- "Secretário Geral Gorbachev, se você busca a paz, se você busca prosperidade
para a União Soviética e Europa Oriental, se você procura a liberalização: Venha
aqui para este portão! Sr. Gorbachev, abra esse portão! Sr. Gorbachev, derrube
esse muro!". (Presidente Ronald Reagan dos EUA, 12/06/1987). Estas são as
principais palavras ditas por Reagan no discurso dado no Portão de Brandemburgo, área ocidental de Berlim, que se tornou um momento emblemático ao final do século 20. Uma declaração significativa dentre os muitos
acontecimentos que vieram a encerrar a guerra fria entre EUA e União Soviética.
O muro de Berlim separando os lados ocidental e oriental da capital da Alemanha
foi um símbolo do domínio soviético na Europa oriental desde o fim da
segunda guerra em 1945, até que foi derrubado em 9 de novembro de 1989, com 1
milhão de alemães nas ruas. Nessa perspectiva, o lançamento da biografia de cinema 'Reagan' (do
diretor Sean Mcnamara, com Dennis Quaid e Pennelope Ann Miller, 2024), apresenta situações que oferecem um contexto histórico aos atos e palavras do ex-presidente norte-americano, falecido em
05/04/2004. Ao mesmo tempo, 'Reagan' pode ser percebido como um filme de conteúdo certo para o público errado, pois foi produzido de
uma forma idealizada demais, embora tenha um olhar
original na narrativa. O filme ganharia muito, por exemplo, se fosse desenvolvido como ocorreu no excelente
filme "Steve Jobs" (do diretor Danny Boyle, 2016), que apresenta em três atos a trajetória pessoal e profissional do empresário da tecnologia - em que vemos seus
acertos, e também suas falhas. Ao ser produzido para
aqueles que admiram a presidência de Ronald Reagan, todo conteúdo político sobre as liberdades civis de sua trajetória pode acabar sendo ignorado pelos que poderiam
aproveitar de suas realizações, especialmente hoje, em que tantos governantes desejam controlar os cidadãos e as liberdades. Daí o aspecto de ser um
filme de conteúdo certo para o século 21, mas apresentado numa perspectiva errada para atingir o público pós-moderno da atualidade. Nesse
contexto, o diretor do filme decide apresentar Ronald Reagan a partir do olhar narrativo de um ex-oficial da inteligência
soviética, que seguiu toda a trajetória do ex-presidente. Ele conta
então, o seu 'lado da história', anotando situações da vida do presidente que apontavam o modo como Reagan veio a compreender aspectos da
ideologia soviética, que seriam gravemente contrários aos valores
norte-americanos e ocidentais pós-guerra.
Nesse sentido, iremos visualizar no filme situações da
infância e juventude, da trajetoria como ator e como presidente do
sindicato de atores, além de, especialmente, o desenvolvimento da carreira
política de Reagan. Desde quando se tornou governador da Califórnia até a sua
eleição como o 40° presidente dos Estados Unidos da América. Sem dúvida, a segunda metade do século 20 recebe através deste filme um olhar necessário e reflexivo.
Ao mesmo tempo, ao
tratar nesta resenha sobre a espiritualidade de autoridades, vale a pena meditar no conteúdo bíblico do tema, iniciando com um princípio geral revelado pelo
apóstolo Paulo: "todos devem sujeitar-se às autoridades, pois toda autoridade
vem de Deus (...) pois as autoridades não causam temor naqueles que fazem o que
é certo, mas sim nos que fazem o que é errado... pois estão a serviço de Deus
para castigar os que praticam o mal." (carta aos romanos, cap. 13. 1-4). Para meditar nesse princípio, vamos anotar o pensamento de um
teólogo cristão que estudou o tema enquanto também partilhava da
governança de sua nação. Entre os séculos 19 e 20, o
teólogo e pensador Abraham Kuyper (1837-1920) atuou nos ambientes da
academia e da política de seu país, sendo parlamentar na Holanda durante 30
anos, até que assumiu como Primeiro Ministro entre os anos de 1901 até 1905. Ele
se tornou um representante do neo-calvinismo holandês na teologia cristã, ao
refletir princípios reformados do século 16 para o ambiente cultural da
modernidade. Kuyper entendia que o “Estado” não é uma instituição natural da
sociedade, já que o seu surgimento na história decorre da entrada do pecado no
mundo. Portanto, a instituição do Estado deve atuar na sociedade nessa perspectiva, no objetivo de amparar a comunidade dos homens. (livro Calvinismo, Kuyper, p 87,
2003). Kuyper desenvolve princípios cristãos do modo como a
Soberania de Deus deve conduzir a soberania do Estado junto aos homens, e destaca um grande dilema: “assim, originou-se a batalha dos séculos entre Autoridade e
Liberdade, e nesta batalha estava a própria sede inata pela liberdade, a qual
revelou-se o meio ordenado por Deus para refrear a autoridade onde quer que ela
tenha se degenerado em despotismo.” (p 88, 2003). Ao refletir a organização da
sociedade a partir da realidade do pecado na existência humana, o calvinismo
orienta a atuação do Estado dentro do propósito em que Deus conduz essa instituição na história. Seja como um elemento necessário de preservação da sociedade
através de atos de justiça, seja como um instituto que deverá ser vigiado, já
que carrega consigo o impulso de agir contra a liberdade dos homens.
(p 88, 2003). Nessa temática, Abraham Kuyper apresenta outros
ambientes humanos que contém em si, a necessidade de terem autoridades próprias nas suas realidades,
assim como o Deus soberano as criou e orienta:"num sentido calvinista, nós
entendemos que a família, os negócios, a ciência, a arte e assim por diante,
todas são esferas sociais que não devem sua existência ao Estado, e que não
derivam a lei de sua vida da superioridade do Estado, mas obedecem uma alta autoridade dentro de seu próprio seio; uma autoridade que governa pela
graça de Deus, do mesmo modo como faz a soberania do Estado (...). Neste caráter
independente está necessariamente envolvida uma autoridade superior especial
(própria), a que intencionalmente chamamos de soberania nas esferas sociais
individuais... e que o Estado não pode intrometer-se aqui e nada tem a ordenar
em seu campo. Como vocês imediatamente percebem, esta é a questão profundamente
interessante de nossas liberdades civis.” (p 98, 2003). Nessa
perspectiva cristã dos direitos humanos, das autoridades públicas e da
instituição do Estado, aproveite para assistir e refletir sobre o filme
'Reagan', a partir da cena do discurso que se tornou o epicentro da
posterior queda do muro de Berlim. Uma situação que veio a transformar a história das liberdades civis na Europa ao final do século 20. Até porque, como
anotou Reagan, "a liberdade nunca está a mais de uma geração distante da
extinção. Nós não a legamos para nossos filhos hereditariamente. Ela deve ser
defendida, protegida e entregue a eles para que façam o mesmo." Bom filme!
autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor de ciências da religião, e publicou o
livro, Resenhas espirituais de meditações cinematográficas, edit. dialética,
2020. REFERÊNCIAS. KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo - Editora Cultura
Cristã, 2003.
C. S. Lewis escreveu o livro de ficção teológica 'Cartas do Inferno' para apresentar a Batalha Espiritual pelas almas da humanidade no cotidiano comum de todos nós. Como bem esclarece o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios, "nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas com governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais." (cap. 6, 12). Essa realidade da existência transcendente dos seres humanos surge no primeiro anúncio bíblico do Evangelho de Jesus, o Messias, quando Deus fala para a serpente as seguintes palavras: "Farei que haja inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e o descendente dela. Ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis, 3.15). O site da produtora traz a seguinte sinopse ao filme "Oficina do Diabo", que se baseia no livro de Lewis: "O demônio Fausto subiu do inferno para ajudar Nata...
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