sexta-feira, 8 de junho de 2018

a Espiritualidade da (IN)SATISFAÇÃO da Vida, no Cinema: A FELICIDADE NÃO SE COMPRA

Ser ou não ser, eis a questão! O mais famoso filme do talentoso diretor Frank Capra foi lançado em 1946 e tornou-se um dos maiores da história do cinema somente algumas décadas depois - A Felicidade não se compra (It´s a wonderful life), com James Stewart e Donna Reed, EUA. E se você não conhece seu astro principal, Mr. James Stewart, e nem sua trajetória única como ator em Hollywood, bem, dá uma olhada no talento e carisma de Tom Hanks que você vai chegar perto de saber quem foi Jim Stewart, sim senhor. Segue uma sinopse geral do filme (o livro do Cinema, Globo Livros): "Capra faz o retrato de um homem leal que sacrificou os sonhos de viagens e carreira para seguir os passos do pai, ajudando a comunidade local e trabalhando num pequeno barco de Bedford Falls, no estado de Nova York." A partir daí, iniciamos nossa reflexão: De que adianta ao homem perder o mundo e também a própria alma? Pois o filme "é uma história sobre estar comprometido, sem saída, enquanto os outros vão embora e progridem e você se torna tão ressentido que agride verbalmente os filhos, os professores deles e sua esposa opressivamente perfeita." (Wendell Jamieson, The New York Times, 2008). Ora, se o sentido da vida é encontrar uma boa razão para ela, o que fazer quando se vive uma vida cheia de virtudes sem jamais conquistar as promessas que deveriam vir junto com suas realizações? Que tal pedir ajuda aos universitários? Uma necessária introdução espiritual acerca do sentido da vida está no livro bíblico de Eclesiastes, do Rei Salomão. E você já deve ter ouvido a sua afirmação mais famosa: "Tudo é vaidade", "Nada faz sentido" ou "Tudo é um vazio só", que são diversas versões da expressão que Salomão utiliza pra resumir sua observação da vida... assim que parou pra analisar tudo no objetivo de encontrar uma razão pra existência de todo mundo. O que não quer dizer que a vida não sirva pra nada e que não seja possível conhecer coisas maravilhosas quando a gente analisa o que acontece com a humanidade neste planeta. Não é isso. Salomão só afirma que ao olhar pra natureza e igualmente observar com cuidado a história de todos os seres humanos, bem, ele não conseguiu descobrir nenhum "sentido" bem definido pra existência da humanidade e para a criação do mundo. Ao mesmo tempo em que faz esta descoberta meio deprimente, Salomão também avisa que não devemos jogar a vida fora, não. Ao contrário, deve-se aproveitar todos os lugares e situações, pessoas e atividades que a vida oferece pra todo mundo. Pois há um tempo para abraçar e outro pra ficar longe, e há tempo de viver e até de morrer. Existe um tempo pra todo tipo de experiência de vida debaixo do céu, inclusive experiências junto de Deus. Agora, o negócio é que a partir daí o próprio sábio Salomão parece ficar em silêncio sobre uma questão espiritual que o filme apresenta como um grave drama existencial de quase todo mundo. Pois a história do filme é que o protagonista entra em total parafuso da alma e decide acabar com a vida após ter abandonado projetos pessoais só pra conseguir fazer algo de bom pela sociedade. E a questão é que mesmo assim, nada dá certo, nem pra ele e nem pra ninguém. Pois ele não consegue transformar como pretendia a história da sua família e nem mesmo da vizinhança - pessoas por quem ele faz tudo que pode, deixando pra lá seus planos acerca do que ser e fazer com a sua própria história. Ou seja, mesmo após abraçar alguns princípios espirituais que valorizam o altruísmo e a doação de si mesmo ao próximo como uma orientação pra dar um (digno) sentido pra vida, eis que tudo que ocorre ao redor do protagonista parece não mudar nada pra melhor. E até a sua vida interior parece não se elevar acima do teto da casa dele, no fim das contas. Que vazio, quanta inutilidade! Olha o enredo dramático do filme: "A rápida transição de George, de santo a bêbado suicida, é chocante e verossímil, talvez baseada na luta do próprio Capra contra a depressão logo depois dos 20 anos, quando, como imigrante italiano, teve dificuldade em achar trabalho. Anos de sacrifício e decepções estão por trás da ruína de George, e sua espiral descendente é um retrato convincente do desespero... o filme de Capra era mais sobre o realismo trágico que acerca de realismo mágico...". Tá entendendo? Então, já que estamos entrando num labirinto quase sem sentido, vale a pena ouvir o sábio Salomão de novo, pois Eclesiastes orienta que nem as conquistas profissionais e muito menos os bens vão trazer satisfação completa para nós, e muito menos, um sentido pra vida! Eis a razão pela qual Salomão diz que é necessário valorizar as experiências de vida que a gente tem, e não só aquilo que conquistamos - pois até as boas realizações irão passar, mas as experiências que nossa alma vai partilhar nesta existência, bem, estarão sempre conosco. Uma ideia que o humanista diretor Frank Capra acaba utilizando na solução de sua história - conforme resumo da crítica: "A vida de um homem afeta muitas outras vidas", diz Clarence (o anjo), e essa é, em última instância, a mensagem do filme." Mas é preciso seguir em frente, gente. Pois mesmo esclarecendo que as melhores conquistas desta vida são as próprias "experiências" que por aqui vivenciamos; então, Salomão também deixou claro que rapidamente iremos descobrir como a vida também é volúvel e frágil, e bastante cruel. Afinal, o protagonista George Bailey tornou-se o melhor amigo e líder que toda aquela comunidade poderia receber, mas... isto não significa que seus bons projetos e intenções tiveram sucesso, que desgraças não aconteceram ali, e que a desonestidade de poucos não enganou muitos a ponto de arruinar um bom número dos cidadãos daquela sociedade. A injustiça se mantém entre nós e seus frutos podres se acumulam na árvore da vida da gente, mesmo quando dedicamo-nos pra valer ao que todos sabemos ser o certo a fazer (ser) neste mundo. E qual será o sentido e razão desta vida, então? Certamente um sentido que requer a perspectiva espiritual pra se tornar bem razoável e real pra todo mundo. Pois somente através da espiritualidade sabemos que hoje se vive um tempo de transição entre a vida que deveríamos ter e aquela que somente iremos desfrutar numa outra dimensão, futura. Sim, eis algo que começa a trazer sentido para estes dias da nossa história. De igual maneira a espiritualidade judaico-cristã esclarece que o povo da fé saiu do Egito direto pra viver 40 anos no deserto antes de finalmente chegar à terra prometida. E eis que esta nossa presente existência também se tornou... um deserto, meu amigo. Mas que tem diversos lagos e oásis repletos de sombras de árvores pra quase todo lado que a gente olha, de verdade. Segue uma valiosa análise crítica que define um lado para o qual todos podemos olhar, pela visão do otimista diretor: "Para Capra, George é um homem que faz a diferença na vida dos outros; ele não é a pessoa qualquer que todos somos ou podemos ser. Nesse sentido, o filme pode ser um alerta de que não somos todos desapegados por igual; algumas pessoas, felizmente para as outras, são simplesmente menos egoístas que as outras." Ser ou não ser, por que não? Bom filme!

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