terça-feira, 31 de julho de 2018

DEUS GOVERNA O MUNDO ATRAVÉS DOS BONS E DOS MAUS: as INSTITUTAS do Cristianismo de J CALVINO, Vol 6, um resumo do Resumo de JPWILES

A obra teológica “Institutas” do reformador protestante João Calvino contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo. O tema deste sexto e último volume do Livro I é: DEUS GOVERNA O MUNDO ATRAVÉS DOS BONS E DOS MAUS. O texto a seguir é o volume 06 de 20, deste breve resumo extraído do Resumo de J. P. Wiles, escrito no ano de 1920 (Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP) As citações em destaque são do Resumo de Joseph Pitts Wiles. 17: O EMPREGO DA DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA DIVINA. “Ao controlar todas as coisas pela Sua providência, Deus às vezes opera mediante causas secundárias, às vezes sem elas, outras vezes até mesmo contra elas.” (p 93). Deus governa toda a humanidade através das bênçãos e disciplinas de Sua providência, em especial a sua Igreja, embora seus atos ocultos transmitam a ideia de que tudo acontece por acaso. O que não deveria nos impedir de reconhecer junto com Davi que Deus tem o controle completo de todas as coisas: “Quão grandes, Senhor, são as tuas obras! Os teus pensamentos, que profundos! Que preciosos para mim, Senhor, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles! Se os contasse, excederiam os grãos de areia: contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim.” (Sl 139. 17-18). Sempre que sofremos alguma aflição é necessário procurar a causa em nossos pecados, buscando logo o arrependimento, embora Jesus ensine que Deus sempre supera o ato de transformar nossas aflições em disciplinas, quando ensina acerca do cego de nascença: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”. (João 9.3). Eis uma situação em que vemos a glória do Pai como se a enxergássemos por um espelho, pois não se pode exigir que Deus preste contas a nós, ao contrário, devemos honrar os seus conselhos e a sua vontade soberana. A doutrina da Providência de Deus requer humildade para aqueles que a estudam, pois trata-se da Personalidade e caráter do próprio Deus do Universo. Observe que muitos homens não aceitam que Deus governe o mundo desta maneira, pois a razão deles é contrariada nisto, e por isso atacam o nome do Senhor. Até buscam não fazer isto diretamente, afirmando somente que não concordam com a exposição das Escrituras que temos feito; porém, ao negar que o Senhor governa tudo que existe, não conseguem explicar como a própria Palavra de Deus reconhece o quão profundas são estas verdades: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos!”. É necessário entender que muitos mistérios da Lei e do Evangelho são revelados ao povo de Deus assim que o Senhor nos ilumina na caminhada, como se fossemos amparados por uma lâmpada. Pois o que é profundo e insondável acerca do conhecimento do Senhor - na verdade, é o modo admirável como Deus governa o mundo. Conforme Moisés: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos.” (Dt 29.29). “A mente assim temperada para a reverência e a humildade não murmurará contra Deus por causa das calamidades que sobrevieram à humanidade em tempos passados; nem culpará Deus por crimes que o homem cometeu, dizendo com Agamenom na Ilíada: “A culpa não é minha; Os culpados são o Céu e o Destino.” O homem de coração humilde preferirá buscar a vontade de Deus, e cumpri-la mediante a ajuda do Seu Espírito.” (p 95). Salomão ensina que os projetos futuros do homem operam em conjunto com a providência de Deus: “O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.” (Pv 16.9). E aqui aprendemos que é necessário exercer providência por nós mesmos, ao mesmo tempo em que colocamos toda nossa existência nas mãos de Deus. Pois Deus também nos responsabilizou por ela, para que cuidemos dela com precauções e toda assistência. “Se Deus entregou a nós o cuidado da nossa própria vida, devemos zelar por ela; se fornece meios, devemos usá-los; se nos adverte de antemão dos perigos, não devemos temerariamente correr ao encontro deles; se fornece remédios, não devemos negligencia-los.” (p 95). Mas cuidado com a falsidade e o engano acerca deste conhecimento, pois todo homem que roubar alguém que Deus colocou em pobreza, e todo homem que assassinar aquele para quem o limite da vida definido por Deus já chegou; pois bem, saibam que estes criminosos não estão “sujeitos à vontade de Deus”. Mas sim, a seus próprios desejos malignos. Um coração cristão sempre irá reverenciar o Senhor em primeiro lugar pois sabe que tudo está sujeito ao seu governo. Mas não irá ignorar as causas secundárias. Pois Deus irá mover e direcionar, fazer acontecer e frustrar os planos dos bons e dos maus, cuidando sempre da segurança dos cristãos: “Confia os teus cuidados ao Senhor, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado (Sl 55.22); e igualmente conforme 1 Pedro 5.7, Salmo 91.1, Zacarias 2.8 e Isaías 49.15. Pois Jesus afirma que nem um pardal cai por terra a não ser pela vontade de Deus, só para esclarecer que maior cuidado o Senhor do Universo tem pelas nossas vidas, sempre! Os corações dos homens estão sob o controle de Deus, pois “Ele deu aos israelitas graça aos olhos dos egípcios. Derrotou o conselho de Aitofel quando este ameaçava destruir Davi. O diabo nada podia fazer contra Jó sem a permissão divina.” (p 97). “O conhecimento de tais verdades como estas, nos tornam gratos na prosperidade, pacientes na adversidade e maravilhosamente confiantes da nossa segurança futura.” Quando os homens são bondosos conosco, sabemos que Deus lhes moveu assim para nós. E durante as boas colheitas, saberemos que Deus igualmente agiu nos céus, na terra e nos seus produtos (Oséias 2.21-22). Durante as dificuldades, iremos olhar para Deus e seu governo delas, a fim de andar com paciência e submissão; como fez José, que ao viver suas lutas debaixo da providência de Deus, perdoou seus irmãos, reconhecendo que Deus transformara todo aquele mal em bem. “Mas embora a vontade de Deus seja a grande causa primária, assim como está escrito; “Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz, e crio o mal; eu o Senhor, faço todas estas coisas.” (Isaías 45.7), nenhum homem piedoso fechará seus olhos às causas secundárias.” Ao mesmo tempo em que honramos a Deus pela bondade dos homens, também seremos gratos às pessoas que são boas conosco. “Se sofrer perda mediante sua própria negligência ou descuido, culpará a si mesmo, embora reconheça nisto a mão de Deus.” (p 97). Pois ainda que Deus determine o tempo de duração da vida dos homens, a negligência pela falta de cuidado com os doentes é uma responsabilidade humana. “Não fará abuso da doutrina da providência de Deus para apresentar desculpas por nenhum pecado.” O cristão deve ficar atento às causas secundárias especialmente quanto ao seu futuro, aproveitando o que a bondade de Deus lhe oferece para se proteger, cercando-se de conselhos e toda assistência, utilizando tudo que a providência divina fornece à existência humana. Somente assim ficaremos livres da presunção da soberba, voltando-nos para a oração e para a confiança que nos coloca junto de Deus em meio aos perigos. “Nisto aparece a felicidade inestimável daqueles que temem a Deus. A vida do homem é ameaçada por inúmeros perigos.” (p 98). Nosso próprio corpo carrega milhares de germes e doenças, e em qualquer lugar e situação a morte está por perto – nos meios de transporte e viagens, caminhando ao sair de casa ou utilizando talheres. Até dizemos que raramente tais desgraças ocorrem conosco, mas a verdade é que elas acontecem neste mundo, sim. Eis o motivo pelo qual não devemos viver debaixo do medo do acaso, pois seria uma existência miserável. Nesta cosmovisão, o homem cristão irá buscar refúgio da opressão emocional nas próprias mãos de Deus, a fim de se consolar no governo da vontade e do poder daquele que faz tudo se cumprir conforme sua ordenação. Diz o salmista: “Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa. Cobrir-te-á com as suas penas, sob suas asas estarás seguro...”. (Sl 91). E ainda, “O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que mal poderá fazer o homem?” (Hb 3.6). Devemos lembrar que tanto o diabo quanto os homens maus somente irão pensar e agir maldosamente contra nós “na medida em que Deus permite, ou melhor, ordena.” (p 99). Eis a razão pela qual ignorar a Providência de Deus é a maior das infelicidades! Agora, “é necessário notar algumas passagens das Escrituras que parecem subentender que o propósito de Deus é mutável. Às vezes o arrependimento é atribuído a Ele: “Então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem.” (Gn 6.6). “Arrependo-me de haver constituído rei a Saul.” (1 Sm 15.11). “Se a tal nação se converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe.” (Jr 18.8). Pois parece que ao tomar conhecimento de que Deus cancela seus decretos - como para a cidade de Nínive, ou quando informa para Ezequias que ele iria morrer - e então lhe acrescenta outros 15 anos de vida; logo entendemos que as ações de Deus parecem não estar bem definidas; e que Ele prefere governa-las momento a momento, segundo o transcorrer das situações. “Devemos, no entanto, lembrar-nos que o arrependimento, no sentido rigoroso do termo, subentende a ignorância, o erro ou a falta de poder.” (p 100). Portanto, será que iremos chamar Deus de ignorante, incapaz ou precipitado? “Mas isto está tão longe de ser a mente do Espírito Santo, que no próprio trecho em que fala do arrependimento divino, diz: “Também a Glória de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é homem, para que se arrependa.” (Samuel 15.11, 29). É preciso entender que a expressão “arrependimento” quando se refere a Deus, tem mais a ver conosco do que com a Pessoa do Senhor, pois “Ele é descrito de uma maneira adaptada à nossa capacidade. Ele Se representa a nós, não conforme é em Si mesmo, mas conforme nos parece que Ele é.” Pois embora Deus não tenha sentimentos apaixonantes, nós lemos que Ele tanto se ira quanto se zanga, só para nos recordar como a descrição d´Ele mesmo se adapta ao nosso entendimento. “Assim também quando se diz que Deus Se arrepende, devemos entender que o significado é que visivelmente Ele altera Seu curso de ação.” (p 100). Veja que ainda que Deus jamais modifique seu propósito e sempre faça cumprir plenamente seus decretos, aos nossos olhos irá parecer que houveram algumas mudanças. Quando Deus enviou Jonas aos ninivitas e Isaías ao rei Ezequias, a vontade do Senhor era a reforma da cidade e o livramento do rei – pois estes eram os objetivos da profecia de Jonas e da mensagem de Isaías. A real satisfação do Senhor era despertar nos homens de Nínive o arrependimento para livra-los do juízo. “E assim, o desafio de Isaías (Is 14.27) sempre permanece irrespondível: “Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? E a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?”. 18: DEUS EMPREGA DE MODO JUSTO OS AGENTES ÍMPIOS. “Uma dificuldade maior nos é apresentada por aquelas passagens das Escrituras onde se diz que o próprio Satanás e todos os ímpios são controlados e dirigidos pela vontade de Deus.” (p 101). É muito difícil compreender a partir da razão humana como Deus opera através das atitudes dos maus, sendo que a culpa de seus atos será totalmente deles, e que caberá ao Senhor julga-los justamente pelo que praticaram. “Para enfrentar esta dificuldade, alguns inventaram uma distinção entre aquilo que Deus faz e aquilo que Ele permite.” Mas esta boa intenção é desprezada por Deus, posto que o próprio Senhor assume ter ordenado que estas coisas deveriam acontecer deste jeito. Pois tudo ocorre segundo os decretos de Deus, cfe diz o salmista: “No céu está o nosso Deus, e tudo faz como lhe agrada.” (Sl 115.3). Veja como as ordens que Satanás recebe acerca de Jó provém de Deus, igualmente ao que acontece com os santos Anjos do Senhor. Uma verdade reconhecida por Jó: “o Senhor o deu, e o Senhor o tomou.” E foi da vontade de Deus que um espírito saísse para enganar Acabe, pois lhe disse o Senhor: “Tu o enganarás, e ainda prevalecerás; sai, e faze-o assim.” “Se a cegueira e a estultícia de Acabe lhe sobrevieram como julgamento da parte de Deus, a teoria de uma simples permissão é vã; porque seria absurdo para um juiz meramente permitir a execução de uma sentença, e não decretar que fosse executada.” (p 102). E ainda que os judeus desejassem a morte de Jesus, assassinato que ocorreu através de Pilatos e dos soldados, eis “que os ímpios fizeram somente o que a mão de Deus e o Seu propósito predeterminaram (At 4.27-28).” (p 102). Salomão ensina que ocorre no coração do rei uma ação divina que Deus realiza em todos os homens, inclusive ao tratar dos interesses pelos quais orientamos nossos pensamentos. “Nada pode comprovar isto mais claramente do que o fato de que Deus tão frequentemente nos diz que cega as mentes dos homens, aflige-os com delírio, derrama sobre eles o espírito do sono, fere-os com loucura, endurece seus corações (Romanos 1.26 e 11.8).” Veja que não se trata da “vontade permissiva de Deus”, pois o Espírito Santo declara que a loucura dos maus é uma sentença do juízo do próprio Deus. O importante deste assunto é que somente dissemos o que está claramente exposto nas Escrituras. Portanto, quem despreza este conhecimento alegando que está acima da nossa compreensão rebela-se contra a própria autoridade de Deus, pois assume que decidiu pensar diferente ou que prefere nada saber desta doutrina. “Tais insolentes descobrirão que as palavras de Davi são verídicas, que Deus “será tido por justo... no seu julgar.” (Sl 51.4). “Tem-se argumentado que, se nada acontece senão segundo a vontade de Deus, então Ele deve ter duas vontades contrárias, pois secretamente decreta o que na Sua lei abertamente proíbe.” (p 103). Trata-se de um engano fácil de resolver, mas antes, é importante lembrar que foi o próprio Espírito Santo que ensinou Jó a dizer: “O Senhor o tomou”, quando salteadores o despojaram de seus bens.” É importante compreender que os filhos de Eli desobedeceram a seu pai porque o Senhor resolveu que os dias de suas vidas deveriam terminar, e que Herodes e Pilatos conspiraram juntos para fazer o mal, a fim de realizar um propósito determinado por Deus (Atos 4. 27-28). A vontade de Deus é única e jamais se modifica, portanto, qualquer confusão que fizermos terá origem, sim, na pequenez do nosso entendimento. Agostinho: “Alguns homens têm bons desejos que não estão de acordo com a vontade de Deus, e outros têm maus desejos que estão de acordo com a vontade de Deus.” Observe que um filho bom agrada ao Senhor quando deseja que seu pai viva, embora a vontade de Deus seja sua morte. E um filho mau desagrada a Deus quando deseja a morte de seu pai, embora está seja a vontade do Senhor. Veja como “Deus às vezes cumpre Seus propósitos justos mediante os maus propósitos dos ímpios.” Agostinho disse que tanto os anjos apóstatas quanto os homens ímpios praticaram o que era contrário à vontade de Deus, mas não agiram contra a vontade da Onipotência de Deus – pois isto é impossível! Eis a maneira como eles praticam atos contrários a Deus ao mesmo tempo em que cumprem a vontade do Senhor. “Acrescenta que um Deus bom não permitiria que o mal fosse feito, a não ser que um Deus onipotente pudesse transforma-lo em bem.” (p 104). Mas, “se Deus não somente emprega a instrumentalidade dos ímpios, como também governa seus planos e paixões, porventura não seria Ele o autor de todos os seus crimes? E quanto aos homens que estão sujeitos à sua vontade, não estariam injustamente condenados por cumprirem seus decretos? Este falso raciocínio confunde a vontade de Deus com Seu mandamento, embora fique evidente por muitos exemplos que há uma diferença muito grande entre eles.” (p 104). Veja que o adultério de Davi foi vingado pela imoralidade de Absalão conforme a vontade de Deus, mas o Senhor não ordenou que Absalão praticasse tal corrupção. E “quando o rei disse: “Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou;” (2 Sm 16.11) de modo algum recomendava Simei por sua obediência a Deus,”. Mas sim, se submetia ao que sabia ser um juízo da vontade de Deus para com ele. Precisamos estar convictos de que os ímpios que desobedecem aos mandamentos do Senhor não se tornam inculpáveis em razão de Deus ter se utilizado deles para cumprir os juízos de seus decretos. “É sábio abraçarmos com mansidão e humildade tudo quanto é ensinado nas Sagradas Escrituras.” (p 104). (páginas 93 a 104)

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