quinta-feira, 9 de março de 2023

Teologia Apocalíptica. Reflexão na Análise de Augustus Nicodemus.

O TEXTO "O Sermão Escatológico de Jesus: Análise da influência da Apocalíptica Judaica nos escritos do Novo Testamento" é conteúdo da Disciplina Teologia Apocalíptica do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. Desta forma, vamos fazer algumas citações e destacar conteúdos para a aprendizagem de nossa disciplina. INTRODUÇÃO. A relação entre o NT e os apocalipses judaicos tem gerado bom número de estudos desde o séc. 19, desde sugestões que Marcos 13 seria um "pequeno apocalipse", de que o contexto do NT reflete a mitologia apocalíptica (Bultmann) e até, de que o "pensamento apocalíptico é a mãe de toda a teologia cristã". A. Schweitzer ressaltou que pra entender Jesus e Paulo é preciso considera-los como "apocalípticos", sendo um destaque necessário para valorar a mensagem escatológica de Jesus. R H Charles liga o texto do Sermão do Monte a conteúdos apocalípticos judaicos, sendo que o cristianismo teria valorado o contéudo apocalíptico acima até do próprio judaísmo, enquanto que a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto reavivou possíveis semelhanças de conteúdo entre a mensagem do NT e apocalipses judaicos. D S Russel entende que as ideias e perspectivas influenciam claramente o NT, como nos confrontos aos demônios e acerca do triunfo final do Reino de Deus, além da concepção sobre o Filho do Homem. Sendo que, mesmo após as violentas críticas a essa aproximação entre NT e apocalípticos, a qual foi desenvolviva por C H Dodd e R G Beasley, a influência da matriz apocalíptica tem boa aceitação na erudição teológica. P Patten entende que alguns apócrifos apocalípticos esclarecem as parábolas de Marcos, e D Leon entende que Mateus 24 é "uma inserção apocalíptica" na mensagem de Jesus. O capítulo 13 de Marcos é o que recebe maiores comentários, sendo considerada "uma das passagens do Novo Testamento mais semelhantes aos apocalipses judaicos", e, conforme Bultmann, esse texto é praticamente um apocalipse judaico assumido pelo cristianismo, enquanto outros estudiosos descrevem esse capítulo como um "folheto apocalíptico" reconstruido, um "pequeno apocalipse", e um "Sermão Escatológico" distinto do que realmente pode ter sido ensinado por Jesus; sendo que a edição prejudica o que Jesus revela, pois o cap. 13 de Marcos, "opõe-se ao ensino de Paulo, tem contradições internas e contradiz o que lemos em outros lugares do Novo Testamento sobre a Parousia," conforme pensa T W Manson. Outros estudiosos veem diferente, entendendo que Marcos utilizou pensamentos apocalípticos de Jesus e buscou contextualiza-los historicamente, diminuindo sua ênfase apocalíptica. (p. 1). Segundo o autor e teólogo analista de nosso texto, "a maioria destas sugestões parece roubar o Sermão Escatológico de sua originalidade e caráter próprio - para não falar de sua autenticidade. Elas partem do pressuposto, ainda não provado, de que o cristianismo primitivo - e mesmo o próprio Jesus - foi profundamente influenciado pela apocalíptica judaica a ponto de ser este o ambiente vivencial do surgimento, não somente de Marcos 13, mas também de toda a teologia do Novo Testamento." Assim, o objetivo de Augustus Nicodemus é analisar se é razoável a tese "de que o Sermão Escatológico de Jesus, em sua estrutura, forma e conteúdo, é apocalíptico." (p. 2). A análise indica alguns "motivos básicos" presentes na Apocalíptica Judaica a fim de fazer uma comparação com o Sermão Escatológico, e então, destacar as diferenças. "Nosso alvo é mostrar que o Sermão Escatológico é distinto da literatura apocalíptica em pontos fundamentais e demonstrar que esta diferença é devida à hermenêutica de Jesus." (p. 2). I. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA APOCALÍPTICA JUDAICA E DO SERMÃO ESCATOLÓGICO. A. Os Apocalipses Judaicos. Descrição de características. São literatura judaica e cristã escritas entre 200 a.C. e 100 d.C. no interesse de revelar através de audições e visões alguns mistérios sobre a existência e temas teológicos, contendo temas do destino final da história, cujo conteúdo foi revelado por Deus através de visões; com tema básico da vingança divina aos inimigos de Israel. No entanto, Charlesworth e P Hanson entendem que somente o "estilo literário" do apocalipse pode ser percebido, mas não a sua essência ou natureza, sendo que Hanson destaca o modo como os apocalipses surgiram numa junção de apocalíptica e escatologia, para dar mensagens de esperança aos fiéis mais simples da religião; sendo "típicos de períodos de desepero, tristeza e sofrimento". Surgem após o exílio em meio a um contexto de promessas não concretizadas e diante de uma realidade de espera da vinda do reino de Deus. Concordamos que há diferenças nos vários apocalipses acerca das previsões dadas, "em geral, porém, todos eles têm como tema central o governo absoluto de Deus no mundo", vindo a orientar a atitude do crente diante do mundo e a definir os atos finais de Deus na história. B. O Sermão Escatológico. Suas característiscas estão contidas nas respostas dadas por Jesus ao questionamento dos discípulos em Mateus 24.1-3, sendo que nos três evangelhos sinóticos este sermão tem a mesma função: - corrigir expectativas sobre a destruição do templo, a vinda de Jesus e o fim dos tempos; - advertência sobre falsos sinais e falsos "Cristos"; - estabelecer visão integral da história a partir da morte e ressurreição de Jesus; - exortar para que estejam preparados para sua vinda final. Este Sermão Escatológico de Jesus traz ensinos que Ele ministrou em outras ocasiões, porém, nessa ocasião, embora haja palavras e temas dos apocalipses judaicos, Jesus anuncia um "sermão exortativo-escatológico, sem igual e bastante distinto dos apocalipses judaicos". Partes do Sermão Escatológico. 1. O princípio das dores são sinais dos tempos e confirmação de que o fim virá, mas não de que está próximo. (Mc 13.5-13) 2. A grande aflição da Judéia responde à pergunta sobre a destruição do templo. (Mc 13.14-23) 3. A vinda do Filho do Homem, que é a segunda vinda de Jesus. (Mc 13.24-27) 4. A volta final de Jesus surge em detalhes para ensinar a importância de estar atento à sua ocorrência. (Mc 13.28-37) 5. Exortação para estar preparado. (Mc 13. 33-37) 6. Parábolas de exortação para vigilância. (Mt 25.1-30) 7. O Dia do Juízo e o ajuntamento das nações. (Mt 25. 31-46). Enfim, o fato é que há elementos comuns entre o Sermão Escatológico e os apocalipses judaicos, porém, nossa análise é compreender se o sermão é somente um apocalipse judaico apoderado pelos cristãos e reorientado ao cristianismo, conf. entende Russel. TRÊS TEMAS DE ANÁLISE. O tempo deste mundo ou período interino; - A expectativa messiânica; - O lugar de Israel na História à luz do eschaton. A. Período interino. Expressão que designa o tempo presente, desde o momento de alguma ocorrência que o iniciou até a consumação dos tempos. Oferecer "um calendário para a história" é o propósito deste tema, assim como houve nas "setenta semanas" (Daniel 9. 24-27), além de outros textos apócrifos ou apocalipses judaicos: (em Baruque há doze partes, e em 1 Enoque há dez semanas). "O foco do Sermão Escatológico, por outro lado, é muito mais a preparação dos discípulos para os últimos dias do que um programa detalhado da história, como é o caso em muitos dos apocalipses judaicos." (p. 6). Um diferencial é que os sinais dos tempos como são dados por Jesus são mais uma garantia de que sua profecia irá ocorrer, do que "pistas" de que os tempos finais chegaram e nele estamos. "Estes sinais, entretanto, funcionam como uma confirmação de que Deus trará o fim (Mt 24. 4-14; Mc 13.5-13; Lc 21. 8-19) e não como marcadores de períodos determinados na história." (p. 6). Desta forma, compreende-se que Jesus "não era apocalíptico", mas sim, um profeta que ensina e apregoa acerca das tensões "entre o "já" e o "ainda não". (p. 6). B. Uma Abordagem pessimista do Mundo Presente. O pessimismo é uma marca dos "apocalipses", conf 4 Esdras e 2 Baruque, com a degradação e iniquidade sendo crescentes, em meio à salvação de uns e o juízo de tantos. "No Apocalipse de Abraão, o tempo presente é apresentado como um tempo de impiedade, em que os pagãos tem domínio sobre os judeus." (p. 7). E assim seguem outros apocalipses, retratando a chegada da tribulação e a vigilância, a devida atenção e clamor que devem ter os fiéis, em meio a tudo; sendo que, uma explicação sobre a prosperidade dos maus diante das lutas dos bons é um tema recorrente dos apocalipses, para expor o modo como Deus é bom e ainda está governando a realidade. O dualismo é um tema presente nos apocalipses, com a descrição de demônios e maldades sobre a terra, os quais são permitidos por Deus nesse período de "domínio" do mal. Enfim, o Sermão Escatológico não é pessimista. O anúncio das tribulações dado por Jesus tem propósito de comprovar suas palavras proféticas sobre o desenvolvimento da história; e não para anunciar a chegada do fim, mas sim, para dar coragem e esperança nas provações aos discípulos, pois eles seguem sendo suas testemunhas ao mundo. "A atitude dos discípulos diante de um mundo em crise é de expectativa positiva (Lc 21.28) e de alcançar o mundo com as boas novas (Mt . 24-14)." (p. 7). Em distinção, a comunidade dos Manuscritos está separada da sociedade e protegida do Diabo, pois o mundo foi entregue a Satanás. Enfim, esta abordagem otimista tanto do Sermão Escatológico como do Novo Testamento, levou o estudioso Leon a entender a porção "pessimista" do sermão, como se fora uma "inserção", com a igreja tomando emprestadas algumas colocações "apocalípticas" para incluir no Sermão, como o de Mateus, para advertir os cristãos sobre o tempo em que a caridade irá faltar. C. A expectativa messiânica. A figura do Messias guerreiro que já veio ou virá para conduzir a nação de Israel em vitória é "um tema recorrente na apocalíptica judaica". 1. O Messias guerreiro da apocalíptica. O Messias do Apocalipse de Abraão é denominado o "Eleito de Deus" que vem castigar os ímpios, enquanto que no Apocalipse de Baruque a aparição do Messias ocorre após a tribulação, nos dias finais, na expectativa de que um "império messiânico" seja estabelecido até o fim dos tempos e data final da corrupção na terra. "A terra será inacreditavelmente frutífera e ninguém jamais terá fome." E então o Messias vai surgir em glória, embora o Apocalipse de Baruque tenha lacunas sobre o tempo da vitória final do Messias sobre os inimigos de Israel, o que fez surgir a ideia de que este texto é compilação de vários apocalipses. Em I Enoque o Messias recebe títulos próximos dos do NT, como O Ungido e Cristo, e o Justo, que virá iluminar os eleitos, vindo a morar entre eles para avaliar suas obras. "O Messias de I Enoque é o juiz do mundo, o revelador dos segredos, o campeão e soberano dos íntegros." Enquanto isso, "o Testamento dos Doze Patriarcas menciona a imensa expectativa que muitos judeus tinham da chegada do Messias durante os dias prósperos dos macabeus (100-50 a.C.). Este escritor admirava o profeta, sacerdote e rei João Hircano, no período dos macabeus, que deveria ser a pessoa que representava os ideais messiânicos do texto, sendo um sacerdote que receberia revelações e mesmo um Messias, como entendiam os fariseus, até que Hircano rompeu com este grupo, o que reorientou a escrita deste "Testamento". "De acordo com Charles, o Messias idealizado pelo primeiro escritor tinha privilégios muito altos." Homem justo, reto e manso, sacerdote e mediador pelos gentios, e Profeta de Deus, vindo a ser Rei de Israel para lutar com as nações e o Mal, libertando as almas do pecado, tendo condição de capacitar seguidores na luta espiritual até lançar Belial no fogo final. "A semelhança com o conceito cristão do Messias pode ser entendida como sendo o resultado de assimilação por parte dos autores deste apocalipse." 2. O Filho do homem do Sermão Escatológico. Vejamos quem é o Messias do Sermão Escatológico, o "Filho do Homem", sendo que houveram muitas alegorias sobre essa personalidade, e também identificando as profecias com a destruição de Jerusalém: Mt 24.29-31; Mc 13. 24-27; Lc. 21-25-28; algo distinto do visto no NT, como em (1 Co 15.52; 1 Ts 4.14-17). "A vinda do "Filho do homem", conforme o Sermão Escatológico, ao contrário da apocalíptica, está próxima, será súbita, mas é impossível predizer quando ocorrerá (Mt 24.32-44; Mc 13. 28-37; Lc 21. 29-36). Esta tensão é uma das características mais difíceis de todo o sermão", mas seu valor é convocar à vigilância, não sendo contraditória, sendo que não há informes objetivos de Jesus sobre sua volta, de forma que o anúncio dos sinais trágicos aponta para o fato de que o fim irá chegar, e não de quando. "Essa contradição aparente está de acordo com a tensão geral entre o "já" e o "ainda não" do Novo Testamento." Enquanto o Messias dos Apocalipses tem atuação limitada, o Sermão Escatológico aponta que Ele irá socorrer os eleitos da tribulação ao ajunta-los, julgando o mundo com recompensa ao eleitos e juízo aos maus. "Isso é muito mais do que o filho do homem de Daniel (Dn 7.13-14), porque Jesus conecta o conceito do Filho do homem com a parousia e a consumação final." D. O Lugar de Israel na História. Os apocalipses judaicos estão atentos "à situação de Israel na história"; que traz quatro ideias: Israel como povo de Deus na escatologia, importância do templo de Jerusalém, significado de eleito e, a relação de Israel diante dos gentios. 1. Israel e o eschaton. "Nos apocalipses judaicos a situação futura de Israel normalmente é luminosa." A essência da mensagem que surge de forma repetida é de uma experiência de provações e perseguição na presente era, até a vitória final de Israel sobre as nações, em que irá assumir a primazia, enquanto o mundo ímpio irá padecer sobre o juízo de Deus. "O futuro de Israel no Sermão Escatológico, porém, não é tão promissor assim." Jerusalém é destruída pelo juízo de Deus a partir da descrença na vinda do Messias, o Cristo. Não há orientação de retorno da glória de Israel nem de que consiga se levantar do jugo dos gentios, após o anúncio dos juízos contra a nação. Como as passagens não são claras, deve-se buscar em Romanos 11.25, uma perspectiva neo testamentária mais clara sobre estas predições para Israel. Há uma ênfase do juízo sobre Israel quando Jesus convoca os discípulos para fugir de Jerusalém em sua tribulação, havendo uma certa clareza na definição do tempo dessa ocorrência e dos inimigos, o Império Romano. "Em resumo, esta é a distinção básica da concepção escatológica quanto a Israel no Sermão Escatológico." A apocalíptica judaica anuncia a restauração e glória futura de Israel na ocorrência escatológica, enquanto que o Sermão apresenta a felicidade dos eleitos no Messias, sejam judeus ou gentios. 2. O Templo de Jerusalém. "A situação do Templo de Jerusalém é associada de forma íntima, nos apocalipses judaicos, com a situação espiritual de Israel." O Apocalipse de Abraão e o Testamento dos Doze Patriarcas anunciam a destruição feroz do templo devido aos pecados de Israel. Ao mesmo tempo, outros textos apocalípticos apresentam a restauração de "um último templo" ao fim dos tempos. "O templo, de acordo com o Sermão Escatológico, também será destruído (Mt 24.1-2), mas como a expressão da ira divina contra a incredulidade da nação para com Jesus (ver Lc 19.41-44; 21- 22-24; Mt 23.37-39; e 24.1-2)." (p. 11). A possível identificação de Jesus com o templo também pode indicar sua morte e ressurreição, conforme a reflexão de Mateus sobre o véu que se rasgou. A destruição do templo também pode se referir ao juízo final de Deus sobre a terra. Se isso está correto, o ensino teológico do templo tem um significado superior e profundo em relação aos apocalipses. 3. Israel e os gentios. "A situação dos gentios com relação a Israel é uma outra preocupação da apocalíptica judaica." Há tanto uma visão de salvação exclusiva para o povo de Israel, com juízo até sobre judeus que casam filhas com gentios; e há também, uma perspectiva que inclue a salvação dos gentios "através de Israel". Porém, o Sermão Escatológico não traz diferença nem primazia para judeus ou gentios, pois "as boas novas serão anunciadas a todas as nações como testemunho. (Mt 24.14)." O dia do juízo irá colocar todas as pessoas diante de Deus e o acerto será pessoal, não havendo o "universalismo parcial" dos apocalipses, com certa primazia aos judeus, pela etnia. A apocalíptica judaica indica que o fim pouco anterior ao juízo de Deus irá ocorrer em meio a um grande conflito universal, "mas esta última grande batalha e a subversão dos poderes terrestres malignos estão ausentes no Sermão Escatológico. Isto significa que a expectativa nacional judaica não tem lugar algum no Sermão Escatológico." (p. 12). III. O que faz a diferença. Esta pesquisa demonstra que a semelhança de imagens e símbolos entre a apocalíptica judaica e o Sermão Escatólogico não sustenta uma mesma visão de ambos, quando tratamos do significado dos temas básicos. "Existem diferenças marcantes, como, por exemplo, no conceito do Messias." (p. 12). Enquanto a apocalíptica aguarda a vinda do Messias, no Sermão Escatológico ele já veio. A apocalíptica orienta o devido respeito ao Messias, enquanto que o Sermão Escatológico afirma que o destino das pessoas depende somente de sua crença n´Ele, "uma atitude religiosa". O Messias da apocalíptica é guerreiro, sendo que esta figura não está presente no Messias do Novo Testamento e do Sermão Escatológico. "Agora, vem a pergunta, por que o Sermão Escatológico apresenta uma visão diferente do mundo e do eschaton?". (p. 13). Já que, tanto o Sermão Escatológico quanto a apocalíptica judaica tiveram uma base comum nos textos do AT, se faz importante esta reflexão, e "nossa resposta é que isto se deveu principalmente à abordagem diferente de Jesus e dos escritores do Sermão Escatológico para com elas." "Penso que Ridderbos estava correto ao afirmar que os escritores bíblicos eram, em muitos aspectos, filhos de seu próprio tempo, e que pensavam e escreviam como tais." Isto se aplica à língua e aos conceitos, forma de expressão e comunicação, sendo que uma percepção igual deve ser dada para o ensino de Jesus. Neste sentido, as semelhanças do Sermão Escatólico e literaturas judaicas da época sugerem "uma dependência comum... corpo flutuante do material apocalíptico em existência, bem conhecido da mente popular, do qual os escritores fizeram uso..."; o qual já estava incluso na cultura popular da época. "Assim, conforme Warfield, não havia mais nada para o cristianismo inventar no campo da hermenêutica; restava-lhe assumir as práticas literárias estabelecidas da apocalíptica e da exegese dos rabinos. E. Ellis... destaca as semelhanças do material neotestamentário com os padrões rabínicos de interpretação. Para ele, o Sermão Escatológico nada mais é que um midrash de Daniel." Coetzee entende que o NT utiliza aspectos literários judaicos, como quiasmo e paralelismo, "composição circular", em Tiago e 1 João. "Este último recurso poderia explicar bem o desenvolvimento bastante circular do Sermão Escatológico." No entanto, mais do que reverberar os "métodos rabinicos de interpretação" e literatura apocalíptica da época, deve-se entender que o Sermão Escatológico anotado pelos evangelistas foi escrito debaixo da "hermenêutica do próprio Jesus". "Como L. Floor afirma, o que realmente faz a diferença, não só no Sermão Escatológico, mas no Novo Testamento como um todo, é o fato de que Jesus e os seus discípulos não abordaram o Antigo Testamento como um conjunto de regras divinamente sacionadas"; como era um padrão nos textos judaicos diversos daquele período. "É nossa convicção que as características distintivas do Sermão Escatológico, quando comparado com a apocalíptica judaica, podem ser adequadamente compreendidas deste modo." (p. 13). Conclusão: O Sermão Escatológico de Jesus em Marcos 13 tem sido entendido como uma mensagem "apocalíptica tipicamente judaica". No entanto, se olharmos adiante das imagens e símbolos semelhantes, iremos perceber "profundas diferenças quanto aos temas básicos, como a visão do mundo presente, a concepção messiânica, e o lugar de Israel e dos gentios na história e no eschaton". As similaridades se explicam pela fonte comum do AT, especialmente do profeta Daniel, além do contexto cultural do primeiro século que contempla a escrita destes documentos. Importa destacar que a hermenêutica do Sermão foi profundamente definida e desenvolvida pela abordagem de Jesus ao conteúdo, com ènfase cristológica. "No Sermão Escatológico essa abordagem cristológica da história, do eschaton e da Escritura aparece em destaque." (p. 14). Autor. Ivan S Rüppell Jr é Professor de Teologia e Ciências da Religião do SMS - extensão Curitiba e Uninter.

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