quarta-feira, 29 de março de 2023

TEOLOGIA APOCALÍPTICA. Texto 2 - Livro 1. SPS, extensão Curitiba. 2023.

Esse breve resumo Parte 2 com citações, tem objetivo didático de orientação para a Disciplina: Teologia Apocalíptica, do currículo do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba, da Igreja Presbiteriana do Brasil. Texto base: GORDON, Fee e STUART, Dou. Entendes o que lês?. Edições Vida Nova, São Paulo SP, 2006. PARTE 2. LIVRO DO APOCALIPSE. Quadros do Julgamento e da Esperança. Após ler histórias, cartas e evangelhos no NT, tomamos contato com anjos e bestas, selos e dramas cósmicos no texto do livro do Apocalipse. Ao mesmo tempo, o autor fala direto ao leitor, enquanto também envia cartas para as sete igrejas, sendo que o livro contém um profundo e rico simbolismo, seja dos juízos e terremotos, seja das testemunhas (11.1-10) - que é sempre um desafio interpretativo para o conhecimento de toda a Igreja. "A maioria dos problemas tem origem nos símbolos, além do fato de que o livro trata dos eventos futuros, mas ao mesmo tempo o contexto é reconhecidamente do século I". (p. 217). Importa saber que a humildade é a atitude correta diante da leitura do Livro do Apocalipse, pois há cinco importantes escolas de interpretação, sendo que a exegese do texto é fundamental, até porque muitas publicações populares tem tratado o conteúdo direto na hermenêutica - aplicação, o que tem causado problemas de conhecimento da verdade do texto. A Natureza do Texto do Apocalipse. O tipo do gênero literário do livro requer toda nossa atenção, até porque o texto traz "uma combinação sem igual, finalmente harmonizada, de três tipos literários distintos: o apocaliptico, a profecia e, a carta." (p. 218). Sendo que o tipo literário do apocalipse é algo incomum em nossos dias, daí nosso distanciamento de sua compreensão. O Apocalipse como Apocalíptica. Apocalipse significa Revelação, sendo um termo que se refere ao gênero literário, o qual entre os anos 200 a.C e 200 d.C gerou dezenas de textos escritos nesse modelo. As características dos textos dessa época, do gênero da Apocalíptica, são: 1. a raiz mestre da apocalíptica é a literatura-profética vetero-testamentária, especialmente conforme é achada em Ezequiel, Daniel, Zacarias, e partes de Isaías. Tratava de temas de julgamento e salvação num contexto de perseguições, tendo a preocupação maior com a intervenção final de Deus para resolver a história e situação. 2. Os apocalipses são diferentes das profecias, pois desde seu início são escritos numa forma literária específica, posto que João é chamado para ver e escrever. 3. "A matéria da apocalíptica é apresentada na forma de visões e sonhos, e sua linguagem é enigmática (com sentidos ocultos) e simbólicos." (p. 219). São textos que carregavam a ideia de serem antigos e escritos por personalidades da tradição da fé. 4. "As figuras de linguagem da Apocalíptica frequentemente são formas de fantasia, e não da realidade." (p. 219). De forma diferente, os simbolismos dos profetas envolviam figuras da realidade, como sal, pombos, pães etc. As figuras da apocalíptica surgem da fantasia, com seres como a besta com dez chifres e sete cabeças, mulher vestida de sol e gafanhotos com caudas de escorpião. Embora saibamos o que são bestas e gafanhotos, a "combinação sobrenatural" das figuras é uma fantasia para com a nossa realidade. 5. "Porque eram literários, a maioria dos apocalipses eram muito formalmente estilizados. Havia uma forte tendência para dividir o tempo e os eventos em pacotes arrumados." (p. 220). Assim, as visões se apresentam em conjuntos e numeradas, vindo a expressar algo definido quando unidas, embora sem seguir uma cronologia, de um quadro diante do outro, sem que as mensagens sejam decorrentes. "O Apocalipse de João enquadra-se em todas estas características da apocalíptica menos uma." João não era desconhecido de seus leitores, sendo inclusive avisado para dar publicidade ao livro. "Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo." (Ap 22.10). (p. 220). O Apocalipse como Profecia. O Apóstolo João escreve um texto profético numa literatura apocalíptica, de forma que sua palavra profética é entregue na perspectiva de uma mensagem que está ocorrendo no já e, ainda não; sendo que, o fato de João viver na Era do Espírito tem muito a ver com a singularidade deste livro. João "estava no Espírito" ao receber a mensagem, sendo uma palavra do "testemunho de Jesus", que é conforme e segundo "o espírito da profecia", sendo essa uma revelação do Senhor autorizada em Jesus, e tendo por testemunhas a João e as Igrejas, o que faz surgir uma "evidência clara de que o Espírito profético viera." (p. 220). Essa junção de aspectos da apocaliptica e da profecia dá certas singularidades diferenciais ao livro de João, em meio às caracteristicas de um texto deste tipo de literatura, posto que foi dado para uma igreja em perseguição, a qual recebe uma mensagem que anuncia o fim dos tempos e a vitória de Jesus e de seu povo, com destaque ainda, para ser "uma obra de literatura cuidadosamente construída, que emprega linguagem enigmática e rico simbolismo de fantasia e de números." (p. 221). Um aspecto importante do valor profético do livro do Apocalipse se refere ao fato de ser uma mensagem que foi anunciada na época de sua visão, sendo ao mesmo tempo, uma palavra de Deus para o tempo em que foi anunciada, destacando assim, o que foi dito no cap. 9, acerca de: "que profetizar não significa primariamente predizer o futuro mas, sim, proclamar a Palavra de Deus no presente, palavra esta que usualmente tinha como seu conteúdo o julgamento ou a salvação vindouros." (p. 221). O Apocalipse como Epístola. Destaca-se que a união de aspectos proféticos e apocalípticos foi escrita no modelo de uma carta, com aspectos formativos de uma epístola em sua ordenação e texto. A partir disto, deve-se perceber o "aspecto ocasional" - que toda carta carrega consigo, pois a escrita surgiu de uma situação e necessidades que as igrejas experimentavam, surgindo daí, a importância do estudo de "seu contexto histórico original", para a boa interpretação do livro. (p. 221). A NECESSIDADE DA EXEGESE. "Mas é exatamente a falta de princípios exegéticos sadios que fez com que ocorresse tanta interpretação má e especulativa do Apocalipse." (p. 221). A primeira tarefa é a intenção do autor, e sendo o Apocalipse uma epístola, o "significado primário é aquilo que João pretendeu que significasse... que seus leitores poderiam ter entendido", além do fato que o contexto histórico e simbologias utilizadas eram familiares aos destinatários da carta. Enquanto texto profético, deve-se resguardar a possibilidade de um "sentido secundário" a ser dado pelo Espírito Santo, embora a tarefa da exegese seja somente a do entendimento do que João escreveu aos leitores originais. O princípio da "analogia da Escritura" no sentido de que a Bíblia deve interpretar a Bíblia é princípio sempre válido, no entanto, isto não significa que outros textos deverão ser a chave de entendimento do Apocalipse. "Destarte, é coisa aceitável reconhecer o novo uso que João faz das figuras tiradas de Daniel ou Ezequiel, ou ver as analogias nas figuras apocalípticas doutros textos." Porém, não é certo que os leitores tinham conhecimento das mensagens de Mateus ou Tessalonicenses, por isso, as chaves do Apocalipse devem estar baseadas no conteúdo interno desta carta. Dificuldades Adicionais devido natureza apocalíptica/profética do conteúdo: - observar riqueza de material simbólico do livro, oriundo do AT, de quadros da apocalíptica e até mitologia antiga; sendo que estes "foram despedaçados e transformados sob a inspiração e assim harmonizados nesta "nova profecia". (p. 223). - "A linguagem figurada apocalíptica é de vários tipos." A besta representa um tirano mundial, enquanto que o Leão se torna um Cordeiro no livro (5.5-6), enquanto que a mulher é tanto positiva (cap. 12) como negativa (cap. 17). Há figuras específicas como os sete candeeiros que são sete igrejas e o dragão que é Satanás, enquanto que os 4 Cavaleiros não representam guerra ou fome, mas sim a "expressão da condição caída da humanidade como sendo a origem do sofrimento da igreja (6.9-11)". - "Quando o próprio João interpreta as suas próprias figuras de linguagem, estas figuras interpretadas devem ser sustentadas com firmeza e devem servir de ponto de partida para compreender outras." (p. 223). Há seis figuras interpretadas desta forma: O filho do homem é Cristo (1.17-18); os candeeiros são as sete igrejas (1.20); as sete estrelas são os sete anjos ou mensageiros (1.20); O grande dragão é Satanás (12.9); As sete cabeças são sete montes em que a mulher assentou (bem como sete reis) (17.9); A meretriz é a grande cidade, Roma (17.18). - As visões devem ser interpretadas como o são as parábolas, observando o todo de sua mensagem, com os detalhes trazendo dramaticidade e referência, mas não a essência da mensagem. "Sendo assim, os detalhes de o sol tornar-se negro como saco de crina e as estrelas caindo como figos verdes provavelmente não "significam" coisa alguma. Simplesmente tornam a visão do terremoto mais impressionante." Já os gafanhotos indicam os bárbaros ao redor do Império Romano, (9.7-11). (p. 224). - "Uma nota final: os apocalipses em geral, e o Apocalipse de João em especial, raras vezes pretendem oferecer uma narrativa detalhada e cronológica do futuro. A mensagem deles tende a transcender tal tipo de preocupação." (p. 224). O interesse e propósito de João é demonstrar que acima das aparências, Deus controla a história, a Igreja e futuro. A Igreja sofredora tem a visão do triunfo em Cristo e do juízo sobre os inimigos. "Todas as visões devem ser vistas nos termos desta preocupação maior." (p. 224). O CONTEXTO HISTÓRICO. A boa leitura de qualquer genêro literário é a leitura inteira de todo o livro ou carta, de uma vez só. "Leia procurando o quadro geral." (p. 224). Na leitura, faça anotações gerais mentais e ou breves sobre o autor e leitores originais, e descubra o que significa o fato dos leitores de João serem "companheiros na tribulação". Nas sete cartas há uma repetição da indicação da escrita "ao vencedor"; o quinto selo revela os mártires fiéis, mortos pela "palavra" e "testemunho". A multidão que não mais irá sofrer no cap. 7 veio da "grande tribulação", e todo sofrimento e morte dos fiéis tem relação com "o testemunho de Jesus". (p. 224-225). "Este tema é a chave para compreender o contexto histórico, e explica plenamente a ocasião e propósito do livro. O próprio João estava no exílio por causa da sua fé. Outros também estavam passando por sofrimentos - um até morrera (2.13) - pelo "testemunho de Jesus". (p. 225). João "no espírito" entendeu que estes sofrimentos eram o começo dos "ais", enquanto percebia que nem toda igreja estava preparada e pronta. "Os temas principais são abundantemente claros: a igreja e o estado estão seguindo direções que levarão a uma colisão, e parecerá que a vitória inicial pertence ao estado." (p. 225). João avisa que a morte e sofrimento estão próximos e também que ainda irão piorar, sendo importante não perder a fé na opressão. "Esta palavra profética, porém, também é de encorajamento; Deus, pois, está controlando todas as coisas. Cristo segura as chaves da história, e segura as igrejas nas Suas mãos (1.17-20). A igreja, portanto, triunfa até mesmo através da morte (12.11)." (p. 225). A mensagem de que Deus irá derramar ira sobre os inimigos, e dar descanso a seu povo, também faz olhar para Roma, naquele futuro próximo e imediato. A tribulação pertence ao povo de Deus, enquanto que o juízo e ira do Senhor aos inimigos, sendo que os fiéis não sofreram debaixo desta terrível ira, embora venham a sofrer nas mãos dos inimigos. Algo também dito no restante do NT, como quando Paulo "gloria-se" nas lutas mas avisa que Deus irá julgar os que perseguem sua igreja. As questões cruciais da abertura dos selos 5 e 6 (6.9-17) traz duas questões: o povo de Deus deverá aguardar e ainda irá padecer, e o julgamento divino está definido e irá acontecer. O sexto selo traz a pergunta: "Quem é que pode suster-se?" E a resposta está no cap. 7: "aqueles que foram selados por Deus, que "lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro". (p. 226). (continua no Texto 3 da Teologia Apocalíptica) Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de Teologia e Ciências da Religião no Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba (IPB) e Faculdades Uninter.

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