quinta-feira, 17 de março de 2022

SÍMBOLOS DE FÉ da IPB. AULA 3, SPS, 2023

Texto em resumo e citações para disciplina Símbolos de Fé da IPB, Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba. CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER - Origem e Composição, de Chad B. Van Dixhoorn. Este pequeno livreto editado no Brasil em 2012 traz interessantes anotações sobre a feitura dos Símbolos de Fé quando da ocasião da Assembléia de Westminster no Parlamento da Inglaterra no século 17. Segundo nosso autor, "O Breve Catecismo de Westminster é um dos mais amados e bem utilizados de todos os Catecismos da Reforma, e o documento mais famoso da Assembleia que se reuniu na Abadia de Westminster de 1643 a 1649. A Confissão de Fé de Westminster, em seu original e nas suas formas modificadas, tornou-se "de longe o símbolo doutrinário mais influente na história da América Protestante." (no destaque de Sidney E Ahlstrom). Segundo nosso autor, o Catecismo Maior não tem sido percebido e utilizado da mesma forma e valor, podendo-se dizer que tem sido inclusive desprezado, tanto pela igreja presbiteriana como pelo povo evangélico, posto que há dezenas de comentários sobre o Breve Catecismo escritos entre os séculos 17 e 20, sendo que o autor reconheceu apenas um comentário sobre o Catecismo Maior, sendo que este também não consta nos hinários, ao contrário da Confissão e do Breve Catecismo que comumemente são ali incluídos. Assim, o propósito do livro do autor é buscar recuperar a importância e valor do Catecismo Maior, sendo que iremos utilizar seu conteúdo para saber mais sobre a feitura da Confissão de Fé e Catecismos. Segundo o autor, "em 1642, o mundo foi virado de cabeça para baixo (pelo menos na Grã-Bretanha). Os nobres ingleses, os barões, os cavaleiros, os cavalheiros, os cidadãos, os burgueses, os plebeus de todos os tipos, e os ministros do evangelho, pegaram todos em armas contra o Rei Carlos I." Reclamavam das condições sociais e do autoritarismo imperial do rei, sendo que "muitos eram puritanos que desejavam uma mudança no culto e na teologia", algo que o Rei Carlos I e sua esposa rainha eram contrários, de forma que perto do ano de 1643 os grupos parlamentares perceberam que estavam frágeis nas batalhas diante do Rei, e por isso pediram ajuda aos protestantes da Escócia, que aceitaram ajudar os cidadãos ingleses desde que assumissem os princípios de um documento denominado "Solene Liga e Aliança", com seis itens: "O primeiro ponto da Aliança estabelecia que as igrejas em ambos os países deveriam ser reformadas em "doutrina, culto, disciplina e governo". Para atingir essa unidade, a Assembleia do Parlamento inglês, designada no início de 1643, deveria criar uma "confissão de fé, uma forma de governo da Igreja, um diretório de culto" e eles acrescentaram um diretório de "catequese." Neste sentido, o objetivo primordial da feitura do catecismo desenvolvido em Westminster "foi a unidade religiosa, que era também o objetivo de cada um dos seus documentos." Ainda que já existissem outros documentos religiosos à época, e de grande valor ao pensamento protestante, se fazia necessário redigir "um documento confessional para os propósitos ecumênicos", pelos quais se pretendia unir as Igrejas de todo Reino Unido. Neste contexto, além da Confissão de Fé, a assembleia orientou que os teológos escrevessem catecismos, sendo que o preparo de um texto menor e breve foi considerado como importante, posto que seu conteúdo seria mais geral e portanto, seria aprovado com mais facilidade. O primeiro esboço foi rejeitado e ainda em 1643 um grupo da assembleia se voltou para organizar o catecismo, até que outras questões acabaram impedindo seu desenvolvimento. Finalmente, em 1646 a Confissão de Fé foi concluída e enviada para debate na Assembleia, sendo que no início de 1647 houve a decisão pelo preparo de dois catecismos, cada um adequado a seu propósito; confome descrito pelo teólogo Richard Vines, em proposição para que "a Comissão do Catecismo preparasse um esboço de dois catecismos baseados na Confissão de Fé, e nas questões do Catecismo já iniciado." O princípio basilar para a escrita dos catecismos é de que a Assembleia "decidiu não ter nenhum outro assunto teológico dentro (dos catecismos) além daqueles já estabelecidos na Confissão"; pois o fundamento era de que somente as doutrinas da Confissão deveriam estar descritas nos Catecismos - "Os Catecismos, portanto, seriam uma condensação da Confissão." Dessa forma, a Assembleia orientou a feitura de dois catecismos, sendo "um mais exato e abrangente", enquanto o segundo deles "seria mais fácil e breve para os iniciantes". Assim, em meados de outubro de 1647 o Catecismo Maior estava pronto, enquanto que o Breve Catecismo foi finalizado em dezembro. Sobre o uso dos catecismos nas celebrações da igreja, "os ministros da Assembleia de Westminster consideraram que o pregador não devia pregar a partir de uma proposição, ou argumento, mas apenas das próprias Escrituras. Por mais importantes que fossem os catecismos, os teólogos de Westminster não quiseram seguir a prática das igrejas reformadas do continente, que pregavam com base no Catecismo de Heidelberg." Nesse contexto, entende-se que o objetivo principal da feitura dos catecismos não foi fornecer "mensagens" bíblicas prontas aos pregadores, mas sim, promover "unidade de crença" e "instrução mais detalhada na fé cristã." Os teológos escoceses entendiam que os cristãos amadurecidos das igrejas iriam receber do catecismo maior o conteúdo sólido e profundo que necessitavam em sua caminhada e discipulado. Uma característica distinta do Catecismo Maior de Westminster estava em sua organização e formato: "A Assembleia teve o cuidado de fazer com que todas as perguntas fossem sentenças completas em si mesmas, sem depender, para o seu sentido, da pergunta anterior; eram, na verdade, aforismos (sentença breve) inconfundíveis, contendo sucintamente os fundamentos da religião cristã". Esse aspecto foi considerado importante e inovador, já que grande parte dos catecismos daquele período "requeriam que o usuário memorizasse em ordem tanto a pergunta quanto a resposta a fim de obter o sentido das doutrinas bíblicas do catecismo", sendo necessário saber diversas questões para se entender o que uma delas apresentava acerca da doutrina. Outro aspecto distinto dos Catecismos foi o de que estes não se dedicaram a desenvolver o conteúdo do Credo Apostólico, "porque o credo, embora fosse bíblico, não tinha sido extraído da Bíblia", enquanto um texto direto. Essa decisão permitiu que o objetivo de feitura dos catecismos se consolidasse, a fim de que toda doutrina apresentada tivesse as Escrituras como fonte, enquanto também buscava superar uma fragilidade do credo, que é o pouco conteúdo sobre a vida de Cristo; posto que, afinal, a história da vida de Jesus é a própria e completa realização da redenção dos homens: "A vida de Cristo tem mutissímo a ver com a nossa salvação: Ele gastou a vida cumprindo toda a justiça; Ele observou a Lei que o primeiro Adão transgrediu. É por causa da obediência ativa de toda a Sua vida que Deus o Pai nos vê como justos em Cristo." A FÉ CRISTÃ, ESTUDOS NO BREVE CATECISMO, de Thomas Watson. "A Body of Divinity (em nossa edição, A Fé Cristã - Estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster) é uma das mais preciosas e inigualáveis obras dos puritanos... Watson foi um dos escritores mais objetivos, profundos, sugestivos e elucidativos dentre os célebres teológos que fizeram da era puritana o período dourado da literatura evangélica. Há uma união feliz entre a boa doutrina, a profunda experiência e a sabedoria prática evidentes em todas as suas obras." O contexto do período em que viveu Watson e um grande número de teólogos puritanos, se refere ao período imediatamente anterior a Assembleia de Westminster: "Em 1641, na Irlanda Católica, inicia-se um levante separatista contra o domínio protestante dos ingleses. Católicos confederados se rebelam contra as forças do Estado inglês. Agricultores foram mortos nos campos, outros fugiram e morreram de fome por todo o país. Foi o ataque conhecido como o massacre de protestantes do Ulster, no Norte da Irlanda. Foi a primeira fase da Revolução Puritana." Neste sentido, o nome de Thomas Watson é colocado ao lado de mais de uma dezena de pregadores puritanos, dos quais se diz: "A maioria destes homens é mencionada na lista de sofredores a favor do não-conformismo e aparece no rol dos alunos matriculados no Emmanuel College. Apesar de serem muitos, sem dúvida são da mesma sociedade que produziu pregadores no contexto das infelizes mudanças de 1641." Thomas Watson foi reitor da paróquia Saint Stephen, no centro de Londres, atuando como pastor por 16 anos, enquanto viu a igreja crescer, sendo que o pregador foi reconhecido pelo valor de suas mensagens "instrutivas e espirituais". Foi uma época confusa e bastante perigosa, pois ainda que Watson e outros pregadores puritanos houvessem sido leais ao Estado e ao Rei, o fato de defenderem uma doutrina bíblica de pureza, os posicionou como inimigos diante do ato de uniformidade que buscava enquadrar novamente a igreja da Inglaterra numa doutrina contrária ao pensamento reformado. (Ato de Uniformidade da Rainha Elizabeth, de 1559, definindo o uso do Livro de Orações nas celebrações e a participação semanal dos cidadãos ingleses nas igrejas, valorando a Igreja Anglicana como denominação única e oficial na Inglaterra) "Os mais cultos, santos e zelosos do clero da Igreja da Inglaterra descobriram que o ato de uniformidade não lhes permitiria manter suas consciências puras e seus estilos de vida, por isso se submeteram a perder tudo por causa de Cristo. (...) Com muitas lágrimas e lamentos, a congregação de Saint Stephen viu seu pastor ser arrancado do seu rebanho... ouviram suas palavras de despedida... (Watson) despediu-se deles "sem saber onde ia". Assim que deixou a igreja, Watson procurou pregar a Palavra onde houvesse oportunidade, pois as multas e prisões não conseguiram calar a mensagem dos ministros, já que "em barracões, cozinhas, casas de fazendas, vales e florestas, os poucos fiéis se reuniam para ouvir a mensagem de vida eterna... a Palavra do Senhor era preciosa naqueles dias. Pão comido em secreto é proverbialmente doce e a Palavra de Deus na perseguição é especialmente deliciosa..." Anos mais tarde, "após o grande incêncio de 1666, quando igrejas foram queimadas, o Sr. Watson e outros não-conformistas prepararam grandes salas para os que desejavam se reunir. Em um tempo de tolerância, em 1672, ele conseguiu uma licença para usar uma grande sala na Crosby House... Foi uma circunstância em que o digno nobre favoreceu a causa da não-conformidade e que tão distinta câmara estava à sua disposição. Ali, Watson pregou por vários anos... Thomas Watson, depois de um tempo, voltou a Essex, onde morreu repentinamente em seu quarto enquanto orava. Morreu por volta dos anos de 1689 ou 1690. A data de seu nascimento e a de sua morte não são mencionadas em lugar algum." Watson publicou diversos livros, sendo que sua obra principal permanece A Body of Divinity, "uma coleção de 176 sermões sobre o Breve Catecismo da Assembleia de Westminster, que só apareceu depois de sua morte. Esse livro foi publicado em um volume, em 1692... por muitos anos, esse volume continuou a ensinar teologia ao povo comum e ainda pode ser encontrado em cabanas pobres da Escócia." SERMÃO DE WATSON (breve introdução). Firmes e Fundamentados na Fé. "Se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes..." (Colossenses 1.23). "Considerando que, no próximo domingo, iniciarei uma instrução na doutrina com a igreja... Este sermão está dividido em duas partes: 1. É dever dos cristãos se firmarem na doutrina, e 2. É dever dos cristãos se fundamentarem na doutrina. 1. É DEVER DOS CRISTÃOS SE FIRMAREM NA DOUTRINA. É obrigação dos cristãos serem firmes na doutrina da fé. O apóstolo afirma: "Ora, o Deus de toda graça..., ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar" (1 Pedro 5.10). Essas palavras ensinam que os cristãos não devem ser semelhantes a meteoros no céu, mas como as estrelas fixas. O apóstolo Judas fala sobre "estrelas errantes" (Jd 13). São chamadas estrelas errantes porque, como Aristóteles diz: "elas vão para cima e para baixo vagueando por várias partes do céu; e por não serem feitas do material celeste do qual as estrelas fixas são, mas apenas uma emanação dele, essas estrelas geralmente caem na terra." Assim são aqueles que não são firmes na fé. Uma hora ou outra, eles farão como as estrelas cadentes, perderão a firmeza e vaguearão de uma a outra opinião. Agirão impetuosamente à semelhança da tribo de Rúben (Gn 49.4); como um navio sem lastro, levado por qualquer vento de doutrina. O francês Leodore Beza (1519-1603), sucessor de Calvino, escreve sobre Belfectius de quem a religião mudava como a lua. Os arianos, por sua vez, a cada ano mudavam a sua fé. Pessoas assim não são pilares no templo de Deus, mas caniços movidos para todas as direções. O apóstolo chama tal atitude de "heresias destruidoras" (2 Pe 2.1). Uma pessoas pode ir para o inferno tanto por heresia quanto por adultério. Não ser firme na fé é querer julgamento. Se as mentes deles não fossem volúveis, não mudariam tão rápido de opinião. A razão de tal atitude é a falta de substância. Como penas sopradas para todos os lados, assim também são os cristãos sem fé." REFERÊNCIAS. Van Dixhoorn, Chad B. Catecismo Maior de Westminster. Origem e composição. Edit Os Puritanos. Recife, PE, 2012. (páginas 7 a 16). Watson, Thomas. A Fé Cristã. Estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster. Cultura Cristã, São Paulo SP, 2009. (pg 7 a 15). Autor. Ivan S Ruppell Jr é Mestre em Ciências da Religião e Professor de Teologia.

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