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COSMOVISÃO CALVINISTA. Fundamentos Bíblicos. Citações.

Esse conteúdo foi organizado com fins somente didáticos para a Disciplina Cosmovisão Calvinista do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba, 2024. Prof Ivan S Rüppell Jr. LEITURA I. "Uma vez que o evangelho diz respeito ao governo de Deus sobre toda a criação, todas as nações e toda a vida humana, a missão dos seguidores de Jesus é tão vasta quanto a própria criação. Eles receberam a comissão de testemunhar acerca do evangelho em todas as áreas da vida pública - nos negócios, na vida acadêmica, na política, na família, na justiça criminal, nas artes, nos meios de comunicação - e em todos os outros aspectos da experiência humana." (p. 29, Goheen, 2016). "Como aqueles que abraçaram o evangelho, somos membros de uma comunidade que crê que a Bíblia é a verdadeira narrativa do mundo. Mas, como membros que vivem e participam na comunidade cultural, também fazemos parte da outra narrativa que há muito tempo vem moldando a cultura ocidental. Não podemos simplesmente optar por nos isolar da cultura ao redor... Nossa corporificação do reino de Deus precisa assumir forma cultural em nosso tempo e lugar específicos." (p; 31-32, 2016). "Mais de um século atrás, dois pensadores cristãos vieram a perceber, como aconteceu com Newgbin, que a narrativa cultural do Ocidente estava solapando a narrativa bíblica como a base da vida na comunidade cristã e, por conseguinte, estava obstruindo um embate missionário autêntico entre o evangelho e a cultura... James Orr e Abraham Kuyper chamaram a igreja de volta à afirmação de Cristo de que só o evangelho oferece uma visão do mundo verdadeira e abrangente." (p. 33, 2016). "De acordo com Orr, uma cosmovisão cristã é cristocêntrica, centralizada em Cristo como o cumprimento da história da salvação e adota (como o próprio Cristo fez) a perspectiva do Antigo Testamento acerca da criação." (p. 39, 2016). "Para Kuyper, a única abordagem cristã adequada diante do desafio do modernismo se encontrava no calvinismo e, por isso, seu projeto particular era enunciar com clareza as implicações de uma cosmovisão calvinista para a religião, a política, a ciência e a arte." (p. 40, 2016). "A tradição que surgiu do pensamento de Kuyper... é conhecida como "neocalvinismo", e seus principais temas são: - Na redenção de Deus em Cristo e por meio dela, a graça restaura a natureza, A graça é como remédio que estabelece a saúde de um corpo doente. A obra salvífica de Cristo está voltada para a criação como um todo, a fim de restaurá-la para que alcance o objetivo que Deus sempre teve em mente para ela. - Deus é soberano e, pela sua lei e palavra, ordena toda a realidade. - O mandato cultural dado em Gênesis 1.26-28 (de administrar regiamente a criação) tem relevância contínua: Deus chama a humanidade a desenvolver, para a glória dele, a criação dele ao longo da história." (p. 42). "Nossa definição operacional de cosmovisão. (...) `Cosmovisão é uma enunciação das crenças básicas embutidas em uma grande narrativa compartilhada, as quais estão arraigadas em um compromisso de fé e dão forma e sentido à totalidade de nossa vida individual e coletiva`." (p. 52). "Como Eclesiastes 3.11 indica, todos os seres humanos se apropriam, de uma forma ou de outra, de uma grande narrativa, porque somos criaturas e não o Criador. Nosso coração, o âmago religioso de nosso ser, está voltado ou para o Deus vivo ou para um ídolo, e a grande narrativa em que vivemos é uma expressão dessa inclinação de nosso coração." (p. 53). LEITURA II. Relação entre Escrituras e Cosmovisão. "Ao longo dos séculos, os cristãos têm constatado que, em seu envolvimento com sua própria cultura, é necessário encontrar maneiras de expressar a unidade das Escrituras. Um desses caminhos é a teologia bíblica, que busca enunciar a unidade das Escrituras de acordo com as categorias das próprias Escrituras, como aliança e reino. O objetivo da teologia bíblica não é impor categorias sistemáticas externas, mas sim escavar as categorias subjacentes que se encontram dentro da própria Bíblia... As próprias Escrituras têm forma narrativa, e procuramos respeitar isso enquanto recontamos a história da Bíblia." (p. 56, 2016). "Já vimos como Orr e Kuyper foram levados a enunciar o evangelho como uma cosmovisão em resposta aos poderosos desafios de cosmovisões contrárias em seus contextos culturais. Em outras palavras, o impulso deles foi missional: a fim de levar sua cultura a interagir com o evangelho e dar um testemunho crível acerca de Cristo, eles precisavam demonstrar que o evangelho incorporava uma cosmovisão que fornecia uma alternativa real e vital às poderosas cosmovisões de sua época. (...) Segundo o comentário de S. MacDonald sobre Agostinho de Hipona, "ele não foi o primeiro a defender que o cristianismo era a verdadeira sabedoria procurada pela filosofia. Mas ele foi o pensador que, acima de tudo, e em um momento histórico crítico, demonstrou que o cristianismo podia ser explorado em busca de percepções filosóficas, responder a questões filosóficas em maneiras filosoficamente sofisticadas e ser apresentado como uma cosmovisão filosoficamente satisfatória que competia com sistemas filosóficos pagãos. E seguindo Agostinho, Tomás de Aquino faria uso da filosofia de Aristóteles para expor o evangelho de maneiras críveis aos seus contemporâneos." (p. 58). "A apologética - a atividade de interagir de maneira ponderada com as cosmovisões da época e, assim, dar testemunho acerca de Cristo com credibilidade - e o envolvimento cultural em geral exigem uma explicação da lógica do evangelho que vai além do drama das Escrituras... Se... alguém quisesse desenvolver um negócio de acordo com os moldes cristãos... Ela iria querer ao menos ter uma noção de como o trabalho se encaixa no plano de Deus para a humanidade: qual era o propósito para o trabalho quando Deus Deus o concebeu, como o trabalho foi deturpado pelo pecado e como a obra de Cristo em nós pode resgatar nossa experiência de trabalho e nos orientar no trabalho que escolhemos fazer." (p. 59). "O envolvimento prático e teórico com nossa cultura exige o desenvolvimento de uma cosmovisão... Em nossa opinião, o caminho a seguir é identificar no drama das Escrituras suas crenças centrais - em particular, o padrão de Criação, Queda e Redenção - e explorar como essas crenças se mantém unidas, de modo a assegurar que nesse nível pré-teórico nos mantenhamos o mais próximo possível das Escrituras. Uma cosmovisão cristã enuncia e desenvolve as crenças mais básicas, mais fundamentais, mais abrangentes da narrativa bíblica de uma maneira que permite que essas crenças se tornem tanto uma lente através da qual podemos ver o mundo quanto um mapa que nos orientará no mundo; é a matriz em que colocamos tudo mais." (p. 60). "Criação: o mundo como Deus planejou que fosse. Com frequência usamos a palavra criação simplesmente para nos referir ao ato em que Deus fez o mundo no início - "Quando se trata das origens, creio na Criação, não na evolução"... (são usos) limitados, restritos demais. Pois a narrativa bíblica trata principalmente da restauração da criação: Deus está restaurando sua boa criação para que ela volte a estar debaixo de seu governo gracioso. Para entender "criação" como aquilo que Deus está restaurando, é essencial ter uma ideia cristã saudável do mundo." (p. 63). "Toda vida criada necessariamente carrega em si uma lei para sua existência, instituída pelo próprio Deus (...) Existem, por conseguinte, diretrizes de Deus para o nosso corpo, para o sangue que percorre nossas artérias e veias e para nossos pulmões como os orgãos da respiração. E até mesmo existem diretrizes de Deus na lógica, para regular nossos pensamentos; diretrizes de Deus para nossa imaginação no âmbito da estética; e, da mesma forma, também diretrizes estritas de Deus para toda a vida humana na esfera da moralidade." (Abraham Kuyper, Lectures on Calvinism, apud Goheen, p. 68, 2016). "Foi essa compreensão que levou Kuyper a defender que a vida em todos os seus aspectos precisa ser vivida em resposta a Deus: "Tudo o que tem sido criado foi, em sua criação, dotado por Deus de uma lei imutável de sua existência. E, visto que Deus arranjou plenamente tais leis e diretrizes para toda a vida, por isso (...) toda vida (precisa) ser consagrada ao seu serviço em estrita obediência". (p. 68). "A resposta da criação não humana é "necessária": o vento tempestuoso age exatamente assim sem ter decidido fazê-lo... Mas homens e mulheres foram criados por Deus com a capacidade de escolha; este é um aspecto importante de sua imagem em nós, mas também significa que podemos - e com frequência é o que fazemos - escolher não obedecer às suas leis para a nossa vida. A resposta das criaturas humanas é livre, responsável e criativa, o que também significa que as regras de Deus para a vida humana "podem ser violadas de inúmeras maneiras e que também deixam uma boa margem para a criatividade e a imaginação responsável do ser humano, que é chamado a implementá-las. Os seres humanos encarnam e implementam a ordem divina em situações históricas e culturais específicas. Há muita liberdade e bastante espaço para respostas criativas... Discernir a ordem de Deus sempre será difícil, mas existem diretrizes. O início de tal discernimento é reconhecer que isso é obra do Espírito de Deus e não simplesmente uma questão de nossa avaliação racional. O Espírito de criação utiliza os meios com os quais nos comunica a vontade de Deus. O primeiro são as próprias Escrituras: o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto? (...) Deus dá a Israel a Lei no Antigo Testamento, uma expressão concreta da ordem de Deus para a vida humana em determinado momento e lugar na história... no Novo Testamento as cartas de Paulo estão repletas de exortações às jovens igrejas que ele plantou; elas também exibem uma implementação visível da ordem na criação de Deus para a vida daquelas igrejas em determinado ponto da história... Visto que a ordem na criação divina para a vida humana é estável e constante, aquelas manifestações históricas específicas terão muito a oferecer (...) Por fim, Deus criou em cada um de nós um senso de sua ordem em nossa consciência... Todos esses princípios podem nos orientar, mas não há nada automático ou seguro aqui. Cada um deles pode ser usado de forma indevida para justificar o mal. Sem dúvida, é por isso que Paulo ora com tanta frequência para que a igreja cresça conjuntamente em sabedoria, discernimento e entendimento (Ef 1.15-23; Fp 1.9-11; Cl 1. 9-12)." (p. 69-70, Goheen, 2016). "A Humanidade como Imgem de Deus. (...) Chegamos a um ponto culminante na narrativa (da criação em Gênesis), e isso também é importante para uma cosmovisão cristã. O que significa ser humano? Qual é o papel dos seres humanos na narrativa bíblica? Quem somos nós? (...) Afirmar que os seres humanos - todos os seres humanos e não somente os reis - foram criados à imagem de Deus deve ter sido uma afirmação chocante. Para o autor de Gênesis, atestar que a humanidade era criada à imagem de Deus significava, em primeiro lugar, uma vida de dependência como criatura. Henri Blocher assinala que uma "imagem é apenas uma imagem. Ela só existe por derivação. Não é o original, nem é coisa alguma sem o original. A existência da humanidade como imagem ressalta a natureza radical de sua dependência". (...) Ser imagem de Deus é viver em relacionamento com Deus... E, se Deus constantemente põe em ordem todas as coisas mediante sua palavra, então a vida humana é para ser uma vida de constante resposta a Ele. (...) Ser imagem de Deus é refletir Deus, ser como ele, espelhar seu caráter... À semelhança de Deus, os seres humanos podem, por exemplo, ver, ouvir, pensar, amar, buscar a justiça, irar-se e demonstrar misericórdia. No entanto, não é só pelo fato de possuir essas capacidades que somos imagem de Deus; é também uma questão de como as usamos. Importa o que pensamos, o que amamos, como usamos nossos olhos e ouvidos, o que nos deixa irados. Além disso, refletimos a Deus não apenas individualmente, mas também comunitariamente... Essa "semelhança com Deus" nos permite conhecer, amar, adorar e desfrutar a Deus, porque podemos de alguma maneira compreender quem ele é e o que ele está fazendo. ... mostrar compaixão nos ajuda a compreender a compaixão de Deus... Uma vez que a humanidade reflete a glória de Deus, somos também capazes de contemplar a glória de Deus." (p. 75-76). "Em quarto lugar, ser imagem de Deus é ser representante de Deus na criação como seus vice-regentes e mordomos. A imagem bíblica de um mordomo é instrutiva. Essa pessoa era responsável por administrar, em nome do senhor, não por prazer egoísta, mas sim para o bem dos integrantes da casa e de acordo com os desejos do senhor... A humanidade foi chamada a exercer exatamente esse tipo de mordomia sobre o restante da criação de Deus, embora não com a ausência de Deus, mas sim em constante comunhão com ele." (p. 77, Goheen, 2016). A TAREFA DA HUMANIDADE: O MANDATO DA CRIAÇÃO. (*Ver links de conteúdos: O mandato social; O mandato cultural - pensamento reformado). REFERÊNCIAS. Gohee, Michael e Bartholomew, Craig. Introdução à cosmovisão cristã. Vida Nova, SP, 2016.

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