Cosmovisão Calvinista. Seminário Presbiteriano do sul - extensão Curitiba, 2025. Conteúdo exclusivo para fins didáticos na disciplina Cosmovisão calvinista em estudos no seminário, prof Ivan S Rüppell Jr.
1. HISTÓRIA DO ESTUDO DAS COSMOVISÕES. Primeiras ideias de cosmovisão, avaliações históricas na área de Cosmovisão e representantes da Cosmovisão Calvinista. TEXTO. Kant entendia que os seres humanos se servem somente do uso da razão para definir "uma compreensão do significado do mundo e de nosso lugar dentro dele", sendo que a sua defesa da autonomia da razão do homem em superioridade ao pensamento religioso e das tradições no momento de perceber e definir a "visão de mundo" seria um princípio bastante utilizado por seus seguidores, como os filósofos alemães do idealismo e romantismo no século 19, que colocaram essa perspectiva no centro de seus sistemas de pensamento: "No final do século 19, o termo já havia alcançado "prestígio de celebridade acadêmica". Para Friedrich Schelling (filósofo idealista), a "visão de mundo" tratava do "respeito ao anseio da humanidade de chegar a um acordo sobre as questões mais profundas da existência e da natureza do universo", num pensamento que propunha uma "compreensão abrangente e coesa do mundo", sendo que os pensadores idealistas e românticos posteriores iriam utilizar o termo "para denotar um conjunto de crenças que estão subjacentes e moldam todo o pensamento e ação humanos." (Goheen e Bart., p 36, 2016). Para Kierkegaard, a filosofia desenvolvia um sistema integrado de pensamentos formatados na objetividade (distanciamento), enquanto que a cosmovisão "é um conjunto de crenças mantidas tão intimamente por uma pessoa que é apropriado dizer que este vive dentro de sua cosmovisão ou a possui." (Goheen e Bartholomew, p 37, 2016). Wilhelm Diltney destacou os aspectos da abrangência e coesão relacionados ao tema da "cosmovisão", no sentido de que "seu objetivo é expressar o significado mais profundo do mundo, responder às questões fundamentais da vida." H. A. Rodges desenvolve um resumo sobre o tema da "cosmovisão" a partir do pensamento de Dilthey: "um complexo de ideias e sentimentos, abrangendo (a) crenças e convicções sobre a natureza da vida e do mundo, (b) hábitos e tendências emocionais baseados naquelas crenças e convicções e (c) um sistema de propósitos, preferências e princípios que governam a ação e dão unidade e sentido à vida". Quando Dilthey afirma que cosmovisão tem a ver com as crenças da pessoa, ele entende que esta visão de mundo não está embasada somente na razão e na busca pela compreensão da existência, mas sim, destaca que "cosmovisões surgem de nossa atitude diante da vida, de nosso conhecimento da vida e de toda a nossa estrutura mental"; e, neste sentido, a própria ciência e filosofia serão desenvolvidas dentro das perspectivas da cosmovisão do ser, e não o contrário. "A reivindicação de uma cosmovisão de que (ela) é verdade não pode ser provada nem refutada pela filosofia ou pela ciência. Em vez disso, a própria filosofia depende da cosmovisão. Dilthey atribuiu a busca metafísica da unidade absoluta a cosmovisões, que por sua vez são subjacentes às filosofias". Filósofos/pensadores cristãos que seguiram os princípios de Dilthey, como James Orr e Abraham Kuyper abraçaram esse mesmo entendimento acerca do tema: "a cosmovisão expressa um conjunto de crenças que são basilares e formativas para o pensamento e vida do ser humano." (Goheen e Bart., p 38, 2016). Um diferencial importante acerca do pensamento de Kant e Dilthey destaca a perspectiva única kantiana que define a existência de somente uma cosmovisão, a qual deverá ser concebida por todos, conforme suas bases dadas pela razão; enquanto Dilthey visualiza "a pluralidade e relatividade de cosmovisões", exatamente porque estas surgem do contexto histórico e intelectual do ser: "ele cria que todas as cosmovisões não passam de expressões parciais do universo e, portanto, inevitavelmente se chocarão umas com as outras", entendendo que se baseiam na fé e por isso não se provam, mas se mantém, além de vê-las como diversas ao mesmo tempo em que não se faz possível definir sua superioridade uma diante da outra. A partir destes pensamentos, os pensadores cristãos deverão abordar a compreensão histórica do termo "Cosmovisão" com atenção e cuidado, pelo que se pode associar e diante do que deve-se negar a partir destas relações; sendo possível concordar com Schelling, entendendo "que cosmovisão é uma compreensão abrangente e coesa do mundo e do lugar que a pessoa ocupa nele", e também concordar com Dilthey, entendendo "que são as crenças fundamentais da pessoa sobre o mundo que dão forma aos pensamentos e ações", pra orientar seu entendimento e significado da vida. Concordando ainda, com Kierkegaard, que a "cosmovisão deve ser considerada íntima e experiencial, e que deve transformar a vida da pessoa." Ao mesmo tempo, em nosso interesse de desenvolver um entendimento cristão do tema cosmovisão, devemos rechaçar o pensamento de Kant de que os fundamentos da cosmovisão se baseiam na razão do homem, enquanto também não aceitamos completamente o destaque de Dilthey de que cosmovisões são produtos de tempos e lugares, segundo os aspectos validados por ele, que se orientam pela relativização e historicidade da experiência humana. Conforme destaque dos autores Goheen e Bartholomew, entendemos que "embora circunstâncias históricas sem dúvida exerçam uma influência moldadora na cosmovisão, vivemos sob a afirmação radical do evangelho de que ele é verdade para todas as épocas e todos os povos na condição de testamento daquele que é o mesmo "ontem, hoje e eternamente" (Hb 13.8)." (p 38-39, 2016).
Segundo Carlos Souza, o "termo cosmovisão" surgiu na cultura alemã entre os séculos 18 e 19, em uma reflexão de Kant que buscava destacar a "capacidade humana de intuir o mundo exterior à medida que este é apreendido pelos sentidos", sendo que, posteriormente o termo alcançou entendimento mais amplo, indicando "uma concepção do universo a partir do homem conhecedor moralmente livre." Nesse sentido e debaixo da perspectiva do potencial ilimitado da razão humana, em meio ao ambiente intelectual de Schleiermacher, Feuerbach, Volfgan von Goethe etc, o termo traduzido ao português como cosmovisão se tornara abundante na literatura alemã do século 20, "afirmando-se como um conceito que expressava claramente a aspiração humana na busca da compreensão da natureza do universo." A partir da cultura alemã, a expressão e reflexões correlatas se desenvolveram em toda Europa, em que surgiu um entendimento de que o termo tratava de "uma visão metafísica do mundo, considerando uma concepção de vida." A partir disso, no decorrer do séc 20, " a fertilidade do conceito Weltanschauung o fez tornar-se, em apenas sete décadas, uso obrigatório em todo o universo intelectual da Europa e dos Estados Unidos, passando a significar a concepção ou visão de mundo e da vida, compartilhada por um indivíduo ou grupo social." (Edit Ultimato, p 41-43, 2006).
Item 2. COSMOVISÃO CALVINISTA. Nomes e representantes: Para Abraham Kuyper, "dois sistemas de vida estão em combate mortal. O Modernismo está comprometido em construir um mundo próprio a partir de elementos do homem natural, e a construir o próprio homem a partir de elementos da natureza; enquanto que, por outro lado, todos aqueles que reverentemente humilham-se diante de Cristo e o adoram como o Filho do Deus vivo, e o próprio Deus, estão resolvidos a salvar a "herança cristã". Esta é a luta na Europa, esta é a luta na América, e esta também é a luta por princípios em que meu próprio país está engajado, e na qual eu mesmo tenho gasto todas as minhas energias por quase quarenta anos." (...) Segue citação de Kuyper, sobre o tema: "como o Dr. James Orr (na palestra, Conceito Cristão de Deus e do Mundo, Edinburgo, 1897) observa, o termo técnico alemão Weltanschauung não tem equivalente preciso em inglês. Por isso, ele usou a tradução literal conceito do mundo (cosmovisão), (porém), a frase mais explícita: concepção de vida e de mundo parece ser preferível (embora Kuyper faça o destaque de que utiliza ambas as frases em suas palestras: sistema de vida e concepção de vida e mundo.") (Kuyper, p. 19, 2003). (*Abraham Kuyper nasceu na Holanda em 1837, vindo a ser Ministro da Igreja, Líder do Partido Político de viés protestante, sendo eleito como membro do Parlamento em 1874 e vindo a ser Primeiro Ministro da Holanda de 1901 a 1905, além de atuar como Professor Universitário. Kuyper visitou os EUA em 1898 e proferiu as "Palestras Stone", que são a base do livro "Calvinismo", que estamos citando nesse texto e será utilizado nas aulas).
REFERÊNCIAS. Goheen, Michael W e Bartholomew, Craig G. Introdução à Cosmovisão Cristã. São Paulo, Vida Nova, 2016. Nash, Ronald. Cosmovisões em conflito. Brasília, Edit Monergismo, 2012. Leite, Carvalho e Cunha (org). Cosmovisão Cristã e Transformação. Carlos Souza, artigo. Viçosa,MG, Edit Ultimato, 2006. Kuyper, Abraham. Calvinismo. São Paulo, Edit Cultura Cristã, 2003.
Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é Professor de ciências da religião e Teologia.
C. S. Lewis escreveu o livro de ficção teológica 'Cartas do Inferno' para apresentar a Batalha Espiritual pelas almas da humanidade no cotidiano comum de todos nós. Como bem esclarece o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios, "nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas com governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais." (cap. 6, 12). Essa realidade da existência transcendente dos seres humanos surge no primeiro anúncio bíblico do Evangelho de Jesus, o Messias, quando Deus fala para a serpente as seguintes palavras: "Farei que haja inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e o descendente dela. Ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis, 3.15). O site da produtora traz a seguinte sinopse ao filme "Oficina do Diabo", que se baseia no livro de Lewis: "O demônio Fausto subiu do inferno para ajudar Nata...
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