Conteúdo organizado para fins didáticos da Disciplina Símbolos de Fé do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. Prof. Ivan S Rüppell Jr. LEITURA I. I. A QUESTÃO DA NECESSIDADE. "... Devemos nos reportar ao Novo Testamento. Este contém claras e sérias admoestações dos apóstolos associadas à preservação da ortodoxia e à genuidade do testemunho da fé ao ensejo da celebração dos sacramentos. E junto a essas declarações encontramos vários modelos de declaração de fé...". (p 18, Simões, 2002). 1. Formulações unitárias: Mt 16.16, Jo 1.49, Jo 20.28, I Co 15.3-8, I Tm 3.16. Form. binitárias: Atos 8.37, Rm 10.9, I Co 8.6, I Tm 2.5-6, Hb 6.1-2, I Jo 4.15. Form. trinitárias: Mt 28.19, I Co 6.11, I Pe 1. 1-2, 2.21-25, 3. 15-22." Um destaque de busca de unidade de fé em concílio de líderes está expressa no livro de Atos, cap. 15, sobre o tema da circuncisão diante dos gentios convertidos, com a questão de Paulo e Barnabé sendo enviada a Jerusalém. (p. 20). Sendo importante anotar que, "desde a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém (Atos 15) até ao Concílio de Nicéia (325 AD), quando surgiu o primeiro credo ecumênico da igreja Cristã, foram quase três séculos de controvérsias entre bispos, presbíteros e outros mestres no seu seio", sendo que além das doutrinas, igualmente o tema da autoridade e legitimidade apostólica na formação das Escrituras foi tratado pelas lideranças da igreja, posto que, "a genuidade do ensino apostólico, também chamado de tradição apostólica, estava sob risco com o passar dos tempos e o multiplicar das concepções." Segue destaque de J Kelly, prof de Oxford: "O próprio Deus, reconheceram todos os teólogos antigos, foi o autor último da revelação; mas Ele a comissionou a profetas e legisladores inspirados, sobretudo aos apóstolos os quais foram testemunhas oculares do verbo encarnado, e eles passaram adiante à Igreja... (e) os bispos que se preocupavam com a fidelidade à Escritura e sua correta interpretação... tomaram emprestado de um termo grego clássico, ortodoxein, o vocábulo latino ortodoxia, que significa "ciência correta" (ortos, certo e doxa, opinião, de dokmazô); assim, eles o aplicaram aos ensinos bíblicos e à tradição apostólica. Com tal intuito, buscavam salientar a distinção dos que permaneciam fiéis com relação aos que estavam "em desacordo com a doutrina que aprendestes" (Romanos 16.17). (p. 21-22). Nesse contexto, "as regras de Fé e Confissões Batismais que encontramos entre os escritores eclesiásticos do segundo e terceiro séculos marcam a transição da Bíblia para os Credos Ecumênicos. Elas contém aproximadamente todos os artigos dos Credos Apostólico e Niceno, e algumas são mesmo mais completas, especialmente as do Oriente." (p. 24, Simões apud Schaff, Philip. The Creeds of Christendom). II. A NECESSIDADE dos Credos. "... a nova fase, que viria a ser inaugurada em Nicéia (325. AD), sem dúvida alguma tornaria os credos elementos responsáveis por estabelecer a identidade da crença e da interpretação do que ensina a Bíblia dentro de um grupo de cristãos. Por conseguinte, desempenharam o mesmo papel no tocante à distinção em relação aos cristãos que divergiam quanto a uma única identidade de crença e uma única linha de interpretação." (p. 29). O quarto século era marcado por controvérsias e o surgimento de entendimentos muito diferentes de doutrina dentro do Cristianismo, de forma que o próprio surgimento das heresias tornou necessário o desenvolvimento dos Credos: "A necessidade dos credos repousa numa quarta razão - a da preservação da pureza e da doutrina... Sem Ário, Atanásio não teria completado a grande obra de sua vida. Agostinho nunca teria extraído da Palavra de Deus suas profundas conclusões sobre a graça, o livre-arbítrio, predestinação, e a igreja, sem um Donato e um Pelágio... Portanto, desenvolveram-se as confissões não apenas com forma de unidade, mas também de pureza." (p. 29). III. A NECESSIDADE DAS Confissões. Durante a Reforma o embate doutrinal e as diferenças de entendimento entre os que buscavam reformas e os que eram contrários - utilizando para isso definições de fé históricas, tornou necessária a elaboração das Confissões de Fé dos Reformadores. "Assim, tornaram-se conhecidos dois distintos períodos dogmáticos no Cristianismo: o período dos Credos e o período das Confissões; o primeiro foi característico dos séculos quatro e cinco... sendo o segundo característico da Reforma." Os temas e necessidades desse segundo período foram: "a distinção do Catolicismo Romano, a identificação nacional das novas igrejas da Reforma, e a carência acentuada de maior aprofundamento e extensão nas definições credais." Segundo Norman Sheperd, o principal motivo para existirem confissões é a "identificação da igreja como tal no mundo". (p. 39-40). Assim, "a confissão se torna um padrão para favorecer aos crentes demonstrarem ao mundo o que a igreja entende estar revelado nas Escrituras", e se faz guia para anunciar e dar testemunho do que se acredita, de modo que solucione a dúvida e confusão dos incrédulos. "Isto se tornou particularmente necessário no período da Reforma, uma vez que os reformadores estavam se posicionando perante uma igreja cristã já existente. Esse posicionamento, a princípio, significou distinção ao nível interno da Igreja Romana..." (já que Lutero postou as 95 teses quando era monge agostiniano e não pretendia ruptura - de forma que estes doc. junto aos de Melanchton vieram a trazer as primeiras distinções entre a crença romana e dos protestantes). (p. 40). Um aspecto determinante do período da Reforma foi o surgimento das igrejas nacionais que se libertavam do domínio do império romano, de modo que cada igreja que surgia em uma determinada região e país também indicavam o modo de pensamento e de compreensão das Escrituras daquele povo. Shepherd entende que os credos são essenciais para definir o que a igreja deve acreditar e no que não deve acreditar, posto que a origem dos credos está na "busca de uma resposta autorizada e esclarecedora para esses conflitos." (p. 41). "Calvino, ao subscrever a Confissão Genebrina (1536), uma espécie de síntese catequética de sua obra magna, as Institutas, ressaltou o objetivo de contrapor-se às "doutrinas infelizmente tão negligenciadas dos Papistas... Da mesma sorte aconteceu com outras confissões, de caráter nitidamente polêmico, apologético, distintivo: a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg, a Apologia da Confissão de Augsburgo, entre outras, foram elaboradas com finalidades explicitamente apologéticas." Ainda, "uma outra necessidade contemplada pelas confissões foi a de servir à unidade da igreja, diz Shepherd.", como se observa na Confissão Galicana preparada por Calvino, e nas Confissões Helvética pra agregar regiões suiças e a Confissão Escocesa, organizada no interesse de "unificar a fé reformada dentro da Escócia." (p. 41-42, Simôes, 2002).
LEITURA II. "Nos dias atuais os credos e confissões são erroneamente vistos mais como elemento divisor do que unificador, promotor de unidade... Historicamente falando, no entanto, isto é verdadeiro para o tempo da Reforma: as confissões foram elementos de catalização da fé de determinados segmentos nacionais, o que foi concomitante com o limiar da Europa moderna. A Holanda, por exemplo, surgiu da unificação de um grande segmento do povo em torno da identificação da fé reformada; essa fé reformada se tornou expressamente conhecida em Holanda e parte da Alemanha por meio dos documentos confessionais elaborados para distingui-los, a saber, a Confissão Neerlandesa (ou Confissão Belga) de 1561 e o Catecismo de Heidelberg de 1563. Essa acentuada moção unificadora acarretou a chamada União de Utrecht de 1579 (oito anos depois do primeiro Sínodo de Dort, o qual promulgou a fé reformada segundo os dois símbolos retro mencionados). Por meio dessa união, as províncias do norte que aderiram à forma de fé reformada se uniram contra a repressão sangrenta do Papismo espanhol, capitaneado pelo Duque de Alba. (razão para que esses dois docs. fossem "Formas de Unidade", até que com integração dos Cânones de Dort em 1619, a união destes três docs. oficiais passou a ser "Três Formas de Unidade".) (p. 43, Simões, 2002).
O mesmo propósito e necessidade do surgimento dos credos cristãos históricos dos primeiros séculos, pode ser observado na feitura das confissões de fé protestantes: "instrumento catequético, elemento preconizador e de salvaguarda da ortodoxia cristã, fórmula batismal, agente de manutenção de disciplina... O detalhe diferenciador está mesmo na profundidade e na precisão: a profundidade de expressão teológica e de exposição da doutrina bíblica, a precisão de definição das cláusulas das confissões supera em muito, como fruto das necessidades de uma nova época, os mesmos elementos vistos nos credos." (p. 43).
Nessa perspectiva, entende-se o modo em que no segmento reformado, as confissões passaram a ter maior uso e valor do que os credos. "O Catecismo e a Confissão de Genebra, por exemplo, que Calvino elaborou em 1536, sendo a segunda o apêndice do primeiro, tinham finalidades distintas: o catecismo visava a instrução catequética dos membros da igreja; a confissão visava servir de padrão para a ordenação de oficiais da igreja... No século XVII, os Cânones de Dort foram colocados como subscrição formal indispensável para continuação no ministério nos Países Baixos e a Confissão de Fé de Westminster também se tornou de subscrição obrigatória na Igreja da Escócia, após sancionada pelo Parlamento." Neste sentido, a exigência de compromisso diante da confissão de fé tem sido "meio eficaz de se garantir conformidade e unidade da didascalia (ensino, magistério) dos mesmos na igreja do Senhor Jesus", há bom tempo. (p. 44).
RELEVÂNCIA CONFESSIONAL E SUBSCRIÇÃO. O grande número de confissões reformadas decorre naturalmente da maior quantidade de países e regiões que vieram a se comprometer com essa tradição doutrinária. Inicialmente, Calvino buscou regular a doutrina e unidade em Genebra através da Confissão Genebrina (1536), vindo a organiza-la como catecismo, no entanto, seu propósito foi alcançado no ambiente da Reforma Suiça pelo surgimento da Segunda Confissão Helvética. A década de 60 no século 16 viu surgir inúmeras confissões reformadas, como: Confissões Galicana, Escocesa, Belga, Catec Heidelberg e II Conf Helvética, sendo que a adoção destes docs. em cada concílio que os abraçaram como "expressão de fé, passaram a ser de subscrição obrigatória para os ministros e presbíteros atendentes... Por causa dessa nítida identificação do Calvinismo com sua herança confessional, Abraham Kuyper diz que o termo "Calvinismo" pode, sem qualquer dificuldade, identificar qualquer subscrevente aos padrões de fé reformados no ato que antecede e enseja sua ordenação." (p. 57).
Anotações sobre os Cânones de Dort. "Arminius era professor de Teologia em Leiden em 1609, quando faleceu. Seu pensamento revivia algumas das premissas do Semi-Pelagianismo que se seguiu à polêmica entre Pelágio, Celéstio e Agostinho. Postulando uma explicação da doutrina da predestinação divina, e ainda reprimindo o caráter duplo dessa doutrina, Arminio recebeu o combate vigoroso de Francisco Gomarus. Morto Armínio, seus discípulos em Leiden causaram reboliço na Igreja Reformada nos Países Baixos, vindo a publicar os Cinco Artigos Remonstrantes do Arminianismo. O Concilio de Dort foi convocado exatamente para tratar da controvérsia. Os seguidores de Armínio afirmavam que seus destaques buscavam moderação, ao invés de contrariedade aos credos reformados, postulando que sua visão da Trindade era próxima dos Pais Nicenos, vindo a declarar que seu pensamento mantinha harmonia com a "fé dos ancestrais". (p. 59-60).
CITAÇÃO. "O arminianismo recebeu esse nome em razão de Jakob Arminius (1560-1609), que reagiu contra a doutrina reformada da redenção particular. Para ele, Cristo havia morrido por todos, e não apenas pelos eleitos. Essa perspectiva recebeu apoio nos círculos reformados holandeses, em consequência do Sínodo de Dort, levando à publicação do Manifesto remonstrance de 1610. Essa declaração afirmava o caráter e o alcance universal da obra de Cristo. (...) O arminianismo logo alcançou uma posição relevante em meio ao evangelicalismo do século XVIII. Apesar das perspectivas mais calvinistas de George Whitefield, as ideias arminianas foram vigorosamente afirmadas no meio metodista por Charles Wesley (1707-88) (...) Esta concepção também alcançou uma posição de destaque nos Estados Unidos, no século XVIII: as obras de Jonathan Edwards fazem frequentes referências ao que ele considerava como inconsistências e falhas de seus opositores arminianos." (p. 535, McGrath, Teologia hist, sist e filosófica, 2005). (*) "A salvação particular: somente os eleitos serão salvos." (...) "Suponhamos que Cristo morreu por todos. Contudo, nem todos serão salvos. Portanto, conclui-se que a morte de Cristo não teve efeito para aqueles que não serão salvos. Isso levanta a mais séria das questões no que diz respeito à eficácia da morte de Cristo. No entanto, se Cristo morreu somente por aqueles que devem ser salvos, ele teve êxito em sua missão em todos os sentidos. Logo, Cristo morreu somente por aqueles que devem ser salvos." (p. 499, Mcgrath, 2005). (*) "A análise que Calvino faz da predestinação parte de fatos empíricos. ALguns crêem no evangelho. Outros não. A função primária da doutrina da predestinação é explicar o porque de alguns indivíduos responderem ao evangelho, e de outros não. Representa uma tentativa de explicar a variedade de respostas humanas diante da graça. A teologia calvinista da predestinação deve ser considerada como uma reflexão sobre os dados colhidos da experiência humana e interpretados à luz das Escrituras, em vez de algo que se deduz com base em ideias preconcebidas sobre a onipotência divina. (...) É preciso ressaltar que isso não representa uma inovação teológica. Calvino não está introduzindo uma noção até então desconhecida no domínio da teologia cristã. Muitos teólogos do posterior período medieval, especialmente escritores da "Escola Agostiniana Moderna", como Gregório de Rimini e Hugolino de Orvieto, ensinavam a doutrina da dupla predestinação absoluta - afirmando que Deus elege alguns para a vida eterna, e outros para a condenação eterna, sem fazer nenhuma referência a seus méritos ou deméritos. Seus destinos dependem totalmente da vontade de Deus, e não de suas características individuais. Na verdade, é possível que Calvino tenha se apropriado ativamente desse aspecto do agostinismo medieval posterior, o qual, certamente, guarda uma estranha semelhança com seus próprios ensinamentos." (p. 533, Mcgrath, 2005).
"O Sínodo de Dort, depois de cento e cinquenta e quatro sessões exaustivas e muitas outras conferências, com a participação de conciliares de toda Europa e das ilhas Britânicas, declarou a plena incompatibilidade da declaração remonstrante com a genuína fé reformada, aplicando uma resposta objetiva, clara e direta a cada artigo; essa resposta foi exarada nos Cânones do sínodo, e se tornou conhecida popularmente pelo acróstico "TULIP", que representa as cinco verdades afirmadas em refutação ao Arminianismo: Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresístivel e Perseverança dos Santos." A partir desta definição, o texto foi integrado aos dois outros docs oficiais da fé reformada holandesa, surgindo a necessidade de "subscrição formal e qualificada dos três símbolos, chamados doravante de "Três Formas de Unidade", que se tornaram padrão em Ig. Reformadas na Holanda e Estados Unidos. (p. 60).
REFERÊNCIAS. Dicio, Dicionário Online de Portuguêa. © 2009 - 2024 - Todos os direitos reservados. Dicio, Dicionário Online de Português, o maior e mais completo dicionário da web.
McGrath, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. Shedd Publicações, SP, 2005.
Simôes, Ulisses Horta. Subscrição Confessional - Necessidade, Relevância e Extensão; Belo Horizonte: Efrata Publicações e Distribuição, 2002.
Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor do Seminário Presb do Sul ext Curitiba e ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.
C. S. Lewis escreveu o livro de ficção teológica 'Cartas do Inferno' para apresentar a Batalha Espiritual pelas almas da humanidade no cotidiano comum de todos nós. Como bem esclarece o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios, "nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas com governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais." (cap. 6, 12). Essa realidade da existência transcendente dos seres humanos surge no primeiro anúncio bíblico do Evangelho de Jesus, o Messias, quando Deus fala para a serpente as seguintes palavras: "Farei que haja inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e o descendente dela. Ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis, 3.15). O site da produtora traz a seguinte sinopse ao filme "Oficina do Diabo", que se baseia no livro de Lewis: "O demônio Fausto subiu do inferno para ajudar Nata...
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