segunda-feira, 26 de setembro de 2022

A VERDADE E O AMOR. Encontro de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria. Estudo 2, Setembro de 2022.

"Amado, não imite o que é mau, mas sim o que é bom. Aquele que faz o bem é de Deus; aquele que faz o mal não viu a Deus." (3 João, verso 11). TEXTO Bíblico Base. Terceira Epístola do Apóstolo João. COMENTÁRIO. O Apóstolo João escreve da cidade de Éfeso para parabenizar o Ancião Gaio por seu compromisso com a Verdade, o Evangelho e o Messias. Ele dá orientações sobre a má atitude de Diótrefes e a boa atitude de Demétrio, utilizando uma carta para se comunicar com a comunidade de cristãos, sendo que epístola é esse tipo de carta pessoal em que se desenvolve algum argumento ou tema orientado. Segundo o comentário da Bíblia, "Descobrindo o Novo Testamento", "Diótrefes não está querendo ajudar outros trabalhadores cristãos. Ele prefere a fofoca, rejeita o conselho de João, e expulsa da igreja aqueles que querem ajudar a expandir o verdadeiro evangelho". Enquanto isso, Gaio e Demétrio são elogiados pela hospitalidade com os evangelistas peregrinos e por atos de bondade ao próximo. De forma especial, "Gaio é elogiado por ser fiel e andar com a verdade (3,4)", sendo que o tema da "verdade" em João é bem descrito na sua primeira carta, cap. 1.2 e 3, e cap. 4.15. COMPARTILHAR. 1. O que chama a sua atenção nas palavras e expressões utilizadas pelo Apóstolo João para se dirigir a Gaio e aos cristãos daquela igreja, como lemos nos versos 2 a 4, e 13 a 15? 2. O que você aprende no ensino desta carta, a partir do tema geral descrito no verso 11? 3. Parece que alguns cristãos gentios decidiram sair em viagem no propósito de anunciar a "Verdade", sendo que isto lhes causou problemas com familiares e a comunidade de gentios, que decidiram não lhes apoiar na decisão de seguir o Evangelho de Jesus. O que você conhece sobre as Missões cristãs hoje em dia, e sobre a perseguição aos cristãos? MOMENTO DE ORAÇÃO pelos pedidos do grupo e pelas Autoridades e Eleições no Brasil. Paz de Cristo e Boa semana. REFERÊNCIAS. Elwell, Walter e Yarbrough, Robert. Descobrindo o Novo Testamento. Editora Cultura Cristã, 2002, São Paulo SP.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O Senhor dos Anéis. OS ANÉIS DO PODER, 2022. A Espiritualidade da Luz nas Trevas!

O escritor J R R Tolkien era católico tradicional e um pensador cristão crítico da modernidade no séc 20, cuja obra literária oferece importante conteúdo filósofico e teológico aos leitores, sendo o criador da série "O Senhor dos Anéis", que além da trilogia de cinema lançada no início do século 21, chega agora às plataformas de streaming com a série da Amazon na Prime Vídeo: "O Senhor dos Anéis. Os Anéis do Poder". Os textos de Tolkien utilizam lendas e fantasias para apresentar ao público os mitos históricos e verdadeiros do Evangelho, já que ele entende que o Cristianismo tem a função de anunciar o valor da dignidade do ser humano e a importância das liberdades para a humanidade. Segundo Tolkien, "o Evangelho contém um conto fantástico, algo maior que envolve a essência de todas as histórias fantásticas. Ele contém muitas maravilhas - especialmente artísticas, belas e emocionantes: "míticas" em seu significado perfeito e conciso...". (Bradley Birzer, The Imaginative Conservative, artigo: Gazeta do Povo, Curitiba PR, 09/11/2020). "Houve um tempo em que o mundo era tão jovem, que o nascer do sol ainda não existia. Porém, mesmo assim havia luz." Eis a primeira frase do episódio inicial da nova série da Amazon, que foi inspirada na obra literária magistral de O Senhor dos Anéis e apêndices, de J R R Tolkien. Os Anéis do Poder mantém a produção caprichada da trilogia de cinema, que oferecia imagens belíssimas aos espectadores, sendo que a primeira cena da nova série nos conduz entre belos jardins e riachos de uma realidade transcendente, que são apresentados através de uma natureza terrena protegida e pura, o que remete às origens da humanidade no planeta. E sem perder tempo, o drama essencial da série e nosso tema nesse artigo; a Espiritualidade da Luz nas Trevas, surge forte e profunda na primeira conversa entre dois irmãos elfos angelicais, enquanto tratam do que deve-se fazer para permanecer na luz, assim que nos vemos em situações em que a escuridão toma conta de nosso coração: nas palavras da Elfo Galadriel: - "Mas, às vezes, o reflexo da luz na água é tão brilhante quanto a luz no céu. É difícil saber onde é em cima e onde é embaixo. Como saberei que luz seguir?". A resposta simples, mas ainda misteriosa virá no decorrer do primeiro capítulo, enquanto que o conhecimento real de seu significado existencial é simplesmente o tema de toda série, sendo algo valioso a ser buscado em nossa jornada da vida. E lá se foram os três minutos iniciais do prólogo da série, vindo a comunicar verdades maiores e propor reflexões mais valorosas do que filmes inteiros que assistimos por aí. A Espiritualidade de quase todo mundo no cinema que vemos nesta introdução da série apresenta de modo simples e natural, poético e idealista a realidade de uma criação boa e bendita, em que o conteúdo dos pensamentos de Tolkien aponta para a descrição bíblica cristã original, que se encontra no livro de Gênesis. E a questão fundamental que o elfo Finrod Felagund, irmão mais velho responde ao pé do ouvido da elfa irmã mais nova Galadriel, vai se tornar uma instigante proposição acerca das experiências espirituais da humanidade. Vindo a destacar o modo em que na situação atual de nossa realidade existencial, alguns conhecimentos somente serão alcançados na proximidade do convívio junto das situações em que este se apresenta. Ainda que sejam vivências perigosas em suas realidades morais; o que já é um conceito pra lá de complexo sobre o que se pode conhecer e aprender da vida humana. A apresentação dramática do tema essencial da história se desenvolve rapidamente nos primeiros quinze minutos do capítulo inicial, numa situação em que a harmonia da vida é corrompida pela chegada da escuridão. Algo que provoca a fuga dos cidadãos saudáveis para a Terra Média, aonde terão que lutar pela sobrevivência no eterno conflito entre bem e mal, verdade e engano, luz e escuridão. Pois não há vida nem verdade num mundo de valores diversos e distintos, sem a luta e sacrifícios na busca do que se acredita. A chegada e o conhecimento da morte numa existência em que a separação dos queridos e a perda da vida eram desconhecidos, chega sem avisos e fora do tempo, assim como as tragédias e calamidades. Situações e dores a que nos acostumamos, sem jamais com elas concordar, pois nosso espírito original sempre irá negar que tal condenação e miséria seja nosso destino real. Foi neste período da história que o príncipe da escuridão que mantém a Terra Média em conflito constante ganha seu nome, Sauron. Que após derrotado em grandes lutas, se retira pra longe, o que faz com que no passar dos séculos a sua presença e poder, influência e horror sejam esquecidos e vistos como extintos; mas não por todos! Conflito primordial que apresenta o modo como a luminosa menina que abre o filme com sua candura e sonhos, surja no decorrer da história como a corajosa Comandante Elfo Galadriel, vindo a conduzir os elfos discípulos que como ela, se negam a esquecer do mal e de Sauron. Eles seguem até os confins da terra e aonde a luz quase não resiste, pois a escuridão assumiu o ambiente, negando através da obscuridade a própria possibilidade de uma terra que se acreditava ser bendita. Um "lugar tão maligno que nem as rochas o esquentam", num ambiente em que bruxarias e ocultismo praticados pelos orcs demônios sobreviventes se torna a base espiritual em que ainda vive e respira o artífice do mal; Sauron, cujo sinal anteriormente gravado no corpo do irmão de Galadriel, como se fora um selo de conquista na morte, agora surge nas pedras frias diante do olhar atento da Comandante elfo. Em meio a essa situação grave e desafiadora, Galadriel compartilha seu desejo de voltar pra casa e viver entre as árvores da floresta pueril, lá no ambiente seguro e saudável da luz que não se apaga. No entanto, a líder elfo mantém firme o seu compromisso, afirmando que não tem como fazer isso sem antes investigar e esclarecer a situação dos orcs e seu príncipe maligno, que deixaram vestigios de estar ainda vivos, após a derrota nas guerras iniciais entre a luz e as trevas. E foi assim que em menos de 20 minutos, o instingante prólogo da série nos conduziu adentro ao enredo da história, para logo compartilharmos de seu drama essencial. Afinal, a narrativa cinematográfica não apenas conta a história da série, mas também a realiza e faz acontecer de modo real e sensível em nossa personalidade, enquanto dela visualizamos e vivenciamos. Sendo essa uma talentosa e capaz realização técnica dos produtores, que propicia bom interesse aos espectadores, enquanto cenas variadas apresentam personagens diversos em seus dramas particulares, mas nem tanto, como veremos no decorrer dos três primeiros capítulos. Dois aspectos espirituais de semelhança com a narrativa cristã da história podem ser percebidos neste prólogo, especialmente em distinção e também proximidade diante da trilogia Senhor dos Anéis no cinema, de Peter Jackson. Primeiro, esta série "Os Anéis do Poder" ocorre na Segunda Era da Terra Média, como se fora um período bíblico anterior ao dos filmes de cinema, já que retrata tanto as origens da terra e humanidade conforme descritas no Gênesis e ainda, o desenvolvimento inicial de raças e etnias diversas em sua jornada terrena. Sendo que, a trilogia de filmes girava ao redor da organização dos povos do bem à espera da vinda do Messias, para que ele viesse conquistar homens para o Reino da Luz; tudo ao redor do drama de se conviver com o poder, sem se deixar dominar pela vaidade. Um segundo aspecto a refletir neste primeiro capítulo apresenta o modo como o reino da luz somente se realiza na história da humanidade quando as suas benesses avançam sobre as maldades da escuridão presentes em nossa personalidade e sociedade. Sendo algo predito por Jesus ao anunciar que a sua mensagem de vida deveria seguir adiante por todo o mundo, já que, nas suas próprias palavras: será "uma igreja tão exuberante e tão cheia de energia que nem as portas do inferno serão capazes de obstruir seu avanço." (Mateus 16.18). Voltando ao enredo fílmico da série, vemos o modo em que logo após o poético e necessário prólogo, somos conduzidos numa viagem de apresentação dos diversos povos que residem nas muitas regiões do mundo. Numa jornada que vai até a terra do pequeno e humilde, simpático e amigável povo dos "pés peludos", passando pelas montanhas em que vivem o príncipe Durin e povos anões, chegando até a "terra dos homens", que surgem como seres inquietos e provocadores, em meio à presença de elfos anjos que tanto os protegem como observam com atenção as suas vidas, devido a seu passado confuso e conflituoso, em que alguns homens se aliaram a Sauron na propagação da escuridão pela Terra Média. Sem dúvida, o diferencial da série está fundado nos ricos e profundos conteúdos dos textos de Tolkien, que se tornam ambientes e cenas, falas e conversações, encontros e relacionamentos que nos transportam eficazmente até um rico universo poético e transcendente, que em sua naturalidade e magia nos fazem vivenciar a complexidade e riqueza da existência humana, conforme suas muitas dimensões da Terra e Céus. A descrição e apresentação deste universo humano e transcendente em seus aspectos distintos e interessantes, revelam o talento dos produtores, roteiristas e diretores da série, que seguem o legado de Peter Jackson como realizadores diferenciados e capazes da arte do cinema. Pois conseguem unificar a grandeza do ambiente e de suas belas imagens com a profundidade e o valor dos conteúdos das falas que traduzem as experiências mais íntimas das pessoas. Vemos a natureza em cenas amplas e através de movimentos grandiosos de câmeras, em meio a cortes rápidos e suaves com que somos levados ao drama das relações pessoais das muitas espécies de seres do mundo de Tolkien. Assim como Peter Jackson havia nos dado em sua grandiloquente apresentação dos filmes Senhor dos Anéis, na trilogia. O tema da Espiritualidade da luz nas trevas propõe uma reflexão profunda sobre a existência humana na Terra diante de nossas origens transcendentes, atualizando de modo realista o modo em que a presente realidade da humanidade já se encontra ocorrendo entre dois polos opostos de moralidade. Sendo que assim como no mundo, igualmente os seres humanos carregam em sua complexa personalidade físico espiritual as duas vivências, luz e trevas. De forma que, qualquer entendimento verdadeiro sobre as realidades da luz e trevas nesta vida, vai requerer a percepção e vivência de seus aspectos contrários no dia a dia de nossa personalidade e relacionamentos. Um encontro identificado não somente para realizar uma compreensão conceitual destas realidades, mas sim, para dar um conhecimento experiencial que permita ao homem seguir em seu aprendizado fundamental da história; que é o discipulado de si mesmo rumo a uma existência saudável e satisfatória. Realidades humanas propostas na série Anéis do Poder que remetem à biblica Árvore do conhecimento do bem e do mal. Sendo um fruto de que a humanidade se alimentou, o que agora nos conduz na experiência indicada pelo Elfo Finrod a sua irmã Galadriel, ao orienta-la sobre a necessidade de ter que passar por experiências contraditórias para então delas extrair o seu real significado. Recordamos ainda, a orientação do Apóstolo São João em sua primeira carta, na qual descreve os encontros e desencontros entre luz e trevas que Jesus consegue tratar de forma satisfatória na personalidade humana. Já que em nossa espécie essas duas facetas se tornaram vivências contrárias permanentes. E assim, posto que ambas coexistem numa única situação ou pessoa, o Apóstolo indica o modo possível de superar essa conflituosa experiência de vida, a qual deverá ocorrer a partir de dois princípios: o primeiro apresenta o modo como a luz deverá necessariamente se manifestar na região e situação em trevas através do anúncio da Palavra de Deus; e o segundo, esclarece a maneira em que esse encontro essencial irá propor os tratamentos necessários da realidade das trevas, por um tratamento via arrependimento. Sem no entanto, provocar sua destruição, mas sim, a redenção da situação e da pessoa em que tudo isso ocorre, para que não se perca a ave enquanto se colhem os ovos. Ou seja, é preciso avançar e abraçar a escuridão a fim de que a luz ali se manifeste, exatamente como num ataque de células boas diante de células ruins no ser. Trata-se de um encontro existencial que deverá ser norteado primeiro pela sinceridade, de modo que o ser humano deverá aceitar a sua fragilidade moral e condição infeliz de querer e até praticar o mal das trevas em certas situações. E em seguida, pela humildade, pois nesse entendimento, o homem deverá entregar a si próprio nas mãos espirituais do Profeta e Deus que lhe são mais fortes e sábios. Algo que os faz capazes de guia-lo numa experiência vitoriosa perante este conflito constante da história; conforme se lê no texto bíblico de 1 João 1.7: "Mas, se andarmos na luz, como o próprio Deus é luz, vamos experimentar também uma vida de comunhão uns com os outros, enquanto o sangue derramado de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo nosso pecado." Algo que torna possível se aproximar da luz de Deus através da mediação do Sacerdote Messias, de forma que haverá um bendito tratamento dos desejos das trevas no ser humano, enquanto este é mantido vivo. E olha que tudo isso está disponível somente nos dois primeiros capítulos da série. Bom filme! AUTOR. Ivan Santos Rüppell Jr é Mestre em ciências da religião e professor de teologia. Referências. Bíblia, Textos bíblicos da versão A Mensagem, São Paulo, Edit Vida, 2011.

A IGREJA E O ESTADO. Estudo de Pequenos Grupos da Igreja Presbiteriana Olaria, Setembro, Estudo 1, 2022

"Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas (...) É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal." (Romanos 13.1,4). COMENTÁRIO: No dia 7 de setembro de 1822, o Brasil se tornou uma nação independente diante de Portugal, quando Dom Pedro afirmou "Independência ou Morte", próximo do riacho Ipiranga em São Paulo. Nosso país permaneceu sendo uma monarquia, até que em 15 de novembro de 1889 ocorreu a Proclamação da República Brasileira, e assim teve início a oficialização do sistema presidencialista. O principal teólogo das Igrejas Reformadas e Presbiterianas começou a publicar os seus estudos de doutrina bíblica num momento que ocorriam transformações políticas e sociais na Europa, que são semelhantes ao período da Independência em nosso país. Calvino foi chamado para auxiliar na organização social, civil e nas relações entre Estado e Igreja na cidade de Genebra, na Suiça, sendo que essa cidade havia conquistado a sua independência no ano de 1535. Esse fato se tornou um dos motivos porque o historiador Henri Strohl entende que, "Calvino é, dentre os Reformadores, quem melhor elaborou seu pensamento político." Esse autor destaca que João Calvino veio definir que deveria ocorrer uma distinção entre as instituições do Estado e da Igreja, pois o propósito de Deus é abençoar toda a humanidade através das delimitações das áreas de atuação destes dois poderes: “daí porque a “liberdade espiritual pode coexistir com a submissão civil, e o poder temporal não é incompatível com o reino espiritual de Cristo.” Calvino destaca que a sociedade humana necessita do Estado, no interesse de que a ordem seja mantida num mundo que se encontra submetido ao pecado: “Os que desejam privar o homem desse amparo... necessário para sua peregrinação na terra... fazem violência à sua natureza humana”. (Henri Strohl; p 230, 2004). COMPARTILHAR. 1. O que chama sua atenção nesta história do período em que João Calvino começou a publicar estudos bíblicos, no período da Reforma Protestante no sec 16? 2. Como você entende o versículo bíblico base de nosso estudo e a orientação de João Calvino sobre a importância do Estado para a sociedade? 3. O que chama a sua atenção na seguinte orientação bíblica do Apóstolo Paulo a Timóteo: "Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade." (1 Timóteo 2.1-4). MOMENTO DE ORAÇÃO pelos pedidos do grupo, autoridades e eleições no Brasil e celebrações e o culto aos domingos na Igreja. Boa semana!

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

O PENSAMENTO REFORMADO E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL. Seminário Presbiteriano do Sul - Curitiba. Setembro, 2022.

“Calvino foi um patrono dos direitos humanos; lutou contra os abusos do poder em seu tempo e chegou até mesmo a lidar com o problema político-filosófico da desobediência civil e do direito de revolta. Em seu pensamento ele antecipou os fundamentos da moderna forma de governo republicano, tornou-se um dos pais da democracia moderna, e contribuiu decisivamente para a compreensão cristã do relacionamento entre lei natural e lei positiva.” (R. Q. Gouvêa; Calvino, p 8, 2001). No dia 7 de setembro de 1822, o Brasil se tornou uma nação independente diante de Portugal, quando Dom Pedro afirmou "Independência ou Morte" próximo do riacho Ipiranga em São Paulo. Nosso país permaneceu sendo uma monarquia e teve uma constituição imperial promulgada em 1824. Até que em 15 de novembro de 1889 ocorreu a Proclamação da República Brasileira. Foi a oportunidade para que nosso país viesse a receber uma carta constitucional republicana em 24 de fevereiro de 1891, com a oficialização do sistema político presidencialista. No contexto político-social do modo em que as nações são estruturadas em sua governança perante a população, atualizamos neste período de celebração da Independência do Brasil agora em 2022, o pensamento cristão reformado acerca do tema. São valores bíblicos que a Igreja Presbiteriana tem refletido na história sobre a ordem social dos povos, a partir do pensamento do teólogo protestante João Calvino. Nessa perspectiva, faz-se importante recordar que o estabelecimento de Calvino como teólogo da Reforma Protestante se dá num contexto histórico e social de profundas transformações políticas na Europa. Afinal, a cidade de Genebra conquistou sua independência do Ducado de Savoia em 1535, sendo um período em que as lideranças da cidade estavam em busca de se organizar civilmente à luz dos novos padrões sociais e religiosos oriundos do humanismo e da reforma. Dessa forma, o ministro religioso e líder social da Reforma, Guilherme Farel voltou-se para a pessoa de Calvino já em 1536, posto que o reformador "falava e escrevia fluentemente o francês; publicara um excelente livro de instruções da doutrina cristã, o que indicava sua habilidade como educador; e era graduado em Direito Civil e, portanto, podia ajudar Genebra a elaborar suas leis civis." (McGrath, p. 92-94, 2012). Nesse contexto, Henri Strohl destaca na obra "O Pensamento da Reforma"; o aspecto em que, “Calvino é, dentre os Reformadores, quem melhor elaborou seu pensamento político. Seus estudos jurídicos prévios concorreram muito nesse sentido. Haja visto o capítulo sobre o governo civil com que termina a primeira edição da IRC e que já se apresentava em forma tão acabada que não sofreu maiores alterações nas edições posteriores”. (Henri Strohl; p 230, 2004). Strohl ressalta que João Calvino foi aquele que mais se dedicou ao tema, vindo a definir que deveria ocorrer uma real distinção entre as instituições do Estado e da Igreja. Pois o propósito de Deus é abençoar toda a humanidade através das delimitações das áreas de atuação destes dois poderes: “daí porque a “liberdade espiritual pode coexistir com a submissão civil, e o poder temporal não é incompatível com o reino espiritual de Cristo.” Nesse sentido, Calvino destaca que a sociedade humana necessita do Estado, no interesse de que a ordem seja mantida num mundo que se encontra submetido ao pecado: “Os que desejam privar o homem desse amparo... necessário para sua peregrinação na terra... fazem violência à sua natureza humana”. Ainda, o entendimento calvinista de que as autoridades são vigários de Deus nas suas diversas funções na sociedade, sejam eles reis, governadores ou chefes de grupos, orienta o modo como os fiéis devem acatar toda autoridade existente, mesmo que a monarquia seja a menos aceitável, conforme indica o pensamento dos “espíritos elevados”, de Aristóteles, Platão e Sêneca, segundo Calvino. Para o reformador, devemos reconhecer “a providência de Deus no fato de que diferentes regiões são governadas por diferentes formas de autoridade”; sendo que, “o melhor sistema de governo é aquele em que há liberdade adequada e durável”, com um destaque acerca da importância de que esse peculiar modelo de autoridade social que provê liberdade à população seja preservado; já que “o primeiro dever daqueles que governam um povo livre é velar para que “a liberdade do povo, do qual são protetores, não se restrinja.” (Strohl, p 232-233, 2004). Henri Strohl finaliza as considerações sobre o pensamento de Calvino acerca do Estado, ressaltando o valor de que as autoridades instituídas por Deus para manter a ordem e preservar o mundo não devem ser percebidas como um “mal necessário”, mas sim, devem ser acolhidas com a devida honra, atenção e obediência, conforme ensinam os apóstolos Paulo, em Romanos 13, e Pedro, em sua segunda carta, no capítulo 2. (p 236-237) Acerca desse mesmo tema, Matos e Nascimento destacam o modo em que Calvino se manteve atuante como um "pastor e estudioso das Escrituras" diante da sociedade, mesmo enquanto se dedicava a refletir acerca do Estado e situações sociais, fiel ao entendimento de que "a Bíblia contém princípios que devem reger todas as áreas da vida". Nesse sentido, conforme nossos autores, "Calvino afirma que o governo civil é uma dádiva de Deus (ver Romanos 13.1-7) e que o ofício de governante é uma elevada vocação, a mais sagrada e honrosa que existe (Institutas, 4.20.4)." (...) posto que a função da governança entre os homens é "proteger o serviço externo de Deus, defender o sadio ensino da piedade e a condição da igreja, regular as nossas vidas para a sociedade humana, moldar a nossa moral para a justiça civil, reconciliar-nos uns aos outros, e fomentar a paz e tranquilidade comum" (Institutas, 4.20.2)." (p. 23-25, 2007). E concluindo esse breve artigo de princípios cristãos reformados acerca dos sistemas de governo, à luz do pensamento de João Calvino, destacamos alguns aspectos elaborados por André Biéler, na obra "O Pensamento Econômico e Social de Calvino": "Cabe, com efeito, ao Estado, não somente manter certa ordem na sociedade, mas também prover o sustento da Igreja e da pregação fiel da Palavra de Deus entre os cidadãos". Sendo que, no destaque desse mesmo autor, tais proposições são dadas expressamente por João Calvino em seus "comentários ao Novo Testamento (I Timóteo 2.2)", conforme a seguinte citação: dos "frutos que nos provém de um principado ou governo bem regrado. O primeiro é a vida tranquila e pacífica, visto que os magistrados são armados da espada para suster-nos em paz (...) O segundo fruto é a conservação da piedade, isto é, quando os magistrados se dedicam a promover a religião, a manter o culto de Deus e a dar ordem a que as santas cerimônias sejam devidamente administradas e com reverência." (p 379-380, 1990). Nesse período de celebrações da Independência do Brasil, recordamos princípios cristãos reformados que observam a importância da organização da atuação governamental das nações perante os homens. Na fundamental orientação de que as autoridades civis são dadas aos homens por Deus para regular a ordem social, e para que tenhamos liberdade enquanto cidadãos políticos e livre expressão religiosa enquanto seres humanos espirituais. REFERÊNCIAS: BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. tradução de Waldyr Carvalho Luz. - São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990. CALVINO, João. A Verdadeira Vida Cristã, 2001. SP. MATOS, Alderi Souza e NASCIMENTO, Adão Carlos. O que todo Presbiteriano inteligente deve saber. Santa Bárbara d´Oeste, SP :SOCEP Editora, 2007. MCGRATH, Alister. A Revolução Protestante. tradução Lena e Regina Aranha. - Brasília, DF : Palavra, 2012. STROHL, Henri. O Pensamento da Reforma. tradução de Aharon Sapsezian, Aste. São Paulo, 2004. AUTOR. Ivan S Rüppell Jr é Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, professor de ciências da religião e teologia na Fatesul, e Advogado.