sábado, 6 de maio de 2017

A Espiritualidade da COMUNICAÇÃO, no Cinema: A Chegada, de Denis Villeneuve.

O diretor Denis Villeneuve inicia o filme "A Chegada", com Amy Adams e Jeremy Renner (2016), sensibilizando a platéia com algumas lembranças maravilhosas da sétima arte. Ele recria a cena favorita de Steven Spielberg em Contatos Imediatos do Terceiro Grau, também nos faz retornar ao ambiente do planeta de Alien o Oitavo passageiro, de Ridley Scott, e ainda nos dá insights de 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Kubrick. Sensacional! Tudo pra conduzir nosso coração e mente da cadeira de cinema direto para as sensações inquietantes das dimensões desprezadas da existência; do cinema e da alma. O blog AdoroCinema, pra variar, oferece uma análise objetiva e inteligente através do crítico Renato Hermsdorff: "A história se passa nos dias atuais, quando seres alienígenas descem à Terra em naves espalhadas por diversos pontos do planeta... E, para ajudar na comunicação com os ET´s, a Dra Louise Banks (Amy Adams), uma especialista em linguística, é convocada (...). Até o terço final do filme, a relação que Louise estabelece com os aliens soa confusa e carece de sentido - pelo menos, um sentido crível. A partir desse ponto, no entanto... ele começa a ser interligado (...). Apoiado na bela fotografia do experiente Bradford Young, Villeneuve se mostra também um esteta da imagem, alternando com maestria planos e enquadramentos variados, de forma a evocar o trabalho mais recente do cultuado Terrence Malick." "A Chegada" é belíssimo nas imagens, e sua história forte e sensível apresenta algumas das muitas dificuldades que impedem um bom relacionamento entre as pessoas; tanto entre as que vivem no planeta Terra, e também entre nós com seres de outro mundo, caso isto surja por aí. O desafio é apresentar os ganhos de uma comunicação entre seres vivos que possa ir além de uma conversa que somente realiza certa troca de informações entre eles. O convite é para superar o comum domínio relacional individualista que determina nossos encontros e desencontros sociais nestes dias de pós-modernidade. Pois, o que os humanos mais praticam no filme é um convívio em constante conflito, oriundo de conversas que acontecem no objetivo de logo afirmar cada distinto interesse egoísta das partes. Em contraponto, os contatos primitivos entre a humana Dra Banks e os aliens Abott e Costelo informam pouco, mas estabelecem um relacionamento bem mais verdadeiro. Algo assim como ouvir uma música estrangeira que da letra pouco entendemos, mas que juntos diante dela, muito partilhamos da melodia e movimento. Foi C S Lewis quem disse que encontrar Deus em espírito é como ser convidado para uma dança, afinal. Enfim, eis alguns pensamentos que o filme vai nos dando e que são mui importantes à Espiritualidade de quase todo mundo. Já que relacionamentos espirituais requerem exatamente contatos movidos mais pelo desejo de ali estar, do que das informações e conclusões que dali se podem retirar. Afinal, os ansiosos em definir as questões pra só informar seus pontos de vista na situação, rapidamente transformam encontros relacionais em relações de poder e conquista. E haja afirmações cortantes e declarações finais pra rapidamente definir quem manda na relação. Que rápido deixa de ser uma relação, pra ser somente negociação. No filme, enquanto a linguista norte-americana compartilha alguns sinais pessoais que revelam pouco a pouco, e cada vez mais, algo real da sua personalidade, russos e chineses decidem fazer contato através de jogos - uma dinâmica em que o relacionamento entre os participantes está definido desde o início: é uma competição. Algo parecido com participar de uma reunião em Brasília, em que o tema são os 150 milhões de analfabetos funcionais brasileiros; e, ao mesmo tempo em que você pensa "educação", outros pensam só em marketing político pra ganhar a eleição. É desse jeito, enfim, que a história da comunicação entre humanos e aliens vai chegando ao seu climax - de um confronto sem solução, claro. Mas, a proximidade da briga também faz surgir uma espécie de contato físico que até cria um interesse de compaixão pelo outro. E agora, José: vamos partir para o abraço, ou vamos sair no braço? As dúvidas da visitação alien ao nosso planeta se tornam, então, uma sala de avaliação do nosso constante desafio vivencial da comunicação. Há algum valor e sentimento pra melhor discutir a relação? Ou a competição irá prevalecer, bastante, pra variar? O enredo do filme constrói ideias que seguem na contramão destas nossas alianças de ocasião, pois valoriza uma atitude relacional que busca construir uma imersão nossa pra dentro da cultura do outro, o alien. Tudo no objetivo de que seja possível uma reprogramação cerebral das percepções humanas, quase sempre egoístas demais. E são os extraterrestres que nos oferecem a boa resposta: somente uma sacrificial doação da personalidade de cada uma das partes poderá transformar nossos contatos de conquista em encontros do bem pra todo mundo. Sim, buscar integração através da co-dependência é a vivência que traduz um bom objetivo pra qualquer comunicação. E a Dra Banks isto experimenta tanto ao revelar honestamente seus sentimentos aos aliens, como também, quando humildemente reconhece pra onde vai seu coração, assim que junto deles partilha algo novo de sua vivência, existencial. Afinal, a sinceridade diante do outro e de nós mesmos é essencial ao bom aprendizado acerca de como viver os relacionamentos da vida em comunidade, e até em nossa particularidade. Por ora, é isso. Eis algumas das ideias que o filme "A Chegada" nos permite visualizar para melhor vivenciarmos alguns dos encontros humanos que dia a dia partilhamos. Valores importantes pra nossa vida social, desde sempre. Agora, importa perceber como são essenciais para nossa vida espiritual, também. Seja tanto para um auto-conhecimento que começa a levar em conta o espírito que vive dentro de mim, ou ainda, para as relações espirituais que irei desenvolver através de minha religiosidade pessoal. Pois, o nosso constante egoísmo e vaidade é atitude que dificulta muito o bom encontro de nós mesmos com o nosso ser interior. E também, impede que aproveitemos a possibilidade de estar junto de Deus, que é uma Pessoa exterior. Algo que nos faz conviver, sempre, numa habitual competição existencial. Atitude que impede a vivência de qualquer boa comunicação relacional, especialmente, a espiritual. Foi o Apóstolo Tiago que definiu a imaturidade de nossas conversas, humanoides ou diante de Deus, ao expor o propósito peculiar que temos de somente falar pra definir posições, cheios de desejos e paixões. Quase sempre, particulares e interesseiras demais. Fala Tiago: "De onde vêm as guerras e conflitos que assolam o mundo? Vocês acham que acontecem sem razão? Raciocinem. As guerras acontecem porque vocês exigem: "é do meu jeito, ou nada feito". E para terem o que querem lutam com unhas e dentes (...) Sei que vocês nem têm coragem de pedir a Deus. É claro que não! Vocês sabem que estariam pedindo o que não devem. Vocês são crianças mimadas, cada um querendo as coisas do seu jeito... Se tudo que querem é benefício próprio e enganar os outros, acabarão inimigos de Deus." É isso. Egocentrismo demais transforma qualquer encontro diário em um confronto de informações, que nos fazem passar longe de iniciar a boa prática das mais primitivas boas formas de comunicação. E sem comunhão, não há convívio e satisfação, gente. Nem entre uns e outros, e nem junto do nosso próprio eu interior. Imagine, então, com Deus, o Pai dos espíritos. Cuide-se! E agora, para concluir nossa meditação cinematográfica, seguem alguns pensamentos sobre um segundo tema espiritual: a Soberania de Deus! E aqui, você vai saber informações cruciais da história. Portanto, só continue se você já assistiu o filme, ou entende que vale a pena, mesmo assim. Então, eis que a Dra Banks recebe dos alienígenas a ferramenta de vivenciar a história num tempo não cronológico, de forma que adquire o conhecimento da realidade integrando os momentos presente e futuro. Essa vivência existencial ampla da vida ocorre justamente através da experiência de ser Mãe, quando a Dra Banks descobre que sua filha irá morrer acometida de câncer, já no início da juventude. Sendo que, esse conhecimento é dado para ela antes mesmo de sua filha ter nascido; pois ela se tornou capaz de saber a realidade além do tempo passado e presente, já que também observa o tempo futuro em sua mente. A escolha da Dra Banks não recebe apoio de ninguém próximo, mas ela entende que os vinte e poucos anos de vida de sua filha; valerão muito a pena! Tanto pra filha, como pra mãe e filha, juntas. E aqui, entramos no tema da Soberania de Deus, que sabe desde sempre, todos os dias e anos de vida de toda a humanidade. Afinal, como revela Jesus, até os fios de cabelo de nossas cabeças, estão contados. Mesmo assim, Deus cria neste mundo e faz nascer na Terra, todo ser humano em qualquer lugar do planeta, na história; como Lhe apraz. Sim, Deus é Soberano! E assistir a experiência da decisão materna da Dra Banks no filme, vai ajudar a compreender o modo como Deus utiliza seu Poder Soberano com Amor para nos dar vida nestes dias difíceis, apesar de tudo. Bom filme. Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de ciências da religião e teologia.

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