Solidão, sensibilidade e amizade, no cinema.
O drama de comédia 'Os Rejeitados' (2024) - do diretor Alexander Payne - traz na introdução de sua narrativa cinematográfica alguns ecos de filmes valiosos.
Inicia com o ambiente catedrático juvenil de 'Sociedade dos Poetas Mortos' (1989) e com o coleguismo rebelde de 'O Clube dos Cinco' (1985), até aparentemente tomar forma numa junção de melancolia e companheirismo oriunda de 'Perdidos na Noite' (1969) e 'Encontros e Desencontros' (2003).
Sim, alguns desses temas e imagens estão bem presentes na história dos protagonistas 'rejeitados': o professor Paul Hunham (Paul Giamatti), o aluno Angus Tully (Dominic Sessa) e também pode-se incluir nesse grupo, a chefe da cozinha, Mary Lamb (Da´Vine Joy Randolph).
Estes três personagens junto de alguns outros alunos e um funcionário da escola estarão como que 'presos' uns aos outros no período entre o natal e ano novo de 1970, num colégio de internato localizado na Nova Inglaterra, Barton Academy; enquanto o restante de professores e alunos seguem para o feriado nas casas de familiares.
Acima e além desses temas e ambiente, 'Os Rejeitados' tem vida própria como obra cinematográfica, apresentando situações que irão conduzir os sentimentos dos principais personagens, desde a solidão até a amizade, especialmente a partir de uma conexão oriunda da sensibilidade.
Pois a experiência da sensibilidade trata da capacidade humana de perceber e se conectar com as emoções e sentimentos do outro, sendo o fundamento de uma virtude do ser, capaz de transformar corações de pedra em corações de carne, como destaca a Bíblia. O propósito é que o cidadão se torne mais humano e menos animalesco no decorrer de sua caminhada existencial, a partir de conteúdos que irão transformar a personalidade.
Nesse contexto, vemos os protagonistas do filme, o professor Paul e o aluno Angus vivenciando um período de melancolia e depressão que acaba se tornando uma experiência de satisfação e crescimento para ambos, no instante em que se aproximam não a partir de interesses iguais numa situação, mas sim, porque começam a compartilhar as emoções um do outro no tempo que estão juntos. Afinal, a maior virtude do ser humano não se adquire nos conceitos e ideias debatidos, mas sim na pura literatura poética das sensibilidades trocadas, como já ensinava o Professor Keating, de 'Sociedade dos Poetas Mortos'. O próprio sábio Salomão já explicava no século 10 A.C. que em meio às repetições e mesmices da história aonde 'Nada faz sentido', os sentimentos com que iremos experimentar as mudanças de estação do nascimento e morte, choro e riso, do abraçar e afastar é que irão propiciar sentido pra vida.
Assim, é através da sensibilidade anotada e refletida que gera aproximação e compaixão que observamos um professor rigoroso e um aluno indolente se tornarem bons parentes como 'tio e sobrinho', no desenvolvimento de uma experiência de amizade satisfatória e virtuosa.
Nessa perspectiva, o filme traz a cena de uma visita de Paul e Angus a um museu, em que visualizamos os frutos de uma conexão surgida da sensibilidade entre ambos, em que professor e aluno escutam um ao outro, até se tornarem colegas existenciais do mesmo espaço. Sendo um momento de proximidade relacional que permite ao aluno confidenciar ao professor, que este seria melhor valorado entre os alunos com o tipo de ensino ali exposto, em que o conceito é relacionado na realidade. Segue a palavra do professor: "Toda geração acha que inventou a libertinagem, o sofrimento, a rebelião. Mas todos os impulsos e desejos da humanidade, dos mais nojentos e mais sublimes, estão em exposição bem aqui, ao seu redor. Então, antes de descartar algo como sendo chato ou irrelevante, lembre-se: se realmente quiser entender o presente, ou a si mesmo, você deve começar pelo passado. A história não é simplesmente o estudo do passado. Ela é uma explicação do presente."
O destaque religioso do valor da sensibilidade diante do outro toma forma nos princípios dados por Jesus, quando ensina que a sensibilidade é uma virtude essencial, tanto para um ser humano se relacionar com Deus, como para ser capaz de se relacionar de forma bendita com outras pessoas. Dá uma olhada: "Mestre, qual é o mandamento mais importante da lei de Moisés?. 'Jesus respondeu': 'Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de toda a sua mente'. Este é o primeiro e o maior mandamento. O segundo é igualmente importante: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'. Toda a lei e todas as exigências dos profetas se baseiam nesses dois mandamentos." (Evangelho de Mateus, cap. 22. 36-40).
A grandeza do filme 'Os Rejeitados' surge da união dos talentos artísticos do diretor, roteirista e atores, assim que dedicados a criar cenas de experiências humanas aonde se busca demonstrar o modo em que seres humanos de personalidades tão distintas são aproximados de forma virtuosa num período de tempo determinado.
A experiência da sensibilidade é a virtude que os conduz da solidão para a segurança, a partir da amizade existencial que conseguem construir num momento da história que compartilham juntos, de verdade.
Bom filme!
Ivan Santos Rüppell Júnior é autor do livro, 'Resenhas espirituais de meditações cinematográficas', editora Dialética, 2020.
Esse texto tem objetivo didático na disciplina de Símbolos de Fé no Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba. Daí a utilização de resumos e citações mais longas no interesse de oferecer aos alunos o conteúdo apropriado para o entendimento necessário aos debates e explanações em aula. CONTEÚDO de Aula: CONTEXTO HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. TEOLOGIA REFORMADA. "Trata-se da teologia oriunda da Reforma (calvinista) em distinção à luterana. O designativo "reformada" é preferível ao calvinista... considerando o fato de que a teologia reformada não provém estritamente de Calvino." (Maia, p. 11, 2007). OS CREDOS E A REFORMA. "Os credos da Reforma são as confissões de fé e os catecismos produzidos nesse período ou sob sua inspiração teológica. Os séculos 4 e 5 foram para a elaboração dos credos o que os séculos 16 e 17 foram para a feitura das confissões e dos catecismos. A razão parece evidente: na Reforma, as...
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