C. S. Lewis escreveu o livro de ficção teológica 'Cartas do Inferno' para apresentar a Batalha Espiritual pelas almas da humanidade no cotidiano comum de todos nós. Como bem esclarece o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios, "nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas com governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais." (cap. 6, 12).
Essa realidade da existência transcendente dos seres humanos surge no primeiro anúncio bíblico do Evangelho de Jesus, o Messias, quando Deus fala para a serpente as seguintes palavras: "Farei que haja inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e o descendente dela. Ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis, 3.15).
O site da produtora traz a seguinte sinopse ao filme "Oficina do Diabo", que se baseia no livro de Lewis: "O demônio Fausto subiu do inferno para ajudar Natan a devorar sua primeira alma, o protagonista Pedro", com o enredo oferecendo conteúdo de excelente espiritualidade cristã num filme cinematograficamente virtuoso - na técnica e narrativa, na direção e interpretações dos atores. O texto de C. S. Lewis que narra o aprendizado de um demônio iniciante nos caminhos de atacar espiritualmente os seres humanos através dos ensinos de um demônio já velho é um clássico cristão da literatura inglesa - que a produção da 'Brasil Paralelo' transportou para o interior do Paraná na década de 1960. O filme apresenta de modo instigante a batalha espiritual do Cristianismo, desenvolvendo com profundidade o drama interior e a realidade transcendente das almas de todos nós, diante de Deus Pai Todo Poderoso e da criatura demoníaca Satanás, pois até o Diabo é o diabo de Deus, como afirmava Lutero.
Ao comunicar o conflito mor da existência através da história de um artista que retorna para sua pequena cidade no interior a fim de recomeçar a vida; 'Oficina do Diabo' traduz para a cultura brasileira e toda pós modernidade, os conceitos essenciais da espiritualidade bíblica sobre as tentações malignas que buscam derrubar os homens da presença de Deus Pai. Assim, vemos no filme o modo como os demônios andam ao redor dos seres humanos tentando os derrubar, atentos para transmitir influências e sensações que tragam desorientação e dúvida sobre as pessoas, especialmente nos momentos de angústia e dores. Nesse contexto, deve-se aplaudir a inteligente e eficaz apresentação da presença dos demônios vivendo entre os seres humanos e a proximidade entre as realidades física, emocional e transcendente que realmente existem na dimensão do nosso mundo, conforme revela o Cristianismo. Como destaque, a informação teológica de que os demônios se interessam mais em manter os seres humanos focados no engano e tesouros transitórios de uma cultura somente terrena, do que necessariamente arruinar de uma vez por todas a vida de uma pessoa. Nesse contexto, 'Oficina do Diabo' se junta aos filmes 'Advogado do Diabo' (de Taylor Hackford, 1997, com Al Pacino), e 'A Bruxa' (de Robert Eggers, 2015) para formar a melhor trilogia bíblica de cinema sobre a atuação demoníaca na sociedade dos homens.
O talento dado nos aspectos técnicos é um diferencial do filme, especialmente na fotografia e som, além do profundo e inteligente roteiro de Elton Mesquita e Filipe Valerim. Sendo que, a direção de atores de Filipe Valerim gera interpretações vigorosas e constantes, realistas e sensíveis, sendo digna de nota no cinema e arte brasileiros.
Nesse contexto da espiritualidade cristã que envolve a Presença do Deus Triúno, da humanidade, e dos anjos e demônios, observamos no filme duas práticas religiosas fundamentais com que o Cristianismo protege os seres humanos dos ataques do Maligno: - a Oração e, - a Celebração da Santa Ceia. Dessa forma, há bom número de situações em que o protagonista, sua mãe, a namorada e um amigo próximo se dedicam a buscar nestas vivências religiosas cristãs, a capacidade mental e emocional dadas por Deus para livrá-los do maligno. Vemos cenas de orações e intercessões, e uma ministração da Ceia do Senhor que, estão perfeita e naturalmente integradas na narrativa do filme, além de expressarem com correção o modo em que estas práticas religiosas são administradas pela tradição cristã católica romana. E aqui, destacamos tanto a importância crucial da Oração e Santa Ceia como disciplinais espirituais fundamentais do Cristianismo, como também, ressaltamos que diversas outras tradições cristãs igualmente valoram estas vivências acima de tudo na religiosidade, conforme anotamos no cristianismo ortodoxo e luterano, reformado e anglicano, evangelical e pentecostais. São disciplinas espirituais em que o fiel cristão vivencia a fé com temor e tremor, entregando-se nas mãos do Senhor para ser guardado do mal nos braços do Pai Celestial segundo seu bendito poder, em Jesus; como se diz: "portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês." (Tiago 4.7). Bom filme.
autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor de ciências da religião, Ig. Presbiteriana do Brasil, tendo publicado o livro Resenhas espirituais de meditações cinematofráficas, 2020, edit. dialética.
Esse texto tem objetivo didático na disciplina de Símbolos de Fé no Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba. Daí a utilização de resumos e citações mais longas no interesse de oferecer aos alunos o conteúdo apropriado para o entendimento necessário aos debates e explanações em aula. CONTEÚDO de Aula: CONTEXTO HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. TEOLOGIA REFORMADA. "Trata-se da teologia oriunda da Reforma (calvinista) em distinção à luterana. O designativo "reformada" é preferível ao calvinista... considerando o fato de que a teologia reformada não provém estritamente de Calvino." (Maia, p. 11, 2007). OS CREDOS E A REFORMA. "Os credos da Reforma são as confissões de fé e os catecismos produzidos nesse período ou sob sua inspiração teológica. Os séculos 4 e 5 foram para a elaboração dos credos o que os séculos 16 e 17 foram para a feitura das confissões e dos catecismos. A razão parece evidente: na Reforma, as...
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