"Você só tem que perdoar uma vez. Mas para se ressentir, você tem que fazer isso o dia todo, todo dia."
O aprendizado espiritual que o filme "A Luz entre Oceanos" oferece é valioso, pois enquanto os ressentimentos assombram o convívio dos personagens, a virtude do perdão ilumina suas vidas.
Dessa forma, fica claro que a humanidade requer compreensões e oportunidades novas, se desejamos viver melhor o tempo breve que temos por aqui.
Lançado em novembro de 2016, este drama romântico toca as corações dos espectadores através das sinceras interpretações de Alicia Vikander, Michael Fassbender e Rachel Weisz, sob a direção segura e sábia de Derek Cianfrance. Pois sua narrativa cinematográfica utiliza boa técnica para transmitir de forma realista o desenvolvimento narrativo de um drama interessante.
Tom Sherbourne (Michael) é o veterano da primeira guerra contratado para manter funcionando um farol entre os oceanos Pacífico e Índico, que se casa com Isabel (Alicia), indo juntos morar na ilha. As dificuldades da esposa engravidar e a aparição de um bebê trazido pelo mar para o casal irão mover o drama, que irá desafiar as atitudes e sentimentos dos personagens no transcorrer da história.
Há um diálogo no terço final do filme, trazido do passado de Raquel Weisz, que se torna uma meditação constante a desafiar os protagonistas, para que escrevam um novo enredo ao drama grave que domina seus corações.
Raquel questiona seu marido alemão, sobre a sua maneira de viver: "- Você já passou por tantas coisas na sua vida e mesmo assim está sempre feliz. Como faz isso?" Ele responde: "- Para perdoar, basta uma vez. Para se ressentir, precisa do dia todo. Todos os dias. O tempo todo. Precisa se lembrar constantemente de coisas ruins. Dá muito trabalho."
Haja trabalho nisso! Poucas atividades são mais cansativas que lembrar diariamente as desgraças que recebemos uns dos outros.
E haja dificuldades, e muito trabalho mesmo para dia a dia ruminar as ruínas relacionais que constantemente vivenciamos neste mundo.
Sendo que não há "desculpas" que realmente libertem a alma de manter conosco as mágoas e ressentimentos que aconteceram - e ficaram! Embora o aprendizado do esquecimento até "pareça" manter longe as dores que já partilhamos em nossa história.
A verdade é que nossa interior (e exterior) personalidade sempre irá carregar os traços de quem realmente "somos", pois o lugar onde estão depositadas nossas desgraças é simplesmente a alma - e dela não fugimos.
Outra grave enfermidade que acolhemos por tratar a vida somente com desculpas é que a simplória tentativa de esquecer as mágoas jamais irá nos libertar de reprisar as atitudes que praticamos um dia, em que também fizemos maldades.
Pois "desculpas" não analisam e nem tratam o que ocorreu, e por isso mesmo, impedem as mudanças que somente os arrependimentos podem mover no ser humano.
Eis o modo como permanecemos iguais, tanto pra receber quanto para praticar o mal na vida, que assim, vai se enchendo de mágoas e ressentimentos.
Mas, ainda resta o perdão como uma outra solução para este jeito de ser que só faz a gente cansar de viver cada vez mais. Como disse o marido de Raquel Weisz; se ressentir um do outro dá muito trabalho, além de levar embora, muito tempo da vida da gente.
E agora, José?
Bem, "aquele que pede, também recebe", esclareceu já desafiando o Profeta Jesus. E "Perdoa-nos, assim como nós perdoamos" é o pedido de Oração essencial ensinado pelo Messias de Deus.
Eis aqui, então, o bom tema da oração que constrói uma verdadeira conversa e relacionamento espiritual junto de Deus Pai, para todos que tem fé.
Assim, se você orar conversando a frase inteira com Deus - em sinceridade, tanto o que você já fez quanto o que já lhe fizeram, vai ser tratado pelas mãos do próprio Deus. Pois perdoar é divino, mesmo. Realidade existencial que torna essa petição de oração tão necessária pra humanidade.
Segue abaixo a carta de uma mãe para sua filha, entregue no filme, o que nos ajuda a recordar que tanto com perdão ou mesmo sem ele, as consequências dos malfeitos recebidos e praticados sempre estarão conosco, pois assim é a vida. Só não precisa dominar e guiar toda a nossa história.
Pois o perdão nos faz descansar, e também avançar na vida, junto da presença de Deus - o Pai Nosso que está nos céus!
"Minha querida Lucy, já faz muito tempo. Muito tempo... No baú com esta carta estão alguns dos seus primeiros pertences: sua roupa do batizado, seu cobertor amarelo, alguns desenhos que você fez. E há coisas que fiz para você ao longo dos anos – roupas de cama e mesa e assim por diante. Guardei-as para você – coisas dessa parte perdida de sua vida. Para o caso de você vir em sua busca. Você é uma mulher agora. Espero que a vida tenha sido boa com você. Espero que possa me perdoar por ter ficado com você. E por tê-la deixado ir embora. Saiba que você sempre foi amada. Com todo meu amor."
Um bom filme pra você.
(* Dedicado aos 40 anos de namoro de Valéria e Ivan, julho 1985 a julho 2025).
Ivan Santos Rüppell Jr é professor de ciências da religião, e publicou o livro, Resenhas espirituais de meditações cinematográficas, edit. dialética, 2020.
C. S. Lewis escreveu o livro de ficção teológica 'Cartas do Inferno' para apresentar a Batalha Espiritual pelas almas da humanidade no cotidiano comum de todos nós. Como bem esclarece o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios, "nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas com governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais." (cap. 6, 12). Essa realidade da existência transcendente dos seres humanos surge no primeiro anúncio bíblico do Evangelho de Jesus, o Messias, quando Deus fala para a serpente as seguintes palavras: "Farei que haja inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e o descendente dela. Ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis, 3.15). O site da produtora traz a seguinte sinopse ao filme "Oficina do Diabo", que se baseia no livro de Lewis: "O demônio Fausto subiu do inferno para ajudar Nata...
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