sexta-feira, 17 de maio de 2024

COSMOVISÃO CALVINISTA. Fundamentos e Desenvolvimento. Citações.

Esse conteúdo foi organizado com fins somente didáticos para a Disciplina Cosmovisão Calvinista do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba, 2024. Prof Ivan S Rüppell Jr. "Uma vez que o evangelho diz respeito ao governo de Deus sobre toda a criação, todas as nações e toda a vida humana, a missão dos seguidores de Jesus é tão vasta quanto a própria criação. Eles receberam a comissão de testemunhar acerca do evangelho em todas as áreas da vida pública - nos negócios, na vida acadêmica, na política, na família, na justiça criminal, nas artes, nos meios de comunicação - e em todos os outros aspectos da experiência humana." (p. 29, Goheen, 2016). "Como aqueles que abraçaram o evangelho, somos membros de uma comunidade que crê que a Bíblia é a verdadeira narrativa do mundo. Mas, como membros que vivem e participam na comunidade cultural, também fazemos parte da outra narrativa que há muito tempo vem moldando a cultura ocidental. Não podemos simplesmente optar por nos isolar da cultura ao redor... Nossa corporificação do reino de Deus precisa assumir forma cultural em nosso tempo e lugar específicos." (p; 31-32, 2016). "Mais de um século atrás, dois pensadores cristãos vieram a perceber, como aconteceu com Newgbin, que a narrativa cultural do Ocidente estava solapando a narrativa bíblica como a base da vida na comunidade cristã e, por conseguinte, estava obstruindo um embate missionário autêntico entre o evangelho e a cultura... James Orr e Abraham Kuyper chamaram a igreja de volta à afirmação de Cristo de que só o evangelho oferece uma visão do mundo verdadeira e abrangente." (p. 33, 2016). "De acordo com Orr, uma cosmovisão cristã é cristocêntrica, centralizada em Cristo como o cumprimento da história da salvação e adota (como o próprio Cristo fez) a perspectiva do Antigo Testamento acerca da criação." (p. 39, 2016). "Para Kuyper, a única abordagem cristã adequada diante do desafio do modernismo se encontrava no calvinismo e, por isso, seu projeto particular era enunciar com clareza as implicações de uma cosmovisão calvinista para a religião, a política, a ciência e a arte." (p. 40, 2016). "A tradição que surgiu do pensamento de Kuyper... é conhecida como "neocalvinismo", e seus principais temas são: - Na redenção de Deus em Cristo e por meio dela, a graça restaura a natureza, A graça é como remédio que estabelece a saúde de um corpo doente. A obra salvífica de Cristo está voltada para a criação como um todo, a fim de restaurá-la para que alcance o objetivo que Deus sempre teve em mente para ela. - Deus é soberano e, pela sua lei e palavra, ordena toda a realidade. - O mandato cultural dado em Gênesis 1.26-28 (de administrar regiamente a criação) tem relevância contínua: Deus chama a humanidade a desenvolver, para a glória dele, a criação dele ao longo da história." (p. 42). "Nossa definição operacional de cosmovisão. (...) `Cosmovisão é uma enuciação das crenças básicas embutidas em uma grande narrativa compartilhada, as quais estão arraigadas em um compromisso de fé e dão forma e sentido à totalidade de nossa vida individual e coletiva`." (p. 52). "Como Eclesiastes 3.11 indica, todos os seres humanos se apropriam, de uma forma ou de outra, de uma grande narrativa, porque somos criaturas e não o Criador. Nosso coração, o âmago religioso de nosso ser, está voltado ou para o Deus vivo ou para um ídolo, e a grande narrativa em que vivemos é uma expressão dessa inclinação de nosso coração." (p. 53). Relação entre Escrituras e Cosmovisão. REFERÊNCIAS. Gohee, Michael e Bartholomew, Craig. Introdução à cosmovisão cristã. Vida Nova, SP, 2016.

COSMOV. CALVINISTA, SPS. Soberania de Deus e Responsabilidade Humana.

“É suficiente que saibamos que a vocação de Deus é como um princípio e fundamento baseados no qual podemos e devemos governar bem todas as coisas (...) Além de tudo mais, se não tivermos a nossa vocação como uma regra permanente, não poderá haver clara consonância e correspondência entre as diversas partes de nossa vida.” (João Calvino) (Institutas, p 225, 2006). (...) Para Calvino, a sabedoria verdadeira acerca da existência consiste no conhecimento que temos de Deus, e no conhecimento que temos de nós mesmos. Sendo que “conhecer a Deus” significa saber que Ele é nosso Criador, além de ser o sustentador de tudo que há através de sua providência, governando a história com sabedoria, justiça e cuidado amoroso.” (Wiles, p 25, 1994). O primeiro conhecimento bíblico que adquirimos ao olhar para Deus aponta o princípio com que Deus governa a história e a sociedade dos homens, o qual irá indicar aos cristãos o modo em que devem perceber e praticar a sua responsabilidade de mandato social. (...) Observe que o conhecimento desse princípio da Providência irá nos ensinar o conteúdo mais amplo acerca do modo como Deus é o Criador do Universo, dando-nos a compreensão da maneira como Ele sustenta, governa e preserva tudo que existe, movendo toda providência segundo o seu poder. Portanto, a filosofia e razão dos homens que define Deus como sendo apenas a causa primária da criação, vai limitar o nosso conhecimento da providência, enquanto também nos fará desprezar a bondade que o Senhor dedica a todas as suas criaturas. (Wiles, p 87-89, 1984). Um segundo aspecto importante de nossa compreensão do tema, é descobrir que no instante em que Deus governa todas as coisas pela sua providência, Ele vai atuar na história através de causas secundárias, como também, sem estas causas e até contrariamente a elas. Ele é o Soberano Senhor! Calvino utiliza o conselho bíblico de Salomão em Provérbios 16.9, para expor o modo como os decretos da governança de Deus sobre a existência não devem nos impedir de assumir uma atitude de “providência pessoal” no dia a dia. Pois foi o próprio Deus que nos deu tanto a responsabilidade de cuidar de nossas vidas, como igualmente nos capacitou com tudo que é necessário para preserva-la, já que nos orienta a prever perigos, agir com precaução e utilizar remédios. Portanto, ao perceber que os seres humanos se tornam uma das “causas secundárias” da providência pelas quais Deus governa a terra, devemos assumir a responsabilidade de zelar por nossas vidas, usando os meios fornecidos pelo Senhor, a fim de não sermos negligentes neste conhecimento. Nesse contexto, assim que o cristão reconhece que tudo está debaixo da ordenação de Deus, também dedica o devido valor e atenção às causas secundárias, sabendo que os meios cotidianos de cuidar de sua segurança foram dados pelo Senhor. A partir disso, irá utilizar os meios divinos como instrumentos da providência do Senhor para cuidar da humanidade, vindo a abraçar e assumir, tanto sua dependência de Deus, como a sua responsabilidade no mandato social cristão diante do mundo. (Wiles, p 95-98, 1984). Estes dois elementos do Governo de Deus sobre a Terra revelam tanto o cuidado do Senhor sobre a história, como a responsabilidade dos cristãos, já que estes recebem de Deus um mandato para atuar na sociedade dos homens. Afinal, o Senhor irá agir no mundo a partir da vida e personalidade de cada fiel, que irão servi-lo como agentes das “causas secundárias” de sua Providência. Um terceiro aspecto da governança bendita de Deus sobre o mundo surge no conhecimento da importância de sua lei moral, como sendo um elemento utilizado para instruir o homem, resguardar a sociedade do mal e propor o conhecimento da necessidade do Evangelho para a salvação de todo aquele que crê! Segundo Calvino, a Bíblia ensina que a lei moral de Deus tem três propósitos na história da humanidade e sociedade dos homens. Em primeiro lugar, o teólogo entende que a lei moral divina serve para anunciar e formalizar a culpa de todo homem diante de Deus, no objetivo de gerar temor nos seres humanos, algo que irá conduzi-los a buscar o conhecimento da misericórdia do Senhor; conforme se anuncia no Evangelho de Jesus Cristo. A lei moral de Deus serve, então, para revelar a justiça de Deus, pois somente esta convence o homem de sua própria injustiça. Sendo que, somente os padrões da moralidade divina são capazes de demonstrar ao homem o seu estado de fraqueza e de condenação; conforme explica o Apóstolo Paulo: “pois eu não teria conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.” E, conforme Agostinho, “a lei serve para convencer o homem da sua fraqueza e a compeli-lo a orar pela graça curadora que há em Cristo.” (Wiles, p 149, 1984). Esse é um aspecto relevante acerca da responsabilidade social do cristão, pois a sociedade dos homens somente terá conhecimento da justiça do caráter de Deus, caso os cristãos venham anunciar tal verdade moral, mediante toda cultura e política, artes e educação que tiverem sob sua responsabilidade para praticar e desenvolver socialmente. O segundo elemento de importância da Lei moral divina orienta que ela serve para Deus governar a história pela sua Providência, no propósito de refrear a maldade dos atos dos homens que não se preocupam com o que é certo e com o que é errado. A lei moral de Deus serve para reprimir os homens através de freios e limites, como uma retidão necessária à toda humanidade, pois se não existisse esta proteção e resguardo da sociedade, o mundo se tornaria um lugar totalmente selvagem. Esse segundo aspecto complementa a responsabilidade social dos cristãos enunciada no primeiro, revelando o modo como leis civis originárias de valores cristãos irão oportunamente refrear a natureza humana na sociedade, segundo os padrões da justiça e moralidade de Deus. Um terceiro aspecto importante do anúncio da lei de Deus é que a sua instrução é útil para ensinar os cristãos qual é a vontade de Deus para eles, como um elemento de apoio na sua jornada existencial. Pois o Espírito de Deus vive hoje em seus corações, a fim de conduzi-los no conhecimento e obediência dos mandamentos do Senhor. (Wiles, p 149, 1984). Um outro elemento surge a partir de um olhar mais amplo acerca da existência, indicando a forma em que a lei moral divina se torna o instrumento utilizado para gerar um bom conhecimento da Pessoa de Deus, à toda humanidade. Pois a lei moral de Deus constrange os homens a adora-lo, enquanto também os conduz à humildade, sobre si mesmos. Calvino esclarece que a própria consciência do ser destaca a maneira em que os princípios morais de Deus foram escritos no interior e coração do homem. No entanto, somente a lei divina irá dar um testemunho claro e seguro acerca do certo e errado para a humanidade, já que a lei interior é insuficiente para fazer isso, em razão de nossa ignorância e vaidade. Nessa situação, os homens poderão admitir que estão longe da vontade de Deus, a cada vez que puderem comparar as suas vidas diante das exigências da lei, algo que também irá conduzi-los a buscar a misericórdia divina como um recanto de segurança. (Wiles, p 151-153, 1984). Após destacar os três aspectos de importância da lei moral bíblica no exercício do governo da Providência sobre a humanidade, e após esclarecer o valor da lei perante a consciência do homem, a fim de também convoca-lo a conhecer a misericórdia de Deus no Evangelho; Calvino apresenta o modo como os 10 Mandamentos são os fundamentos da Lei moral de Deus na história. (...) Calvino recorda a importância de nos relacionarmos perante a humanidade segundo os padrões morais de Cristo, pois as exortações morais provenientes dos filósofos nos mandam viver a vida conforme é apropriado à natureza humana. Algo impróprio para ser praticado ou defendido pelos cristãos, já que afora o fato de somente as Escrituras ensinarem o exemplo de Jesus aos homens, todos aqueles que seguem o conteúdo dos filósofos não irão carregar ou ensinar nada de Cristo, além do título. Para Calvino, a doutrina dos filósofos orienta a maneira em que o homem será governado pela razão, enquanto que a filosofia cristã afirma que a nossa racionalidade deve estar submetida ao Espírito Santo, no propósito de que possamos viver em Cristo, e não mais, em nós mesmos. (Wiles, p 237-239, 1984). Citação final: “Se houve qualquer movimento religioso, no século 16, que tenha tido uma atitude afirmativa em relação ao mundo, esse foi o Calvinismo.” (Alister McGrath) (p 249, 2005). ÉTICA SOCIAL DO CALVINISMO HOLANDÊS. Este texto traz uma Resenha/Resumo com objetivos didáticos, do artigo, "Nicholas Wolterstorff e a Ética Social do Calvinismo Holandês", de Luiz Roberto França de Mattos, do livro: Cosmovisão Cristã e Transformação, Guilherme Vieira Ribeiro de Carvalho (org) - Viçosa, MG : Ultimato, 2006. Segundo nosso autor, Luiz Roberto, "o objetivo primário... é introduzir o pensamento da escola calvinista holandesa como base na qual Nicholas Wolterstorff desenvolve sua ética social." Wolterstorff foi bacharel em Artes Liberais e Phd em Filosofia, vindo a assumir como Professor de Teologia Filosófica, durante 30 anos no Calvin College. Sobre o termo "calvinismo holandês", o destaque do autor esclarece sua associação com a expressão "neo-calvinismo", sendo um movimento de retorno ao pensamento da tradição calvinista, que houve na Holanda em meados do século 19, na liderança de Abraham Kuyper e Herman Bavinck, tendo por sucessores no decorrer do século 20, Herman Dooyeweerd e ainda, Nicholas Wolterstorff. São muitos os temas refletidos e publicados por Wolterstorff, desde Teologia até Estética, e Educação, com destaque especial relacionado nesta resenha, para os textos socio-políticos, além das leituras das Cartas de Kuyper, proferidas na Universidade de Amsterdâ, em 1981. No destaque do autor, "a ética social de Wolterstorff será avaliada... com base... (nas) esferas sociocultural, econômica e religiosa", o que irá auxiliar no entendimento de sua visão da socidade moderna e igualmente, suas proposições para a mesma. O primeiro tópico do artigo traz um tema central do pensamento calvinista acerca das sociedades; "Sociedades Humanas: Sociedades Decaídas e Necessitadas de Reforma." Neste sentido, o princípio base da observação da realidade social humana requer o entendimento de que as mesmas "estão alienadas de Deus", gerando um desenvolvimento oriundo da vontade dos homens, o qual gera uma sociedade "decaída, necessitada de reforma; sendo este, um pensamento "consistente com a tradição calvinista e puritana". (...) O Modelo Econômico para as nações, que tem sido orientado pela modernidade é criticado por Wolterstorff, que entende que os dois princípios deste não são inteiramente verdadeiros e válidos. Quais sejam, de que todas as sociedades tem as condições de alcançar progresso sem que isto ocorra em meio a mudanças naquelas que já alcançaram; e, de que a falta de desenvolvimento numa certa realidade são oriundas tão somente de situações específicas daquela sociedade. Assim, essa chamada "teoria da modernização" é refletida de modo negativo pelo pensador holandês, posto que "a falta de desenvolvimento entre os (países) não desenvolvidos não pode ser explicada sem levar em conta o impacto das áreas altamente desenvolvidas sobre as não desenvolvidas." (p. 222). Wolterstorff entende como razoável, que deveria existir "uma economia integrada unificando nações distintas", vindo a criticar o modelo em que o terceiro mundo tem sido usurpado em favor do progresso do primeiro mundo. Neste sentido, o mundo como um todo observa uma distribuição de valores e capitais, que se caracteriza pela supremacia das áreas centrais diante das periféricas, nas quais acontece uma "preponderância econômica no sistema global, como consequência da concentração de riqueza." (p. 222). (...) Wolterstorff cita os três valores destacados por Dooyeweerd nessa relação de desenvolvimento social, os quais tem sido um conteúdo do neocalvinismo, oriundo do pensamento reformado. Primeiro, cada uma destas esferas da vida deve entender bem a sua natureza e realidade; segundo, instituições de esferas distintas não podem agir com domínio nas áreas das outras, posto que sua ação irá corromper e distorcer aquela área; e, terceiro, cabe ao seres humanos perceber e trazer à realidade os "potenciais da criação inerentes a cada esfera." (p. 224). (...) Para Wolterstorff, os cristãos calvinistas "tem um papel fundamental na reforma da ordem social", sendo que esse papel tem base nas tradições puritanas e calvinistas, posto que todo conhecimento acerca de Deus, para Calvino, orienta uma "resposta apropriada às suas obras." (...) "Esta resposta, brotando da gratidão, deve ser exercitada por todas as ocupações na sociedade", já que todas elas tem valor essencial no desenvolvimento das sociedades. (p. 227). A partir disso, o Shalom e paz social que agrada a Deus, pode vir a ocorrer a partir de três aspectos: acerca do modelo sócio-politico-cultural, cada ser humano dedicado a uma devida ocupação social deverá desenvolver sua atividade tendo por objetivo a glória de Deus, visando ao bem comum. Sendo que cada nação poderá ser flexível na escolha de seu modelo econômico e social, desde que este "permita o desenvolvimento dos potenciais da criação": "qualquer sistema sociopolítico que permita o florescimento da cultura em áreas como as esferas de poder da ciência, arte, Estado, indústria, comércio, escola e organizações voluntárias, para usar alguns dos exemplos mencionados por Dooyeweerd, deve ser considerado aceitável." (p. 230). O Modelo Econômico oriundo da tradição neocalvinista respeita tanto a realidade de que o homem deve dominar a criação, como também, que a sua utilização deverá ocorrer segundo e para o bom desenvolvimento de seus potenciais. De modo que as atividades e profissões ligadas à indústria e comércio deverão ser praticadas perante a face de Deus, havendo o devido cuidado para que a esfera econômica não venha a dominar sobre as outras esferas da vida. A área da economia deve estar "genuinamente aberta para as normas de outras esferas", em que deve haver liberdade de desenvolvimento e busca de regulamentação das atividades. "A visão de Wolterstorff é de uma sociedade cujas instituições servem à causa da justiça e do shalom. Trata-se de uma visão social caracterizada por relações harmônicas com outros seres humanos, e com a natureza, bem como uma forte preocupação com o pobre." (p. 231). Desta forma, surge a crítica tanto de um sistema político que determina igualdade retirando de ricos para dar aos pobres, como igualmente, críticas para um sistema que libera grandemente a atuação econômica sobre a sociedade. Neste contexto, "arranjos socioeconômicos deveriam necessariamente assegurar que outros seres humanos sejam "adequadamente sustentados em sua existência." (...) "De qualquer modo, o regime socioeconômico adotado deve garantir que o povo seja protegido da perda de seu sustento, evitando, simultaneamente, a construção de estruturas opressivas." (p. 232-233). Acerca do modelo religioso, a visão neocalvinista propõe o equilíbrio das atividades, em respeito às realidades: "O modo cristão de ser-no-mundo é a resposta apropriada, uma resposta que incorpora tanto gratidão a Deus quanto o cuidado responsável pela criação divina. Uma vida de gratidão, expressa pela alternância rítmica de trabalho e adoração encontra-se no âmago do modelo religioso proposto por Wolterstorff para uma sociedade que persegue shalom." (p. 233). Conclusão. Wolterstorff reflete um pensamento diferenciado da "teoria da dependência" (sobre o abuso econômico do primeiro mundo definir as sociedades do terceiro mundo), posto que, amplia o entendimento da realidade da sociedade a partir "da adoção de uma perspectiva neocalvinista da relação entre seres humanos e a criação"; pois a humanidade deve dominar a criação no desenvolvimento de ambos os potenciais, seja da natureza, seja do ser. (p. 234). "Esta atividade é propriamente traduzida por mordomia, que torna claro que seres humanos são chamados a governar sobre a criação, embora conscientes de que tal criação não pertence a eles, mas a Deus. Este governo envolve todas as áreas da vida nas quais os seres humanos devem expressar sua gratidão, por meio de suas vocações terrenas, com o objetivo último de dar glória a Deus." (p. 234). "A ênfase neocalvinista no florescimento de diferentes esferas de poder, cada qual com seu conjunto de normas e com autonomia em relação às demais", busca desenvolver a necessária liberdade na economia e tecnologia, mercado e propriedades, junto de uma capacidade de regulamentação destas atividades. Sendo que, "a visão de Wolterstorff acerca de nações se esforçando cooperativamente por shalom é um desafio e um chamado à responsabilidade". O que gera a necessidade de apresentar uma proposição de como a "ética socioeconômica neocalvinista" poderia se tornar um projeto viável, diante da realidade dos temas sociais contemporâneos, a fim de que o shalom social surja em nossas sociedades. (p. 235). Referências. BÍBLIA, Sagrada, NVT. 1 ed – São Paulo : Mundo Cristão, 2016. _______, de Estudo de Genebra. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 1999. CALVINO, João. As Institutas. Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006. _________, A Verdadeira Vida Cristã. Novo Século, São Paulo, 2001. Mattos, Luiz Roberto França. Cosmovisão Cristã e Transformação. Artigo: Nicholas Woltrstorff e a Ética Social do Calvinismo Holandês. (org. Guilherme Vieira Ribeiro de Carvalho, Viçosa, MG: Edit. Ultimato, 2006). McGRATH, Alister E. Teologia, sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes. – São Paulo: Shedd Publicações, 2005 WILES, J. P. As Institutas da Religião Cristã – um resumo – João Calvino. Tradução do inglês Gordon Chown. Primeira edição em português: 1984. Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo – SP. AUTOR: Ivan S Rüppell Jr é ministro da IPB e professor do Sem. Presb. do Sul - extensão Curitiba.

terça-feira, 14 de maio de 2024

SÍMBOLOS DE FÉ. SPS 2024. Necessidade e Relevância.

Conteúdo organizado para fins didáticos da Disciplina Símbolos de Fé do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. Prof. Ivan S Rüppell Jr. I. A QUESTÃO DA NECESSIDADE. "... Devemos nos reportar ao Novo Testamento. Este contém claras e sérias admoestações dos apóstolos associadas à preservação da ortodoxia e à genuidade do testemunho da fé ao ensejo da celebração dos sacramentos. E junto a essas declarações encontramos vários modelos de declaração de fé...". (p 18, Simões, 2002). 1. Formulações unitárias: Mt 16.16, Jo 1.49, Jo 20.28, I Co 15.3-8, I Tm 3.16. Form. binitárias: Atos 8.37, Rm 10.9, I Co 8.6, I Tm 2.5-6, Hb 6.1-2, I Jo 4.15. Form. trinitárias: Mt 28.19, I Co 6.11, I Pe 1. 1-2, 2.21-25, 3. 15-22." Um destaque de busca de unidade de fé em concílio de líderes está expressa no livro de Atos, cap. 15, sobre o tema da circuncisão diante dos gentios convertidos, com a questão de Paulo e Barnabé sendo enviada a Jerusalém. (p. 20). Sendo importante anotar que, "desde a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém (Atos 15) até ao Concílio de Nicéia (325 AD), quando surgiu o primeiro credo ecumênico da igreja Cristã, foram quase três séculos de controvérsias entre bispos, presbíteros e outros mestres no seu seio", sendo que além das doutrinas, igualmente o tema da autoridade e legitimidade apostólica na formação das Escrituras foi tratado pelas lideranças da igreja, posto que, "a genuidade do ensino apostólico, também chamado de tradição apostólica, estava sob risco com o passar dos tempos e o multiplicar das concepções." Segue destaque de J Kelly, prof de Oxford: "O próprio Deus, reconheceram todos os teólogos antigos, foi o autor último da revelação; mas Ele a comissionou a profetas e legisladores inspirados, sobretudo aos apóstolos os quais foram testemunhas oculares do verbo encarnado, e eles passaram adiante à Igreja... (e) os bispos que se preocupavam com a fidelidade à Escritura e sua correta interpretação... tomaram emprestado de um termo grego clássico, ortodoxein, o vocábulo latino ortodoxia, que significa "ciência correta" (ortos, certo e doxa, opinião, de dokmazô); assim, eles o aplicaram aos ensinos bíblicos e à tradição apostólica. Com tal intuito, buscavam salientar a distinção dos que permaneciam fiéis com relação aos que estavam "em desacordo com a doutrina que aprendestes" (Romanos 16.17). (p. 21-22). Nesse contexto, "as regras de Fé e Confissões Batismais que encontramos entre os escritores eclesiásticos do segundo e terceiro séculos marcam a transição da Bíblia para os Credos Ecumênicos. Elas contém aproximadamente todos os artigos dos Credos Apostólico e Niceno, e algumas são mesmo mais completas, especialmente as do Oriente." (p. 24, Simões apud Schaff, Philip. The Creeds of Christendom). II. A NECESSIDADE dos Credos. "... a nova fase, que viria a ser inaugurada em Nicéia (325. AD), sem dúvida alguma tornaria os credos elementos responsáveis por estabelecer a identidade da crença e da interpretação do que ensina a Bíblia dentro de um grupo de cristãos. Por conseguinte, desempenharam o mesmo papel no tocante à distinção em relação aos cristãos que divergiam quanto a uma única identidade de crença e uma única linha de interpretação." (p. 29). O quarto século era marcado por controvérsias e o surgimento de entendimentos muito diferentes de doutrina dentro do Cristianismo, de forma que o próprio surgimento das heresias tornou necessário o desenvolvimento dos Credos: "A necessidade dos credos repousa numa quarta razão - a da preservação da pureza e da doutrina... Sem Ário, Atanásio não teria completado a grande obra de sua vida. Agostinho nunca teria extraído da Palavra de Deus suas profundas conclusões sobre a graça, o livre-arbítrio, predestinação, e a igreja, sem um Donato e um Pelágio... Portanto, desenvolveram-se as confissões não apenas com forma de unidade, mas também de pureza." (p. 29). III. A NECESSIDADE DAS Confissões. Durante a Reforma o embate doutrinal e as diferenças de entendimento entre os que buscavam reformas e os que eram contrários - utilizando para isso definições de fé históricas, tornou necessária a elaboração das Confissões de Fé dos Reformadores. "Assim, tornaram-se conhecidos dois distintos períodos dogmáticos no Cristianismo: o período dos Credos e o período das Confissões; o primeiro foi característico dos séculos quatro e cinco... sendo o segundo característico da Reforma." Os temas e necessidades desse segundo período foram: "a distinção do Catolicismo Romano, a identificação nacional das novas igrejas da Reforma, e a carência acentuada de maior aprofundamento e extensão nas definições credais." Segundo Norman Sheperd, o principal motivo para existirem confissões é a "identificação da igreja como tal no mundo". (p. 39-40). Assim, "a confissão se torna um padrão para favorecer aos crentes demonstrarem ao mundo o que a igreja entende estar revelado nas Escrituras", e se faz guia para anunciar e dar testemunho do que se acredita, de modo que solucione a dúvida e confusão dos incrédulos. "Isto se tornou particularmente necessário no período da Reforma, uma vez que os reformadores estavam se posicionando perante uma igreja cristã já existente. Esse posicionamento, a princípio, significou distinção ao nível interno da Igreja Romana..." (já que Lutero postou as 95 teses quando era monge agostiniano e não pretendia ruptura - de forma que estes doc. junto aos de Melanchton vieram a trazer as primeiras distinções entre a crença romana e dos protestantes). (p. 40). Um aspecto determinante do período da Reforma foi o surgimento das igrejas nacionais que se libertavam do domínio do império romano, de modo que cada igreja que surgia em uma determinada região e país também indicavam o modo de pensamento e de compreensão das Escrituras daquele povo. Shepherd entende que os credos são essenciais para definir o que a igreja deve acreditar e no que não deve acreditar, posto que a origem dos credos está na "busca de uma resposta autorizada e esclarecedora para esses conflitos." (p. 41). "Calvino, ao subscrever a Confissão Genebrina (1536), uma espécie de síntese catequética de sua obra magna, as Institutas, ressaltou o objetivo de contrapor-se às "doutrinas infelizmente tão negligenciadas dos Papistas... Da mesma sorte aconteceu com outras confissões, de caráter nitidamente polêmico, apologético, distintivo: a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg, a Apologia da Confissão de Augsburgo, entre outras, foram elaboradas com finalidades explicitamente apologéticas." Ainda, "uma outra necessidade contemplada pelas confissões foi a de servir à unidade da igreja, diz Shepherd.", como se observa na Confissão Galicana preparada por Calvino, e nas Confissões Helvética pra agregar regiões suiças e a Confissão Escocesa, organizada no interesse de "unificar a fé reformada dentro da Escócia." (p. 41-42, Simôes, 2002). REFERÊNCIAS. Simôes, Ulisses Horta. Subscrição Confessional - Necessidade, Relevância e Extensão; Belo Horizonte: Efrata Publicações e Distribuição, 2002. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor do Seminário Presb do Sul ext Curitiba e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Meditação. COMO ADORAR A DEUS HOJE?

É preciso Amar a Deus e Amar o próximo, que é o resumo de toda lei, como explicou Jesus, o Messias. Acontece que para ser capaz de Amar, bem, o cidadão precisa entrar antes no Reino dos Céus. Afinal, como somos pecadores complicados que não sabem amar direito, então primeiro a gente precisa começar a participar do Reino de Deus pra ser capaz de amar com o verdadeiro amor, que está disponível lá mesmo, no Reino dos Céus. A partir daí, iremos Adorar a Deus em espírito e verdade ao nos relacionar com Ele levando toda a nossa personalidade. Nós seremos transformados na alma para amar a Deus e ao próximo a cada oração sincera de confissão e dedicação feita, tá entendendo? Dá uma olhada: "Mestre, qual o mandamento mais importante na lei de Deus?". Jesus respondeu: "Ame o Senhor seu Deus com toda a paixão, toda a fé e toda a inteligência'. Esse é o mais importante, o primeiro de qualquer lista. Mas há um segundo, ligado a esse: 'Ame o próximo como a você mesmo'. Esses dois mandamentos são como elos de uma corrente: tudo que está na Lei de Deus e nos Profetas deriva deles". (Evang. de Mateus, 22. 36-40, Bíblia A Mensagem). ORAÇÃO. "Amem as pessoas sem fingimento. Odeiem tudo que é mau. Apeguem-se firmemente ao que é bom. Amem-se com amor fraternal e tenham prazer em honrar uns aos outros... Alegrem-se em nossa esperança. Sejam pacientes nas dificuldades e não parem de orar... Abençoem aqueles que os perseguem... Vivam em harmonia uns com os outros... Nunca paguem o mal com o mal. Pensem sempre em fazer o que é melhor aos olhos de todos.... "A vingança cabe a mim, eu lhes darei o troco, diz o Senhor"... Não deixem que o mal os vença, mas vençam o mal praticando o bem." (Carta de Paulo aos romanos, cap. 12. 9-21). Autor. Ivan S Ruppell Jr é professor, advogado e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atuando na capelania da Repas e gestão de ações sociais de igrejas.