Trumbo - Lista Negra, do diretor Jay Roach é um filme valioso. Utiliza o melhor do cinema norte-americano, com uma produção técnica e de visual talentosos, numa edição das cenas em dinâmica adequada e eficaz, junto de uma representação natural e intensa dos atores. Tudo isto para apresentar de forma agradável e interessante um tema político-social valoroso.
A história real de Dalton Trumbo revela como atores e diretores, roteiristas e trabalhadores diversos das artes cinematográficas foram cancelados e até presos na década de 1950 nos Estados Unidos da América. O crime destes artesãos do cinema foi o de se reunir pra pensar e de se organizar para propor valores de convivência social e trabalhistas mais humanitários e equilibrados na sociedade. Na época eles foram chamados de comunistas e impedidos de trabalhar por grupos tradicionais de direita, especialmente através do movimento político radical do Senador Joseph McCarthy.
O tema da Espiritualidade da Tolerância surge no filme pelo modo como o perseguido roteirista Dalton Trumbo busca desenvolver a liberdade de expressão junto das mais diversas personalidades da época com as quais procura dialogar pra compreender, inclusive perdoar no objetivo de curar a comunidade artística da opressão.
Uma virtude espiritual essencial que está faltando nestes dias em que a história se repete, já que no séc. 21 o movimento de repressão da liberdade de consciência (espírito) e de cancelamento do pensamento (conhecimento) ocorre não somente nas artes, mas também nas universidades e instituições públicas diversas. Afinal, a defesa da liberdade de pensamento proposta pela "Tolerância Contemporânea" se tornou um fundamento feroz da Intolerância! Isto ocorre porque assim como no fascismo do séc. 20, a tolerância do séc. 21 determina que é preciso assumir e praticar a ideologia da "cultura" dominante como sendo a única verdade capaz de gerar convivência "democrática" entre os homens. Tolerância deixou de ser convívio pra se tornar associação.
Em outra perspectiva de valor, vemos no filme "Trumbo" o modo em que uma Espiritualidade da Tolerância relacional toma forma aos poucos no decorrer de toda a história. Algo que ocorre através das pequenas e constantes atitudes de Trumbo ao se posicionar em defesa e na propagação de uma convivência amistosa entre as pessoas com posições políticas e sociais diferentes. Um princípio que toma conteúdo de virtude espiritual no discurso que Trumbo faz em 1970, ao receber um prêmio por toda a carreira no sindicato. O roteirista defende que um grande número de pessoas vivenciou uma terrivel época de opressão, na qual muitos foram obrigados a dizer e fazer o que jamais fariam normalmente. Sendo que essa peculiar compreensão do período vivenciado orientou a sua atitude de misericórdia diante dos que viveram com ele aquele momento da história. Ainda que o filme seja simplório ao dividir os grupos antagônicos entre bons de um lado, e maus do outro, a personalidade e atitude de Trumbo propõe outra perspectiva de valores pra entender aquela época. Algo evidenciado na grande interpretação do protagonista Bryan Cranston e valorizado pela direção que entrega a condução da narrativa dramática do filme ao carismático personagem Trumbo.
Nesse contexto, um padrão ético espiritual que procura respeitar o pensamento contrário até quando este se revela violento surge a partir de um valor religioso das relações cristãs, como vemos na carta aos Romanos, nos capítulos 12 e 13. Enquanto no cap. treze os cristãos são ensinados a deixar que Deus traga ordem e disciplina nas relações sociais em comunidade através das autoridades que devem penalizar os criminosos e proteger os inocentes. Bem, nas relações pessoais aprende-se no cap. doze a orientação pra afastar a vingança e até abençoar os que nos perseguem, procurando viver em paz no que depender de nós, o que gera a oportunidade de praticar misericórdia na busca de um eficaz tratamento dos conflitos da vida.
Bom filme!
Autor. Ivan S Rüppell Jr é teólogo e professor de ciências da religião, tendo publicado o livro Resenhas espirituais de Meditações cinematográficas, em 2020, editora dialética.
C. S. Lewis escreveu o livro de ficção teológica 'Cartas do Inferno' para apresentar a Batalha Espiritual pelas almas da humanidade no cotidiano comum de todos nós. Como bem esclarece o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios, "nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas com governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais." (cap. 6, 12). Essa realidade da existência transcendente dos seres humanos surge no primeiro anúncio bíblico do Evangelho de Jesus, o Messias, quando Deus fala para a serpente as seguintes palavras: "Farei que haja inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e o descendente dela. Ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis, 3.15). O site da produtora traz a seguinte sinopse ao filme "Oficina do Diabo", que se baseia no livro de Lewis: "O demônio Fausto subiu do inferno para ajudar Nata...
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