sexta-feira, 29 de junho de 2018

a Espiritualidade da PERSONALIDADE da Humanidade, no Cinema: A GRANDE APOSTA

Afinal, o que veio primeiro: o ovo ou a galinha? Segundo a espiritualidade judaico-cristã, as pessoas vieram primeiro, e só depois, o Ego - o "eu ideal de cada um" de nós. O Ego existe como uma espécie de "defensor da personalidade" do cidadão, então, ele só surgiu na hora em que o homem resolveu se defender... de Deus, lá no Princípio. Ora, o negócio é que o filme "A Grande Aposta" (The Big Short, EUA, 2015) é a mais completa obra cinematográfica acerca da crise imobiliária norte-americana de 2008, numa concorrência que não é fácil de ganhar. E o seu tema espiritual natural é uma espécie de experiência geral da avareza existencial da humanidade. Pois a avareza é aquele medo profundo de perder algo que possuímos, o que faz a gente se apegar gravemente ao "bem" em questão. E no caso do "ego", o que a gente precisa segurar bem forte nas mãos pra não deixar escapar, bem, é um pedaço da nossa própria personalidade. Tá entendendo? Dá uma olhada na indicação do AdoroCinema, de Francisco Russo: "(o filme é) baseado em fatos reais - sobre a complexa crise imobiliária ocorrida nos Estados Unidos em 2008. Só que, ao invés de se render ao didatismo técnico inerente ao tema, McKay demonstra imensa habilidade ao transformar a sopa de letrinhas do mercado imobiliário em um verdadeiro turbilhão de referências (e críticas) à cultura pop e ao american way of life, como poucas vezes se viu no cinema americano nas últimas décadas." A Grande Aposta é cinema de primeira qualidade, sob a direção de Adam Mckay e com os atores Christian Bale, Steve Carell e Ryan Gosling em grande performance. E pra saber mais da história, por favor, assista logo ao filme! Agora, vamos analisar o enredo da trama em busca da tal espiritualidade da Personalidade da Humanidade, certo? A observação essencial do filme é dada pelo ex-guru de Wall Street, Ben Rickert (Brad Pitt), assim que grita para seu pessoal parar de dançar após terem fechado um bom negócio, já que para a aposta deles sair vencedora será necessário que quase o povo inteiro dos EUA perca: sendo que a crise imobiliária em questão deixou mais de 8 milhões de norte-americanos desempregados, além de algumas centenas de milhares morando na rua, só pra começar. Enfim, o enredo do filme revela rapidamente como os homens jamais deixam de proteger aquele Ego(ismo) essencial da raça, assim que chega a hora da verdade da humanidade. Pois todos os corretores protagonistas das decisões financeiras no filme, bem, vai chegar o momento em que rápido dirão: "farinha pouca, meu pirão primeiro". Opção básica racional que esclarece o absoluto individualismo do ser humano. E olhe que dos seis agentes financeiros que movem a trama do filme, cinco deles buscam agir "profissionalmente", e até desejam enfrentar, quiçá, o corrupto sistema fraudulento "capitalista", quando este decide proteger os interesses da Elite de sempre. Só que não! Todos eles, e não sobra ninguém pra contar uma história diferente no final, irão logo decidir por si mesmos ainda que (milhares) de cidadãos pobres e comuns venham a pagar (mais) pelo prejuízo de quase todo mundo. Eis aí um exemplo de como a identidade (EGO) da personalidade da humanidade se protege na hora H sem importar as consequências ao próximo, aquele mesmo que almejamos amar como a nós mesmos, conforme a boa espiritualidade. Eita. Daí a importância de não se meter em tentações profissionais e ideais que nos colocam regularmente em situações que nos fazem viver no limite ético dos usos e abusos contra o ser humano - pois o fato é que vamos escolher a nós mesmos no momento decisivo. E aí, "bum"! Pois é assim que avacalhamos a vida espiritual (e social) neste planeta, como tem ocorrido na história humanista da nossa Egoísta civilização. Aiii. Nosso desafio agora é refletir como praticamente todas as vivências saudáveis da espiritualidade dos homens confrontam gravemente este estilo de vida centralizado no EU nosso de cada dia. E neste objetivo, aproveito pra citar algumas análises valiosas do último livro do filósofo Luis Felipe Pondé, "Espiritualidade para Corajosos" - a busca de sentido no mundo de hoje (Planeta, SP, 2018). O autor expõe o entendimento geral de espiritualidade "como sendo uma vida para além da vida meramente material", a qual deseja superar o "sentimento de vazio que nos corrói (...) sentimento (que) não é mera abstração filosófica, é fato cotidiano, associado a pessoas, ao trabalho, aos afetos, às doenças, aos fracassos, aos constrangimentos. A morte é o nome síntese desse vazio." No propósito de tratar este "sentimento de vazio que nos corrói", Pondé esclarece que a espiritualidade busca o conhecimento de um princípio ou Ser que esteja acima e no controle de tudo isso que nos angustia. E ao relacionar o anseio espiritual do homem com a necessidade de encontrarmos uma ordem virtuosa pra vida, o filósofo analisa diversos pensamentos que se propõe a orientar os homens nesta peculiar caminhada existencial. Dentre elas, a perspectiva cristã: "A espiritualidade cristã pode ser pensada de várias formas, mas a mais encantadora, na minha opinião, é a espiritualidade da graça (...) Para Agostinho, quem tem a graça nunca "sabe" que tem a graça porque, por efeito dela mesma, sai da posição orgulhosa de querer se afirmar autossuficiente em relação a Deus... Não somos causa sui, isto é, não somos causa de nós mesmos, só Deus é. Sem a graça de Deus que nos retira do nada e nos mantém no Ser, somos isso mesmo, nada." O autor utiliza uma ilustração para esclarecer esta graciosa visão da espiritualidade judaico-cristã: "No hassidismo (e aqui passo ao judaísmo), dois contos nos servem para ilustrar a raiz judaica da associação entre a superação do eu e a da espiritualidade (...) No segundo conto, um justo morre e vai para o céu. Recebido por Deus, faz o tour do paraíso. Ouvem um som ensurdecedor vindo de uma porta fechada. Pergunta a Deus o que as pessoas estão gritando e o que é aquela porta fechada. Deus responde que aquilo atrás da porta é o inferno e diz ao justo que abra a porta para saber o que gritavam. Ele abre e ouve: "Eu! Eu! Eu!" E para concluir aqui as citações do filósofo, segue o que entendo ser uma integração íntima entre a ideia de espiritualidade e altruísmo - que é o exato contrário do egoísmo da humanidade: "A espiritualidade mística neste caso é a vida vivida sem os imperativos de satisfação do eu... Transcender a "identidade" é existir sem o peso de querer saber o tempo todo quem eu sou, o que eu quero e o que eu penso das coisas... A espiritualidade mística é, em si, a superação do gozo místico, em direção ao cuidado com o mundo e com as pessoas que nele habitam. É um cuidado com a Criação... Quem ainda pensa que a espiritualidade é a busca de si mesmo e do "autoconhecimento gozoso" não saiu da infância espiritual." Observe como este "Ego" que é uma espécie de protetor da identidade do cidadão, torna-se "algo" que surgiu exatamente na hora em que o homem resolveu se defender de Deus, lá no Princípio. Ou seja, tanto aquele que busca Deus, como aquele que deseja penetrar na "ordem" das coisas, precisa logo refletir acerca deste paradoxo filosófico da espiritualidade: o de que quanto mais EGO existe, menos Deus há por perto; e igualmente, quanto mais Eu, menos espiritualidade - e haja vazio e angústia até que EU consiga isto perceber, não é mesmo? Pois a intimidade com Deus através de uma relação de espiritualidade em que tanto Ele quanto Eu simplesmente assumimos nosso lugar apropriado na ordem das coisas, pois bem, eis aí uma vivência saudavel que irá se tornar o contrário perfeito desta idolatria geral do nosso EGO, tá sabendo? Afinal, é a exaltação superior do nosso EU que nos faz gerenciar de modo egoísta a vida social (e a alma individual) de quase todo mundo por aí; semeando uma realidade humanista catastrófica, conforme exemplificada no filme. Mas há outros bons filmes que você deve assistir pra fechar este ciclo relacional entre a espiritualidade dos homens e o Egoísmo da humanidade, a partir da crise imobiliária de 2008. Indico ao menos três: "Grande demais para Quebrar" (Too Big To Fail, EUA, 2011), de Curtis Hanson, com Paul Giamatti e William Hurt, acerca das negociações entre o governo dos EUA e os banqueiros durante a crise; "O Dia Antes do Fim" (Margin Call, EUA, 2011), acerca das tratativas internas de um banco de investimentos que gerencia a crise no objetivo de salvar os investimentos da chefia da instituição, de J.C.Chandor, com Kevin Spacey, Jeremy Irons, Demi Moore e Paul Bettany; e, finalmente, o mais dramático e essencial: 99 Casas (99 Homes, EUA, 2016), de Ramin Bahrani, com Andrew Garfield, Michael Shannone e Laura Dern, do qual cito aqui a sinopse de AdoroCinema: "Dennis Nash (Andrew Garfield) perdeu a sua casa por conta da hipoteca e teve que se mudar para um pobre hotel com sua mãe (Laura Dern) e seu filho pequeno. Desesperado para reaver seu lar, ele aceita trabalhar com o imoral agente imobiliário Rick Carver (Michael Shannon), que foi a pessoa responsável pela sua perda. Logo, ele tem que ajudar Carver a expulsar outras pessoas e a desviar dinheiro do governo. Enquanto seus problemas financeiros desaparecem, a consciência de Nash passa a atormentá-lo." Por enquanto é isso, gente. Bom filme! E cuide bem da sua espiritualidade. "Encanta-me essa ideia de que apenas desistindo de sermos o centro do mundo e de nossa própria vida somos capazes de experimentar a verdadeira doçura de Deus e da vida."(Luis Felipe Pondé)

quarta-feira, 27 de junho de 2018

a Espiritualidade do CASAMENTO, no Cinema: FOI APENAS UM SONHO, de Sam Mendes

"Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", já dizia o ditado popular que bem simboliza as reflexões do cineasta Sam Mendes quando decide pôr a colher no caldeirão existencial do "american way of life", o padrão norte-americano de vida social que se tornou modelo ocidental a partir da segunda metade do século 20. O talentoso diretor britânico joga lenha no fogão caseiro da maioria dos seres humanos do planeta ao abordar duas maneiras possíveis de superação da nossa rotina de homens e mulheres "do lar", oferecendo para ambas tanto uma impactante conclusão como finais sem solução. Os filmes em questão são "Beleza Americana" (American Beauty, 1999), e "Foi apenas um sonho" (Revolutionary Road, 2008). E as indagações acerca de como transformar o tédio familiar da vida diária de quase todo mundo é o que movimenta a alma dos protagonistas. Em "Beleza Americana" vemos Lester Burham (Kevin Spacey) "correr" de sua vida profissional enquanto detalhadamente planeja como escapar de sua rotina conjugal. Já no filme "Foi apenas um sonho" observamos Frank e April (Leonardo DiCaprio e Kate Winslet) imaginarem uma nova vida em Paris enquanto acabam permanecendo em Connecticut mesmo. E como diz o ditado, tanto o que corre quanto os que ficam, o bicho derruba! Eis a aparente conclusão sem solução de Sam Mendes para o "american way of life". E haja reflexão sobre o nosso cotidiano conjugal para meditar espiritualmente nestes filmes, sim senhor. O negócio é que o instigante romance dramático "Foi apenas um sonho" aparenta visualizar bastante as possibilidades de um sonho conjugal enquanto o que desenvolve mesmo são as inquietações do dia a dia familiar. Daí que a oportunidade do casal libertar-se de sua rotina a partir de uma transformação do cotidiano não se torna exatamente seu tema essencial, ou a sua mensagem ideal, seja o que for. Pois o filme é bem mais realista e cruel do que os (bons) entretenimentos escapistas que Hollywood apresenta ao mundo desde sempre. Sam Mendes aponta sua câmera para uma mudança exterior, mas seu olhar investiga, de verdade mesmo, o espírito humano. E o que seu filme revela é tanto a grandeza da nossa imaginação e expectativas, quanto a limitação de nossos sentimentos e responsabilidades. Algo que não é necessariamente negativo ou positivo, no fim das contas. Afinal, quem foi que disse que reconhecer seus próprios limites não é uma vitória, também? Dá uma olhada na sinopse: "Frank e April estão bem distantes da convencionalidade dos subúrbios. No entanto, é exatamente isso que os irrita quando compram uma casa em Connecticut. Ele trabalha 10 horas por dia em um emprego que odeia enquanto ela, uma dona de casa na década de 1950, anseia por realização e paixão. Rebelando-se contra o tédio de suas vidas, o casal planeja uma fuga que vai por à prova seus limites." Enfim, assim como o diretor, a espiritualidade judaico-cristã também valoriza o valor analítico da interioridade do ser humano. Eis a razão para que o salmista faça orações afirmativas cantando sobre como Deus o livrou... de si mesmo: "Senhor, meu coração não é orgulhoso, e meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com questões grandiosas ou maravilhosas demais para minha compreensão" (Salmo 133). A solução espiritual deste ansioso clamor de fé é muito clara: "Pelo contrário, acalmei e aquietei a alma...", pois precisamos ser protegidos até dos próprios sonhos, muitas vezes. O Apóstolo São Paulo desenvolve o princípio ao definir para um seguidor de Jesus que a maior transformação de seu destino espiritual irá ocorrer durante a sua permanência no cotidiano de sempre: exatamente ali onde somos pais e filhos, amigos e vizinhos, cidadãos e profissionais, maridos e esposas, uns dos outros. Sim, pois nada é mais revolucionário na fé cristã quanto amadurecer a personalidade sem fugir da responsabilidade de permanecer na mesma localidade e história, de sempre. Eita. Sem desprezar que é sempre melhor saborear um hamburguer durski por aqui do que um croissant seco acolá, quiçá. A conclusão do filme é uma cena dupla de casais partilhando nossos desencontros do cotidiano, na visão de que pratiquemos uma de suas atitudes na busca de melhorar a comunicação e até manter a sanidade após anos de convivência. Pois enquanto um dos maridos tem coragem de avisar o que desagrada, o outro adquire a sábia compreensão de não mais ouvir o que só irrita. E acredite, ainda que sejam opostas uma da outra, as duas formas de lidar com o dia a dia conjugal serão igualmente importantes para se resguardar tanto a continuidade familiar, quanto a serenidade particular. E haja discernimento para decidir qual delas escolher pra melhor vivenciar cada situação da nossa intensa rotina do lar. Mas, acredite, vale a pena! Afinal, casar não é apenas um sonho, mas sim, uma grande experiência existencial espiritual. E que venham os melhores sonhos, então, junto das mais plenas realidades, pois os melhores filés estão junto do osso.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

a ESPIRITUALIDADE da ROTINA CONJUGAL, no Cinema: FOI APENAS UM SONHO, de Sam Mendes

"Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", já dizia o ditado popular que bem simboliza as reflexões do cineasta Sam Mendes quando decide pôr a colher no caldeirão existencial do "american way of life", o padrão norte-americano de vida social que se tornou modelo ocidental a partir da segunda metade do século 20. O talentoso diretor britânico joga lenha no fogão caseiro da maioria dos seres humanos do planeta ao abordar duas maneiras possíveis de superação da nossa rotina de homens e mulheres "do lar", oferecendo para ambas tanto uma impactante conclusão como finais sem solução. Os filmes em questão são "Beleza Americana" (American Beauty, 1999), e "Foi apenas um sonho" (Revolutionary Road, 2008). E as indagações acerca de como transformar o tédio familiar da vida diária de quase todo mundo é o que movimenta a alma dos protagonistas. Em "Beleza Americana" vemos Lester Burham (Kevin Spacey) "correr" de sua vida profissional enquanto detalhadamente planeja como escapar de sua rotina conjugal. Já no filme "Foi apenas um sonho" observamos Frank e April (Leonardo DiCaprio e Kate Winslet) imaginarem uma nova vida em Paris enquanto acabam permanecendo em Connecticut mesmo. E como diz o ditado, tanto o que corre quanto os que ficam, o bicho derruba! Eis a aparente conclusão sem solução de Sam Mendes para o "american way of life". E haja reflexão sobre o nosso cotidiano conjugal para meditar espiritualmente nestes filmes, sim senhor. O negócio é que o instigante romance dramático "Foi apenas um sonho" aparenta visualizar bastante as possibilidades de um sonho conjugal enquanto o que desenvolve mesmo são as inquietações do dia a dia familiar. Daí que a oportunidade do casal libertar-se de sua rotina a partir de uma transformação do cotidiano não se torna exatamente seu tema essencial, ou a sua mensagem ideal, seja o que for. Pois o filme é bem mais realista e cruel do que os (bons) entretenimentos escapistas que Hollywood apresenta ao mundo desde sempre. Sam Mendes aponta sua câmera para uma mudança exterior, mas seu olhar investiga, de verdade mesmo, o interior humano. E o que seu filme revela é tanto a grandeza da nossa imaginação e expectativas, quanto a limitação de nossos sentimentos e responsabilidades. Algo que não é necessariamente negativo ou positivo, no fim das contas. Afinal, quem foi que disse que reconhecer seus próprios limites não é uma vitória, também? Dá uma olhada na sinopse: "Frank e April estão bem distantes da convencionalidade dos subúrbios. No entanto, é exatamente isso que os irrita quando compram uma casa em Connecticut. Ele trabalha 10 horas por dia em um emprego que odeia enquanto ela, uma dona de casa na década de 1950, anseia por realização e paixão. Rebelando-se contra o tédio de suas vidas, o casal planeja uma fuga que vai por à prova seus limites." Enfim, assim como o diretor, a espiritualidade judaico-cristã também valoriza o valor analítico da interioridade do ser humano. Eis a razão para que o salmista faça orações afirmativas cantando sobre como Deus o livrou... de si mesmo: "Senhor, meu coração não é orgulhoso, e meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com questões grandiosas ou maravilhosas demais para minha compreensão" (Salmo 133). A solução espiritual deste ansioso clamor de fé é muito clara: "Pelo contrário, acalmei e aquietei a alma...", pois precisamos ser protegidos até dos próprios sonhos, muitas vezes. O Apóstolo São Paulo desenvolve o princípio ao definir para um seguidor de Jesus que a maior transformação de seu destino espiritual irá ocorrer durante a sua permanência no cotidiano de sempre: exatamente ali onde somos pais e filhos, amigos e vizinhos, cidadãos e profissionais, maridos e esposas, uns dos outros. Sim, pois nada é mais revolucionário na fé cristã quanto amadurecer a personalidade sem fugir da responsabilidade de permanecer na mesma localidade e história, de sempre. Eita. Sem desprezar que é sempre melhor saborear um hamburguer durski por aqui do que um croissant seco acolá, quiçá. A conclusão do filme é uma cena dupla de casais partilhando nossos desencontros do cotidiano, na visão de que pratiquemos uma de suas atitudes na busca de melhorar a comunicação e até manter a sanidade após anos de convivência. Pois enquanto um dos maridos tem coragem de avisar o que desagrada, o outro adquire a sábia compreensão de não mais ouvir o que só irrita. E acredite, ainda que sejam opostas uma da outra, as duas formas de lidar com o dia a dia conjugal serão igualmente importantes para se resguardar tanto a continuidade familiar, quanto a serenidade particular. E haja discernimento para decidir qual delas escolher pra melhor vivenciar cada situação da nossa intensa rotina do lar. Mas, acredite, vale a pena! Afinal, casar não é apenas um sonho, mas sim, uma grande experiência existencial espiritual. E que venham os melhores sonhos, então, junto das mais plenas realidades, pois os melhores filés estão junto do osso.

as INSTITUTAS do Cristianismo Vol 2, de J CALVINO, um resumo do Resumo de J P Wiles

A obra teológica “Institutas” do reformador protestante João Calvino contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo. A partir das premissas de Santo Agostinho e Martinho Lutero, Calvino apresentou a Fé Cristã segundo o pensamento dos Apóstolos e dos Pais da Igreja. Ele desenvolveu seu pensamento a partir do formato do Credo Apostólico, em edições sucessivas iniciadas em 1536 e finalizadas no ano de 1559, numa obra de quase 1000 páginas. O texto a seguir é o segundo volume de 25 em breve resumo extraído do... Resumo de J. P. Wiles, escrito no ano de 1920 ( Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP) As citações em destaque e asterisco são das Institutas de João Calvino. As citações em destaque são do Resumo de Joseph Pitts Wiles. Todos os textos bíblicos nominados no "Resumo" foram citados. Eis a seguir, o Vol 2 em breve resumo... do Resumo de J. P. Wiles das Institutas de J. Calvino. 6: A FIM DE CHEGAR A UM VERDADEIRO CONHECIMENTO DO SEU CRIADOR, O HOMEM PRECISA DA ORIENTAÇÃO E DO ENSINO DAS SAGRADAS ESCRITURAS. “Embora o esplendor da glória de Deus revelada na criação nos deixe sem qualquer desculpa para a ingratidão, precisamos de melhor ajuda para conhecermos corretamente nosso Criador.” Pois um olho míope pouco consegue enxergar, mas com o apoio de óculos sua vista irá ver com facilidade. “Assim também as Escrituras esclarecem o conhecimento confuso que temos sobre Deus em nossas mentes.” Eis a excelência do presente que recebemos de Deus quando Ele nos disponibilizou sua Palavra para que fosse possível conhece-lo verdadeiramente. "Além dos ensinamentos dados pelos meios já mencionados, ele faz uso de sua Palavra."(*) Foi exatamente desta maneira que Adão, Noé, Abraão e outros filhos de Deus o conheceram na antiguidade, o que os distinguia da humanidade enquanto o seu Criador se revelava para cada um deles. Os Patriarcas e Profetas estavam certos das doutrinas recebidas de Deus, pois as entendiam compreensivelmente através de visões ou de homens usados por Deus para escreve-las. Revelações acerca de Deus e dos homens que seriam conhecidas das gerações seguintes através de sua organização por meio de livros, conforme Deus decidiu. Ainda que o maior propósito da Lei e dos Profetas seja dar testemunho de Cristo, seu conhecimento permite que os homens saibam quem é o Deus verdadeiro diante dos falsos deuses. E ainda lhes faz progredir para saber mais da majestade de Deus do que aquilo que enxergam na criação, pois a Palavra lhes dá esclarecimento superior. “Ninguém pode obter o mínimo gosto da doutrina certa e sadia a não ser que se torne aluno das Sagradas Escrituras.” Foi necessário que a verdade acerca de Deus fosse escrita em razão de nossa inclinação para logo esquecer d´Ele e inventar falsas religiões. Pois a verdade de Deus sobre Si mesmo é única, portanto pouco adianta correr pela estrada errada, sendo melhor dar passos curtos no correto caminho de Deus. Eis porque o Profeta que anuncia que os céus proclamam a glória de Deus, logo também celebra o conhecimento dado pela sua Palavra: “A lei do Senhor é perfeita e revigora a alma. Os decretos do Senhor são dignos de confiança e dão sabedoria aos ingênuos.” (Sl 19. 7) Eis a razão pela qual Jesus ensinou pra samaritana que seu povo adorava quem não conhecia, enquanto somente os judeus adoravam o Deus verdadeiro. 7: AS ESCRITURAS PRECISAM SER RATIFICADAS PELO TESTEMUNHO DO ESPÍRITO A FIM DE QUE SUA AUTORIDADE SEJA INQUESTIONÁVEL; E É UMA FICÇÃO ÍMPIA DIZER QUE SUA CREDIBILIDADE DEPENDE DO JUÍZO DA IGREJA. Deus decidiu enviar suas Palavras pessoalmente para os homens diretamente de seu trono celestial. Eis a razão pela qual a importância das “Escrituras” não depende da igreja aqui na Terra, a qual cabe somente orientar a devida reverência e definir o cânon sagrado. A realidade é que homens maus desejam submeter as pessoas tornando a igreja uma instituição toda poderosa. Mas as promessas do Evangelho que dão livramento aos homens não são garantidas pela decisão e juízo de seres humanos. “Basta, porém, uma só palavra do apóstolo Paulo para fazer calar esses falsos mestres.”(*) Pois São Paulo determina que a Igreja é edificada sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, ficando evidente, então, que as definições dadas por eles vieram antes da igreja que pretende, agora, autenticar suas doutrinas superiores. “O argumento mais convincente empregado nas Escrituras sempre é que quem fala é Deus. “Assim diz o Senhor.” Profetas e Apóstolos rapidamente anunciam o nome santo de Deus a fim de convocar os homens à obediência, pois somente o testemunho do Espírito Santo trará o devido temor que pode livrar os homens das dúvidas e incertezas. Ainda que fosse possível prover credibilidade às Escrituras através de argumentos diversos e grande oratória, é certo que nada disto garantiria aos que não creem aquela fé inabalável que a piedade exige. Os homens entendem que a religião é questão de opinião e por isso solicitam bons argumentos acerca da inspiração divina de Moisés e dos Profetas. Mas somente Deus pode oferecer a credibilidade adequada a respeito de Si mesmo, algo que Ele realiza através do testemunho do Seu Espírito, que é o único capaz de gerar uma verdadeira fé no coração dos homens. “E esta é minha aliança com eles”, diz o Senhor. “Meu Espírito não os deixará, nem estas palavras que lhes dei... Eu, o Senhor, falei!” (Isaías 59.21) E assim se decide esta questão: “que os que são intimamente ensinados pelo Espírito Santo ponham firme confiança nas Escrituras”. Pois as Escrituras tem a sua própria evidência que jamais deverá ser submetida a outras provas e argumentos, já que somente o Espírito é aquele que torna as Escrituras totalmente fidedignas. Afinal, nem a nossa reverência pessoal e nem os argumentos científicos são a base de estarmos convictos de que as Escrituras são a Palavra de Deus, mas sim, o fato de termos sido iluminados pelo Espírito Santo. É deste modo que temos compreendido que as Escrituras vêm direto da boca de Deus e que chegaram até nós pela instrumentalidade dos homens. Estou explicando o que ocorre com todo aquele que crê, embora Isaías tenha profetizado “que o braço do Senhor não seria revelado a todos”. (Isaías 53.1) 8: HÁ PROVAS SÓLIDAS E RACIONAIS QUE SERVEM PARA CONFIRMAR A VERACIDADE DAS SAGRADAS ESCRITURAS. Não há argumento humano ou declaração da igreja que livre o coração dos homens da incerteza quanto à autoridade das Escrituras, que será certificada somente a partir do que acima ensinei. Ao mesmo tempo, após receberem o testemunho do Espírito, toda boa argumentação acerca da pureza e da ordem das doutrinas divinas será muito benéfica à nossa fé. “E nossos corações ficam ainda mais consolidados quando observamos que nossa admiração é excitada, não pelas belezas da linguagem, e sim pela dignidade das coisas reveladas.” A providência divina revelou sua Palavra em estilo simples e humilde a fim de que os ímpios não creditassem sua grandeza à beleza de sua linguagem. Eis porque Paulo afirmou que a fé dos coríntios se baseava no poder de Deus ao invés de na sabedoria dos homens, pois ele não anunciou o evangelho através de belas argumentações, mas sim, pela demonstração do Espírito e de poder (1Co 2.4). Um discernimento interior sublime que somente a leitura das Escrituras traz ao espírito do homem, pois é algo que jamais sentimos mesmo diante dos escritos dos maiores oradores e filósofos do mundo. Ao observar o estilo literário elegante e até mesmo esplêndido de alguns dos profetas, aprendemos que não foi para desprezar tal eloquência que o Espírito Santo empregou em outros escritos um estilo mais simples. Foi para comprovar que em qualquer dos textos das Escrituras a excelência humana é que foi superada pela majestade do Espírito. A credibilidade das Escrituras não se baseia em sua antiguidade, pois foi escrita a partir de Moisés, que nada apresentou de novo, mas somente testemunhou o que seus pais já sabiam acerca da aliança do Deus eterno feita com Abraão. O que ele faz com certeira honestidade, pois tanto registra a profecia de Jacó que revela a infâmia de sua tribo, de Levi; quanto registra fielmente as murmurações de Arão e Miriã, seus familiares. (Gn 49.5,6; Nm 12.1) “Os numerosos milagres que ele (Moisés) registra são as (reais) confirmações da autoridade das suas leis e da veracidade da sua doutrina.” Moisés subiu ao monte e lá permaneceu solitário por quarenta dias, e seu rosto tornou-se brilhante como o sol além dele ter sido acompanhado por uma nuvem ao entrar no tabernáculo: “porventura tudo isto não é o testemunho do próprio Deus à inspiração do Seu servo?” Eis a base da autoridade de Moisés assim que veio ao povo com acusações de descrença e rebeldia, reivindicando para sua doutrina o testemunho dado a partir de seus milagres. “Fica claro, portanto, que os israelitas somente admitiram a veracidade das suas palavras porque estavam plenamente convictos dela pela sua própria experiência.” Percepção que se repete acerca dos Profetas. Veja que Isaías previu a destruição de Jerusalém pelos caldeus e o exílio do povo quando o reino de Judá estava em paz, anunciando ainda que Ciro é que iria liberta-los da Babilônia futuramente. E tudo isto foi dito cem anos antes da existência de um certo Ciro. Você deseja uma prova maior do que estas acerca das palavras de Isaías serem verdadeiros oráculos de Deus? E não seria Jeremias também guiado pelo Espírito de Deus ao prever que o cativeiro seria de 70 anos, quando este estava apenas começando? “E Daniel não previu o futuro seiscentos anos antes...?” Eu bem sei dos pensamentos espertos de alguns, argumentando se Moisés e os Profetas escreveram mesmo os livros com seus nomes, e até se Moisés existiu? “Todavia, se perguntássemos: já existiu um Platão, um Aristóteles, um Cícero, seríamos considerados culpados da estultícia mais absurda.” A lei de Moisés foi preservada pela providência de Deus e desde que foi descoberta pelo rei Josias tem estado disponível aos homens. Para os que perguntam de onde vieram os exemplares que hoje possuímos, já que Antíoco ordenou a destruição de todos os livros sagrados? Eu lhes devolvo o argumento, arguindo de que forma poderiam ser escritos tão rapidamente, de novo? Ora, “quem pode deixar de reconhecer a maravilhosa obra de Deus na preservação deles naquela época e no suceder de todos os desastres subsequentes dos judeus?” “Quando chegamos ao Novo Testamento, descobrimos que sua veracidade está firmada em alicerces igualmente sólidos. Três dos evangelistas relatam sua história num estilo humilde e sem adornos.” Uma simplicidade desprezada por aqueles que não percebem a grandeza da mensagem que transcende a capacidade humana, a qual se eleva acima dos céus pelos breves relatos dos sermões de Cristo. “João, porém, trovejando das alturas, confunde, como através de um raio, a obstinação de todos quantos não conseguem trazer à obediência da fé. De modo semelhante, os escritos de Paulo e Pedro compelem nossa admiração devido (à) sua celestial majestade.” E não devemos esquecer que embora Satanás e o mundo busquem esmagar e obscurecer a Palavra de Deus, a mesma permanece firme à nossa disposição. A comprovação da dignidade das Escrituras no coração dos crentes ocorre por um grande número de outras razões, mas que somente transmitem a fé verdadeira quando o próprio Pai celestial assim as autoriza. Pois é absurdo querer provar aos que não creem que as Escrituras são a Palavra de Deus, já que somente mediante a fé se alcança tal entendimento. 9: AQUELES QUE NEGLIGENCIAM AS ESCRITURAS, E PROCURAM REVELAÇÕES, TRANSTORNAM TODOS OS PRINCÍPIOS DA PIEDADE. “Certos homens tolos surgiram recentemente, os quais orgulhosamente fingem ser guiados pelo Espírito e desprezam a simplicidade daqueles que ainda se apegam à “letra morta – letra que mata”. Gostaria que me dissessem qual é o espírito cujo sopro os leva a uma altura tão estonteante para que ousem menosprezar a doutrina das Escrituras como sendo infantil e desprezível.” Pois tanto os Apóstolos quanto os primeiros cristãos foram iluminados por aquele Espírito, e assim, ao invés de desprezar, passaram a considerar a Palavra de Deus com maior reverência. “E esta é minha aliança com eles”, diz o Senhor. “Meu Espírito não os deixará, nem estas palavras que lhes dei. Estarão em seus lábios, nos lábios de seus filhos e nos lábios de seus descendentes, para sempre. Eu, o Senhor, falei!” (Isaías 59.21) O Profeta destaca que a maior felicidade da Igreja seria a de ser guiada tanto pela Palavra quanto pelo Espírito. Estes zombadores desejam separar o vínculo sagrado do Profeta, enquanto o próprio Paulo, que subiu ao terceiro céu, seguiu submisso à Palavra e assim exortou a Timóteo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber o que não está em ordem em nossa vida. Ela nos corrige quando erramos e nos ensina a fazer o que é certo. Deus a usa para preparar e capacitar seu povo para toda boa obra.” (2Tm 3.16-17) Não há loucura maior do que determinar um valor temporário para as Escrituras, ainda mais quando se sabe que o Espírito enviado pelo Senhor não falaria de Si mesmo, mas de Cristo. “Portanto, não é o papel do Espírito prometido dar revelações estranhas e esquisitas, ou fabricar algum novo tipo de doutrina para nos desviar do evangelho que recebemos; pelo contrário, a função do Espírito é selar em nossos corações aquela mesma doutrina que o evangelho de Cristo nos entregou.” “Se quisermos obter algum fruto ou algum proveito do Espírito de Deus, devemos dedicar-nos diligentemente a ouvir e a ler a Escritura.”(*) Eis o motivo porque Pedro orienta que as Palavras dos Profetas tenham especial honra, ainda que o evangelho nos ofereça uma luz superior de revelação. É preciso considerar que o desprezo à Palavra de Deus no interesse de ensinar uma outra doutrina provém de pessoas falsas e vaidosas, pois se até Satanás travestiu-se de anjo de luz, como aceitar a autoridade de qualquer outro espírito? O perfeito sinal de que se trata realmente do Espírito de Deus é que este concorda com a Palavra do Senhor. Alguns argumentam que não é digno sujeitar o Espírito de Deus às Escrituras, e lhes respondo que isto faríamos caso a regra para defini-lo fosse dada por homens ou anjos. "A verdade é que o Espírito se alegra em ser reconhecido pela semelhança que tem com Sua própria imagem imprimida por Ele sobre as Escrituras. (pois) Ele é o Autor das Escrituras e não pode mudar...”. Nós não estamos escravizados à letra que mata quando nos sujeitamos à Palavra. “Quando Paulo disse que a letra mata (2Co 3.6), estava se opondo a certos falsos apóstolos que ainda se apegavam à lei e que teriam privado o povo do benefício da nova aliança, na qual Deus declara que colocará Sua lei nas mentes dos fiéis, e que a escreverá em seus corações. Segue-se, portanto, que a lei do Senhor é uma letra morta que mata quando ela é separada da graça de Cristo, e que simplesmente soa ao ouvido sem tocar o coração.” “O certo é que na mesma passagem, o apóstolo denomina a sua pregação de “ministério do Espírito”(*) Paulo esclarece que o poder do Espírito é revelado e se move somente nos que reverenciam a Palavra de Deus. Pois só acreditamos na Palavra do Senhor quando é confirmada em nós pelo testemunho do Espírito, “porque o Senhor ligou as juntas, por um tipo de vínculo mútuo, a certeza de Sua Palavra e a autoridade do Seu Espírito.” Reverenciamos a Palavra iluminados pelo Espírito e honramos a presença do Espírito pela sua conformidade com a Palavra. 10: AS ESCRITURAS PROVIDENCIAM UM REMÉDIO PARA TODA A SUPERSTIÇÃO, AO DISTINGUIREM O DEUS VERDADEIRO DE TODOS OS DEUSES DAS NAÇÕES. “É o Deus da criação o mesmo que o Deus das Escrituras? Bastará... considerar como Ele governa o mundo que criou.” As Escrituras nos deixam próximos da Pessoa de Deus quando anunciam sua bondade e suas muitas misericórdias, e igualmente seus atos de juízo aos malfeitores que ultrapassam sua longanimidade. “O Senhor passou diante de Moisés, proclamando: “Javé! O Senhor! O Deus de compaixão e misericórdia! Sou lento para me irar e cheio de amor e fidelidade. Cubro de amor mil gerações e perdoo o mal, a rebeldia e o pecado. Contudo, não absolvo o culpado; trago as consequências do pecado dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração”.(Êx 34. 6-7) “Aqui observamos que Sua eternidade e auto-existência são proclamadas pela dupla repetição do nome magnífico de Jeová.” Moisés logo anuncia os atributos que esclarecem quem é Deus diante da humanidade: “Ora, são mencionados os mesmos atributos que já ressaltamos estarem brilhando na criação, isto é, a mansidão, a bondade, a misericórdia, a justiça, o juízo e a verdade. O testemunho dos profetas é o mesmo.” “Na realidade, nossa própria experiência nos ensina que Deus é tal qual Sua Palavra declara que Ele é.” Conforme o Profeta Jeremias: “Aquele que deseja se orgulhar, que se orgulhe somente disto: de me conhecer e entender que eu sou o Senhor, que demonstra amor leal e traz justiça e retidão à terra; isso é o que me agrada. Eu, o Senhor, falei!” (Jr 9. 24) “Eis aí três coisas que é especialmente necessário sabermos: a misericórdia, da qual depende a salvação de todos nós; o juízo, que é diariamente executado contra os iníquos, e que os ameaça com a mais severa sentença da ruína eterna no mundo do porvir; e a justiça, através da qual os fiéis são conservados e cuidados com o máximo amor.” Aqui está o que se deve entender para realmente gloriar-se no conhecimento de Deus. Mesmo que o nome do Senhor Deus seja reconhecido até pelos que servem uma multidão de deuses quando utilizam a palavra “Deus”, assim que o vislumbram na natureza ou são avisados por sua consciência. Pois bem, o certo é que rapidamente a Escritura rejeita os falsos deuses das nações, para logo dar testemunho do único Deus verdadeiro aos homens, estes mesmos que o desprezaram para dar lugar às suas vãs imaginações. Por isso mesmo, o Profeta Habacuque nos exorta a buscar o Senhor no seu santo templo para que possamos conhecer o verdadeiro e único Deus “que Se revelou na Sua própria Palavra.” (Hb 2.20). “Todavia, porque Deus não se deixa ver diretamente e de perto, a não ser na face de Cristo... o que resta dizer sobre o conhecimento de Deus será melhor protelar até o lugar em que estaremos falando sobre o entendimento dessa fé.”(*) (páginas 36 a 51, do Resumo de J P Wiles) (páginas 69 a 80, das Institutas, vol I)

segunda-feira, 11 de junho de 2018

as INSTITUTAS do Cristianismo, de J CALVINO, um resumo do Resumo do J P Wiles (1)

A obra teológica “Institutas” do reformador protestante João Calvino é uma instrução básica, profunda e completa do conhecimento do Cristianismo. A partir das premissas de Santo Agostinho e Martinho Lutero, Calvino apresentou a Fé Cristã segundo o pensamento dos Apóstolos e dos Pais da Igreja, desenvolvendo o formato do Credo Apostólico, em edições sucessivas iniciadas em 1536 e finalizadas no ano de 1559. As “Institutas” de João Calvino contém 1000 páginas em 4 Livros e o resumo de J. P. Wiles quase 300, em sua tradução ao português. O texto a seguir é o primeiro volume de 30, num breve resumo extraído do... Resumo de J. P. Wiles, escrito no ano de 1920 ( Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP) As citações em destaque e asterisco são das Institutas de João Calvino. As citações em destaque são do Resumo de Joseph Pitts Wiles. Todos os textos bíblicos nominados no "Resumo" foram citados. Eis a seguir, o breve resumo... do Resumo de J. P. Wiles das Institutas de J. Calvino. LIVRO I - SOBRE O CONHECIMENTO DE DEUS, O CRIADOR - 1: HÁ ESTREITA VINCULAÇÃO ENTRE O CONHECIMENTO DE DEUS E O CONHECIMENTO DE NÓS MESMOS. Ninguém é capaz de ter uma boa compreensão de si mesmo ignorando a Pessoa de Deus, pois não somos autossuficientes na nossa origem e nem conseguimos existir no mundo por nossa própria capacidade. “A soma total da nossa sabedoria... abrange estas duas partes: o conhecimento que se pode ter de Deus, e o de nós mesmos.”(*) Cada vez que observamos a grandeza de Deus e as maravilhas de Sua criação, reconhecemos nossa pobreza e o buscamos intensamente cheios de temor para que nos abençoe ainda mais. Compreender a limitação da humanidade indica que a fonte de toda sabedoria está em Deus, e que é preciso desprezar todo conhecimento parcial para receber a verdade completa acerca de Deus. “Por outro lado, está certo que ninguém adquire qualquer conhecimento certo de si mesmo até ser trazido face a face com Deus.” O nosso orgulho naturalmente ensina que somos superiores, de tal forma que somente a perfeição do Senhor irá revelar a pequenez da nossa natureza humana. Nossa hipocrisia natural logo nos satisfaz com algo que é falso, e qualquer coisa que não é de todo ruim já consideramos boa e perfeita. “Até que olhemos mais alto do que a terra, pareceremos semideuses para nós mesmos." É necessário considerar as perfeições de Deus a fim de que nossa pretensa sabedoria seja percebida como uma tolice. “Surge daí aquele temor e espanto que tem caído sobre os que tem fé cada vez que tiveram consciência da presença de Deus. E frequentemente clamavam: “Morreremos, porque vimos o Senhor” (Jz 13.22, Is 6.5, Ez 1.28, 3.14, Dn 8.18, 10.16-17). As experiências de Jó, Abraão, Elias e Isaías confirmam que somente a majestade de Deus revela a nossa verdadeira ignorância. Pois qual deveria ser a reação dos homens quando os próprios Querubins de Deus cobrem o rosto cheios de temor diante d´Ele? O bom aprendizado orienta que devemos aprender primeiro acerca do conhecimento de Deus, para só depois realmente aprender algo a partir do conhecimento de nós mesmos. 2: O QUE SIGNIFICA CONHECER A DEUS. Para que seja possível saber verdadeiramente quem é Deus, é preciso obter um conhecimento d´Ele que seja para o nosso bem e que nos faça honra-lo de modo adequado. Um conhecimento básico e real como aquele que tinha Adão antes da queda que afastou a humanidade de Deus. Ainda que o conhecimento da Pessoa de Deus que temos em Jesus Cristo seja essencialmente maior, pois não apenas sabemos que fomos criados e somos sustentados pra viver, e ainda agraciados por Deus em tudo nesta criação. Mas, bem mais do que isto, percebemos como Deus governa a história dos homens com sabedoria e um cuidado amoroso inigualáveis, entendimento que nos faz reconhecer como dependemos d´Ele para tudo - o que só aumenta a nossa gratidão. Pois qual é a utilidade de saber que Deus existe, se como afirma Epicuro, Ele deixa a vida nos levar de qualquer jeito? Ora, o conhecimento correto de Deus é aquele que nos faz busca-lo para d´Ele receber cada uma de suas bênçãos excelentes. Será possível ter algum conhecimento verdadeiro de Deus, caso esqueçamos que fomos criados por Ele e de que hoje mesmo Ele está sustentando todo mundo? E de que toda vida deve ser guiada pelas mãos d´Ele, pois toda a nossa história lhe pertence? A religião sincera surge quando o homem se afasta de qualquer pecado em razão de ter percebido o amor de Deus, e não por causa do medo do castigo. Pois há muita gente religiosa no mundo, mas há pouca sinceridade de coração na alma dos homens. 3: O CONHECIMENTO DE DEUS É IMPLANTADO NO CORAÇÃO DO HOMEM DE MODO NATURAL. A consciência da existência de Deus existe em todos os seres humanos. O escritor Cícero disse que não há nação ou povo tão bárbaros a ponto de não saberem da existência de um Deus. A própria idolatria isto comprova, já que os homens preferem adorar pedaços de madeira e pedras a se declararem ateus. Eis a razão porque se diz que a religião não é uma invenção humana, ainda que homens espertos dela se utilizem para submeter as pessoas. Pois até estes enganadores tem a sua crença e junto deles também alguns dos piores homens, como Caio Calígula, que despreza Deus, mas treme diante do Altíssimo ao menor sinal da ira divina. Eis porque se sabe que a existência de Deus é uma verdade que nenhum homem consegue arrancar de seu coração. 4: ESTE CONHECIMENTO É ABAFADO OU CORROMPIDO, PARCIALMENTE PELA IGNORÂNCIA E PARCIALMENTE PELA MALDADE. Embora todos os homens tenham esta semente religiosa em si mesmos, nenhum deles sequer consegue faze-la amadurecer corretamente, de modo que não há piedade verdadeira no mundo. Mas esta tolice gravíssima não os livra, porém, de serem responsabilizados por sua rebeldia e de serem culpados por sua vaidade. Pois rapidamente analisam Deus a partir de si mesmos enquanto único padrão de avaliação. Eis como naturalmente se afastam do Deus verdadeiro a fim de se apaixonarem por um sonho do próprio coração, conforme afirma Paulo: “Dizendo-se sábios, tornaram-se tolos.” (Rm 1.22). As palavras de Davi: “Os tolos dizem em seu coração: “Não há Deus”., trata destes homens que sufocam em si mesmos a luz da revelação natural da grandeza de Deus. Davi afirma que eles negam Deus totalmente quando desacreditam em seu governo ao dizer que o Senhor está ausente da história. E explica que não há temor algum em seus corações pois até se orgulham de suas maldades. Mas ainda que desprezem a Deus, eis que o Senhor os chama para seu tribunal vez ou outra pela voz das suas consciências. Tal conhecimento esclarece que toda religiosidade comum dos homens, através da qual imaginam ser capazes de agradar a Deus, é uma defesa vazia conforme seu próprio ensino e fundamentos. Pois esquecem que a religião verdadeira precisa ser completamente definida pelo verdadeiro ensino de Deus. Eis porque Paulo disse aos Efésios que continuariam sem Deus, caso permanecessem sem um conhecimento correto do único Deus verdadeiro. A culpa dos seres humanos é gravíssima, então, pois somente buscam a Deus quando seu próprio medo a isto lhes obriga. E rápido praticam suas próprias regras e ritos num projeto religioso enganoso tentando agradar a Deus, esquecendo que estas atitudes os tornam ainda mais desobedientes diante das verdades divinas. Eis como no cotidiano de suas vidas tornam-se regularmente desobedientes, procurando sempre ficar de bem com Deus através de uma falsa religiosidade – maneira pela qual acabam apagando de seus corações as fagulhas do conhecimento de Deus que naturalmente carregam consigo. Desprezam Deus na riqueza e correm atrás dele nas dificuldades. E revelam através de falsas orações curtas que não desconhecem o Senhor, mas sim, escondem de si mesmos o conhecimento de Deus que existe em seus corações. 5: O CONHECIMENTO DE DEUS RESPLENDE NA ESTRUTURA DO UNIVERSO E NO GOVERNO CONTÍNUO DO MESMO. “Como a sua natureza essencial é incompreensível e está oculta à inteligência humana, ele gravou em cada uma de suas obras certos sinais da sua gloriosa majestade, pelos quais ele se dá a conhecer segundo a nossa diminuta capacidade.”(*) É impossível abrir os olhos para enxergar a natureza da criação e ainda ignorar a Pessoa de Deus, pois Ele se revela na estrutura do mundo, ainda que seu Ser essencial permaneça oculto. Eis a razão pela qual o Salmo 19 descreve a criacao em movimento a fim de apresentar o próprio Deus, algo que o Apóstolo Paulo explicou ser o modo como Deus revela seu grandioso poder através das coisas que foram criadas. (Romanos 1.19). “Estamos cercados por todos os lados pelas provas da maravilhosa sabedoria do Criador.” Existem obras de Deus que estão visíveis a todas as pessoas e há outras que somente os cientistas conseguem entender, como as órbitas e movimentos dos planetas e estrelas – que são segredos da sabedoria divina. A própria anatomia do corpo humano revela a destreza e exatidão do Criador da humanidade, o que motivou filósofos a definirem o “homem (como) um microcosmo, um pequeno mundo, porque ele é uma amostra tão maravilhosa do poder, da bondade e da sabedoria de Deus.” Enfim, Deus não está longe de cada um de nós (Atos 17.27), mas é preciso buscá-lo além do conhecimento que temos enquanto analisamos nosso próprio organismo. Eis a vergonhosa ingratidão dos seres humanos diante da Pessoa de Deus, pois cada vez que percebem algum traço de grandeza e sabedoria em si mesmos ou na criação, rapidamente exaltam a si próprios ou correm para valorizar outra "obra" da natureza. Eis a maneira como desprezam Deus e o conhecimento que Ele está revelando. “Que coisa! Todos os tesouros da sabedoria divina hão de conspirar para dirigir um “verme” de 1,60 de altura, e Deus não há de ter voz ativa no governo do Universo?” Homens enganadores ensinam que a própria alma humana tem uma existência controlada e restrita somente ao corpo do homem, desenvolvendo falsamente a afirmação de Aristóteles de que a alma teria seus próprios órgãos assim como o corpo. Negam a grandeza de Deus e exaltam a natureza em seu lugar. Ignoram tanto o conhecimento científico quanto as sensações do espírito humano que sempre superam a nossa natureza física elementar. “O que devemos dizer acerca de tais coisas, senão que as marcas da imortalidade são indelevelmente impressas sobre a natureza humana? Aquilo que alguns tagarelas falam acerca de uma inspiração secreta que vivifica o universo inteiro não é apenas fraco – é totalmente ímpio. Como pode a piedade ser produzida e nutrida nos corações dos homens por esta vã especulação acerca de um intelecto que anima e vivifica o universo?” O correto seria dizer que o próprio Deus estabeleceu e organizou a natureza a fim de jamais confundirmos o Criador com suas obras. “Ademais, quantas manifestações ilustres do poder de Deus nos compelem a pensar n´Ele! Ele sustenta pela Sua própria palavra este arcabouço ilimitado do céu e da terra...”. Deus faz brilhar os céus com trovões e tempestades enquanto movimenta as ondas fortemente até lhes disciplinar pelas mãos para que fiquem quietas. O Livro de Jó e as profecias de Isaías dão testemunhos diversos acerca do poder de Deus que observamos na natureza. Deus revela seu poder enquanto governa as atitudes dos homens e a história da humanidade através da sua Providência. Pois dia a dia Ele abençoa a todos, ao mesmo tempo que declara sua bondade para com os justos e juízo com os maus. Ao mesmo tempo sabemos que Deus castiga certos crimes hoje, enquanto outros somente serão penalizados no futuro. “Esta providência de Deus é ensinada no Salmo 107.” Deus ajuda os aflitos e protege os perdidos, cura enfermos e levanta os humildes para derrubar os orgulhosos. Tudo que os homens consideram obra do destino ou acaso são provas do cuidado providencial de Deus no mundo. E como o verdadeiro conhecimento de Deus é aquele que deve servir ao nosso bem, a orientação é investigar a vida e a criação para engrandecer a Deus, não para saber mais do mistério de Sua personalidade gloriosa essencial. É importante não esquecer que este conhecimento de Deus que estou apresentando é apenas uma prévia da vida futura completa que ainda existe. Todas as desgraças e injustiças que vemos dia a dia serão tratadas e julgadas por Deus no tempo oportuno, pois como diz Agostinho, se todo pecado fosse castigado hoje, não haveria juízo futuro e nem providência no tempo presente. Mas a ignorância dos homens permanece, pois facilmente acreditam no acaso da vida e esquecem que Deus governa a história cotidiana da humanidade pela sua providência. Por isso é que Paulo afirma que negar a verdadeira religião da revelação de Deus é rejeitar a fé – sempre! Pois somente o Evangelho irá oferecer o conhecimento verdadeiro e uma consequente adoração digna de Deus aos homens. Eis a razão pela qual sabemos que o maravilhoso brilho da criação sobre a humanidade não é capaz de nos orientar pelo caminho correto diante da Pessoa de Deus. Todos “precisamos de outro guia, de uma luz mais brilhante, para nos trazer ao verdadeiro conhecimento do nosso Criador. Desse guia passarei agora a falar.” (páginas 23 a 36 do Resumo de J.P. Wiles) (páginas 55 a 69 das Institutas, vol 1, 2006, Editora Cultura Cristã)

sexta-feira, 8 de junho de 2018

a Espiritualidade da (IN)SATISFAÇÃO da Vida, no Cinema: A FELICIDADE NÃO SE COMPRA

Ser ou não ser, eis a questão! O mais famoso filme do talentoso diretor Frank Capra foi lançado em 1946 e tornou-se um dos maiores da história do cinema somente algumas décadas depois - A Felicidade não se compra (It´s a wonderful life), com James Stewart e Donna Reed, EUA. E se você não conhece seu astro principal, Mr. James Stewart, e nem sua trajetória única como ator em Hollywood, bem, dá uma olhada no talento e carisma de Tom Hanks que você vai chegar perto de saber quem foi Jim Stewart, sim senhor. Segue uma sinopse geral do filme (o livro do Cinema, Globo Livros): "Capra faz o retrato de um homem leal que sacrificou os sonhos de viagens e carreira para seguir os passos do pai, ajudando a comunidade local e trabalhando num pequeno barco de Bedford Falls, no estado de Nova York." A partir daí, iniciamos nossa reflexão: De que adianta ao homem perder o mundo e também a própria alma? Pois o filme "é uma história sobre estar comprometido, sem saída, enquanto os outros vão embora e progridem e você se torna tão ressentido que agride verbalmente os filhos, os professores deles e sua esposa opressivamente perfeita." (Wendell Jamieson, The New York Times, 2008). Ora, se o sentido da vida é encontrar uma boa razão para ela, o que fazer quando se vive uma vida cheia de virtudes sem jamais conquistar as promessas que deveriam vir junto com suas realizações? Que tal pedir ajuda aos universitários? Uma necessária introdução espiritual acerca do sentido da vida está no livro bíblico de Eclesiastes, do Rei Salomão. E você já deve ter ouvido a sua afirmação mais famosa: "Tudo é vaidade", "Nada faz sentido" ou "Tudo é um vazio só", que são diversas versões da expressão que Salomão utiliza pra resumir sua observação da vida... assim que parou pra analisar tudo no objetivo de encontrar uma razão pra existência de todo mundo. O que não quer dizer que a vida não sirva pra nada e que não seja possível conhecer coisas maravilhosas quando a gente analisa o que acontece com a humanidade neste planeta. Não é isso. Salomão só afirma que ao olhar pra natureza e igualmente observar com cuidado a história de todos os seres humanos, bem, ele não conseguiu descobrir nenhum "sentido" bem definido pra existência da humanidade e para a criação do mundo. Ao mesmo tempo em que faz esta descoberta meio deprimente, Salomão também avisa que não devemos jogar a vida fora, não. Ao contrário, deve-se aproveitar todos os lugares e situações, pessoas e atividades que a vida oferece pra todo mundo. Pois há um tempo para abraçar e outro pra ficar longe, e há tempo de viver e até de morrer. Existe um tempo pra todo tipo de experiência de vida debaixo do céu, inclusive experiências junto de Deus. Agora, o negócio é que a partir daí o próprio sábio Salomão parece ficar em silêncio sobre uma questão espiritual que o filme apresenta como um grave drama existencial de quase todo mundo. Pois a história do filme é que o protagonista entra em total parafuso da alma e decide acabar com a vida após ter abandonado projetos pessoais só pra conseguir fazer algo de bom pela sociedade. E a questão é que mesmo assim, nada dá certo, nem pra ele e nem pra ninguém. Pois ele não consegue transformar como pretendia a história da sua família e nem mesmo da vizinhança - pessoas por quem ele faz tudo que pode, deixando pra lá seus planos acerca do que ser e fazer com a sua própria história. Ou seja, mesmo após abraçar alguns princípios espirituais que valorizam o altruísmo e a doação de si mesmo ao próximo como uma orientação pra dar um (digno) sentido pra vida, eis que tudo que ocorre ao redor do protagonista parece não mudar nada pra melhor. E até a sua vida interior parece não se elevar acima do teto da casa dele, no fim das contas. Que vazio, quanta inutilidade! Olha o enredo dramático do filme: "A rápida transição de George, de santo a bêbado suicida, é chocante e verossímil, talvez baseada na luta do próprio Capra contra a depressão logo depois dos 20 anos, quando, como imigrante italiano, teve dificuldade em achar trabalho. Anos de sacrifício e decepções estão por trás da ruína de George, e sua espiral descendente é um retrato convincente do desespero... o filme de Capra era mais sobre o realismo trágico que acerca de realismo mágico...". Tá entendendo? Então, já que estamos entrando num labirinto quase sem sentido, vale a pena ouvir o sábio Salomão de novo, pois Eclesiastes orienta que nem as conquistas profissionais e muito menos os bens vão trazer satisfação completa para nós, e muito menos, um sentido pra vida! Eis a razão pela qual Salomão diz que é necessário valorizar as experiências de vida que a gente tem, e não só aquilo que conquistamos - pois até as boas realizações irão passar, mas as experiências que nossa alma vai partilhar nesta existência, bem, estarão sempre conosco. Uma ideia que o humanista diretor Frank Capra acaba utilizando na solução de sua história - conforme resumo da crítica: "A vida de um homem afeta muitas outras vidas", diz Clarence (o anjo), e essa é, em última instância, a mensagem do filme." Mas é preciso seguir em frente, gente. Pois mesmo esclarecendo que as melhores conquistas desta vida são as próprias "experiências" que por aqui vivenciamos; então, Salomão também deixou claro que rapidamente iremos descobrir como a vida também é volúvel e frágil, e bastante cruel. Afinal, o protagonista George Bailey tornou-se o melhor amigo e líder que toda aquela comunidade poderia receber, mas... isto não significa que seus bons projetos e intenções tiveram sucesso, que desgraças não aconteceram ali, e que a desonestidade de poucos não enganou muitos a ponto de arruinar um bom número dos cidadãos daquela sociedade. A injustiça se mantém entre nós e seus frutos podres se acumulam na árvore da vida da gente, mesmo quando dedicamo-nos pra valer ao que todos sabemos ser o certo a fazer (ser) neste mundo. E qual será o sentido e razão desta vida, então? Certamente um sentido que requer a perspectiva espiritual pra se tornar bem razoável e real pra todo mundo. Pois somente através da espiritualidade sabemos que hoje se vive um tempo de transição entre a vida que deveríamos ter e aquela que somente iremos desfrutar numa outra dimensão, futura. Sim, eis algo que começa a trazer sentido para estes dias da nossa história. De igual maneira a espiritualidade judaico-cristã esclarece que o povo da fé saiu do Egito direto pra viver 40 anos no deserto antes de finalmente chegar à terra prometida. E eis que esta nossa presente existência também se tornou... um deserto, meu amigo. Mas que tem diversos lagos e oásis repletos de sombras de árvores pra quase todo lado que a gente olha, de verdade. Segue uma valiosa análise crítica que define um lado para o qual todos podemos olhar, pela visão do otimista diretor: "Para Capra, George é um homem que faz a diferença na vida dos outros; ele não é a pessoa qualquer que todos somos ou podemos ser. Nesse sentido, o filme pode ser um alerta de que não somos todos desapegados por igual; algumas pessoas, felizmente para as outras, são simplesmente menos egoístas que as outras." Ser ou não ser, por que não? Bom filme!