terça-feira, 26 de outubro de 2021

ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO nas Institutas de João Calvino, Outubro 2021

Esse texto contém um resumo e citações do "Resumo" de J P Wiles para as Institutas de João Calvino. INTRODUÇÃO. Comentário de Alister McGrath sobre "As Institutas" de Calvino e o tema da Predestinação: "A análise que Calvino faz da predestinação parte de fatos empíricos. Alguns crêem no evangelho. Outros não. A função primária da doutrina da predestinação é explicar o porquê de alguns indivíduos responderem ao evangelho, e de outros não. Representa uma tentativa de explicar a variedade das respostas humanas diante da graça. A teologia calvinista da predestinação deve ser considerada como uma reflexão sobre os dados colhidos da experiência humana e interpretados à luz das Escrituras, em vez de algo que se deduz com base em ideias preconcebidas sobre a onipotência divina. (...) Longe de ser uma premissa de importância central no pensamento de Calvino, a predestinação é uma doutrina acessória, que se preocupa em explicar um aspecto intrigante das consequências da proclamação do evangelho da graça." (2005, p 533). TÓPICO 21. A ELEIÇÃO. "O evangelho não é pregado em toda parte do mundo, e onde é pregado não encontra sempre a mesma recepção; e esta circunstância, sem dúvida, está subordinada à determinação de Deus na sua eleição eterna." Mas essa decisão soberana da Majestade de Deus em que alguns irão receber a salvação e outros serão impedidos de experimenta-la causa dificuldades que somente serão resolvidas "numa crença reverente e correta na eleição e na predestinação." Alguns entendem não ser razoável imaginar "que alguns homens sejam predestinados à salvação e outros à destruição." Essa visão se torna uma pedra de tropeço, pois jamais saberemos que "nossa salvação flui da fonte da misericórdia gratuita de Deus, até que cheguemos a um conhecimento da Sua eleição eterna." Deus decidiu oferecer a esperança da salvação para alguns homens e nega-la a outros; "e o próprio contraste projeta luz sobre Sua graça." Paulo afirma que a salvação de um remanescente ocorreu em razão da eleição, o que demonstra que é a Bondade Soberana de Deus que define suas decisões; pois Deus não deve nada a homem algum. "Assim, hoje também há um remanescente escolhido pela graça. E, se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça." (Romanos 11.5-6). Então, se é preciso recordar da eleição para conseguir entender que a salvação é pela graça; todos que negam essa doutrina abandonam a humildade e ocultam o testemunho de uma verdade necessária. Penso que as zombarias dos ímpios quando tratam da predestinação não devem nos calar, e nem mesmo a cautela dos que se dizem atenciosos com os de "mente fraca"; pois neste caso, ao defender sua posição também acabam afirmando que Deus não foi sábio ao apresentar a eleição e torna-la conhecida aos homens. "Ninguém que se arroga ser piedoso ousa negar totalmente a doutrina da predestinação; no entanto muitas objeções são levantadas contra ela, e especialmente por aqueles que a consideram ser o efeito da presciência, ou que ensinam que a presciência é a sua causa." "Nós também cremos firmemente que Deus não somente predestina como também pré-conhece, contudo, dizemos que é absurdo fazer da Sua presciência a causa do Seu propósito predestinador." Ao falar da presciência de Deus queremos destacar que tudo sempre esteve diante de seus olhos; "de tal maneira que, para Seu conhecimento, nada é futuro ou passado, mas todas as coisas são presentes." "Todavia, por predestinação queremos dizer o eterno decreto de Deus mediante o qual Ele determinou consigo mesmo o que haveria de ser de todos os homens." "Pois nem todos são criados em condições iguais; mas sim a vida eterna é preordenada para alguns e a condenação eterna para outros." E do modo como cada homem está colocado em uma destas condições distintas, "dizemos que é predestinado para a vida ou para a morte." Deus demonstrou esta verdade acerca da família de Abraão, revelando ser o Juiz da condição de toda uma nação, naquela eleição. Pois foi na pessoa de Abraão que Deus escolheu uma nação e rejeitou outras, conforme também Moisés afirmou ao povo que a razão de sua preferência era o Amor de Deus, sendo este o motivo de serem libertos do Egito. "O Senhor não se afeiçoou a vocês nem os escolheu por serem mais numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de todos os povos. Mas foi porque o Senhor os amou e por causa do juramento que fez aos seus antepassados. Por isso ele os tirou com mão poderosa e os redimiu da terra da escravidão, do poder do faraó, rei do Egito." (Deuteronômio 7.7-8). Portanto, fiquem alertas todos que pensam que Deus faz suas escolhas de acordo com a dignidade dos homens, pois eis aqui a prova do modo como o Senhor preferiu uma nação diante de todas as outras, já que Ele declarou o "Seu favor sobre aqueles que eram poucos e ignóbeis, até mesmo perversos e desobedientes." Quem de vocês ainda vai discutir com Deus sobre isto, questionando com Ele acerca de "porque foi Seu beneplácito dar tal prova da Sua compaixão?". Creio estar provado que Deus age conforme o seu conselho secreto ao escolher livremente quem ele quer, mas também, importa saber que aos que Ele oferece a salvação, igualmente garante a eficácia dos resultados. "Na adoção da família de Abraão brilhou o favor gratuito de Deus, que Ele negou a outras, mas nos membros de Cristo brilha uma demonstração muito mais excelente do poder de Sua graça; pois aqueles que estão unidos com Ele como seu Cabeça nunca decaem da salvação." Desta forma, entendemos que a Eleição Geral de Israel era a imagem visível de uma bênção maior que Deus definiu derramar sobre alguns em detrimento de outros. "Esta é a razão porque Paulo distingue tão cuidadosamente entre os filhos de Abraão segundo a carne, e os descendentes espirituais que são chamados como foi chamado Isaque - não porque era uma coisa vã ou infrutífera ser filho de Abraão, mas porque o conselho imutável de Deus, mediante o qual Ele predestinou a Si mesmo a quem quis, foi eficaz para a salvação destes somente." No próximo capítulo irei destacar os textos bíblicos que apresentam essa doutrina. TÓPICOS 22 a 24. UMA DECLARAÇÃO DO TESTEMUNHO DAS ESCRITURAS À VERDADE DA DOUTRINA DA ELEIÇÃO E UMA REFUTAÇÃO DAS OBJEÇÕES QUE SEMPRE TEM SIDO LEVANTADAS CONTRA ELA. PROVA DA MESMA MEDIANTE A CHAMADA EFICAZ. "A doutrina da eleição encontra oposição de todos os lados, mas a sua verdade não pode ser abalada." Muitos entendem que Deus prefere alguns homens ao invés de outros baseado na presciência de suas atitudes, adotando pela Graça aqueles que sabe que serão dignos de Sua Graça, e declarando a condenação eterna aos que também já sabe que serão indignos. Esse pensamento tem sido aceito por muitas épocas e grande número de bons homens, porém, "a verdade de Deus é sólida de mais para ser abalada pela autoridade de grandes nomes." "Quando Paulo ensina que fomos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1.4), ele certamente anula o pensamento de que Deus tinha qualquer respeito para com nossos méritos." Paulo indica que após nosso Pai celestial saber que ninguém da família de Adão seria digno de sua eleição, então Ele volta seu olhar para Cristo, vindo a dar vida aos que escolheu a partir da honra de Cristo. Assim, Paulo convoca os colossenses para "dar graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz" (Col 1.12). Portanto, ao realizar a eleição antes de derramar a graça que nos capacita para a vida futura, de que forma Deus poderia achar algo em nós que pudesse auxiliar nossa eleição? A carta aos Efésios é mais clara ainda sobre esse ponto: "Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença." (Ef 1.4). "Se Deus nos escolheu para que fossemos santos, não nos escolheu porque previu que seríamos santos." Paulo trata do mesmo tema na carta aos Romanos, ao esclarecer que nem todo o povo de Israel poderia ser considerado israelita, pois estavam sob a mesma bênção de forma hereditária, mas "a sucessão não passou para todos sem distinção". Ainda que os descendentes de Abraão fossem santos em razão daquela aliança perante o povo, Paulo também destaca que muitos ficaram de fora da aliança, o que não ocorreu em razão de sua indignidade, mas "sim por causa da supremacia e domínio da eleição especial de Deus." Jesus Cristo faz a seguinte declaração ao perceber o coração duro dos que ouvem suas palavras: "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim... E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum se perca de todos os que me deu." (João 6.37-39). "Observe aqui que o dom do Pai é definido como sendo a causa da nossa vinda a Cristo e do nosso interesse no Seu cuidado protetor. "Ninguém", diz Ele, "pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer... todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim". (João 6.44-45). Neste sentido, entendemos que a eleição seria comum a toda humanidade se todos viessem até Cristo, mas o que vemos é algo diferente disto, pois há um número menor de crentes. Alguns dizem que seria um contrassenso Deus chamar todos os homens para ele, sendo que somente alguns são escolhidos; e desta forma afirmam que a promessa universal derruba a ideia de uma graça diferente e especial. "Já demonstrei antes como as Escrituras reconciliam estas duas coisas: que pela pregação do evangelho todos os homens são chamados ao arrependimento e à fé, e apesar disso, o espírito de arrependimento e de fé não é dado a todos... ; embora a voz do evangelho seja uma chamada geral a todos os homens, não obstante, o dom da fé é raro." Isaías esclarece o motivo, declarando que o "braço forte do Senhor" não alcança a todos com a revelação do conhecimento de Deus. O profeta esclarece que, "devido à fé ser um dom especial, a chamada externa chega em vão aos ouvidos dos homens." Agostinho orienta aqueles que desejam contraditar a Deus: "Queres disputar comigo? Prefiro que te maravilhes comigo, e exclames: Oh, que profundidade." Paulo também esclarece que Jacó foi escolhido e Esaú foi rejeitado não porque Deus sabia de suas atitudes, mas sim devido à escolha de Deus, antes sequer de terem praticado algum bem ou mal. "Mas procuremos a causa da condenação na corrupção do homem, ao invés de inquirir sobre o mistério inescrutável e incompreensível da predestinação divina." Vamos analisar três mentiras acerca dessa doutrina: 1. "Alguns falsa e impiamente acusam Deus de parcialidade injusta porque não trata todos da mesma maneira." Declaram que Deus deve castigar todos se os acha culpados, ou salvar todos se os acha inocentes, querendo impedir Deus de ser misericordioso ou de realizar seu justo juízo. A nossa confissão é que todos são culpados, e que alguns serão salvos pela misericórdia de Deus; sendo que não irá socorrer a todos, porque cabe a Ele decidir ser o Juiz da sentença justa de condenação. 2. "Diz-se que esta doutrina destrói todo o cuidado para com as boas obras. Admitimos que há muitos suínos que abusam da doutrina da predestinação e fazem dela uma desculpa para desafiar toda a repreensão e toda a exortação às boas obras", dizendo que pela predestinação, Deus vai salva-los ainda que cometam toda barbaridade. "Todavia as Escrituras não encorajam uma tal estultícia e maldade." 3. "Contrapõe-se que esta doutrina milita contra todas as exortações a uma vida piedosa." No entanto, enquanto pregava a eleição, Paulo igualmente foi sempre firme ao exortar e admoestar. Qual mestre zeloso que pensa dessa forma pode se comparar ao Apóstolo Paulo em zelo e determinação? Lembremos de Agostinho: "Visto não sabermos quais são os eleitos, cumpre-nos desejar de coração a salvação de todos. Assim sendo, procuremos fazer de toda pessoa com que encontrarmos participante da paz; e nossa paz permanecerá sobre os filhos da paz." "Deus manifesta Seu conselho secreto ao chamar Seus eleitos; podemos, portanto, corretamente considerar a chamada eficaz como sendo a prova da eleição, porque "aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou." (Romanos 8.30). Neste sentido, eles já começam a viver os benefícios da eleição desde a sua chamada; "e o Espírito que então recebem é, portanto, chamado o Espírito da adoção e o penhor da sua herança futura." (Efésios 1.13). (Wiles, J P. As Institutas da Religião Cristã - um resumo. João Calvino. Editora PES, São Paulo SP, 1966, p 270-277). (McGraht, Alister. Teologia sist, hist e filosófica. Uma Introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações. São Paulo, 2005). Autor: Ivan Santos Rüppell Jr é Teólogo e Cientista da Religião, Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

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