terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

TEOLOGIA APOCALÍPTICA. Introdução. Interpretação. SPS, extensão Curitiba, 2023.

Esse breve resumo com citações tem objetivo didático de orientação para a Disciplina: Teologia Apocalíptica, do currículo do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba, da Igreja Presbiteriana do Brasil. Texto base: GORDON, Fee e STUART, Dou. Entendes o que lês?. Edições Vida Nova, São Paulo SP, 2006. RESUMO. Introdução. A necessidade de interpretação. "A interpretação que visa a originalidade, ou que prospera com ela, usualmente pode ser atribuída ao orgulho (uma tentativa de "ser mais sábio" do que o resto do mundo), ao falso entendimento da espiritualidade (segundo o qual a Bíblia está repleta de verdades profundas que estão esperando para serem escavadas pela pessoa espiritualmente sensível, mas com um discernimento especial), ou a interesses escusos (a necessidade de apoiar um preconceito teológico, especialmente ao tratar de textos que, segundo parece, vão contra aquele preconceito)... O que queremos dizer mesmo é que a originalidade não é o alvo da nossa tarefa. O alvo da boa interpretação é simples: chegar ao "sentido claro do texto". (p. 13-14). A necessidade da interpretação. A primeira razão para "aprender" a interpretar é que todo leitor ao ter contato com o texto, também acredita que entende bem o que está escrito. Junto disso, também compreendemos que "nosso entendimento é a mesma coisa que a intenção do Espírito Santo ou do autor humano." No entanto, a primeira atitude que temos como leitores acaba sendo a de compreender o texto a partir de nossa própria cultura e sentimentos, de nossas palavras e visão. Observe que o símbolo da cruz de Cristo traz à nossa mente a visão do que se considera um +, embora a cruz romana fosse em forma de T. Na mesma perspectiva, quando o Apóstolo Paulo utiliza a expressão "carne" em suas cartas, ele se refere à natureza humana decaída e aos "apetites físicos" do ser, mas ao invés disso, lemos como se ele estivesse falando do corpo físico dos seres humanos. Nestes casos, o leitor lê e interpreta rapidamente o que leu, sendo que em ambas as situações seu entendimento está errado. Um aspecto importante a ser notado é que os próprios tradutores da Bíblia já fizeram algum tipo de interpretação ao escolher as palavras que utilizaram no texto, do grego ao português, por exemplo; além de outra situação que é entender e utilizar um texto para definir uma doutrina, sendo que denominações diferentes tem entendimentos diferentes do valor de um mesmo texto. Pois o interpretam e entendem de forma diferente. Ainda é preciso anotar a existência de grupos religiosos denominados de "seitas", que utilizam o texto bíblico de modo surpreendente, além dos que entendem que há doutrinas novas surgindo a cada geração. A natureza da Escritura. "Uma razão mais significante para a necessidade de interpretação acha-se na natureza da própria Escritura... A Bíblia é, ao mesmo tempo, humana e divina... "A Bíblia é a Palavra de Deus dada nas palavras de (pessoas) na história." (George Ladd). Assim, "é esta natureza dupla da Bíblia que exige da nossa parte a tarefa da interpretação." (p. 17). "Porque a Bíblia é a Palavra de Deus, tem relevância eterna; fala para toda a humanidade em todas as eras e em todas as culturas... Mas porque Deus escolheu falar Sua Palavra através das palavras humanas na história, todo livro na Bíblia também tem particularidade histórica; cada documento é condicionado pela linguagem, pela sua época, e pela cultura em que originalmente foi escrito... A interpretação da Bíblia é exigida pela "tensão" que existe entre sua relevância eterna e sua particularidade histórica". (p. 17). Neste sentido, a tarefa da interpretação da Bíblia orientada pela "natureza do texto" não deve ser realizada somente como se fosse um texto e livro escrito por seres humanos, e também não pode ser interpretada como sendo um texto que se pode entender somente a partir de sua "relevância eterna". Assim, "o fato de que a Bíblia tem um lado humano é nosso encorajamento; também é o nosso desafio, e é a razão porque precisamos interpretar." (p. 18). Dois aspectos: A Bíblia é um texto escrito durante 1500 anos, que utilizou o vocabulário, expressões e linguajar, e ainda foi anotada conforme a "cultura daqueles tempos e circunstâncias." (p. 18). Desta forma, a atividade da interpretação ocorre em duas etapas: - é preciso "escutar" a Palavra que os primeiros ouvintes receberam, buscando entender o que lhes foi anunciado lá em seu tempo e situção; - é preciso saber ouvir esta mesma Palavra eterna "aqui e agora". Observe que, "um dos aspectos mais importantes do lado humano da Bíblia é que Deus, para comunicar Sua Palavra para todas as condições humanas, escolheu fazer uso de quase todo tipo de comunicação disponível: a história em narrativa, as genealogias, as crônicas, leis de todos os tipos, poesia de todos os tipos, provérbios, oráculos proféticos, enigmas, drama, esboços biográficos, parábolas, cartas, sermões e apocalipses." (p. 19). Para sermos capazes de "escutar" o que foi "ouvido" pelos primeiros profetas de Deus lá na história, é preciso aprender a identificar e compreender cada genêro literário utilizado em cada uma daquelas épocas. E para escutar Deus falando conosco "aqui e agora", é preciso entender como cada um destes modos de literatura "fala" conosco e em que circunstância e maneira, posto que são os textos são "salmos" ou são "leis civis" ou são "cartas" ou são "leis morais" etc. "Tais são as perguntas que a natureza dupla da Bíblia nos impõe." (p. 19). A Primeira Tarefa: Exegese. (p. 19). "A exegese é basicamente uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia." (p. 19). Todo leitor da bíblia é de certa forma um exegeta, pois naturalmente vai destacar que "Jesus estava querendo dizer isto" e, "Paulo expõe um costume antigo sobre", no entanto, este tipo de leitura sem um estudo adequado sobre o significado das palavras da época dado por peritos das letras e contexto, certamente será uma falha da leitura do exegeta "comum" e superficial das Escrituras. Uma forma de resolver essa questão é estudar e investigar TODO texto bíblico, seja qual for seu autor e época, sendo que "aprender a pensar exegeticamente não é a única tarefa; é simplesmente a primeira tarefa." (p. 20). A interpretação "seletiva" que muitos de nós fazemos é ler um texto bíblico com palavras objetivas e expressões diretas, e a partir disso rapidamente extrair o significado da frase, devido sua aparente simplicidade. Porém, cada palavra pertence a uma frase que está dentro de um parágrafo que trata de um assunto, o qual o escritor inspirado escreveu acerca de uma determinada questão ou tema. Neste sentido, o modo correto de praticar uma exegese acessível a todos os leitores da bíblia é "aprender a ler cuidadosamente o texto e fazer as perguntas certas ao texto." (p. 22). Deve-se fazer duas perguntas ao texto, sendo a primeira sobre o "contexto", analisando situações históricas e modelos literários; e a segunda questão orienta que busquemos avaliar o "conteúdo". "O contexto histórico... tem a ver com várias coisas: a época e a cultura do autor e dos seus leitores, ou seja; os fatores geográficos, topográficos e políticos que são relevantes ao âmbito do autor; e a ocasião do livro, carta, salmo, oráculo profético, ou outro gênero. Todos os assuntos deste tipo são especialmente importantes para a compreensão." (p. 22). Observe a importância de saber algo da formação e personalidade dos profetas, como Amós e Isaías, e ter conhecimento de que Ageu pregou após o exílio, além de ter entendimento da espera messiânica que ocorria ao redor da aparição de João Batista e depois Jesus, sem deixar de esquecer, por exemplo, as parábolas, pois os costumes e aspectos do cotidiano da população visitada por Jesus são importantes, como ainda, o conhecimento de que 1 denário é o salário de um dia todo. "A questão mais importante do contexto histórico, no entanto, tem a ver com a ocasião e o propósito de cada livro bíblico e/ou das suas várias partes (...) Isto variará de livro para livro, e é muito menos crucial para Provérbios, por exemplo, do que para I Coríntios." (p. 23). O Contexto Literário. "Essencialmente, o contexto literário significa que as palavras somente fazem sentido dentro das frases, e, na sua maior parte, as frases na Bíblia somente têm significado em relação às frases anteriores e posteriores." (p. 23). Algumas perguntas que devemos fazer: "Qual é a razão disto?" É preciso entender o modo como o autor do texto desenvolve o raciocínio, compreendendo o que ele diz e porque está dizendo ali naquela frase, e igualmente perceber porque a próxima frase irá trazer certo conhecimento, o qual decorre da anterior. Além disso, é preciso estar atento ao gênero literário, entendendo se há uma poesia sendo escrita e acerca de outros tipos de textos, e ainda, sobre se a frase que lemos está no início, meio ou fim de um determinado parágrafo. As Perguntas de Conteúdo. "Conteúdo" tem a ver com os significados das palavras, com os relacionamentos gramaticais nas frases, e com a escolha do texto original onde os manuscritos tem textos variantes; como saber, também, o que significa "um denário", ou uma "jornada de um sábado", ou "lugares altos", etc." (p. 24). A Segunda Tarefa. A Hermenêutica. Embora esse termo seja utilizado para a feitura da exegese também, nesse texto queremos diferenciar a hermenêutica como uma tarefa "para fazer as perguntas acerca do significado da Bíblia "aqui e agora"." (p. 25). Porém, não é possível ter qualquer noção do significado da Palavra da Bíblia para hoje, o "aqui e agora", se não fizermos uma boa exegese anterior; pois somente teremos noção dos princípios e verdades que estão sendo ensinadas naquele texto, após termos compreensão do que significavam para o autor original do texto. Neste sentido, há alguns princípios básicos para se saber o que a Escritura significa "aqui e agora". Primeiro, "um texto não pode significar o que nunca significou", pois, "o significado verdadeiro do texto bíblico para nós é o que Deus originalmente pretendeu que significasse quando foi falado/escrito pela primeira vez. Este é o ponto de partida." (p. 26). Sobre os que argumentam que um texto bíblico pode ter um conhecimento adicional além do que dizia para os ouvintes originais, sabe-se que no caso das profecias é possível ocorrer essa possibilidade, mas que estará debaixo de um entendimento dado por outros textos, que igualmente devem ser entendidos a partir do que Deus falou originalmente atraves deles. Nessa perspectiva, a hermenêutica deverá sempre ser desenvolvida mediante um bom número de regras, sendo que a integridade do leitor em temor é que deverá ser o padrão quando estiver atento ao texto da Palavra de Deus, e na busca de ferramentas e raciocínios de compreensão das palavras e frases ali escritas. {...} O APOCALIPSE: QUADROS DO JULGAMENTO E DA ESPERANÇA. "Quando nos voltamos ao Livro do Apocalipse depois de ler o restante do Novo Testamento, sentimos que estamos entrando num país estrangeiro. Ao invés de narrativas e cartas que contém declarações claras de fatos e de imperativos, chegamos a um livro cheio de anjos, trombetas, terremotos, bestas, dragões, e abismos sem fundo." (p. 217). Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de Teologia e Ciências da Religião, da Uninter e Seminário Presbiteriano do Sul, extensão Curitiba.

sábado, 25 de fevereiro de 2023

MEDITAÇÃO DOMINICAL. Convite aos Cansados.

TEXTO Bíblico. "Aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração." (Evangelho de Mateus, 11.29). MEDITAÇÃO. Um Médico judeu que escapou dos campos de concentração nazistas avaliou anos depois, que a maior parte de doentes de um hospital psiquiátrico poderia ir pra casa, se conseguissem perdoar as suas culpas. As culpas são uma das mais profundas e continuadas doenças do homem, que Deus tem procurado tratar desde sempre, pelo Perdão! O outro fardo pesado que muitos de nós carregamos são as expectativas não alcançadas e ainda, as situações difíceis ou dolorosas de conviver, mas de que somos parte e até agentes de suas realidades. O cansaço de vida e a quase depressão existencial gerada nestas situações é uma enfermidade que Deus trata oferecendo sua Presença, para que sejamos cuidados e fortalecidos na jornada da vida. Pelo braço e abraço do consolo do Espírito Santo. Jesus é o Messias que veio explicar o motivo de nossa fraqueza pra viver, vindo também oferecer o remédio de Deus: "os sãos não precisam de médico", disse ele, "mas sim os que estão doentes". "Vinde a mim os cansados e sobrecarregados e eu lhes darei descanso", pois, "ninguém conhece o Pai a não ser o Filho." (Mateus 11. 28-30). É isso! Jesus de Nazaré está apresentando Deus Pai para a humanidade. Ele ensina a maneira como os seres humanos podem viver na presença de Deus Todo Poderoso, para que nossas doenças da culpa e fraqueza possam ser curadas e tratadas todos os dias da nossa vida. ORAÇÃO. Pai Nosso, que está no céu. Santificado seja o seu nome. Dá um jeito neste mundo e no nosso coração, pra que venha o seu reino e seja feita a sua vontade sobre a Terra. O pão nosso e o que necessitamos dia a dia, dá para nós hoje. Perdoa os nossos pecados assim como nós perdoamos os pecadores. E não nos deixes cair e ficar afastados de sua presença, quando estivermos em tentação. Mas, livrá-nos do Mal e do espírito maligno. Pois teu é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém. Boa semana! Autor. Ivan S Rüppell Jr é Professor de Teologia e Ciências da Religião.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

COSMOVISÃO REFORMADA. Neocalvinismo Holandês. Ética Sociopolítica e Econômica

Este texto traz uma Resenha/Resumo com objetivos didáticos, do artigo, "Nicholas Wolterstorff e a Ética Social do Calvinismo Holandês", de Luiz Roberto França de Mattos, do livro: Cosmovisão Cristã e Transformação, Guilherme Vieira Ribeiro de Carvalho (org) - Viçosa, MG : Ultimato, 2006. Luiz Roberto lecionou como Professor e também atuou como Diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, além de ter assumido como Ministro da Igreja Presbiteriana de Praia Grande, sendo ainda, Engenheiro Civil, Mestre em Teologia Sistemática pelo CPAJ e Doutor em Filosofia pelo Calvin Theological Seminary, Michigan (Grand Rapids), EUA. Faleceu no ano de 2004. O propósito da publicação do livro, "Cosmovisão Cristã e Transformação" surge pela necessidade de que toda atitude junto das sociedades modernas requer um conhecimento devido acerca da área em que se busca desenvolver algum projeto. A ciência e conhecimento que este livro deseja apresentar para que os cristãos possam se mover nas áreas da educação e política, ação social e economia, se insere no tema da "transformação integral", a partir "de uma tradição intelectual específica, chamada de "filosofia de cosmovisão cristã." (contracapa, 2006). Segundo nosso autor, Luiz Roberto, "o objetivo primário... é introduzir o pensamento da escola calvinista holandesa como base na qual Nicholas Wolterstorff desenvolve sua ética social." Wolterstorff foi bacharel em Artes Liberais e Phd em Filosofia, vindo a assumir como Professor de Teologia Filosófica, durante 30 anos no Calvin College. Sobre o termo "calvinismo holandês", o destaque do autor esclarece sua associação com a expressão "neo-calvinismo", sendo um movimento de retorno ao pensamento da tradição calvinista, que houve na Holanda em meados do século 19, na liderança de Abraham Kuyper e Herman Bavinck, tendo por sucessores no decorrer do século 20, Herman Dooyeweerd e ainda, Nicholas Wolterstorff. São muitos os temas refletidos e publicados por Wolterstorff, desde Teologia até Estética, e Educação, com destaque especial relacionado nesta resenha, para os textos socio-políticos, além das leituras das Cartas de Kuyper, proferidas na Universidade de Amsterdâ, em 1981. No destaque do autor, "a ética social de Wolterstorff será avaliada... com base... (nas) esferas sociocultural, econômica e religiosa", o que irá auxiliar no entendimento de sua visão da socidade moderna e igualmente, suas proposições para a mesma. O primeiro tópico do artigo traz um tema central do pensamento calvinista acerca das sociedades; "Sociedades Humanas: Sociedades Decaídas e Necessitadas de Reforma." Neste sentido, o princípio base da observação da realidade social humana requer o entendimento de que as mesmas "estão alienadas de Deus", gerando um desenvolvimento oriundo da vontade dos homens, o qual gera uma sociedade "decaída, necessitada de reforma; sendo este, um pensamento "consistente com a tradição calvinista e puritana". (p. 220). Acerca desse entendimento, Wolterstorff anota alguns aspectos referentes à sociedade do século 20, em que se destacam as "tristezas da injustiça", devido tanto à disparidade entre os mais ricos e os mais pobres, como à opressão dos povos debaixo da tirania política. Ainda, os denominados "valores deturpados" são anotados pelo autor, devido ao gasto cada vez maior dedicado ao armamento pelas nações para afligir seres humanos; e especialmente, das "tristezas de consequências não desejadas"; em que se inclui "a destruição de tradições, a perda do senso de raízes, de suporte e de pertencer (a uma comunidade)", o cansaço de atividades laborais sem satisfação, e "a eliminação de nosso ser interior como consequência da ampla racionalização de nossa vida." (p. 221). O Modelo Econômico para as nações, que tem sido orientado pela modernidade é criticado por Wolterstorff, que entende que os dois princípios deste não são inteiramente verdadeiros e válidos. Quais sejam, de que todas as sociedades tem as condições de alcançar progresso sem que isto ocorra em meio a mudanças naquelas que já alcançaram; e, de que a falta de desenvolvimento numa certa realidade são oriundas tão somente de situações específicas daquela sociedade. Assim, essa chamada "teoria da modernização" é refletida de modo negativo pelo pensador holandês, posto que "a falta de desenvolvimento entre os (países) não desenvolvidos não pode ser explicada sem levar em conta o impacto das áreas altamente desenvolvidas sobre as não desenvolvidas." (p. 222). Wolterstorff entende como razoável, que deveria existir "uma economia integrada unificando nações distintas", vindo a criticar o modelo em que o terceiro mundo tem sido usurpado em favor do progresso do primeiro mundo. Neste sentido, o mundo como um todo observa uma distribuição de valores e capitais, que se caracteriza pela supremacia das áreas centrais diante das periféricas, nas quais acontece uma "preponderância econômica no sistema global, como consequência da concentração de riqueza." (p. 222). Ao refletir o tema do modelo econômico das nações e sociedades, Wolterstorff observa um pensamento utilizado pela teologia da libertação, mas entende que a visão calvinista da economia irá "prover uma explicação superior quanto à relação entre a humanidade e a criação." (p. 223). Enquanto a teologia da libertação entende a "criação" num propósito somente de salvação, o calvinismo entende que o bom governo da criação é um "chamado da humanidade", sendo essa uma vocação: "Dooyeweerd, nota Wolterstorff com aparente simpatia, não vê nenhum conflito no processo de dominar a natureza. Na verdade, diz ele, "domínio é bom; somente seu abuso é ruim" (...) "Um processo apropriado de domínio (...) estimulará um florescimento da cultura em esferas tais como ciência, arte, Igreja, indústria, comércio, escola e organizações voluntárias." (p. 223). Essa visão nasce da compreensão calvinista sobre as instituições que formatam a vivência social dos homens. Como a família, escola, Estado e empreendimento produtivo, que carregam todo um potencial disponível na criação e dado por Deus, sendo algo que deve ser desenvolvido pela humanidade. Wolterstorff cita os três valores destacados por Dooyeweerd nessa relação de desenvolvimento social, os quais tem sido um conteúdo do neocalvinismo, oriundo do pensamento reformado. Primeiro, cada uma destas esferas da vida deve entender bem a sua natureza e realidade; segundo, instituições de esferas distintas não podem agir com domínio nas áreas das outras, posto que sua ação irá corromper e distorcer aquela área; e, terceiro, cabe ao seres humanos perceber e trazer à realidade os "potenciais da criação inerentes a cada esfera." (p. 224). Wolterstorff elabora uma crítica ao modelo de desenvolvimento ocidental, posto que este subordina todas as áreas e esferas da vida no objetivo de que haja maior produção de bens e daquilo que se busca adquirir na economia: "O problema fundamental no Ocidente é que "nós aceitamos crescimento econômico e avanço tecnológico como o bem social maior." (p. 224). Desta forma, observa-se que a área da economia atua com superioridade e domínio sobre as outras esferas, o que faz com que essa área econômica não siga regras devidas, e nem se permita ser orientada por valores de outras esferas da vida. Wolterstorff cita Goudzwaard, entendendo que, "o incessante esforço capitalista por crescimento econômico (é) como um tipo de idolatria contemporânea." (p. 225). Ele destaca que, "duas dinâmicas básicas resumem... a análise neocalvinista da sociedade: a dinâmica de diferenciação - a revelação dos potenciais da criação - formulada por Dooyeweerd, e a dinâmica da fé/idolatria, formulada por Goudzwaard." (p. 225). Neste contexto, Wolterstorff busca extrair pensamentos tanto da teologia da libertação, como do neocalvinismo para formular uma proposta de modelo econômico virtuosa às nações. Vindo a respeitar a "teoria da dependência", que afirma que o terceiro mundo está debaixo das determinações econômicas do primeiro mundo, porém, buscando valorar outros conteúdos na elaboração de seu entendimento da realidade e proposições para a sociedade. Ele afirma que a crítica de teólogos da libertação de que a verdade de um Deus transcendente afasta os religiosos da realidade social, não se sustenta, posto que "Deus está (...) profundamente envolvido com sua criação. Na verdade (...), ele acrescenta que Deus está "profundamente perturbado por nossa condição humana". (p. 227). Para Wolterstorff, os cristãos calvinistas "tem um papel fundamental na reforma da ordem social", sendo que esse papel tem base nas tradições puritanas e calvinistas, posto que todo conhecimento acerca de Deus, para Calvino, orienta uma "resposta apropriada às suas obras." (...) "Esta resposta, brotando da gratidão, deve ser exercitada por todas as ocupações na sociedade", já que todas elas tem valor essencial no desenvolvimento das sociedades. (p. 227). A partir disso, o Shalom e paz social que agrada a Deus, pode vir a ocorrer a partir de três aspectos: acerca do modelo sócio-politico-cultural, cada ser humano dedicado a uma devida ocupação social deverá desenvolver sua atividade tendo por objetivo a glória de Deus, visando ao bem comum. Sendo que cada nação poderá ser flexível na escolha de seu modelo econômico e social, desde que este "permita o desenvolvimento dos potenciais da criação": "qualquer sistema sociopolítico que permita o florescimento da cultura em áreas como as esferas de poder da ciência, arte, Estado, indústria, comércio, escola e organizações voluntárias, para usar alguns dos exemplos mencionados por Dooyeweerd, deve ser considerado aceitável." (p. 230). O Modelo Econômico oriundo da tradição neocalvinista respeita tanto a realidade de que o homem deve dominar a criação, como também, que a sua utilização deverá ocorrer segundo e para o bom desenvolvimento de seus potenciais. De modo que as atividades e profissões ligadas à indústria e comércio deverão ser praticadas perante a face de Deus, havendo o devido cuidado para que a esfera econômica não venha a dominar sobre as outras esferas da vida. A área da economia deve estar "genuinamente aberta para as normas de outras esferas", em que deve haver liberdade de desenvolvimento e busca de regulamentação das atividades. "A visão de Wolterstorff é de uma sociedade cujas instituições servem à causa da justiça e do shalom. Trata-se de uma visão social caracterizada por relações harmônicas com outros seres humanos, e com a natureza, bem como uma forte preocupação com o pobre." (p. 231). Desta forma, surge a crítica tanto de um sistema político que determina igualdade retirando de ricos para dar aos pobres, como igualmente, críticas para um sistema que libera grandemente a atuação econômica sobre a sociedade. Neste contexto, "arranjos socioeconômicos deveriam necessariamente assegurar que outros seres humanos sejam "adequadamente sustentados em sua existência." (...) "De qualquer modo, o regime socioeconômico adotado deve garantir que o povo seja protegido da perda de seu sustento, evitando, simultaneamente, a construção de estruturas opressivas." (p. 232-233). Acerca do modelo religioso, a visão neocalvinista propõe o equilíbrio das atividades, em respeito às realidades: "O modo cristão de ser-no-mundo é a resposta apropriada, uma resposta que incorpora tanto gratidão a Deus quanto o cuidado responsável pela criação divina. Uma vida de gratidão, expressa pela alternância rítmica de trabalho e adoração encontra-se no âmago do modelo religioso proposto por Wolterstorff para uma sociedade que persegue shalom." (p. 233). Conclusão. Wolterstorff reflete um pensamento diferenciado da "teoria da dependência" (sobre o abuso econômico do primeiro mundo definir as sociedades do terceiro mundo), posto que, amplia o entendimento da realidade da sociedade a partir "da adoção de uma perspectiva neocalvinista da relação entre seres humanos e a criação"; pois a humanidade deve dominar a criação no desenvolvimento de ambos os potenciais, seja da natureza, seja do ser. (p. 234). "Esta atividade é propriamente traduzida por mordomia, que torna claro que seres humanos são chamados a governar sobre a criação, embora conscientes de que tal criação não pertence a eles, mas a Deus. Este governo envolve todas as áreas da vida nas quais os seres humanos devem expressar sua gratidão, por meio de suas vocações terrenas, com o objetivo último de dar glória a Deus." (p. 234). "A ênfase neocalvinista no florescimento de diferentes esferas de poder, cada qual com seu conjunto de normas e com autonomia em relação às demais", busca desenvolver a necessária liberdade na economia e tecnologia, mercado e propriedades, junto de uma capacidade de regulamentação destas atividades. Sendo que, "a visão de Wolterstorff acerca de nações se esforçando cooperativamente por shalom é um desafio e um chamado à responsabilidade". O que gera a necessidade de apresentar uma proposição de como a "ética socioeconômica neocalvinista" poderia se tornar um projeto viável, diante da realidade dos temas sociais contemporâneos, a fim de que o shalom social surja em nossas sociedades. (p. 235). Este artigo é indicado para obter conhecimento objetivo e fundamentado nos temas econômicos e sociais a partir da renovação dada ao pensamento do calvinismo, conforme realizada por teólogos e pensadores holandeses, que se fez conhecer na teologia, pelo termo neocalvinismo. Apresenta nomes importantes e conteúdos desse movimento que na segunda parte do sec. 19 e início do séc.20 buscou também, avaliar o modernismo a partir de um contraponto diante do pensamento calvinista. Bem como, relacionar princípios reformados puritanos no interesse de propor alternativas éticas na organização social e econômica das sociedades modernas, sendo ainda, um texto valioso de introdução ao pensamento calvinista, conforme este veio a ser refletido pelo denominado Calvinismo Holandês. Autor. Ivan S Rüppell Jr é Professor de Teologia e Ciências da Religião, no SPS extensão Curitiba e Uninter.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

CRISTÃO TEMPO INTEGRAL!

"Sede santos, porque eu sou santo." (1 Pedro 1.16). Os Cristãos esqueceram ou se permitiram ser esquecidos debaixo da cultura vigente que, não há nada melhor para o mundo dos homens que os 10 Mandamentos do Senhor Deus Bendito! É verdade! A convocação pra que os Cristãos sejam sal da terra pra preservar a realidade, e sejam luz do mundo pra revelar toda enfermidade continua sendo a bendita vocação de levar pra sociedade os mandamentos de Cristo. Que são apenas os 10 Mandamentos de sempre, como descobrimos ao ler e relacionar o cap. 20 de Êxodo e os caps. 5 a 7 de Mateus. Tá entendendo? Ou seja, os cristãos precisam recuperar a essência de sua verdade existencial diante de Deus e da humanidade. Precisam ter uma Cosmovisão apropriada pra toda situação e em qualquer localização, em que estiverem, certo? As Religiões orientais tem sido mais felizes em integrar os valores celestiais de suas doutrinas no momento de estabelecer os princípios da vida dos fiéis aqui na Terra. Isto faz com que a ética de atitudes e a expectativa de realizações terrenas dos religiosos orientais não seja facilmente transformada pela realidade sócio-política e econômica em que vivemos. Mas sim, surja da Cosmovisão das verdades existenciais atemporais e transcendentes de seus Sábios e Profetas. Os Cristãos esqueceram que Jesus veio cumprir Moisés, ao invés de nega-lo. E por isso o Cristianismo não tem sido tão feliz e nem capaz desde o séc. 18, neste tema e nas situações dele decorrentes. Numa visão ampla da cultura, os cristãos cientistas tem esquecido que Deus criou o mundo e a natureza, humanidade e o cosmos debaixo de uma ordem e princípios de valor. Sendo algo que o próprio Teólogo cristão Tomás de Aquino refletiu a partir da filosofia de Aristóteles. Por isso, não é necessário nem prudente e nem cristão deixar de apresentar na antropologia e sociologia os princípios centrais da ordem natural das coisas e da natureza regular dos seres humanos, pois o conhecimento razoável também é uma vocação de Deus e uma situação pra abençoar a Terra. De forma que, muitas vezes, nossa doutrina cristã está sempre correndo atrás de adaptar os céus ao que ocorre na Terra, ao invés de ser o contrário. Os cristãos estão quase sempre conquistando algo do mundo pela sua capacidade de se acomodar com a realidade terrena, ao invés de manter-se fiéis aos céus, enquanto estão no mundo. Nesse contexto, os avisos de Jesus sobre a verdade celestial acerca do modo soberano como Deus conduz a história da terra tem sido um conhecimento quase apocalíptico para os cristãos, deixado pra ser notado lá para o fim dos tempos. Enquanto deveria ser o nosso valor diário nesta existência desde sempre. Na década de 1990, surgiu uma expressão mal educada pra definir o que deveria ser o tema principal de algum assunto, que estava sendo esquecido pelas pessoas. Foi quando o candidato à presidência dos EUA, Bill Clinton, ouviu de seu chefe de campanha, o que deveria afirmar pra criticar o então presidente, George Bush: "É a economia, estúpido!". Bem, com o perdão da comparação; veja que para os Cristãos, a vida na Terra são os 10 Mandamentos, irmãos. É verdade! Se os cristãos deixarem para Deus o que é de Deus e para César o que é de César; sendo que para os cristãos a soberania do Estado é limitada. Bem, o que é dos Cristãos vivendo no planeta Terra são os 10 Mandamentos. E já é bastante! Tanto que não estamos dando conta, e por isso buscamos assumir na vaidade e por medo, as responsabilidades de Deus ou de César. Ao invés de com temor e ousadia, abraçar a admirável proposta de vida que o Messias determinou para nós. Enfim, desde que o gênesis, o meio e a conclusão da História já foram anunciadas e realizadas pelo Senhor Deus Soberano, então, o que nos resta é viver a "nossa" história cristã. Sim, a nossa parte são os 10 Mandamentos. Ao viver na sociedade e assim ensinar de modo imparável os princípios e práticas dos Mandamentos; ora, os cristãos irão anunciar ao mundo as duas éticas e mensagens que Deus Todo Poderoso está comunicando e governando nos céus, na terra e universo afora. Pois Deus utiliza anjos e se move no Espírito Santo sobre todo lugar e pessoa na terra, servindo-se dos 10 Mandamentos pra curar e medicar a existência humana no planeta, sem esquecer de cuidar da fauna e flora, também. Conforme os desígnios de Deus, cada um dos 10 Mandamentos vai sempre realizar uma de duas bençãos, que Deus está protagonizando na História: - o perdão e salvação eterna aos que se arrependem de seus pecados, - o controle pessoal, familiar e social dos que param pra prestar atenção nas regras e valores humanitários das leis de Deus. Está entendendo? Observe então, que as visitas benditas que Deus Todo Poderoso está realizando no planeta Terra pra ministrar a Graça especial da salvação através do Evangelho, e administrar a Graça comum da preservação pelo conhecimento da moralidade acontecem, enfim, através do anúncio e do compartilhar dos santos mandamentos bíblicos junto da humanidade. Neste conhecimento, o pensamento protestante reformado da Igreja Presbiteriana reflete esse valor da seguinte forma: Joao Calvino destacou que os Mandamentos da Lei moral de Deus tem três valores para a vida social da humanidade, no momento de serem estabelecidos no dia a dia comunitário dos homens. Sendo um, o de auxiliar os cristãos a obedecer a Deus em sociedade; o outro, o de anunciar a Justiça de Deus a todos; e o terceiro, o valor de livrar os seres humanos do caos e da ruína social. E na Bíblia de estudo de Genebra, aprendemos que, "o governo civil é um meio ordenado por Deus para reger e manter a ordem nas comunidades". Sendo uma autoridade delegada para fazer justiça social através do amor revelado nos mandamentos: "pois isto: Não adulterarás, não matarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (1999, p. 1339; Carta aos Romanos, cap. 13. 9). Então, fique atento para que a sua vida familiar e social, política e cultural anuncie perante a humanidade as Palavras das Leis da vida de Deus para o mundo até a volta de Jesus, o Messias. Pois esta é a Missão dos Cristãos! Sendo que, as Palavras do Sermão do Monte (Mateus 5 a 7) são os 10 Mandamentos queimando seu interior e raspando seu couro exterior, no conhecimento completo da personalidade de um filho de Deus. Ah sim, eu já estava esquecendo. Eu sei que além destas duas respostas diante dos 10 Mandamentos, os cristãos também irão receber uma terceira, que são as reações contrárias e até os conflitos! E sobre isto, Jesus também falou a seus discípulos, explicando que toda verdade messiânica seria como erguer uma espada ao mundo, ao invés de paz. Mas, também deixou uma promessa aos crentes fiéis: "No mundo tereis aflições, mas tenham bom ânimo. Eu venci o mundo." (João 16.33). É isso! São os 10 mandamentos, irmão. E o que passar disso, não vem do Evangelho, não mesmo! Óh Deus, "ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos um coração sábio", pois "sem santidade, ninguém verá o Senhor." (Salmo 90.13 e Hebreus 12.14). Boa semana. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de Teologia e Ciências da Religião no SPS extensão Curitiba e Uninter. Ref. Bíblia de Estudo de Genebra, Edit Cultura Cristã, São Paulo SP, 1999.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

MEDITAÇÃO DOMINICAL. Sim, Deus continua falando...

TEXTO bíblico: "A luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas." (Evangelho de João, cap. 3. 19-20). MEDITAÇÃO. O Apóstolo João é reconhecido na história de Deus como aquele que revelou a verdade essencial sobre a Pessoa de Jesus de Nazaré. João apresentou Jesus como a "Luz do Mundo", iniciando o Evangelho com as seguintes frases: "No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus (...) Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens." (João 1. 1-4). Deus continua derramando luz e falando sua Palavra com a humanidade até hoje, e a sua voz e verdade pode ser ouvida e vista completamente quando contemplamos Jesus. Pois Jesus é a Palavra de Deus que se tornou uma pessoa, para que ninguém fique na dúvida sobre o que Deus anda falando na história do mundo. Só pra resumir, como Jesus ensinou no Sermão do Monte: Deus fala os 10 Mandamentos pra ver se a gente para pra ouvir, e começa a fazer a vida andar pra frente. E Jesus faz a gente entender os mandamentos, pois Ele é numa pessoa os próprios mandamentos diante de nossos olhos. Pois Jesus pratica cada um deles numa vida admirável pra ver se a gente também fica com vontade de dar certo. Mas a vaidade continua sendo nosso pecado essencial, pois é o primeiro; por isso, quando a luz vem ao mundo, os homens amam as trevas ao invés de se aproximar da luz, para que as suas vidas vaidosas não apareçam. Então, o negócio para se ter uma vida religiosa saudável é ser humilde pra chegar perto de Deus. Especialmente quando Deus está falando um mandamento que a gente esqueceu ou não obedece; mas precisa muito saber! Eis o motivo porque o quarto mandamento é tão importante, tá entendendo? (Êxodo 20.8). REFLEXÃO. 1. Quando Deus fala um mandamento pra você e chama a sua atenção, você crê que Ele enviou seu Filho para salvar o mundo; e aí você procura ficar mais perto d'Ele? 2. Quando Deus fala um mandamento, você fica achando que Ele está condenando você, e por isso você foge de Deus para que as tuas atitudes não sejam reveladas? ORAÇÃO. Querido Deus e Pai nosso que está no céu. Neste dia eu peço ajuda pra ficar um pouco mais de tempo na sua presença, e já pergunto quais são os mandamentos que eu tenho esquecido no cotidiano. Ilumina a minha alma e toca o meu coração para que venha sobre mim o teu reino e seja feita a sua vontade. Dá um jeito neste mundo e transforma a minha personalidade, pra que eu seja humilde de espírito, pois destes é o Reino dos céus. Amém! E não se esqueça que hoje de manhã, Deus disse novamente o que falou no primeiro dia da história deste planeta: "Haja luz!" Bom domingo. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de Teologia e Ciências da Religião.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

COSMOVISÃO REFORMADA. Texto 2. Conclusão. A experiência holandesa. ABRAHAM KUYPER.

Abraham Kuyper foi um pensador reformado que atuou na Holanda nos séculos 19 e 20 como teólogo e político, vindo a desenvolver reflexões calvinistas que vieram a compor um conhecimento contemporâneo denominado de "neocalvinismo", além de ter sido Primeiro Ministro de seu país no início do século 20, de 1901 até 1905. Acerca de nosso tema, Cosmovisão Reformada, iremos apresentar um resumo e citações do artigo, Abraham Kuyper: Um Modelo de Transformação Social, escrito por Nilson Moutinho dos Santos, do livro: Cosmovisão Cristã e Transformação, 2006. Damos continuidade com a conclusão do resumo, neste texto 2. ABRAHAM KUYPER: UM MODELO DE TRANSFORMAÇÃO INTEGRAL. Apresentamos nesse segundo texto, alguns tópicos do pensamento de Kuyper acerca de uma Cosmovisão Reformada. O primeiro item trata da relação do Cristianismo diante do Estado na sociedade. Kuyper desenvolve três princípios sobre a Soberania de Deus, para que possamos entender o modo como os cristãos devem atuar e se relacionar diante das autoridades de governo. "Existe um princípio dominante no calvinismo, do qual nascem as suas convicções políticas. Trata-se da soberania primordial que se irradia numa tríplice supremacia, a saber: a soberania do Estado; a soberania da sociedade; e a soberania da igreja." (p. 99-100). Segundo Kuyper, toda a humanidade é somente uma raça e um sangue, e por isso, toda a existência humana deveria ocorrer "segundo um modelo patriarcal de vida familiar." No entanto, devido ao pecado e suas corrupções estarem no homem e no mundo, surgiu a necessidade do magistrado e da polícia, das forças armadas etc; posto que num mundo sem pecado, "toda regra, ordenança e lei caducaria, assim como todo controle e afirmação do poder magistrado desapareceria." (p. 100). Nesse contexto, Kuyper dedica ao Senhor toda a honra primordial, e somente a partir da Soberania de Deus sobre a humanidade é que surge a necessidade virtuosa da obediência dos homens perante as autoridades, que são retiradas dentre eles mesmos, posto que a glória de Deus requer que a "ordem seja estabelecida no caos gerado pelo pecado." (p. 100). Por isso, os homens não são chamados a se submeter uns aos outros, nem a ser controlados por autoridades, conforme razões e propósitos somente humanos, posto que só Deus é Soberano e os homens são todos iguais. A partir disso, "toda autoridade de governo sobre a terra origina-se somente da soberania de Deus", sendo esse um fundamento a partir do qual todo homem irá se curvar em obediência ao próximo, no contexto da soberania divina. (p. 100). Segue o resumo das teses calvinistas de Kuyper sobre uma fé diante da política: Somente Deus é soberano sobre o destino das nações, pois Ele as criou e sustenta, e já que o pecado tem arruínado o governo direto de Deus na arena política, o Senhor estabelece autoridades humanas nessa situação. Uma autoridade que não pode gerar uma submissão ilimitada dos homens uns perante os outros, pois trata-se de uma autoridade dada conforme a soberana majestade de Deus. Assim, em decorrência e pela razão de que a autoridade do Estado surgiu na realidade humana devido ao pecado, e pela necessidade de trazer ordem à vida social da humanidade; então, "num sentido calvinista, nós entendemos que a família, os negócios, a ciência, a arte e assim por diante, todas são esferas sociais que não derivam sua existência ao Estado; e a lei de sua vida da superioridade do Estado, mas obedecem a uma alta autoridade de seu próprio seio; uma autoridade que governa pela graça de Deus, do mesmo modo como faz a soberania do Estado." (p. 101). (*) Observe que a autoridade do Estado e magistrado tem uma função específica na cosmovisão calvinista, segundo Kuyper, sendo uma função e poderes que tem seu propósito e limites na sociedade. De forma que o pensador reformado dedica-se a descrever o modo como a autoridade de cada uma das mais diversas áreas da vida, seja a família ou as artes, deverão desenvolver sua liderança sem o controle do Estado, posto que estas não derivam suas autoridades do Estado, mas sim, de Deus, que é o Soberano. Neste sentido, "segundo Kuyper, é da mais alta importância saber diferenciar a autoridade orgânica da sociedade da autoridade mecânica do governo." Nas outras esferas da vida, a autoridade é decorrente de uma capacidade oriunda da própria natureza de cada campo da existência, ao contrário do Estado, que recebe autoridade devido à necessidade de ordem no caos do pecado. Assim, "{...} toda ciência é apenas a aplicação, no cosmos, dos poderes de investigação e pensamento criados dentro de nós; e a arte nada mais é do que a produtividade natural dos poderes da imaginação. {...} (Todavia, sem o pecado) não existira nenhum Estado, mas apenas um império mundial orgânico com Deus como o seu Rei {...} Mas é exatamente isso que o pecado tem agora eliminado de nossa vida humana. Essa unidade não mais existe. (...) Um Império mundial não pode ser estabelecido, nem o deve ser. Pois a contumácia de construir a Torre de Babel consistiu nesse próprio desejo. {...}". De forma que, foi Deus quem fez os povos surgirem e sobre estes os Estados, e nestes, Deus autorizou os governos, sendo que o seu surgimento não foi natural, mas sim, mecânico. (p. 101-102). Nesse contexto, Kuyper entende que a legítima soberania do Estado sobre o indivíduo e áreas da vida humana, ocorre de três formas: - quando há conflitos entre áreas particulares, para orientar respeito entre elas; - na defesa das pessoas que são submetidas pelo abuso de poder de outros, em suas próprias esferas de convivência; e ainda, - "3. (Para) constranger a todos a exercerem as obrigações pessoais e financeiras para a manutenção da unidade natural do Estado." (p. 102). Sendo que, essas atuações de autoridade regulamentar sobre a relação entre as outras esferas autonômas da vida deve ser administrada não segundo o poder do magistrado, mas de leis que promovam o direito dos cidadãos, e também de seus bens contra "o abuso de poder por parte do governo." (p. 102). Acerca da soberania do indivíduo, Kuyper ensina que todo ser humano é soberano sobre as decisões de sua vida, e somente Deus está acima dele; sendo um "dever do Estado, pois, garantir a liberdade de consciência, garanti-la até perante a igreja e conta o despotismo." (p. 102). A seguir, Kuyper buscou esclarecer qual era o conflito maior que o Cristianismo enfrentava na sua época, vindo a definir que o mesmo se dava diante do modernismo. Kuyper: "Dois sistemas de vida estão em combate mortal. O modernismo está comprometido em construir um mundo próprio a partir de elementos do homem natural, e a construir o próprio homem a partir de elementos da natureza; enquanto que, por outro lado, todos aqueles que reverentemente humilham-se diante de Cristo e o adoram como o Filho do Deus vivo, e o próprio Deus, estão resolvidos a salvar a "herança cristã". Esta é a luta na Europa, esta é a luta na América, e esta é a luta por princípios em que meu próprio país está arraigado, e na qual eu mesmo tenho gastado todas as minhas energias por quase quarenta anos." (p. 102-103). CIÊNCIA E ARTES. Na área científica, a proposição calvinista de kuyper para a busca do conhecimento trouxe grandes conflitos com o modernismo, pois o autor reformado defendia que o real entendimento dos fatos requer descobrir o modo como Deus governa e sustenta a realidade: "Mas se vocês prosseguem agora para o decreto de Deus, o que mais a predestinação de Deus significa senão a certeza de que a existência e o curso de todas as coisas, i.e., de todo o cosmos, em vez de ser um brinquedo do capricho ou do acaso, obedece à lei e à ordem, e que existe ali uma vontade firme que põe em prática seus desígnios na natureza e na história?". Kuyper entende que as proposições do calvinismo atuaram para libertar a ciência do domínio religioso medieval, vindo a definir que há dois grupos de cientistas; de um lado, o deístas, panteístas e naturalistas, e de outro lado, os teístas. Ele argumenta que não há conflito entre fé e ciência, posto que o conhecimento adquirido pelos sentidos do ser humano é uma experiência viva e verdadeira da realidade. Sendo oriunda do fato de que somos pessoas conscientes de que estamos debaixo de uma realidade superior, a qual devemos perceber e utilizar na busca e apreensão de todo conhecimento. Para Kuyper, o conflito entre os modelos de ciência e conhecimento origina do fato de se acreditar, de um lado, que o universo e mundo estão em um progresso natural, ou de outra forma, que a história se desenvolve a partir de uma corrupção ocorrida na antiguidade, e que agora precisa ser reparada; sendo que estas "duas elaborações científicas opostas uma à outra, cada uma tendo sua própria fé {...} ambas estão disputando com perseverança todo domínio de vida...". (p. 106). Kuyper apresenta os elementos com que o cientista calvinista observa e conhece a realidade, destacando os seguintes valores: "{...} a consciência de pecado, a certeza da fé e o testemunho do Espírito Santo {...} Eles formam o seu conteúdo imediato. Sem estes três, a autoconsciência não existe nele. Isto o normalista rejeita {...}", diz o reformador, ao refletir a diferença de valores que orienta a consciência dos cientistas, posto que "uma (consciência) está inconsciente da quebra e consequentemente apega-se ao normal; a outra tem uma experiência tanto da quebra como da mudança e assim possui em sua própria consciência o conhecimento do anormal", ou seja, da quebra da ordem na história que o pecado veio produzir. (p. 107). "Em sua palestra Calvinismo e Arte, Kuyper procura demonstrar que o calvinismo não criou um estilo próprio de arte exatamente porque representava um estágio superior de desenvolvimento religioso." (p. 107). Kuyper destaca o valor calvinista de que a arte é uma experiência humana universal que ocorre conforme à realidade social e natural em que se desenvolve. Explica a diferença entre avaliar a arte no interesse de valorar a moral do ser humano em uma determinada prática artística, do que somente depreciar um movimento cultural por sua técnica e estética. Sendo que, para o pensador reformado, a própria "aliança entre religião e arte representa uma baixa forma de religiosidade": "Em cada país onde o calvinismo surgiu, ele levou a uma multiformidade de tendências da vida, quebrou o poder do Estado dentro do campo da religião e, numa grande extensão, pôs fim ao sacerdotalismo...". (p. 107-108). Kuyper entende que o momento na história em que a Arte esteve subordinada à religiosiade foi uma experiência de religião inferior, como da antiga aliança, em contraste com a religiosidade verdadeira da nova aliança. Da mesma forma, não se pode tutelar e utilizar a arte para promover a religião como ocorreu na idade média, posto que são símbolos de uma religião dependente da estética; sendo algo inferior e que cujo período e tempo ficou para trás. "Concordando basicamente com Hegel e von Harmann, Kuyper conclui que religião e arte tem suas próprias esferas de vida, não podendo ser separadas no início, mas adquirindo identidades próprias ao atingirem a maturidade. Esse processo de maturidade e separação, segundo ele, é o "processo de Arão para Cristo, de Bezaleel e Aoliabe para os apóstolos". (p. 108). Eis o motivo porque o calvinismo buscou libertar a arte para que viesse a se desenvolver dentro de sua esfera própria pela experiência humana, ao invés de edificar uma específicia "arte calvinista". Acerca do modo como a arte pode ser integrada à religião, Kuyper faz duras críticas aos que buscam maior espiritualidade nos cultos procurando trazer as representações simbólicas e "formas de adoração sensorial" para as celebrações. Ao contrário, argumenta que "esta fraqueza da vida religiosa deve inspirar à oração por uma obra mais poderosa do Espírito Santo." (p. 109). Ao concluir, explica que, "nossa vida intelectual, ética, religiosa e estética, cada uma comanda uma esfera própria. Essas esferas correm paralelas e não permitem derivação de uma para a outra. É a emoção central, o impulso central e o entusiasmo central, na raiz mística do nosso ser, que procura revelar-se para o mundo exterior nessa quádrupla manifestação...". (p. 110). Desta forma, Kuyper diferencia e valoriza as áreas autonômas da religião, da arte e outras, como também, apresenta o modo em que o cristão calvinista não irá perceber e desenvolver nenhuma dessas áreas em contrariedade diante da realidade última, Deus, que ele reconhece segundo seu conhecimento religioso. AGENDA PARA O FUTURO. O título do artigo destaca a visão existencial cristã de Kuyper, que aponta para um projeto religioso de transformação integral da vida. Essa visão embasada no calvinismo se coloca como um contraponto a outros sistemas históricos, especialmente diante do Modernismo. Acerca desse confronto de ideias, surgiram análises do modo como Kuyper entendia o calvinismo como o conhecimento final da história, sendo que esse tipo de afirmação absoluta representa igualmente o período histórico em que viveu o pensador e teólogo. Ao refletir sobre as mudanças surgidas no século 19, Kuyper entendia que as conquistas e transformações na ciência e sociedade geravam um momento histórico em que "a hipertrofia de nossa vida exterior resulta numa séria atrofia da vida espiritual." (p. 110). Kuyper observou que a sociedade ocidental estava desprezando o cristianismo como fonte de conhecimento, ao mesmo tempo em que negava algumas virtudes e bençãos históricas que essa religião havia ofertado para a humanidade. "A filosofia moderna considerava o cristianismo como superado, supérfluo, entrando na era pós-cristã." (p. 110). Nesse contexto e situação, Kuyper buscou um conteúdo religioso cristão que pudesse orientar os cristãos e sociedade no conhecimento do Cristianismo bíblico, e entendeu que seria o calvinismo. A fim de esclarecer o objetivo que tinha ao expor princípios calvinistas para sua época e sociedade, Kuyper definiu quatro itens: - que o calvinismo não deveria ser desprezado nas sociedades em que estava presente, de modo que eventos e valores oriundos da religião deveriam ser resguardados e identificados como cristãos, ao invés de conquistas humanistas; como a oração nas escolas e instituições públicas, além do Dia de Ação de Graças, a autonomia de governos regionais, o respeito à mulher, e o valor superior da liberdade de consciência; - que os valores calvinistas em favor da cultura e sociedade deveriam ser anunciados e renovados, de forma que houvesse uma publicidade íntegra, mas efetiva; - que os fundamentos teológicos do calvinismo deveriam ser utilizados na reflexão do período histórico em que viviam os mestres e teólogos reformados, ao invés de usarem outros conteúdos; - que os cristãos e as igrejas de origem e fundamentos reformados não tivessem vergonha de praticar os princípios calvinistas no dia a dia de suas vidas e da igreja. O autor do artigo faz breve análise sobre as mudanças sociais que Abraham Kuyper liderou na Holanda, destacando a organização de um partido político conservador e democrático, além da criação da Universidade Livre de Amsterdã. Kuyper também foi o responsável por uma transformação social inovadora, na qual as diferenças entre as pessoas e comunidades foram mais ideológicas do que baseadas na economia e classe social. Desta forma, cada movimento de pensamento tinha a liberdade e a condição de criar e administrar "instituições sociais e políticas com mínima interferência governamental e de acordo com suas próprias persuasões ideológicas." (p. 114). E assim o fizeram os liberais e socialistas, católicos e protestantes. "Ele pretendia oferecer um programa alternativo para uma renovação cultural e política, diferente daquele oferecido pelos ideais iluministas da Revolução Francesa, a qual, acreditava-se, estava fazendo um estrago na sociedade holandesa em todos os níveis. Com sua persistente agitação para maiores liberdades educacionais, sociais e políticas para os grupos minoritários na sociedade, Kuyper pretendeu ser um líder progressista e inovador." (p. 115). O destaque final do autor do artigo aponta para o modo como Kuyper começou liderando um número pequeno de cidadãos, até que em dez anos, tinham nas mãos, "poderosos órgãos jornalísticos, um programa sociopolítico, uma política partidária e uma universidade." (p. 115). Conclusão. Citações. "É inegável que a visão de mundo bíblica, que animou homens como Kuyper e nações como a Holanda, foi determinante para produzir algumas das nações mais desenvolvidas do nosso planeta. {...} As ideias teológicas de Kuyper não devem ser simplesmente copiadas para os dias de hoje. Ele mesmo se oporia a isso. O que deve ser feito é um estudo dos princípios por trás dos seus ensinamentos para poder aplica-los em nossa realidade presente, em concordância com os ensinamentos da Palavra. {...} boa prática seria promover estudos aprofundados da vida e obra de Calvino para poder avaliar de que forma Kuyper se apropria dos princípios calvinistas na sua cosmovisão. {...} Finalmente, se Kuyper está certo quanto a ser o calvinismo atualizado uma legítima biocosmovisão, em condições de poder representar de maneira consistente o cristianismo, então ele pode ser aplicado a todas as áreas da vida, de maneira a revitalizar profundamente o relacionamento do homem com Deus, consigo mesmo e com o próximo - por fim, com o mundo onde ele vive " (p. 119 - 122). FIM DO TEXTO 2 e Conclusão. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é Professor de Teologia e Ciências da Religião, no Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba e Uninter. Referências. RIBEIRO DE CARVALHO, Guilherme Vilela e outros (organizadores) Cosmovisão Cristã e Transformação. Viçosa, MG : Ultimato, 2006. Artigo: Abraham Kuyper: Um modelo de transformação integral, por Nilson Moutinho dos Santos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

COSMOVISÃO REFORMADA. A experiência holandesa. ABRAHAM KUYPER. Texto 1.

Abraham Kuyper foi um pensador reformado que atuou na Holanda como teólogo e político, vindo a ser Primeiro Ministro de seu país no início do século 20, de 1901 até 1905. Acerca de nosso tema, Cosmovisão Reformada, iremos apresentar um resumo e citações do artigo, Abraham Kuyper: Um Modelo de Transformação Social, escrito por Nilson Moutinho dos Santos, do livro: Cosmovisão Cristã e Transformação, 2006. ABRAHAM KUYPER: UM MODELO DE TRANSFORMAÇÃO INTEGRAL. Kuyper surgiu na vida da Holanda no século 19, num período em que o país estava distante dos valores tradicionais da civilização ocidental, num momento em que o liberalismo orientava novos princípios para a cultura da nação. "Kuyper enfatizou o caráter calvinista da nação e apelou para a energia, o destemor e a fé da era da Reforma. Quando morreu, escolas cristãs livres podiam ser encontradas do norte ao sul. Crentes estavam aplicando os princípios em seus lares, igrejas e associações. Homens cristãos de ciência estavam demonstrando que a crença na Bíblia não era antiquada, mas atual. A face do país foi renovada." (p. 81). A Holanda conquistou sua independência em 1579 e no decorrer dos séculos alcançou uma capacidade técnica naval superior a Portugal e Espanha, sendo que os holandeses chegaram a tomar e governar um território no nordeste brasileiro a partir de 1624, até serem derrotados e expulsos pelos portugueses em 1654. "Nassau governou de 1637 a 1644 {...} Foi então que Recife se tornou a cidade mais cosmopolista e avançada da América. O comércio era rico, os engenhos produziam a plena carga, o porto recebia cidadãos de todo o mundo {...} O progresso que a colonização holandesa produziu na região foi impressionante." (p. 82). Enquanto governante no nordeste brasileiro, Nassau deu garantias de terras aos proprietários, ofereceu crédito com juros controlados, promoveu a tolerância religiosa e os direitos civis iguais para cidadãos portugueses, brasileiros e holandeses. Houve maior democratização municipal com participação de representantes dos cidadãos, e renovação da capital Recife, além da vinda de artistas, teólogos e cientistas. "Esses dados foram registrados aqui apenas como uma ilustração da mentalidade holandesa em relação à cultura. {...} tal postura foi fruto da cosmovisão calvinista que certamente existia também nos holandeses que foram mandados para o Brasil. Nassau demonstrou um profundo interesse e cuidado para com todos os aspectos culturais na construção de uma sociedade holandesa no Brasil." (p. 83). Neste sentido e numa outra perspectiva histórica, Abraham Kuyper liderou transformações culturais e políticas na Holanda do século 19, "pois iniciou uma escola internacional de pensamento que até hoje continua a inspirar-se em suas ideias." (p. 83). O propósito desse artigo é refletir pensamentos e atitudes de Kuyper, não no objetivo de aprender com o que houve nos séculos 17 e 19, mas sim, para refletir "como podemos desenvolver uma cosmovisão cristã para os evangélicos brasileiros do século 21 que incorpore aqueles princípios cristãos que animaram os holandeses em sua era gloriosa." (p. 84). Abraham Kuyper nasceu em 1837 na Holanda, filho de um Ministro da Igreja Reformada, e se tornou um escritor capaz e influente ao refletir sobre temas da igreja e política, cultura geral e ainda como jornalista. A situação cultural da Holanda no século 19 apontava para um distanciamento dos valores tradicionais da época de Rembrandt e dos princípios judaico-cristãos, sendo um tempo em que a própria Igreja estava sem ânimo e a Bíblia não fazia parte do cotidiano dos cidadãos. "Em 1855, Kuyper matriculou-se em teologia na Universidade de Leiden, que veio a se tornar o epicentro da teologia moderna na Holanda, depois que ela perdeu sua vitalidade inicial na Universidade de Groningen." (p. 84). Havia um novo movimento teológico liberal em Leiden, no momento da entrada de Kuyper na Universidade, sendo algo que o influenciou a ponto de inclusive romper com os alicerces bíblicos da fé cristã. Entende-se que as pesadas críticas de Kuyper ao liberalismo em sua atuação posterior como teólogo e pensador reformado são fruto de suas vivências modernas nesse período. A partir disso, houveram três experiências que vieram a transformar a caminhada espiritual de Kuyper até ele se tornar o cristão bíblico e líder social-teológico reformado que conhecemos: ele teve contato com as obras de João de Lasco, reformador escocês renomado, para a feitura de um texto na faculdade; depois, descobriu o valor dos sacramentos e da adoração mediante a leitura da obra clássica O Herdeiro de Redcliffe, em que são narradas as vivências espirituais do protagonista Filipe de Norville. A terceira e fundamental experiência de vida que mudou a jornada espiritual e existencial de Kuyper, ocorreu quando assumiu uma paróquia reformada para ministrar, vindo a observar que os membros da igreja não participavam das atividades "como forma de protesto ao modernismo". Kuyper foi visitar essas famílias e "surpreendeu-se quando percebeu que eles possúiam uma cosmovisão mais coerente que a sua e um profundo conhecimento da Bíblia, muito maior do que o seu." (p. 86). A cosmovisão daqueles irmãos estava embasada no pensamento de João Calvino, e sobre esse momento, comentou Kuyper: "Não havia apenas um conhecimento da Bíblia, mas também conhecimento de uma bem ordenada cosmovisão, bem ao estilo dos reformadores antigos. {...} E o que era, para mim pelo menos, mais atraente, era que aqui falava um coração que não apenas possuía, mas também tinha uma simpatia por uma história e experiência de vida {...} Calvino podia ser encontrado, ainda que de forma velada, entre aquelas simples pessoas do campo, as quais dificilmente tinham ouvido falar dele. Ele tinha ensinado de tal forma que ele podia ser entendido, mesmo séculos depois de sua morte, num país estrangeiro, numa vila esquecida, numa sala coberta de cerâmica, com a mente de um trabalhador comum." (p. 86-87). Quando se referia à cosmovisão que conheceu junto daqueles irmaõs da igreja, Kuyper assim a descreve, como tendo "uma estabilidade de pensamento, uma unidade de discernimento abrangente {...} uma cosmovisão baseada em princípios." (p. 87). A partir dessa experiência, podemos entender que a Igreja local tem a condição e capacidade de: - ensinar uma cosmovisão aos membros; - envolta em uma dinãmica de fé e amor, mais que racional; - uma cosmovisão estabelecida dá fundamentos e força na doutrina; - a cosmovisão atua na mente e coração e assim se torna um conhecimento difícil de negar. Para o autor de nosso texto base, o conhecimento de Kuyper deve ser descrito assim: "que o Cristianismo das Escrituras não se preocupa apenas com a salvação da alma do indíviduo, mas se coloca como um sistema de vida que nada deixa fora do domínio de Jesus Cristo." Kuyper: "Cristo governa não simplesmente pela tradição do que ele outrora foi, falou, fez e suportou; mas por um poder vivo que ainda agora, assentado como ele está à mão direita de Deus, exerce sobre as terras e nações, gerações, famílias e indivíduos." (p. 88). Kuyper escreveu mais de dois mil textos devocionais, buscando apresentar os valores da fé simples de uma criança junto de uma alma sensível e terna: "A comunhão de estar perto de Deus deve tornar-se realidade, na realização plena e vigorosa de nossa vida. Deve penetrar e dar cor a nossos sentimentos, nossas percepções, nossas sensações, nossos pensamentos, nossa imaginação, nossa vontade, nosso agir, nosso falar. Não deve colocar-se como um fator estranho em nossa vida, mas deve ser a paixão que inspira toda existência." (p. 88). Ao lado dessa vivência integral e sincera da fé cristã, Kuyper apresenta uma ampla atividade intelectual e cultural, sendo doutor em Teologia sagrada, ministro da Igreja, editor de jornal cristão, membro do Parlamento holandês, fundador do partido político antirrevolucionário e da Universidade Livre de Amsterdã, vindo a assumir como Primeiro Ministro da Holanda em 1901. Como destaque ao pensamento cristão integral de Kuyper, anotamos a ministração das "Palestras Stone", no Seminário Princeton, EUA, quando se tornou doutor em Direito. (Essas palestras estão descritas no livro, Calvinismo). Durante sua vida, Kuyper foi um orador direto e entusiasta na demonstração das falhas e enganos do modernismo, tendo visitado uma campanha de reavivamento na Inglaterra, movida por Moody, Sankey e Robert Smith, valorando a experiência de "transbordamento espiritual, como um verdadeiro Betel em sua vida". Kuyper: "Culpa e pecado nunca foram tão profundamente sentidos como lá, na maravilhosa presença do Senhor... O poder de Deus revelou-se não apenas ao nosso redor, mas em e através da alma." (p. 91). Na década de 1870, Kuyper experimentou diversos enfrentamentos públicos devido a seus artigos e palestras junto da sociedade holandesa, vindo a padecer psicológica e fisicamente. UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE KUYPER. (p. 92). No destaque de nosso autor, o conhecimento do pensamento de Kuyper se encontra nas Palestras Stone (livro: Calvinismo). Pois o pensador reformado dialoga com uma cultura distinta da sua, ao visitar os EUA, buscando apresentar de forma "concisa, compreensiva e sistemática", a sua reflexão para uma cosmovisão cristã. Foram seis palestras: Calvinismo como Sistema de Vida, Calvinismo e Religião, Calvinismo e Política, Calvinismo e Ciência, Calvinismo e Arte, Calvinismo e Futuro. A tese de Kuyper era "que o calvinismo se coloca como uma concepção de vida e de mundo, um sistema de vida." (p. 92). Ao utilizar a palavra "calvinismo", Kuyper reflete "os aspectos histórico, filosófico e político da questão. O primeiro mostra o canal pelo qual a Reforma fluiu. O segundo revela o sistema de concepções estabelecido para dominar as diversas esferas da vida. E o terceiro indica "o movimento político que tem garantido a liberdade das nações em governo constitucional." (p. 92). Dessa forma, o conteúdo das Palestras Stone tem sido reconhecido como o texto essencial acerca do pensamento de Kuyper e do neocalvinismo, vindo a influenciar toda a América do Norte e Brasil, Inglaterra e África do sul, além da Coréia do sul, refletindo temas jurídicos e educacionais, de ciência e das artes, além de jornais e publicações. "Kuyper reivindicava que suas ideias foram derivadas de Calvino e aclimatadas no ambiente intelectual ocidental do final do século 19. Uma questão interessante é examinar como ele teria "modernizado" o calvinismo." (p. 93). Kuyper utilizava a expressão reformado para temas da igreja e teologia, enquanto a expressão calvinismo tratava das situações integrais da vida. O Calvinista era o cristão reformado que agia segundo esse pensamento na igreja e teologia, e também nas situações sociais e políticas, diante do conhecimento e nas artes. No interesse de atualizar o pensamento calvinista para os séculos 19 e 20, Kuyper adotou o termo "neocalvinismo" acerca de suas reflexões, a fim de "despertar a teologia reformada de seu sono e tornar acessíveis para ela novas perspectivas até aqui não consideradas." (p. 94). Neste sentido, Kuyper apresentou uma proposição peculiar acerca do que fora ensinado, ao utilizar a doutrina exposta por Calvino na defesa da existência de igrejas em formas diversas. Sendo "um desenvolvimento natural do "princípio calvinista de liberdade, o qual, na esfera eclesiástica, permitiu a cada congregação local experimentar uma completa autonomia". (p. 95). Kuyper: "{...} a soberania de Cristo mantém-se absolutamente monárquica, mas o governo da Igreja na Terra torna-se democrático para seus ossos e medulas (Kuyper estabelece duas implicações lógicas: primeira); {...} todos os crentes e todas as congregações estão numa posição igual, nenhuma igreja pode exercer domínio sobre outra. Todas as igrejas locais são da mesma classe e, como manifestações de um mesmo corpo, somente podem estar unidas {...} por meio de confederação; {...} (segunda:) se a Igreja consiste na congregação de crentes {...} então as diferenças de clima e nação, de passado histórico e de disposição mental contribuem para exercer uma influência que produz variedade, e a multiformidade em questões eclesiásticas deve ser a consequência." (p. 95). O princípio da liberdade refletido por Kuyper demonstra que ele percebia as variações culturais de pensamento e hábitos que surgiam na Europa nos últimos cinquenta anos do século 19. Ao invés de se buscar uma total unidade na organização eclesiástica, "a única solução viável era o estabelecimento de igrejas livres, nas quais pessoas da mesma mentalidade poderiam voluntariamente manter-se juntas. A sensibilidade particular de Kuyper para a diversificação social e intelectual de seu tempo era devida, em parte, ao fato de que foi precisamente esse processo que ameaçou marginalizar o lugar da religião na sociedade. {...}". (p. 95). Kuyper buscava desenvolver princípios calvinistas diante das transformações culturais e sociais do século 19. Numa outra perspectiva acerca do modo como desenvolvia o pensamento calvinista para sua época, "a cosmovisão calvinista que ele abraçara não se limitava a restabelecer as doutrinas calvinistas tradicionais. Ao contrário, elas eram reinterpretadas radicalmente e reaplicadas, de maneira que sua relevância era estendida para abranger a totalidade da existência humana {...}". (p. 96). Para nosso autor, Kuyper jamais defendeu um novo calvinismo, mas sim, "ele via a necessidade de modernização, aplicando os princípios do calvinismo em todas as disciplinas científicas, especialmente no desenvolvimento de uma moderna teoria calvinista do conhecimento, para fazer frente às questões epistemológicas levantadas pelos filósofos protestantes desde Kant." (p. 96). (*) Aqui, entendemos que Kuyper desejava renovar os princípios calvinistas diante dos novos pensamentos e atitudes de sua época, a fim de que os princípios reformados pudessem realizar reflexões eficazes e conectadas às novas realidades sociais e culturais do mundo. Um outro destaque de nosso autor sobre o pensamento de Kuyper, apresenta o modo como ele deu ênfase a valores calvinistas que não haviam sido destacados no pensamento teológico até então, como, por exemplo, o tema da "graça comum". "Dessa maneira, graça particular, ou especial, é aquela por meio da qual Deus salva os pecadores. E, por intermédio da graça comum, "Deus restringe a corrupção do mundo causada pelo pecado e permite o desenvolvimento da vida e cultura humanas." (p. 97). A doutrina da Graça Comum era a reflexão bíblica que havia capacitado o calvinismo "a libertar a religião das fronteiras eclesiásticas e confessionais, comunicando um poderoso impulso ao desenvolvimento da sociedade ocidental." (p. 97). A doutrina calvinista da Graça Comum se relaciona intimamente com os cinco pontos do calvinismo, do cânone de Dort (1618-19), pois a Depravação Total do homem demonstra a força radical do pecado sobre o ser humano, em contrariedade ao pensamento modernista que indica a capacidade do homem ser bom o bastante para alcançar o progresso; sendo que, a graça comum aponta para o modo como Deus sustenta valores e bondade no mundo e no homem, segundo a sua Soberania e propósito. Para Kuyper, o calvinismo não é uma doutrina eclesial, mas "uma concepção de vida e do mundo capaz de fornecer não só orientação para o pensamento, mas também direção para a ação em todas as áreas da vida." (p. 97). Segue uma citação da Palestra Stone, O Calvinismo e o Futuro: "(O Calvinismo) elevou nossa religião cristã ao seu mais alto esplendor espiritual; criou uma ordem eclesiástica que tornou-se a pré-formação da confederação de Estados; provou ser o anjo da guarda da ciência; emancipou a arte; divulgou um esquema político que deu à luz o governo constitucional tanto na Europa como na América; encorajou a agricultura e a indústria, o comércio e a navegação; colocou uma marca completamente cristã sobre a vida da família e sobre os laços familiares; por seu alto padrão moral, promoveu a pureza em nossos círculos sociais, e para produzir esse multiforme efeito, colocou à disposição da Igreja e do Estado, da sociedade e do círculo familiar uma concepção filosófica fundamental estritamente derivada de seu princípio dominante, e portanto, completamente própria." (p. 97-98). Há duas escolas de reflexão teológica que refletem o pensamento de Kuyper, ora enfatizando a graça comum e investindo na atuação cristã junto das instituições e para com aspectos seculares, ora investindo na doutrina da "antítese", que orienta "a encarnação de seus princípios religiosos em instituições independentes e distintamente cristãs." (p. 98-99). Nas Palestras Stone, Kuyper colocou lado a lado o calvinismo diante de outros modelos de vida, como o paganismo, islamismo, romanismo e modernismo, abordando as diferenças de foco sobre três áreas: diante de Deus, diante do homem, diante do mundo. O diferencial do pensamento do Calvinismo diante destes outros ideais de vida, foi assim descrito por Kuyper: "Para a nossa relação com Deus: uma comunhão imediata do homem com o Eterno, independentemente do sacerdote ou igreja. Para a relação do homem com o homem: o reconhecimento do valor humano em cada pessoa, em virtude de ela ter sido criada conforme a semelhança de Deus, e portanto, da igualdade de todos os homens diante de Deus e de seu magistrado. E para a nossa relação com o mundo: o reconhecimento de que, no mundo inteiro, a maldição é restringida pela graça, que a vida do mundo deve ser honrada em sua independência, e que devemos, em cada campo, descobrir os tesouros e desenvolver os potenciais ocultos por Deus na natureza e na vida humana." (p. 99). Acerca da atuação da Igreja Cristã como Instituição na sociedade e dos membros cristãos da igreja como cidadãos do mundo, ressaltamos dois destaques de análise: "Bratt, por exemplo, aponta uma vocação tríplice do cristão no mundo com base no pensamento kuyperiano: (1) testemunho e trabalho no mais alto nível de qualidade possível... (2) promover o desenvolvimento dessa esfera (em que atua)... para que atinja seu objetivo último, a plenitude de suas potencialidades. (3) agir em prol da defesa da justiça e misericórdia divinas, notadamente para os fracos e oprimidos, os que sofrem e os que são negligenciados (...) Esse trabalho vocacional produziria determinados resultados históricos pela providência divina, e por tais resultados o cristianismo produziria impacto onde atuasse. A atitude esperançosa da cultura, como aponta Niebuhr ao falar dos conversionistas (transformacionistas) não se encontra em Kuyper. (Kuyper entendia que o cristão deveria ser obediente em sua vocação cidadã como forma e ao propósito de glorificar a Deus) (...) Assim, "Bratt observa que: "No fundo, Kuyper não era um transformacionista triunfalista. Dizer que o esforço humano nunca trará o Reino de Deus significa dizer que o esforço cristão organizado também não o fará. A transformação redentora de Deus alcançará esse fim por seus próprios meios misteriosos, em seu próprio tempo oculto. Nossos esforços aqui testificam esse fim, em gratidão por seus primeiros frutos já presentes em nossas vidas como pecadores redimidos e em testemunho da glória de Deus." (p. 237-238, Moreira, 2020). FIM DO TEXTO 1. Continua no TEXTO 2. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é Professor de Teologia e Ciências da Religião, no Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba e Uninter. Referências. MOREIRA, Thiago. Abraham Kuyper. E as bases para uma teologia pública. Brasília DF, Edit. Monergismo, 2020. RIBEIRO DE CARVALHO, Guilherme Vilela e outros (organizadores) Cosmovisão Cristã e Transformação. Viçosa, MG : Ultimato, 2006. Artigo: Abraham Kuyper: Um modelo de transformação integral, por Nilson Moutinho dos Santos.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

MEDITAÇÃO e REFLEXÃO DOMINICAL. Carta de Paulo a Filemon.

Texto Bíblico: Carta do Apóstolo Paulo a Filemon. Essa carta é breve e deve merecer sua leitura integral, algo que não vai demorar nem poucos minutos. Seguem alguns versículos aqui, para nossa meditação bíblica. "Sempre dou graças a meu Deus, lembrando-me de você nas minhas orações, porque ouço falar da sua fé no Senhor Jesus e do seu amor por todos os cristãos. Oro para que a comunhão que procede da sua fé seja eficaz no pleno conhecimento de todo o bem que temos em Cristo. (...) Apelo em favor de meu filho (espiritual) Onésimo, que gerei enquanto estava preso (...) Escrevo-lhe certo de que você me obedecerá, sabendo que fará ainda mais do que lhe peço." (Carta a Filemon, versos 4-6, 10, 21). Meditação. No verso 6, o Apóstolo Paulo faz orações para que a "Comunhão da Fé" de Filemon possa crescer, até ele receber tudo de bom que Deus derrama sobre os cristãos, quando esses dedicam-se a andar com Deus no dia a dia. A Comunhão da Fé que deve ser desenvolvida por Filemon tem a ver com "compartilhar as vivências" da fé cristã junto dos irmãos da igreja de Cristo, mesmo os que estão longe e são de outras regiões. Naquela situação, Paulo pede que Filemon haja como um cristão diante de um escravo fugitivo que lhe causou possíveis danos, e comece a trata-lo como um irmão em Cristo. Pois viver diante de Deus em Jesus; segundo o Apóstolo Paulo, significa que ele, Filemon e Onésimo são todos filhos de Deus e irmãos em igualdade de valor e dignidade, sendo algo que deve aproxima-los apesar de todas as situações, de forma que Deus possa abençoa-los enquanto eles amadurecem como cristãos; tudo junto ao mesmo tempo. Reflexão. 1. Paulo pede para Filemon algo que ele poderia ordenar como Apóstolo e lider cristão, já que o perdão é um mandamento. Você aceita que alguém lhe diga o que fazer em nome de Cristo, e você entende que isto seria algo bom para o seu amadurecimento espiritual? 2. Como vai a sua "Comunhão da Fé", ou seja, você tem tempo para meditar na Bíblia e orar junto com outros cristãos, e consegue desenvolver boas obras e atividades junto deles? ORAÇÃO: Querido Deus e Pai Nosso que está no Céu. Pedimos que o Senhor nos ilumine para que consigamos perdoar, assim como o Senhor nos perdoa e fica conosco a cada vez que invocamos teu Nome. Ajuda-nos a amadurecer espiritualmente enquanto nos esforçamos para andar junto de outros cristãos, e que na nossa vida haja lugar e tempo para desenvolver atividades cristãs, seja de conhecimento da Palavra de Deus ou de caridade ao próximo. Amém! Autor. Ivan S Rüppell Jr é Professor de Teologia e Ciências da Religião.