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A Espiritualidade do APOCALIPSE, no Cinema. OPPENHEIMER, de Christopher Nolan, 2023.

O diretor de cinema Christopher Nolan é um dos poucos autores da Sétima Arte no século 21, tendo dirigido a trilogia O Cavaleiro das Trevas - Batman, A Origem e Dunkirk. Autores são diretores que agregam um estilo próprio na realização dos filmes, com narrativas diferenciadas para comunicar ao público suas histórias. Nolan realizou filmes que se tornaram conhecidos pela estética e cenas impactantes, movendo os sentimentos e reflexões do espectador, além de transformar o aspecto técnico das películas. O filme "Oppenheimer", EUA, 2023, com Robert Downey Jr, Matt Damon, Cillian Murphy e grande elenco, trata das situações históricas que compuseram o ambiente de criação da Bomba Atômica, ao final da II Guerra Mundial. A decisão narrativa do Diretor segue os pensamentos e sensações do Físico que liderou o famoso Projeto Manhattan. Sendo que o enredo do filme foi baseado na obra vencedora do Pulitzer, "Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer", escrita por Kai Bird e Marvin J. Sherein, após volumosa pesquisa feita em relatórios do FBI, cartas do período e entrevistas. A Espiritualidade do Apocalipse surge nos temas e sensações explorados no filme, ora apresentando o entendimento comum sobre o significado do "apocalipse" - uma era catastrófica ao redor do tema do fim do mundo, ora trazendo questões que o aproximam da visão bíblica do assunto - o governo de Deus sobre a história. Os Apocalipses judaicos escritos entre os anos 200 a.C. e 100 d.C. buscam revelar fatos que devem acontecer no fim dos tempos e anotar aspectos desse período último da existência, oferecendo uma espécie de "calendário para o fim da história". Enquanto isso, o Apocalipse cristão revelado no último livro da bíblia e no sermão de Marcos 13, tem objetivo de confirmar que Deus irá realizar os atos prometidos por Ele para o fim dos tempos, ao invés de definir os momentos da história em que isto deve ocorrer. De forma geral, ambos os textos apocalípticos judaicos e cristãos apresentam a maneira como Deus vai governar de forma soberana a história do mundo, até a conclusão dos tempos. Neste sentido, o filme de Christopher Nolan anota de forma relevante enquanto documento histórico, e de forma impactante enquanto apresentação da personalidade, o modo em que os seres humanos participam da história do fim do mundo - o Apocalipse, a partir de suas escolhas na governança das questões políticas relevantes, especialmente em tempos de guerra. O profundo dilema sobre como impedir grandes males sem que isto gere oportunidade para que ocorram situações ainda piores adiante, surge como um tema valioso de reflexão "apocalíptica" na narrativa do filme. Especialmente pelo modo como vemos tais questões serem percebidas de modos desiguais no decorrer do período histórico em que são refletidas. Primeiro, ao final da II Guerra em que há acordo entre os aliados EUA e URSS, e num segundo momento, alguns anos depois, que traz à tona o início da guerra fria entre esses dois países. Pois parece razoável que o pensamento e reflexão devam ser diferentes em acordo à situação e momento histórico distintos de cada ocasião, até pela urgência e necessidade de encerrar a segunda Guerra e frear o avanço nazista pelo mundo. No entanto, a busca só do poder político e a paixão ideológica quase sempre estão distanciados das boas relações humanas, de modo que tudo o que você disser, será usado contra você; sendo algo presente na perseguição ao Físico protagonista. O filme Oppenheimer destaca experiências vivenciais ao invés de somente fatos para contar a história do surgimento da Bomba Atômica, apresentando dramas pessoais profundos envoltos em bom suspense no decorrer da narrativa. Algo que conduz os espectadores pela experiência inesquecível de ficarem atentos por quase três horas, diante dos aspectos humanos e existenciais da história. Tudo através do olhar e coração, das certezas e reflexões, dos valores e contradições do protagonista J. Robert Oppeheimmer - em magnífica interpretação do irlandês Cillian Murphy. Para valorizar a direção de Nolan, há valiosos temas sociais e políticos envoltos em dramas essenciais da humanidade que surgem na tela de cinema em cores e imagens de impacto. Sensações compartilhadas por expressões e pensamentos instigantes, que chegam até nós na expressão facial realista dos atores, conforme a câmera do diretor os posiciona na tela de cinema. A espiritualidade do Apocalipse dos homens está bem descrita no diálogo crucial do filme, entre Oppenheimer e Albert Einstein. Seja ao tratar da proximidade de uma completa destruição do planeta pela guerra atômica, ou então, pela grave transformação da atual experiência humana nele. Sendo que, conforme o apocalipse cristão, o fim deste período da história para a humanidade aponta ainda, outra direção, a partir da Ressurreição. Bom filme! Autor. Ivan Santos Rüppell Júnior é professor de ciências da religião e teologia, e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana.

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