Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Religião e Pós-modernidade do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, de diversos livros e obras, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023.
INTRODUÇÃO ao Pensamento Reformado, Abraham Kuyper.
Abraham Kuyper (1837-1920) “foi um teólogo e filósofo calvinista holandês que se envolveu intensamente nas áreas acadêmicas e políticas de seu país", vindo a atuar no Parlamento durante trinta anos, se tornando Primeiro Ministro da Holanda entre os anos de 1901 até 1905. Seu livro “Calvinismo” contém as palestras ministradas na Universidade e Seminário de Princeton no ano de 1898, expondo temas teológicos “como um fundamento para uma visão abrangente de vida.” (Kuyper, p 5-6, 2003).
COSMOVISÃO REFORMADA. ANÁLISE E DISTINÇÃO DIANTE DE OUTRAS COSMOVISÕES e Pensamentos. Temas: 1. Nossa relação com Deus; 2. Nosso relacionamento com o homem; 3. Nosso relacionamento com o mundo. Segundo o autor, é preciso argumentar de forma válida no objetivo de apresentar o "calvinismo" como "um sistema de vida abrangente", com bases no passado pra nos dar segurança na atualidade e confiança futura. Nessa reflexão, "primeiro devemos perguntar quais são as condições requeridas para sistemas gerais de vida, tais como o Paganismo, o Islamismo, o Romanismo e o Modernismo, e então mostrar que o Calvinismo realmente preenche essas condições." Assim, vamos olhar o entendimento e proposições destes diferentes sistemas acerca das "três relações fundamentais de toda vida humana: a saber, (1) nossa relação com Deus, (2) nossa relação com o homem, (3) nossa relação com o mundo." (...)
RESUMO DOS TRÊS PRIMEIROS RELACIONAMENTOS. "Para nossa relação com Deus: uma comunhão imediata do homem com o Eterno, independentemente do sacerdote ou igreja. Para a relação do homem com o homem: o reconhecimento do valor humano em cada pessoa, que é seu em virtude de sua criação conforme a semelhança de Deus... E para nossa relação com o mundo: o reconhecimento que no mundo inteiro a maldição é restringida pela graça, que a vida do mundo deve ser honrada em sua independência, e que devemos, em cada campo, descobrir os tesouros e desenvolver as potências ocultas por Deus na natureza e na vida humana." (Kuyper, p 28-40, 2003). (RESUMO, citações e texto a partir do livro CALVINISMO, de Abraham Kuyper).
PÓS-MODERNIDADE. Conteúdo extra.
O DESAFIO DO PÓS MODERNISMO. Do livro "Ensaios apologéticos": Parte 4. Desafios filosóficos e culturais à fé cristã. Cap. 14. O Desafio do Pós modernismo. O autor Brian Mclaren escreveu o livro "A New Kind of Christian" (Um novo tipo de cristão) buscando valorizar duas virtudes cristãs fundamentais neste séc. 21, que são a "ênfase na verdade objetiva e no engajamento apologético tradicional". O desejo do autor e também de diversos livros e artigos deste mesmo tema, busca enfrentar as influências pós-modernas na teologia e cultura atuais, posto que há "pouco reconhecimento sobre a natureza profundamente anti-bíblica e irracional do pós-modernismo, assim como sobre a ameaça que representa à articulação e à defesa da fé cristã", especialmente porque há bom número de pensadores que entendem que a igreja deveria seguir na mesma direção da cultura vigente "(mais pluralista, menos idealista e menos tolerante em relação às verdades absolutas)". (p. 281/82, 2006). Neste sentido, é preciso entender o modo em que "o pós-modernismo representa um grande desafio à missão da apologética cristã, em especial, por causa de suas visões em relação à verdade, à racionalidade e à linguagem". Tradicionalmente os que defendem a cosmovisão cristã explicam que essa compreensão da realidade é "objetivamente verdadeira e racional" posto que a Bíblia assim revela seus conceitos, bem como o padrão literário bíblico também surge a partir de "uma revelação verdadeira e racional na forma linguística", conforme Isaías 1,18; 1Pe 3.15; Jd 3; 2Tm 3.16-17), de forma que a "apologética esforça-se para mostrar que a verdade bíblica pode ser reconhecida como verdadeira e que é capaz de sobreviver e prosperar mesmo sob intenso ataque intelectual". (p. 282). O confronto aberto pós-moderno entre os valores culturais seculares que estão sendo defendidos e os princípios cristãos surge da diferença de fundamentos, já que os "pós-modernistas rejeitam as noções de verdade absoluta e de racionalidade efetiva, assim como a noção de que a linguagem pode comunicar, de maneira clara, assuntos de significado supremo", sendo tarefa da apologética o tratamento deste debate. (p. 282). Numa perspectiva ampla sobre o que deve-se anotar acerca dos princípios pós-modernistas, sabe-se que o mesmo "sustenta que a verdade é determinada por várias construções sociais que são legadas por diferentes propósitos. Várias culturas possuem seus "jogos de linguagem", os quais descrevem a realidade de maneiras muito diferentes". (p. 283). Algumas declarações pós-modernistas e seus autores dão o tom do confronto de princípios, como afirmar que definir uma verdade objetiva é assumir uma metanarrativa, a qual é "opressiva e exploradora" (Jean François Lyotard). Jacques Derrida entende que conteúdos religiosos não carregam sentido objetivo em suas declarações, de modo que não devem ser entendidos nem como falsos, nem como verdadeiros. Para Michel Foucault, qualquer declaração sobre a "verdade" é apenas a manifestação do modo como as "estruturas de poder definem "verdade". "A destruição pós-modernista da racionalidade e da verdade objetiva resume-se a isto: a verdade não reside em declarações que correspondem à realidade (...) A verdade é apenas uma questão de perspectiva; é algo que os indivíduos e comunidades edificam primariamente por meio da linguagem". Devemos observar que se estes pensamentos pós-modernos forem assumidos, então a "verdade objetiva" está cancelada, restando a verdade particular ou peculiar que "dissolve-se nos grupos étnicos, nas comunidades, nos gêneros, nos relacionamentos de poder e outros fatores de contingência". (p. 283/84). A proposta de se definir e estabelecer uma verdade absoluta é entendida como um valor fracassado dos iluministas, conforme assim foi entendido e desprezado por Friedrich Nietzsche. A oposição aos pós-modernistas surge de pensadores que valorizam as teorias de conhecimento da verdade, as quais defendem a "correspondência" entre o que se afirma e se argumenta, conforme Norman L Geisler: "Pode haver maneiras distintas de defender diferentes alegações de verdade, mas há, de fato, apenas uma maneira adequada de definir a verdade, isto é, por correspondência". De modo que filósofos do oriente e ocidente tem buscado empreender reflexões "dentro de uma estrutura lógica básica, que eles não consideram como culturalmente contingente". (p. 284 Lane Craig, 2006).
RELIGIÃO E MODERNIDADE. Abraham Kuyper. (texto postado).
PÓS MODERNIDADE. Reflexão. A Confissão de Fé e a Modernidade. HERMENÊUTICA, FIDELIDADE E QUALIFICAÇÕES.
"Tem-se afirmado que o valor intrínseco de um credo ou confissão reside no fato de ser este tipo de documento uma espécie de paradigma hermenêutico para a igreja confessante." John Leith: "Ainda outra necessidade atendida pelos credos foi o interesse da Igreja pela hermenêutica... Depois que o cânon do NT foi fixado, era ainda necessário prover alguns princípios de interpretação para distinguir o que era centralmente importante do que era periférico, e para aglutinar de forma algo coerente a diversidade do testemunho do NT... O credo é simplesmente a compreensão da Igreja sobre o significado da Escritura. O credo diz - Eis aqui como a Igreja lê e recebe a Escritura." (p. 74-75, Simões, 2002).
A necessidade de afirmar e estabelecer uma hermêutica autorizada surge do período histórico que vivenciamos: "é inegável que estamos vivendo uma época de anti-dogmatismo, de prevalência do sentimento sobre a razão, de prevalência da experiência religiosa sobre a didascalia que nos legaram nossos pais e nossos antepassados, firmada sobre os padrões de fé." Gerald Bray entende que o espírito anti-dogmático atual é herança do liberalismo moderno: "O pensamento moderno dessa natureza parece ser uma dedução distante a partir do liberalismo histórico do décimo-nono século, mas na realidade é um fato que está intimamente ligado a ele. Os grandes liberais também acreditavam que religião era uma questão de sentimento antes que de intelecto, e estavam preparados para aceitar a superestrutura do culto e da doutrina cristãos como um canal pelo qual essas crenças pudessem ser conduzidas... Anti-dogmatismo é uma característica da época em que vivemos, e nos afeta caso gostemos ou não dela." (p. 75, 2002).
De forma que o atual espírito anti-dogmático aliado a uma postura inclusivista, gera uma posição bastante "tolerante para com várias tendências doutrinárias", o que produz igualmente atitudes diversas para com o valor dos padrões de fé confessionais. São valores de uma intepretação mais subjetiva das Escrituras, os quais desenvolvem certa desorientação doutrinária nas denominações, sendo que essa experiência de "caos" acaba sendo abraçada sem reflexão e até percepção por líderes diversos, sejam pastores ou oficiais das igrejas. São proposições que tocam o coração do líder para, por exemplo, negar a doutrina da dupla predestinação, em razão de conviver ou partilhar celebrações com membros da família, parentes e amigos evangélicos ou religiosos, que seguem vivências pelagianas ou arminianas. São momentos em que "o coração humano procura falar mais alto que a razão humana numa situação peculiar na qual efetivamente o coração que se torna mais afetado pelo envolvimento." (p. 76).
REFLEXÃO. Observe que o lema essencial da Reforma Protestante do séc 16, "Sola Scriptura" projetou um confronto ao "desvio cristão-romanista de acatar outras fontes de revelação divina além da Bíblia, mormente a tradição e o magistério da igreja através dos concílios". Sendo que, o valor e propósitos da "Sola Scriptura" resistiram razoavelmente até o "advento do Pentecostalismo e do Carismatismo. Pentecostais e Carismáticos costumam dizer que sustentam a doutrina da autoridade máxima da Escritura, e que reconhecem a contemporaneidade de dons revelacionais (revelação, profecia, línguas) com base num preceito discriminador muito peculiar: o da revelação "subordinada" - assim, submetem outros métodos de revelações contemporâneas para análise da Bíblia - em tese, gerando uma categoria extra de revelação, "referindo-se a revelação à pessoa, por obra do Espírito Santo, com o uso ordinário da Palavra, das verdades nela reveladas". No entanto, trata-se de outro método de revelação, que se torna uma revelação primária e autorizada para essas denominações, que se entende como oriunda da veracidade das Escrituras. O importante é anotar que denominações e movimentos evangélicos que não tem credos confessionais de fé podem naturalmente ser conduzidos por esse modelo de interpretação, porém, ministros e oficiais que tem compromisso com Confissões de Fé - como é o caso dos oriundos da IPB e diante da Confissão de Westminster, jamais deveriam abraçar esse tipo de revelação como sendo estabelecidos pela Escritura; sendo este um problema de orientação hermenêutica.
Nesse contexto, todo ministro e oficial que subscreve uma Confissão de Fé se comprometendo com sua definição doutrinária, deve "buscar (assumir) uma uniformidade mínima (que seja), em cujo patamar a identidade doutrinária, ou seja, a identificação do sistema de doutrina não seja comprometida. (p. 77-79).
ORTODOXIA. João Calvino. A compreensão do significado e valor da ortodoxia para uma denominação se faz definição importante, sendo que, para Calvino deve-se compreender que o uso do termo fé no NT carrega consigo a proposição da expressão ortodoxia: "Devemos também notar que o significado da palavra "fé" é diverso. Muitas vezes é equivalente a doutrina sã e pura com respeito à religião; assim ocorre, em lugar pouco antes citado, e quando Paulo manda que os diáconos "guardem o mistério da fé com consciência limpa" (I Tm 3.) (e ainda, I Tm 4.16, II Tm 2.16; 3.8, e Tito 2.2)... querendo significar com este termo simplesmente a pureza da doutrina, que com muita facilidade se degenera e corrompe por causa da astúcia dos homens." (Institutas de Calvino III.13 apud Simões, p. 80, 2002). (...)
O PRESBITERIANISMO NO BRASIL. "A primeira igreja presbiteriana a se instalar no Brasil foi a Igreja Presbiteriana do Brasil. Tanto a Junta de Missões da então PC-USA quanto da PCUS (após 1867) estiveram envolvidas nas ações missionárias no país. O fundador, Ashbel Green Simonton, era um ministro da igreja do norte, ordenado sob os auspícios da "Old School", em função da influência de Hodge, seu professor em Princeton. Paul Pierson é de opinião que este fato moldou uma combinação de duas características da futura igreja: "a predominância da ortodoxia de Westminster e o espírito eclesial que, no contexto brasileiro, se tornou bastante autoritário em certos tempos." (p. 158). Para esse autor, o presbiterianismo brasileiro foi formatado pelo pensamento teológico da "velha escola", sendo algo evidenciado também pelos primeiros textos doutrinais publicados em português, que foram a Confissão de Fé e Catecismos, e o comentário de A A Hodge para a Confissão de Westminster. Sendo que a partir de 1937 a IPB passou a incluir a necessidade a seus ordenandos para que se comprometessem em subscrição tanto ao Governo da Igreja Presbiteriana do Brasil como igualmente aos Símbolos de Fé; entendendo este como "sendo o sistema de doutrina da Bíblia". (p. 160).
ORTODOXIA. A QUESTÃO DA NECESSIDADE. "... Devemos nos reportar ao Novo Testamento. Este contém claras e sérias admoestações dos apóstolos associadas à preservação da ortodoxia e à genuidade do testemunho da fé ao ensejo da celebração dos sacramentos. E junto a essas declarações encontramos vários modelos de declaração de fé...". (p 18, Simões, 2002). 1. Formulações unitárias: Mt 16.16, Jo 1.49, Jo 20.28, I Co 15.3-8, I Tm 3.16. Form. binitárias: Atos 8.37, Rm 10.9, I Co 8.6, I Tm 2.5-6, Hb 6.1-2, I Jo 4.15. Form. trinitárias: Mt 28.19, I Co 6.11, I Pe 1. 1-2, 2.21-25, 3. 15-22." Um destaque de busca de unidade de fé em concílio de líderes está expressa no livro de Atos, cap. 15, sobre o tema da circuncisão diante dos gentios convertidos, com a questão de Paulo e Barnabé sendo enviada a Jerusalém. (p. 20). Sendo importante anotar que, "desde a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém (Atos 15) até ao Concílio de Nicéia (325 AD), quando surgiu o primeiro credo ecumênico da igreja Cristã, foram quase três séculos de controvérsias entre bispos, presbíteros e outros mestres no seu seio", sendo que além das doutrinas, igualmente o tema da autoridade e legitimidade apostólica na formação das Escrituras foi tratado pelas lideranças da igreja, posto que, "a genuidade do ensino apostólico, também chamado de tradição apostólica, estava sob risco com o passar dos tempos e o multiplicar das concepções." Segue destaque de J Kelly, prof de Oxford: "O próprio Deus, reconheceram todos os teólogos antigos, foi o autor último da revelação; mas Ele a comissionou a profetas e legisladores inspirados, sobretudo aos apóstolos os quais foram testemunhas oculares do verbo encarnado, e eles passaram adiante à Igreja... (e) os bispos que se preocupavam com a fidelidade à Escritura e sua correta interpretação... tomaram emprestado de um termo grego clássico, ortodoxein, o vocábulo latino ortodoxia, que significa "ciência correta" (ortos, certo e doxa, opinião, de dokmazô); assim, eles o aplicaram aos ensinos bíblicos e à tradição apostólica. Com tal intuito, buscavam salientar a distinção dos que permaneciam fiéis com relação aos que estavam "em desacordo com a doutrina que aprendestes" (Romanos 16.17). (p. 21-22). Nesse contexto, "as regras de Fé e Confissões Batismais que encontramos entre os escritores eclesiásticos do segundo e terceiro séculos marcam a transição da Bíblia para os Credos Ecumênicos. Elas contém aproximadamente todos os artigos dos Credos Apostólico e Niceno, e algumas são mesmo mais completas, especialmente as do Oriente." (p. 24, Simões apud Schaff, Philip. The Creeds of Christendom). II. A NECESSIDADE dos Credos. "... a nova fase, que viria a ser inaugurada em Nicéia (325. AD), sem dúvida alguma tornaria os credos elementos responsáveis por estabelecer a identidade da crença e da interpretação do que ensina a Bíblia dentro de um grupo de cristãos. Por conseguinte, desempenharam o mesmo papel no tocante à distinção em relação aos cristãos que divergiam quanto a uma única identidade de crença e uma única linha de interpretação." (p. 29). O quarto século era marcado por controvérsias e o surgimento de entendimentos muito diferentes de doutrina dentro do Cristianismo, de forma que o próprio surgimento das heresias tornou necessário o desenvolvimento dos Credos: "A necessidade dos credos repousa numa quarta razão - a da preservação da pureza e da doutrina... Sem Ário, Atanásio não teria completado a grande obra de sua vida. Agostinho nunca teria extraído da Palavra de Deus suas profundas conclusões sobre a graça, o livre-arbítrio, predestinação, e a igreja, sem um Donato e um Pelágio... Portanto, desenvolveram-se as confissões não apenas com forma de unidade, mas também de pureza." (p. 29). III. A NECESSIDADE DAS Confissões. Durante a Reforma o embate doutrinal e as diferenças de entendimento entre os que buscavam reformas e os que eram contrários - utilizando para isso definições de fé históricas, tornou necessária a elaboração das Confissões de Fé dos Reformadores. "Assim, tornaram-se conhecidos dois distintos períodos dogmáticos no Cristianismo: o período dos Credos e o período das Confissões; o primeiro foi característico dos séculos quatro e cinco... sendo o segundo característico da Reforma." Os temas e necessidades desse segundo período foram: "a distinção do Catolicismo Romano, a identificação nacional das novas igrejas da Reforma, e a carência acentuada de maior aprofundamento e extensão nas definições credais." Segundo Norman Sheperd, o principal motivo para existirem confissões é a "identificação da igreja como tal no mundo". (p. 39-40). Assim, "a confissão se torna um padrão para favorecer aos crentes demonstrarem ao mundo o que a igreja entende estar revelado nas Escrituras", e se faz guia para anunciar e dar testemunho do que se acredita, de modo que solucione a dúvida e confusão dos incrédulos. "Isto se tornou particularmente necessário no período da Reforma, uma vez que os reformadores estavam se posicionando perante uma igreja cristã já existente. Esse posicionamento, a princípio, significou distinção ao nível interno da Igreja Romana..." (já que Lutero postou as 95 teses quando era monge agostiniano e não pretendia ruptura - de forma que estes doc. junto aos de Melanchton vieram a trazer as primeiras distinções entre a crença romana e dos protestantes). (p. 40). Um aspecto determinante do período da Reforma foi o surgimento das igrejas nacionais que se libertavam do domínio do império romano, de modo que cada igreja que surgia em uma determinada região e país também indicavam o modo de pensamento e de compreensão das Escrituras daquele povo. Shepherd entende que os credos são essenciais para definir o que a igreja deve acreditar e no que não deve acreditar, posto que a origem dos credos está na "busca de uma resposta autorizada e esclarecedora para esses conflitos." (p. 41). "Calvino, ao subscrever a Confissão Genebrina (1536), uma espécie de síntese catequética de sua obra magna, as Institutas, ressaltou o objetivo de contrapor-se às "doutrinas infelizmente tão negligenciadas dos Papistas... Da mesma sorte aconteceu com outras confissões, de caráter nitidamente polêmico, apologético, distintivo: a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg, a Apologia da Confissão de Augsburgo, entre outras, foram elaboradas com finalidades explicitamente apologéticas." Ainda, "uma outra necessidade contemplada pelas confissões foi a de servir à unidade da igreja, diz Shepherd.", como se observa na Confissão Galicana preparada por Calvino, e nas Confissões Helvética pra agregar regiões suiças e a Confissão Escocesa, organizada no interesse de "unificar a fé reformada dentro da Escócia." (p. 41-42, Simôes, 2002).
LEITURA II. "Nos dias atuais os credos e confissões são erroneamente vistos mais como elemento divisor do que unificador, promotor de unidade... Historicamente falando, no entanto, isto é verdadeiro para o tempo da Reforma: as confissões foram elementos de catalização da fé de determinados segmentos nacionais, o que foi concomitante com o limiar da Europa moderna. A Holanda, por exemplo, surgiu da unificação de um grande segmento do povo em torno da identificação da fé reformada; essa fé reformada se tornou expressamente conhecida em Holanda e parte da Alemanha por meio dos documentos confessionais elaborados para distingui-los, a saber, a Confissão Neerlandesa (ou Confissão Belga) de 1561 e o Catecismo de Heidelberg de 1563. Essa acentuada moção unificadora acarretou a chamada União de Utrecht de 1579 (oito anos depois do primeiro Sínodo de Dort, o qual promulgou a fé reformada segundo os dois símbolos retro mencionados). Por meio dessa união, as províncias do norte que aderiram à forma de fé reformada se uniram contra a repressão sangrenta do Papismo espanhol, capitaneado pelo Duque de Alba. (razão para que esses dois docs. fossem "Formas de Unidade", até que com integração dos Cânones de Dort em 1619, a união destes três docs. oficiais passou a ser "Três Formas de Unidade".) (p. 43, Simões, 2002).
Nessa perspectiva, entende-se o modo em que no segmento reformado, as confissões passaram a ter maior uso e valor do que os credos. "O Catecismo e a Confissão de Genebra, por exemplo, que Calvino elaborou em 1536, sendo a segunda o apêndice do primeiro, tinham finalidades distintas: o catecismo visava a instrução catequética dos membros da igreja; a confissão visava servir de padrão para a ordenação de oficiais da igreja... No século XVII, os Cânones de Dort foram colocados como subscrição formal indispensável para continuação no ministério nos Países Baixos e a Confissão de Fé de Westminster também se tornou de subscrição obrigatória na Igreja da Escócia, após sancionada pelo Parlamento." Neste sentido, a exigência de compromisso diante da confissão de fé tem sido "meio eficaz de se garantir conformidade e unidade da didascalia (ensino, magistério) dos mesmos na igreja do Senhor Jesus", há bom tempo. (p. 44).
REFERÊNCIAS.
McGrath, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. Shedd Publicações, SP, 2005.
Simôes, Ulisses Horta. Subscrição Confessional - Necessidade, Relevância e Extensão; Belo Horizonte: Efrata Publicações e Distribuição, 2002.
CRAIG LANE, William, BECKWITH, Francis e MORELAND, J.P (editores). Ensaios apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã. tradução José Fernando Cristófalo. São Paulo: Hagnos, 2006.
Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor e ministro presbiteriano.
Esse texto tem objetivo didático na disciplina de Símbolos de Fé no Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba. Daí a utilização de resumos e citações mais longas no interesse de oferecer aos alunos o conteúdo apropriado para o entendimento necessário aos debates e explanações em aula. CONTEÚDO de Aula: CONTEXTO HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. TEOLOGIA REFORMADA. "Trata-se da teologia oriunda da Reforma (calvinista) em distinção à luterana. O designativo "reformada" é preferível ao calvinista... considerando o fato de que a teologia reformada não provém estritamente de Calvino." (Maia, p. 11, 2007). OS CREDOS E A REFORMA. "Os credos da Reforma são as confissões de fé e os catecismos produzidos nesse período ou sob sua inspiração teológica. Os séculos 4 e 5 foram para a elaboração dos credos o que os séculos 16 e 17 foram para a feitura das confissões e dos catecismos. A razão parece evidente: na Reforma, as...
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