quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

a ESPIRITUALIDADE no CINEMA (Parte 1)

O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA é um filme maravilhoso. "A Man for all seasons" foi produzido em 1966, com direção de Fred Zinnemann e ganhou dois prêmios "Oscar": melhor filme e ator. O drama ocorre no século 16 e mostra como o Rei Henrique Oitavo deu origem à Igreja Anglicana na Inglaterra, separando-se da Igreja Católica no objetivo de conseguir se divorciar pra de novo casar, agora com Ana Bolena. Mas há um "homem que não vendeu sua alma" no Reino Unido; o Chanceler Thomas More, católico fervoroso que até fica em silêncio sobre as escolhas do monarca. Mas um silêncio que ecoa na multidão pois toda a Inglaterra sabe que o melhor homem da nação considera pecado a decisão do Rei Henrique. Bom, parece que só pela breve resenha já deu pra definir algo acerca da Espiritualidade do filme e de Sir Thomas More, certo? Errado! Pois por aqui falamos de Espiritualidade, não de ética, e tomara que não, só de religiosidades. Daí que existe a (boa) possibilidade de Thomas More ter vivenciado experiências espirituais relevantes em sua trajetória existencial de sofrimentos, pois quem desobedece aos reis, também não fica saudável por muito tempo pra contar a história. E como Sir Thomas More era católico cristão, sua espiritualidade gira ao redor da pessoa de Jesus, e também, do Espírito de Deus. Daqui pode surgir uma relação espiritual pra Thomas More junto do Espírito Santo em sua alma, conduzido que foi pra um relacionamento místico junto da pessoa de Deus. Um relacionamento místico que acontecia a partir da experiência do sofrimento, e se tornava tão mais real e profundo quanto doloroso se tornava. O Apóstolo Paulo escreveu algo interessante sobre isso que vai ajudar no caso em questão. Paulo desejava conhecer Jesus pessoalmente pra ser um companheiro de seus sofrimentos. E como Jesus - desde o ano 33, só anda pelo planeta Terra em Espírito, tanto Paulo como qualquer outro cristão só o conhece assim - em espírito, e em verdade. Enfim, a partir desta realidade espiritual é bem provável que Thomas More também tenha encontrado Jesus em espírito, certo? Mas, que caminhada espiritual desenvolveram juntos? Parece ter sido exatamente a caminhada observada por Paulo, que desejava ser um companheiro existencial de Jesus em seus... sofrimentos. Sofrimentos que não faltaram pra Sir Thomas quando desejou manter a fé só pra continuar vivendo na presença do Espírito Santo de Deus. Tá entendendo? Se alguém assume atitudes éticas, religiosas ou não, pela grandeza de suas virtudes, que bom. Eis aí um homem de valor. Mas quando alguém pratica virtudes a fim de garantir que vai ficar junto da Pessoa espiritual de seu Deus - aí sim, falamos profundamente acerca de uma experiência relacional, de amadurecimento espiritual. E mais do que isso, até, pois o que imaginamos ser apenas mais uma caminhada de sofrimentos - é na verdade, uma experiência mística de vivência do Amor. Pois o Amor tudo sofre, e tudo crê, também. E quando se Ama pra verdadeiramente conhecer a Pessoa de Deus, ou se vive com Deus pra melhor conhecer o seu Amor; então - falamos de Espiritualidade, sim. Das boas! *** A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO não deixa de ser um título apropriado para o polêmico filme realizado em 1988 por Martin Scorcese. O aclamado diretor se baseou no livro do grego Níkos Kazantzákis, a fim de levar ao cinema aquela que seria a última tentação de Cristo: viver como um homem comum os seus dias na Terra. A partir daí o filme apresenta uma tentação que, sim, chegou realmente na última hora da vida de Jesus. Mas, que tentação foi essa, afinal? E qual seu aspecto espiritual relevante? Bem, as tentações de Jesus se aproximam das nossas, às vezes, mas também são lutas particulares somente dele, também. Pensando na última tentação, dá pra perceber que Jesus foi tentado no objetivo de não mais se tornar quem particularmente deveria ser, e também pra deixar de fazer o que só ele deveria realizar - situações que tem a ver só com ele mesmo. Mas, mesmo assim, são tentações surgidas a partir da sua humanidade, iguais às que ocorrem conosco. Pois originam das sensações humanas de todos nós, seja a fome de pão ou uma auto estima confrontada, a vaidade que só engana e até a angústia da solidão em momentos de luta. Situações em que Jesus foi tentado pra se afastar da Pessoa de Deus, utilizando sentimentos dele que se aproximam daqueles por que todos passamos. E se for pra comparar com esta última tentação de Jesus no filme - a de se tornar um homem comum; até desejamos viver uma vida bem mais simples, às vezes, no desejo de deixar pra lá certas responsabilidades éticas da nossa existência particular. Mas aí, já é um tema complicado demais pra estas poucas linhas. Enfim, o que diferencia mesmo esta última tentação de Jesus das nossas, e das outras dele mesmo; é o fato de Jesus ter sido desafiado a deixar de ser... o Messias. Isso mesmo! O Messias de todas as profecias judaico-cristãs milenares. Pois como o Cristo da humanidade, Jesus deve assumir a responsabilidade de reinar sobre as almas humanas, no exato objetivo de mudar o destino existencial delas. No caso, um destino mais atemporal e metafísico do que somente realizar um bom governo de justiça e honestidade em alguma região e nação do planeta. Ou seja, a missão do Messias é exatamente mudar a eternidade das pessoas! Daí que Jesus precisava encarar a morte humana e o "Hades" dos espíritos mortos dos homens, no objetivo de que essas experiências se tornassem algo somente dele. Sempre no propósito de conseguir afastar estas experiências "mortais" do destino da humanidade. A ideia central é a de que Jesus deve "viver" a morte humana e ir ao mundo dos mortos, para que os seres humanos que nele vierem a crer não precisem "vivenciar" mais estas mesmas mortes e Hades. Algo que Jesus jamais iria realizar se aceitasse sua última tentação, que o convidava a sair da cruz, pra exatamente se afastar - da morte; a fim de bem viver uma vida de homem comum. Haja Espiritualidade!*** O final de UM LUGAR AO SOL é a mais bela cena trágica romântica da história do cinema, superando até "Casablanca" e "E o Vento levou". Os belíssimos jovens Elizabeth Taylor e Montgomery Clift revelam um talento excepcional neste drama extraído do romance de Theodore Dreiser, com direção de George Stevens, USA, 1951. Montgomery Clift é George Eastman, que vai trabalhar na fábrica do tio e lá namora uma colega de trabalho, até que conhece a belíssima Elizabeth Taylor (Angela Vickers), iniciando com ela um outro namoro. O drama trágico já está bem desenhado, e só por isso você já deve assistir a este ótimo filme, sem erro. Mas há uma reflexão espiritual importante surgindo a partir das cenas finais do filme. Montgomery Clift enfrenta um julgamento penal e recebe a visita de sua mãe que vêm acompanhada de um Padre. E tudo parece normal, até que a conversa entre eles rodeia a possibilidade do "pecado" do assassinato. E quem assistiu o filme até ali sabe o que aconteceu. Mas vendo seu filho ser julgado pelo tribunal dos homens e diante da possibilidade dele chegar ao tribunal de Deus, a mãe busca no rosto do filho e o Padre nas palavras do réu alguma resposta para um dilema que pode ser eterno. Porém, a única certeza sincera de George Eastman é a de que - de verdade mesmo, ele não sabe bem o que de fato aconteceu. A mãe pede ao filho que descubra logo a verdade, enfim, pois se algum dia ele chegar ao tribunal dos céus, é bom que já apareça por lá perdoado. Algo que deve ser resolvido imediatamente, junto dela e diante do Padre; que está ali só pra ouvir a confissão do rapaz e assim lhe declarar um perdão espiritual. Mas George não tem certeza de nada. Uma confusão profunda que o ator representa de forma magistral, em palavras e expressões faciais que só confirmam ser Clift um dos maiores atores do século 20. E assim caminha a humanidade, e o enredo do filme. Isso até que o Padre resolve analisar o coração do rapaz, pois é ali que se esconde a resposta principal do romance. A pergunta é muito simples, e o Padre a faz com cuidado, e compaixão. Afinal, quando George estava no barco junto de sua namorada, pensava neles dois? Ou não, pensava mesmo era na outra garota, Angela, com quem ele vinha namorando desde sempre? Eis toda a questão, amigos, direto lá do coração. O olhar e a face de George respondem de pronto a pergunta, e o Padre e sua mãe obtém, finalmente, a resposta que tanto buscam. E assim também os espectadores do filme. Uma cena final que se traduz em eficaz aprendizado espiritual para a humanidade, pois revela que no coração do homem se encontra sua verdadeira personalidade. Aquela que Deus sempre vê, pois só por ali se enxerga e conhece tudo. O coração se torna, então, um espelho do espírito - nossa personalidade real. Pois até podemos nos confundir em pensamentos e desejos, mas as decisões do coração são aquelas que verdadeiramente esclarecem qual é nossa história pessoal, espiritual. Não que isto já defina ou realize algo concreto em nós, longe disso. Mas é o início de uma experiência de vida mais verdadeira, principalmente para os que desejam mover sua existência humana dentro da realidade de Deus. Cuide bem disso, então; e bom filme! *** Assistir a um DESENHO DE ANIMAÇÃO é bem diferente do que passar duas horas no cinema pra ver um filme de gente. Isso porque as histórias do cinema vivenciadas por seres humanos são íntimas demais pra nós. O que já não ocorre nas diversas animações das produtoras do momento, como Disney, Pixar, Dreamworks ou da Produtora LAIKA, que já nos presenteou com "Coraline e o Mundo Secreto", e "ParaNorman"; e agora nos brinda com KUBO e as CORDAS MÁGICAS. Os desenhos são aquele tipo de produção que parecem nos manter sempre protegidos de suas dores e tragédias. Tocam-nos de leve a alma e parece que ficaremos somente assim, em distante admiração, pois somente falam com sutileza de seus dramas, só de animação. Mas, assim que suas ideias chegam ao nosso coração, bem, o impacto é profundo, sincero demais. Lembro agora, de repente, de "UP Altas Aventuras" - pela sensibilidade, e de "Coraline" - pelo horror. Ambas animações com mensagens familiares muito fortes. Pois bem, a palavra de "KUBO" está nos sensatos conselhos que oferece para aquelas situações da vida da gente que são quase imutáveis. Ou, praticamente sem chance de virem a ser diferentes do que se tornaram. Os temas são bem universais e humanos: falam da morte de parentes, e também das doenças que só pioram o estado do paciente, mental e fisicamente. E ainda expõem a luta diária dos que brigam pra sobreviver ou estão sempre em busca de proteção, até dos próprios familiares. O que fazer diante de uma vida cheia de "tudo isso", então? Calma, o desenho não é uma tragédia. E sua beleza artística e sensibilidade dramática garantem bons momentos pra todo mundo. Mas são suas trágicas realidades humanas que irão, de verdade, tocar nossas vidas lá no fundo da alma da gente. O que não faz mal a ninguém, pois fora da realidade também não se vive. A perspectiva espiritual nasce de uma abordagem existencial que reconhece que nossas vidas - ou algumas situações definidas dela, não são e nem um dia serão, histórias vitoriosas de conquistas prazerosas. Pelo menos, não na perspectiva do que significa sucesso para a última geração. Pois todo aquele que corre atrás de uma vida cheia de realizações ancorada em aparentes ótimas conclusões; vai sim, um dia, logo se deprimir. Mais cedo ou mais breve. Eis a pertinente mensagem de "KUBO", que nos faz encarar de outra forma a realidade dos dias em que nada de novo parece surgir em nossa história. O que não significa que somos, todos, uns desgraçados. E também não quer dizer que não há mais futuro pra nós debaixo da terra. "KUBO" apenas chama nossa atenção para situações da vida que existem muito por aí, sempre a partir de algo que ocorre conosco, também. Pois somos todos humanos, afinal, vivendo juntos estes dias complicados da história. Até por isso, acreditamos na espiritualidade: uma vivência que procura entender o dia de hoje, sem esquecer que haverá também, um amanhã, lá na eternidade. Aprender um pouco mais disso a partir da mensagem de KUBO, é entender melhor o que disse RITAG YOUSSEF, garotinha síria de 8 anos, que TUDO perdeu em seu país, mas mesmo assim, afirmou que gosta de viver no Brasil, sim; pois aqui, "NÃO TEM GUERRA"! Seja só um ser humano, simples e bom. Mas, cuide da sua espiritualidade. E siga em frente!

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