segunda-feira, 21 de agosto de 2023

RELIGIÃO E PÓS MODERNIDADE. Texto 3. Seminário Presbiteriano do sul - extensão Curitiba.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Religião e Pós-modernidade do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, de diversos livros e obras, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. INTRODUÇÃO ao Pensamento Reformado, Abraham Kuyper. “No Calvinismo encontra-se a origem e a garantia de nossas liberdades constitucionais.” (Groen Van Prinsterer) (Kuyper, p 85, 2003). Abraham Kuyper (1837-1920) “foi um teólogo e filósofo calvinista holandês que se envolveu intensamente nas áreas acadêmicas e políticas de seu país", vindo a atuar no Parlamento durante trinta anos, se tornando Primeiro Ministro da Holanda entre os anos de 1901 até 1905. Seu livro “Calvinismo” contém as palestras ministradas na Universidade e Seminário de Princeton no ano de 1898, expondo temas teológicos “como um fundamento para uma visão abrangente de vida.” (Kuyper, p 5-6, 2003). COSMOVISÃO REFORMADA. ANÁLISE E DISTINÇÃO DIANTE DE OUTRAS COSMOVISÕES e Pensamentos. Temas: 1. Nossa relação com Deus; 2. Nosso relacionamento com o homem; 3. Nosso relacionamento com o mundo. Segundo o autor, é preciso argumentar de forma válida no objetivo de apresentar o "calvinismo" como "um sistema de vida abrangente", com bases no passado pra nos dar segurança na atualidade e confiança futura. Nessa reflexão, "primeiro devemos perguntar quais são as condições requeridas para sistemas gerais de vida, tais como o Paganismo, o Islamismo, o Romanismo e o Modernismo, e então mostrar que o Calvinismo realmente preenche essas condições." Assim, vamos olhar o entendimento e proposições destes diferentes sistemas acerca das "três relações fundamentais de toda vida humana: a saber, (1) nossa relação com Deus, (2) nossa relação com o homem, (3) nossa relação com o mundo." 1. A Primeira Condição - Nossa Relação com Deus. Entender o que um sistema de vida propõe acerca das bases e fundamentos da nossa existência será sempre a primeira reflexão, pois "esse ponto encontra-se na antítese entre tudo que é finito em nossa vida humana e o infinito que encontra-se além dela." O Paganismo - Vê Deus na Criatura. Esse sistema de pensamento, "em sua forma mais geral é conhecido pelo fato de supor, assumir e adorar a Deus na criatura", desde o animismo primitivo até o budismo, "o Paganismo não eleva para a concepção da existência independente de Deus, além e acima da criatura... simplesmente por possuir esse ponto de partida significativo foi capaz de produzir uma forma para toda a vida humana própria dele." O Islamismo - Separa Deus da Criatura. A partir de seus fundamentos puros e anti-pagãos, a religiosidade do Alcorão e Maomé "isola Deus da criatura, a fim de evitar toda mistura com a criatura", o que lhe permitiu desenvolver uma visão de mundo própria, com uma contrariedade total ao paganismo. O Catolicismo - Coloca a Igreja Entre Deus e a Criatura. Nesse sistema religioso, "Deus entra em comunhão com a criatura por intermédio de um meio místico, que é a Igreja... como instituição visível, palpável e tangível. Aqui a Igreja se posiciona entre Deus e o mundo" e na forma como consegue se relacionar com o mundo, "o Romanismo criou sua própria forma para a sociedade humana." No Calvinismo - Deus se Comunica com a Criatura. O Calvinismo "não procura Deus na criação, como o Paganismo; não isola Deus da criatura, como o Islamismo; não postula comunhão intermediária entre Deus e a criatura, como faz o Romanismo. Ele proclama o pensamento glorioso que, embora permanecendo em alta majestade acima da criatura, Deus entra em comunhão imediata com a criatura, como Deus o Espírito Santo... Portanto, a oposição contra Roma pretendia com o Calvinismo... rejeitar uma Igreja que colocou a si mesma entre a alma e Deus... Os próprios crentes eram a Igreja porque pela fé permaneciam em contato com o Poderoso." O autor faz um destaque, primeiro fazendo uma distinção entre Protestantismo e Calvinismo, ao entender a igualdade de busca e valores dessa relação própria com Deus para ambos os movimentos, ao mesmo tempo em que enfatiza que foi Calvino aquele que, "teve o discernimento mais claro do princípio reformador, quem trabalhou mais plenamente e o aplicou mais amplamente." 2. A Segunda Condição. Nosso Relacionamento com o Homem. Conforme Kuyper, "como nos posicionamos com Deus é a primeira, e como nos posicionamos com o homem é a segunda questão principal que decide a tendência e a construção de nossa vida." Nesse sentido, a diversidade encontrada na humanidade, seja nas diferenças entre homem e mulher, e nas aptidões e capacidades fisica e espiritualmente nos seres humanos, iremos notar que tais "diferenças são, de um modo especial, enfraquecidas ou acentuadas em cada sistema de vida...". O Paganismo Acentua as Diferenças. Ao pontuar que Deus habita na criatura, o paganismo eleva a condição de heróis e ídolos alguns seres, como se faz na dedicação divina dada a César, enquanto que também se define o que é inferior e mau, como o que ocorre nas castas da Índia e na escravidão no Egito, "colocando com isso um homem sob uma base de sujeição a seu próximo." O Islamismo e o Catolicismo Acentuam as Diferenças. O Islamismo propõe as mulheres como prêmios aos homens no paraíso, enquanto as torna escravas na sociedade, junto com os descrentes, que serão igualmente escravos dos muçulmanos. O Romanismo desenvolve uma hierarquia constante, desde os céus até a terra, desenvolvendo essa distinção e diferença entre anjos, na Igreja e entre os homens, "conduzindo a uma interpretação inteiramente aristocrática da vida como a encarnação do ideal." O Modernismo Procura Eliminar Todas as Diferenças. Esse sistema nega toda diferença, e assim busca produzir o "mulher-homem e homem-mulher", acabando por destruir "a vida por colocá-la sob a maldição da uniformidade. Um tipo deve responder a todos, uma uniformidade, uma posição e um mesmo desenvolvimento de vida...". A Interpretação Peculiar do Calvinismo. "Do mesmo modo o Calvinismo tem derivado de sua relação fundamental com Deus uma interpretação peculiar do homem com o homem... Se o Calvinismo coloca toda nossa vida humana imediatamente diante de Deus, então segue-se que todos", homens e mulheres de todas as condições sociais e aptidões, e força e raça, "não tem de reivindicar qualquer domínio sobre o outro, e que permanecemos iguais diante de Deus, e consequentemente iguais como seres humanos. Por isso, não podemos reconhecer qualquer distinção entre os homens...". Nesse contexto, o Calvinismo procura condenar toda escravidão dos homens e qualquer sistema de castas e diferença social, além da escravidão comunitária da mulher e do pobre; sendo que, "assim o Calvinismo foi obrigado a encontrar sua expressão na interpretação democrática da vida; a proclamar a liberdade das naçõees; e a não descansar até que, tanto política como socialmente, cada homem, simplesmente porque é homem, seja reconhecido, respeitado e tratado como uma criatura à semelhança de Deus." Nesse sentido, "o Calvinismo tem modificado a estrutura da sociedade não pela inveja de classes, nem por um apreço indevido pela possessão do rico, mas por uma interpretação mais séria da vida. Por meio de um melhor trabalho e um desenvolvimento superior do caráter das classes média e trabalhadora, ele conduziu ao ciúme a nobreza e os cidadãos mais ricos. Olhar primeiro para Deus e depois para a pessoa do próximo foi o impulso, o pensamento e o costume espiritual ao qual o Calvinismo deu entrada", dando ênfase ao modo em que "uma ideia democrática mais santa tem se desenvolvido e tem continuamente ganho terreno (...) A diferença entre ele (calvinismo) e o sonho selvagem de igualdade da Revolução Francesa é que, enquanto em Paris ocorreu uma ação de comum acordo contra Deus, aqui, todos, rico e pobre, estavam sobre seus joelhos diante de Deus, consumidos com um zelo comum pela glória de seu nome." 3. A Terceira Condição. Nosso Relacionamento com o Mundo. A terceira relação fundamental a ser percebida nos diferentes sistemas de vida ao mundo é exatamente: "sua atitude com o mundo". A Visão de Mundo do Paganismo e Islamismo. "Do Paganismo pode geralmente ser dito que ele coloca uma estimativa muito alta do mundo e, por isso, em alguma extensão, ele tanto permanece com medo dele como perde-se nele. Por outro lado, o Islamismo coloca uma estimativa muito baixa do mundo, zomba dele e triunfa sobre ele ao alcançar o mundo visionário de um paraíso sensual." Sobre outros sistemas, deve-se ressaltar o modo em que uma certa "antítese entre o homem e o mundo tem assumido a forma mais estreita da antítese entre o mundo e os círculos cristãos. As tradições da Idade Média deram origem a isto. Sob a hierarquia de Roma, a Igreja e o Mundo foram colocados em oposição um ao outro, o primeiro como sendo santificado e o outro como estando ainda sob a maldição. (...) Portanto, em um país cristão, toda a vida social deveria estar coberta pelas asas da Igreja." Magistrados e governantes precisavam ser abençoados, artes e o conhecimento científico deveriam estar sujeitos ao domínio eclesial, e a economia e profissões deveriam seguir os rigores dos sindicatos, sendo que igualmente a família tinha sua realidade determinada pela visão da instituição da igreja. "Como resultado natural, o mundo corrompeu a Igreja, e por seu domínio sobre o mundo, a Igreja proveu um obstáculo a todo desenvolvimento livre de sua vida." O Calvinismo Reconhece Deus no Mundo. "Surgindo num estado social dualista, o Calvinismo tem realizado mudança completa no mundo dos pensamentos e concepções." Diante de Deus em primeiro lugar, o calvinismo respeita o homem criado à imagem e semelhança de Deus, e define o mundo a partir de uma realidade criada por Deus. O Calvinismo destaca os atos favoráveis de Deus na história sobre a vida, entendendo que Deus derrama sua Graça Especial no propósito de salvação pelo Evangelho, enquanto derrama continuamente sua Graça Comum para manter a vida, regular a maldição sobre o mundo e assim limitar seu estado de corrupção, "e assim permite o desenvolvimento de nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como Criador." Neste sentido, o Calvinismo busca purificar a Igreja como a congregação dos crentes, enquanto orienta uma visão cosmológica em que o mundo deve ser liberto da instituição, mas mantido debaixo dos cuidados e vontade de Deus. "Assim, a vida doméstica recobrou sua independência, os negócios e o comércio atualizaram suas forças em liberdade, a arte e a ciência foram libertas de todo vínculo eclesiástico e restauradas à sua própria inspiração, e o homem começou a entender a sujeição de toda natureza, com suas forças e tesouros ocultos, a ele mesmo como um santo dever, imposto sobre ela pela ordenança original do Paraíso: "Tenha domínio sobre eles"... Em vez de vôo monástico para fora do mundo é agorar enfatizado o dever de servir a Deus no mundo, em cada posição da vida. (...) O Calvinismo apresenta-se como um auxílio audacioso, especialmente em sua antítese ao Anabatismo. Pois o Anabatismo adotou o método oposto e, em seu esforço de evitar o mundo, confirmou o ponto de partida monástico, generalizando e fazendo-o uma regra para todos os crentes.". Dessa forma, debaixo da orientação Anabatista, protestantes de regiões da Europa Ocidental vieram a abraçar o "acomismo" (crença que nega o universo como tendo uma existência distinta de Deus), vindo a assumir princípios romanistas da relação do homem com o mundo, ainda que com definições peculiares. RESUMO DOS TRÊS PRIMEIROS RELACIONAMENTOS. "Para nossa relação com Deus: uma comunhão imediata do homem com o Eterno, independentemente do sacerdote ou igreja. Para a relação do homem com o homem: o reconhecimento do valor humano em cada pessoa, que é seu em virtude de sua criação conforme a semelhança de Deus... E para nossa relação com o mundo: o reconhecimento que no mundo inteiro a maldição é restringida pela graça, que a vida do mundo deve ser honrada em sua independência, e que devemos, em cada campo, descobrir os tesouros e desenvolver as potências ocultas por Deus na natureza e na vida humana." (Kuyper, p 28-40, 2003). (RESUMO, citações e texto a partir do livro CALVINISMO, de Abraham Kuyper). PÓS-MODERNIDADE. INTRODUÇÃO GERAL. 1. A PÓS-MODERNIDADE E A RELIGIÃO DO CRISTIANISMO. "A Pós-modernidade é um movimento que surgiu a partir da década de 1950 no objetivo de se contrapor ao modernismo nas artes, vindo a assumir no decorrer dos anos uma posição de contrariedade perante a cultura moderna de forma geral, sendo que o próprio título do movimento ressalta o seu objetivo de promover uma superação da narrativa modernista, que prometia trazer prosperidade à humanidade mediante a utilização de um conhecimento baseado somente na ciência e na razão. (Goheen, p 165). É importante destacar que a pós-modernidade é um conceito bastante amplo, pois cada área do conhecimento humano desenvolve o seu próprio entendimento sobre o significado deste movimento, seja nas artes e na filosofia, na sociologia e na psicologia, na arquitetura etc. Portanto, a nossa compreensão deste termo precisa ser abrangente a fim de alcançarmos um bom entendimento acerca dessa postura cultural que tem influenciado grandemente a sociedade nas últimas décadas. Conforme destacamos acima, pode-se dizer que a pós-modernidade busca desenvolver pensamentos distintos e contrários ao pensamento moderno, vindo a negar enfaticamente as proposições modernistas de que através da razão é possível se adquirir um conhecimento confiável da realidade da existência; sendo que, no tocante à religião, a pós-modernidade entende que os sistemas institucionais religiosos deixaram de ser um princípio essencial na formação da vida individual e social das pessoas. Segundo McGrath, um aspecto importante dos fundamentos da Pós-Modernidade advém da sua decisão de não utilizar e nem reconhecer a validade das narrativas absolutas e universais da Modernidade, no objetivo de explicar e desenvolver a existência e a história da humanidade. Esta postura de enfrentamento aos princípios modernos que acaba intitulando o próprio movimento, enquanto uma proposição que surge depois e além da modernidade, surge de maneira bastante clara assim que elencamos lado a lado, alguns dos elementos de ambos os movimentos: pois enquanto a modernidade se propõe a desenvolver os princípios do propósito e do planejamento, a pós-modernidade se apoia na diversão e casualidade, havendo igualmente uma distinção que surge a partir dos valores modernos da hierarquia e centralização, em oposição a uma certa anarquia e dispersão observáveis de forma mais comum na pós-modernidade. Portanto, assim como o modernismo se interessa pela análise e a organização, o pós-modernismo ressalta e valoriza uma certa liberalidade e descontrole para com as questões da vida, tornando-se um princípio geral que acaba resultando numa vivência pautada pelo relativismo e pluralismo, em grande contraste aos absolutos da modernidade – que mantém seus valores bastante relacionados às metanarrativas. (p 141). 2. METANARRATIVAS. Metanarrativas são aquelas grandes histórias ou narrativas abrangentes que visam explicar de modo completo todos os acontecimentos e perspectivas da história da humanidade, sendo que a narrativa básica da Modernidade orienta que a razão e a ciência são capazes de explicar e organizar a realidade através de modelos universais que devem reger o desenvolvimento da civilização humana. Nesse contexto, perceba como alguns dos valores pós-modernos estão relacionados à intensa comunicação desenvolvida pelas redes sociais, que tem se tornado um fato cultural essencial na promoção dos relacionamentos humanos, tornando tudo mais rápido e efêmero acerca da maneira como convivemos em sociedade. Um outro elemento que expõe bastante o pensamento pós-moderno surge da grande valorização que se dá ao consumo, como se este fora uma conquista existencial e pessoal para o indivíduo, o que acaba transformando a própria cultura num elemento bastante descartável, pois tudo requer ser apreciado de forma imediata e objetiva, a fim de que rapidamente possamos suprir as necessidades momentâneas de cada um de nós. Uma outra consequência que surge do desprezo às narrativas modernas e da valorização das experiências pessoais se expressa na maneira como o mundo contemporâneo deixou de ser uma estrutura social orientada para a busca de um propósito comum e unificado, posto que a sociedade pós-moderna já não se constrói a partir de valores universais. O que ocorre na sociedade atual é que há outros elementos sustentando o modo como a civilização humana se organiza, pois a pós-modernidade se desenvolve através de uma postura subjetiva acerca da maneira como percebemos a realidade, valorando o multiculturalismo e buscando extrair da pluralidade das vivências pessoais e dos pequenos grupos as suas fundamentais experiências de conhecimento. Ou seja, o conhecimento para o aprendizado da vida já não é mais uma verdade absoluta que adquirimos da cultura, mas sim, trata-se de uma compreensão que se constrói a partir da situação que vivenciamos no tempo presente. E no objetivo de adquirir boa compreensão acerca do significado da Pós-Modernidade, enquanto um movimento relacionado à busca do conhecimento e à definição de valores a partir da realidade, vamos relatar de forma breve algumas importantes transformações culturais ocorridas na história, neste contexto intelectual. 3. A IDADE MODERNA. TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS. Inicialmente, vamos recordar que o conhecimento padrão acerca da existência humana e do mundo na Idade Média eram ditados pelas doutrinas da Igreja e por seus representantes junto da sociedade. Até que a chegada da Renascença oportunizou uma grande transformação cultural, a partir do instante em que o conhecimento se tornou um conteúdo que poderia ser buscado por qualquer indivíduo segundo os ditames da razão, sendo que a própria religião se tornou objeto das reflexões racionalistas que norteavam o pensamento da época. A consolidação do período da Idade Moderna chegou através do Iluminismo, que veio propagar os valores da razão e da ciência como superiores a quaisquer outras formas de conhecimento humano, sendo que tanto a religião como a monarquia vieram a ser confrontados na sua condição de autoridades supremas em suas áreas de atuação. O conhecimento científico e a industrialização do ocidente apontavam para um período de progresso contínuo que iria solucionar todas as questões fundamentais da sociedade. No entanto, o século 20 acabou sendo dominado por duas guerras mundiais, além de ter sido marcado pelo avanço da miséria e da opressão política no mundo, o que levantou dúvidas acerca da credibilidade da narrativa moderna que apregoava conduzir a humanidade para um tempo de prosperidade. Eis, portanto, o contexto histórico e cultural do surgimento da Pós-Modernidade ao final do século 20, enquanto um movimento que pretende questionar as certezas dos princípios e valores conceituais da Modernidade. Nesse contexto, o movimento pós-moderno entende que o conhecimento e a verdade acerca da realidade já não se encontra nos processos e dinâmicas da ciência ou da igreja, mas sim, estão presentes nos relacionamentos e nas experiências da vida, pois são estas que oferecem as verdadeiras histórias que merecem ser contadas, já que carregam consigo os valores individuais e também as experiências reais dos pequenos grupos que as vivenciam. Sendo que este conteúdo existencial é que deve ser utilizado pelas pessoas no objetivo de que venham a construir narrativas originadas das suas próprias vivências, que são as que tem valor no momento presente da história. Neste sentido, “a construção da comunidade é um componente essencial na busca pós-moderna da verdade. À medida que cada um compartilha a parte da verdade que experimenta e conhece, todos se beneficiam disso. No ambiente pós-moderno, construir comunidade é mais importante que as ideias que antes mantinham as comunidades juntas.” (Deus na pós-modernidade) 4. NO TOCANTE ÀS RELIGIÕES. , há um aspecto dentre tantos outros que pode nos ajudar a entender a maneira como a Pós-Modernidade tem influenciado a religiosidade da humanidade no início do século 21, e particularmente, o Cristianismo e o Islamismo. Trata-se do valor pós-moderno que tem propagado o princípio do Relativismo cultural na sociedade contemporânea. Relativismo: O relativismo é a teoria de que a base para os julgamentos sobre conhecimento, cultura ou ética difere de acordo com as pessoas, com os eventos e com as situações. A compreensão da maneira como o relativismo tem se desenvolvido na sociedade requer o entendimento inicial de que o grande rompimento da pós-modernidade diante da modernidade é mais intelectual do que histórico, pois as duas formas de pensamento ainda coexistem nestas duas primeiras décadas do novo milênio. Portanto, vivenciamos diariamente um confronto cultural que posiciona de um lado o princípio moderno das narrativas universais, e de outro, o valor das vivências mais particulares e subjetivas da pós-modernidade; sendo que esta contraposição constante acaba gerando uma sensação de desorientação cada vez maior em nossa sociedade. Pois à medida que ficamos sem valores universais e objetivos comuns para propor aos seres humanos, também começamos a experimentar um vazio e uma perda de propósitos para a própria realidade da existência humana no mundo. (Edwards Jr, 2013). Ainda, vamos analisar brevemente a maneira como o princípio do relativismo pós-moderno tem influenciado o modo como as religiões cristã e islâmica tem se posicionado no novo milênio. Trata-se de uma reflexão bastante objetiva: veja que as três maiores religiões do mundo (cristã, islâmica e judaica) carregam em suas doutrinas determinadas verdades universais, através das quais procuram ensinar aos seus adeptos de maneira absoluta que eles devem acatar e obedecer plenamente aos preceitos da fé, a fim de que sua existência se desenvolva de maneira saudável e satisfatória neste mundo e nos céus. Portanto, observe como uma certa desorientação que o relativismo tem trazido à sociedade do século 21, também se torna um fato social que oportuniza às religiões cristã e islâmica, um ambiente cultural bastante favorável de atuação, que se torna real a partir de dois aspectos: primeiro, estas religiões começam a perceber a possibilidade de que boa parcela da sociedade esteja em busca de conceitos absolutos para si, os quais lhe tem sido tirados pelos valores pós-modernos; e, segundo, eis que o Cristianismo e o Islamismo serão tanto motivados – pelas oportunidades, e provocados – pelas necessidades, a propagar exatamente aqueles seus princípios de fé mais tradicionais, pois são exatamente estes que a sociedade atual mais urgentemente deseja ouvir e receber das religiões espirituais e das filosofias existenciais. SÍNTESE. O movimento iluminista acabou dominando culturalmente o século 18 na Europa enquanto desenvolvia um projeto intelectual que buscava superar as concepções de mundo medievais, vindo a formatar os valores do pensamento moderno da humanidade. A publicação da obra “Enciclopédia”, por Denis Diderot, tornou-se um dos marcos do Iluminismo, sendo que a orientação era de que fosse utilizado somente o raciocínio lógico na feitura de seus textos acerca dos temas mais diversos. Essa proposição se tornou uma importante distinção deste movimento em contraponto às reflexões do Renascimento, pois o pensamento iluminista buscou questionar e criticar amplamente as doutrinas da Igreja Cristã; sendo que o Cristianismo buscou responder tais indagações através de formulações mais racionais, através de um movimento que ficou conhecido historicamente como “protestantismo liberal”. A Revolução de 1789 e o início da República em 1792 determinaram o fim do governo monárquico na França, num acontecimento que veio a influenciar transformações políticas em diversos Estados europeus nos séculos seguintes, os quais buscaram organizar sistemas de governo baseados na igualdade social e a partir de uma divisão de poderes entre o legislativo, executivo e judiciário. (...) Finalmente, chegamos até a Pós-Modernidade: um movimento cultural que tem se propagado bastante nas últimas décadas, mediante a defesa de perspectivas e reflexões que procuram criticar e fazer oposição aos paradigmas existenciais absolutos e universais oriundos da Modernidade. Trata-se de um contexto cultural bastante diverso e também controverso, pois a pretensa liberdade e veracidade que a pós-modernidade advoga através do desenvolvimento de valores mais particulares e locais, em contraponto aos grupais e globais modernos, não tem impedido o crescimento da (descartável) cultura do consumo e da (fugaz) cultura dos relacionamentos virtuais. No tocante às religiões, vimos que o princípio do relativismo tem trazido certa desorientação à sociedade contemporânea, sendo este um fator que acaba desafiando e tornando-se uma oportunidade para as religiões mais universais, como as do judaísmo, cristianismo e islamismo; pois suas proposições desejam oferecer propostas de vida mais absolutas às dúvidas existenciais oriundas da subjetividade pós-moderna." (CITAÇÃO. Livro: O Cristianismo e a Civilização Ocidental. Ivan S Rüppell Jr e Marli Turetti. Editora Intersarberes, Curitiba, 2020).

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