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A CRIAÇÃO DA HUMANIDADE! Devocionais nas INSTITUTAS de Calvino, p/ Ivan S. Rüppell Jr

Devocionais nas Institutas de João Calvino, Semana 15, Tópico 15, Out/2020. A obra teológica “Institutas” contém uma explicação completa do conhecimento de Deus segundo o Cristianismo, na perspectiva reformada protestante. Esse texto apresenta breves devocionais no objetivo de comunicar o pensamento doutrinário das “Institutas”. A CRIAÇÃO DO HOMEM. “Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós... Assim Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1.26-27). “Ao criar o homem e distingui-lo com tão excelente formosura e tantas grandiosas capacidades, Deus exibiu nele a mais ilustre das Suas obras.” (p 77). “Deste conhecimento há dois ramos, o conhecimento do homem conforme originalmente foi criado, e o conhecimento da condição do homem desde a queda de Adão.” (p 80). Primeiro, devemos sempre recordar como o ser humano era em seu estado original, assim que foi criado por Deus, para que a maldade da humanidade não recaia sobre o Autor da criação. Pois desde sempre, o homem procura arranjar desculpas para os seus atos, e mesmo quando trata Deus com reverência, ainda assim, entende que as nossas corrupções tem origem na condição comum dos homens. Portanto, devemos meditar nos motivos que ocasionaram a ruína dos seres humanos, para que sejam anuladas as falsas desculpas dos homens sobre sua condição pecaminosa. Acerca da essência do ser, não há dúvida alguma que “o homem consiste em corpo e alma; e com “alma” quero dizer uma essência imortal, embora seja criada, que é a parte mais nobre dele.” Pois, sabemos que quando a palavra espírito é usada isoladamente, a mesma significa alma, como nos textos em que “Salomão diz que o espírito volta para Deus que o deu”, da mesma forma como Cristo entregou o seu espírito ao Pai e Estevão entregou seu espírito a Cristo, “o que significa que quando a alma é liberta da prisão (o corpo) Deus é seu guardião constante.” (p 81). A questão é que os homens se entregam de tal modo ao materialismo que esquecem que irão viver após a morte, ao mesmo tempo em que, mesmo estando em trevas devido a este entendimento limitado da existência, mantém consigo a percepção da realidade da imortalidade. Afinal, “a consciência, que reage ao julgamento de Deus e assim discerne entre o bem e o mal, é uma indicação segura da imortalidade.” Sendo que o temor da morte e a culpa do juízo não são ideias que surgem do corpo do ser, mas estão presentes na sua alma; “segue-se daí que a alma está dotada de essência ou existência pessoal.” (p 81). Então, a imortalidade da alma é comprovada pelo conhecimento de Deus que ela carrega consigo, de modo que o intelecto humano percebe que há na alma um selo dado por Deus. Observe que “a atividade da mente humana atravessa o céu e a terra, penetra os segredos da natureza, compreende e se lembra do curso das eras e infere coisas futuras baseadas nas coisas passadas, o que prova claramente que alguma coisa distinta do corpo jaz oculta no homem.” Sendo que é através dessa vivência que “sabemos o que é certo, o que é justo, o que é honroso; e a sede de tal entendimento deve ser o espírito.” (p 82). As Escrituras ensinam que a alma tem uma existência própria pois descrevem que “habitamos em casas de barro”, e que deixaremos esse tabernáculo físico na morte, ao nos livrar deste corpo corruptível. Dessa forma, a Palavra de Deus tanto diferencia a alma do corpo, como a percebe “como se fosse a própria pessoa, e assim indicam que é sua parte principal.” (p 82). Paulo exorta para que haja uma purificação tanto do corpo como do espírito, reconhecendo que o pecado corrompe ambos, esclarecendo ainda, a distinção de ambos. “Pedro chama Cristo o Pastor e Bispo das almas, que seria uma declaração absurda se não existissem almas para Cristo cuidar.” (p 82). O próprio Jesus nos falou da alma de Lázaro, que descansava junto de Abraão, enquanto a alma do rico sofria tormentos, sendo que o erro dos saduceus foi exatamente a sua negação da existência de espíritos (Atos 23.8). Dessa forma, a declaração de que os seres humanos foram feitos à imagem de Deus se refere às nossas almas, já que mesmo as marcas externas das virtudes divinas nos homens, tem sempre um caráter espiritual. “As faculdades excelentes que o homem originalmente possuía, e que refletiam a glória de Deus, podem melhor ser conhecidas ao considerarmos a renovação da imagem de Deus no homem por Cristo...”. (p 83). Os aspectos principais desta renovação em Cristo, são: “primeiramente, o conhecimento (Col 3.10), em segundo lugar, a justiça e a verdadeira santidade (Ef 4.24); mediante o que concluímos que, antes da queda, a imagem de Deus consistia na luz que enchia a mente do homem, na retidão do seu coração, e na integridade das suas faculdades todas.” (p 84). Não vamos adquirir um bom conhecimento acerca da alma humana nas ideias dos filósofos, pois exceto Platão, eles são unânimes em limita-la ao mundo terreno, sendo que a alma dos homens tem uma essência imaterial e não física, que anima o corpo humano inteiro para agir, de modo que a alma também governa a vida humana. Sendo que a alma “não somente governa as ações comuns do homem, como também o desperta para adorar a Deus.” (p 84). Observe que a própria vontade e ânimo corrompidos que orientam os homens pecadores a correr em busca da fama e das realizações, origina de um conhecimento e percepção interior de que foram criados para praticar a justiça. Certamente há alguns pensamentos dos filósofos que são interessantes, porém, são sempre acompanhados da ideia de que o homem é capaz de governar completamente a si mesmo: “Não sabiam que a natureza do homem havia-se corrompido pela queda (no pecado) e, portanto, confundem duas coisas que são inteiramente diferentes: o estado do homem conforme foi criado e o estado do homem conforme é depois da queda.” (p 85). Portanto, e “visando nosso presente propósito, basta dizer que a alma humana tem duas partes, o entendimento e a vontade; e que é do âmbito do entendimento discernir entre o bem e o mal, e da vontade fazer sua escolha entre os dois.” Fique atento ao fato de que “na retidão original do homem, a vontade estava livre, e, mediante a liberdade da sua vontade, poderia ter chegado à vida eterna.” Aqui, estou falando da natureza original dos seres humanos, pois Adão era capaz de permanecer junto de Deus, sendo que foi pela sua própria vontade que ele decidiu cair. Adão podia escolher entre o bem e o mal, já que tinha sua mente e vontade perfeitas, e todos os órgãos e membros do seu corpo cumpriam a orientação que ele lhes dava, “até que se arruinou, corrompendo assim todas as suas faculdades.” (p 85). No entanto, os filósofos se mantiveram na escuridão acerca desse conhecimento, pois “apegavam-se ao princípio de que o homem não seria um ser razoável, a não ser que fosse livre para escolher entre o bem e o mal.” (p 85). Eles argumentavam que um homem que não consegue governar sua vida conforme seus princípios, é um ser incapaz de distinguir entre a virtude e o vício; sendo que esse pensamento até seria válido caso a natureza humana não tivesse sido completamente transformada, na queda. Portanto, ao ignorar a queda, o entendimento dos filósofos acerca da humanidade se tornou confusa na sua essência, sendo este o motivo pelo qual os seguidores de Cristo que acreditam no livre arbítrio acabam por dividir a “sua lealdade entre os dogmas dos filósofos e a doutrina do céu” – tornando-se como tolos que não irão prosperar em nenhum dos dois conhecimentos. (p 85). ORAÇÃO: Pai Nosso que estás no céu; Bendito seja o teu Nome por nos criar à sua imagem e semelhança, com a condição de entender e sentir toda a bondade e justiça. Ó Deus, ilumina os nossos corações com humildade e temor diante da tua Palavra, para que saibamos que toda a grandeza da nossa criação se tornou impossível após a separação do Senhor. Quê venha o seu Reino e seja feita a sua Vontade em nossas vidas, a começar pela nossa alma, para que possamos receber do teu Espírito Santo a renovação das virtudes da vida verdadeira. Amém! Ivan Santos Rüppell Jr. Teólogo, Cientista da religião e Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. REFERÊNCIAS: CALVINO, João. AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Editora Cultura Cristã, SP, 2006. WILES, J. P. Ensino sobre o Cristianismo – uma edição abreviada de AS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo/SP. (pgs 72 a 85 do Resumo das Institutas de J P Wiles).

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