sexta-feira, 7 de julho de 2023

EVANGELIZAÇÃO, CULTURA E CAPELANIA! Princípios e Conteúdos.

INTRODUÇÃO BÍBLICA. "Uma vez que vocês ressuscitaram para uma nova vida com Cristo, mantenham os olhos fixos nas realidades do alto, onde Cristo está sentado no lugar de honra, à direita de Deus." (Colossenses 3.2). O desenvolvimento desse texto no capítulo três aborda a santidade do cristão, para que sejamos santos como santo é o Senhor, numa perspectiva de redenção da nossa personalidade neste período da história, até a volta de Jesus. NOTA da Bíblia de Genebra: "Duas outras maneiras nas quais os crentes podem pensar "nas coisas lá do alto" (3.2) são a oração (Ef 6.18-20, nota) e falar de sua fé sábia e persuasivamente aos de fora, a fim de que estes possam ser trazidos à plenitude de vida em Cristo." (p. 1427-28, 1999). Neste sentido, entendemos que buscar em primeiro lugar o Reino dos ceús das coisas lá do Alto compreende tanto a transformação de nosso caráter, como a mudança de compreensão da realidade, pois as Boas Novas do Evangelho se tornam o pensamento com que iremos contribuir para dar um conhecimento válido aos homens, acerca da existência. TEMAS DE ORIENTAÇÃO E REFLEXÃO. Toda evangelização é feita através da cultura! Cultura é a ampla atividade humana no mundo, em que desenvolvemos a capacidade dada por Deus ao ser humano, utilizando a consciência e sentimentos oriundos da imagem de Deus em nossa espécie. A Religião dos homens é uma experiência cultural definida em busca do sentido da vida, numa busca transcendente e dependente do conhecimento de nossa origem e destino. A Capelania é uma comunicação no ambiente e situação do próximo, em que se busca valorizar as sensações humanas enquanto não nega nem ignora a existência espiritual e eterna do ser humano. PRINCÍPIOS E CONTEÚDOS. Evangelização, Cultura e Capelania. 1. EVANGELIZAÇÃO. SER UM CRISTÃO BÍBLICO É SER UM EVANGELISTA QUE ANUNCIA A PALAVRA DO EVANGELHO. "Os discípulos viram Jesus fazer muitos outros sinais além dos que se encontram registrados neste livro. Estes, porém, estão registrados para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida pelo poder do seu nome." (João 20.30-31). "Vocês receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em toda parte: em Jerusalém, em toda a Judeia, em Samaria e nos lugares mais distantes da terra". (Atos 1.8). "Depois da refeição, Jesus perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, você me ama mais do que estes? "Sim, Senhor", respondeu Pedro. "O senhor sabe que eu o amo". "Então alimente meus cordeiros", disse Jesus {...} "Então cuide das minhas ovelhas", disse Jesus. {...} Jesus disse: "Então alimente minhas ovelhas". (João 15-17). Neste sentido, vamos recordar que a cada vez que Jesus saia para pregar a Palavra de Deus, conforme as narrativas históricas dos Evangelhos, Ele entendia que estava semeando o conhecimento do Senhor para as ovelhas do seu aprisco; independente de quem fossem e aonde estivessem. NOTA da Bíblia de Genebra: "Ser bíblico é ser evangelista, porque o evangelho é a mensagem central da Bíblia. Do início ao fim, ele indica o Salvador que deveria vir, veio e virá novamente. O único meio de tornar-se aceitável para o Pai é através da fé nele. Uma vez que as pessoas não podem crer nele a não ser que conheçam sobre ele, alguém deve revelar-lhes (Rm 10.14). Isso exige evangelização. {...} João Calvino disse: "Nós devemos, tanto quanto está dentro de nós, nos esforçar para levar todos os homens da terra para Deus". {...} O clero e os líderes cristãos não são os agentes exclusivos da evangelização, mas todo cristão, conforme surge a oportunidade no fluxo e refluxo da vida diária, deve ser uma testemunha de Cristo, confessando-o em palavras e ações. {...} Além do mais, a vida transformada do crente é, em si e por si, insuficiente para levar alguém à compreensão do evangelho. Ele pode testificar atraentemente a graça de Deus, mas é incompleta se não for expressa em palavras. {...} Assim também o comportamento cristão deve ser enriquecido por uma explanação do evangelho." (p. 1559-60, 1999). 2. O MANDATO CULTURAL DOS CRISTÃOS. Vamos dar uma olhada em princípios e conteúdos bíblicos desse pensamento e perspectiva. Texto Bíblico: Criados à imagem e semelhança de Deus. "Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou." (Gênesis 1.27). NOTA da Bíblia de Genebra: "O texto de Gn 1.1-25 descreve Deus como sendo pessoal, racional (dotado de inteligência e vontade), criativo, governando o mundo que criou, e um ser moralmente admirável (pois tudo o que criou é bom). Assim, a imagem de Deus refletirá essas qualidades. Os versículos 28-30 mostram Deus abençoando os seres humanos que acabara de criar, conferindo-lhes o poder de governar a criação, como seus representantes e delegados. A capacidade humana para comunicar-se e para relacionar-se tanto com Deus como com outros seres humanos aparece como outra faceta dessa imagem." (p. 10, 1999). "Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo." (Gênesis 2.15). NOTA da Bíblia de Genebra: "Deus deu aos seres humanos o mandato cultural de dominar a criação como reis benevolentes (9.2; Sl 8.5-8; Hb 2.5-9) {...} Debaixo da bênção divina, os seres humanos cumprem o mandato cultural (v.26 nota) de dar nomes à criação (v.5; 2.19-20). Esta atividade expressa o fato de que o homem leva em si a imagem do Criador-Rei. O homem caído, no entanto, distorce esta atividade em autodeificação e abuso da criação." (p. 9, 1999). O teólogo anglicano John Stott, o mais popular evangelista bíblico do século 20, descreve esse texto bíblico através do seguinte título; "Colaborando com Deus". Stott imaginava Adão indo trabalhar alegre e animado no jardim do Éden, no entendimento de que fora criado por Deus exatamente para cuidar de toda a criação; "afinal, Deus colocou o homem que ele havia criado para cuidar do jardim que ele havia plantado." Neste sentido, toda atividade e profissão dos homens deve ser considerada uma forma de colaborar com Deus no desenvolvimento da vida no planeta, sendo que Stott faz importante destaque deste tema, com entendimento amplo e orientador ao nosso conhecimento: "devemos fazer aqui uma importante distinção entre natureza e cultura. Natureza é tudo aquilo que Deus nos dá; cultura é o que nós fazemos com isso (agricultura, horticultura etc.). A natureza fornece a matéria-prima; a cultura a transforma em mercadoria. A natureza é uma criação divina; a cultura é fruto do cultivo humano. Deus nos convida a partilharmos de seu trabalho. De fato, nosso trabalho passa a ser um privilégio quando entendemos que estamos colaborando com Deus." (2007, p. 23). Nessa mesma perspectiva, o pensamento protestante calvinista reformado da Igreja Presbiteriana valoriza a atividade humana na construção das mais diversas facetas que englobam a sociedade; sendo que o termo "cultura" é boa expressão para referenciar a amplitude e importância das ações do homem em colaboração com Deus, na edificação da vida no mundo. 3. O DESENVOLVIMENTO DA CULTURA SEGUNDO O PLANO DE DEUS. Nessa visão bendita da atividade cultural humana na sociedade, no capitulo 4 de Gênesis encontramos Lameque, descendente de Caim, que vai ter alguns filhos, que foram abençoados com talentos diversos: "Jabal (...) foi o pai daqueles que moram em tendas e criam rebanhos. O nome do irmão dele era Jubal, que foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta. (...) Tubalcaim (...) fabricava todo tipo de ferramentas de bronze e de ferro." (Gn. 4. 20-22). Nota da Bíblia de Genebra: "Lameque representa um progressivo endurecimento no pecado - poligamia (cf 2.24; Mt 19.5-6) e uma vingança grosseiramente injusta - e a extensão do mandato cultural da pecuária (v.20), para as artes (v. 21) e ciências (v.22)." (p. 16, 1999). No destaque de John Stott, "desta forma, as construções, a agricultura, a música, a ciência e a tecnologia foram se desenvolvendo. Foi também nessa época que algumas pessoas começaram a cultuar a Deus de forma ordenada: "Nessa época começou-se a invocar o nome do Senhor" (v. 26). (2007, p. 39). Assim, percebemos o modo em que os seres humanos criados à imagem de Deus não ficam desprovidos de "sua dignidade ou seu talento cultural" quando da ocorrência do Pecado e da Queda, embora o egoísmo e outras consequências destas experiências sigam arruinando a existência humana. Em tudo isso, porém, Deus abençoava toda humanidade e toda criação em toda a história, conforme viemos a entender e definir na doutrina da Graça Comum. Pois a Graça Comum oferece a todo homem a vivência dos atributos comunicáveis, e a Graça Especial oferece aos cristãos a vivência dos atributos comunicáveis "santificados" em sua experiência e propósito. 4. JOÃO CALVINO. SENSUS DIVINITATIS. UMA COMPREENSÃO DO SER HUMANO RELIGIOSO NO PENSAMENTO REFORMADO. O Apóstolo Paulo apresenta na carta aos Romanos, o modo em que a realidade das Obras externas de Deus na criação, prontifica e desafia o homem a crer no Senhor Deus: "Assim, Deus mostra do céu sua ira contra todos que são pecadores e perversos, que por sua maldade impedem que a verdade seja conhecida. Sabem a verdade a respeito de Deus, pois ele a tornou evidente. Por meio de tudo que ele fez desde a criação do mundo, podem perceber claramente seus atributos invisíveis: seu poder eterno e sua natureza divina. Portanto, não têm desculpa alguma. Sim, eles conheciam algo sobre Deus, mas não o adoraram nem lhe agradeceram. Em vez disso, começaram a inventar ideias tolas e, com isso, sua mente ficou obscurecida e confusa. Dizendo-se sábios, tornaram-se tolos. Trocaram a grandeza do Deus imortal por imagens de seres humanos mortais, bem como de aves, animais e répteis." (Romanos, 1.18-23). Esse fundamento bíblico norteia o teólogo protestante João Calvino numa observação cristã da natureza humana, a partir da análise da realidade do desenvolvimento das religiões nas sociedades, que ele percebia na história. "Calvino afirma que há uma consciência ou senso de Deus (Sensus Divinitatis) implantado em todas as pessoas por natureza. Crer em Deus é uma crença universal de acordo com Calvino. {...} : existe um Deus, Ele é o Criador, e deve ser adorado." Na observação da realidade humana e realidade histórica, Calvino reflete a partir dos fundamentos cristãos, que: há indícios de que a crença em Deus é universal; todas as crenças observam a ideia de um poder ou divindade supremos; mesmo os que se declaram contra Deus, carregam consigo a consciência de sua existência. Para Calvino, a ideia de Deus implantada no coração/consciência do homem significa que a humanidade não poderá alegar ignorância diante dos juízos de Deus, posto que carregam consigo a veracidade de sua existência. Segundo Calvino, mesmo quando as religiões se tornam produto e instrumento de engano e controle de um povo, ainda se utilizam do poder que o sensus divinitatis produz nos seres humanos. O aspecto a ser percebido destaca o modo em que Deus criou a humanidade com um senso da existência da divindade, de forma que o ser humano está sempre em busca de adquirir respostas para uma existência transcendente de si mesmo, diante de um ser superior. Neste sentido, estar diante de práticas culturais religiosas, espirituais e filosóficas deve orientar nossa reflexão para a Soberania de Deus e os anseios e vazio do homem, enquanto aspectos de comunicação e relacionamento. 5. UMA COSMOVISÃO BÍBLICA DA EVANGELIZAÇÃO ATRAVÉS DA CULTURA. APÓSTOLO PAULO EM ATENAS. O Apóstolo Paulo utilizou a cultura filosófica, existencial e religiosa greco-romana estabelecida no primeiro século, para anunciar o Evangelho na cidade de Atenas, conforme lemos em Atos 17. A narrativa histórica de Lucas descreve que após Paulo anunciar o evangelho na sinagoga e mercado da cidade, ele foi convidado pelos gregos para debater aquela "nova" doutrina e pensamento no lugar adequado para debates e discussões; o Areópago. Paulo notou a intensa cultura religiosa vigente na cidade e utilizou uma inscrição de altar dedicado ao "deus desconhecido" para apresentar o Criador de tudo que existe, o Senhor de toda terra e céus. Texto Bíblico: "Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo. Ele é o Deus que fez o mundo e tudo que nele há. Uma vez que é Senhor dos céus e da terra, não habita em templos feitos por homens e não é servido por mãos humanas, pois não necessita de coisa alguma. Ele mesmo dá vida e fôlego a tudo, e supre cada necessidade. De um só homem ele criou todas as nações da terra, tendo decidido de antemão onde se estabeleceriam e por quanto tempo. Seu propósito era que as nações buscassem a Deus e, tateando, talvez viessem a encontrá-lo, embora ele não esteja longe de nenhum de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos. Como disseram alguns de seus próprios poetas: "Somos descendência dele". E, por ser isso verdade, não devemos imaginar Deus como um ídolo de ouro, prata ou pedra, projetado por artesãos. No passado, Deus não levou em conta a ignorância das pessoas acerca dessas coisas, mas agora ele ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois ele estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça por meio do homem que ele designou, e mostrou a todos quem é esse homem ao ressuscitá-lo dos mortos. Quando ouviram Paulo falar da ressurreição dos mortos, alguns riram com desprezo. Outros, porém, disseram: "Queremos ouvir mais sobre isso em outra ocasião." (Atos 17.23-32). NOTA da Bíblia de Genebra: "Atenas atingiu seu ápice no século V a.C. sob Péricles (495-429 a.C.), quando o Partenon e outras magníficas estruturas foram construídas. Os poetas clássicos Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanes floresceram neste tempo. Embora conquistada pelos romanos em 146 a.C., Atenas continuou a ser um grande centro intelectual e cultural. {...} Havia estátuas de deuses e deusas no Partenon e em outros templos da Acrópole, assim como nos edifícios públicos, comerciais e templos da cidade. {...} Epicuro (342-270 a.C.) ensinava que o propósito da vida era o prazer e a liberdade da dor, paixões e medos. Por outro lado, o cipriota Zenão (340-265 a.C.), fundador do estoicismo, enfatizava o viver em harmonia com a natureza, e também o depender da razão e de outros poderes auto-suficientes. Ambas as escolas destacavam a busca pela paz da mente. Zenão tinha um conceito panteísta de Deus como a "alma do mundo". {...} Areópago. O nome significa "Colina de Marte". É uma colina perto da Acrópole onde, em tempos antigos, um conselho tinha se reunido. O conselho tornou-se o conselho da cidade de Atenas e, nos tempos romanos, era a corte que supervisionava a moral, a educação e religião. {...} Ao Deus Desconhecido. Possivelmente uma referência ao Altar dos Doze Deuses em Atenas, erigido para assegurar que nenhum deus ficasse fora de sua adoração. Paulo usou este ponto de contato para começar seu discurso sobre o Deus que fez o mundo, que não é esculpido em pedra ou confinado a algum templo, e que controla os tempos e os lugares onde as pessoas vivem. {...} Nele vivemos, e nos movemos, e existimos. Paulo diz que Deus trouxe todas as pessoas à existência e que elas só existem por sua providência. No mundo antigo, os três grandes mistérios da filosofia e da ciência eram as questões de vida, movimento e existência. Ver "Revelação Geral", em Salmo 19.1. {...} Alguns de vossos poetas. Paulo sabia que os atenienses não conheciam o Antigo Testamento, e ele fez citações de três de seus próprios poetas. Embora suas palavras originalmente se referissem a Zeus, o chefe dos deuses gregos, Paulo aplicou as citações ao Deus vivo do céu. Os poetas são Epimênides (c. 600 a.C.), Cleanto (331-233 a.C.) e Arato (315-240 a.C.). {...} Não levou Deus em conta os tempos da ignorância. Isto é, Deus levou em consideração as limitações do conhecimento deles a seu respeito, mas agora Paulo revelou-lhes a verdade a respeito do Deus vivo. Com todos os povos, eles são chamados a se arrependerem de seus pecados. {...} Um dia em que há de julgar... por meio de um varão que designou. O dia do juízo final (Ap 20.12-15)." (p. 1297-98, 1999). DESTAQUES da aproximação entre evangelização e cultura: - Poetas desenvolveram pensamentos clássicos nos últimos cinco séculos a.C.tornando Atenas em um centro intelectual; - Estátuas e símbolos de divindades no Partenon, templos da Acrópole, e em edifícios públicos, comerciais e templos da cidade. - Epicuro (342-270 a.C.) ensinava que o propósito da vida era o prazer e a liberdade da dor, paixões e medos. - Zenão (340-265 a.C.), fundador do estoicismo, enfatizava o viver em harmonia com a natureza, e também o depender da razão e de outros poderes auto-suficientes. - Ambas as escolas destacavam a busca pela paz da mente. Zenão tinha um conceito panteísta de Deus como a "alma do mundo". {...} - Areópago. O nome significa "Colina de Marte". É uma colina perto da Acrópole onde, em tempos antigos, um conselho tinha se reunido. Local aonde se reunia o conselho da cidade, sendo uma corte que nos tempos romanos, supervisionava a moral, a educação e religião. - Ao Deus Desconhecido. Possivel referência ao Altar dos Doze Deuses em Atenas, erigido para assegurar que nenhum deus ficasse fora de sua adoração. - Paulo usou este ponto de contato para começar seu discurso sobre o Deus que fez o mundo, que não é esculpido em pedra ou confinado a algum templo, e que controla os tempos e os lugares onde as pessoas vivem. - Nele vivemos, e nos movemos, e existimos. Paulo diz que Deus trouxe todas as pessoas à existência e que elas só existem por sua providência. No mundo antigo, os três grandes mistérios da filosofia e da ciência eram as questões de vida, movimento e existência. - Alguns de vossos poetas. Paulo sabia que os atenienses não conheciam o Antigo Testamento, e ele fez citações de três de seus próprios poetas. Embora as palavras dos poetas se referissem a Zeus, o chefe dos deuses gregos, Paulo aplicou as citações ao Deus vivo do céu. Os poetas são Epimênides (c. 600 a.C.), Cleanto (331-233 a.C.) e Arato (315-240 a.C.). (p. 1297-98, 1999). DEUS Criador, Sustentador, Soberano, Pai e Juiz. No destaque do entendimento de John Stott sobre essa pregação do Apóstolo Paulo, anotamos perspectivas que a evangelização e pré evangelização através da cultura deve assumir como temas de comunicação. Conforme Sott, Paulo "proclamou Deus em sua plenitude, como Criador, Sustentador, Soberano, Pai e Juiz. Tudo isso é parte, ou, no mínimo uma introdução necessária ao evangelho. Muitas pessoas tem rejeitado o evangelho não por entenderem que ele é falso, mas por considerarem sua mensagem trivial. Elas estão à procura de uma visão de mundo integrada, que faça sentido à sua experiência de vida. Paulo nos ensina que não podemos pregar o evangelho de Jesus separado da doutrina de Deus, ou falar da cruz sem falar da criação, ou da salvação sem o juízo, e vice-versa." (2007, p. 334). Neste sentido, Deus se faz conhecer no mundo por seus atributos, e a evangelização percebe, apresenta e explica estes atos e obras abençoadores do Senhor sobre a Terra. Observe que, a cultura é um dom de Deus, tanto para formalizar a origem destes talentos, quanto para expressar a personalidade e pensamento do Criador. 6. UMA AVALIAÇÃO POSITIVA DA CULTURA NO PENSAMENTO REFORMADO. NEO-CALVINISMO. ABRAHAM KUYPER E CALVINISMO HOLANDÊS. A CULTURA MODERNA NO OLHAR PROTESTANTE CALVINISTA REFORMADO PRESBITERIANO. Na segunda metade do século 19 e início do século 20, o teólogo e líder político holandês, Abraham Kuyper desenvolveu em sua nação uma série de reflexões e transformações a partir das bases do pensamento de João Calvino. O propósito foi a compreensão de toda vida humana e sociedade a partir da Cosmovisão Reformada. Kuyper desenvolveu pensamentos, ideias e ações, a partir de um movimento de retorno ao pensamento da tradição calvinista, que veio a ser denominado de "calvinismo holandês" e "neocalvinismo", naquele período. O conteúdo essencial do pensamento de Kuyper foi exposto em Palestras ministradas na Universidade de Princeton, EUA, em 1898, apresentando temas teológicos "como um fundamento para uma visão abrangente da vida." O conteúdo das palestras está disponível no livro, CALVINISMO, da Editora Cultura Cristã. (Kuyper, p. 5-6, 2003.) a) Um dos temas de Kuyper reflete a "relação do cristão com o mundo", apresentando o pensamento doutrinário de que Deus derrama sua Graça Especial no propósito de salvar a humanidade através do Evangelho, enquanto derrama continuamente em toda história a sua Graça Comum, no propósito de preservar a existência humana e a criação, regulando a maldição e impedindo o crescimento da corrupção, ao mesmo tempo em que faz prosperar aspectos e elementos da vida. b) Segue uma citação da Palestra Stone, O Calvinismo e o Futuro: "(O Calvinismo) elevou nossa religião cristã ao seu mais alto esplendor espiritual; criou uma ordem eclesiástica que tornou-se a pré-formação da confederação de Estados; provou ser o anjo da guarda da ciência; emancipou a arte; divulgou um esquema político que deu à luz o governo constitucional tanto na Europa como na América; encorajou a agricultura e a indústria, o comércio e a navegação; colocou uma marca completamente cristã sobre a vida da família e sobre os laços familiares; por seu alto padrão moral, promoveu a pureza em nossos círculos sociais, e para produzir esse multiforme efeito, colocou à disposição da Igreja e do Estado, da sociedade e do círculo familiar uma concepção filosófica fundamental estritamente derivada de seu princípio dominante, e portanto, completamente própria." (p. 97-98). O princípio calvinista entende que a Soberania de Deus sobre todas as coisas, conforme cada item acima citado, orienta que as mais diversas áreas da vida cultural do homem não devem ser submetidas ao Estado ou Igreja, devendo ser protegidas segundo sua natureza e função para com o desenvolvimento da sociedade. 7. CAPELANIA, Evangelização e Cultura. A comunicação e partilha de sentimentos e conceitos do Evangelho na perspectiva do ambiente e situação do próximo. "Capelania. Apoio espiritual e psicológico para o encontro do sentido da vida." "O Capelão é: agente reconciliador da criatura com o Criador; pessoa... dotada de habilidades, dons e talentos colocados à disposição de outros...." "A Capelania é: lembrar as limitações impostas pelo Criador, mas também fazer refletir sobre o potencial investido por Ele, bem como Seu infinito poder sobre todas as coisas e situações; ministrar a todos sobre os atributos do nosso Deus, como sendo Soberano, Onisciente, Onipotente e Onipresente; demonstração da ajuda do Alto, como mais eficiente e eficaz, do que a auto ajuda." Temas para a prática da Capelania: "o lugar da proclamação e a relevância do discipulado nos diversos ambientes; o significado da visão integral - para o Reino de Deus; aplicando a Palavra de Deus em todas as situações, conhecendo as instruções de Jesus para cada tema da vida atual." (p. 2-11, 2009). 8. A CAPELANIA CRISTÃ COMO UM PROJETO DE PRÉ-EVANGELIZAÇÃO PERANTE A SOCIEDADE DOS HOMENS. Baseado nestes princípios bíblicos e reflexões teológicas, propomos uma visão de Evangelização através da Cultura numa perspectiva da Capelania. Cada Cristão e igualmente grupo de cristãos que tem o desejo de cumprir a Grande Comissão de Evangelização dada pelo Senhor Jesus, poderiam fazer alguns exercícios e análises sobre sua realidade e relacionamentos: - Mapear sua vida cultural; - As possibilidades de comunicação no ambiente e situação existencial do outro com quem convivem; - Ambientes, Atividades profissionais e culturais, e Áreas de conhecimento de que participam e tem contato; - Observar os seguintes ambientes: de profissões, conhecimento e reflexão, artes, etc. A partir disto, anotar algumas das atividades de aproximação que a igreja tem realizado diante do próximo, pra utiliza-las numa perspectiva de capelania social: eventos direcionados, encontros de convivência, palestras de comunicação, reuniões de: grupos, lares, amizades, chás, cafés, passeios, células, etc. Reflexão Pessoal ao Cristão e Cristãos em grupo: quais atividades de pré evangelização diante da Cultura numa perspectiva de Capelania são possíveis e necessárias em nossas realidades, e de que forma devem ser integradas num plano de evangelização e discipulado num segundo momento? ANÁLISE. A visão e atividades de evangelização do Apóstolo Paulo em sua missão "junto aos gentios" encontra valor na visão protestante calvinista reformada que dá base à constituição da Igreja Presbiteriana. Orienta uma aproximação sábia diante das pessoas e sociedade, junto de um conteúdo religioso apropriado ao ambiente e situação do próximo. Sendo algo que deve nortear o relacionamento dos cristãos perante uma sociedade cada vez mais diversa e, até, contrariada com o pensamento do Cristianismo. A atitude religiosa cristã combativa acerca de conceitos e no anúncio de valores cristãos que temos percebido e recebido da visão fundamentalista norte-americana em suas influências na sociedade cristã evangélica brasileira, são distintas tanto do pensamento de Paulo, como da reflexão e experiência calvinista e reformada na história. O Neo-calvinismo que traduz esses valores diante de uma sociedade moderna nos séculos l9 e 20, oferece tanto aproximação e diálogo comuns através de uma relação democrática, como o respeito e a proteção que instituições confessionais oferecem, para que os cristãos vivam numa sociedade em conflito, buscando gerar paz e tranquilidade, piedade e dignidade aos cristãos, conforme a oração e intercessão do Apóstolo Paulo. Estes valores e práticas podem ser interessantes aos cristãos na atualidade, bem como carregam consigo importantes princípios bíblicos e valiosas experiências protestantes reformadas na história. 9. SEMEAR E COLHER. ORAÇÃO E SABEDORIA NA EVANGELIZAÇÃO. Nota da Bíblia de Genebra: "O sucesso da evangelização não depende apenas do esforço humano, mas também da obra regeneradora do Espírito Santo. No testemunho, os cristãos são humildes e devotadamente dependentes da ajuda e da supervisão de Deus. Um cristão deve ser paciente, aguardando o tempo de Deus, percebendo que o mais importante é ser fiel e diligente na execução da ordem de Deus." (p. 1560, 1999). "Dediquem-se à oração com a mente aberta e o coração agradecido. Orem também por nós, para que Deus nos dê muitas oportunidades de falar do segredo a respeito de Cristo. É por esse motivo que sou prisioneiro. Orem para que eu proclame essa mensagem com a devida clareza. Vivam com sabedoria entre os que são de fora e aproveitem todas as oportunidades. Que suas conversas sejam amistosas e agradáveis, a fim de que tenham a resposta certa para cada pessoa." (Colossenses 4. 2-6). ORAÇÃO FINAL. "Se algum de vocês precisar de sabedoria, peça a nosso Deus generoso, e receberá. Ele não os repreenderá por pedirem. Mas, quando pedirem, façam-no com fé, sem vacilar...". (Tiago. 5-6). A oração pedindo sabedoria transforma princípios e valores em Missão. REFLEXÃO. Além de analisar o modo em que nossa vida familiar, profissional e social pode ser direcionada em atividades de capelania cristã individuais e em grupo, deve-se ficar atento ao que a Igreja e Instituição presbiterianas realizam de ações nessa perspectiva, a fim de aproveitarmos as oportunidades. O Hospital Evangélico Mackenzie de Curitiba busca voluntários para atuação numa capelania hospitalar, além de voluntariado social em diversas ações. Ao mesmo tempo, existe abertura para atuar internamente no hospital com atividades capelãs diversas diante das crianças, adolescentes e pacientes em geral, o que não deixa de ser desafio e oportunidade para nossos grupos da igreja; UCP, UPA, UMP, UPH e SAF. Ainda, existe o projeto de que pacientes atendidos no hospital pela capelania, sejam acompanhados por igrejas próximas de suas residências, caso isto desejem. Algo que abre situações de capelania pós serviço hospitalar, nas quais igualmente os grupos da igreja poderiam estar presentes. Neste sentido, importante refletir que a amizade entre cristãos que se busca através da comunhão entre os irmãos é uma convivência que irá produzir frutos de vida e de afetividade exatamente através do serviço desenvolvido em conjunto pelo povo de Deus; ainda que todo convívio e encontro entre os cristãos seja sempre salutar e valioso. Num país religioso e pré-cristão como o Brasil, em que a oração do Pai Nosso é um ato religioso grandemente utilizado nas mais diversas situações culturais da nação, a meditação nos conteúdos de cada frase da oração e a ênfase no Nome de Deus Pai vai capacitar os cristãos para comunicar verdades cristãs importantes à população. REFERÊNCIAS. BÍBLIA de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. BÍBLIA SAGRADA de Auxílio à Capelania. NVI. Geográfica, Santo André SP, 2009. BÍBLIA Sagrada Nova Versão Transformadora, Editora Mundo Cristão, 2020. RIBEIRO DE CARVALHO, Guilherme Vilela e outros (organizadores) Cosmovisão Cristã e Transformação. Viçosa, MG : Ultimato, 2006. Artigo: Abraham Kuyper: Um modelo de transformação integral, por Nilson Moutinho dos Santos. STOTT, John. A Bíblia toda o ano todo: meditações diárias de Gênesis a Apocalipse / John Stott; tradução: Jorge Camargo. - Viçosa, MG: Ultimato, 2007. KUYPER, Abraham. Calvinismo. Tradução de Ricardo Gouveia e Paulo Arantes - São Paulo: Cultura Cristã, 2003. https://dollynhopuritano.wordpress.com/2017/01/16/sensus-divinitatis-senso-da-divindade-por-joao-calvino/ Autor. Ivan S Rüppell Jr é ministro licenciado da IPB, professor de ciências da religião e teologia.

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