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"O ÚLTIMO AMOR DE MR. MORGAN", no Cinema.

O sensível filme 'O Último Amor de Mr. Morgan' (de Sandra Nettelbeck, 2014) poderia se chamar o último sopro de vida do Sr. Matthew Morgan. Afinal, o protagonista (Michael Caine) se apaixona mesmo é pela vida que há em Pauline (Clémence Poesy), ao apontar em importante cena do filme, o que admira nela: "Você é linda. Obviamente, é inteligente. E sempre sei quando você está triste porque se esconde atrás da sua rebeldia. Quando está feliz, tudo em você fica feliz, até seu cabelo. Não tem um pingo de maldade, e eu pensava que não havia mais ninguém assim. Você é engraçada. Quando escuta, parece interessada. Você é gentil. E é transparente, o que pode ser terrivelmente intimidante...". A partir do raio de luz existencial que a jovem Pauline traz para seu cotidiano, Mr. Morgan descobre de novo, como existe um tempo valioso para tudo na vida. Um conhecimento afirmado pela espiritualidade cristã: "Há um momento certo para tudo, um tempo para cada atividade debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer;... tempo de chorar, e tempo de rir... tempo de calar, e tempo de falar." (Eclesiastes, cap. 3. 1-8). Eis a verdade maior deste filme: Mr. Morgan foi sensibilizado direto na alma pra viver sua própria vida, novamente. Algo que iremos anotar no desenvolvimento do relacionamento entre os protagonistas, que vai surgindo no cotidiano de ambos em Paris, em encontros plenos de olhares sensíveis junto de conversas comuns. Ainda que, no desenrolar da narrativa, Mr. Morgan acabe não aproveitando cada uma das novas possibilidades ali contidas. Afinal, este último período da terceira idade de Mr. Morgan apresenta um bom número de encontros movidos por experiências de uma paternidade adotiva e verdadeira, além de boas amizades familiares. Algo que o protagonista poderia assumir com fervor em seus relacionamentos, buscando um convivio equilibrado e virtuoso junto a todos. No entanto, a decisão da diretora alemã Sandra Nettelbeck conduz a conclusão do enredo para um desfecho iluminista pós moderno, em que a individualidade de atos solitários determina o fim, ancorada numa pretensa poesia oriunda das tragédias libertárias deste século. Porém, mesmo que o filme não conclua sua história numa perspectiva esperançosa da existência transcendente do ser humano, bem, praticamente todo o enredo de 'o último amor de Mr. Morgan' é vibrante ao apresentar as oportunidades de vida que todos podemos ter em nossa história. Especialmente, quando abraçamos a vida que institucionalmente já temos - na família e com amigos, nas relações sociais e profissionais, diante daqueles que convivemos sempre ou até ocasionalmente. Sim, há tempo para tudo debaixo do céu! Nesse contexto, vemos que a ideologia que conduz o final do filme traz uma perspectiva de cumprimento completo da missão humana no tempo presente, que se relaciona com uma realidade transcedente desconhecida, para uma dedicação atemporal aleatória. Enquanto isso, a espiritualidade cristã deseja promover no tempo presente uma experiência de transformação pessoal do ser, através da qual ele irá construir uma existência real para si mesmo, a partir da religação (religião) com Deus. A partir deste encontro, ele será motivado a vivenciar em novidade de valores os relacionamentos mais comuns da vida. Mr. Morgan descobre o valor insuperável de assumir os desafios de se tornar o homem que os relacionamentos da sua vida lhe proporcionam vir a ser - sendo que as definidas relações familiares e sociais do ser humano são o 'bem' maior evocado nesse belo filme. Uma história com desfecho abençoador se seguisse seu rumo próprio, enxergando que os muitos tempos da vida são providenciados por Deus, cabendo a cada um de nós, bem vivê-los, então, como ensina o sábio Salomão: "E no entanto, Deus fez tudo apropriado para seu devido tempo. Ele colocou um senso de eternidade no coração humano... E sei que tudo que Deus faz é definitivo; não se pode acrescentar ou retirar nada. O propósito de Deus é que as pessoas o temam." (Eclesiastes, cap. 3, versos 11-14). Bom filme. (* Dedicado ao namoro de Valéria e Ivan, comemorando 40 anos, de julho 1985 a julho 2025). autor. Ivan Santos Rüppell Junior é professor de ciências da religião, e publicou o livro, Resenhas espirituais de meditações cinematográficas, edit. dialética, 2020.

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