segunda-feira, 30 de outubro de 2023

RELIG. E PÓS-MODERNIDADE, Texto 5. Seminário Presbiteriano do sul extensão Curitiba, 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Religião e Pós modernidade do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. A ARTE PÓS-MODERNA. Novas Mídias. "A arte sempre obriga a filosofia abstrata a cair na realidade. Os artistas expressam o que crêem em formas concretas (...) A arte pós-modernista demonstra as consequências do pensamento pós-moderno vivamente. Mais importante ainda, são as artes, sobretudo, os comunicadores das óticas de mundo na cultura". Aspecto importante é a dedicação dos comunicadores para atuar junto da cultura popular na busca da "mente da massa". No entanto, "nem toda arte pós-moderna reflete o pós-modernismo. Mais uma vez, "pós-moderno" refere-se ao tempo em que vivemos; "pós-modernismo" refere-se à ideologia que está aparecendo como reação tanto às formas modernas como às formas cristãs de se ver a realidade". Neste sentido, artistas pós-modernos podem atuar contra a cultura atual, pois em reação diante da modernidade eles buscam valores antigos, vindo se contrapor aos pós-modernistas. Assim, "a reação contra o modernismo tem muitas características que os cristãos podem compartilhar e aplaudir. As ideias pós-modernas estão revitalizando as artes, abrindo-as para o passado e a vida humana cotidiana". (p. 87, Veith Jr, 1999). Um dos valores da arte moderna e especialmente da pós-moderna é a substituição da arte como expressão da "beleza ideal e sentido objetivo", de modo que artistas se dedicam "criar obras de pura imaginação particular". Vemos que a modernidade rejeitou Deus, mas manteve os absolutos, vindo a fracassar, enquanto que o pós-modernismo reage aos fracassos modernos, abandonando completamente os absolutos. "O clima intelectual e espiritual descrito nos capitulos anteriores encontra plena expressão nas artes. (...) A indústria do entretenimento espalha a ideologia pós-modernista de casa em casa onde haja aparelho de televisão". Terry Eagleton: "Existe, talvez, certo grau de consenso de que o artefato pós-modernista típico seja lúdico, auto-ironizante e até esquizóide; e que reaja à austera autonomia do alto modernismo descaradamente adotando a linguagem do comércio e da mercadoria. Sua posição para com a tradição cultural é de pasticho irreverente, e sua planejada falta de profundidade destrói aos poucos todas as solenidades metafísicas, por vezes com uma estética de esqualidez e choque". (p. 88, 1999). Características: arte modernista, "afetam alto propósito, a integridade do artista e da obra de arte e a busca de suas próprias visões da verdade; e, "os pós-modernistas brincam com sua arte, são abertamente comerciais e não tem nenhuma pretensão à verdade". "De fato, segundo a ideologia pós-modernista, tudo é ficção; toda verdade é uma ilusão criada por convencionalismos sociais. Os artistas pós-modernistas procuram realçar a percepção dessas convenções embaçando as fronteiras entre verdade e ficção. Fazem isso jogando com os convencionalismos da arte". (p. 89). Elementos: modernistas, validam a personalidade única do artista, vendo-o como um indivíduo único, buscando profundidade, a realidade interior e verdades complexas"; e, pós-modernistas entendem a auto-identidade como ilusão, desejam fazer uma "colagem de estilos diferentes", recicláveis e como produto de massa, sendo "obcecados por superfícies e por aparências superficiais". (p. 89, 1999). A arte pós-modernista entende que o contexto da cultura é importante, valorando "o relacionamento da obra com a sociedade, a natureza, a vida humana"; e essa aproximação junto da realidade abre perspectivas para vislumbrar aspectos espirituais e morais, sendo uma estética pós-moderna que poderá servir aos artistas e analistas cristãos. "Os pós-modernistas, entretanto, rejeitam os absolutos morais e religiosos, da mesma forma como rejeitam os absolutos estéticos. Buscam ligar a obra de arte à vida, mas a forma em que o fazem é moldada por sua visão da vida". (p. 90). "A arte pós-modernista tipicamente deixa de empregar um só estilo unificado; é uma colagem de muitos estilos (...) um quadro pós-modernista poderá ser um pasticho da Mona Lisa (em estilo renascentista), um deus grego (estilo clássico) e o Pato Donald (arte pop), todos dançando num cenário super-realista (...) Jacques Derrida afirmou que a forma primordial do discurso pós-modernista é a colagem. A arte da época costuma montar imagens discrepantes e sentidos incompatíveis, produzindo, ele diz: 'um significado que não pode ser nem univoco nem estável'. (...) A chave que liga as características principais da sociedade pós-moderna (...) até o pasticho esquizóide da cultura pós-modernista é o desvanecimento de um senso de História. Nosso sistema social contemporâneo perdeu sua capacidade de conhecer seu próprio passado; já começou a viver em "um perpétuo presente" sem profundidade, definição ou identidade segura". (p. 92). Ao mesmo tempo em que a nova tecnologia da TV busca preservar a história da TV, ao trazer e remeter a programas do passado, também utiliza esse encontro para produzir o que temos visto como apenas um "pasticho esquizóide". "A televisão reduz toda sua história a um perpétuo presente que ocorre simultaneamente em nossas telas, vazio de contexto e significado. A História não é algo do qual podemos tirar lições ou interpretar nossa própria época. Pelo contrário, a História torna-se um 'estilo'. (...) a cultura pós-modernista... fica reciclando o passado (...) Essa abordagem da História também funciona para atualizar o passado. Os historiadores revisionistas reinterpretam os eventos passados de acordo com preocupações contemporâneas, vendo a História através da lente do feminismo, do multiculturalismo e da política pós-marxista. Em vez de recriar a mentalidade daquela época, as versões contemporâneas apresentam o passado como espelho de nossa própria época". (p. 93). O pós-modernismo tem "fixação pelas aparências, as superfícies e os impactos instantâneos que não tem força de sustentação no passar do tempo". Gera uma sociedade que exige "gratificação instantânea nas artes e entretenimento. Enquanto os livros estimulam a reflexão interior, as imagens no vídeo apresentam só as aparências superficiais. As pessoas a quem faltam crenças também tem falta de identidade pessoal e vida interior. Portanto são, em todo sentido da palavra, superficiais. Essa superficialidade se manifesta nas artes naquilo que Jameson chama de "falta de profundidade planejada", de forma que personagens, lugares e situações planos e sem profundidade são utilizados tanto para ironizar a sociedade, como também se tornam um "valor estético positivo". (p. 94, Veith Jr, 1999). "Andy Warhol deu o nome de "A Fábrica" ao seu estúdio, e contratou operários para produzir em quantidade gravuras de Marilyn Monroe e outros ícones da cultura pop... As reproduções em massa supostamente libertam a arte das instituições ricas e abrem o processo artístico ao povão... Warhol também tinha a característica de nivelar o trivial e o profundo... Preparava em silk-screen fotografias de acidentes horríveis - corpos destroçados em desastres de carro, um homem empalado num poste de telefone... O trágico e o trivial estão reduzidos ao mesmo nível de banalidade". (p. 97). (...) "A despeito do aparente auto-engrandecimento dos artistas de performance, a arte pós-modernista se empenha num ataque proposital contra a qualidade humana do ser... a arte produzida em massa tem a virtude de desumanizar tanto o artista como a obra... assim como a brutalidade da televisão e do cinema nos dessensibiliza para a violência, Warhol procurava intencionalmente amortecer a sensibilidade humana. Para Warhol e outros pós-modernistas, a personalidade é algo que é preciso evitar (...) Alguns pós-modernistas, como Warhol, afetam uma pose de abertura impassiva diante da massa da sociedade... Outros pós-modernistas são furiosamente políticos... Ambos os campos, entretanto, minimizam o papel do artista e ridicularizam a noção de que a arte exista para elevar a sociedade". (p. 98/99). "A INTOLERÂNCIA DA TOLERÂNCIA: a crise da tolerância que, redefinida, se tornou repressiva, perigosa e intelectualmente debilitante. "...enquanto querem que as outras religiões se restrinjam à esfera privada, os secularistas insistem que tem o direito de controlar a esfera pública porque estão certos - completamente inconscientes de que estão tentando impor sua cosmovisão sobre os outros que dela discordam". (p. 3, D. A. Carson, 2013). 1. "INTRODUÇÃO: A face mutante da tolerância". (p. 12). Muitos pensam que falar acerca da "intolerância da tolerância" seja uma contradição e algo sem sentido. Inclusive, porque a tolerância é o tema crucial da atual cultura ocidental, e que não deve haver questionamentos, pois "a tolerância se tornou parte da "estrutura de plausibilidade" ocidental"; sendo um termo usado por Peter Berger "para se referir às estruturas de pensamento aceitas por uma cultura específica de forma geral e quase inquestionável". Ele entende que culturas mais fechadas carregam estruturas complexas e absorvem proposições conflitantes, enquanto que as estruturas de "uma cultura bastante diversificada" como a ocidental, são "estruturas de plausibilidade... necessariamente mais restritas, pelo fato de haver menos posições sustentadas em comum". (p. 11/12). Assim, sair em público questionando as estruturas plausíveis se torna algo logo taxado de "insensível, de mau gosto e grosseiro". Neste sentido, "a noção da tolerância está mudando e, com as novas definições, a forma da própria tolerância mudou... a triste realidade é que essa nova tolerância contemporânea é inerentemente intolerante. Não enxerga as suas próprias falhas, pois possui uma atitude de superioridade moral; não pode ser questionada, pois se tornou parte da estrutura de plausibilidade do mundo ocidental. Pior ainda, essa nova tolerância é socialmente perigosa e, com certeza, intelectualmente debilitante. Até o bem que deseja realizar é feito melhor de outras maneiras". (p. 12). Observe que no dicionário Oxford, "tolerar" significa "suportar, aguentar (dor ou sofrimento)". Hà um segundo significado, que diz que tolerar é "permitir que exista, seja feito ou praticado sem interferência de autoridade ou sem ser molestado", e há um terceiro entendimento que declara que tolerar é "suportar sem repugnância; permitir intelectualmente ou em gosto, sentimento ou princípio; transigir". E no Dicionário Webster, significa "consentir; permitir; não interferir; reconhecer e respeitar; suportar, aturar", e ainda, "aceitar a existência de perspectivas diferentes para reconhecer o direito das outras pessoas de ter crenças ou práticas diferentes sem tentar reprimi-las". (p. 12/13). E como complemento ao dicionário Encarta, temos: "1. Aceitação de perspectivas diferentes - a aceitação de perspectivas diferentes dos outros, por exemplo, em questões religiosas ou políticas, e imparcialidade em relação às pessoas que sustentam essas perspectivas". Observe essa essencial diferença, pois além de aceitar a existência de uma posição diferente, deve-se aceitar a própria posição em si, de forma que a pessoa não mais se opõe a ela. Ou seja, "a nova tolerância sugere que aceitar a posição do outro significa crer que essa posição seja verdadeira ou, pelo menos, tão verdadeira quanto à sua própria. Mudamos de permitir a livre expressão de opiniões contrárias para aceitar todas as opiniões; saltamos de permissão da articulação de crenças e argumentos dos quais discordamos para a afirmação de que todas as crenças e todos os argumentos são igualmente válidos. Assim passamos da antiga para a nova tolerância". (p. 13). 2. A IGREJA e as Afirmações sobre a VERDADE. (p 101 ss). Um formando de Harvad em 1991 afirmou que o termo para expressar o que haviam aprendido na universidade era simplesmente "confusão", pois as proposições expostas desejavam livra-los de toda e qualquer definição e certeza, de modo que eles poderiam se tornar "devotos a quaisquer valores que desejamos, com a mera condição de que não acreditemos que eles sejam verdadeiros". (p. 101). Trata-se de um problema recorrente a partir dos valores da nova tolerância, que ao definir a impossibilidade de se afirmar que algo está errado, é uma tolerância que "torna-se sinônimo de neutralidade ética ou religiosa". O contraste com a antiga tolerância é grande, já que aquela "requer que tomemos uma posição entre essas declarações éticas e declarações sobre a verdade antagônicas, pois se não fizermos isso, não estamos em posição de tolerar algo de que discordamos". (p. 102). Assim, entende-se que a crise existente nos mais diversos campos culturais da humanidade, desde a educação e política até a religião, tem origem no desprezo para com a antiga tolerância e no fortalecimento da nova tolerância. "Tanto a antiga tolerância quanto a nova tolerância, não são uma posição intelectual, mas sim uma reação social." A tolerância de antigamente traduz a posição de tolerar, conviver e aguentar valores e ideologias, pessoas e grupos de quem discordamos; enquanto a nova tolerância "é o compromisso social de tratar todas as ideias e pessoas de forma igualmente correta, exceto pessoas que discordam dessa perspectiva da tolerância". (p. 102). Os praticantes da nova tolerância desprezam qualquer raciocínio e sabedoria, propostas e princípios no objetivo de manter a superioridade da sua visão de tolerância. Todos que entendem valor na antiga tolerância devido a terem abraçado valores e posições como sua verdade, "são rotulados como intolerantes e excluídos, não merecendo mais lugar à mesa." (p. 102). "Em nenhum lugar esse conflito é mais profundo do que nas perspectivas contraditórias sobre a relgião, em geral, e sobre o cristianismo, em particular". (p. 102). Até defensores da pós-modernidade entendem que os que desejam transformar o texto bíblico em um tema de literatura nas universidades acabam sacrificando da Bíblia o que os cristãos dizem que ela é, a verdade. Jesus também surge como um modelo da nova intolerância, para os que defendem que Ele é "infinitamente tolerante"; sendo que a verdade bíblica apresenta que Deus é não somente tolerante, mas também bondoso e paciente diante da anarquia existencial de nossos pecados, com o destaque de que não é uma tolerância infinita, pois Profetas e Jesus afirmaram sobre o dia da ira do Senhor, e da volta do Cristo ao mundo nesse momento de juízo. Observe que Jesus ensina a não julgar no propósito de não condenar, e foi essa a atitude de Jesus diante de todos os tipos de pecadores, no entanto, Jesus mesmo afirmou a importância de saber e escolher entre o certo e o errado, além de anunciar a existência do inferno como lugar de julgamento aos homens. (p. 106/7). A atuação da nova tolerância em perseguir aos que contrariam seu pensamento avança não apenas na cultura em geral, mas também dentro de instituições que existem exatamente a partir de posições de verdade e valores próprios, como a Igreja. Quando a Igreja Católica afirma ser contra o aborto, e políticos católicos decidem votar a favor do aborto na regulação das leis, e em consequência, são disciplinados dentro de suas paróquias, a mídia afirma que estas igrejas agem com intolerância por agirem apenas no resguardo interno do que acreditam, e diante dos fiéis que ali estão porque crêem. Daí, surge a questão: "Será que nenhuma igreja, na qualidade de organização privada, tem o direito de disciplinar seus adeptos segundo suas crenças e políticas declaradas? (...) Muitos se lembram do discurso bastante conhecido do presidente Abraham Lincoln (...) - "Vocês dizem que acham que a escravidão é errada, mas censuram qualquer tentativa de contê-la. Há alguma coisa que vocês consideram errada, com a qual não estão dispostos a lidar como errada? Por que vocês são tão cuidadosos, tão sensíveis a esse mal e não a outro? (...) não devemos chamar de errado na política, pois isso seria trazer a moralidade para dentro da política e não devemos chamar de errado no púlpito porque seria trazer a política para dentro da religião (...) e não há nenhum lugar, segundo vocês, em que uma coisa errada pode ser chamada de errada." (p. 108). 3. ASPECTOS das afirmações CRISTÃS sobre a VERDADE. (p. 114 ss). O fato é que os cristãos que acreditam na bíblia irão definitivamente abraçar e defender a existência de certas verdades, sendo que, neste contexto, "as ideias seguintes são sugestivas, mas não exaustivas", no desenvolvimento de nosso autor: A verdade fundamentada na revelação, que apresenta que o conteúdo bíblico foi dado aos homens em eventos miraculosos. A verdade associada à história cristã primitiva, sendo algo que demonstra o modo como os apóstolos e líderes da igreja cristã inicial buscaram defender e manter a verdade do evangelho de modo intencional e correndo risco de morte. A verdade e o amor, sendo conceitos que a nova tolerância coloca como contrários, enquanto que o apóstolo João esclarece na sua primeira carta o teste da verdade, teste do amor e teste da obediência para os cristãos, sendo "que esses três testes devem ser aplicados juntos: não se trata de dois melhores dos três, nem existe a opção de passar em um deles e ser reprovado nos outros dois (...) Pois conforme C S Lewis destacou, 'Se Deus é Amor, ele é, por definição, algo mais do que simples bondade. E parece... apesar de ter nos repreendido e condenado tantas vezes, (que) jamais se referiu a nós com desprezo. Ele nos prestou o intolerável cumprimento de nos amar, no sentido mais profundo, mais trágico e mais inexorável". (p. 124/25). A verdade e a evangelização, como um conteúdo essencial da verdade pra se estabelecer diante do mundo e apresentar às pessoas, pois o "cristianismo insiste que em seu cerne residem boas novas sobre o que Deus fez em Jesus Cristo, novas a respeito de Deus que são verdadeiras, novas acerca do que Deus fez em Jesus Cristo que são verdadeiras, novas que podem salvar pessoas da ira que está por vir, então os cristãos devem falar sobre Cristo e trazer os outros para ele. Seria inconcebível não fazê-lo, não apenas porque é a verdade, mas porque é uma verdade de importância enorme e inimaginável". (p. 125). REFERÊNCIAS. CARSON, D. A. A Intolerância da Tolerância. traduzido por Érica Campos_São Paulo: Cultura Cristã, 2013. VEITH JR, Gene Edwards. Tempos pós-modernos. Uma avaliação cristã do pensamento e da cultura da nossa época. tradução: Hope Gordon Silva, Editora Cultura Cristã, São Paulo SP, 1999. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor do Seminário Presbiteriano do sul, extensão Curitiba.

APOLOGÉTICA, Texto 4. Seminário Presbiteriano do sul extensão Curitiba, 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Apologética do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, de diversos livros e obras, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2024. Do livro "Ensaios apologéticos": Parte 4. Desafios filosóficos e culturais à fé cristã. Cap. 14. O DESAFIO DO PÓS-MODERNISMO. O autor Brian Mclaren escreveu o livro "A New Kind of Christian" (Um novo tipo de cristão) buscando valorizar duas virtudes cristãs fundamentais neste séc. 21, que são a "ênfase na verdade objetiva e no engajamento apologético tradicional". O desejo do autor e também de diversos livros e artigos deste mesmo tema, busca enfrentar as influências pós-modernas na teologia e cultura atuais, posto que há "pouco reconhecimento sobre a natureza profundamente anti-bíblica e irracional do pós-modernismo, assim como sobre a ameaça que representa à articulação e à defesa da fé cristã", especialmente porque há bom número de pensadores que entendem que a igreja deveria seguir na mesma direção da cultura vigente "(mais pluralista, menos idealista e menos tolerante em relação às verdades absolutas)". (p. 281/82, 2006). Neste sentido, é preciso entender o modo em que "o pós-modernismo representa um grande desafio à missão da apologética cristã, em especial, por causa de suas visões em relação à verdade, à racionalidade e à linguagem". Tradicionalmente os que defendem a cosmovisão cristã explicam que essa compreensão da realidade é "objetivamente verdadeira e racional" posto que a Bíblia assim revela seus conceitos, bem como o padrão literário bíblico também surge a partir de "uma revelação verdadeira e racional na forma linguística", conforme Isaías 1,18; 1Pe 3.15; Jd 3; 2Tm 3.16-17), de forma que a "apologética esforça-se para mostrar que a verdade bíblica pode ser reconhecida como verdadeira e que é capaz de sobreviver e prosperar mesmo sob intenso ataque intelectual". (p. 282). O confronto aberto pós-moderno entre os valores culturais seculares que estão sendo defendidos e os princípios cristãos surge da diferença de fundamentos, já que os "pós-modernistas rejeitam as noções de verdade absoluta e de racionalidade efetiva, assim como a noção de que a linguagem pode comunicar, de maneira clara, assuntos de significado supremo", sendo tarefa da apologética o tratamento deste debate. (p. 282). Numa perspectiva ampla sobre o que deve-se anotar acerca dos princípios pós-modernistas, sabe-se que o mesmo "sustenta que a verdade é determinada por várias construções sociais que são legadas por diferentes propósitos. Várias culturas possuem seus "jogos de linguagem", os quais descrevem a realidade de maneiras muito diferentes". (p. 283). Algumas declarações pós-modernistas e seus autores dão o tom do confronto de princípios, como afirmar que definir uma verdade objetiva é assumir uma metanarrativa, a qual é "opressiva e exploradora" (Jean François Lyotard). Jacques Derrida entende que conteúdos religiosos não carregam sentido objetivo em suas declarações, de modo que não devem ser entendidos nem como falsos, nem como verdadeiros. Para Michel Foucault, qualquer declaração sobre a "verdade" é apenas a manifestação do modo como as "estruturas de poder definem "verdade". "A destruição pós-modernista da racionalidade e da verdade objetiva resume-se a isto: a verdade não reside em declarações que correspondem à realidade (...) A verdade é apenas uma questão de perspectiva; é algo que os indivíduos e comunidades edificam primariamente por meio da linguagem". Devemos observar que se estes pensamentos pós-modernos forem assumidos, então a "verdade objetiva" está cancelada, restando a verdade particular ou peculiar que "dissolve-se nos grupos étnicos, nas comunidades, nos gêneros, nos relacionamentos de poder e outros fatores de contingência". (p. 283/84). A proposta de se definir e estabelecer uma verdade absoluta é entendida como um valor fracassado dos iluministas, conforme assim foi entendido e desprezado por Friedrich Nietzsche. A oposição aos pós-modernistas surge de pensadores que valorizam as teorias de conhecimento da verdade, as quais defendem a "correspondência" entre o que se afirma e se argumenta, conforme Norman L Geisler: "Pode haver maneiras distintas de defender diferentes alegações de verdade, mas há, de fato, apenas uma maneira adequada de definir a verdade, isto é, por correspondência". De modo que filósofos do oriente e ocidente tem buscado empreender reflexões "dentro de uma estrutura lógica básica, que eles não consideram como culturalmente contingente". (p. 284). A LÓGICA DA VERDADE. "A lógica da verdade é a lógica da lei da não-contradição. Primeiramente codificada, porém não inventada por Aristóteles, essa lei afirma: "Nada pode ser e não ser, ao mesmo tempo, em relação a um mesmo aspecto". Usando exemplos da teologia, Jesus não pode ser ao mesmo tempo um homem sem pecados e um homem pecador, enquanto que ao dizer que há somente um Deus, não se poderá falar que há também muitos deuses. "Esse princípio lógico não é exclusivo do cristianismo. É uma verdade de toda a criação, e de como Deus nos ordenou a pensar", sendo importante destacar que a fé cristã não requer que seus defensores desprezem esse padrão lógico, ao contrário. "Deus é coerente e não pode mentir (Hb 6.18)", de modo que Deus também não pode negar que existe ou que não seja verdadeiro, sendo que Deus também não faz algo que se possa considerar verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Observe que, "a lei da não-contradição combinada com a especifidade da verdade cristã e os altos envolvidos na escolha de acreditar em Cristo significam que a verdade para o cristão é confrontativa", assim como quando o Apóstolo Paulo tomou posição contrária sobre a idolatria de Atenas, ficando indignado e vindo a debater o tema na sinagoga diante de gregos e judeus (Atos 17.17). (p. 285/86). A confusão de pensamentos e avaliações que cresce no mundo pós-moderno que as acolhe de modo natural, é combatida pelos cristãos quando estes defendem "a fé de uma vez por todas confiada aos santos". Há outros valores de raciocínio que valorizam a lógica, como quando a "lei do meio excluído utiliza o mesmo critério essencial que a lei da não-contradição, ou seja, de que nenhuma proposição e sua negação podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Javé é o Senhor ou não é. Não há opção intermediária", sendo algo assumido por Jesus ao advertir que não se pode seguir a dois senhores, já que o homem irá se dedicar somente a um deles (Mt. 6.24). (p. 286/87). A VISÃO BÍBLICA DA VERDADE. "A fim de reprimir de forma eficiente os ataques do pós-modernismo acerca da verdade, o apologista cristão deveria se apropriar da compreensão bíblica sobre a verdade. As Escrituras utilizam as palavras gregas e hebraicas para verdade e suas derivações de maneira abundante e sem qualquer embaraço". (p. 287). O termo hebraico 'emet' carrega a ideia de suporte e estabilidade, surgindo daí o entendimento da verdade como algo fiel e conforme ao fato. "O termo hebraico 'emet' pode também representar "aquilo que está de conformidade com a verdade, em contraste com qualquer coisa que é falsa ou enganosa", como nas seguintes passagens: Is 43,9; 13.14; 17.4; Pv 8.7; Jr 9.5; Dn 10.1; Dn 8.26; Zc 7.9 e Jr. 4.2. (p. 287/88). "Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento delineiam um contraste claro entre a verdade e a mentira". O apóstolo João fala que é preciso perceber a presença do Espírito da verdade diante do espírito do erro, enquanto Paulo afirma que os "que negam a realidade de Deus existente por trás da criação 'suprimem a verdade pela injustiça' (Rm 1.18)", e Jesus mesmo disse para Pilatos que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, e que todos que fossem desta realidade iriam ouvi-lo. "Esse conceito bíblico de verdade significando fidelidade ao fato objetivo também envolve as afirmações de que a verdade revelada por Deus é igualmente absoluta. É invariável e sem exceção ou isenção. Tampouco é relativa, mutável ou passível de revisão", sendo que o texto fundamental sobre o "absolutismo da verdade" foi declarado por Jesus, em João 14.6. (P. 288/89). Os cristãos não pretendem ter conhecimento absoluto sobre Deus, no entanto, a comunicação do Evangelho traz consigo verdades absolutas dadas por Deus aos homens acerca da realidade, sendo possível conhecer esta verdade e anuncia-la pela graça de Deus em nós, inclusive, "ao contrário dos pós-modernistas, a metanarrativa bíblica não conduz à opressão e à arrogância, pois está centrada na revelação de um Deus que é bondoso, amoroso e santo, que comissionou Seu povo a comunicar as verdades absolutas do evangelho, em humildade e amor". (p. 289). "A compreensão de verdade encontrada no Novo Testamento grego é coerente com o que vemos nas Escrituras hebraicas. No Novo Testamento, a palavra grega aletheia e suas derivações mantêm a ideia de "conformidade com o fato", expressa pelo termo hebraico emet. De acordo com Nicole, "a ênfase primária do Novo Testamento é claramente sobre a verdade em conformidade com a realidade e em oposição a mentiras e erros". (p. 288/289). A verdade anunciada por Deus aos homens é universal, com sua compreensão e validade sendo atemporais para todo e qualquer lugar, sendo que o anúncio do evangelho e da moralidade e justiça de Deus "não são limitadas ou restritas por condições culturais", conforme os discursos de Pedro e Paulo, em At 4.12, 1 Tm 2.5,6 e Atos 17. 30. "Deveria ser evidente que a visão bíblica da verdade colide frontalmente com as noções pós-modernistas em relação à construção social da realidade e a relatividade da verdade. Nicole conclui que "a visão bíblica da verdade (emet-aletheia) é como uma corda formada pelo entrelaçamento de muitos fios"; ela "envolve realidade, fidelidade e integralidade". A verdade cristã não é um elemento cultural dado a judeus ou aos cristãos da igreja do primeiro século, mas sim, é a própria "verdade de Deus que fala somente a verdade às Suas criaturas e espera que elas vivam de acordo com essa verdade". (p. 290). OS MILAGRES DE JESUS. "Não se espera que os milagres aconteçam." (p. 191, Craig Lane, 2006). "Qualquer discussão sobre milagres precisa começar pelo reconhecimento de que os milagres são eventos que desafiam a explicação natural. Caso contrário, nada extraordinário pode advir deles". Assim, "de forma cristalina, alguém que crê em milagres está comprometido com sua possibilidade e realidade...". Nesse contexto, não se pode ignorar que especialmente fora, mas inclusive dentro do círculo cristão, a modernidade viu surgir esclarecimentos e posições que vieram a diminuir o impacto e possibilidade da ocorrência de milagres na religião, o que de alguma forma se tornou uma proposição válida até para o cristianismo em geral, acerca do tempo posterior ao apostólico como um período sem milagres. (p. 192). Agora, especialmente "para os cristãos, os milagres constituem um aspecto especialmente importante da religião." De forma geral, assim como no cristianismo, e especialmente nos fundamentos de outras religiões, os milagres tem duas abordagens genéricas, como a de que são realizados por seus fundadores ou profetas, e de que ocorrem como uma bênção na vida dos seguidores da religião. (p. 193). No entanto, "o Cristianismo oferece milagres como demonstrações das afirmações de Cristo (Jo. 20.30,31) e como possíveis respostas às orações... mas (ainda) milagres são ainda mais cruciais no Antigo e Novo Testamentos. A própria natureza da religião depende da ocorrência de certos eventos miraculosos". Em grande parte das religiões o ensino e orientação são os fundamentos de sua vivência, no entanto, "o cristianismo é fundamentado no miraculoso evento da ressurreição de Cristo... o cristianismo não é baseado somente nos ensinos de Cristo (como o são as religiões de Buda e Maomé), mas também no que Ele realizou, e, neste quesito, seus milagres, particularmente a ressurreição, assumem uma posição central. Assim, para o cristianismo, a discussão sobre a realidade dos milagres não é como caminhar sobre uma tangente; ela alcança a própria força vital da religião." (p. 194). OPOSIÇÃO. A comum atitude de incredulidade acerca dos milagres pode ser considerada uma posição racional positiva da humanidade. Porém, se o ceticismo for universal o que irá ocorrer é que milagres devidamente documentados não serão creditados corretamente. Há três posições mais comuns adotadas pelos que não creêm em milagres: O naturalista. O ateu que não acredita em Deus nega o sobrenatural, e de certa forma, são naturalistas os que negam qualquer milagre, seja de Deus e anjos, e espíritos. O deísta. O deísta aceita a ideia de Deus mas não concorda que Deus atue ou intervenha na realidade do nosso mundo, porque Deus mesmo definiu que seria assim o seu governo na história. O sobrenaturalista. Os pantéistas acreditam que a própria realidade do mundo é deus ou é espiritual, e assim qualquer intervenção que pudesse ser considerada um milagre, é entendida como natural e proveniente da nossa realidade comum. "A seu modo, cada um desses três tipos de pessoas reagirá contra a validade dos milagres reivindicados no cristianismo; como grupo, eu os rotularei de "céticos". (p. 196). Análise. "Como já sugerimos no início deste capítulo, uma grande tentação para o crente comtemporâneo é defender os milagres fazendo com que não pareçam tão miraculosos assim". (p. 196). Na busca por receber interesse do cético, o cristão acaba tornando o milagre em uma ocorrência razoável, para que seja plausível ao cético. Isto é um engano, até porque um cético não precisa ser convencido da ocorrência de situações incomuns, mas sim, "precisa compreender que algumas vezes os eventos são tão extraordinários que nos dão a convicção de que somente Deus poderia realizá-los". (p. 197). Observe que é comum os próprios cristãos apresentarem a história de Jonas que ficou três dias no estômago da baleia com algum ceticismo, pra quem sabe, conseguir manter algo da história plaúsivel aos que irão ouvi-la. Um crítico do sobrenatural entende que não deve prestar atenção nesta história porque obviamente é uma ficção, posto que é psicológica e fisicamente impossível um homem sobrevivrer três dias na barriga de uma baleia, como pensa Robert Pfeiffer, que define que essa história ataca a realidade natural que ele conhece. Neste sentido, o autor pontua: "Meu ponto é este: não creio que a questão da plausibilidade da história de Jonas é aumentada com a tentativa de torná-la mais parecida com um evento natural. Toda a história enfatiza a ideia de que foi Deus que enviou o peixe, foi Deus que preservou Jonas no interior do animal por três dias, e foi Ele que levou o peixe a expelir Jonas após esse périodo". Desta forma, o cristão não irá ganhar nada em tornar essa história mais "natural" para o cético, para que esse acontecimento pareça com algum evento conhecido em que Deus não agiu diretamente. "Não há necessidade de o crédulo ser um facilitador para a inclinação usual do cético contra o sobrenatural". (p. 198). "Talvez o argumento contrário à realidade dos milagres mais conhecido provenha do filósofo escocês David Hume". Segundo ele, "mesmo se milagres pudessem, em teoria, ocorrer, não poderíamos saber racionalmente que isso aconteceu... seu ponto era que pessoas racionais não deveriam crer porque as evidências a favor jamais poderiam ser suficientes". (p. 203). Pense na situação em que você conta a um amigo que seu animal de estimação falou com você e lhe disse o que ele desejava comer no jantar, e a partir daí temos aquele tipo de história que vira "piada" pra todos que ouvem, seja porque é uma grande mentira, seja por eu ter alucinações, e por aí vai. Agora, o ponto a ser observado é que qualquer "explicação" que procure entender o que está acontecendo e apresentar o fato de modo compreensível, como dizer que o meu vizinho vestiu uma fantasia de cachorro e falou comigo, bem, trata-se de uma versão pior do que a anterior. "Uma pessoa racional irá pesar a probalidade das várias alternativas e escolherá a que se mostrar menos esdruxúla. Era isso que Hume queria que compreêndessemos". (p. 204). Toda a questão se resume ao que é mais provável, sendo algo que será analisado pelos ouvintes. Neste sentido, o princípio de Hume é de que sempre que alguém nos anuncia um milagre, devemos analisar na "escala de probabilidades; (e aí) as leis da natureza sempre vencerão...". (p. 204). "Em geral, o que as pessoas fariam se fossem confrontadas com a alegação de que um milagre, em particular, ocorreu? (...) É necessário haver certo tipo de expectativa racional de que o evento em questão deveria ser considerado um milagre. Essa presunção inicial separaria o evento de ocorrências não miraculosas". Tendo o exemplo de um homem que cai de um barco na água e afunda, que é algo comum, e o exemplo de um homem que sai andando pelas águas, algo que, no caso, deveria suscitar que uma das possibilidades do testemunho é de que houve um milagre. Nessa reflexão, analisamos: "Em geral, os escritores sobre esse assunto dividem os milagres em duas categorias que, com frequência, passam a ter nomes distintos: Categoria 1.: violação, anulação ou milagres de primeira ordem. Esses são eventos em que a natureza básica é desafiada (...) Categoria 2: configuração, contingência, constelação ou milagres de segunda ordem". Estes são eventos que não parecem milagres, mas sua ocorrência ocorre numa escala de fatos que desafia o que é provável e portanto, nega as leis da natureza. Observe que a avaliação que deve-se buscar de uma situação narrada como milagre é de que a percepção do "evento em questão deve ocorrer em um quadro diretamente direcionado ao sobrenatural (...) devemos olhar um evento de tal forma que pessoas racionais se sintam compelidas a concluir que, em oposição a suas expectativas normais, ali está um milagre genuino. (...) Há inúmeros casos nos quais crédulos discordam quanto à veracidade de um milagre. No entanto, tal ambiguidade não significa que seja impossível reconhecer um milagre". Exemplo: (Alguns acreditam nas batalhas vencidas por Joana D´arc como milagres, outros não), "Entretanto, não é necessário ter um método dedutivo infalível para avaliar todas as possível alegações a fim de se ter a certeza de que certos eventos, como a ressurreição de Cristo, são milagres". (p. 208/9). Agora, vamos fazer uma reflexão adiante, a partir do ponto em que se acredita ou se entende ser possível que ocorra um milagre. "O que isso provaria?" Milagres servem para comprovar algumas crenças ensinadas ou até mesmo para desacreditar certas lideranças, conforme Moisés ensinou para que os profetas fossem provados. E milagres comumente não são são os fundamentos de uma religião. "Contudo, isso não significa que os milagres não possam desempenhar esse papel na formação pessoal da crença do cristão", conforme falamos sobre a Ressurreição de Cristo, no entanto, "sua importância não está nisso (ser um milagre extraordinário). Esse evento é importante antes de tudo porque aconteceu. A ressurreição é crucial para o cristianismo, porque o Filho de Deus encarnou, morreu por nossos pecados e retornou à vida, de modo que nós também podemos ter acesso à vida eterna. É possível que não tenha ocorrido milagre maior que esse, porém não é a sua magnitude que importa, e sim o que Deus realizou por meio dele". (p. 211). "Crer em milagres não é fácil, tampouco é um fim em si mesmo. Mas, como vimos, é a transição que torna possível mover-se da cosmovisão teísta para a aceitação específica do que Deus realizou na história, em benefício de nossa redenção". Deus estava presente com Elias na derrota miraculosa dos profetas de Baal no monte carmelo, mas descrever tal vitória valorando a graduação de milagres não é o que importa para o cristão. "Muito mais importante é saber que há um Deus capaz de operar milagres, e, por essa razão, termos certeza da salvação que Ele providenciou para nós no Calvário". Esse é o aspecto essencial sobre os milagres de Jesus que não se pode ignorar. (p. 212, Lane Craig, 2006). RELIGIÃO E PÓS MODERNIDADE. Abraham Kuyper. REFERÊNCIAS. CRAIG LANE, William, BECKWITH, Francis e MORELAND, J.P (editores). Ensaios apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã. tradução José Fernando Cristófalo. São Paulo: Hagnos, 2006. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil, professor e advogado, atuando na gestão de parcerias de ações sociais evangélicas.

sábado, 28 de outubro de 2023

Meditação Dominical. O HÁBITO DO PECADO, Cartas de João.

TEXTO Bíblico. 1 Carta de João, capítulo 3. "Todo aquele que permanece nele, não vive pecando; todo aquele que vive pecando, não o viu nem o conheceu". (1 João 3.6). MEDITAÇÃO. A diferença entre um cristão e um não cristão é o hábito do pecado, e não o fato de não pecar. Pois todo ser humano é pecador e por isso todos praticamos pecados. No entanto, Jesus Cristo está fazendo as pessoas nascerem de novo direto lá dos céus, e por isso os cristãos estão aprendendo a deixar de cometer o pecado como um hábito constante e incurável. E já são capazes de transformar atitudes malditas em benditas. Dessa forma, uma marca dos cristãos é aprender a pecar cada vez menos, sendo que alguns pecados mais graves também serão praticados de modo mais leve, pra não causar danos pra si mesmo e problemas ao próximo. Embora qualquer pecado sempre provoque o afastamento de Deus. Daí a palavra de João para que os cristãos procurem não pecar, mas se pecarem, devem saber que pela confissão de pecados, Jesus se faz nosso Advogado Salvador diante da Justiça de Deus. Por isso mesmo, a confissão dos pecados na oração do Pai Nosso é a conversa mais virtuosa e graciosa do nosso relacionamento com Deus a cada dia, sendo uma experiência essencial pra nos libertar do hábito do pecado. ORAÇÃO. Santo Deus e Pai Nosso que está nos céus, perdoa os nossos pecados e seja misericordioso com a nossa rebeldia. Quebranta nossa natureza humana orgulhosa e livra-nos do mal. Senhor Deus, não nos deixa cair de novo hoje na tentação de ontem. Perdoa os nossos pecados e dá-nos a tua paz. Amém! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil, professor e advogado, atuando na gestão de parcerias de ações sociais evangélicas.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Meditação Dominical. O CONHECIMENTO DO CRISTO DE DEUS, Cartas de João.

TEXTO Bíblico. 1 João 2.18-27. "Mas vocês tem a unção que vem do santo e todos tem conhecimento. (...) Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; e aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai". (1 João 2. 20-23). MEDITAÇÃO. Como diziam os antigos, "uns são e outros não são". É verdade. Alguns seres humanos são cristãos e outros não são cristãos, e a definição dessa diferença vem pelo conhecimento da verdade sobre o Cristo de Deus. O Apóstolo João orienta os primeiros cristãos preocupados com a fé e a fidelidade que o verdadeiro conhecimento do Cristo de Deus era um entendimento dado diretamente por Deus para os seres humanos. Entre algumas situações bíblicas, dá pra separar três momentos em que este conhecimento é dado e desenvolvido por Deus na mente e personalidade dos cristãos: primeiro, quando Jesus diz para Pedro que o futuro apóstolo é bem aventurado já que ele sabe que Jesus é o Cristo porque esse conhecimento foi dado diretamente por Deus pra ele. Mais tarde, o apóstolo Paulo ensina aos cristãos de Corinto que experimentavam comunhão abençoadora com Deus ao receber dons diversos, que não deveriam se preocupar com esta nova dinâmica espiritual de adoração e serviço. Pois ninguém sequer dizia que Jesus era o Senhor, se não soubesse disto através do conhecimento dado pelo Espírito Santo. E aqui no texto bíblico de hoje, vemos o apóstolo João explicando que os cristãos são ungidos especialmente com o conhecimento que determina a diferença entre a Vida eterna e o Juízo, que é saber que Jesus é o Cristo de Deus! ORAÇÃO. Pai Nosso que está nos céus. Bendito seja o nome do Senhor que nos chamou pra olhar para Jesus e revelou na nossa consciência e espírito que Ele é o Cristo! Que venha o teu reino e seja feita a tua vontade sobre nós, pois somente teu é o reino, o poder e a glória pra sempre. Amém! autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

REFORMA PROTESTANTE. A Confissão de Fé da Guanabara. Confissões de Fé Reformadas. 2023.

O MARCO INICIAL da Reforma Protestante se deu em 31 de outubro de 1517 com a comunicação das 95 teses de Martinho Lutero, na Alemanha. "Somente as Escrituras" foi um princípio que se tornou lema e fundamento essencial da Reforma Protestante e dos cristãos que vieram a abraçar esse movimento na história. Esse valor e a doutrina religiosa consequente foram destaque no pensamento e organização da linha reformada protestante, que se desenvolveu inicialmente na Suiça e logo em diversas regiões da Europa. "A origem da Reforma calvinista, responsável pela formação das igrejas reformadas (como por exemplo, a igreja presbiteriana), encontra-se em fatos que ocorreram na Confederação Helvética. (..) Deve-se enfatizar que, embora tenha sido João Calvino quem conferiu a esse estilo de reforma seu formato definitivo, suas origens remontam a reformadores anteriores, como Ulrico Zuínglio e Heinrich Bullinger, que haviam se estabelecido na pujante cidade suíça de Zurique". (McGrath, p. 98-99, 2005). Esse movimento reformado igualmente buscou organizar suas definições doutrinárias através de documentos e Credos que se fizeram conhecidos como Confissões de Fé Reformadas. SURGIMENTO e Consolidação da doutrina protestante. Ao mesmo tempo em que a Reforma Protestante atualizava de modo distinto na história a autoridade das Escrituras, as diversas visões diferentes de interpretação entre os líderes da reforma também se tornava uma realidade, especialmente no pensamento distinto entre os "reformadores magisteriais" (que respeitavam as autoridades) e os "reformadores radicais" (mais revolucionários diante do Estado). Nesse contexto, surgiu a necessidade de definições "oficiais" que pudessem esclarecer tanto o que pensavam como o que desejavam os reformadores do cristianismo, sendo que, conforme McGrath, "as confissões de fé desempenharam essa função (...) (posto que) em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade": 1. As Escrituras. Consideradas pelos reformadores magisteriais como a autoridade suprema em matéria de dogma e conduta cristãos. 2. Credos do cristianismo. Esses documentos, como, por exemplo, os credos Apostólico e Niceno, eram considerados pelos reformadores magistrais como representativos do consenso da igreja primitiva, bem como interpretações precisas e autorizadas das Escrituras. (os credos eram considerados textos secundários em relação às Escrituras, e serviam para delimitar o individualismo da reforma radical). A autoridade desses credos clássicos era reconhecida tanto por protestantes quanto por católicos, bem como por vários elementos pertencentes à corrente dominante da Reforma. 3. Confissões de fé. Esses documentos eram tidos como oficiais por determinados grupos integrantes da Reforma. Assim, as igrejas luteranas primitivas reconheciam a autoridade da Confissão de Augsburg (1530) (embora nem todos os grupos protestantes entendessem desta forma). Para exemplificar, pode-se mencionar o fato de que as confissões de fé específicas foram elaboradas por alguns grupos. Algumas estavam vinculadas à Reforma em determinadas cidades - por exemplo, a Primeira Confissão da Basiléia (1534) e a Confissão de Genebra (1536). Portanto, o padrão básico adotado pelos integrantes da Reforma era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal, e ainda, das confissões de fé como de caráter terciário e local (pelo fato dessas confissões serem consideradas obrigatórias somente por uma denominação ou igreja de determinada região). Na Reforma, a constituição da ala reformada foi um processo complexo que resultou no fato de que várias Confissões - cada qual ligada a uma determinada região - tornaram-se influentes. As seguintes possuem importância especial. Em 1559, Confissão Gálica, França. 1560, Confissão Escocesa, Escócia. 1561, Confissão Belga, Países Baixos. 1563, Trinta e Nove Artigos, Inglaterra. 1566, Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental." (Mcgrath, p 109-110, 2005). CONFISSÃO DE FÉ DA GUANABARA. A denominação e doutrina presbiterianas foram estabelecidas no Brasil a partir da chegada do Missionário Ashbel Green Simonton, em 12 de agosto de 1859. No entanto, nos dois séculos após o descobrimento do Brasil, surgiram movimentos de implantação da fé reformada em nossa nação. Em 10 de novembro de 1555, o militar francês Nicolas de Villegaignon chegou na baía da Guanabara, sendo bem recebido pelos nativos, vindo a se estabelecer na ilha de Sergipe, onde foi edificado o Forte Coligny. Villegaignon solicitou a João Calvino o envio de missionários e colonos de fé protestante, no objetivo de desenvolver valores e a fé reformada na região. Assim, a Igreja Reformada de Genebra enviou um grupo de cristãos sob os cuidados dos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier, os quais chegaram na Guanabara em 10 de março, realizando uma celebração de gratidão no centro da ilha, sendo este o PRIMEIRO CULTO PROTESTANTE DAS AMÉRICAS. Villegaignon se desentendeu com os protestantes franceses (huguenotes) e os obrigou a deixar a colônia, em partida que ocorreu em 4 de janeiro de 1558, no entanto, cinco deles voltaram e foram bem recebidos, vindo depois a serem acusados de traição. Villegaignon "formulou um questionário sobre pontos doutrinários e lhes deu doze horas para responderem por escrito. O resultado foi a bela Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense." Villegaignon entendeu que suas respostas eram heréticas e os condenou a morte, alguns naquele momento e outros durante os próximos anos, de modo que Jean Du Bourdel, Matthieu Verneil, Pierre Bourdon e Jacques Le Balleur "ficaram conhecidos como os mártires calvinistas do Brasil." (Matos, p. 41, 2007). A Confissão de Fé da Guanabara pode ser definida como um "credo", sendo que o formato e quantidade de textos a posicionam como uma "confissão de fé", se tornando, assim, um dos primeiros documentos reformados confessionais, posto que, "a Confissão Galicana (1559), a Confissão Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1566) e a Confissão de Fé de Westminster (1648) são todos posteriores." (p. 44). Destacamos três características no documento: "a) é uma confissão de fé bíblica: está repleta de referências e argumentos extraídos diretamente das Escrituras; b) é uma confissão de fé cristã: expressa convicções e conceitos dos primeiros séculos da igreja; c) é uma confissão de fé reformada: contém pontos importantes do calvinismo, como a centralidade das Escrituras, a natureza simbólica dos sacramentos, a supremacia de Cristo, a importância da fé, o batismo infantil e a eleição, dentre outros." A Confissão de Fé da Guanabara contém 17 parágrafos que desenvolvem temas bem definidos: - doutrina da Trindade, com ênfase nas naturezas humana e divina de Cristo; - doutrina dos sacramentos, sobre Ceia e Batismo; - questão do livre arbítrio; - autoridade dos ministros; - divórcio e casamento de bispos; - intercessão e oração pelos mortos. "O texto faz diversas referências aos concílios da igreja antiga e aos pais da igreja, revelando os conhecimentos históricos dos seus autores (...) utilizam uma linguagem tirada do Credo Niceno (381) e de Calcedônia (451). As expressões "o Filho eternamente gerado do Pai" e "o Espírito Santo, procedente do Pai e do Filho" (Filioque) são bem conhecidas na história da teologia". A Confissão destaca 4 personagens da história da igreja; que são: Tertuliano (160-), Cipriano (200-), Ambrósio (339-) e Agostinho (354-). (Matos, p. 44-45, 2007). CONFISSÕES de Fé Reformadas. (livro: Harmonia das Confissões Reformadas). Introdução. O contexto histórico destas Confissões de Fé origina do período em que as igrejas reformadas desenvolveram Sete Confissões, as quais foram comparadas pelos autores a fim de que seu conteúdo fosse apresentado em sua singularidade e harmonia para conhecimento dos estudantes e fiéis. "As igrejas reformadas dos séculos 16 e 17 produziram várias coleções de confissões reformadas ortodoxas que diferenciavam a fé reformada tanto do Catolicismo Romano como de outros grupos de igrejas protestantes." Conforme vimos, as Confissões de Fé formam um terceiro grupo de anúncio e declaração da Palavra de Deus para os Cristãos protestantes, sendo que a Bíblia (Escrituras) é o documento primário, o Credo Apostólico é o documento secundário e as Confissões são o documento terceiro, sendo que as Confissões de Fé Cristãs Reformadas limitam o seu texto ao conteúdo das Escrituras, enquanto buscam fundamentar e esclarecer a interpretação bíblica estabelecida por essa vertente cristã oriunda do século 16, a partir da Reforma Protestante. Neste grupo de confissões reformadas, temos: as confissões da "família suiça", que são a Primeira Confissão Helvética (1536), a Segunda Confissão Helvética (1566), e a Fórmula de Consenso Helvética (1675). A "família anglo-escocesa", que contém a Confissão da Escócia (1560), com os Trinta e Nove Artigos (1563), a Confissão de Fé de Westminster (1646-47) e os Catecismos Maior e Breve de 1647. E ainda, a denominada "família germânico-holandesa", que apresenta três formas: a Confissão de Fé Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1563) e os Cânones de Dort (1618-19). Sendo que, "as sete mais adotadas pelas várias denominações reformadas... são as Três Formas de Unidade, a Segunda Confissão Helvética e a Confissão e os Catecismos de Westminster." O propósito dos organizadores da comparação e apresentação da visão singular destas Confissões, é de que "esta harmonia permitirá fácil acesso ao conteúdo das grandes confissões reformadas e também ajudará os cristãos holandeses reformados, os húngaros reformados, os ingleses presbiterianos e outros cristãos reformados a apreciar mais profundamente as confissões desses diversos grupos (...) A beleza deste livro é que ele ressalta a harmonia entre as confissões reformadas, a despeito da diversidade de suas inúmeras tradições históricas." (Beeke, 2006). DOUTRINA Reformada. Comparação. A Trindade! Tema: A santa trindade. 1. Confissão Belga: "Deus é um em essência, porém distinguido em três pessoas. De acordo com essa verdade, e com essa Palavra de Deus, nós acreditamos num só Deus, que é de uma só essência, na qual há três pessoas, realmente, verdadeiramente e eternamente distintas, conforme suas propriedades incomunicáveis, ou seja, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 2. Catecismo de Heidelberg: P. 25: Por que você fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo se há apenas uma divina essência... R: Porque Deus se revelou desse modo na sua Palavra, que essas três pessoas distintas são o único, verdadeiro e eterno Deus. 3. Segunda Confissão Helvética: "Cremos e ensinamos que o mesmo Deus infinito, uno e indiviso é um ser inseparavelmente e sem confusão, distinto em pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e, assim como o Pai gerou o Filho desde a eternidade, o Filho foi gerado de modo indescritível, e o Espírito Santo verdadeiramente procede de um e de outro, desde a eternidade e, assim, deve ser adorado como ambos (...) Enfim, aceitamos o Credo dos Apóstolos, porque ele nos comunica a verdadeira fé." 4. Confissão de Fé de Westminster: "Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. O Pai não é de ninguém - não é gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho." 5. Breve Catecismo de Westminster: "Há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três são um Deus, da mesma substância, iguais em poder e glória." 6. Catecismo Maior de Westminster: "Na Divindade há três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; essas três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais." Confissões de Fé. SÍMBOLOS DE FÉ da IPB. "A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única norma de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em virtude de a Bíblia não apresentar as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura." (p 67). As autorizadas Confissões de Fé protestantes vieram a se consolidar através de movimentos "pós-reforma", como destaca McGrath: "Tanto a Reforma protestante quanto a católica, foram sucedidas por um período de consolidação da teologia, em ambos os movimentos. No seio do protestantismo, luterano e reformado (ou "calvinista"), iniciou-se o período conhecido como "ortodoxia", caracterizado por sua ênfase em normas e definições doutrinárias. (...) O luteranismo e o calvinismo eram, sob muitos aspectos, bastante semelhantes. Ambos alegavam ser evangélicos e rejeitavam, de modo geral, os mesmos aspectos centrais do catolicismo medieval. Entretanto, eles precisavam se diferenciar." (p 112 -114, 2005). Nesse contexto, anotamos que "a Confissão de Fé e os Catecismos são conhecidos, historicamente, como Símbolos de Westminster. Eles foram elaborados pela Assembleia de Westminster (1643-1648), convocada pelo Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários, litúrgicos e administrativos para a Igreja da Inglaterra." (Matos e Nascimento, p 67, 2007). REFERÊNCIAS. MATOS, Alderi Souza e NASCIMENTO, Adão Carlos. O que todo presbiteriano inteligente deveria saber. Santa Bárbara d´Oeste, SP : Socep Editora 2007. BEEKE, Joel R e FERGUSON, Sinclair B. Harmonia das confissões de Fé Reformadas. Edit Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006 (páginas 9 a 12, 20-21). MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Edit Sheed, São Paulo SP, 2005. VAN Dixhoorn, Chad B. Catecismo Maior de Westminster. Origem e composição. Edit Os Puritanos. Recife, PE, 2012. (páginas 7 a 16). WATSON, Thomas. A Fé Cristã. Estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster. Cultura Cristã, São Paulo SP, 2009. (pg 7 a 15). Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor do Seminário Presbiteriano do sul extensão Curitiba e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil.

SÍMBOLOS DE FÉ. Conteúdo Geral de Introdução. Sem Presb do Sul - extensão Curitiba, 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Credos e Confissões do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O conteúdo é desenvolvido através de citações e resumos e deve ser utilizado para propósito didático no Seminário. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. CONFISSÃO DE FÉ DA GUANABARA. A doutrina e denominação presbiterianas foram estabelecidas no Brasil a partir da chegada do Missionário Ashbel Green Simonton, em 1859. No entanto, nos dois séculos após o descobrimento do Brasil, surgiram movimentos de implantação da fé reformada em nossa nação. Em 10 de novembro de 1555, o militar francês Nicolas de Villegaignon chegou na baía da Guanabara, sendo bem recebido pelos nativos, vindo a se estabelecer na ilha de Sergipe, onde foi edificado o Forte Coligny. Villegaignon solicitou a João Calvino o envio de missionários ou colonos de fé protestante, no objetivo de desenvolver valores e a fé reformada na região, com a Igreja Reformada de Genebra enviando um grupo de cristãos sob os cuidados dos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier, os quais chegaram na Guanabara em 10 de março, realizando em pequeno local no centro da ilha uma celebração de gratidão, sendo este o primeiro culto protestante das Américas. Villegaignon se desentendeu com os protestantes franceses (huguenotes) e os obrigou a deixar a colônia, em partida que ocorreu em 4 de janeiro de 1558, no entanto, cinco deles voltaram e foram bem recebidos, vindo depois a serem acusados de traição. Villegaignon "formulou um questionário sobre pontos doutrinários e lhes deu doze horas para responderem por escrito. O resultado foi a bela Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense." (p. 41, Nascimento e Matos, 2007). Villegaignon entendeu que suas respostas eram heréticas e os condenou a morte, alguns naquele momento e outros durante os próximos anos, de modo que Jean Du Bourdel, Matthieu Verneil, Pierre Bourdon e Jacques Le Balleur "ficaram conhecidos como os mártires calvinistas do Brasil." (Matos, p. 41, 2007). A segunda tentativa de implantação do cristianismo reformado iria ocorrer somente no século seguinte, com os holandeses chegando a Salvador em 1624, sendo expulsos, mas vindo a se estabelecer no Recife, Olinda e grande parte do nordeste a partir de 1630. A CONFISSÃO de Fé da Guanabara. Após os huguenotes serem expulsos da Guanabara por Villegaignon, observou-se que as condições do barco em que iriam retornar não iria permitir a sobrevivência de todos, e assim, 5 homens se ofereceram para retornar: Pierre, Jean, Matthieu, André Lafon e Jacques. Ao serem declarados hereges e traidores por Villegaignon, os cinco huguenotes deveriam responder a um questionário doutrinário em até 12 horas, tendo somente o texto das Escrituras para utilizar e formar seu conteúdo. Jean Du Bourdel preparou as respostas por seu conhecimento em latim e capacidade literária, vindo a preparar o texto que foi lido diante dos companheiros: "o resultado foi a Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense. Cada um a assinou de próprio punho, indicando que a recebia como sua própria." (p. 44). A Confissão de Fé de Guanabara pode ser definida como um "credo", sendo que o formato e quantidade de textos a posicionam como uma "confissão de fé", se tornando, assim, um dos primeiros documentos reformados confessionais, posto que, "a Confissão Galicana (1559), a Confissão Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1566) e a Confissão de Fé de Westminster (1648) são todos posteriores." (p. 44). Destacamos três características no documento: "a) é uma confissão de fé bíblica: está repleta de referências e argumentos extraídos diretamente das Escrituras; b) é uma confissão de fé cristã: expressa convicções e conceitos dos primeiros séculos da igreja; c) é uma confissão de fé reformada: contém pontos importantes do calvinismo, como a centralidade das Escrituras, a natureza simbólica dos sacramentos, a supremacia de Cristo, a importância da fé, o batismo infantil e a eleição, dentre outros." A Confissão de Fé da Guanabara contém 17 parágrafos que desenvolvem temas definidos: - doutrina da Trindade, com ênfase nas naturezas humana e divina de Cristo; - doutrina dos sacramentos, sobre Ceia e Batismo; - questão do livre arbítrio; - autoridade dos ministros; - divórcio e casamento de bispos; - intercessão e oração pelos mortos. "O texto faz diversas referências aos concílios da igreja antiga e aos pais da igreja, revelando os conhecimentos históricos dos seus autores (...) utilizam uma linguagem tirada do Credo Niceno (381) e de Calcedônia (451). As expressões "o Filho eternamente gerado do Pai" e "o Espírito Santo, procedente do Pai e do Filho" (Filioque) são bem conhecidas na história da teologia". A Confissão destaca 4 personagens da história da igreja; que são: Tertuliano (160), Cipriano (200), Ambrósio (339) e Agostinho (354). (Matos, p. 44-45, 2007). SÍMBOLOS DE FÉ. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DAS CONFISSÕES DE FÉ PROTESTANTES. O Período de consolidação da doutrina Protestante. Ao mesmo tempo em que a Reforma Protestante atualizava de modo distinto na história a autoridade das Escrituras, as diversas visões diferentes de interpretação entre os líderes da reforma também se tornava uma realidade, especialmente no pensamento distinto entre os "reformadores magisteriais" (que respeitavam as autoridades) e os "reformadores radicais" (mais revolucionários diante do Estado). Nesse contexto, surgiu a necessidade de definições "oficiais" que pudessem esclarecer tanto o que pensavam como o que desejavam os reformadores do cristianismo, sendo que, segundo McGrath, "as confissões de fé desempenhararm essa função (...) (posto que) em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade: 1. As Escrituras. Eram consideradas pelos reformadores magisteriais como a autoridade suprema em matéria de dogma e conduta cristãos. 2. Os credos do cristianismo. Esses documentos, como, por exemplo, os credos Apostólico e Niceno, eram considerados pelos reformadores magistrais como representativos do consenso da igreja primitiva, bem como interpretações precisas e autorizadas das Escrituras. (os credos eram considerados textos secundários em relação às Escrituras, e serviam para delimitar o individualismo da reforma radical) A autoridade desses credos era reconhecida tanto por protestantes quanto por católicos, bem como por vários elementos pertencentes à corrente dominante da Reforma. 3. As confissões de fé. Esses documentos eram tidos como oficiais por determinados grupos integrantes da Reforma. Assim, as igrejas luteranas primitivas reconheciam a autoridade da Confissão de Augsburg (1530) (embora nem todos os grupos protestantes entendessem desta forma)... Para exemplificar, pode-se mencionar o fato de que as confissões de fé específicas foram elaboradas por alguns grupos. Algumas estavam vinculadas à Reforma em determinadas cidades - por exemplo, a Primeira Confissão da Basiléia (1534) e a Confissão de Genebra (1536). Portanto, o padrão básico adotado pelos integrantes da Reforma era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal e das confissões de fé como de caráter terciário e local (pelo fato de essas confissões ser consideradas obrigatórias somente por uma denominação ou igreja de determinada região). Na Reforma, a constituição da ala reformada foi um processo complexo que resultou no fato de que várias Confissões - cada qual ligada a uma determinada região - tornaram-se influentes. As seguintes possuem importância especial. 1559, Confissão Gálica, França. 1560, Confissão Escocesa, Escócia. 1561, Confissão Belga, Países Baixos. 1563, Trinta e Nove Artigos, Inglaterra. 1566, Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental." (Mcgrath, p 109-110, 2005). CONFISSÕES DE FÉ REFORMADAS. Introdução. O contexto histórico destas Confissões de Fé origina do período em que as igrejas reformadas desenvolveram Sete Confissões, as quais foram comparadas por nossos autores a fim de que seu conteúdo fosse apresentado em sua singularidade e harmonia para conhecimento dos estudantes e fiéis. "As igrejas reformadas dos séculos 16 e 17 produziram várias coleções de confissões reformadas ortodoxas que diferenciavam a fé reformada tanto do Catolicismo Romano como de outros grupos de igrejas protestantes." Conforme vimos anteriormente, as Confissões de Fé formam um terceiro grupo de anúncio e declaração da Palavra de Deus para os Cristãos protestantes, sendo que a Bíblia (Escrituras) é o documento primário, o Credo Apostólico é o documento secundário e as Confissões são o documento terceiro, sendo que as Confissões de Fé Cristãs Reformadas limitam o seu texto ao conteúdo das Escrituras, enquanto buscam fundamentar e esclarecer a interpretação bíblica estabelecida por essa vertente cristã oriunda do século 16, a partir da Reforma Protestante. Neste grupo de confissões reformadas que serão base da comparação de harmonia desenvolvida pelo livro base desse texto e aula, temos: as confissões da "família suiça", que são a Primeira Confissão Helvética (1536), a Segunda Confissão Helvética (1566), e a Fórmula de Consenso Helvética (1675). A "família anglo-escocesa", que contém a Confissão da Escócia (1560), com os Trinta e Nove Artigos (1563), a Confissão de Fé de Westminster (1646-47) e os Catecismos Maior e Breve de 1647. E ainda, a denominada "família germânico-holandesa", que apresenta três formas: a Confissão de Fé Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1563) e os Cânones de Dort (1618-19). Sendo que, "as sete mais adotadas pelas várias denominações reformadas... são as Três Formas de Unidade, a Segunda Confissão Helvética e a Confissão e os Catecismos de Westminster." O propósito dos organizadores da comparação e apresentação da visão singular destas Confissões, é de que "esta harmonia permitirá fácil acesso ao conteúdo das grandes confissões reformadas e também ajudará os cristãos holandeses reformados, os húngaros reformados, os ingleses presbiterianos e outros cristãos reformados a apreciar mais profundamente as confissões desses diversos grupos (...) A beleza deste livro é que ele ressalta a harmonia entre as confissões reformadas, a despeito da diversidade de suas inúmeras tradições históricas." (todas as citações anteriores são do autor, Joel R. Beeke). A CONFISSÃO BELGA tem seu nome dado a partir dos países baixos, atualmente denominados Holanda e Bélgica, sendo que seu autor foi o Pastor Reformado Guido de Brès. "Durante o século 16, as igrejas reformadas na Holanda sofreram forte perseguição sob o comando de Filipe II da Espanha, partidário da Igreja Católica Romana. Em 1561, de Brès preparou esta confissão em francês como uma defesa para os crentes reformados perseguidos nos Países Baixos que formaram as assim chamadas "igrejas sob a cruz". (...) A confissão foi moldada a partir da Confissão Gaulesa, uma confissão reformada francesa de 1559 que, por sua vez, se baseava no modelo de Calvino... a Confissão Belga segue o que se tornou a ordem doutrinária tradicional da teologia sistemática reformada: as doutrinas a respeito de Deus (teologia, artigos 1-11), do homem (antropologia, 12-15), de Cristo (cristologia, artigos 16-21), da salvação (soteriologia, artigos 22-26), da igreja (eclesiologia, artigos 27-35) e dos últimos acontecimentos (escatologia, artigo 37)." Essa Confissão Belga carrega um forte apelo de unidade ao apresentar suas declarações como pensamento de toda uma comunidade, tendo sido enviada ao rei Filipe II com a promessa de que os fiéis cristãos que a seguiam tinham o propósito de seguir retamente as leis e obedecer as autoridades, sendo algo que não encontrou lugar no coração das lideranças da Espanha, culminando com o martírio do autor de Brès em 1567. "A Confissão Belga foi prontamente recebida pelas igrejas reformadas na Holanda depois de sua tradução para o holandês em 1562." O professor de teologia Zacarias Ursino desenvolveu o CATECISMO DE HEIDELBERG sob orientação do princípe Frederico III, no interesse de preparar um conteúdo "reformado com o objetivo de instruir os jovens e orientar pastores e professores", sendo considerado um "catecismo de beleza e impacto incomuns, uma reconhecida obra-prima", o qual acabou aprovado pelo Sínodo de Heidelberg no ano de 1563, tendo recebido outras três edições alemãs, além de ter sido traduzido ao holândes. "As 129 perguntas e respostas do Catecismo de Heidelberg estão divididas em três partes, padronizadas de acordo com a Epístola aos Romanos... as perguntas 3-11 se referem à experiência do pecado e à miséria (Rm 1-3, 20); as perguntas 12-85 se referem à redenção em Cristo e à fé (Rm 3.21-11.36), juntamente com uma longa exposição do Credo dos Apóstolos e dos sacramentos: as perguntas 86-129 abordam a verdadeira gratidão pelo livramento dado por Deus (Rm 12-16), basicamente por meio de um estudo dos Dez Mandamentos e da Oração Dominical... seu conteúdo é mais subjetivo que objetivo, mais espiritual que dogmático... (tendo) sido chamado "o livro de conforto" para os cristãos." O Catecismo de Heidelberg foi traduzido para o holândes em 1563 e foi aceito grandemente em toda Holanda, sendo uma base de orientação para as pregações dos ministros holandeses, vindo a ser aprovado nos "Sínodos de Wesel (1568), de Emden (1571), de Dort (1578), de Haia (1586) e de Dort (1618-19), que oficialmente o adotaram como a segunda das Três Formas de Unidade", além de ter sido traduzido posteriormente para nações de toda Europa e línguas diversas da África e Àsia. "A SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA é de importância muito maior (que a primeira)", tendo surgido de um testemunho pessoal escrito por Heinrich Bullinger no ano de 1562. A cidade de Zurique estava acometida de grande peste, e Bullinger dedicou-se a revisar o documento diante da morte próxima, que não houve para ele, sendo a ocasião em que Frederico III solicitou uma confissão reformada, vindo a receber do líder protestante uma cópia da confissão, a qual Frederico utilizou como defesa na Dieta Imperial de 1566, devido a críticas de Lutero em alguns posicionamentos do príncipe. "Depois de algumas revisões, numa conferência em Zurique no mesmo ano, a confissão foi aceita por Berna, Biel, Genebra, os Grisons, Muhlhausen, Schaffhaunsen e St. Gall. Depois, foi amplamente aprovada na Escócia, na Hungria, na Polônia e em vários outros lugares." Esta confissão é um "manual compacto da teologia reformada"... tendo como cenário a edição definitiva das Institutas de Calvino (1559) e a Contra-Reforma, reunida em Trento (1545-1563)... tendo como ponto de partida as Escrituras, ela avança pelas ideias da teologia sistemática, abordando questões características da Reforma e de Calvino: a pregação de que a Palavra de Deus é a Palavra de Deus (cap 1); Cristo é o espelho no qual devemos contemplar a nossa eleição (cap 10); a providência e a predestinação recebem tratamentos separados; o corpo e o sangue de Cristo não são recebidos carnalmente, mas espiritualmente, ou seja, por intermédio do Espírito Santo...". A Segunda Confissão Helvética tornou-se um "valioso testemunho das obras e da fé de Heinrich Bullinger", tendo sido traduzida para o inglês, holandês, polônes, italiano, turco, árabe etc; sendo percebida como "uma declaração madura da teologia reformada para a segunda metade do século 16". CÂNONES DE DORT (1618-1619). "O Sínodo de Dort foi realizado para resolver uma série de controvérsias nas igrejas holandesas, iniciada pelo surgimento do Arminianismo. Jacob Armínio... divergia da fé reformada em vários pontos...". A reunião das igrejas reformadas da Holanda na cidade de Dordrecht entre os anos de 1618 e 1619 recebeu vinte e sete delegados de oito países, que se juntaram aos sessenta e dois representantes da Holanda. Armínio viveu até 1609, e em 1610 alguns de seus defensores apresentaram suas postulações na assembleia da Holanda; ensinando uma eleição embasada na fé posterior dos homens que seria base para a decisão anterior de Deus sobre eles, um caráter universal da salvação em Cristo, a condição do livre arbítrio numa visão de depravação parcial da humanidade, a condição do homem resistir diante da graça, e ainda, a possibilidade de ocorrer uma queda do estado de graça. "Eles solicitaram a revisão dos padrões doutrinários das igrejas reformadas e a proteção do governo aos pontos de vista arminianos." As discussões acerca da controvérsia entre arminianismo e calvinismo estavam conduzindo a Holanda para um conflito civil de grandes proporções, até que a assembleia deliberou para que um Sínodo discutisse a questão. "O Sínodo, então, desenvolveu os cânones, que rejeitaram totalmente o Protesto de 1610 e estabeleceram a doutrina reformada dos pontos debatidos com base nas Escrituras. Esses pontos, conhecidos como os Cinco Pontos do Calvinismo são: eleição incondicional, redenção limitada, depravação total, graça irresistível e a perseverança dos santos (...) Eles podem ser resumidos do seguinte modo: (1) A eleição incondicional e a fé salvadora são dons soberanos de Deus. (2) Conquanto a morte de Cristo seja suficiente para expiar os pecados de todo o mundo, sua eficácia salvadora é restrita aos eleitos. (3,4) Todas as pessoas são tão completamente pervertidas e corrompidas pelo pecado que não podem exercer o livre-arbítrio em favor de sua salvação, nem efetuar nenhuma parte da salvação. Em soberana graça, Deus nos chama irresistivelemente e regenera o eleito para uma vida nova. (5) Deus graciosamente preserva o redimido para que ele persevere até o fim... Exposto com simplicidade, o assunto principal dos cânones é a graça soberana concebida, a graça soberana merecida, a graça soberana necessitada e aplicada e a graça soberana preservada." Observe que o contexto doutrinário do surgimento dos Cânones de Dort tornam esse documento uma declaração de fé única em seu conteúdo e características, pois surgiu como conclusão de um julgamento e abordou somente os temas doutrinais em discussão referente ao pensamento de Armínio e de Calvino. "Ao todo, os cânones contém 59 artigos de exposição, e 34 rejeições de erros (...) (os Delegados da Assembleia) se uniram num culto de ação de graças para louvar a Deus pela preservação da doutrina da graça soberana entre as igrejas reformadas." DOUTRINA REFORMADA EM COMPARAÇÃO - Harmonia das Confissões de Fé Reformadas: (exemplo do conteúdo das Confissões de Fé). Tema: A santa trindade. 1. Confissão Belga: "Deus é um em essência, porém distinguido em três pessoas. De acordo com essa verdade, e com essa Palavra de Deus, nós acreditamos num só Deus, que é de uma só essência, na qual há três pessoas, realmente, verdadeiramente e eternamente distintas, conforme suas propriedades incomunicáveis, ou seja, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 2. Catecismo de Heidelberg: P. 25: Por que você fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo se há apenas uma divina essência... R: Porque Deus se revelou desse modo na sua Palavra, que essas três pessoas distintas são o único, verdadeiro e eterno Deus. 3. Segunda Confissão Helvética: "Cremos e ensinamos que o mesmo Deus infinito, uno e indiviso é um ser inseparavelmente e sem confusão, distinto em pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e, assim como o Pai gerou o Filho desde a eternidade, o Filho foi gerado de modo indescritível, e o Espírito Santo verdadeiramente procede de um e de outro, desde a eternidade e, assim, deve ser adorado como ambos (...) Enfim, aceitamos o Credo dos Apóstolos, porque ele nos comunica a verdadeira fé." 4. Confissão de Fé de Westminster: "Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. O Pai não é de ninguém - não é gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho." 5. Breve Catecismo de Westminster: "Há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três são um Deus, da mesma substância, iguais em poder e glória." 6. Catecismo Maior de Westminster: "Na Divindade há três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; essas três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais." OS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. "A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única norma de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em virtude de a Bíblia não apresentar as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura." (p 67). As autorizadas Confissões de Fé protestantes vieram a se consolidar através de movimentos "pós-reforma", como destaca McGrath: "Tanto a Reforma protestante quanto a católica, foram sucedidas por um período de consolidação da teologia, em ambos os movimentos. No seio do protestantismo, luterano e reformado (ou "calvinista"), iniciou-se o período conhecido como "ortodoxia", caracterizado por sua ênfase em normas e definições doutrinárias. (...) O luteranismo e o calvinismo eram, sob muitos aspectos, bastante semelhantes. Ambos alegavam ser evangélicos e rejeitavam, de modo geral, os mesmos aspectos centrais do catolicismo medieval. Entretanto, eles precisavam se diferenciar." (p 112 -114, 2005). Nesse contexto, anotamos que "a Confissão de Fé e os Catecismos são conhecidos, historicamente, como Símbolos de Westminster. Eles foram elaborados pela Assembleia de Westminster (1643-1648), convocada pelo Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários, litúrgicos e administrativos para a Igreja da Inglaterra. Para se entender as circunstâncias da formulação desse importante documento, é preciso relembrar a história da Reforma Inglesa." (Matos e Nascimento, p 67, 2007). ANTECEDENTES históricos. No ano de 1534 o Rei Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica de Roma e através do Ato de Supremacia tornou-se chefe da Igreja da Inglaterra. Nascia a Igreja Anglicana separada da Igreja Católica, porém, com celebrações e doutrinas semelhantes, até que em 1547 subiu ao trono o Rei Eduardo VI, sendo que o Arcebispo de Cantuária Thomas Cranmer organizou dois documentos orientados pelo pensamento calvinista: o Livro de Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos. Nesse período, outras ações ocorreram com propósito reformista, até a morte do rei Eduardo em 1553. Maria Tudor (Maria sanguinária) assumiu o trono decidida a unir-se novamente com a Igreja Católica de Roma, o que levou à perseguição e morte de Cranmer e outros líderes da Reforma, enquanto os religiosos protestantes fugiam da Inglaterra para outros países, sendo que muitos deles foram residir em Genebra, debaixo da influência de João Calvino. Até que em 1558 Maria Tudor faleceu e a nova Rainha Elizabete retornou com o Ato de Supremacia, o que propiciou o retorno dos protestantes pra Inglaterra. (p 67-68). REFERÊNCIAS. MATOS, Alderi Souza e NASCIMENTO, Adão Carlos. O que todo presbiteriano inteligente deveria saber. Santa Bárbara d´Oeste, SP : Socep Editora 2007. REFERÊNCIA. BEEKE, Joel R e FERGUSON, Sinclair B. Harmonia das confissões de Fé Reformadas. Edit Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006 (páginas 9 a 12, 20-21). VAN Dixhoorn, Chad B. Catecismo Maior de Westminster. Origem e composição. Edit Os Puritanos. Recife, PE, 2012. (páginas 7 a 16). Watson, Thomas. A Fé Cristã. Estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster. Cultura Cristã, São Paulo SP, 2009. (pg 7 a 15). Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Meditação Dominical. O AMOR DE DEUS, Cartas de João.

TEXTO Bíblico. "E o amor é este: que andemos segundo os mandamentos de Deus. Este mandamento, como vocês ouviram desde o princípio, é que vocês vivam nesse amor." (2 João 1.6). MEDITAÇÃO. O Apóstolo Paulo acompanha João e vai direto ao ponto ao escrever para os cristãos da cidade de Roma no primeiro século, definindo que "o amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o cumprimento da lei é o amor." (Rm 13.10). Alguns versos antes na carta, Paulo aproveita pra recordar alguns mandamentos da lei sobre como não fazer o mal ao próximo, afirmando que não matar, não cobiçar e não roubar, assim como todos os outros mandamentos são o resumo do princípio ame a seu próximo como você ama a si mesmo. Tá entendendo? Os apóstolos estão esclarecendo que o verídico conhecimento existencial da Personalidade de Deus e da Pessoa do Filho de Deus vem pela vivência compartilhada dos Mandamentos da Bíblia, junto do Senhor. O resto é filosofia, e mesmo que seja boa, não é o mandamento da vida de Deus. Pois "nisto sabemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos." (1 João 5.2). Então, você vai ter que orar mais, e filosofar menos pra ser um bom discípulo de Cristo, sendo capaz de viver no mundo o verdadeiro Amor de Deus, que está plenamente nos mandamentos, especialmente no sermão do monte. ORAÇÃO. Pai Nosso que está nos céus. Santificado seja o teu nome. Somente o Senhor é Deus e não há outro. Somente a tua Palavra é a verdade e não há outra. Que venha pois o teu reino e a tua vontade sobre nós, pra que sejamos capazes de amar! Pois o Senhor nosso Deus é amor, mas quem não ama com os mandamentos de Deus, também não conhece o Amor do Deus dos mandamentos. Amém! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil.

12 de Outubro. JESUS ABENÇOA AS CRIANÇAS!

TEXTO Bíblico. "Deixem que as crianças venham a mim. Não as impeçam, pois o reino dos céus pertence aos que são como elas." (Mateus 19.14). MEDITAÇÃO. Na época de Jesus as crianças tinham poucos direitos e valor na sociedade. Crianças eram pessoas sem personalidade distinta e sua realidade infantil era ignorada. Por isso mesmo, quando essas crianças se aproximam de Jesus, isto era percebido como um atrapalho para o Cristo e Profeta de Deus. Pois o Mestre das Escrituras não deveria ser perturbado em suas obras e ensinos. Ocorre que o Rabi do conhecimento de Deus aproveitou a boa oportunidade para explicar aos seres humanos o que importa pra Deus. No caso, Deus está interessado em toda humanidade de qualquer idade e condição social, especialmente as crianças, pois o jeito como as crianças observam a vida é um padrão para que os seres humanos possam participar do Reino dos céus. Pois somente aquele que tiver o coração aberto pra receber as verdades de Deus, e somente aquele que tiver a pureza de coração capaz de acreditar nas verdades divinas é que irá viver junto de Deus cada um dos valores celestiais da fé cristã, desde agora até a eternidade. Aproveite esta data comemorativa pra renovar no coração o valor das crianças e adapte o seu olhar e conversa para partilhar a vida junto do "mundo" delas; pois desta mesma forma Jesus faz conosco, ao entrar em nosso cotidiano terreno. Enquanto Ele também nos conduz pra adentrar e partilhar dos ambientes celestiais de Deus Pai. ORAÇÃO. Pai Nosso que está nos céus. Obrigado pelas crianças que o Senhor envia ao mundo através das Mulheres Mães, pois nas crianças enxergamos o olhar e o coração que devemos cultivar diante da tua presença. Que venha o teu Reino e Justiça sobre nossos lares e crianças. Abençoa e protege os pequeninos nestes dias maus. Amém! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

APOLOGÉTICA, Texto 5. Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Apologética do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, de diversos livros e obras, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2024. MÉTODO CLÁSSICO OU TRADICIONAL. Reflexão. Acerca do texto de 1 Pedro 3.15, "santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração", eis que temos um compromisso do cristão diante de Jesus, sendo que, há pensadores e teológos que entendem que "este" compromisso não deverá ser anunciado no momento da apologética, mas sim, deve-se usar "critérios e padrões que o próprio descrente possa aceitar. Assim, lógica, fatos, experiência, razão e coisas como tais se tornariam fontes da verdade." Essa exclusão da autoridade das Escrituras parece ser bom senso, num "raciocínio circular" em que não desenvolvemos o pensamento cristão em argumentos aos de fora; sendo algo que, nessa situação, não iria ocorrer mediante uma proposta de evangelização, pois não se requer para essa conversa que o ouvinte creia e aceite a existência e autoridade de Deus. Para mover o diálogo entre cristãos e não cristãos, busca-se essa neutralidade, em padrões aceitáveis aos de fora, como "(lógica, fato, consistência ou o que seja)". "Esse tipo de apologética é, algumas vezes, chamado de método clássico ou tradicional, dado que reivindica que muitos o defenderam por intermédio da história da igreja, particularmente os apologetas do século 2 (Justino Mártir, Atenágoras, Teófilo e Aristides)" além de Tomás de Aquino (séc 13) e Joseph Butler, (séc 18). Observe que os "apologetas tradicionais" não estão negando o conteúdo e o compromisso cristão em sua comunicação, apenas buscam "um argumento neutro, um que não tenha pressuposições distintamente bíblicas." (Frame, p 14, 2010). No entanto, mesmo reconhecendo valor nesta tradição, o autor entende que a orientação do Apóstolo Pedro requer uma apologética junto de um compromisso diante do senhorio de Cristo. Deve-se santificar a Cristo no coração quando respondemos as questões necessárias. "Em um contexto mais amplo, Pedro está dizendo a seus leitores que façam aquilo que é certo, a despeito da oposição dos incrédulos (vs 13-14)." Pedro entende que a verdade em sua completude deve ser o nosso argumento na apologética. "O senhorio de Cristo não é somente último e inquestionável, não apenas acima e além de todas as autoridades, mas também cobre todas as áreas da vida humana", vindo a orientar todo pensar e refletir, saber e conhecimento. "O ponto não é se os descrentes são simplesmente ignorantes da verdade. Antes, Deus se revelou a cada pessoa com evidente claridade, tanto na criação (Sl 19; Rm 11.18-21) quanto na natureza do homem (Gn 1.26ss). Em certo sentido, o incrédulo conhece a Deus (Rm 1.21). Em algum nível de sua consciência ou inconsciência permanece tal conhecimento. (...) Isso significa não apenas que o apologeta tem de santificar a "Cristo como Senhor" em seu coração, mas também que seu argumento tem de pressupor esse senhorio. Nosso argumento tem de ser uma exposição do conhecimento e da sabedoria baseados no "temor do Senhor", não uma exibição de estultícias da incredulidade". (...) "Nosso testemunho será a sabedoria de Deus ou a estúlticia do mundo. Nada poderá haver no meio delas." (Frame, p. 15-17, 2010). APOLOGÉTICA E EVANGELIZAÇÃO. Como complemento a esse tema, vamos abordar o contéudo de Alister Mcgrath. Segundo ele, a apologética busca conversar sobre temas e questões fundamentais da realidade da sociedade em que vivemos, no objetivo de "mostrar que a fé cristã pode proporcionar respostas significativas a essas questões. Onde está Deus em meio ao sofrimento do mundo? A fé em Deus é racional? (assim) A apologética limpa o terreno para a evangelização, da mesma maneira que João Batista preparou o caminho para vinda de Jesus de Nazaré." (p. 20, 2013). Dessa forma, a apologética purifica o coração e mente para o anúncio da fé cristã, enquanto que a evangelização convoca uma resposta ao evangelho anunciado: "enquanto a apologética tem como alvo assegurar o consentimento, a evangelização quer assegurar o compromisso", conforme David Bosch: "Evangelização é a proclamação da salvação em Cristo aos que não creem nele, chamando-os ao arrependimento e à conversão, anunciando-lhes o perdão dos pecados e convidando-os a se tornar membros vivos da comunidade terrena de Cristo para uma vida de serviço a outras pessoas no poder do Espírito Santo." (McGrath, p. 20, 2013). Neste contexto, a apologética poderá anunciar a coerência e razoabilidade da queda e do pecado, utilizando a história secular, servindo-se ainda, do vazio e distância diante de Deus e conforme sensações de busca e vazio do ser humano. "A tarefa da apologética, portanto, consiste em preparar o caminho para a vinda de Cristo, assim como alguém tira pedras e outros obstáculos da estrada." (p. 20, 2013). "A apologética argumenta, ao passo que a evangelização convida", sendo que o objetivo da apologética é esclarecer dúvidas e tratar enganos, desenvolvendo conteúdos que giram ao redor da vivência e experiência da fé. A apologética não oferece o pão ao faminto, mas demonstra que ele tem fome. Em Lucas 14.15-24, Jesus faz apologética ao esclarecer os ouvintes sobre a realidade de uma festa e do que eles irão encontrar lá, para que desejem ser convidados; conforme Blaise Pascal: "fazer com que as pessoas boas queiram que (a fé cristã) seja verdadeira para depois lhes mostrar que ela, de fato, é" (Mcgrath, p. 21. 2013). A apologética promove o anseio pelas questões e verdades da fé, enquanto a evangelização convida para a experiência da fé diante de Jesus, o Cristo Salvador. "A apologética confirma e proclama quanto o evangelho é plausível e desejável; a evangelização chama as pessoas para que o acolham e partilhem de seus benefícios." A apologética não é evangelização e requer a evangelização, sendo que a apologética tem um objetivo "importante e específico a desempenhar na interação da comunidade cristã com o mundo, além de estimular e desenvolver a fé dos crentes em Cristo." (p. 22, 2013). OBV.* (professor). Nosso conteúdo programático requer estudo introdutório sobre "Métodos da Apologética", e, neste objetivo, indicamos o seguinte link para leitura, além do livro ali exposto sobre o tema: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2012/03/uma-introducao-as-cinco-visoes-sobre-apologetica/. CITAÇÃO. Artigo: (UMA INTRODUÇÃO ÀS CINCO VISÕES SOBRE APOLOGÉTICA). O livro Five Views on Apologetics [Cinco Visões sobre Apologética], editado por Steven B. Cowan, leva o leitor a comparar e contrastar formas diferentes de “fazer” apologética; por Vinícius Musselmam). (*TEXTO COMPLEMENTAR: LUZEIRO, CRER E PENSAR. O que é Apologética). "O objetivo da apologética é responder persuasivamente a objeções honestas que mantém as pessoas longe da fé em Jesus Cristo. O livro Five Views on Apologetics examina o “como fazer” da apologética, colocando cinco visões importantes sob o microscópio: clássica, evidencial, pressuposicional, epistemologia reformada e caso cumulativo. Oferecendo um fórum para apresentação, crítica e defesa, este livro permite que os contribuintes interajam com os pontos de vista diferentes. 4 ª capa, Five Views on Apologetics." Citações iniciais de cada método: "Método Clássico, do artigo: O método clássico é uma abordagem que começa empregando a teologia natural para estabelecer o teísmo como a cosmovisão correta. Após a existência de Deus ter sido assim demonstrada, o método clássico passa para uma apresentação das evidências históricas para a divindade de Cristo, a confiabilidade da Escritura, etc., a fim de mostrar que o Cristianismo é a melhor versão de teísmo, em oposição ao, digamos, judaísmo e islamismo. (*) "A ideia é apresentar provas e evidências da existência de Deus... (e) um dos seus principais objetivos é defender a veracidade teológica do cristianismo... além das evidências para a existência de Deus, ele foca em apresentar a divindade de Cristo e a veracidade da Bíblia... os apologetas clássicos aceitam a validade das provas tradicionais, como por exemplo o argumento moral (senso de bem e mal) que é considerado neste método." (...) O Método Evidencial. O método evidencial tem muito em comum com o método clássico, exceto na resolução do problema com respeito ao valor dos milagres como evidência. O evidencialismo como método apologético pode ser caracterizado como uma abordagem “de um passo”. Os milagres não pressupõem a existência de Deus (como afirmam a maioria dos apologistas clássicos contemporâneos), mas podem servir como um tipo de evidência a favor da existência de Deus. Esse método é bastante eclético em seu uso das várias evidências positivas e críticas negativas, utilizando tanto argumentos filosóficos como históricos. (*) Próximo ao método clássico, mas sem "compromisso direto à teologia cristã", de forma que algumas vezes irá se dedicar a "apresentar evidências racionais... mas sem a cosmovisão Cristã de que Jesus é Deus, por exemplo... O método pode reforçar um deísmo e também o deísmo cristão, trabalhando evidências que reforçam os argumentos de sua veracidade". (...) O Método do Caso Cumulativo. O terceiro dos Quatro Grandes é o método do caso cumulativo. O termo “caso cumulativo” é usado por apologistas de maneiras diferentes daquela que estamos usando neste contexto, mas Basil Mitchell, um antigo proponente dessa visão, deu a esse método tal nome, e assim o usaremos aqui. O leitor cuidadoso sem dúvida observará que esse método pertence à mesma família ampla do método evidencial (e talvez clássico). Contudo, ficará evidente também que como uma estratégia argumentativa, o método do caso cumulativo tem algo distinto a oferecer. De fato, essa abordagem apologética surgiu por causa da insatisfação que alguns filósofos tinham com os outros métodos do tipo evidencial (i.e., os dois primeiros dos Quatro Grandes) (...) (*) Método próximo aos dois anteriores, mas com uma "abordagem exclusiva". Se apresenta como uma "grande tese de defesa, acumulando diversas evidências históricas e lógicas para construir um caso de defesa da fé." O Método Pressuposicional. Devido aos efeitos noéticos do pecado, os pressuposicionalistas geralmente sustentam que não existe terreno comum suficiente entre crentes e incrédulos que permitiria os seguidores dos três métodos anteriores alcançar os seus objetivos. O apologista deve simplesmente pressupor a verdade do cristianismo como o ponto de partida apropriado na apologética. Aqui a revelação cristã nas Escrituras é o quadro através do qual toda a experiência é interpretada e toda a verdade é conhecida. Várias evidências e argumentos podem ser estabelecidos em favor da verdade do cristianismo, mas esses no mínimo pressupõem implicitamente premissas que podem ser verdadeiras apenas se o cristianismo for verdadeiro. Os pressuposicionalistas tentam, então, argumentar transcendentalmente. Isto é, eles argumentam que todo significado e pensamento – na verdade, todo fato – pressupõe logicamente o Deus das Escrituras. (*) Há uma pressuposição de que o Cristianismo deve ser apresentado como um sistema de pensamento suficiente e absoluto em si mesmo, "ou seja, ele não precisa de fatores externos para comprova-lo... já que a verdade Bíblica será superior a qualquer outro método de raciocínio, seja baseado em sensações ou razão... A verdade de que Deus Todo Poderoso criou o universo é tão evidente que são os ateus que precisam argumentar em contrário...". (...) A Abordagem da Epistemologia Reformada “Desde o Iluminismo”, diz Clark, “tem havido uma demanda para expor todas as nossas crenças às críticas esquadrinhadoras da razão” (…). Dizem-nos que se uma crença não é apoiada por evidência de algum tipo, é irracional crer nela. A epistemologia reformada desafia essa suposição epistemológica “evidencialista”. Aqueles que defendem essa visão sustentam que é perfeitamente racional uma pessoa crer em muitas coisas sem evidência. De maneira mais impressionante, eles argumentam que a crença em Deus não requer o apoio de evidência ou argumento para que isso seja racional. A apologista da epistemologia reformada não evita necessariamente estabelecer argumentos positivos em defesa do cristianismo, mas ele argumentará que tais argumentos não são necessários para a fé racional. Se Calvino está correto que os seres humanos nascem com um sensus divinitatis (senso do divino) inato, então as pessoas podem correta e racionalmente chegar a ter uma crença em Deus imediatamente, sem o auxílio de evidências. Para o epistemologista reformado, então, o foco tende a estar na apologética negativa ou defensiva, à medida que desafios à crença teísta são encontrados. No lado positivo, contudo, o epistemologista reformado irá, nas palavras de Clark, “encorajar os incrédulos a se colocarem em situações onde as pessoas são tipicamente apanhadas pela crença em Deus” (…), tentando despertar nelas seu senso latente do divino. (...) (Fonte: Cowan, Steven B. (editor), Five Views on Apologetics, Zondervan, Grand Rapids, Michigan, 2000. Páginas 15-20. Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – abril/2011 – monergismo.com). (*) "Esse método diz que a crença em Deus é algo natural do ser humano, ou seja, é uma crença básica e que não precisa de defesa. Esse argumento encontra base bíblica nos dois primeiros capítulos da carta de Paulo aos Romanos. A ideia ganhou força com João Calvino, na Reforma Protestante, que dizia que todo homem nasce com um senso do divino." APOLOGÉTICA CONTEMPORÂNEA. A Veracidade da Fé Cristã. (William Lane Craig). Citações. "QUE É APOLOGÉTICA? APOLOGÉTICA (Do grego apologia, "defesa") é o ramo da teologia cristã que procura apresentar uma explicação racional para as verdades afirmadas pela fé cristã. (...) A apologética serve especificamente para mostrar aos incrédulos a veracidade da fé cristã, para fortalecer essa fé nos salvos e para estudar e apresentar as ligações entre a doutrina cristã e outras verdades. Como disciplina teórica, portanto, a apologética não tem como alvo principal ensinar a responder a questionamentos, a debater ou evangelizar, mas como ciência ela ajuda a fazer tudo isso na prática. Isso significa que um curso de apologética não tem o propósito de ensinar você a responder "assim e assado" quando alguém pergunta "isso e aquilo". (p. 16, 2012). (...) "Deixe-me expor três papéis vitais que a disciplina da apologética tem hoje. 1. Formar a cultura. Os cristãos precisam enxergar além dos seus contatos evangelísticos imediatos para captar o quadro mais amplo do pensamento e cultura ocidentais. Em geral, a cultura ocidental é profundamente pós-cristã. É o produto do Iluminismo, que introduziu na cultura europeia o fermento do secularismo que a essa altura já permeou toda a sociedade ocidental. (ideias iluministas: livre pensamento e conhecimento somente pela razão; a teologia não é fonte de conhecimento; razão e religião são incompatíveis; a realidade dada pelas ciências genuínas é conhecimento amplo e natural). "Por que essas considerações sobre cultura são importantes? Simplesmente porque o evangelho nunca é ouvido isoladamente. Sempre é ouvido contra o pano de fundo do ambiente cultural em que a pessoa vive. (A pessoa que nasce num ambiente cultural cristão entende que Jesus é uma autoridade viável, enquanto que outras o colocam no patamar de fadas e duendes). A Europa tem 10% de cidadãos cristãos e metade destes tem orientação evangélica, enquanto que na América do Norte os cristãos superam mais da metade da população. "Como resultado, o evangelismo é incomensuravelmente mais difícil na Europa do que nos Estados Unidos. (...) (Assim, para que os Estados Unidos não sigam o Canadá e alcancem a Europa, "é imperativo que formemos todo o clima intelectual da nossa cultura de tal maneira que o cristianismo continue sendo uma opção viva para homens e mulheres pensantes. É por essa razão que os cristãos que depreciam o valor da apologética "porque ninguém vêm a Cristo por meio de argumentos" são tão míopes. (...) A tarefa mais ampla da apologética cristã é ajudar a criar e manter um ambiente cultural em que o evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para homens e mulheres pensantes." (p. 16-17). "No seu artigo "Christianity and Culture", na véspera da controvérsia fundamentalista, J. Gresham Machen, o grande teólogo de Princeton, advertiu solenemente: "Ideias falsas são o maior obstáculo à recepção do evangelho. Podemos pregar com o fervor de um reformador e mesmo assim ganhar somente alguém que está vagando aqui e acolá, se permitirmos que todo o pensamento coletivo da nação ou do mundo seja controlado por ideias que, pela força irresistível da lógica, impedem que o cristianismo seja considerado algo mais do que um engano inofensivo". (p. 17). (...) "Na Europa vimos o resultado amargo da secularização, que agora ameaça a América do Norte. Felizmente, nos Estados Unidos em anos recentes emergiu dos cubículos fundamentalistas um evangelicalismo revitalizado que começou a enfrentar com seriedade o desafio de Machen. Estamos vivendo uma época em que a filosofia cristã está experimentando um renascimento genuíno, revigorando a teologia natural, numa época em que a ciência está mais aberta à aceitação da existência de um Criador e Designer transcendental do cosmo do que em qualquer época de memória recente, e numa época em que a crítica bíblica está empreendendo uma nova busca do Jesus histórico que trata os evangelhos seriamente como fontes históricas valiosas para a vida de Jesus e tem confirmado as linhas principais do retrato de Jesus pintado nos Evangelhos. Estamos bem situados intelectualmente para ajudar a reformular a nossa cultura de maneira tal a recuperar o terreno perdido, para que o evangelho possa ser ouvido como uma opção viável para as pessoas pensantes. Imensas portas de oportunidades estão abertas agora para nós". (p. 17-18, 2012). CONFERÊNCIA MISSIONÁRIA IPB DE CURITIBA, Outubro 2023. ISAAC ZION. Oficina: Resumo e citações. Princípios e Práticas: MISSÃO STEIGER. "Alcançar e discipular a cultura jovem global". "Jovens que dificilmente entrariam numa igreja local em busca de respostas". 1. Buscar a cultura dos que não viriam para a igreja; 2. Não evangelizar, mas Sim compartilhar Jesus, indo de coração quebrantado para o encontro com essas pessoas; 3. Ser obedientes à grande comissão e comprometidos após movimentos de evangelização, já que Jesus nos chama para "caminhar" um a um; 4. Proclamar de forma criativa em situações públicas, dispostos a compartilhar o pensamento da Cruz de Cristo, estando disponíveis para ouvir e dedicar atenção às pessoas após anunciar o Evangelho ou nossa Fé, revelando interesse em estar ali para conversar sobre temas de significado e sentido; 5. É preciso se envolver nas notícias comuns e más notícias das pessoas a fim de falar das Boas notícias da Boa Nova; 6. Observar o modo como as pessoas estão "cansadas" durante a semana e utilizam a sexta-feira para "anestesiar a dor", observando e olhando para o movimento de Deus na cidade, estando em comunhão, oração e petição para ter amor aos perdidos; 7. O diálogo de Jesus com a samaritana revela interesse em ouvir, antes de falar; 8. Pregar com relevância requer entender a cosmovisão do grupo/população em que estou; 8. É precis estar no centro urbano com intencionalidade para comunicar Jesus... no clube, faculdade, trabalho...; 9. Faça as perguntas certas: Jesus e a Samaritana; 10. Deve-se buscar a Deus e pedir sabedoria para aproveitar as oportunidades de estar junto e ter comunhão diante de Deus com as pessoas; 11. Questões importantes pra conversar: O propósito da vida? O valor da espiritualidade? O que ocorre na morte? 12. Paulo entra no contexto da cidade e fala da cosmovisão de Deus em Atos 17; 13. O relacionamento deve ser uma caminhada que gera discipulado, perguntas e reflexão, interesse em compartilhar temas da fé; 14. Deve-se estar preparado para ficar atento e interessado nas pessoas, superando a ansiedade e angústia das questões pessoais; 15. Sensibilidade diante do Espírito Santo; 16. Oferecer uma oração é algo valioso e importante sempre; 17. Atenção para falar a linguagem das pessoas, de forma simples, ao invés da linguagem da igreja; 17. Orar junto de forma inclusiva, com petições em que nossa vida também conta; 18. Nas ruas, orar de olhos abertos, e até caminhando; 19. Dar um fechamento após a oração, abrindo oportunidade de continuar a conversa e caminhada, na busca de relacionamento; 20. Nessa perspectiva, os voluntários de um Impacto ou de um projeto de evangelização precisam estar treinados nestes processos. REFERÊNCIAS. CRAIG, William Lane. Apologética Contemporânea. tradução A. G. Mendes, Hans Udo Fuchs, Valdemar Kroker. - 2. ed. - São Paulo: Vida Nova, 2012. AUTOR. Ivan S Rüppell Jr é professor do Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba, e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.