sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Meditação Dominical. LUTAS ESPIRITUAIS!

TEXTO Bíblico. “Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês.” (Tiago 4.7). Comentário. A sujeição do cristão ao Senhor deve ser um ato voluntário de submissão a Deus, em todas as áreas da vida. Submeter-se a Deus significa obediência. MEDITAÇÃO. Aprendemos na Bíblia que as nossas vidas sofrem uma grande influência espiritual maligna, que tem o objetivo de nos afastar da Pessoa de Deus. Como os pecados afastam os seres humanos de Deus, entao, o espírito maligno age exatamente nas nossas tentações, pra que pratiquemos pecados e vivamos longe de Deus. Eis a razão porque o espírito maligno Satanás é chamado de o "tentador". Nestas situações, a orientação de Jesus e Apóstolos pra que eu e você não venhamos a cair em tentação, não é um confronto direto e pessoal com o espírito maligno. Na verdade, como somente Deus é sábio e poderoso diante das dimensões espirituais da vida humana. E como somente Deus é capaz de nos dar pensamentos e vontades saudáveis, então, a orientação ao cristão é confiar mais em Deus, do que em si próprio. Isto acontece através de uma vida cotidiana de submissão diante de Deus. Submissão à presença e palavra da Pessoa de Deus, para que consigamos estar fortes em Deus, sendo capacitados a dizer não para as tentações. Pois sem Deus, iremos perder e cair nas tentações, sempre. Portanto, submeta-se a Deus, para que somente Ele seja Deus na sua vida. ORAÇÃO. Pai Nosso que está nos céus, que venha o teu reino e seja feita a tua vontade sobre mim. Ilumina meus pensamentos e abençoa os desejos do meu coração. Não me deixa cair em pecados quando eu estiver sendo tentado, mas livra-me do mal. Pois teu é o Reino, o Poder e a Glória, pra sempre. Amém! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana.

A SOBERANIA de Deus e a Supremacia das Liberdades Civis sobre a Instituição do ESTADO, segundo ABRAHAM KUYPER, na obra: Calvinismo; p/ Ivan S. Rüppell Jr.

No interesse de propor à Igreja de Cristo, alguns princípios bíblicos e atividades cristãs de orientação “vocacional” ao povo de Deus para uma Missão Integral, iremos apresentar nesse artigo aspectos da Cosmovisão Reformada para uma atuação do Cristão na Sociedade, especialmente diante da instituição do Estado; segundo o pensamento de Abraham Kuyper, conforme texto do livro, “Calvinismo”. CITAÇÃO: “No Calvinismo encontra-se a origem e a garantia de nossas liberdades constitucionais.” (Groen Van Prinsterer) (Kuyper, p 85, 2003). TEXTO: Abraham Kuyper (1837-1920) “foi um teólogo e filósofo calvinista holandês que se envolveu intensamente nas áreas acadêmicas e políticas de seu país.” Atuou no Parlamento durante trinta anos e foi Primeiro Ministro da Holanda entre os anos de 1901 até 1905. Seu livro “Calvinismo” contém as palestras ministradas na Universidade e Seminário de Princeton no ano de 1898, expondo temas teológicos “como um fundamento para uma visão abrangente de vida.” (Kuyper, p 5-6, 2003) Kuyper trata do tema do Estado em sua terceira palestra, movendo-se da religião para a instituição pública, fazendo uma “transição do círculo sagrado para o campo secular da vida humana”. Além da citação no início deste tópico, há um outro destaque do autor, no interesse de apresentar o princípio reformado mediante o qual a sociedade dos homens deverá ser organizada politicamente: “O fanático pelo Calvinismo era um fanático por liberdade pois, na guerra moral pela liberdade, seu credo era uma parte de seu exército e seu mais fiel aliado na batalha.” (p 86, 2003) Nessa perspectiva, a liberdade existencial do homem que deve ser assegurada nos ordenamentos constitucionais das nações é um princípio cosmológico oriundo da Soberania do Deus Trinitário sobre o Universo, em qualquer dimensão e acima de toda autoridade, sendo uma soberania primordial que se derrama sobre a humanidade através de três elementos: 1. A Soberania do Estado; 2. A Soberania na Sociedade; 3. A Soberania na Igreja. O autor anota que o impulso que orienta a humanidade a formatar a instituição do Estado decorre da própria natureza social do homem, posto que Deus não criou os homens como indivíduos separados e sem conexão genealógica, como fizera no princípio com Adão. Ao contrário, segundo o desígnio divino, a humanidade tem sido gerada na história “a partir do homem”, como bem anotou Aristóteles, algo que veio unir de forma orgânica toda a raça humana numa espécie única e contínua, posto que oriunda das gerações anteriores e provedora das gerações futuras. Portanto, o Estado se qualifica como sendo a instituição da ordem social da humanidade, em conformidade à esta base integrativa que formaliza a origem e a continuidade de nossa espécie na terra. (p 86, 2003) No entanto, Kuyper sublinha que o “Estado” não é uma instituição natural, posto que sua existência decorre da entrada do pecado no mundo, e segundo esta realidade é que irá atuar na sociedade, no objetivo delimitado de amparar a comunidade dos homens. Assim, um elemento central da reflexão calvinista acerca da instituição do Estado e da organização comunitária dos homens, deseja destacar o modo em que a realidade do pecado no mundo e suas consequências irão impedir qualquer integração comunitária “natural” da humanidade. Ele observa que o desconhecimento desta realidade, tem sido o princípio gerador do engano que cometem todos os imperadores e sistemas políticos que desejam edificar uma sociedade “única” na terra, sejam eles os Alexandres, Augustos e Napoleões, ou ainda, os que almejam uma união ideal conforme propõe a social democracia internacional. (p 87, 2003) Abraham Kuyper reconhece, sim, que a proposta de promover esse império mundial integrador de todos os homens numa única nação, logo se torna um ideal valioso para a humanidade; sendo uma proposição que nos seduz por seu valor comunitário e solidário, da mesma forma que a liberalidade social cresce nos corações humanos, devido a seus apelos em favor da liberdade pessoal que almeja. No entanto, segundo destaca o autor, ambas estas proposições se tornaram apenas vãs tentativas de “olhar para trás, para um paraíso perdido.” (p 87, 2003) Desta forma, a nossa realidade pecaminosa indica que o erro mais grave dos Imperadores, não foi tanto a sedução do Império Mundial, mas sim, o fato de almejarem estabelecer esse ideal numa situação existencial impeditiva desta unicidade. “de fato, sem pecado não teria havido magistrado nem ordem de estado; mas a vida política em sua inteireza teria se desenvolvido segundo um modelo patriarcal da vida de família. Nem tribunal, nem polícia, nem exército, nem marinha, são concebíveis num mundo sem pecado; e se fosse para a vida desenvolver a si mesma, normalmente e sem obstáculo de seu próprio impulso orgânico, consequentemente toda regra, ordenança e lei caducaria, bem como todo controle e afirmação do poder do magistrado desapareceria.” (p 87, 2003) Em decorrência desta impossibilidade, o autor vai definir que toda organização estatal e suas autoridades se tornam um “meio mecânico de obter pela força, a ordem” social entre os homens. Sendo algo, portanto, que deverá ser desenvolvido dentro dos limites e ordenanças de Deus, para que alcancem o propósito divino de sustentar um curso ordeiro para a sociedade, posto que existimos num mundo “em pecado". (p 88, 2003) Nesse contexto, ao propor e desenvolver os princípios calvinistas do modo em que a Soberania de Deus deve orientar a soberania do Estado perante os homens, Kuyper destaca que, “assim, originou-se a batalha dos séculos entre Autoridade e Liberdade, e nesta batalha estava a própria sede inata pela liberdade, a qual revelou-se o meio ordenado por Deus para refrear a autoridade onde quer que ela tenha se degenerado em despotismo.” (p 88, 2003) Portanto, a cosmovisão reformada que orienta o direito da população de resguardar a liberdade civil do homem na sociedade, tem seu fundamento teológico-social na realidade existencial da criação, conforme anotado pelo calvinismo, posto “que Deus instituiu os magistrados por causa do pecado”; sendo esta, uma realidade que requer estar debaixo da soberania divina a fim de que a humanidade seja abençoada. Ao visualizar o estabelecimento da sociedade segundo a realidade do pecado, o Calvinismo busca orientar a instituição do Estado conforme tem sido conduzida por Deus na história, seja como um elemento necessário de preservação da sociedade através de atos de justiça, seja como um instituto que deverá ser vigiado, posto que carrega consigo o impulso de atuar contra a liberdade pessoal dos homens. (Kuyper, p 88, 2003) Assim, Kuyper destaca o valor maior por detrás do Estado, como sendo uma instituição judicial perante os homens, cuja autoridade necessita originar e basear-se na Soberania de Deus: “na política, o elemento humano – aqui o povo – não pode ser considerado como a coisa principal, de modo que Deus seja forçado a ajudar este povo somente na hora da necessidade; mas que Deus, em sua majestade, deve brilhar diante dos olhos de cada nação.” (p 89, 2003) O modo em que Deus deverá brilhar soberanamente sobre o Estado, para que a vontade do povo e mesmo de algum homem não venham a se tornar superiores sobre a humanidade, orienta o reconhecimento dos princípios com que Deus tem definido a formatação desta instituição, na terra: “portanto, quando a humanidade desintegra-se por causa do pecado numa multiplicidade de povos separados, quando o pecado separa os homens e os arrasta, e revela-se em todo tipo de vergonha e iniquidade – a glória de Deus exige que estes horrores sejam refreados, que a ordem retorne ao caos, e que uma força compulsória de fora, faça-se valer para tornar a sociedade humana uma possibilidade. Deus tem esse direito e somente ele.” (Kuyper, p 89, 2003) À luz dos atos soberanos de Deus na organização da sociedade, nosso autor indica que devemos valorar o Estado e a autoridade do governante, ressaltando para que estes se mantenham debaixo dos propósitos divinos. Portanto, deve-se afirmar a impossibilidade de que um homem reine sobre outro, como atuava o Faraó diante dos camponeses no rio Nilo, por exemplo. Isto significa que os homens jamais devem submeter-se uns aos outros através do constrangimento de seus direitos, e a partir da formulação de um contrato qualquer entre eles, afinal, “qual a força obrigatória para nós na alegação de que épocas antes homens fizeram um “contrato social” com outros homens?” (Kuyper, p 89, 2003) Ao tratar da instituição do Estado na existência comunitária do homem, Kuyper expõe a cosmovisão cristã que busca assegurar o valor da liberdade do ser, na seguinte afirmação: “nenhum homem tem o direito de governar sobre outro homem”, pois “como homem eu continuo livre e corajoso, em oposição ao mais poderoso de meus semelhantes. (...) Não falo da família, pois aqui governam laços orgânicos, naturais; mas na esfera do Estado não cedo ou me curvo a qualquer um que é homem como eu sou.” (p 89, 2003) Nosso autor distingui, assim, a importância da hierarquia natural existente nas instituições criadas por Deus desde a eternidade, como a família e todas as outras vivências culturais etc; daquela hierarquia mecânica e antinatural da instituição do Estado. Nessa perspectiva, entende-se que enquanto a realidade do pecado provoca a corrupção das obras de Deus, sejam os seus planos e justiça, sejam a sua honra e propósitos, eis que o governante é dado por Deus exatamente para atuar nesse contexto pecaminoso, como um “instrumento da “graça comum”, para frustrar toda desordem e violência e para proteger o bem contra o mal.” Eis a razão da afirmação calvinista de que “todos os poderes que existem... governam “pela graça de Deus”, gerando uma realidade comunitária em que os cidadãos irão assumir e praticar a obediência devida a cada um deles, conforme as ordenanças e controles dados por Deus, seja pelo medo da punição de seus atos maus, seja por “causa da consciência”, como um ato de temor a Deus. Pois Deus concede aos governantes o poder de justiça para atuarem nesta seara, posto que lhes oferece o direito da vida e morte, como instrumentos divinos para regular a justiça contra os males do pecado no mundo. (Kuyper, p 90, 2003) Ao concluir a exposição do entendimento de Abraham Kuyper sobre o pensamento calvinista acerca do Estado e Sociedade, anoto duas citações para nos situar num contexto mais amplo, segundo as reflexões do autor: “Num sentido calvinista nós entendemos que a família, os negócios, a ciência, a arte e assim por diante, todas são esferas sociais que não devem sua existência ao Estado, e que não derivam a lei de sua vida da superioridade do Estado, mas obedecem uma alta autoridade dentro de seu próprio seio; uma autoridade que governa pela graça de Deus, do mesmo modo como faz a soberania do Estado. (...) Neste caráter independente está necessariamente envolvida uma autoridade superior especial, a que intencionalmente chamamos de soberania nas esferas sociais individuais... e que o Estado não pode intrometer-se aqui e nada tem a ordenar em seu campo. Como vocês imediatamente percebem, esta é a questão profundamente interessante de nossas liberdades civis.” (Kuyper, p 98, 2003) Ainda neste contexto abrangente, ao tratar da importância das liberdades individuais e da liberdade de consciência do ser humano em sua vivência familiar e cultural, Kuyper faz algumas considerações para distinguir na história, os pressupostos desiguais de alguns importantes movimentos revolucionários. De um lado, coloca movimentos que mantiveram os princípios e propósitos de Deus, quando da organização da instituição do Estado, como o fizeram as Revoluções Americana e Inglesa; e de outro, aponta para aqueles que agiram contrariamente e para subverter a Soberania divina, buscando elevar e estabelecer o domínio do homem sobre o homem, atacando assim a própria liberdade existencial da humanidade, como fizeram a Revolução Francesa e a ideia de Soberania do Estado Alemã, que se originou de um “produto do panteísmo filosófico alemão”, nas palavras desse mesmo autor. (p 95-96, 2003). CONSIDERAÇÕES FINAIS. “Por causa do Senhor, submetam-se a todas as autoridades humanas, seja o rei como autoridade máxima, sejam os oficiais nomeados e enviados por ele para castigar os que fazem o mal e honrar os que fazem o bem.” (1 Pedro 3.13-14). Para o pensamento calvinista reformado, o Estado é uma instituição criada por Deus em razão do pecado da humanidade. Serve para refrear o mal e livrar a sociedade do caos, e neste propósito e interesse, tem poder de justiça para manter a ordem através das leis civis. E como toda Autoridade de Estado foi instituída por Deus para proteger os que praticam o que é correto na sociedade, e para penalizar os desobedientes, compreende-se que as leis civis não deverão desprezar os valores morais dos mandamentos bíblicos; posto que o certo e o errado que Deus deseja regular na sociedade, deve ser coerente ao seu pensamento sobre o tema. 2. O ser humano e sua associação familiar e a cultural nas mais diversas áreas de ciências e artes, educação e esportes, religião e negócios geram instituições orgânicas; que servem para a humanidade fazer prosperar as capacidades e anseios naturais da vida social que o ser carrega em si. 3. Deus criou as Instituições sociais para orientar a Humanidade através das Autoridades. Todo homem que praticar o bem será protegido e quem fizer o mal será disciplinado; pois a Lei foi dada para ensinar o homem sobre o pecado que arruína a vida hoje, e condena o espírito na eternidade! Não matar e não roubar significa amar o próximo. 4. As Autoridades instituídas por Deus na família e religião, trabalho e comunidade, educação e sociedade devem ser respeitadas e apoiadas nos limites e amplitude de suas áreas. O Estado não é superior à Família, e a Educação não é superior à Religião, e vice versa, pois cada setor da existência tem sua área de ação social definida por seu próprio conteúdo técnico e existencial. 5. A supremacia do Estado sobre o espirito do homem e a consciência do ser não deve ser tolerada pelos cristãos, posto que essa instituição pode vir a afrontar as liberdades civis e individuais; enquanto também poderá atuar para limitar as liberdades de expressão e religiosa dos cidadãos, agindo na corrupção do propósito para que foi instituída por Deus. (*Esse texto faz parte de um artigo com três tópicos, incluídos o pensamento de Calvino nas "Institutas" e a análise de Henri Strohl acerca do pensamento protestante de Calvino, conforme publicado integralmente na Revista Teológica Fatesul, o qual pode ser acessado no link a seguir: http://fatesul.com/publicacoes/revista-teologica/). Bibliografia BÍBLIA, Sagrada, NVT. 1 ed – São Paulo : Mundo Cristão, 2016. _______, de Estudo de Genebra. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 1999. KUYPER, Abraham. Calvinismo. Tradução Ricardo Gouveia e Paulo Arantes – São Paulo: Cultura Cristã, 2003. STOTT, John. A Missão Cristã no Mundo Moderno. Traduzido por Meire Portes Santos. – Viçosa, MG : Ultimato, 2010. AUTOR: Ivan S Rüppell Jr é Ministro presbiteriano, Mestre em Ciências da Religião e Advogado, atuando na Igreja Presbiteriana Olaria, em Curitiba/PR, e como professor na Fatesul.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

SOBRE ANJOS E DEMÔNIOS! Devocionais nas INSTITUTAS de Calvino, p/ Ivan S. Rüppell Jr.

Devocionais nas Institutas de João Calvino, Semana 13, Tópico 14, parte 2, Set/2020. A obra teológica “Institutas” contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo. Esse texto apresenta breves devocionais no objetivo de comunicar o pensamento doutrinário das “Institutas”. 14: AS ESCRITURAS, NO SEU REGISTRO DA CRIAÇÃO, DISTINGUEM O DEUS VERDADEIRO DE TODOS OS DEUSES FALSOS. “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército.” (Gênesis 2.1). Ainda que não haja informações da origem dos Anjos no relato da criação do mundo, as Escrituras esclarecem em outros textos como ocorreu esta obra de Deus, sendo que “os próprios demônios são criaturas de Deus; mas não devemos atribuir sua maldade à sua natureza original, e sim ao fato de que sua natureza tem sido corrompida pelo pecado.” (p 74). A Bíblia orienta que devemos ficar atentos aos demônios e que devemos nos proteger de seus atos malignos, utilizando a armadura de Deus para nos guardar. “Por exemplo: Satanás é chamado o deus deste mundo, o dominador deste mundo, o valente armado, o príncipe do poder dos ares, o leão que ruge; todos estes títulos visam tornar-nos cuidadosos, mais vigilantes, mais prontos a entrar na luta.” (p 74). O apóstolo Pedro ensina que o diabo é como um leão que ruge ao nosso redor, procurando alternativas e maneiras de nos devorar, e diz que precisamos resistir aos seus ataques através da fé. O apóstolo Paulo explica que a verdadeira luta espiritual cristã não é contra as pessoas e a natureza física do corpo, mas sim, que deve ser contra as forças espirituais do mal neste mundo tenebroso, razão pela qual, ele nos convoca a vestir toda a armadura de Deus. “Temos sido advertidos que estamos constantemente ameaçados por um inimigo que é ousado, forte, astuto, diligente, incansável, plenamente preparado com todos os instrumentos de guerra e totalmente treinado na arte de guerrear.” (p 74). Portanto, é necessário guardar este ensino no coração, sabendo que iremos combater pela fé com esse inimigo espiritual maligno, até a nossa morte. Devemos deixar a preguiça e a covardia de lado, sendo necessário invocar sempre os cuidados de Deus, pois somos fracos e inexperientes, quando estamos distantes do Senhor. A Escritura orienta que não devemos relaxar nesta batalha ou pensar que o inimigo desistiu, já que a nossa luta pode ocorrer contra diversos demônios, e até diante de uma legião, como foi com Maria Madalena. “Além disso, devemos ser despertados para travar uma guerra incessante contra o diabo devido ele ser não somente nosso inimigo, como também ser o inimigo de Deus.” (p 75). Pois, se a honra de Deus importa para nós e se desejamos que o reino de Jesus avance, saibamos que o diabo desonra a Deus e subverte a propagação do Evangelho continuamente e sem parar – sendo este o motivo pelo qual não devemos ficar neutros nesta batalha. O diabo ataca a verdade de Deus com as suas mentiras, e conduz os homens pela escuridão da cegueira espiritual, utilizando do engano e alimentando ódios e contendas. “Por conseguinte, fica claro que o diabo é por natureza depravado, maligno e malicioso.” (p 75). “Todavia, como já foi dito, visto que ele é uma criatura de Deus, devemos atribuir sua maldade, não à sua natureza original, mas sim ao fato de que sua natureza foi corrompida pelo pecado. Sua atual condição execrável é inteiramente o resultado da sua própria apostasia e queda.” (p 75). Essa orientação lembra-nos que as maldades de Satanás não originam da Personalidade de Deus, conforme Jesus Cristo bem ensinou, ao dizer que o diabo não permaneceu na verdade, mas sim, se assumiu como o pai da mentira: pois, quando ele “profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” “O que mais precisamos saber acerca dos demônios? Basta isto: pela sua criação original eram anjos de Deus, mas pela apostasia se arruinaram e tornaram-se instrumentos na ruína dos outros.” (p 76). “Já tenho dito que o diabo luta contra Deus; mas deve ser lembrado que, sem o consentimento de Deus, ele nada pode fazer.” (p 76). Afinal, para ser capaz de praticar as maldades contra Jó, Satanás se apresenta antes diante de Deus, e somente atua após receber permissão. Quando Acabe vai ser enganado, é Satanás quem se oferece para ser um espírito de mentira na boca dos profetas. Da mesma forma, o espírito que vai perturbar Saul era “um espírito maligno da parte do Senhor”. “Assim, também Paulo testifica que a cegueira dos que não creem não é somente obra de Satanás, e sim obra judicial de Deus. (2Tes 2.9-12).” (p 76). “Ora, visto que Deus é capaz de mudar o curso dos espíritos imundos de lá para cá conforme Sua vontade. Ele os governa de tal maneira que lhes é possível provar os crentes com conflitos, colocar armadilhas no seu caminho, perturbá-los com ataques, lutar contra eles, podendo frequentemente abater, desnortear e aterrorizá-los, e às vezes feri-los; mas nunca lhes permite que os conquistem ou esmaguem.” (p 76). Paulo reconheceu que estava sendo atacado pelo diabo, em razão desse conflito, sabendo, ainda, que Deus governava esses ataques no propósito de que houvesse um amadurecimento espiritual do apóstolo. Os demônios não devem ser confundidos com as paixões malignas do coração ou com os pensamentos perturbadores da mente, pois são identificados como “espíritos imundos” – sendo seres pessoais plenos de senso e entendimento. É por essa razão que os demônios foram sentenciados para existir numa condenação eterna. ORAÇÃO: “Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Pois uma pessoa não vive só de pão, mas de toda palavra que vem da boca de Deus, portanto, não nos deixe colocar à prova o Senhor, mas nos ensina a adorar e servir somente a Deus. Dá-nos fé em todas as ocasiões, para que possamos deter as flechas do maligno, e fortalece o nosso conhecimento da cruz de Jesus, para que o capacete da salvação mantenha nosso espírito e consciência seguros no Senhor. Ilumina-nos para empunhar continuamente a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, diante de qualquer mentira e engano maligno. Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.” Ivan Santos Rüppell Jr. Teólogo, Cientista da religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. REFERÊNCIAS: CALVINO, João. AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Editora Cultura Cristã, SP, 2006. WILES, J. P. Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP. (pgs 72 a 85 do Resumo das Institutas de J P Wiles).

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O DIA DO SENHOR. Estudo de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria, 17 a 21/Setembro

"Lembre-se de que você era escravo no Egito, e o Senhor, seu Deus, o tirou de lá com mão forte e braço poderoso. Por isso, o Senhor, seu Deus, ordenou que você guarde o sábado." (Deuteronômio 5.15). QUEBRA-GELO: (10 min). O quebra-gelo é utilizado para aquecer os participantes, de uma forma descontraída e perguntas simples, é uma oportunidade de interação e conhecimento mútuos. ORAÇÃO INICIAL: Neste momento nos colocamos na presença do nosso Deus e Pai e pedimos auxílio para nos orientar e instruir em Sua Palavra. COMPARTILHAR A PALAVRA: (10 min). O líder do PG se torna o FACILITADOR desse momento expondo o texto através da leitura bíblica e na sequência inicia as perguntas para todos os participantes. PERGUNTAS: As perguntas realizadas pelo FACILITADOR auxiliam a compreensão e aplicação do texto bíblico na vida diária. ORANDO POR NOSSOS AMIGOS E FAMILIARES: Neste momento apresentamos os nomes de pessoas que gostaríamos que participassem dos PGs, pedindo a Deus que toque os corações e que possamos ser usados por Deus para convida-los, além de intercedermos por pedidos. LEITURA BÍBLICA: Deuteronômio 5. 12-15. 1. Compartilhe o que Deus falou ao seu coração na Mensagem de Domingo no Culto doméstico, em que esse texto foi o tema base (segunda mensagem do culto), e na mensagem que também foi trazida nessa reunião pelo facilitador. MEDITAÇÃO: O Dia do Senhor (Shabatt) é a maior oportunidade para os cristãos adorarem juntos ao Deus Criador e Redentor, conforme o significado da palavra traduzida por Sétimo ou Sábado, "shabatt", que deriva do verbo "cessar". A Bíblia de Genebra nos auxilia a entender a ordenança desse dia: "O ciclo da criação foi completado no sexto dia e Deus descansou no sétimo, provendo ao homem um modelo para o ciclo de trabalho e descanso." Observe que não há nada muito complicado ou difícil na guarda do Dia do Senhor, pois o nosso próprio corpo já está acostumado a diminuir as atividades no fim de semana, e a cada sete dias. E também não devemos esquecer das Palavras de Jesus, que ensinou que "o sábado foi feito por causa do homem", para o nosso deleite e satisfação, para a nossa renovação em descanso. Então, nunca deixe que a palavra "regra" ou "obrigação" atrapalhe a oportunidade bendita que Deus nos dá de "descansar" n´Ele toda semana, e saiba que quando você estiver "sem vontade" ou cansado para ir na Igreja, ou para buscar ao Senhor no culto doméstico, então, esse é o melhor momento de clamar a Graça de Jesus, para que o Senhor possa renovar sua fé e seu relacionamento espiritual com Deus. Pois foi para isso mesmo que o Senhor criou o Sétimo Dia, o Dia do Senhor, como um tempo de renovação da nossa fé e comunhão com o Senhor, enquanto descansamos n´Ele. O Dia do Senhor é o momento de celebrar ao Deus Criador e Redentor de nossas vidas, como um momento em que também descansamos no Senhor. 2. O que seria ideal fazermos para que esse dia seja guardado como Deus orienta? Deveríamos nos preparar com antecedência como os judeus e os adventistas? 3. Quais as suas dificuldades em participar do Dia do Senhor, e quais as facilidades que você encontra para estar na Presença de Deus junto de toda a Igreja, a cada domingo? Bom Estudo e Partilhar! (formato baseado em orientações de PGs, da Igreja Presbiteriana do Barreto)

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

ESTADO e POLÍTICA no pensamento de CALVINO, segundo Henri Strohl , p/ Ivan S. Rüppell Jr

“Calvino foi um patrono dos direitos humanos; lutou contra os abusos do poder em seu tempo e chegou até mesmo a lidar com o problema político-filosófico da desobediência civil e do direito de revolta. Em seu pensamento ele antecipou os fundamentos da moderna forma de governo republicano, tornou-se um dos pais da democracia moderna, e contribuiu decisivamente para a compreensão cristã do relacionamento entre lei natural e lei positiva.” (R. Q. Gouvêa; Calvino, p 8, 2001). INTRODUÇÃO: No interesse de propor à Igreja de Cristo, alguns princípios bíblicos e atividades cristãs de orientação “vocacional” ao povo de Deus para uma Missão Integral na sociedade, iremos apresentar aspectos da Cosmovisão Reformada para uma atuação cidadã do Cristão, especialmente diante da instituição do Estado; iniciando neste primeiro artigo, com as avaliações de Henri Strohl sobre o pensamento de Calvino, acerca do tema. CITAÇÃO Inicial. “Se houve qualquer movimento religioso, no século 16, que tenha tido uma atitude afirmativa em relação ao mundo, esse foi o Calvinismo.” (Alister McGrath; p 249, 2005). SOCIEDADE, ESTADO E POLÍTICA, segundo o pensamento de João Calvino, conforme o livro "O Pensamento da Reforma”, de HENRI STROHL. “Calvino é, dentre os Reformadores, quem melhor elaborou seu pensamento político. Seus estudos jurídicos prévios concorreram muito nesse sentido. Haja visto o capítulo sobre o governo civil com que termina a primeira edição da IRC e que já se apresentava em forma tão acabada que não sofreu maiores alterações nas edições posteriores”. (Henri Strohl; p 230, 2004). A obra, “O pensamento da reforma”, de Henri Strohl veio suprir na década de 1960 uma lacuna considerável na formação de estudantes e acadêmicos de teologia. O conteúdo do livro aborda de forma didática, temas abrangentes do pensamento dos principais teólogos da Reforma. E, nesse tópico de nosso artigo, iremos utilizar as considerações do tema da Providência de Deus e do Estado, segundo análise desenvolvida pelo autor ao pensamento de João Calvino. Henri Strohl apresenta o pensamento dos reformadores destacando algumas afirmações de suas obras literárias, enquanto desenvolve explicações para interligar os conteúdos anotados. Portanto, o texto a seguir contém o entendimento de Strohl acerca do pensamento de Calvino, sendo que as anotações realçadas foram extraídas do pensamento de ambos, conforme indicado. O pensamento de João Calvino acerca da importância da moralidade divina no mandato social do cristão está contido dentro do tema maior da Providência de Deus. Segundo Strohl, Calvino trata do tema da Providência na perspectiva de realçar o “equilíbrio entre a dependência absoluta de Deus e o dever humano da previdência.” (p 153, 2004) Calvino se posiciona contrariamente à visão “estoica” da providência, que entendia o mundo como sendo uma máquina em movimento, o que o fez salientar o aspecto sobre o modo em que a providência divina tem uma atenção e cuidado especiais pela existência de cada criatura. Portanto, a Pessoa de Deus deve ser percebida como o mestre e moderador de todas as coisas, o que significa que o Senhor vai “presidir de tal modo que as coisas presididas se conduzam com ordem e harmonia” Nesse contexto, a experiência de José no Egito se torna um exemplo utilizado por Calvino, para representar o modo como Deus governa os atos maus dos homens no interesse de que se tornem algo bom, segundo seus propósitos. (p 108, 196, 2004). Um segundo aspecto destacado pelo autor, apresenta o olhar calvinista de que os atos da providência de Deus não negam a importância dos atos da previdência humana, posto que, ao contrário, requerem da humanidade que assuma e pratique integralmente toda ação que for de sua particular responsabilidade. A interpretação dada ao texto bíblico de Provérbios 16.9 esclarece o princípio: “O coração do homem deve considerar seus próprios caminhos, e o Senhor governará os seus passos.”; sendo que nesse texto, Calvino deseja salientar a maneira como “o decreto eterno de Deus não impede que conduzamos em ordem nossa vida,” conquanto as nossas atitudes ocorram segundo a sua vontade. Segue um destaque das afirmações dadas pelo reformador: “Reconheçamos, portanto, nosso dever. Se o Senhor confiou-nos a guarda de nossa vida, conservemo-la; se nos concedeu meios para tal fim, usemo-lo; se nos aponta perigos, não nos lancemos neles estupidamente; se nos oferece remédios, não os desprezemos... O acautelar-se e o proteger-se são dons inspirados por Deus para que os homens conservem a vida e, assim, sirvam ao seu propósito.” (Strohl, p 113-115, 2004). A plena confiança em Deus não deve impedir o homem de fazer o que lhe cabe, mas sim, obriga-nos a praticar o que Deus delegou sob a nossa responsabilidade. Nesse contexto, os fiéis irão entender que todos os meios disponibilizados por Deus para que o homem aja com previdência, devem ser considerados como bênçãos divinas dadas à humanidade; daí que não devemos recusar os instrumentos dados pela providência divina para o cuidado de nossas vidas. Deve-se, então, acatar a segura orientação de Deus para agir com sabedoria diante da realidade, sabendo que os recursos que temos irão fortalecer a nossa confiança n`Ele; ao invés de serem utilizados para aumentar nossa soberba ou dar demasiada atenção para a nossa falta, ou abundância de recursos. (Strohl, p 154-155, 2003). Conforme Strohl, “para Calvino, a soberania absoluta de Deus, e a inteira responsabilidade do homem são dois elementos da verdade, ambos revelados, não obstante nossa mente não possa harmonizá-los.” A compreensão desse conteúdo está na afirmação de que toda vez que os propósitos de Deus são realizados através da maldade dos ímpios em desobediência a seus mandamentos, isto não significa que eles não serão culpados do que fizeram, conforme o exemplo da paixão de Cristo: “O Pai celestial entregou seu Filho à morte; Jesus Cristo entregou-se à morte; Judas entregou seu mestre à morte”. (p 155, 2004). O autor ressalta um dos pensamentos mais significativos de João Calvino e do calvinismo histórico, ao expor o princípio da “Graça Comum” de Deus. E para enfatizar o modo em que esta graça foi disponibilizada a toda humanidade, o reformador assinala que “a natureza humana, conquanto decaída na sua integridade, continua possuidora de muitos dons de Deus”. Estes dons são denominados “graças naturais”, tendo sido dados a homens bons e maus, o que torna imperativo que a humanidade faça bom uso de cada um deles, para que não sejamos negligentes diante desta graça recebida. Segundo o autor, Calvino percebia alguns frutos e resultados dessa graça de um modo positivo e abrangente, posto que estes dons vieram a produzir “ideias divinas disfarçadas nos textos dos filósofos”, e uma “boa ordem e justa disciplina” nas reflexões desenvolvidas pelos juristas da antiguidade, sendo este, um princípio central da valorização dedicada pelo calvinismo para as artes e a ciência na história. (p 156, 2004). Ao tratar do pensamento dos reformadores acerca do Estado, Strohl ressalta que João Calvino foi aquele que mais se dedicou ao tema, vindo a definir que deveria ocorrer uma real distinção entre as instituições do Estado e da Igreja. Pois o propósito de Deus é abençoar toda a humanidade através das delimitações das áreas de atuação destes dois poderes: “daí porque a “liberdade espiritual pode coexistir com a submissão civil, e o poder temporal não é incompatível com o reino espiritual de Cristo.” Calvino destaca que a sociedade humana necessita do Estado, no interesse de que a ordem seja mantida num mundo que se encontra submetido ao pecado: “Os que desejam privar o homem desse amparo... necessário para sua peregrinação na terra... fazem violência à sua natureza humana”. Além deste aspecto, Calvino aborda o Estado de uma maneira mais ampla, como sendo uma instituição capaz de facilitar o desenvolvimento e ordenação da vida material dos homens, algo que, no entendimento de Strohl, propõe um “certo indício da noção do Estado como instrumento da Providência, ao lado da noção de Estado.” (p 231, 2004). Conforme as funções do Estado, como sendo uma instituição criada por Deus para regular o bem na sociedade dos homens, o reformador ensina que o magistrado (governante) deve agir positivamente acerca da religião, posto que “a finalidade da ordem temporal é manter o culto público de Deus, a doutrina e a religião puras, e o bem geral da Igreja”. “Calvino desenvolve extensivamente a tese de que, segundo a Escritura e os filósofos, às autoridades civis cabe o dever de fazer observar “as duas tábuas da Lei”. (Strohl, p 232, 2004). O entendimento calvinista de que as autoridades são vigários de Deus nas suas diversas funções na sociedade, sejam eles reis, governadores ou chefes de grupos, orienta o modo como os fiéis devem acatar toda autoridade existente, mesmo que a monarquia seja a menos aceitável, conforme indica o pensamento dos “espíritos elevados”, de Aristóteles, Platão e Sêneca. Segundo Calvino, deve-se reconhecer “a providência de Deus no fato de que diferentes regiões são governadas por diferentes formas de autoridade.” Pois, “o melhor sistema de governo é aquele em que há liberdade adequada e durável”, com um destaque acerca da importância de que esse peculiar modelo de autoridade social seja preservado; sendo que “o primeiro dever daqueles que governam um povo livre é velar para que “a liberdade do povo, do qual são protetores, não se restrinja.” (Strohl, p 232-233, 2004). Em relação ao modo como as sociedades serão governadas através das leis, não se deve considerar dura e nem ruim qualquer ação repressiva, posto que as autoridades somente executam a justiça de Deus: “o Senhor entrega a espada aos seus ministros para que a usem contra os homicidas;... o Senhor detém a mão criminosa dos homens, mas não detém a sua justiça exercida pela mão dos governantes.” Nesse contexto, Calvino entende que a legislação e o ordenamento das leis escritas são “a alma de todas as repúblicas.” (Strohl, p 234, p 14-21, 2004). Strohl anota o aspecto em que Calvino rejeita a proposição do reformador Bucer, pois este entendia que as leis de um Estado cristão deveriam seguir as regras das ordens comunitárias definidas por Moisés. Acerca deste tema, Calvino faz uma distinção de entendimento e importância entre as leis moral e cerimonial; vindo a definir que o resumo da Lei moral dada por Jesus, deve ser reconhecida como sendo a “verdadeira e eterna regra de justiça válida em todos os lugares e em todos os tempos para todos os homens que desejam orientar sua vida pela vontade de Deus”. Nesse contexto, o calvinismo entende que as leis judaicas que asseguravam o ordenamento comunitário dos homens tinham o propósito de orientar uma “pedagogia dos judeus”. Portanto, no estabelecimento de sua estruturação social, cada nação deverá legislar através das regras que forem mais adequadas às suas sociedades, com destaque para a orientação de que essas leis não devem ser contrárias às leis morais eternas de Deus, “de tal modo que, embora assumindo formas diferentes, tenham todas o mesmo propósito” (p 15, 2004). Ao tratar dos fundamentos do Direito e das Leis, Calvino ressalta a importância do direito romano na história da humanidade, posto que suas bases foram orientadas sobre “o testemunho da lei natural e da consciência que o Senhor implantou no coração de todos os homens”. O pensamento calvinista entende que a lei natural está resumida na observância do princípio da equidade, o qual orienta que as mais diversas regras e ordens dadas pelas legislações em cada época da história resguardem sempre o objetivo principal da justiça. Nesse contexto, as penalidades dadas aos crimes de furto e homicídio poderão ser mais ou menos severas, “conforme as circunstâncias do tempo, do lugar e da nação”. (Strohl, p 235, 2004). Henri Strohl finaliza as considerações sobre o pensamento de Calvino acerca do Estado, ressaltando o valor de que as autoridades instituídas por Deus para manter a ordem e preservar o mundo não devem ser percebidas como um “mal necessário”, mas sim, devem ser acolhidas com a devida honra, atenção e obediência, conforme ensinam os apóstolos Paulo, em Romanos 13, e Pedro, em sua segunda carta, no capítulo 2. (p 236-237) João Calvino destaca a afirmação do Apóstolo Pedro, de que é mais importante obedecer a Deus do que aos homens, no propósito de orientar que nenhuma destas autoridades ou ordens de governantes seja reconhecida como tendo valor, caso atue contra a vontade de Deus: “Porventura Deus, ao entregar o governo a homens mortais, renunciou inteiramente ao seu direito?”. (p 239, 2004). CONSIDERAÇÕES FINAIS. “Por causa do Senhor, submetam-se a todas as autoridades humanas, seja o rei como autoridade máxima, sejam os oficiais nomeados e enviados por ele para castigar os que fazem o mal e honrar os que fazem o bem.” (1 Pedro 3.13-14) Para o pensamento calvinista reformado, o Estado é uma instituição criada por Deus em razão do pecado da humanidade. Serve para refrear o mal e livrar a sociedade do caos, e neste propósito e interesse, tem poder de justiça para manter a ordem através das leis civis. E como toda Autoridade de Estado foi instituída por Deus para proteger os que praticam o que é correto na sociedade, e para penalizar os desobedientes, compreendemos que as leis civis não deverão desprezar os valores morais dos mandamentos bíblicos; posto que o certo e o errado que Deus deseja regular na sociedade, deve ser coerente ao seu pensamento sobre o tema. 2. O ser humano e sua associação familiar e a cultural nas mais diversas áreas de ciências e artes, educação e esportes, religião e negócios geram instituições orgânicas; que servem para a humanidade fazer prosperar as capacidades e anseios naturais da vida social que o ser carrega em si. 3. Deus criou as Instituições sociais para orientar a Humanidade através das Autoridades. Todo homem que praticar o bem será protegido e quem fizer o mal será disciplinado; pois a Lei foi dada para ensinar o homem sobre o pecado que arruína a vida hoje, e condena o espírito na eternidade! Não matar e não roubar significa amar o próximo. 4. As Autoridades instituídas por Deus na família e religião, trabalho e comunidade, educação e sociedade devem ser respeitadas e apoiadas nos limites e amplitude de suas áreas. O Estado não é superior à Família, e a Educação não é superior à Religião, e vice versa, pois cada setor da existência tem sua área de ação social definida por seu próprio conteúdo técnico e existencial. 5. A supremacia do Estado sobre o espirito do homem e a consciência do ser não deve ser tolerada pelos cristãos, posto que essa instituição pode vir a afrontar as liberdades civis e individuais; enquanto também poderá atuar para limitar as liberdades de expressão e religiosa dos cidadãos, agindo na corrupção do propósito para que foi instituída por Deus. CONCLUSÃO: Sobre o tema da Missão Integral da Igreja acerca da Sociedade e Estado, o pensamento calvinista tem se revelado na história como o conteúdo doutrinário mais profundo e fiel às Escrituras, sendo o pensamento cristão mais abrangente acerca da Soberania de Deus, da Responsabilidade humana e da Vocação social da humanidade, no propósito de que ocorra o estabelecimento das bênçãos comuns e especiais do Senhor sobre a terra. (*Esse texto faz parte de um artigo com três tópicos, incluídos o pensamento de Calvino nas "Institutas" e o pensamento reformado de Abraham Kuyper, que foi publicado integralmente na Revista Teológica Fatesul, o qual pode ser acessado no link a seguir: http://fatesul.com/publicacoes/revista-teologica/) BIBLIOGRAFIA. BÍBLIA, Sagrada, NVT. 1 ed – São Paulo : Mundo Cristão, 2016. _______, de Estudo de Genebra. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 1999. CALVINO, João. A verdadeira vida cristã, 2001, SP. McGRATH, Alister E. Teologia, sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes. – São Paulo: Shedd Publicações, 2005 STROHL, Henri. O Pensamento da Reforma. Tradução Aharon Sapsezina. – 2 ed. – São Paulo : ASTE, 2004. AUTOR: Ivan S Rüppell Jr é Ministro presbiteriano, Mestre em Ciências da Religião e Advogado, atuando na Igreja Presbiteriana Olaria, em Curitiba/PR, e como professor na Fatesul.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A ORIGEM DOS ANJOS! Devocionais nas INSTITUTAS de Calvino, p/ Ivan S. Rüppell Jr

Devocionais nas Institutas de João Calvino, Semana 12, Tópico 14, parte 1, Set/2020. A obra teológica “Institutas” deste reformador protestante, contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo. Esse texto apresenta breves devocionais no objetivo de comunicar o pensamento doutrinário das “Institutas”. 14: AS ESCRITURAS, NO SEU REGISTRO DA CRIAÇÃO, DISTINGUEM O DEUS VERDADEIRO DE TODOS OS DEUSES FALSOS. “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército.” (Gênesis 2.1). "A história da Criação nos é dada nas Escrituras a fim de que os membros da Igreja possam confiar nela e não procurar nenhum outro Deus.” A criação do mundo ocorreu em seis dias para demonstrar o cuidado de Deus pela humanidade, pois o Senhor preparou tudo que era necessário para vivermos com abundância e harmonia na terra, conforme o testemunho fiel dado por Moisés no livro de Gênesis. Ainda que não haja informações da origem dos Anjos no relato da criação do mundo, as Escrituras explicam em outros textos como esta obra de Deus foi realizada. É uma revelação importante para nós, sendo que alguns erram ao pensar que os anjos são seres divinos, enquanto outros se enganam ao dizer que Deus é a origem do bem e o diabo seria a origem do mal, a partir do pressuposto de que Deus jamais teria criado qualquer coisa má no universo. A verdade das Escrituras esclarece que toda a criação de Deus no início era boa e justa, e que a maldade dos homens e dos demônios não estava presente em sua origem, mas sim, que surgiu através de atos que ambos praticaram, vindo a corromper a sua natureza original. Moisés escreveu sobre a criação dos anjos, embora não tenha definido o tempo exato de sua origem na história, no seguinte relato: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra, e todo o seu exército.” Acerca deste assunto, eu tenho ensinado que a sobriedade e a modéstia são valores fundamentais para todo aquele que deseja adquirir um bom conhecimento da Palavra de Deus, pois o “desígnio do Senhor é instruir-nos, não em questões de curiosidade frívola, mas na verdadeira piedade, no temor do Seu nome, na fé verdadeira e nos caminhos da santidade.” “Frequentemente lemos nas Escrituras que os anjos são espíritos celestes por meio de cujo serviço obediente Deus executa Seus decretos; daí seu nome: anjos, ou seja, mensageiros, por intermédio dos quais Deus Se revela aos homens.” Estes seres angelicais também são chamados de exército celestial, pois vivem ao redor do Monarca do Universo, sendo denominados de Principados e Potestades, em razão de que Deus exerce alguns atos de sua própria autoridade, através deles. Portanto, quando as Escrituras nomeiam os anjos como “deuses”, isto ocorre porque alguns de seus atos carregam imagens do poder de Deus. Ao mesmo tempo, “estou bem disposto a concordar com aqueles que consideram que “O Anjo do Senhor” que apareceu a Abraão, a Jacó, a Moisés e a outros fosse Cristo.” No entanto, o uso da palavra “deuses” para todos os anjos em geral, é uma expressão que os coloca ao lado dos governantes humanos, pois estes agem como representantes de Deus, mediante uma autoridade delegada. Um conhecimento apropriado dos anjos esclarece que eles existem para o nosso consolo, já que “os anjos são espíritos ministradores cuja obra é transmitir a nós as beneficências de Deus”, zelando por nossas vidas e assumindo a nossa proteção. Não penso que exista um anjo específico para cuidar de cada cristão, pois isto não está escrito na Bíblia, mas entendo que todos eles “vigiam pela nossa segurança de comum acordo.” E também não há como saber o número de anjos que existem no universo, mas sabemos que são espíritos obedientes a Deus, tanto para nos proteger, quanto para trazer até a existência da humanidade os devidos cuidados de Deus. “Lembremos da declaração de Eliseu: “mais são aqueles que estão conosco do que os que estão contra nós.” Observe que Deus utiliza os anjos como seus servos, ao mesmo tempo em que o Senhor não se confunde com eles, pois não compartilha com os anjos nem o seu poder e nem a sua glória. ORAÇÃO: Senhor Deus, bendito seja o teu Nome pela criação perfeita, boa e justa que fizeste no mundo, no início dos tempos. O Senhor é bom e justo! Exaltado seja o teu nome e a tua autoridade sobre todos os teus servos celestiais; os anjos mensageiros de teus atos e poderes sobre a terra. Somos gratos ao Senhor pelos teus exércitos celestiais benditos, que derramam sobre nós os teus cuidados e proteção. Somente o Senhor é Deus, e não há outro! Amém. Ivan Santos Rüppell Jr. Teólogo, Cientista da religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. REFERÊNCIAS: CALVINO, João. AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Editora Cultura Cristã, SP, 2006. WILES, J. P. Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP. (pgs 72 a 85 do Resumo das Institutas de J P Wiles).

domingo, 13 de setembro de 2020

Salmo 116. Estudo para Pequenos Grupos.

Igreja Presbiteriana Olaria. Texto Bíblico Base: Salmo 116. O Salmo 116 é uma “exuberante ação de graças ao Senhor por te livrado o salmista da morte, sendo que ele relembra seu grito de aflição ao Senhor e proclama, com alegria, que Deus o ouvira. Em resultado, ele resolveu oferecer sacrifícios ao Senhor.” Análise do contexto dos Salmos de Louvor: os salmos 113 a 118 eram entoados durante a Páscoa, sendo provável que Jesus os tivesse cantado junto com os discípulos na noite da última Ceia. Esses salmos orientavam a adoração a Deus do povo de Israel, sendo utilizados nas celebrações das festas anuais de Jerusalém, como da Páscoa, das Semanas, dos Tabernáculos, da Lua Nova e da Dedicação do Templo. (Bíblia de Genebra). Os primeiros versículos do salmo apresentam o amor e a gratidão que o salmista oferece ao Senhor, e também explicam a razão destes sentimentos e do louvor dedicado a Deus: “Amo o Senhor, porque ele ouve a minha voz e as minhas orações. Porque ele se inclina para ouvir, orarei enquanto viver. A morte me envolveu com suas cordas, e os terrores da sepultura me dominaram; não via outra coisa senão sofrimento e tristeza. Então clamei pelo nome do Senhor: “Livra-me, Senhor!” (versos 1-4). A resposta dada por Deus ao clamor do salmista e o sentimento de paz que ele passou a experimentar após receber os cuidados do Senhor, são descritos nos versos seguintes: “O Senhor é compassivo e justo; o nosso Deus é misericordioso! O Senhor protege os ingênuos; eu estava diante da morte, e ele me salvou. Volte, minha alma, a descansar, pois o Senhor lhe tem sido bom.” (versos 5-7). Observe que o salmista passou por um momento de tristeza profunda, e se sentia perto da morte, quando o Senhor ouviu as suas orações, e lhe deu livramento e paz. Agora, vamos prestar um pouco de atenção no versículo mais conhecido deste salmo, que é o versículo 15, aproveitando para ler em três traduções: (1): “Preciosa é aos olhos do Senhor, a morte dos seus santos”. Seguem as outras duas traduções, para nos ajudar a entender o ensino desse verso; (2): “O Senhor se importa profundamente com a morte de seus fiéis.”, e, (3): “O Senhor vê com pesar a morte de seus fiéis.” O significado desse texto bíblico para nós que temos a revelação completa dada no Novo Testamento, indica que a vida do povo de Deus e também a morte dos fiéis são “preciosas aos olhos” do Senhor, porque Deus se preocupa com toda a nossa existência, em todo tempo. O livramento da morte ou da tristeza profunda numa sensação de morte, da qual o salmista foi liberto pelas mãos do Senhor, se tornou um motivo e oportunidade para ele louvar ao Senhor. Essa situação fez o salmista perceber e declarar o modo como Deus cuida das nossas vidas em qualquer momento e circunstância, inclusive na ocasião da nossa morte, seja para nos livrar e deixar vivos, seja para nos manter debaixo dos seus cuidados, ao nos levar para o Paraíso; conforme a promessa de Jesus na cruz. Esse conhecimento é importante para o povo de Deus, pois a morte de irmãos em Cristo, e parentes e familiares faz parte de nossas vidas, e precisamos estar atentos às Palavras de Deus, para receber consolo e esperança, e para anunciar aos outros o Amor de Deus na Cruz de Jesus Cristo, que levou os nossos pecados e nos oferece a Ressurreição. Questões para compartilhar: a) Quais dos ensinos deste salmo, chamaram mais a sua atenção e falaram ao seu coração neste momento da sua vida: o modo como Deus ouve e responde as orações? O modo como Deus visita o salmista para livra-lo da morte e proteger? O modo como o salmista descansa no Senhor após experimentar o cuidado do Senhor? b) O que chamou a sua atenção no versículo 15: “Preciosa é aos olhos do Senhor, a morte dos seus santos”; e, “O Senhor se importa profundamente com a morte de seus fiéis.”? c) O que chama a sua atenção nos versos finais do Salmo: “Oferecerei a ti um sacrifício de ação de graças e louvarei o nome do Senhor. Cumprirei meus votos ao Senhor na presença de todo o seu povo, na casa do Senhor, no meio de Jerusalém. Louvado seja o Senhor!” (Salmo 116. 17-19).

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

SOBRE A TRINDADE, O ESPÍRITO, E DEUS! Devocionais nas INSTITUTAS de Calvino, p/ Ivan S. Rüppell Jr.

Devocionais nas Institutas de João Calvino, Semana 11, Tópico 13, parte 2, Set/2020. A obra teológica “Institutas” do reformador protestante, contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo. Esse texto apresenta breves devocionais no objetivo de comunicar o pensamento doutrinário das “Institutas”. 13: AS ESCRITURAS ENSINAM QUE A ESSÊNCIA (OU SEJA, O SER) DE DEUS É UNA, E QUE CONTÉM TRÊS PESSOAS. (parte 2). “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.” (Gênesis 1.1-2). João Calvino destaca a importância do conhecimento de Deus, conforme foi revelado nas Escrituras, pois, "nas mesmas fontes documentárias devemos procurar a prova da Deidade do Espírito Santo." Afinal, Moisés começou a apresentar esta verdade já nos primeiros registros da criação, ao dizer que o Espírito de Deus pairava sobre as águas, ocasião em que Ele manifestava o seu poder sobre o caos. E há um outro testemunho como este, que nos foi dado pelo Profeta Isaías, ao dizer: "Agora, o Senhor Soberano e seu Espírito me enviaram com esta mensagem..."; a fim de enaltecer a presença do Espírito na autoridade dada aos Profetas, evidenciando a majestade divina de sua Pessoa. Mas, penso que a melhor confirmação desta verdade ocorre em nossa experiência como cristãos, ao reconhecer os atributos santos da divindade presentes na Pessoa do Espírito, sabendo que Ele está em todos os lugares, nos sustenta e traz vida, enquanto nos renova para uma vida incorruptível. "Ora, as Escrituras nos ensinam em muitos lugares que por uma energia que não Lhe foi emprestada, e sim que pertence a Ele mesmo - Ele é o Autor da regeneração. E não somente da regeneração, mas também da futura imortalidade." Observe que é o próprio Espírito Santo que nos capacita para que sejamos sábios e tenhamos eficácia em nossas palavras, sendo que estes poderes pertencem ao Deus Jeová; pois, "vêm d´Ele o poder, a santificação, a verdade, a graça e toda bênção concebível."; conforme as orientações dadas por Paulo, que atribuem ao Espírito todo poder, a fim de esclarecer que Ele é uma pessoa divina: "Tudo isso é distribuído pelo mesmo e único Espírito, que concede o que deseja a cada um." (1 Co 12.11). Sobre o conhecimento da divindade do Espírito Santo, devemos meditar em "um testemunho que requer atenção especial": Paulo declara que nós somos o templo de Deus, sendo que a ocorrência desta promessa decorre da profecia de que receberíamos o Espírito em nossas vidas. Conforme a explicação de Agostinho: "Se tivéssemos sido ordenados a edificar um templo de madeira e de pedra para honrar o Espírito, essa teria sido prova clara da Sua Deidade: quanto mais clara então, a prova que diz que não devemos edificar, mas sim, ser o templo d´Ele! E o Apóstolo Paulo diz num lugar que somos templo do Espírito Santo, com o mesmo significado. Além disso, quando Pedro repreende Ananias por ter mentido ao Espírito Santo, acrescenta: "Não mentiste aos homens, mas a Deus". (At 5.3-4). Observe que o Autor das profecias é o Senhor Jeová, sendo reconhecido desta forma pelos profetas como o “Senhor dos Exércitos”, ao mesmo tempo em que Ele é confirmado por Cristo e pelos Apóstolos, como sendo igualmente o Espírito Santo. A majestade divina do Espírito também se torna conhecida quando entendemos que Ele é tomado por tristeza, diante da rebeldia do povo (Isaías 63.10), e pelo fato de que os pecados cometidos contra Ele devem ser considerados como uma blasfêmia sem perdão, segundo as escrituras; (Mateus 12.31; Marcos 3.29, e Lucas 12.10). Sobre os testemunhos da Palavra de Deus acerca da divindade da Trindade, observamos que "quando Cristo veio ao mundo, Deus Se revelou mais claramente do que nunca e, portanto, ficou sendo mais intimamente conhecido a nós no que diz respeito às Suas três pessoas. E dentre as muitas passagens relevantes no Novo Testamento, bastará uma, (Efésios 4.5): "Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual está sobre todos, em todos, e vive por meio de todos.". O argumento apresentado neste texto é muito claro, e podemos perceber isso da seguinte forma: "visto haver uma só fé, pode haver um só Deus; e visto haver um só batismo, pode haver uma só fé." Eis a razão porque devemos ser batizados no Nome do único Deus verdadeiro, o qual, conforme Cristo ordenou, será em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. As Escrituras ensinam a distinção entre as três pessoas da Trindade, sendo que a revelação desse mistério deve nos causar grande temor, nas palavras de Gregório de Nazianzo: "Logo que contemplo um, estou cercado pela glória dos três; logo que meus pensamentos distinguem os três, são levados de volta ao um." Portanto, devemos saber que ao reconhecer a Trindade, nós honramos de forma devida a unidade do Deus único, pois o ensino das Escrituras indica que há uma distinção sem divisão, entre Eles. O Verbo estava com Deus e desfrutou de Sua glória porque era distinto d´Ele. O Pai igualmente criou todas as coisas pelo Verbo porque é distinto d´Ele, sendo que não foi o Pai que desceu ao mundo, morreu e ressuscitou; mas sim, aquele que foi enviado pelo Pai, o Filho. E ainda, "Cristo infere que há uma distinção entre o Espírito e o Pai, ao dizer que o Espírito procede do Pai; e distingue o Espírito de Si mesmo ao chamá-LO "outro"; quando diz: "O Pai vos dará outro consolador". Não pretendo tratar desse mistério através de ilustrações naturais, ao mesmo tempo em que não posso me calar sobre uma distinção tão clara, conforme foi dada nas Escrituras. "É da seguinte natureza: ao Pai é atribuído o começo da operação, a fonte e origem de todas as coisas; ao Filho, a sabedoria e o conselho, a dispensação de todo o governo; ao Espírito, o poder e a eficácia demonstrados na ação." E ainda que as três Pessoas sejam igualmente eternas, como o único Deus é eterno; "no entanto, a observância de uma certa ordem em falar das pessoas divinas não é vã nem supérflua: o Pai é assim considerado o primeiro, o Filho é da parte do Pai, e o Espírito é da parte de ambos. Nossa mente pensa instintivamente em Deus como sendo o primeiro, e depois, da Sua Sabedoria que procede da parte d´Ele, e finalmente, do poder do Espírito pelo qual os decretos do Seu conselho são executados. (...) Em nenhum lugar é isto mais claramente apresentado do que no cap. 8 de Romanos, onde o mesmo Espírito é primeiramente chamado o Espírito de Cristo, e depois, o Espírito d´Aquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos." Pedro confirma esse entendimento para nós, pois esclarece que os Profetas falaram pelo Espírito de Cristo, enquanto as Escrituras ensinam que foi pelo Espírito de Deus Pai que eles falaram; o que nos faz compreender que todos Eles são igualmente Um! Segundo Agostinho: "Cristo, quando considerado somente em relação a Si mesmo, é chamado Deus; em relação ao Pai, é chamado o Filho. E, outra vez, o Pai, considerado em Si mesmo, é chamado Deus; com respeito ao filho, é chamado o Pai. O Pai não é o Filho, e o Filho não é o Pai, mas o Pai e o Filho são o mesmo Deus." Observe que "esta distinção entre as pessoas, em vez de ser oposta à unidade da essência divina fornece uma prova disso. A unicidade do Filho com o Pai aparece nisto: que Eles têm um só Espírito; e o Espírito não pode ser algo diferente do Pai e do Filho por esta mesma razão, que Ele é o Espírito do Pai e do Filho. De fato, em cada pessoa está a Deidade inteira, ao mesmo tempo que cada uma tem Sua própria personalidade distinta." Portanto, é necessário declarar com sobriedade que cremos num só Deus: "único e indiviso, em quem há três pessoas; e, portanto, quando usamos o vocábulo "Deus" de modo indefinido, queremos dizer o Filho e o Espírito tanto quanto o Pai." E para respeitar à ordem dada na revelação acerca da Trindade divina, devemos utilizar a palavra “Deus” somente para a pessoa do Pai, quando o citamos junto da pessoa do Filho, como quando dizemos: o Filho de Deus e o Espírito de Deus. Pois, quando honramos esta ordem das Pessoas de forma correta, nós também reverenciamos a essência Única de Deus, ao mesmo tempo em que não desprezamos a Divindade do Filho e do Espírito Santo. ORAÇÃO: Pai Nosso que estás no céu, ilumina o nosso conhecimento mental e as sensações do nosso coração, para que estejamos sempre diante da tua Majestade integral, ao invocar o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não nos deixa confusos ou no engano acerca do Senhor, pois queremos adorar o teu nome com a devida reverência e honra, gratidão e amor. Bendito seja o Deus Único de toda terra para sempre, Exaltado seja o seu Nome em todo lugar, Magnificado seja Deus, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Amém! Ivan Santos Rüppell Jr. Teólogo, Cientista da religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. REFERÊNCIAS: CALVINO, João. AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Editora Cultura Cristã, SP, 2006. WILES, J. P. Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP. (pgs 51 a 71 do Resumo das Institutas de J P Wiles).

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

SOBRE A TRINDADE E O FILHO! Devocionais nas INSTITUTAS de J Calvino, p/ Ivan S Rüppell Jr.

Devocionais nas Institutas de João Calvino, Semana 10, Tópico 13, parte 1. Setembro de 2020. A obra teológica “Institutas” do reformador protestante João Calvino contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo. O texto a seguir, utiliza um resumo das “Institutas” de Calvino no objetivo de comunicar seu pensamento teológico através de breves devocionais semanais. 13: AS ESCRITURAS ENSINAM QUE A ESSÊNCIA (OU SEJA, O SER) DE DEUS É UNA, E QUE CONTÉM TRÊS PESSOAS. "As Escrituras nos informam que Deus é um Ser infinito e que Ele é Espírito." Porém, um antigo teólogo confundiu bastante a natureza do Ser divino, "ao dizer que tudo quanto vemos e tudo quanto não vemos é Deus." Esse engano é um dos motivos pelos quais Deus fala pouco sobre a sua Pessoa, revelando-nos somente algo acerca da sua grandeza, para que não procuremos medi-lo com nossas próprias mãos. Por isso mesmo, Deus está sempre esclarecendo para toda a humanidade que Ele é "Espírito", a fim de que não procuremos compreende-lo a partir do que é terreno e físico. O Senhor também afirma que Ele habita nos céus para elevar os nossos pensamentos acerca d´Ele, ainda que muitos homens tenham "pensamentos antropomórficos acerca de Deus; ou seja, atribuem a Ele uma forma humana porque as Escrituras falam d´Ele como tendo boca, olhos, mãos e pés." No entanto, essas expressões não representam a Deus, pois o objetivo delas é tratar da nossa dificuldade para compreender a natureza divina; sendo que o motivo para que sejam utilizados estes termos “humanos” é o de procurar revelar algum conhecimento válido sobre a Pessoa de Deus, que nos seja possível entender. "Mas há outra característica especial por meio da qual Deus Se faz mais distintamente conhecido a nós. Ele não somente nos diz que é Uno, mas sim que três pessoas devem ser conhecidas e distinguidas n`Ele." Preste atenção, pois este conhecimento é fundamental para todo aquele que deseja realmente conhecer o Deus verdadeiro! Pois, "quando o autor sagrado chama Cristo de a expressa imagem da pessoa do Pai, sem dúvida atribui ao Pai uma certa subsistência na qual é diferente do Filho - se posso assim traduzir a palavra grega hypostasis empregada em Hebreus 1.3." Sim, pois o escritor não fala neste texto da essência de Deus! - que é uma essência indivisível, sendo algo que tanto o Pai como o Filho têm completamente em si mesmos. O que ele deseja ensinar é que "visto que o Pai se expressou completamente no Filho, diz-se muito corretamente que o Filho é a expressa imagem da pessoa do Pai." Portanto, o texto bíblico indica que há uma essência "particular" de Deus Pai que resplandesce completamente na pessoa do Filho, dando a entender, ainda, que há uma outra "essência" particular (peculiar) no Filho, que igualmente o torna uma Pessoa distinta do Pai. "O mesmo argumento se aplica ao Espírito Santo, que é Deus, mas mesmo assim deve ser distinguido do Pai. Neste sentido, temos recebido o testemunho das Escrituras de que há três pessoas (hipóstases) em Deus." Alguns desprezam o uso da expressão "pessoas" para diferenciar as três personalidades do único Deus, posto que tal termo não está nas Escrituras. "Mas como pode ser ilícito explicar em palavras mais claras aquelas passagens das Escrituras que, para nossa compreensão, são difíceis e obscuras?" Afinal, alguns homens tementes foram convocados na história para apresentar com precisão e clareza nossa crença cristã, no objetivo de que homens maus não continuassem causando confusão. Observe que o homem Ário, por um lado, afirmava que Cristo era Deus e Filho de Deus, e de outro lado, também negava a sua eternidade, declarando que havia sido criado junto de outras criaturas. Daí a necessidade de esclarecer que o Filho é da mesma essência do Pai! Outro a falar deste tema foi Sabélio, que declarou que os termos Pai, Filho e Espírito Santo são somente maneiras distintas de expressar os atributos diferentes de Deus; pois, "ele mantinha que o Pai era o Filho, e o Espírito era o Pai, sem ordem ou distinção." Portanto, por causa destes enganos, entendemos que foi necessário definir que há três pessoas distintas em Deus, e que na unidade de Deus há uma trindade de pessoas. É importante saber que a expressão "pessoa" deseja definir o que é peculiar e particular à uma das pessoas divinas, diante das outras duas pessoas. "E com a palavra "subsistência" quero dizer alguma coisa diferente da "essência" ou do "Ser". Pois, se o Verbo fosse simplesmente Deus, e nada de particular tivesse em Si, João não poderia ter dito que "o Verbo estava com Deus." Ao mesmo tempo, ao dizer que, "e o Verbo era Deus", ele conduz os nossos pensamentos de volta à unidade da essência divina." "Concluímos, portanto, que quando a palavra "Deus" é usada de modo simples e indefinida, ela pertence ao Filho e ao Espírito tão verdadeiramente quanto pertence ao Pai." E quando o Pai é colocado ao lado do Filho, ao falar que o ama ou que o enviou ao mundo, cada pessoa divina se torna distinta em sua subsistência pessoal, diante da outra pessoa. "Agora passarei a dar provas da Deidade do Filho e do Espírito Santo." Observe que ao ler nas Escrituras algo acerca da "Palavra de Deus", não somos simplesmente informados de que Deus declarou algo, mas sim, que se trata daquela eterna Sabedoria que “está” com Deus! Ora, veja que aprendemos nos escritos de Pedro (1 Pd 1.11) que tanto os profetas antigos quanto os apóstolos falavam pelo "mesmo" Espírito de Cristo. E como o Cristo de Deus, conforme o vimos, ainda não havia sido manifestado ao mundo na época dos profetas, eis que entendemos que Pedro utilizava a palavra Cristo para designar o Verbo eterno do Pai. Uma realidade que Moisés observou desde o momento da criação; "pois atribui à Palavra uma participação na Criação ao dizer expressamente que Deus “disse” em todas as suas obras: haja isto ou haja aquilo." Os Apóstolos interpretam as Escrituras ensinando que o mundo foi feito pelo Filho (Hb 1.2), igualmente ao que Salomão (Pv 8.22) e o próprio Cristo afirmam: "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também." (Jo 5.17). No princípio de seu evangelho, João "claramente demonstra como Deus, ao falar, criou o mundo"; enquanto também ensina que o Verbo é a causa primária de tudo que existe, sendo eterno Deus como o Pai, mas também distinto na pessoa de Deus Filho. "Seria bom dar aqui uns testemunhos bíblicos à divindade de Cristo." O Salmo 45 afirma: "Teu trono, ó Deus, permanece para todo o sempre." Em Isaías, o Cristo é "Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz" e o Emanuel: "Deus conosco". Em Jeremias 23.6, lemos: "E este será seu nome: "O Senhor é nossa justiça." Observe que "é especialmente digno de nota que as predições no Velho Testamento sobre os atos de Deus são consideradas pelos apóstolos como tendo sido cumpridas em Cristo... (enquanto que) Isaías disse que o Senhor dos Exércitos seria uma pedra de tropeço para Judá e Israel"; sendo que Paulo afirma que esta sentença foi cumprida na Pessoa de Cristo, diante de quem iremos comparecer no tribunal divino, conforme Romanos 14.10-11. O evangelista João testifica que a glória de Jeová vista por Isaías era a glória do próprio Cristo (cap. 6). O próprio Tomé adorou a Cristo com estas palavras: "Senhor meu e Deus meu!" Saibam que todos os milagres de Jesus são uma prova de sua divindade, pois os praticava a partir de um poder inerente em si mesmo, ao contrário dos apóstolos. (*continua na próxima semana). ORAÇÃO: Pai Nosso que estás no céu, que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam conosco. Derrama sobre nós o Espírito da Verdade, para que venha testemunhar ao nosso coração sobre a Pessoa de Cristo. Pois no princípio a Palavra já existia, a Palavra que estava com Deus e era Deus. Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. E vimos a sua glória, a glória do Filho único do Pai. Amém! Ivan Santos Rüppell Jr. Teólogo, Cientista da religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. REFERÊNCIAS: CALVINO, João. AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Editora Cultura Cristã, SP, 2006. WILES, J. P. Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP. (pgs 51 a 71 do Resumo das Institutas de J P Wiles).