quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Feliz Natal! Uma Jornada EXISTENCIAL no Cinema: O QUARTO SÁBIO, de Michael Ray Rhodes

E que tal se houvesse um quarto Rei Mago seguindo a estrela de Belém para descobrir o local de nascimento do Messias? Um quarto sábio da antiga Pérsia que saiu atrasado e não conseguiu encontrar os outros três, Melquior, Baltasar e Gaspar? Seguindo esta ideia, o filme "O Quarto Sábio", baseado no clássico de Henry Van Dyke traz boas reflexões sobre as atividades de caridade e os anseios espirituais da humanidade, através do personagem Artaban que estuda as Sagradas Escrituras na busca do real significado da vida, até descobrir as profecias sobre o Messias judaico. O negócio é que a história dos Reis Magos é bem conhecida e origina da Bíblia, pois foi o evangelista Mateus que anotou a visita deles ao recém-nascido Jesus de Nazaré. E a expressão "sábio" que dá título ao filme expressa bem a personalidade destes homens, pois seriam astrônomos e filósofos que buscavam conhecimento adiante da ciência comum; sendo um desejo que os levou a seguir uma estrela do Oriente até Jerusalém, e depois até a cidade de Belém. Eis o enredo básico do provocante filme "O Quarto Sábio" (The Fourth Wise Man), com Martin Sheen e Alan Arkin, e direção de Michael Ray Rhodes; que se tornou um interessante drama espiritual, lançado em 1985. A sinopse do site (adoro.cinema) apresenta outros dados da história: "Artaban (Martin Sheen) é um jovem sábio que deseja seguir a Estrela de Belém para prestigiar o bebê que está sendo chamado de Rei dos Judeus. Contrariando amigos e família, ele tenta seguir os outros três Reis Magos que estão em caravana para conhecer o menino Jesus, mas acaba se perdendo. Em sua jornada para reencontrar o caminho rumo à Belém, Artaban acaba usando suas riquezas para ajudar os mais necessitados...". É isso! O "Quarto Sábio" Artaban saiu de casa com a sacola cheia de presentes para o Messias Judeu e acabou gastando as suas oferendas em ações sociais para transformar a vida de uma aldeia miserável; um drama religioso que ao relacionar busca espiritual e ação social ajuda-nos a pensar sobre a proximidade existencial que há entre fazer o bem e satisfazer o vazio da alma. Afinal, não é de hoje que praticar grandes ou pequenas caridades amadurece a personalidade e também aquieta a alma da gente. Eis a razão porque "amar ao próximo" ou realizar ações sociais são vivências integradas desde sempre como uma virtude da espiritualidade de quase todo mundo. Esta realidade encontra uma boa ilustração na história deste Quarto Sábio, pois ao se perder na viagem até Belém em busca de participar da chegada ao mundo do prometido Messias; que é um anseio espiritual, Artaban vai encontrar um grande amadurecimento pessoal ao partilhar da história de uma comunidade de necessitados; que é um anseio existencial. E vice-versa. Essa integração entre valores existenciais e espirituais que as religiões relacionam desde a origem da história, tem sido uma experiência unificada que orienta regularmente as vivências da alma dos homens. Sejam as ações sociais mais bem planejadas ou atos de caridade particulares, o fato é que ambos surgem na história para preencher o vazio da gente com mais amor e também, para controlar nosso egoísmo. Nesse contexto, o filme se torna uma bonita e dinâmica ilustração de nossas ansiedades existenciais, com uma orientação técnica e autoral segura do Diretor, e boas atuações de todo elenco, sendo que Martin Sheen entrega a sinceridade de sempre ao assumir um personagem mais complexo do que apenas um homem comum, enquanto que a fotografia e a produção das imagens vai surpreender você pela realidade e com que pode-se observar a Palestina do primeiro século. Mas tem mais, pois o aprendizado espiritual que relaciona espiritualidade e caridade só aumenta quando "ouvimos" a teologia, conforme vemos na história do Quarto Sábio. Assim, quando Artaban segue atrás do sentido da vida para encontrar o Messias das profecias numa peculiar jornada existencial que vai desafia-lo a descobrir o amor superior de Deus; bem, aqui está uma mensagem essencial do Cristianismo. Pois o maior dos mandamentos do Profeta Jesus é tanto "amar" a Deus como "amar" o próximo; um conceito profundo que o próprio Jesus tratou de praticar a vida inteira no propósito de esclarecer o significado aos discípulos. Segundo Jesus, somente quando ocorrer um primeiro encontro do nosso espírito com a Pessoa amorosa de Deus é que seremos capazes de amar o próximo de maneira saudável, sendo algo que será bom pra nós e para todo mundo. Eis o modo sagrado em que Jesus integra religião (religação do homem com Deus) e caridade (aproximação dos homens entre si). A partir disso, o negócio é partir para o abraço, com Deus e o próximo; pois uma verdade se realiza na outra. Neste sentido, a mensagem cristã vai ensinar que os nossos atos de caridade devem prosperar até se tornarem atividades integrais de ação social; e até mais do que isso, pois são a base moral de um compromisso espiritual humano para assumir a co-responsabilidade da manutenção existencial da sociedade. Tá entendendo... Ou seja, na mensagem cristã não há diferença de valor entre praticar atos de caridade e realizar ações de cidadania, que são aquelas atividades que existem para construir uma sociedade mais justa e aprazível pra todo mundo. Um princípio que a teologia define como "mandato cultural", e que convoca os religiosos a assumirem uma cidadania social integral, seja na educação e artes, na profissão e política, na família e parentela, até que tudo e todos sejam plenamente "abençoados" por nossos dons e talentos na convivência social. Eis uma boa reflexão natalina que o filme "Quarto Sábio" oferece, pois o mandato cultural que convoca os espirituais a desenvolverem uma cidadania bendita junto da sociedade dos homens é; primeiramente, um compromisso da "fé" dos cristãos. No entanto, é comum perceber cristãos e até outros religiosos, assumirem seu compromisso cultural em detrimento de sua própria fé; pois se tornam profissionais competentes e bons cidadãos, ao mesmo tempo em que deixam de lado a sua devoção espiritual. Algo que acaba afastando o cidadão tanto de Deus, como do próximo! Cuide-se, então, e aproveite pra amadurecer todo sentimento caridoso que leva no coração, sabendo que a básica compaixão que o chama para entregar um só pedaço de pão ao homem da esquina é o início de uma bela amizade com Deus, que disse que o maior mandamento é "Amar a Deus e amar o próximo", e daí nasce a nossa reflexão e conhecimento. Pois a espiritualidade do Natal que orienta atividades de ações sociais é uma mensagem mais relevante e profunda do que somente praticar boas obras em obediência a um valor religioso ou filosófico. A compaixao da caridade é uma sensibilidade da alma que anseia por um relacionamento espiritual transformador diante de Deus, que será capaz de nos mover para abençoar em maior alcance e plenitude, toda humanidade! Bom filme.

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