os fenômenos das relações sociais. O propósito do pensador francês era de que esta nova “ciência da sociedade” pudesse identificar as leis próprias da vivência comum dos homens, trazendo um entendimento acerca da maneira como ocorrem os processos sociais da humanidade, a fim de que fosse possível tanto prever, como igualmente tratar os possíveis males sociais que sobreviriam no futuro. Era necessário que esta nova ciência fosse capaz tanto de esclarecer os movimentos das dinâmicas sociais, quanto de definir a melhor maneira de realizar a transformação da sociedade. Enquanto os intelectuais se preocupavam em propor análises acerca dos ganhos e perdas oriundos das mudanças políticas e sociais surgidas no contexto das repúblicas e da industrialização, a Igreja na Europa se debatia tanto com a realidade dos novos Estados organizados, que eram críticos da religião, como precisava oferecer respostas teológicas aos grandes avanços racionais e filosóficos do século 19. Sendo que ao mesmo tempo em que os teólogos se dedicavam a esclarecer e organizar doutrinas mais científicas e históricas para o cristianismo, o povo cristão, tanto católico como protestante, buscava nas experiências simples da fé praticar uma religiosidade mais pessoal, envolta em emoções e sentimentos, que auxiliavam tanto na conversão, quanto na renovação de sua caminhada sagrada diante de Deus. Em meio às mazelas sociais oriundas de um excepcional crescimento populacional urbano e de um capitalismo industrial vigoroso, as Igrejas tanto se distanciaram dos mais pobres, conforme ocorreu em algumas regiões da Alemanha protestante, como, também, buscaram se aproximar das camadas mais populares através da organização de ordens e missões orientadas por valores caridosos e das ações sociais, como o Exército da Salvação, na Grã-Bretanha, as Irmãs de Caridade e a Sociedade São Vicente de Paulo, na França, além da Missão Interior de Johann Wichern, na Alemanha. (Chadwick, p 143). O fato é que o século 19 pode ser considerado igualmente um século de transição para o Cristianismo, posto que as mudanças tecnológicas e políticas, científicas e econômicas e as consequentes transformações sociais desta época, acabaram gerando para a Igreja uma realidade religiosa e institucional que requeria uma constante adequação às novas situações que vieram a dominar este período da história da humanidade. Enquanto isso, as Ciências da religião também se organizavam como uma disciplina dedicada ao estudo das relações existentes entre os fenômenos religiosos e a realidade social dos homens, sendo que especialmente acerca das relações sociais, vimos a maneira como Auguste Comte preocupou-se em transformar as observações da sociedade em uma ciência científica, algo que foi sedimentado a partir de 1824, assim que ele desenvolveu o seu “Curso de filosofia positiva”. Sendo que a disciplina da Sociologia enquanto um estudo mais abrangente da sociedade em todas as suas vertentes veio a se fortalecer já ao final do século 19, a partir dos estudos de Emile Durkheim que buscou estrutura-la como se fora uma espécie de organismo humano, em que cada órgão teria uma função própria e definida. Porém, essa compreensão mais científica acerca do estudo da sociedade veio a ser criticada por outros sociólogos, como Karl Marx (1818-1863) e Max Weber (1864-1920), sendo que enquanto Marx e Durkheim entendiam que o capitalismo e a industrialização eram os mecanismos fundamentais da mudança social na Idade Moderna, Weber se dedicou ao estudo interpretativo dos fenômenos sociais, enfatizando as influências na mecanização da vida secular do indivíduo. Sendo que a partir do século 20 a Sociologia viria a se desenvolver cada vez menos enquanto uma disciplina científica, tornando-se uma área de pesquisa voltada para as sensações do indivíduo e para a compreensão da maneira como as instituições atuam sobre a vida das pessoas.” (Simoni, p 19)." Esse texto de introdução histórica e conteúdos do Iluminismo e pensamento moderno utilizou uma citação do livro: O Cristianismo e a Civilização Ocidental. Ivan Rüppell Jr e Marli Turetti. Editora Intersaberes, Curitiba, 2020. Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor de ciências da religião e teologia, e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

A Espiritualidade do APOCALIPSE, no Cinema. OPPENHEIMER, de Christopher Nolan, 2023.

O diretor de cinema Christopher Nolan é um dos poucos autores da Sétima Arte no século 21, tendo dirigido a trilogia O Cavaleiro das Trevas - Batman, A Origem e Dunkirk. Autores são diretores que agregam um estilo próprio na realização dos filmes, com narrativas diferenciadas para comunicar ao público suas histórias. Nolan realizou filmes que se tornaram conhecidos pela estética e cenas impactantes, movendo os sentimentos e reflexões do espectador, além de transformar o aspecto técnico das películas. O filme "Oppenheimer", EUA, 2023, com Robert Downey Jr, Matt Damon, Cillian Murphy e grande elenco, trata das situações históricas que compuseram o ambiente de criação da Bomba Atômica, ao final da II Guerra Mundial. A decisão narrativa do Diretor segue os pensamentos e sensações do Físico que liderou o famoso Projeto Manhattan. Sendo que o enredo do filme foi baseado na obra vencedora do Pulitzer, "Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer", escrita por Kai Bird e Marvin J. Sherein, após volumosa pesquisa feita em relatórios do FBI, cartas do período e entrevistas. A Espiritualidade do Apocalipse surge nos temas e sensações explorados no filme, ora apresentando o entendimento comum sobre o significado do "apocalipse" - uma era catastrófica ao redor do tema do fim do mundo, ora trazendo questões que o aproximam da visão bíblica do assunto - o governo de Deus sobre a história. Os Apocalipses judaicos escritos entre os anos 200 a.C. e 100 d.C. buscam revelar fatos que devem acontecer no fim dos tempos e anotar aspectos desse período último da existência, oferecendo uma espécie de "calendário para o fim da história". Enquanto isso, o Apocalipse cristão revelado no último livro da bíblia e no sermão de Marcos 13, tem objetivo de confirmar que Deus irá realizar os atos prometidos por Ele para o fim dos tempos, ao invés de definir os momentos da história em que isto deve ocorrer. De forma geral, ambos os textos apocalípticos judaicos e cristãos apresentam a maneira como Deus vai governar de forma soberana a história do mundo, até a conclusão dos tempos. Neste sentido, o filme de Christopher Nolan anota de forma relevante enquanto documento histórico, e de forma impactante enquanto apresentação da personalidade, o modo em que os seres humanos participam da história do fim do mundo - o Apocalipse, a partir de suas escolhas na governança das questões políticas relevantes, especialmente em tempos de guerra. O profundo dilema sobre como impedir grandes males sem que isto gere oportunidade para que ocorram situações ainda piores adiante, surge como um tema valioso de reflexão "apocalíptica" na narrativa do filme. Especialmente pelo modo como vemos tais questões serem percebidas de modos desiguais no decorrer do período histórico em que são refletidas. Primeiro, ao final da II Guerra em que há acordo entre os aliados EUA e URSS, e num segundo momento, alguns anos depois, que traz à tona o início da guerra fria entre esses dois países. Pois parece razoável que o pensamento e reflexão devam ser diferentes em acordo à situação e momento histórico distintos de cada ocasião, até pela urgência e necessidade de encerrar a segunda Guerra e frear o avanço nazista pelo mundo. No entanto, a busca só do poder político e a paixão ideológica quase sempre estão distanciados das boas relações humanas, de modo que tudo o que você disser, será usado contra você; sendo algo presente na perseguição ao Físico protagonista. O filme Oppenheimer destaca experiências vivenciais ao invés de somente fatos para contar a história do surgimento da Bomba Atômica, apresentando dramas pessoais profundos envoltos em bom suspense no decorrer da narrativa. Algo que conduz os espectadores pela experiência inesquecível de ficarem atentos por quase três horas, diante dos aspectos humanos e existenciais da história. Tudo através do olhar e coração, das certezas e reflexões, dos valores e contradições do protagonista J. Robert Oppeheimmer - em magnífica interpretação do irlandês Cillian Murphy. Para valorizar a direção de Nolan, há valiosos temas sociais e políticos envoltos em dramas essenciais da humanidade que surgem na tela de cinema em cores e imagens de impacto. Sensações compartilhadas por expressões e pensamentos instigantes, que chegam até nós na expressão facial realista dos atores, conforme a câmera do diretor os posiciona na tela de cinema. A espiritualidade do Apocalipse dos homens está bem descrita no diálogo crucial do filme, entre Oppenheimer e Albert Einstein. Seja ao tratar da proximidade de uma completa destruição do planeta pela guerra atômica, ou então, pela grave transformação da atual experiência humana nele. Sendo que, conforme o apocalipse cristão, o fim deste período da história para a humanidade aponta ainda, outra direção, a partir da Ressurreição. Bom filme! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor de ciências da religião e teologia, e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Meditação Dominical. TEMPO DE MISERICÓRDIA.

TEXTO Bíblico. "Vão e aprendam o que significa: "Quero misericórdia, e não sacrifício". Pois não vim chamar justos, e sim pecadores." (Evangelho de Mateus 9.13). MEDITAÇÃO. As religiões que existem pra religar o relacionamento entre os homens e Deus orientam sobre a importância de entregar sacrifícios e ofertas em rituais e celebrações. Trata-se de um tema que tem a ver com a "justiça" do fiel e o acerto de contas do pecado que separa as pessoas diante de Deus. Pois é comum entender que a distância e o afastamento da humanidade para com Deus ocorreu devido a algo que deve ser consertado, sendo esse o objetivo existencial e saudável das religiões. Então, as ofertas e sacrifícios são dedicados para que o homem receba perdão e tudo fique "justo" entre ele e Deus. Por isso que Deus Pai enviou Jesus Deus Filho pra viver e morrer pela humanidade em pecado, para que o próprio Jesus seja o sacrifício e oferta dos cristãos para Deus Pai. Ou seja, Jesus é a própria Justiça dos cristãos perante Deus. A partir disso, como os cristãos receberam de Deus tudo que precisam pra estar bem com Deus, Jesus convoca os cristãos pra oferecer ao próximo, exatamente o que receberam de Deus Pai: misericórdia. Faça essa oferta de justiça, seja bom! ORAÇÃO. Santo Deus e Pai Nosso que está nos céus. Santificado seja o teu nome por causa do seu amor por nós. Ilumina o nosso coração pra que possamos ser bons assim como o Senhor é sempre bom conosco. Ajuda-nos a sermos pessoas misericordiosas neste mundo, pra que venha o teu Reino e seja feita a tua vontade entre todos nós. Amém! Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de ciências da religião e teologia, e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

A Espiritualidade do SOM DA LIBERDADE, no Cinema, 2023.

O filme, O Som da Liberdade apresenta uma investigação de tráfico sexual infantil, através de uma narrativa quase documental, em que seguimos uma história com início, meio e fim. A direção respeita os sentimentos do espectador com cenas realistas acerca de como ocorre o tráfico sexual, enquanto tem o cuidado de proteger a humanidade no modo em que narra os atos e sentimentos dos envolvidos nesta horrível história. As emoções dos personagens e as cores das cenas são contidas e simples, de modo que não somos conduzidos por situações espetaculosas, mas sim, por sensações humanas verdadeiras. A Espiritualidade do "Som da Liberdade" no cinema se relaciona com as virtudes cristãs mais puras, que o Apóstolo Paulo define como sendo, As Coisas do Alto, no cap. 3 da Carta aos Colossenses. São virtudes da vida de Deus disponibilizadas aos homens, no propósito de que os cristãos possam vivenciar relações de bondade e caridade, mansidão e humildade diante da humanidade. De forma especial, que os cristãos possam conhecer e praticar o amor de Deus dado aos homens, sendo um sentimento e atitude essenciais geradores de um vínculo bendito e saudável entre os seres humanos. Sendo que, são exatamente estas virtudes do Alto que se colocam contra aquelas paixões humanas que trazem ao nosso mundo aqui embaixo, as relações de opressão e desgraça que a pornografia e pedofilia promovem no planeta Terra. Nesse contexto, o filme baseado em fatos reais, "Sound of Freedom" (O Som da Liberdade), apresenta a história real de Timothy Ballard, ex-agente de segurança norte-americano e fundador de grupo que age para o resgate e atendimento de vítimas do tráfico humano; (Operation Underground Railroad OUR). Ballard participou de diversas ações contra grande número de redes de pedofilia e pornografia infantil, e co-preside a "The Nazarene Fund", agência de apoio em missões de resgate de pessoas vulneráveis em todo o mundo. Segundo Ana Carolina Peck Mafra, "O Som da Liberdade tem como missão revelar um pouco dos bastidores das histórias reais de pessoas, especialmente crianças, que são levadas para serem vendidas e exploradas sexualmente por todo o mundo." (Gazeta do Povo, 13/07/23). A produção do filme enfrentou alguns percalços, sendo deixada na prateleira assim que a Disney comprou a Fox, até que a Angel Studios (produtora da série sobre a convivência de Jesus junto das comunidades do primeiro século, The Chosen), assumiu o desenvolvimento do roteiro baseado em fatos verídicos. Jim Caviezel (Paixão de Cristo) atua como protagonista neste drama emocional e solidário para com as vítimas de tráfico humano e sexual pelo mundo, sendo que, o ator ficou tão chocado e tocado pelas histórias narradas no filme, que se tornou um embaixador da causa em favor do combate diante da exploração sexual. Enquanto isso, o filme cresce em audiência nos EUA, tendo arrecadado quase 40 milhões de bilheteria nas primeiras semanas. A pedofilia e pornografia revelam aquela paixão humana sensual, visceral e primitiva, que sem a orientação da moral clássica e da disciplina da religião saudável, tem levado cada vez maior número de seres humanos a se tornarem bárbaros, em sua sede de conquista pelo prazer sexual animalesco. Ocorre que, a disfunção sexual e a liberalidade do prazer desmedido tem recebido certo auxílio em sua prática de experiências inovadoras com o próximo - especialmente mulheres e crianças vulneráveis. Uma doença e desvio de personalidade gravíssimos que, ao não receber o tratamento psicológico e psiquiátrico adequados, sendo ainda, uma vivência apoiada na obscuridade das redes sociais e na descriminalização dada por autoridades e artistas; tem sido estabelecida como uma das doenças sociais de maior opressão sobre as relações humanas, neste século 21. Segundo Ana Carolina, "o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual vem sendo considerado como um dos crimes mais lucrativos em todo o mundo", movendo até US$ 32 bilhões ao ano, ocupando o terceiro lugar no ranking destes crimes no planeta. Sendo que, "as mulheres adultas representam 49% de todas as vítimas do tráfico humano; somando-se às menores de 18 anos, 72% das vítimas do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual são do sexo feminino." (Gazeta do Povo, 13/07/23). Somente nos Estados Unidos da América, quase 2,5 milhões de crianças saem de casa a cada ano, enquanto 35% de adolescentes moradores de rua entram para a prostituição em até 48 horas após fugirem dos lares. Nesta conta, entende-se que praticamente 800 mil crianças irão servir ao comércio de exploração sexual em 2024, embora muitas sejam vistas como "desaparecidas" pelo censo. Nesse contexto social, assistir ao filme "O Som da Liberdade" vai aumentar sua indignação interior e mexer muito com a sua ignorância existencial, ao invés de promover sentimentos de justiça idealizada, contra os criminosos de plantão. Afinal, o filme não conta a história de mocinhos e nem desenvolve narrativas de conquistas vitoriosas, mas sim, revela o cotidiano de milhões de crianças submetidas ao domínio sexual dos senhores do tráfico humano; que se interessam igualmente pelo prazer e dinheiro que o corpo e a carne infantil oferecem aos prósperos sensuais deste século. Como bem disse um grande amigo, o Tráfico não está chantageando ou influenciando os políticos das grandes nações, como outrora, mas está sentado na mesa executiva dos governos pelo mundo. Quanto a nós outros, não deixe pra depois a oração de petição que você deve fazer agora. Pois até Agostinho confessou a gravidade dessa doença espiritual, como revelou na conhecida oração: "Deus me dê a castidade, mas não hoje"; conforme explica Luiz Felipe Pondé, ao definir que o filósofo cristão "tinha clareza quanto a nossa vocação ao desejo e ao prazer, daí o risco da luxúria." (curso - pecados, uma anotomia da alma). Eis o motivo para que o Apóstolo Paulo incluísse a santidade sexual como uma sensação que os homens deveriam buscar e receber lá do Reino dos céus, da Espiritualidade das Coisas do Alto, de Deus. Enquanto a impureza, imoralidade e luxúria são práticas gravemente terrenas dos que se encontram distantes de qualquer dignidade amadurecida do Ser. (Colossenses 3.). "Você pode escolher olhar para o outro lado, mas nunca mais poderá dizer que não sabia." (William Wilberforce). Bom filme. Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor de ciências da religião e teologia, ministro licenciado da Igreja Presbiteriana, escritor do livro: A Espiritualidade de quase todo mundo no cinema, Resenhas espirituais de Meditações cinematográficas, publicado pela Dialética, em 2020. Esse texto foi baseado na Resenha de Ana Carolina Peck Mafra, do filme "Sound of Freedom": "O filme que incomodou os "justiceiros sociais", Gazeta do Povo, 13/07/2023. Ana Carolina é mestre em Psicologia, tendo atuado como psicóloga clínica e comunitária por mais de dez anos no Brasil. É fundadora da DoHope Internacional, organização que atua para a prevenção ao assédio sexual, violência contra mulheres e meninas, bem como na prevenção ao tráfico de pessoas. Está concluindo Doutorado em Ministério com destaque em Engajamento Global.

domingo, 9 de julho de 2023

A Espiritualidade da AVENTURA, no Cinema. INDIANA JONES, 2023.

O maior protagonista de aventuras da história do cinema está de volta! Indiana (Harrison Ford) Jones retorna à tela grande no quinto e último filme da saga; Indiana Jones e a Relíquia do Destino, do diretor James Mangold, EUA, 2023. Mesmo que o magistral Diretor Steven Spielberg e o excelente roteirista Lawrence Kasdam estejam ausentes, bem, ainda vale a pena assistir no cinema, o nosso simpático e irritado arqueólogo aventureiro, de sempre. A espiritualidade da aventura é aquela virtude que as pessoas carregam direto da alma. Um valor que conduz a humanidade a buscar novos desafios, buscando superar até a boa realidade da tranquilidade, em favor da oportunidade de alcançar conquistas que se encontram no desconhecido. Valor que o arqueólogo Indiana Jones mantém desde o início de sua jornada fílmica em 1982, sendo uma chama de vida que novamente, agora em 2023, o faz deixar a estabilidade e segurança na busca do conhecimento da história descrita em objetos. Indy Jones também evoca a espiritualidade das liberdades no cinema, ao carregar no chicote a chama libertária dos fundamentos comunitários da organização política dos Estados Unidos da América. Neste sentido, "Indiana Jones 5", A Relíquia do Destino, apresenta nosso aventureiro mais idealista enfrentando novamente os Nazistas; por que não? Afinal, nestes tempos enganosos do século 21 já não se fazem vilões como antigamente. E nada melhor que o esclarecido Indiana Jones pra defender a liberdade dos direitos civis contra o último inimigo declarado que restou; já que todos os outros tem sido abraçados aqui e acolá, pelo verniz cinzento da hiper relativa pós modernidade. Os dois melhores filmes de aventura da história do cinema; Os Caçadores da Arca Perdida e Indiana Jones e a Última Cruzada, primeiro e terceiro filmes da série, já haviam colocado Indy em conflito aberto diante dos inimigos fundamentais da liberdade dos homens; o Nazismo da década de 1940. E agora, Indiana se defronta com um remanescente tardio e nostálgico do Estado opressor e totalitário de Hitler e seguidores, que buscam utilizar o artefato da Relíquia do Destino pra mover o tempo a seu favor, no objetivo de sempre. Pois seguem firmes no propósito de efetivar a conquista constante dos corpos e cidades, corações e mentes dos povos que só gostariam de ser deixados em paz, pra viver sua liberdade cultural. Seja a liberdade democrática e religiosa, seja a liberdade de expressão e artística, seja a liberdade econômica e a de ir e vir; afinal. É isso! Eis que nesta toada da espiritualidade da liberdade, conseguimos visualizar nas telas de cinema e ambiente cultural deste opressor século 21, a interessante figura do último arqueólogo ético da sétima arte. Pois ele se mantém ativo no que resta de definido como íntegro, nestes mui relativos tempos atuais. Sempre em busca da independência de toda liberdade, de expressão. Afinal, toda espiritualidade da humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus, com boa consciência da realidade e capacidade de refletir sobre a existência e a vida. De forma que o impulso de controlar e definir o que pensa e diz qualquer ser humano é a maior e mais profunda atividade totalitária sobre o espírito do ser, que se conhece. O primeiro terço do filme traz a nostalgia das boas narrativas da série, enquanto que o terço final conduz de forma digna a conclusão das aventuras de Indiana Jones; o que fica de crédito para o diretor James Mangold, que já havia realizado um capítulo final valoroso para Wolverine, em Logan. Carrego comigo ainda, as memórias do ano de 1982, quando me vejo saindo pelas portas do Cine Bristol, na rua Mateus Leme, ao lado de meu pai, Ivan Rüppell, após assistirmos juntos, "Os Caçadores da Arca Perdida". Uma caminhada feliz e satisfeita rumo ao lar, ao som do tema magistral da saga, do maestro John Williams. Grandes lembranças. Bom filme! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor de ciências da religião e teologia, tendo publicado em 2022, o livro: A espiritualidade de quase todo mundo no cinema: Resenhas espirituais de Meditações cinematográficas, com 37 resenhas de filmes, pela Dialética.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

EVANGELIZAÇÃO, CULTURA E CAPELANIA! Princípios e Conteúdos.

INTRODUÇÃO BÍBLICA. "Uma vez que vocês ressuscitaram para uma nova vida com Cristo, mantenham os olhos fixos nas realidades do alto, onde Cristo está sentado no lugar de honra, à direita de Deus." (Colossenses 3.2). O desenvolvimento desse texto no capítulo três aborda a santidade do cristão, para que sejamos santos como santo é o Senhor, numa perspectiva de redenção da nossa personalidade neste período da história, até a volta de Jesus. NOTA da Bíblia de Genebra: "Duas outras maneiras nas quais os crentes podem pensar "nas coisas lá do alto" (3.2) são a oração (Ef 6.18-20, nota) e falar de sua fé sábia e persuasivamente aos de fora, a fim de que estes possam ser trazidos à plenitude de vida em Cristo." (p. 1427-28, 1999). Neste sentido, entendemos que buscar em primeiro lugar o Reino dos ceús das coisas lá do Alto compreende tanto a transformação de nosso caráter, como a mudança de compreensão da realidade, pois as Boas Novas do Evangelho se tornam o pensamento com que iremos contribuir para dar um conhecimento válido aos homens, acerca da existência. TEMAS DE ORIENTAÇÃO E REFLEXÃO. Toda evangelização é feita através da cultura! Cultura é a ampla atividade humana no mundo, em que desenvolvemos a capacidade dada por Deus ao ser humano, utilizando a consciência e sentimentos oriundos da imagem de Deus em nossa espécie. A Religião dos homens é uma experiência cultural definida em busca do sentido da vida, numa busca transcendente e dependente do conhecimento de nossa origem e destino. A Capelania é uma comunicação no ambiente e situação do próximo, em que se busca valorizar as sensações humanas enquanto não nega nem ignora a existência espiritual e eterna do ser humano. PRINCÍPIOS E CONTEÚDOS. Evangelização, Cultura e Capelania. 1. EVANGELIZAÇÃO. SER UM CRISTÃO BÍBLICO É SER UM EVANGELISTA QUE ANUNCIA A PALAVRA DO EVANGELHO. "Os discípulos viram Jesus fazer muitos outros sinais além dos que se encontram registrados neste livro. Estes, porém, estão registrados para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida pelo poder do seu nome." (João 20.30-31). "Vocês receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em toda parte: em Jerusalém, em toda a Judeia, em Samaria e nos lugares mais distantes da terra". (Atos 1.8). "Depois da refeição, Jesus perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, você me ama mais do que estes? "Sim, Senhor", respondeu Pedro. "O senhor sabe que eu o amo". "Então alimente meus cordeiros", disse Jesus {...} "Então cuide das minhas ovelhas", disse Jesus. {...} Jesus disse: "Então alimente minhas ovelhas". (João 15-17). Neste sentido, vamos recordar que a cada vez que Jesus saia para pregar a Palavra de Deus, conforme as narrativas históricas dos Evangelhos, Ele entendia que estava semeando o conhecimento do Senhor para as ovelhas do seu aprisco; independente de quem fossem e aonde estivessem. NOTA da Bíblia de Genebra: "Ser bíblico é ser evangelista, porque o evangelho é a mensagem central da Bíblia. Do início ao fim, ele indica o Salvador que deveria vir, veio e virá novamente. O único meio de tornar-se aceitável para o Pai é através da fé nele. Uma vez que as pessoas não podem crer nele a não ser que conheçam sobre ele, alguém deve revelar-lhes (Rm 10.14). Isso exige evangelização. {...} João Calvino disse: "Nós devemos, tanto quanto está dentro de nós, nos esforçar para levar todos os homens da terra para Deus". {...} O clero e os líderes cristãos não são os agentes exclusivos da evangelização, mas todo cristão, conforme surge a oportunidade no fluxo e refluxo da vida diária, deve ser uma testemunha de Cristo, confessando-o em palavras e ações. {...} Além do mais, a vida transformada do crente é, em si e por si, insuficiente para levar alguém à compreensão do evangelho. Ele pode testificar atraentemente a graça de Deus, mas é incompleta se não for expressa em palavras. {...} Assim também o comportamento cristão deve ser enriquecido por uma explanação do evangelho." (p. 1559-60, 1999). 2. O MANDATO CULTURAL DOS CRISTÃOS. Vamos dar uma olhada em princípios e conteúdos bíblicos desse pensamento e perspectiva. Texto Bíblico: Criados à imagem e semelhança de Deus. "Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou." (Gênesis 1.27). NOTA da Bíblia de Genebra: "O texto de Gn 1.1-25 descreve Deus como sendo pessoal, racional (dotado de inteligência e vontade), criativo, governando o mundo que criou, e um ser moralmente admirável (pois tudo o que criou é bom). Assim, a imagem de Deus refletirá essas qualidades. Os versículos 28-30 mostram Deus abençoando os seres humanos que acabara de criar, conferindo-lhes o poder de governar a criação, como seus representantes e delegados. A capacidade humana para comunicar-se e para relacionar-se tanto com Deus como com outros seres humanos aparece como outra faceta dessa imagem." (p. 10, 1999). "Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo." (Gênesis 2.15). NOTA da Bíblia de Genebra: "Deus deu aos seres humanos o mandato cultural de dominar a criação como reis benevolentes (9.2; Sl 8.5-8; Hb 2.5-9) {...} Debaixo da bênção divina, os seres humanos cumprem o mandato cultural (v.26 nota) de dar nomes à criação (v.5; 2.19-20). Esta atividade expressa o fato de que o homem leva em si a imagem do Criador-Rei. O homem caído, no entanto, distorce esta atividade em autodeificação e abuso da criação." (p. 9, 1999). O teólogo anglicano John Stott, o mais popular evangelista bíblico do século 20, descreve esse texto bíblico através do seguinte título; "Colaborando com Deus". Stott imaginava Adão indo trabalhar alegre e animado no jardim do Éden, no entendimento de que fora criado por Deus exatamente para cuidar de toda a criação; "afinal, Deus colocou o homem que ele havia criado para cuidar do jardim que ele havia plantado." Neste sentido, toda atividade e profissão dos homens deve ser considerada uma forma de colaborar com Deus no desenvolvimento da vida no planeta, sendo que Stott faz importante destaque deste tema, com entendimento amplo e orientador ao nosso conhecimento: "devemos fazer aqui uma importante distinção entre natureza e cultura. Natureza é tudo aquilo que Deus nos dá; cultura é o que nós fazemos com isso (agricultura, horticultura etc.). A natureza fornece a matéria-prima; a cultura a transforma em mercadoria. A natureza é uma criação divina; a cultura é fruto do cultivo humano. Deus nos convida a partilharmos de seu trabalho. De fato, nosso trabalho passa a ser um privilégio quando entendemos que estamos colaborando com Deus." (2007, p. 23). Nessa mesma perspectiva, o pensamento protestante calvinista reformado da Igreja Presbiteriana valoriza a atividade humana na construção das mais diversas facetas que englobam a sociedade; sendo que o termo "cultura" é boa expressão para referenciar a amplitude e importância das ações do homem em colaboração com Deus, na edificação da vida no mundo. 3. O DESENVOLVIMENTO DA CULTURA SEGUNDO O PLANO DE DEUS. Nessa visão bendita da atividade cultural humana na sociedade, no capitulo 4 de Gênesis encontramos Lameque, descendente de Caim, que vai ter alguns filhos, que foram abençoados com talentos diversos: "Jabal (...) foi o pai daqueles que moram em tendas e criam rebanhos. O nome do irmão dele era Jubal, que foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta. (...) Tubalcaim (...) fabricava todo tipo de ferramentas de bronze e de ferro." (Gn. 4. 20-22). Nota da Bíblia de Genebra: "Lameque representa um progressivo endurecimento no pecado - poligamia (cf 2.24; Mt 19.5-6) e uma vingança grosseiramente injusta - e a extensão do mandato cultural da pecuária (v.20), para as artes (v. 21) e ciências (v.22)." (p. 16, 1999). No destaque de John Stott, "desta forma, as construções, a agricultura, a música, a ciência e a tecnologia foram se desenvolvendo. Foi também nessa época que algumas pessoas começaram a cultuar a Deus de forma ordenada: "Nessa época começou-se a invocar o nome do Senhor" (v. 26). (2007, p. 39). Assim, percebemos o modo em que os seres humanos criados à imagem de Deus não ficam desprovidos de "sua dignidade ou seu talento cultural" quando da ocorrência do Pecado e da Queda, embora o egoísmo e outras consequências destas experiências sigam arruinando a existência humana. Em tudo isso, porém, Deus abençoava toda humanidade e toda criação em toda a história, conforme viemos a entender e definir na doutrina da Graça Comum. Pois a Graça Comum oferece a todo homem a vivência dos atributos comunicáveis, e a Graça Especial oferece aos cristãos a vivência dos atributos comunicáveis "santificados" em sua experiência e propósito. 4. JOÃO CALVINO. SENSUS DIVINITATIS. UMA COMPREENSÃO DO SER HUMANO RELIGIOSO NO PENSAMENTO REFORMADO. O Apóstolo Paulo apresenta na carta aos Romanos, o modo em que a realidade das Obras externas de Deus na criação, prontifica e desafia o homem a crer no Senhor Deus: "Assim, Deus mostra do céu sua ira contra todos que são pecadores e perversos, que por sua maldade impedem que a verdade seja conhecida. Sabem a verdade a respeito de Deus, pois ele a tornou evidente. Por meio de tudo que ele fez desde a criação do mundo, podem perceber claramente seus atributos invisíveis: seu poder eterno e sua natureza divina. Portanto, não têm desculpa alguma. Sim, eles conheciam algo sobre Deus, mas não o adoraram nem lhe agradeceram. Em vez disso, começaram a inventar ideias tolas e, com isso, sua mente ficou obscurecida e confusa. Dizendo-se sábios, tornaram-se tolos. Trocaram a grandeza do Deus imortal por imagens de seres humanos mortais, bem como de aves, animais e répteis." (Romanos, 1.18-23). Esse fundamento bíblico norteia o teólogo protestante João Calvino numa observação cristã da natureza humana, a partir da análise da realidade do desenvolvimento das religiões nas sociedades, que ele percebia na história. "Calvino afirma que há uma consciência ou senso de Deus (Sensus Divinitatis) implantado em todas as pessoas por natureza. Crer em Deus é uma crença universal de acordo com Calvino. {...} : existe um Deus, Ele é o Criador, e deve ser adorado." Na observação da realidade humana e realidade histórica, Calvino reflete a partir dos fundamentos cristãos, que: há indícios de que a crença em Deus é universal; todas as crenças observam a ideia de um poder ou divindade supremos; mesmo os que se declaram contra Deus, carregam consigo a consciência de sua existência. Para Calvino, a ideia de Deus implantada no coração/consciência do homem significa que a humanidade não poderá alegar ignorância diante dos juízos de Deus, posto que carregam consigo a veracidade de sua existência. Segundo Calvino, mesmo quando as religiões se tornam produto e instrumento de engano e controle de um povo, ainda se utilizam do poder que o sensus divinitatis produz nos seres humanos. O aspecto a ser percebido destaca o modo em que Deus criou a humanidade com um senso da existência da divindade, de forma que o ser humano está sempre em busca de adquirir respostas para uma existência transcendente de si mesmo, diante de um ser superior. Neste sentido, estar diante de práticas culturais religiosas, espirituais e filosóficas deve orientar nossa reflexão para a Soberania de Deus e os anseios e vazio do homem, enquanto aspectos de comunicação e relacionamento. 5. UMA COSMOVISÃO BÍBLICA DA EVANGELIZAÇÃO ATRAVÉS DA CULTURA. APÓSTOLO PAULO EM ATENAS. O Apóstolo Paulo utilizou a cultura filosófica, existencial e religiosa greco-romana estabelecida no primeiro século, para anunciar o Evangelho na cidade de Atenas, conforme lemos em Atos 17. A narrativa histórica de Lucas descreve que após Paulo anunciar o evangelho na sinagoga e mercado da cidade, ele foi convidado pelos gregos para debater aquela "nova" doutrina e pensamento no lugar adequado para debates e discussões; o Areópago. Paulo notou a intensa cultura religiosa vigente na cidade e utilizou uma inscrição de altar dedicado ao "deus desconhecido" para apresentar o Criador de tudo que existe, o Senhor de toda terra e céus. Texto Bíblico: "Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo. Ele é o Deus que fez o mundo e tudo que nele há. Uma vez que é Senhor dos céus e da terra, não habita em templos feitos por homens e não é servido por mãos humanas, pois não necessita de coisa alguma. Ele mesmo dá vida e fôlego a tudo, e supre cada necessidade. De um só homem ele criou todas as nações da terra, tendo decidido de antemão onde se estabeleceriam e por quanto tempo. Seu propósito era que as nações buscassem a Deus e, tateando, talvez viessem a encontrá-lo, embora ele não esteja longe de nenhum de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos. Como disseram alguns de seus próprios poetas: "Somos descendência dele". E, por ser isso verdade, não devemos imaginar Deus como um ídolo de ouro, prata ou pedra, projetado por artesãos. No passado, Deus não levou em conta a ignorância das pessoas acerca dessas coisas, mas agora ele ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois ele estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça por meio do homem que ele designou, e mostrou a todos quem é esse homem ao ressuscitá-lo dos mortos. Quando ouviram Paulo falar da ressurreição dos mortos, alguns riram com desprezo. Outros, porém, disseram: "Queremos ouvir mais sobre isso em outra ocasião." (Atos 17.23-32). NOTA da Bíblia de Genebra: "Atenas atingiu seu ápice no século V a.C. sob Péricles (495-429 a.C.), quando o Partenon e outras magníficas estruturas foram construídas. Os poetas clássicos Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanes floresceram neste tempo. Embora conquistada pelos romanos em 146 a.C., Atenas continuou a ser um grande centro intelectual e cultural. {...} Havia estátuas de deuses e deusas no Partenon e em outros templos da Acrópole, assim como nos edifícios públicos, comerciais e templos da cidade. {...} Epicuro (342-270 a.C.) ensinava que o propósito da vida era o prazer e a liberdade da dor, paixões e medos. Por outro lado, o cipriota Zenão (340-265 a.C.), fundador do estoicismo, enfatizava o viver em harmonia com a natureza, e também o depender da razão e de outros poderes auto-suficientes. Ambas as escolas destacavam a busca pela paz da mente. Zenão tinha um conceito panteísta de Deus como a "alma do mundo". {...} Areópago. O nome significa "Colina de Marte". É uma colina perto da Acrópole onde, em tempos antigos, um conselho tinha se reunido. O conselho tornou-se o conselho da cidade de Atenas e, nos tempos romanos, era a corte que supervisionava a moral, a educação e religião. {...} Ao Deus Desconhecido. Possivelmente uma referência ao Altar dos Doze Deuses em Atenas, erigido para assegurar que nenhum deus ficasse fora de sua adoração. Paulo usou este ponto de contato para começar seu discurso sobre o Deus que fez o mundo, que não é esculpido em pedra ou confinado a algum templo, e que controla os tempos e os lugares onde as pessoas vivem. {...} Nele vivemos, e nos movemos, e existimos. Paulo diz que Deus trouxe todas as pessoas à existência e que elas só existem por sua providência. No mundo antigo, os três grandes mistérios da filosofia e da ciência eram as questões de vida, movimento e existência. Ver "Revelação Geral", em Salmo 19.1. {...} Alguns de vossos poetas. Paulo sabia que os atenienses não conheciam o Antigo Testamento, e ele fez citações de três de seus próprios poetas. Embora suas palavras originalmente se referissem a Zeus, o chefe dos deuses gregos, Paulo aplicou as citações ao Deus vivo do céu. Os poetas são Epimênides (c. 600 a.C.), Cleanto (331-233 a.C.) e Arato (315-240 a.C.). {...} Não levou Deus em conta os tempos da ignorância. Isto é, Deus levou em consideração as limitações do conhecimento deles a seu respeito, mas agora Paulo revelou-lhes a verdade a respeito do Deus vivo. Com todos os povos, eles são chamados a se arrependerem de seus pecados. {...} Um dia em que há de julgar... por meio de um varão que designou. O dia do juízo final (Ap 20.12-15)." (p. 1297-98, 1999). DESTAQUES da aproximação entre evangelização e cultura: - Poetas desenvolveram pensamentos clássicos nos últimos cinco séculos a.C.tornando Atenas em um centro intelectual; - Estátuas e símbolos de divindades no Partenon, templos da Acrópole, e em edifícios públicos, comerciais e templos da cidade. - Epicuro (342-270 a.C.) ensinava que o propósito da vida era o prazer e a liberdade da dor, paixões e medos. - Zenão (340-265 a.C.), fundador do estoicismo, enfatizava o viver em harmonia com a natureza, e também o depender da razão e de outros poderes auto-suficientes. - Ambas as escolas destacavam a busca pela paz da mente. Zenão tinha um conceito panteísta de Deus como a "alma do mundo". {...} - Areópago. O nome significa "Colina de Marte". É uma colina perto da Acrópole onde, em tempos antigos, um conselho tinha se reunido. Local aonde se reunia o conselho da cidade, sendo uma corte que nos tempos romanos, supervisionava a moral, a educação e religião. - Ao Deus Desconhecido. Possivel referência ao Altar dos Doze Deuses em Atenas, erigido para assegurar que nenhum deus ficasse fora de sua adoração. - Paulo usou este ponto de contato para começar seu discurso sobre o Deus que fez o mundo, que não é esculpido em pedra ou confinado a algum templo, e que controla os tempos e os lugares onde as pessoas vivem. - Nele vivemos, e nos movemos, e existimos. Paulo diz que Deus trouxe todas as pessoas à existência e que elas só existem por sua providência. No mundo antigo, os três grandes mistérios da filosofia e da ciência eram as questões de vida, movimento e existência. - Alguns de vossos poetas. Paulo sabia que os atenienses não conheciam o Antigo Testamento, e ele fez citações de três de seus próprios poetas. Embora as palavras dos poetas se referissem a Zeus, o chefe dos deuses gregos, Paulo aplicou as citações ao Deus vivo do céu. Os poetas são Epimênides (c. 600 a.C.), Cleanto (331-233 a.C.) e Arato (315-240 a.C.). (p. 1297-98, 1999). DEUS Criador, Sustentador, Soberano, Pai e Juiz. No destaque do entendimento de John Stott sobre essa pregação do Apóstolo Paulo, anotamos perspectivas que a evangelização e pré evangelização através da cultura deve assumir como temas de comunicação. Conforme Sott, Paulo "proclamou Deus em sua plenitude, como Criador, Sustentador, Soberano, Pai e Juiz. Tudo isso é parte, ou, no mínimo uma introdução necessária ao evangelho. Muitas pessoas tem rejeitado o evangelho não por entenderem que ele é falso, mas por considerarem sua mensagem trivial. Elas estão à procura de uma visão de mundo integrada, que faça sentido à sua experiência de vida. Paulo nos ensina que não podemos pregar o evangelho de Jesus separado da doutrina de Deus, ou falar da cruz sem falar da criação, ou da salvação sem o juízo, e vice-versa." (2007, p. 334). Neste sentido, Deus se faz conhecer no mundo por seus atributos, e a evangelização percebe, apresenta e explica estes atos e obras abençoadores do Senhor sobre a Terra. Observe que, a cultura é um dom de Deus, tanto para formalizar a origem destes talentos, quanto para expressar a personalidade e pensamento do Criador. 6. UMA AVALIAÇÃO POSITIVA DA CULTURA NO PENSAMENTO REFORMADO. NEO-CALVINISMO. ABRAHAM KUYPER E CALVINISMO HOLANDÊS. A CULTURA MODERNA NO OLHAR PROTESTANTE CALVINISTA REFORMADO PRESBITERIANO. Na segunda metade do século 19 e início do século 20, o teólogo e líder político holandês, Abraham Kuyper desenvolveu em sua nação uma série de reflexões e transformações a partir das bases do pensamento de João Calvino. O propósito foi a compreensão de toda vida humana e sociedade a partir da Cosmovisão Reformada. Kuyper desenvolveu pensamentos, ideias e ações, a partir de um movimento de retorno ao pensamento da tradição calvinista, que veio a ser denominado de "calvinismo holandês" e "neocalvinismo", naquele período. O conteúdo essencial do pensamento de Kuyper foi exposto em Palestras ministradas na Universidade de Princeton, EUA, em 1898, apresentando temas teológicos "como um fundamento para uma visão abrangente da vida." O conteúdo das palestras está disponível no livro, CALVINISMO, da Editora Cultura Cristã. (Kuyper, p. 5-6, 2003.) a) Um dos temas de Kuyper reflete a "relação do cristão com o mundo", apresentando o pensamento doutrinário de que Deus derrama sua Graça Especial no propósito de salvar a humanidade através do Evangelho, enquanto derrama continuamente em toda história a sua Graça Comum, no propósito de preservar a existência humana e a criação, regulando a maldição e impedindo o crescimento da corrupção, ao mesmo tempo em que faz prosperar aspectos e elementos da vida. b) Segue uma citação da Palestra Stone, O Calvinismo e o Futuro: "(O Calvinismo) elevou nossa religião cristã ao seu mais alto esplendor espiritual; criou uma ordem eclesiástica que tornou-se a pré-formação da confederação de Estados; provou ser o anjo da guarda da ciência; emancipou a arte; divulgou um esquema político que deu à luz o governo constitucional tanto na Europa como na América; encorajou a agricultura e a indústria, o comércio e a navegação; colocou uma marca completamente cristã sobre a vida da família e sobre os laços familiares; por seu alto padrão moral, promoveu a pureza em nossos círculos sociais, e para produzir esse multiforme efeito, colocou à disposição da Igreja e do Estado, da sociedade e do círculo familiar uma concepção filosófica fundamental estritamente derivada de seu princípio dominante, e portanto, completamente própria." (p. 97-98). O princípio calvinista entende que a Soberania de Deus sobre todas as coisas, conforme cada item acima citado, orienta que as mais diversas áreas da vida cultural do homem não devem ser submetidas ao Estado ou Igreja, devendo ser protegidas segundo sua natureza e função para com o desenvolvimento da sociedade. 7. CAPELANIA, Evangelização e Cultura. A comunicação e partilha de sentimentos e conceitos do Evangelho na perspectiva do ambiente e situação do próximo. "Capelania. Apoio espiritual e psicológico para o encontro do sentido da vida." "O Capelão é: agente reconciliador da criatura com o Criador; pessoa... dotada de habilidades, dons e talentos colocados à disposição de outros...." "A Capelania é: lembrar as limitações impostas pelo Criador, mas também fazer refletir sobre o potencial investido por Ele, bem como Seu infinito poder sobre todas as coisas e situações; ministrar a todos sobre os atributos do nosso Deus, como sendo Soberano, Onisciente, Onipotente e Onipresente; demonstração da ajuda do Alto, como mais eficiente e eficaz, do que a auto ajuda." Temas para a prática da Capelania: "o lugar da proclamação e a relevância do discipulado nos diversos ambientes; o significado da visão integral - para o Reino de Deus; aplicando a Palavra de Deus em todas as situações, conhecendo as instruções de Jesus para cada tema da vida atual." (p. 2-11, 2009). 8. A CAPELANIA CRISTÃ COMO UM PROJETO DE PRÉ-EVANGELIZAÇÃO PERANTE A SOCIEDADE DOS HOMENS. Baseado nestes princípios bíblicos e reflexões teológicas, propomos uma visão de Evangelização através da Cultura numa perspectiva da Capelania. Cada Cristão e igualmente grupo de cristãos que tem o desejo de cumprir a Grande Comissão de Evangelização dada pelo Senhor Jesus, poderiam fazer alguns exercícios e análises sobre sua realidade e relacionamentos: - Mapear sua vida cultural; - As possibilidades de comunicação no ambiente e situação existencial do outro com quem convivem; - Ambientes, Atividades profissionais e culturais, e Áreas de conhecimento de que participam e tem contato; - Observar os seguintes ambientes: de profissões, conhecimento e reflexão, artes, etc. A partir disto, anotar algumas das atividades de aproximação que a igreja tem realizado diante do próximo, pra utiliza-las numa perspectiva de capelania social: eventos direcionados, encontros de convivência, palestras de comunicação, reuniões de: grupos, lares, amizades, chás, cafés, passeios, células, etc. Reflexão Pessoal ao Cristão e Cristãos em grupo: quais atividades de pré evangelização diante da Cultura numa perspectiva de Capelania são possíveis e necessárias em nossas realidades, e de que forma devem ser integradas num plano de evangelização e discipulado num segundo momento? ANÁLISE. A visão e atividades de evangelização do Apóstolo Paulo em sua missão "junto aos gentios" encontra valor na visão protestante calvinista reformada que dá base à constituição da Igreja Presbiteriana. Orienta uma aproximação sábia diante das pessoas e sociedade, junto de um conteúdo religioso apropriado ao ambiente e situação do próximo. Sendo algo que deve nortear o relacionamento dos cristãos perante uma sociedade cada vez mais diversa e, até, contrariada com o pensamento do Cristianismo. A atitude religiosa cristã combativa acerca de conceitos e no anúncio de valores cristãos que temos percebido e recebido da visão fundamentalista norte-americana em suas influências na sociedade cristã evangélica brasileira, são distintas tanto do pensamento de Paulo, como da reflexão e experiência calvinista e reformada na história. O Neo-calvinismo que traduz esses valores diante de uma sociedade moderna nos séculos l9 e 20, oferece tanto aproximação e diálogo comuns através de uma relação democrática, como o respeito e a proteção que instituições confessionais oferecem, para que os cristãos vivam numa sociedade em conflito, buscando gerar paz e tranquilidade, piedade e dignidade aos cristãos, conforme a oração e intercessão do Apóstolo Paulo. Estes valores e práticas podem ser interessantes aos cristãos na atualidade, bem como carregam consigo importantes princípios bíblicos e valiosas experiências protestantes reformadas na história. 9. SEMEAR E COLHER. ORAÇÃO E SABEDORIA NA EVANGELIZAÇÃO. Nota da Bíblia de Genebra: "O sucesso da evangelização não depende apenas do esforço humano, mas também da obra regeneradora do Espírito Santo. No testemunho, os cristãos são humildes e devotadamente dependentes da ajuda e da supervisão de Deus. Um cristão deve ser paciente, aguardando o tempo de Deus, percebendo que o mais importante é ser fiel e diligente na execução da ordem de Deus." (p. 1560, 1999). "Dediquem-se à oração com a mente aberta e o coração agradecido. Orem também por nós, para que Deus nos dê muitas oportunidades de falar do segredo a respeito de Cristo. É por esse motivo que sou prisioneiro. Orem para que eu proclame essa mensagem com a devida clareza. Vivam com sabedoria entre os que são de fora e aproveitem todas as oportunidades. Que suas conversas sejam amistosas e agradáveis, a fim de que tenham a resposta certa para cada pessoa." (Colossenses 4. 2-6). ORAÇÃO FINAL. "Se algum de vocês precisar de sabedoria, peça a nosso Deus generoso, e receberá. Ele não os repreenderá por pedirem. Mas, quando pedirem, façam-no com fé, sem vacilar...". (Tiago. 5-6). A oração pedindo sabedoria transforma princípios e valores em Missão. REFLEXÃO. Além de analisar o modo em que nossa vida familiar, profissional e social pode ser direcionada em atividades de capelania cristã individuais e em grupo, deve-se ficar atento ao que a Igreja e Instituição presbiterianas realizam de ações nessa perspectiva, a fim de aproveitarmos as oportunidades. O Hospital Evangélico Mackenzie de Curitiba busca voluntários para atuação numa capelania hospitalar, além de voluntariado social em diversas ações. Ao mesmo tempo, existe abertura para atuar internamente no hospital com atividades capelãs diversas diante das crianças, adolescentes e pacientes em geral, o que não deixa de ser desafio e oportunidade para nossos grupos da igreja; UCP, UPA, UMP, UPH e SAF. Ainda, existe o projeto de que pacientes atendidos no hospital pela capelania, sejam acompanhados por igrejas próximas de suas residências, caso isto desejem. Algo que abre situações de capelania pós serviço hospitalar, nas quais igualmente os grupos da igreja poderiam estar presentes. Neste sentido, importante refletir que a amizade entre cristãos que se busca através da comunhão entre os irmãos é uma convivência que irá produzir frutos de vida e de afetividade exatamente através do serviço desenvolvido em conjunto pelo povo de Deus; ainda que todo convívio e encontro entre os cristãos seja sempre salutar e valioso. Num país religioso e pré-cristão como o Brasil, em que a oração do Pai Nosso é um ato religioso grandemente utilizado nas mais diversas situações culturais da nação, a meditação nos conteúdos de cada frase da oração e a ênfase no Nome de Deus Pai vai capacitar os cristãos para comunicar verdades cristãs importantes à população. REFERÊNCIAS. BÍBLIA de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. BÍBLIA SAGRADA de Auxílio à Capelania. NVI. Geográfica, Santo André SP, 2009. BÍBLIA Sagrada Nova Versão Transformadora, Editora Mundo Cristão, 2020. RIBEIRO DE CARVALHO, Guilherme Vilela e outros (organizadores) Cosmovisão Cristã e Transformação. Viçosa, MG : Ultimato, 2006. Artigo: Abraham Kuyper: Um modelo de transformação integral, por Nilson Moutinho dos Santos. STOTT, John. A Bíblia toda o ano todo: meditações diárias de Gênesis a Apocalipse / John Stott; tradução: Jorge Camargo. - Viçosa, MG: Ultimato, 2007. KUYPER, Abraham. Calvinismo. Tradução de Ricardo Gouveia e Paulo Arantes - São Paulo: Cultura Cristã, 2003. https://dollynhopuritano.wordpress.com/2017/01/16/sensus-divinitatis-senso-da-divindade-por-joao-calvino/ Autor. Ivan S Rüppell Jr é ministro licenciado da IPB, professor de ciências da religião e teologia.