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REFORMA PROTESTANTE. Teologia e Doutrinas.

Esse texto traz um resumo abreviado com citações, de artigo publicado pelo teólogo protestante Franklin Ferreira, no jornal gazeta do povo, Curitiba PR: 'Os temas centrais da Reforma Protestante'. O teólogo, diretor de seminário e pastor Franklin Ferreira graduou-se em teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tendo pós graduação na Universidade Luterana do Brasil e Mestrado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, sendo autor de diversos livros, dentre eles; 'A Igreja Cristã na história', 'Contra a Idolatria do Estado', 'O Credo dos Apóstolos'; e publica periodicamente no jornal gazeta do povo. TEXTO. O artigo 'Os temas centrais da Reforma Protestante' foi publicado em 25/10/2021, quando da celebração de 504 anos da Reforma Protestante iniciada no século 16. No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero deu publicidade na Igreja do Castelo de Wittenberg, às suas 95 teses do 'Debate para o esclarecimento do valor das indulgências". O autor inicia o artigo, destacando algumas das teses de Lutero que contraditavam "as noções do cristianismo medieval de obtenção de perdão de pecados": "1. Ao dizer: 'Fazei penitência' ", Jesus ensinava que toda a vida dos fiéis deveria ser norteada nessa perspectiva; "27. Pregam doutrina humana os que dizem que...", o soar de moedas irá levar almas do purgatório aos céus; "32. Serão condenados em eternidade... aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência"; "62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o Evangelho..."; "94" Os cristãos devem ser exortados a seguir a Cristo. Observe que, o contexto histórico dessas afirmações doutrinárias de Lutero faz parte de um movimento de toda cristandade ocidental, numa busca de retorno aos fundamentos da fé, conforme definidos nas Escrituras; sendo que esse movimento de 'reforma' do cristianismo logo se dividiu entre 'magisterial' - com apoio do Estado; e 'radical' - sem o apoio e até sendo perseguido pelo Estado. Dentre os movimentos protestantes iniciais que estão ligados ao grupo da 'reforma magisterial', anota-se: os evangélicos ligados a Martinho Lutero, Felipe Melanchton e Martin Chemnitz; os reformados ligados a Ulrico Zwinglio, Martin Bucer, João Calvino, João Knox, Henrique Bullinger e Gaspar Oleviano; e os anglicanos, ligados a William Tyndale, Thomas Cranmer e William Perkins. Além destes, o autor cita lideranças dos reformadores radicais, os 'anabatistas', como Conrad Grebel, Balthasar Hubmaier, Michael Sattler e Menno Simons, além do destaque a importantes lideranças femininas do movimento protestante, como Katharina von Bora, esposa de Lutero, Katharina Schütz Zell (de Estrasburgo), a rainha Margarida de Navarra, que protegia os reformados franceses, Jane Grey, inglesa, Marie Dentiére, belga, e ainda, Olympia Fulvia Morata, italiana versada em latim e grego. Após a informação sobre grupos e lideranças importantes da Reforma Protestante, o autor traz regiões e países em que os movimentos luterano, reformado, anglicano e anabatista vieram a promover sua influência, com luteranos atuando desde a Alemanha, Suécia e Finlândia, e outras regiões; e os reformados desde a Suiça, França, Holanda e Escócia, até outros países. Com destaque para a histórica informação sobre, "os reformados franceses que realizaram o primeiro culto evangélico em terras brasileiras, em 10 de março de 1557". De forma geral, a ideia descrita na expressão 'reforma' buscava rejeitar qualquer novidade não embasada nas Escrituras, que tivesse sido incluída nas doutrinas do cristianismo durante o período medieval. No entanto, "a Reforma do século 16 foi diferente das tentativas anteriores", na definição de Carl Trueman: "A Reforma é a tentativa de colocar Deus, como ele se revelou em Cristo, no centro da vida e do pensamento da igreja." Nesse sentido, a Reforma se tornou um protesto que visava tratar não somente de rituais e atitudes religiosas, mas principalmente, da 'doutrina' oficial da igreja à época. Conforme Lutero: "Não estou preocupado com a vida, mas com as doutrinas. A vida má não causa grande dano a não ser a si mesma, mas o ensinamento errado é o maior mal neste mundo, porque leva multidões de almas ao inferno. Não estou preocupado se és bom ou mau, mas atacarei teu ensinamento venenoso e mentiroso que contradiz a Palavra de Deus." Esse valor de Lutero é percebível nas três áreas essenciais 'reafirmadas' pelo movimento da Reforma Protestante do século 16: - a centralidade da Escritura; - a justificação pela fé; - o sacerdócio de todos os crentes. "Os reformadores magisteriais reafirmaram a autoridade da Escritura como um guia certo e suficiente para a salvação e o conhecimento de Deus." A resposta do movimento protestante para tratar as falhas do papado e do clero da igreja foi a solução da 'autoridade das Escrituras' - as quais poderiam ser lidas por qualquer fiel cristão, com estes sendo levados ao conhecimento da salvação em Cristo através da iluminação do Espírito Santo. A partir desse princípio, os reformadores traduziram, anunciaram e deram testemunho ao povo comum dos ensinamentos das escrituras, de forma que o próprio desenvolvimento da reforma do cristianismo veio a ser um resultado do conhecimento da Palavra de Deus. Os líderes reformadores orientavam uma interpretação bíblica em respeito a seu contexto linguístico e textual, valorando a teologia dos pais da igreja e de Agostinho, no propósito de que os fundamentos essenciais das verdades bíblicas da criação e queda, restauração e redenção pudessem ser compreendidas pelos fiéis cristãos. "A segunda e mais importante doutrina redescoberta pelos reformadores foi a doutrina de justificação pela graça, baseada somente na livre graça eletiva de Deus, e recebida pela fé somente." Em meio aos muitos ensinos da igreja que ofereciam salvação através da mediação de rituais e através de uma forte dedicação dos fiéis, a oportunidade de ser salvo única e somente pela graça de Deus se tornou uma experiência de consolo e esperança aos fiéis. Assim, "a ideia da imputação da justiça de Cristo ao que crê somente foi o coração da mensagem da Reforma do século 16." O terceiro aspecto da religiosidade bíblica que foi recuperado pela reforma protestante a partir do exame das Escrituras trata da vida cristã. Até então, os fiéis cristãos eram divididos entre aqueles que serviam no ministério, o clero, e o povo que seguia a fé cristã, o laicato. Essa divisão em categorias afirmava uma superioridade extrema da experiência espiritual do clero diante do povo cristão. "Os reformadores, então, ensinaram que nem todos são chamados para ser pastores, mestres ou conselheiros. Há um só “estado” – todos os cristãos são sacerdotes –, mas uma variedade de funções, isto é, cada cristão tem um chamado específico da parte de Deus, para glorificá-lo no mundo. Assim, todo cristão é sacerdote de alguém, e somos todos sacerdotes uns dos outros." A compreensão de que todos os cristãos tem igual valor em sua vivência espiritual, independente do ministério e dons que irão realizar, seja nos ministérios da igreja ou no dia a dia da vida em sociedade, desenvolveu o entendimento de quão importante era aos cristãos participar da 'comunhão dos santos' - para que viessem a congregar juntos no corpo de Cristo através da convivência com os irmãos, na igreja. Esse aspecto também trouxe entendimento sobre os direitos e valores iguais para todos os cidadãos, sendo algo que desenvolveu a democracia em diversas nações. "Assim, ainda que sejam consideradas questões políticas, sociais, culturais e econômicas na Reforma Protestante, a marca significativa deste movimento é a sua clara preocupação com a doutrina e a prática da fé como afirmada na Escritura Sagrada." Nesse sentido, a Reforma Protestante se torna um movimento dependente e subordinado ao padrão das Escrituras, razão para que a Igreja de Cristo deva seguir sendo "sempre reformada". O propósito é de que a igreja retorne continuamente para se organizar e desenvolver a partir dos fundamentos dados nas Escrituras, sendo essa a sua única regra de fé e prática. Concluindo, "é oportuno citar um trecho de uma correspondência de João Calvino ao imperador do Sacro Império Romano-Germânico Carlos V: “A reforma da igreja é obra de Deus e tão independente de esperanças e opiniões humanas quanto a ressurreição dos mortos ou qualquer milagre dessa espécie... Deus quer que seu evangelho seja pregado. Vamos obedecer a esse mandamento, vamos para onde ele nos chama! O sucesso não é da nossa conta” REFERÊNCIA. (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/franklin-ferreira/os-temas-centrais-da-reforma-protestante/). autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor de teologia e ciências da religião, Igreja Presbiteriana do Brasil.

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