terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

TEOLOGIA APOCALÍPTICA. Introdução. Interpretação. SPS, extensão Curitiba, 2023.

Esse breve resumo com citações tem objetivo didático de orientação para a Disciplina: Teologia Apocalíptica, do currículo do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba, da Igreja Presbiteriana do Brasil. Texto base: GORDON, Fee e STUART, Dou. Entendes o que lês?. Edições Vida Nova, São Paulo SP, 2006. RESUMO. Introdução. A necessidade de interpretação. "A interpretação que visa a originalidade, ou que prospera com ela, usualmente pode ser atribuída ao orgulho (uma tentativa de "ser mais sábio" do que o resto do mundo), ao falso entendimento da espiritualidade (segundo o qual a Bíblia está repleta de verdades profundas que estão esperando para serem escavadas pela pessoa espiritualmente sensível, mas com um discernimento especial), ou a interesses escusos (a necessidade de apoiar um preconceito teológico, especialmente ao tratar de textos que, segundo parece, vão contra aquele preconceito)... O que queremos dizer mesmo é que a originalidade não é o alvo da nossa tarefa. O alvo da boa interpretação é simples: chegar ao "sentido claro do texto". (p. 13-14). A necessidade da interpretação. A primeira razão para "aprender" a interpretar é que todo leitor ao ter contato com o texto, também acredita que entende bem o que está escrito. Junto disso, também compreendemos que "nosso entendimento é a mesma coisa que a intenção do Espírito Santo ou do autor humano." No entanto, a primeira atitude que temos como leitores acaba sendo a de compreender o texto a partir de nossa própria cultura e sentimentos, de nossas palavras e visão. Observe que o símbolo da cruz de Cristo traz à nossa mente a visão do que se considera um +, embora a cruz romana fosse em forma de T. Na mesma perspectiva, quando o Apóstolo Paulo utiliza a expressão "carne" em suas cartas, ele se refere à natureza humana decaída e aos "apetites físicos" do ser, mas ao invés disso, lemos como se ele estivesse falando do corpo físico dos seres humanos. Nestes casos, o leitor lê e interpreta rapidamente o que leu, sendo que em ambas as situações seu entendimento está errado. Um aspecto importante a ser notado é que os próprios tradutores da Bíblia já fizeram algum tipo de interpretação ao escolher as palavras que utilizaram no texto, do grego ao português, por exemplo; além de outra situação que é entender e utilizar um texto para definir uma doutrina, sendo que denominações diferentes tem entendimentos diferentes do valor de um mesmo texto. Pois o interpretam e entendem de forma diferente. Ainda é preciso anotar a existência de grupos religiosos denominados de "seitas", que utilizam o texto bíblico de modo surpreendente, além dos que entendem que há doutrinas novas surgindo a cada geração. A natureza da Escritura. "Uma razão mais significante para a necessidade de interpretação acha-se na natureza da própria Escritura... A Bíblia é, ao mesmo tempo, humana e divina... "A Bíblia é a Palavra de Deus dada nas palavras de (pessoas) na história." (George Ladd). Assim, "é esta natureza dupla da Bíblia que exige da nossa parte a tarefa da interpretação." (p. 17). "Porque a Bíblia é a Palavra de Deus, tem relevância eterna; fala para toda a humanidade em todas as eras e em todas as culturas... Mas porque Deus escolheu falar Sua Palavra através das palavras humanas na história, todo livro na Bíblia também tem particularidade histórica; cada documento é condicionado pela linguagem, pela sua época, e pela cultura em que originalmente foi escrito... A interpretação da Bíblia é exigida pela "tensão" que existe entre sua relevância eterna e sua particularidade histórica". (p. 17). Neste sentido, a tarefa da interpretação da Bíblia orientada pela "natureza do texto" não deve ser realizada somente como se fosse um texto e livro escrito por seres humanos, e também não pode ser interpretada como sendo um texto que se pode entender somente a partir de sua "relevância eterna". Assim, "o fato de que a Bíblia tem um lado humano é nosso encorajamento; também é o nosso desafio, e é a razão porque precisamos interpretar." (p. 18). Dois aspectos: A Bíblia é um texto escrito durante 1500 anos, que utilizou o vocabulário, expressões e linguajar, e ainda foi anotada conforme a "cultura daqueles tempos e circunstâncias." (p. 18). Desta forma, a atividade da interpretação ocorre em duas etapas: - é preciso "escutar" a Palavra que os primeiros ouvintes receberam, buscando entender o que lhes foi anunciado lá em seu tempo e situção; - é preciso saber ouvir esta mesma Palavra eterna "aqui e agora". Observe que, "um dos aspectos mais importantes do lado humano da Bíblia é que Deus, para comunicar Sua Palavra para todas as condições humanas, escolheu fazer uso de quase todo tipo de comunicação disponível: a história em narrativa, as genealogias, as crônicas, leis de todos os tipos, poesia de todos os tipos, provérbios, oráculos proféticos, enigmas, drama, esboços biográficos, parábolas, cartas, sermões e apocalipses." (p. 19). Para sermos capazes de "escutar" o que foi "ouvido" pelos primeiros profetas de Deus lá na história, é preciso aprender a identificar e compreender cada genêro literário utilizado em cada uma daquelas épocas. E para escutar Deus falando conosco "aqui e agora", é preciso entender como cada um destes modos de literatura "fala" conosco e em que circunstância e maneira, posto que são os textos são "salmos" ou são "leis civis" ou são "cartas" ou são "leis morais" etc. "Tais são as perguntas que a natureza dupla da Bíblia nos impõe." (p. 19). A Primeira Tarefa: Exegese. (p. 19). "A exegese é basicamente uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia." (p. 19). Todo leitor da bíblia é de certa forma um exegeta, pois naturalmente vai destacar que "Jesus estava querendo dizer isto" e, "Paulo expõe um costume antigo sobre", no entanto, este tipo de leitura sem um estudo adequado sobre o significado das palavras da época dado por peritos das letras e contexto, certamente será uma falha da leitura do exegeta "comum" e superficial das Escrituras. Uma forma de resolver essa questão é estudar e investigar TODO texto bíblico, seja qual for seu autor e época, sendo que "aprender a pensar exegeticamente não é a única tarefa; é simplesmente a primeira tarefa." (p. 20). A interpretação "seletiva" que muitos de nós fazemos é ler um texto bíblico com palavras objetivas e expressões diretas, e a partir disso rapidamente extrair o significado da frase, devido sua aparente simplicidade. Porém, cada palavra pertence a uma frase que está dentro de um parágrafo que trata de um assunto, o qual o escritor inspirado escreveu acerca de uma determinada questão ou tema. Neste sentido, o modo correto de praticar uma exegese acessível a todos os leitores da bíblia é "aprender a ler cuidadosamente o texto e fazer as perguntas certas ao texto." (p. 22). Deve-se fazer duas perguntas ao texto, sendo a primeira sobre o "contexto", analisando situações históricas e modelos literários; e a segunda questão orienta que busquemos avaliar o "conteúdo". "O contexto histórico... tem a ver com várias coisas: a época e a cultura do autor e dos seus leitores, ou seja; os fatores geográficos, topográficos e políticos que são relevantes ao âmbito do autor; e a ocasião do livro, carta, salmo, oráculo profético, ou outro gênero. Todos os assuntos deste tipo são especialmente importantes para a compreensão." (p. 22). Observe a importância de saber algo da formação e personalidade dos profetas, como Amós e Isaías, e ter conhecimento de que Ageu pregou após o exílio, além de ter entendimento da espera messiânica que ocorria ao redor da aparição de João Batista e depois Jesus, sem deixar de esquecer, por exemplo, as parábolas, pois os costumes e aspectos do cotidiano da população visitada por Jesus são importantes, como ainda, o conhecimento de que 1 denário é o salário de um dia todo. "A questão mais importante do contexto histórico, no entanto, tem a ver com a ocasião e o propósito de cada livro bíblico e/ou das suas várias partes (...) Isto variará de livro para livro, e é muito menos crucial para Provérbios, por exemplo, do que para I Coríntios." (p. 23). O Contexto Literário. "Essencialmente, o contexto literário significa que as palavras somente fazem sentido dentro das frases, e, na sua maior parte, as frases na Bíblia somente têm significado em relação às frases anteriores e posteriores." (p. 23). Algumas perguntas que devemos fazer: "Qual é a razão disto?" É preciso entender o modo como o autor do texto desenvolve o raciocínio, compreendendo o que ele diz e porque está dizendo ali naquela frase, e igualmente perceber porque a próxima frase irá trazer certo conhecimento, o qual decorre da anterior. Além disso, é preciso estar atento ao gênero literário, entendendo se há uma poesia sendo escrita e acerca de outros tipos de textos, e ainda, sobre se a frase que lemos está no início, meio ou fim de um determinado parágrafo. As Perguntas de Conteúdo. "Conteúdo" tem a ver com os significados das palavras, com os relacionamentos gramaticais nas frases, e com a escolha do texto original onde os manuscritos tem textos variantes; como saber, também, o que significa "um denário", ou uma "jornada de um sábado", ou "lugares altos", etc." (p. 24). A Segunda Tarefa. A Hermenêutica. Embora esse termo seja utilizado para a feitura da exegese também, nesse texto queremos diferenciar a hermenêutica como uma tarefa "para fazer as perguntas acerca do significado da Bíblia "aqui e agora"." (p. 25). Porém, não é possível ter qualquer noção do significado da Palavra da Bíblia para hoje, o "aqui e agora", se não fizermos uma boa exegese anterior; pois somente teremos noção dos princípios e verdades que estão sendo ensinadas naquele texto, após termos compreensão do que significavam para o autor original do texto. Neste sentido, há alguns princípios básicos para se saber o que a Escritura significa "aqui e agora". Primeiro, "um texto não pode significar o que nunca significou", pois, "o significado verdadeiro do texto bíblico para nós é o que Deus originalmente pretendeu que significasse quando foi falado/escrito pela primeira vez. Este é o ponto de partida." (p. 26). Sobre os que argumentam que um texto bíblico pode ter um conhecimento adicional além do que dizia para os ouvintes originais, sabe-se que no caso das profecias é possível ocorrer essa possibilidade, mas que estará debaixo de um entendimento dado por outros textos, que igualmente devem ser entendidos a partir do que Deus falou originalmente atraves deles. Nessa perspectiva, a hermenêutica deverá sempre ser desenvolvida mediante um bom número de regras, sendo que a integridade do leitor em temor é que deverá ser o padrão quando estiver atento ao texto da Palavra de Deus, e na busca de ferramentas e raciocínios de compreensão das palavras e frases ali escritas. {...} O APOCALIPSE: QUADROS DO JULGAMENTO E DA ESPERANÇA. "Quando nos voltamos ao Livro do Apocalipse depois de ler o restante do Novo Testamento, sentimos que estamos entrando num país estrangeiro. Ao invés de narrativas e cartas que contém declarações claras de fatos e de imperativos, chegamos a um livro cheio de anjos, trombetas, terremotos, bestas, dragões, e abismos sem fundo." (p. 217). Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de Teologia e Ciências da Religião, da Uninter e Seminário Presbiteriano do Sul, extensão Curitiba.

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