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a ESPIRITUALIDADE no Cinema: PAULO, APÓSTOLO de CRISTO

O diretor italiano Sergio Leone (Era uma vez no Oeste) foi um dos maiores cineastas da segunda metade do século 20 e certa vez definiu com as seguintes palavras seu estilo autoral: "Conto fábulas: é um excelente modo de se chegar o mais próximo da verdade." É isso. O filme PAULO, APÓSTOLO DE CRISTO (Drama, EUA, 2018) é uma fábula sim, plenamente espiritual! Mas a razão não é porque as palavras do Apóstolo Paulo ditas no filme não sejam verdadeiras, nem tampouco porque as situações ali vivenciadas pelos cristãos não sejam coerentes com a realidade do cristianismo do primeiro século. Não se trata disso. Ao contrário, as declarações de Paulo e a perseguição aos cristãos no filme são exatamente aquelas que o evangelista Lucas e os historiadores romanos anotaram a partir de pesquisas científicas dignas do nome. No entanto, como o talentoso diretor e roteirista Andrew Hyatt decidiu contar em menos de duas de horas de cinema a essencial história espiritual do cristianismo primitivo, e ainda aproveitou para destacar a liderança do mais místico e doutrinal líder cristão do primeiro século, bem - eis aqui um enredo que tomou forma através de uma objetiva integração de experiências cristãs atemporais junto de um contexto cultural e religioso diverso, tudo no objetivo de transmitir em pouco tempo uma rica história de décadas, de fé. Enfim, o diretor conseguiu! A perspectiva espiritual do filme se esclarece pela frase existencial que o Apóstolo São Paulo utilizava para explicar seu relacionamento cotidiano com a pessoa do próprio Deus do Universo: "O justo viverá pela fé." Que também pode ser entendido como "um homem que anda junto de Deus enquanto vive." Pois Paulo de Tarso começou a experimentar aquela convivência entre Deus e os seres humanos que a teologia ensina ser o resultado da reconciliação que toda religião do planeta busca concretizar. E dentro deste entendimento, eis como duas sinopses apresentam a essência da história deste mais novo filme religioso em cartaz: "Paulo (James Faulkner) era conhecido como um dos perseguidores de cristãos mais cruel de seu tempo. Mas tudo muda quando ele tem um encontro com o próprio Jesus. A partir desse momento, esse jovem se torna um dos apóstolos mais influentes do cristianismo."(sinopses) "A trama espera bastante tempo para fornecer alguns flashbacks explicando em linhas gerais a trajetória de Paulo, que perseguiu os cristãos até encontrar o amor de Jesus."(www.adorocinema) O fato é que as religiões surgiram na história da humanidade no propósito de realizar uma reconciliação (religião significa religação) dos seres humanos físico-espirituais junto da pessoa espiritual de Deus. E nos dicionários mais comuns, Reconciliação "é o ato ou efeito de reconciliar-se", e "ato de restituir a harmonia ou tornar novamente amigável"; enquanto que na teologia cristã, "a reconciliação é o fim da separação entre Deus e a humanidade causada pelo Pecado Original - num restabelecimento de relações". O roteiro desenvolve então, os efeitos desta reconciliação religiosa na vida de Paulo através de uma narração pessoal do Apóstolo enquanto se encontra preso em Roma, vítima que foi da perseguição aos cristãos determinada pelo Imperador Nero. Uma história igualmente compartilhada pelo evangelista Lucas no filme, discípulo cristão que se tornou amigo de Paulo e que descreveu sua caminhada espiritual no livro bíblico de Atos dos Apóstolos, a partir de um olhar científico da história e segundo uma visão teológica das situações narradas. A proposta básica do enredo é que as idas e vindas ao passado e presente da história de São Paulo, junto de situações que revelam o contexto vivencial dos cristãos e dos romanos à época da perseguição, promovam uma boa interação do espectador aos dramas religiosos protagonizados pelo Apóstolo. Eis uma árdua tarefa técnica que o diretor realizou dignamente a partir de um estilo autoral que vale, sim, uma reflexão cinematográfica. Pois o protagonismo do filme escapa da pessoa de Paulo e passa adiante dos fiéis resultando numa instigante valorização da Pessoa de Jesus e seus ensinamentos - opção dramática que São Paulo assinaria embaixo. Mas, enfim, o que transparece gravemente no filme, fazendo jus à espiritualidade do mais místico líder cristão do Novo Testamento, é a fundamental transformação existencial da personalidade e do sentido da vida do Apóstolo. Tudo a partir de uma conversão oriunda da interessante experiência de reconciliação espiritual e justificação religiosa que Paulo vivenciou na estrada de Damasco, região da Síria, no ano de 34 d.C., na presença do Espírito de Jesus, o Messias. Pois como oportunamente anotaram as sinopses acima e a crítica abaixo em destaque, o religioso eficaz que antes perseguia cristãos até à morte - tornou-se ele próprio um seguidor de Jesus Cristo. Uma mudança de rumo existencial ocorrida via um encontro pessoal gerador de um relacionamento espiritual que tornou-se uma fonte contínua de transformação da personalidade interior do Apóstolo. Ufa. Haja religião (religação) espiritual natural, hein... Pois, afinal, tais transformações originaram do básico encontro e do posterior relacionamento - ambos místicos, de Paulo. Sendo que "místico" é expressão que intitula um encontro existencial que acontece entre dois espíritos de seres pessoais distintos. E o relacionamento espiritual místico do Apóstolo Paulo ocorreu exatamente através dos contatos que vivenciou junto de dois espíritos: primeiro, no encontro que teve com o Espírito de Jesus Cristo, na estrada de Damasco. E, logo depois, pelo encontro que se tornou um relacionamento constante no restante de sua vida na Terra, junto da pessoa do Espírito Santo de Deus. Eis então, a experiência inicial e o relacionamento posterior duradouro que são a razão de considerarmos São Paulo o maior místico do Novo Testamento - pois a marca essencial de sua vida passou a ser uma convivência diária com o Espírito Santo em seu ser interior, no espírito. Portanto, é a integral "reconciliação" espiritual que ocorre entre a pessoa de Paulo e a pessoa de Deus que vai transformar um religioso-legalista em espiritual, um ser apaixonado e mordaz em alguém amoroso e disciplinador, e que vai moldar um homem ideólogo e ansioso em uma pessoa idealista e satisfeita, fazendo com que deixe de agir como um ser julgador e mortal até se tornar uma alma perdoadora e pacificadora. O homem passou a carregar em sua pessoa interior um edificante ser espiritual celestial gerador de uma nova existência pessoal para si, sem que isto fizesse sua personalidade perder-se dele mesmo. Ao contrário, o Apóstolo finalmente "se achou" consigo próprio, pois passou a obedecer intimamente as regras da lei que sempre considerou as mais essenciais de sua religião. Uma novidade de vida tão extraordinária que não passou em branco quando da crítica ao filme realizada pela revista Preview, de abril/2018: "Na prisão, (Paulo) recebe o discípulo e médico Lucas, para quem narra sua transformação de cruel assassino dos seguidores de Jesus em um dos maiores difusores do Cristianismo... É uma produção pouco ambiciosa, mas emociona e tem valor histórico." Aproveite o filme não apenas pra se emocionar, mas especialmente, para mover sua busca existencial atrás de logo vivenciar uma experiência "religiosa" tão saudável de reconciliação espiritual quanto a que viveu Paulo, o Apóstolo de Cristo. E não esqueça de ficar bem atento ao final da história, pois todas as pessoas espirituais do mundo que desejam saber como foi o reencontro de Jesus e do ladrão no reino dos céus poucas horas após a morte de ambos aqui na Terra; então, isto logo saberão a partir de uma magnífica cena que ocorre nos minutos derradeiros deste belo filme. Vale a pena!

Comentários

  1. Interessante a colocação que você faz sobre o filme. Nunca me interessaria em assistir um filme sobre Paulo, por achar que não conseguiriam resumir com qualidade a vida do apóstolo. Mudei de ideia
    Grande abraço

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