segunda-feira, 17 de abril de 2017

a TEOLOGIA de A CABANA, o filme. A cultura deve ser religiosa?

Assim que assisti ao filme A CABANA no cinema, fiquei sensibilizado pela representação que demonstra como é fácil aos seres humanos desenvolverem um relacionamento direto e real junto da Pessoa de Deus. Ao ver o filme pela segunda vez, me emocionei ao descobrir como as Pessoas do Deus Pai, Filho e Espírito Santo se importam conosco. Um sentimento que demonstram ao cuidar de nós sempre levando em conta quem somos, e também, o que sentimos. Foi a partir destas saudáveis experiências que decidi meditar acerca de certos questionamentos que A Cabana tem gerado, tanto para os bons, quanto para maus debates. Por isso, escrevi este texto: "a Teologia de A Cabana, o filme." Então, se você já leu o livro ou viu o filme - sigamos em frente! O tema que me parece o principal ao analisar as virtudes e defeitos do filme, enquanto uma produção da cultura popular que utiliza conteúdos religiosos em seu enredo dramático, trata exatamente da pergunta que se tornou, também, sub-título deste texto: "A cultura deve ser religiosa?" Proponho tal questão, porque: afinal de contas, será que nossa cultura deve (ou conseguirá) um dia, ser laica? Ou será que nós, os espirituais, sempre iremos correr atrás de uma cultura religiosa pra oferecer à sociedade? De certa forma, ao entender que "cultura" é tudo que o homem cria e organiza a partir do que Deus lhe destinou pra ser e fazer neste mundo. Então, dá pra concluir que tanto o Estado e a educação, como igualmente todas as artes e tudo mais que forma a sociedade, devem ser incluídos como pertencentes a este termo designado, "cultura humana", certo? Daí, eis a questão: será que nossa cultura deve ser somente religiosa? Ou, ao contrário, devemos atuar para que toda a cultura seja um dia, humanista e social, ainda que espiritual? Laica, portanto. Veja bem, caso nos seja possível organizar uma (boa) cultura religiosa, certamente iremos razoavelmente controlar o aumento progressivo (aparente) do que se considera "pecado" na sociedade. Uma realização confessional interessante, sem dúvida. Mas, seria esta, então, a melhor e mais saudável missão espiritual que as religiões tem pra edificar na sociedade dos homens? E até mais do que isto: será que a decisão por controlar a sociedade à luz da gerência da religião que domina o momento, não irá diretamente esvaziar todo bom traço saudável de espiritualidade que estas religiões pretendiam em nosso mundo propagar? Que é a própria missão essencial das religiões na história da humanidade. Até acredito que o desejo de organizar religiosamente a sociedade surja a partir de um bonito sentimento confessional, oriundo das mais puras e boas intenções dos grupos institucionais. Ao mesmo tempo, entendo que tal objetivo se desenvolve a partir de orientações recolhidas de seus textos e mandamentos... doutrinários. Mais do que a partir de seus princípios missionários... que são sua mensagem Profética, afinal. Por exemplo, pensando no contexto religioso cristão: será que o fiel deve organizar a sociedade conforme as definições doutrinárias das cartas do Apóstolo Paulo? Ou, então, ele deve oferecer sim, um bom testemunho de sua fé a partir dos mandamentos morais de Jesus? Pois a doutrina sempre existiu no objetivo de ensinar a igreja a testemunhar com fidelidade, e não para que a instituição pudesse controlar a sociedade. Uma postura confessional que propõe o governo religioso da sociedade quase sempre gera um esquecimento e desapego aos valores missionais da fé. Exatamente aqueles que um dia se pretendia anunciar e propagar através do estilo de vida. Pois somente seremos Sal e Luz - conforme se ensina no Sermão do Monte, a partir de testemunhos morais e caridosos. Jamais, a partir dos religiosos doutrinais. E desenvolvendo a reflexão, entendo que parte da dificuldade religiosa em bem conviver com produtos culturais que expõe publicamente outras visões acerca de Deus e das doutrinas. Pode originar de uma fé religiosa que, mal resolvida em seu propósito essencial de estabelecer pra si uma práxis eficaz de si mesma, busca alívio deste desconforto a partir de uma forte proteção institucional extra-muros. Ou seja, ao perceber sua fraqueza espiritual, já que não consegue dar bom testemunho do que acredita ao mundo; decide então, se reorganizar, através de um fortalecimento que ocorre pela gerência de suas regras institucionais, no mundo. Que é exatamente o projeto que decide controlar a sociedade através da religião, ao invés de nela atuar como um bálsamo espiritual, ofertando-lhe as novidades existenciais oriundas de sua fé essencial. Quando algo assim ocorre, amigos, é hora de começar de novo. De verdade. Neste aspecto, valorizo muito o filme A Cabana. Pois desenvolve quase que somente uma espiritualidade relacional - o que, no caso do Cristianismo, é o supra sumo da comunhão com Deus oferecida ao homem pela fé cristã. Enfim, dentro deste outro objetivo do texto, que é o de analisar o filme segundo o contexto da Fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, gostaria de começar pela CENA QUE TRATA do desafio que Deus Pai faz a Mack para que perdoe o assassino de sua filha. A orientação dada a Mack é no sentido de que haja o perdão para que dois objetivos sejam alcançados: ele irá tanto afrouxar a corda que aperta o pescoço do assassino, libertando-o para que siga em frente com sua jornada existencial. Como também, o perdão precisa ser dado a fim de que ele próprio, Mack, consiga livrar-se deste relacionamento enlaçado que ora o mantém preso ao assassino. E somente a atitude de perdão é que vai transformar a situação de vida em que hoje ambos se encontram. Então, além de nada perceber de anormal nesta situação dramática, é possível até algo essencial recordar com ela. Afinal, a conversa espiritual mais didática que podemos travar com Deus, oriunda dos ensinos do "Pai Nosso", efetivamente nos desafia a duas petições, que são praticamente uma só: "Perdoa-nos... Assim como nós também perdoamos." UMA segunda QUESTÃO acerca do filme trata das escolhas das raças e personalidades através das quais o autor decidiu artisticamente apresentar as três Pessoas da Trindade de Deus. Neste aspecto, parece-me que algumas escolhas são bem interessantes e viáveis, até biblicamente, como nos casos daqueles que representam Jesus e o Espírito Santo. Já a escolha para que a Pessoa de Deus Pai se fizesse representar por uma figura materna, acredito que há bom entendimento de que esta decisão do autor foi essencialmente dramática, a partir da visão de como iria desenvolver melhor o seu enredo. Não encontro qualquer relação desta escolha autoral de A Cabana, com alguns pensamentos contemporâneos que desejam modificar os sexos da Trindade no objetivo de que Deus melhor represente a diversidade sexual da humanidade. Eu até manteria o homem pai da parte final da história como a Pessoa de Deus Pai por todo o filme. Porém, reconheço que tanto o contexto dramático da história narrada, e, principalmente, a liberdade autoral que se deve dar a um contador de histórias que organiza suas próprias ilustrações e metáforas como lhe apraz. Bem, são princípios válidos de respeito aos artistas, reconhecendo até, que não há corrupções doutrinárias razoáveis no que decidiu-se realizar. Uma OUTRA CENA que merece nossa atenção é a que desenvolve o encontro do protagonista adulto, Mack (Mackenzie) com seu pai já falecido. As críticas à esta situação do filme surgem das seguintes ideias: do fato de ocorrer um encontro bi-dimensional entre o filho adulto ainda vivo em nosso mundo, junto de seu pai já falecido em nossa dimensão histórica. Algo que, ou não poderia acontecer desta forma, ou é apresentado de modo errôneo. Embora, importante lembrar, trata-se de uma situação que somente existiu a partir da presença e poder de Deus junto deles. Neste caso, sendo Deus quem é - o próprio Todo Poderoso. E respeitando, ainda, o objetivo dramático que o diretor deseja apresentar, penso que não há nada grave ou negativo neste encontro, não. Trata-se de uma reunião transcendental de seres humanos que agora existem em épocas distintas do tempo, sim, a fim de que Deus cumpra um propósito divino para com eles. Algo que já ocorreu até na bíblia, quando Deus uniu as pessoas de Moisés, Elias e Jesus. Uma outra dificuldade deste encontro entre o filho vivo e o pai morto seria uma certa afirmação, ainda que abstrata, de que a humanidade inteira vai viver junto com Deus na eternidade. Sem que se leve em conta a história de vida das pessoas, ou, eis o ponto essencial - a Fé delas em Deus. Porém, o contexto da situação é tão somente o encontro entre Mack e seu pai, nada mais do que isso. Não há nada na cena que proponha algum ensino ou doutrina que vá além disto. E acerca do fato de vermos reunidos diante de Deus todos os tipos de pessoas da humanidade, e isso em um tempo diverso que se prolonga desde a morte deles até a data do retorno de Jesus à Terra. Bem, parece-me ser esta uma realidade igualmente bíblica. A própria condição da humanidade que já morreu, de existir atualmente junto da Pessoa de Deus: ora, trata-se de uma possibilidade real a partir do anúncio dado ao criminoso na cruz, de que naquela mesma tarde de sexta-feira estaria ele com Jesus lá no paraíso. Neste sentido, penso ser possível afirmar que se trata de uma cena que pouco modifica ou acrescenta de novo ao que a própria bíblia diz, vez ou outra, acerca de situações de encontros humanos atemporais e bi-dimensionais, diante de Deus. A única novidade da cena está no ponto de vista com o qual tanto o escritor, como o diretor buscaram desenvolver o enredo da história a fim de atingir seus objetivos dramáticos. Parece-me uma questão somente cultural. UMA quarta SITUAÇÃO problemática poderia surgir do encontro entre Mack e a personagem "Sabedoria", cena em que ele aprende um pouco (bastante) a respeito do modo como Deus governa o problema do mal no mundo. Penso que tudo que ali se ensina está de acordo ao exposto nos livros sapienciais das Escrituras. Sem esquecer que a Sabedoria já foi personificada na própria bíblia, no bom propósito de oferecer uma melhor compreensão de sua Verdade enquanto a melhor orientação ao bom destino da humanidade. Até o posicionamento (ilustrativo) de Mack ao propor seu auto sacrifício a fim de que nenhum de seus filhos seja condenado ao inferno, ora, creio ser esta uma excelente metáfora acerca do que efetivamente Jesus realizou na cruz pelos homens de fé. Um ensino que praticamente vale o filme. Se quiser saber algo mais acerca das questões que envolvem cultura e espiritualidade, indico o texto deste blog: Uma boa espiritualidade para a nossa religiosidade. É isso,amigos. Bom filme!

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