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a Espiritualidade da Reforma Protestante, no Cinema: LUTERO.

Há exatos 500 anos atrás um monge da Igreja Católica ficou mais preocupado com o espírito do homem do que com a instituição religiosa dos homens. Assim que suas propostas de renovação foram rejeitadas, um grupo de fiéis "protestou" - evento que deu nome à Reforma Protestante do Cristianismo, no século 16. O filme LUTERO (Luther, 2003: Alemanha/Estados Unidos) condensa de forma objetiva tanto o drama espiritual do homem Lutero, quanto os debates doutrinários e suas consequências sociais, políticas e religiosas ocorridas à época. Pois o Cristianismo se organizou em Três movimentos religiosos espirituais através da História desde a vinda de Jesus Cristo ao mundo: a Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja Ortodoxa Oriental (1054), e a Igreja Protestante - que surgiu em outubro de 1517, sob a liderança de um monge agostiniano e professor de teologia, o alemão Martinho Lutero. O filme tem uma produção qualificada conforme requer a realização de um bom drama histórico, apoiado em interpretações consistentes e uma eficiente direção junto da marcante presença de Peter Ustinov em seu último filme. Já o protagonista Lutero surge de forma autêntica na atuação de Joseph Fiennes, que representa de forma impactante a personalidade do líder da reforma do Cristianismo. Uma presença personalista que comprova que até mesmo contextos históricos "prontos" para serem transformados, requerem lideranças humanas enquanto agentes de renovação da situação vigente. Afinal, as visões de mundo da Idade Média somente foram sobrepujadas pelo Renascimento assim que alguns homens assumiram o encargo de conduzir as mudanças necessárias que o novo horizonte lhes apontava. E como acontece muitas vezes na história, as transformações culturais da Reforma Protestante iniciaram em razão de um despertamento interior lá no espírito do homem, assim que ele enxerga na própria alma os vazios e angústias que ali residem. Pois foi vivenciando reais incertezas existenciais que Lutero atemorizou-se diante de Deus assim que um raio caiu bem perto dele, na exata época em que iniciava seus estudos de Direito na Universidade de Erfurt. Situação que o fez meditar na realidade da morte e da condenação ao inferno do juízo de Deus, numa experiência tão grave que resultou num voto religioso pela decisão de tornar-se um monge. Pois cada homem age espiritualmente dentro de seu conhecimento e segundo a cultura de seu tempo. Daí a importância de buscarmos um melhor entendimento das verdades espirituais da humanidade para oferecer respostas benditas à nossa alma em ocasiões oportunas. E pode-se dizer que foi esta busca existencial que transformou a vida de Martinho Lutero dali em diante, pois "viver" como um monge tornou-se a primeira opção para fugir da condenação espiritual, tá entendendo? Isto porque a mais piedosa espiritualidade alemã cristã da época ensinava que somente depois de praticar boas atitudes morais é que o homem receberia um retorno favorável de Deus - sendo este, então, um dos tantos projetos religiosos que prometiam livrar os homens do juízo divino para bem salvar as suas vidas, na eternidade. E foi assim que Lutero se tornou um dos mais disciplinados monges de seu tempo. Só que a alma, essa desgraçada, bem, continuava amargurada; e bastante assustada diante de Deus e da morte que continuava levando consigo a humanidade. Foi em meio a tais aflições e ansiedades espirituais que Lutero decidiu por dedicar-se mais profundamente aos estudos teológicos na Universidade de Wittenberg a partir de 1512. Buscava acalmar e dar direção a seus dilemas espirituais, o que o fez tornar-se primeiro um aprendiz de Agostinho de Hipona - e o resultado foi que a Bíblia se transformou na sua primeira e principal fonte de conhecimento acerca de Deus. E "dentro" da Bíblia, Lutero fez-se discípulo de São Paulo - algo que o levou diretamente para um encontro com a própria Pessoa Espiritual do Deus do Universo, a partir dos ensinos da "justificação pela fé" da Carta aos Romanos 3.21-22: "Agora, porém, conforme prometido na lei de Moisés e nos profetas, Deus nos mostrou como somos declarados justos diante dele sem as exigências da lei: somos declarados justos diante de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e isso se aplica a todos que creem...". É por aí mesmo, meu amigo! Lutero foi desafiado a parar de procurar um contato com Deus baseado nas suas melhores obediências religiosas, para - bem ao contrário disso, ir logo direto encontrar Deus Pai em Pessoa pela fé através de Jesus Cristo! As boas obras viriam somente depois, como uma consequência dele ter experimentado aquele encontro inicial com Deus - o que lhe permitiria renovar toda a maneira de viver a partir dali. Eis a razão porque este projeto de religião (religação de relacionamento) com o próprio Deus através da Pessoa de Jesus Cristo, chama-se, então: Cristianismo! Veja que no Cristianismo o medo do julgamento de Deus sobre a alma humana por causa dos pecados dos homens é superado pela promessa do amor de Deus que perdoa - e acolhe os homens pecadores, conforme ensinado pelo Evangelho (Boas Novas) de Jesus. Uma das mensagens espirituais mais transformadoras da história da humanidade, pois ao invés de prometer bênçãos divinas como um resultado do esforço humano, oferece uma vida junto de Deus como uma graça a partir da fé do fiel. Bem, a partir daí, o resto é história... Mas a espiritualidade da humanidade e a organização da religiosidade de quase todo mundo seguem adiante através de boas cenas da produção, sim. Martinho Lutero vai praticar o importante princípio espiritual de que se deve adorar a Deus "em espírito e em verdade", pois irá negar-se a afirmar qualquer doutrina que sua espiritualidade racional o oriente a discordar. Também irá promover a tradução dos livros da Bíblia do latim para o alemão no bom objetivo espiritual de que o povo germânico mais comum consiga aprender por si próprio o caminho, a verdade e a vida de Deus conforme os ensinos e as palavras do próprio Jesus Cristo. E um bom número de situações sociais e políticas iniciadas à época da Reforma Protestante de Outubro de 1517 igualmente estão no filme, revelando as boas e más atitudes que movem os homens em tempos de renovação da sociedade a partir dos anseios do espirito. Pois uma espiritualidade saudável requer ser assim mesmo, sempre renovando a realidade de todos nós. E quando vier, que venha com Amor a Deus, e Amor ao próximo - pois destes dois mandamentos depende toda a Lei de Deus. Bom filme.

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