sexta-feira, 28 de julho de 2023

CREDOS E CONFISSÕES Texto 1. Seminário Presbiteriano do Sul, 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Credos e Confissões do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. Contém texto escrito pelo professor e longas citações de duas obras, do professor e do teólogo e cientista religioso Alister McGrath. O objetivo é trazer dados e informações diversas e importantes aos alunos da disciplina. ITEM 1. INTRODUÇÃO. O termo religioso "credo" origina da palavra em latim: "credo" e significa "Eu Creio", que é como inicia o Credo Apóstolico. O termo se refere ao modo como se deseja definir uma específica "declaração de fé", sendo que, o mais famoso credo cristão, segundo McGrath, "sintetiza os principais pontos da fé cristã, os quais são compartilhados por todos os cristãos." (2005, p 54). Devido a essa aceitação geral e ampla que designa a existência e aceite de um "credo", essa expressão não deve ser utilizada para referir "declarações de fé" representativas do pensamento particular de determinadas denominações religiosas; sendo que estas serão assim chamadas, como "confissões". Nesse contexto, e no destaque de nosso autor, "a confissão pertence a uma denominação e inclui dogmas e ênfases especificamente relacionados a ela; o "credo" pertence a toda a igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma declaração de crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e observar." Neste sentido, "o "credo" veio a ser considerado como uma declaração concisa, formal, universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da fé cristã." (2005, p 54). O período histórico e doutrinal reconhecido como período patrístico (compreende desde o ano 100 d.C - a partir do término da escrita dos textos do Novo Testamento, até o ano 451 d.C - em que houve o Concílio da Calcedônia) foi a época do estabelecimento de dois credos fundamentais devido sua autoridade e aceitação integral pela Igreja Cristã: o Credo Apostólico e o Credo Niceno (versão alongada do credo apostólico). Segundo McGrath, "um requisito essencial era que cada convertido, que desejasse se batizar, deveria declarar publicamente sua fé"; de forma que os credos se tornaram uma declaração básica e aceita por todos os cristãos, de forma que veio a ser a afirmação de fé que se deveria testemunhar publicamente. O Credo Apóstolico contém três partes que destacam a Pessoa de Deus, de Jesus Cristo e do Espírito Santo, além de temas cristãos essenciais, sendo que suas doze afirmações são reconhecidas como tendo sido autorizadas e declaradas pelos apóstolos. O Credo Niceno surge num período de controvérsias sobre a divindade de Cristo, e apresenta afirmações da unidade do Filho com o Pai, além de se referir ao Espírito Santo e sua atuação e obras. (McGrath, 2005, p 55). Para McGrath, "a evolução dos credos representou um importante elemento no processo para se chegar a um consenso doutrinário no seio da igreja primitiva", sendo que a doutrina sobre a Pessoa de Cristo veio a ser o tema mais desenvolvido historicamente. ITEM 2. O DESENVOLVIMENTO INICIAL E O PENSAMENTO TEOLÓGICO CRISTÃO NA PATRÍSTICA. (*conteúdo extraído do livro "O Cristianismo e a Civilização Ocidental"). Contexto histórico e teológico de formação do Credo Apostólico. "A história da vida de Jesus de Nazaré encontra-se narrada nos quatro Evangelhos autorizados que levam os nomes de seus escritores, os apóstolos Mateus e Marcos, Lucas e João. (...) Segundo o estudioso anglicano John Stott, os evangelhos são narrativas históricas diversas e complementares em seus detalhes, vindo a refletir em seus pontos de vista distintos a própria personalidade dos escritores, pois as suas histórias de vida e formações intelectuais e religiosas acabaram orientando a maneira em que eles investigam e anotam as experiências e ministrações de Jesus, até escreve-las numa forma ordenada por situações consequentes e também segundo um conteúdo relacionável por temas. Nas palavras desse mesmo autor, “no caso dos Evangelhos (...) parece que os evangelistas planejaram suplementar um ao outro à luz de seus propósitos e preocupações individuais. Assim, Mateus expandiu muito Marcos, Lucas influiu novas ênfases no material extraído dos outros dois e acrescentou ainda mais, e João pintou um retrato de Jesus que foi além dos outros três, tanto em conteúdo quanto em profundidade espiritual.” (Homens com Uma Mensagem, 1996, p 10) (...) Conforme Fortino, “desde seu início na Judeia romana (...) o cristianismo moldou a cultura de grande parte da civilização ocidental. Os primeiros cristãos foram perseguidos tanto por autoridades judaicas quanto pelo Império Romano, e muitos foram mortos. Mesmo assim, a religião resistiu, sob a liderança da primeira Igreja. Gradualmente, o cristianismo passou a ser tolerado pelos líderes romanos e, após o Concílio de Niceia... foi adotado como religião oficial do Império Romano em 380 d.C.” (2014, p 202) Segundo McGrath, enquanto as lideranças cristãs da cidade de Roma fortaleciam suas influências sobre as igrejas e seguidores residentes no grande território do Império, o que também já gerava as primeiras tensões entre Roma e Constantinopla, alguns centros de estudos doutrinários eram organizados em determinadas regiões, como: a cidade de Alexandria, situada no Egito, que se tornou um centro educacional relacionado à tradição platônica; a cidade de Antioquia, situada na atual Turquia, região que auxiliou grandemente no desenvolvimento da doutrina da Trindade; e, a região norte da África, atual Argélia, que confrontava abertamente a liderança de Roma, sendo a localidade de importantes escritores cristãos, como Tertuliano e Santo Agostinho. E conforme o pensamento desse mesmo autor, “o termo “patrístico” (...) tanto designa o período referente aos pais da igreja quanto as ideias características que se desenvolveram ao longo desse período. (...) esse termo representa algo definido de forma vaga que frequentemente é considerado como o período a partir do término dos documentos do Novo Testamento (100 d.C.) até o decisivo Concílio da Calcedônia (451).” (2205, p 39-41) “O período patrístico representa um dos mais empolgantes e criativos da história do pensamento cristão... Todos os principais ramos da igreja cristã – incluindo as igrejas anglicanas, ortodoxa oriental, luterana, reformada e católica romana – consideram o período patrístico como um marco decisivo na evolução da doutrina cristã. Cada uma dessas igrejas se considera como uma continuação, uma extensão e, naquilo que for necessário, uma crítica às visões dos escritores da igreja primitiva.” O símbolo e representação teológica de unidade conceitual que identifica as mais diversas igrejas e denominações que são consideradas pertencentes ao Cristianismo no decorrer da história recebeu sua forma fixa no período patrístico, ainda no decorrer do quarto século, através da finalização do conteúdo do “Credo Apostólico”. Essa declaração contendo os elementos essenciais da fé cristã tornou-se o conteúdo a ser afirmado por todos aqueles que desejavam ser batizados a fim de se tornarem cristãos nas cerimônias de recepção de novos convertidos à religião do Cristianismo, as quais começaram a ser organizadas desde os primeiros movimentos da Igreja primitiva. A seguir, destacamos alguns de seus principais elementos: “Creio em Deus, o Pai todo-poderoso, criador dos céus e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, Ele foi concebido por obra do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria... Foi crucificado, morto e sepultado... Ressuscitou no terceiro dia, Subiu aos céus e está sentado à mão direita do Pai... Creio no Espírito Santo... na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.” Observe a grande influência da religião do Cristianismo em nossa sociedade, a partir do conhecimento cotidiano contemporâneo que todos temos acerca do próprio conteúdo do Credo Apostólico; sendo este um aspecto revelador do modo em que esta religião se tornou uma força cultural da civilização ocidental." ITEM 3. ACERCA DA UNIDADE DE PENSAMENTO ENTRE OS CRISTÃOS a partir do Credo Apostólico. Segue destaque com conteúdo extraído do livro "O Cristianismo e a Civilização Ocidental", que atualiza o tema para os períodos do séc 20 e 21. "Um outro movimento importante e historicamente relacionado ao desenvolvimento do Pentecostalismo é o “Movimento Evangelical”, de origem europeia e que, após passar pelos Estados Unidos da América, chegou ao Brasil no decorrer do século 20. Seu propósito era unificar as diversas ramificações protestantes ao redor de alguns princípios doutrinários essenciais do Cristianismo, tanto para se fortalecerem em suas atividades, como para se posicionarem diante da expansão católica. Houve a organização de uma espécie de frente-unida protestante para desenvolver uma grande Era missionária, através de um programa de atividades que se prolongou até o início da primeira guerra. E nas palavras desse mesmo autor, “a auto identificação de “evangélico” era individual e significava o compromisso da pessoa com aquele conjunto de princípios doutrinários; antes de pertencer a esta ou aquela denominação, o indivíduo era “evangélico”. (Mendonça, 2002, p 15) (...) Dentro desse contexto, é possível formular um quadro das denominações protestantes que se desenvolveram no Brasil no decorrer do século passado, a partir da definição de suas origens, havendo três grupos distintos: há os grupos de origem migratória, que vieram atender inicialmente os migrantes ingleses e alemães, como os ramos protestantes da Igreja Anglicana e Luterana; há os grupos de origem missionária, como os das Igrejas Presbiteriana, Congregacional, Igreja Reformada Holandesa, Batistas e os Menonitas; e, há os grupos de origem pentecostal, tanto os clássicos, como a Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja “O Brasil para Cristo”; como aqueles mais relacionados à cura divina, como a Igreja Deus é Amor. (Mendonça, 2002, p 18) (...) O Movimento cristão ecumênico do século 20. Desde o grande cisma histórico do Cristianismo que separou a Igreja ocidental romana da Igreja oriental ortodoxa em 1054, passando pela divisão da Igreja Ocidental que redundou na Reforma Protestante em 1517, até as disputas doutrinárias e eclesiais que ocasionaram o surgimento de incontáveis denominações e grupos cristãos no decorrer dos séculos 19 e 20; um dos fatos que se tornaram marcantes na história do Cristianismo foram as divisões desta religião. “Os fiéis compartilham um mesmo Senhor, uma mesma fé e um mesmo batismo, mas para eles foi muito difícil permanecer unidos, e suas dissensões enfraqueceram profundamente o testemunho cristão no mundo.” São divisões que se tornaram importantes a partir de meados do século 19 e no século passado, assim que as lideranças e os missionários cristãos se dedicaram a atuar junto às nações asiáticas e africanas; situações em que a falta de unidade, tanto de mensagem, como de projetos se tornava um aspecto negativo e revelador das divisões “internas” da Igreja Cristã, conforme Chadwich. Esse autor identifica as origens das divisões fundamentais do Cristianismo a partir de quatro aspectos doutrinário-históricos: o das igrejas “pré-cacedonianas”, como a armênia, síria ortodoxa e copta egípcia, que não se submetem ao concílio de Calcedônia; o cisma entre as igrejas romana ocidental e ortodoxa oriental; a divisão ocasionada pela reforma protestante; e, as denominações contrárias ao tradicionalismo protestante, como as igrejas batistas em razão do batismo por imersão, e os pentecostais que valorizam os dons do Espírito Santo. (2007, p 222) Em meio a esse contexto e na busca por um sentido de unidade religiosa, lideranças cristãs reunidas na conferência missionária protestante internacional de Edimburgo (1910), orientaram a realização de reuniões e conferências nos anos seguintes, com destaque para o Movimento de Vida e Trabalho, que se reuniu em Estocolmo em 1925 para debater a relação do Cristianismo com a sociedade, e o Movimento de Fé e Ordem, que promoveu encontros em 1927 no objetivo de definir elementos de unidade doutrinal entre as igrejas cristãs. Até que em 1937 ambos os grupos decidiram atuar em conjunto, o que não foi possível desenvolver plenamente em razão dos acontecimentos da segunda guerra mundial. (Curtis, 2002, p 221) Esse grande número de esforços ecumênicos redundou na criação do Conselho Mundial das Igrejas em 1948, com sede em Genebra, Suíça, tendo por seu primeiro secretário, o teólogo holandês W. A. Viser `t Hooft; sendo que as igrejas que desejavam participar deveriam manifestar seu compromisso com as doutrinas da divindade de Cristo e da Trindade, conforme esclarece Chadwick. E, nas palavras desse mesmo autor, esta organização “preocupou-se não apenas com promover a compreensão teológica, mas também com questões sociais e políticas: paz e controle de armamentos, racismo (...), liberdade religiosa e ajuda aos refugiados e aos oprimidos pela injustiça.” (2007, p 222-223) A continuidade desse processo histórico avançou a partir de decisões da Igreja Católica Romana, que se reuniu no Concílio Vaticano II em 1962, sob a liderança do Papa João XXIII, para debater a “atualização da igreja” em meio a um contexto de crescimento do ateísmo e materialismo na sociedade. Dentre as inúmeras decisões do colegiado, houveram algumas que foram de encontro aos desejos do movimento ecumênico do século: primeiro, a afirmação de que as Escrituras eram a base principal da verdade divina, e não a tradição; e segundo, a decisão por chamar de “irmãos” aos membros de outras denominações cristãs, havendo a orientação de que estes não precisariam retornar “à Roma” para serem assim considerados. (Curtis, 2003, p 228) Alguns dos desdobramentos das decisões do concílio católico nos anos seguintes revelam a importância do ecumenismo cristão no século 20, com destaque para os seguintes acontecimentos: entre os anos de 1964/65, o Papa Paulo VI liderou proposições no sentido de tornar a ideia da unidade cristã num projeto para toda a Igreja, enquanto se unia ao Patriarca Atenágoras de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), para juntos determinarem o fim dos atos de excomunhão dados no século 16; também, houve uma aproximação junto às Igrejas históricas protestantes, com a liderança Católica vindo a participar em 1983 da Assembleia do Conselho Ecumênico das Igrejas; e, ainda, nas últimas décadas do século anterior houve um fortalecimento das atividades da Secretaria para a Unidade dos Cristãos, um órgão interno da igreja romana. (Greco, 2008, p 157) A partir desses movimentos ocorridos nos primeiros anos após a segunda grande guerra, e de inúmeras outras atividades e conferências que foram realizadas nas últimas décadas do século 20, o movimento ecumênico do Cristianismo teve bom crescimento, vindo a alcançar a participação de diversas denominações e importantes lideranças contemporâneas da religião. Sendo possível afirmar que o século 21 tem sido marcado por um respeito e consideração mútuos bastante significativos entre as diferentes vertentes religiosas cristãs, ao mesmo tempo em que o diálogo inter-religioso e as ações sociais conjuntas continuam ocorrendo no decorrer dos anos." ITEM 4. SÍMBOLOS DE FÉ. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DAS CONFISSÕES DE FÉ PROTESTANTES. O Período de consolidação da doutrina Protestante. Ao mesmo tempo em que a Reforma Protestante atualizava de modo distinto na história a autoridade das Escrituras, as diversas visões diferentes de interpretação entre os líderes da reforma também se tornava uma realidade, especialmente no pensamento distinto entre os "reformadores magisteriais" (que respeitavam as autoridades) e os "reformadores radicais" (mais revolucionários diante do Estado). Nesse contexto, surgiu a necessidade de definições "oficiais" que pudessem esclarecer tanto o que pensavam como o que desejavam os reformadores do cristianismo, sendo que, segundo McGrath, "as confissões de fé desempenhararm essa função (...) (posto que) em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade: 1. As Escrituras. Eram consideradas pelos reformadores magisteriais como a autoridade suprema em matéria de dogma e conduta cristãos. 2. Os credos do cristianismo. Esses documentos, como, por exemplo, os credos Apostólico e Niceno, eram considerados pelos reformadores magistrais como representativos do consenso da igreja primitiva, bem como interpretações precisas e autorizadas das Escrituras. (os credos eram considerados textos secundários em relação às Escrituras, e serviam para delimitar o individualismo da reforma radical) A autoridade desses credos era reconhecida tanto por protestantes quanto por católicos, bem como por vários elementos pertencentes à corrente dominante da Reforma. 3. As confissões de fé. Esses documentos eram tidos como oficiais por determinados grupos integrantes da Reforma. Assim, as igrejas luteranas primitivas reconheciam a autoridade da Confissão de Augsburg (1530) (embora nem todos os grupos protestantes entendessem desta forma)... Para exemplificar, pode-se mencionar o fato de que as confissões de fé específicas foram elaboradas por alguns grupos. Algumas estavam vinculadas à Reforma em determinadas cidades - por exemplo, a Primeira Confissão da Basiléia (1534) e a Confissão de Genebra (1536). Portanto, o padrão básico adotado pelos integrantes da Reforma era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal e das confissões de fé como de caráter terciário e local (pelo fato de essas confissões ser consideradas obrigatórias somente por uma denominação ou igreja de determinada região). Na Reforma, a constituição da ala reformada foi um processo complexo que resultou no fato de que várias Confissões - cada qual ligada a uma determinada região - tornaram-se influentes. As seguintes possuem importância especial. 1559, Confissão Gálica, França. 1560, Confissão Escocesa, Escócia. 1561, Confissão Belga, Países Baixos. 1563, Trinta e Nove Artigos, Inglaterra. 1566, Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental." (Mcgrath, p 109-110, 2005). REFERÊNCIAS. MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações. SP São Paulo, 2005. RUPPELL JR, Ivan Santos e TURETTI, Marli. O Cristianismo e a Civilização Ocidental, Edit Inter-saberes, Curitiba PR, 2020. Autor. Ivan S R Jr é professor de ciências da religião e teologia, e ministro licenciado da Igreja Presbiterina do Brasil.

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