quinta-feira, 19 de outubro de 2023

REFORMA PROTESTANTE. A Confissão de Fé da Guanabara. Confissões de Fé Reformadas. 2023.

O MARCO INICIAL da Reforma Protestante se deu em 31 de outubro de 1517 com a comunicação das 95 teses de Martinho Lutero, na Alemanha. "Somente as Escrituras" foi um princípio que se tornou lema e fundamento essencial da Reforma Protestante e dos cristãos que vieram a abraçar esse movimento na história. Esse valor e a doutrina religiosa consequente foram destaque no pensamento e organização da linha reformada protestante, que se desenvolveu inicialmente na Suiça e logo em diversas regiões da Europa. "A origem da Reforma calvinista, responsável pela formação das igrejas reformadas (como por exemplo, a igreja presbiteriana), encontra-se em fatos que ocorreram na Confederação Helvética. (..) Deve-se enfatizar que, embora tenha sido João Calvino quem conferiu a esse estilo de reforma seu formato definitivo, suas origens remontam a reformadores anteriores, como Ulrico Zuínglio e Heinrich Bullinger, que haviam se estabelecido na pujante cidade suíça de Zurique". (McGrath, p. 98-99, 2005). Esse movimento reformado igualmente buscou organizar suas definições doutrinárias através de documentos e Credos que se fizeram conhecidos como Confissões de Fé Reformadas. SURGIMENTO e Consolidação da doutrina protestante. Ao mesmo tempo em que a Reforma Protestante atualizava de modo distinto na história a autoridade das Escrituras, as diversas visões diferentes de interpretação entre os líderes da reforma também se tornava uma realidade, especialmente no pensamento distinto entre os "reformadores magisteriais" (que respeitavam as autoridades) e os "reformadores radicais" (mais revolucionários diante do Estado). Nesse contexto, surgiu a necessidade de definições "oficiais" que pudessem esclarecer tanto o que pensavam como o que desejavam os reformadores do cristianismo, sendo que, conforme McGrath, "as confissões de fé desempenharam essa função (...) (posto que) em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade": 1. As Escrituras. Consideradas pelos reformadores magisteriais como a autoridade suprema em matéria de dogma e conduta cristãos. 2. Credos do cristianismo. Esses documentos, como, por exemplo, os credos Apostólico e Niceno, eram considerados pelos reformadores magistrais como representativos do consenso da igreja primitiva, bem como interpretações precisas e autorizadas das Escrituras. (os credos eram considerados textos secundários em relação às Escrituras, e serviam para delimitar o individualismo da reforma radical). A autoridade desses credos clássicos era reconhecida tanto por protestantes quanto por católicos, bem como por vários elementos pertencentes à corrente dominante da Reforma. 3. Confissões de fé. Esses documentos eram tidos como oficiais por determinados grupos integrantes da Reforma. Assim, as igrejas luteranas primitivas reconheciam a autoridade da Confissão de Augsburg (1530) (embora nem todos os grupos protestantes entendessem desta forma). Para exemplificar, pode-se mencionar o fato de que as confissões de fé específicas foram elaboradas por alguns grupos. Algumas estavam vinculadas à Reforma em determinadas cidades - por exemplo, a Primeira Confissão da Basiléia (1534) e a Confissão de Genebra (1536). Portanto, o padrão básico adotado pelos integrantes da Reforma era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal, e ainda, das confissões de fé como de caráter terciário e local (pelo fato dessas confissões serem consideradas obrigatórias somente por uma denominação ou igreja de determinada região). Na Reforma, a constituição da ala reformada foi um processo complexo que resultou no fato de que várias Confissões - cada qual ligada a uma determinada região - tornaram-se influentes. As seguintes possuem importância especial. Em 1559, Confissão Gálica, França. 1560, Confissão Escocesa, Escócia. 1561, Confissão Belga, Países Baixos. 1563, Trinta e Nove Artigos, Inglaterra. 1566, Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental." (Mcgrath, p 109-110, 2005). CONFISSÃO DE FÉ DA GUANABARA. A denominação e doutrina presbiterianas foram estabelecidas no Brasil a partir da chegada do Missionário Ashbel Green Simonton, em 12 de agosto de 1859. No entanto, nos dois séculos após o descobrimento do Brasil, surgiram movimentos de implantação da fé reformada em nossa nação. Em 10 de novembro de 1555, o militar francês Nicolas de Villegaignon chegou na baía da Guanabara, sendo bem recebido pelos nativos, vindo a se estabelecer na ilha de Sergipe, onde foi edificado o Forte Coligny. Villegaignon solicitou a João Calvino o envio de missionários e colonos de fé protestante, no objetivo de desenvolver valores e a fé reformada na região. Assim, a Igreja Reformada de Genebra enviou um grupo de cristãos sob os cuidados dos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier, os quais chegaram na Guanabara em 10 de março, realizando uma celebração de gratidão no centro da ilha, sendo este o PRIMEIRO CULTO PROTESTANTE DAS AMÉRICAS. Villegaignon se desentendeu com os protestantes franceses (huguenotes) e os obrigou a deixar a colônia, em partida que ocorreu em 4 de janeiro de 1558, no entanto, cinco deles voltaram e foram bem recebidos, vindo depois a serem acusados de traição. Villegaignon "formulou um questionário sobre pontos doutrinários e lhes deu doze horas para responderem por escrito. O resultado foi a bela Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense." Villegaignon entendeu que suas respostas eram heréticas e os condenou a morte, alguns naquele momento e outros durante os próximos anos, de modo que Jean Du Bourdel, Matthieu Verneil, Pierre Bourdon e Jacques Le Balleur "ficaram conhecidos como os mártires calvinistas do Brasil." (Matos, p. 41, 2007). A Confissão de Fé da Guanabara pode ser definida como um "credo", sendo que o formato e quantidade de textos a posicionam como uma "confissão de fé", se tornando, assim, um dos primeiros documentos reformados confessionais, posto que, "a Confissão Galicana (1559), a Confissão Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1566) e a Confissão de Fé de Westminster (1648) são todos posteriores." (p. 44). Destacamos três características no documento: "a) é uma confissão de fé bíblica: está repleta de referências e argumentos extraídos diretamente das Escrituras; b) é uma confissão de fé cristã: expressa convicções e conceitos dos primeiros séculos da igreja; c) é uma confissão de fé reformada: contém pontos importantes do calvinismo, como a centralidade das Escrituras, a natureza simbólica dos sacramentos, a supremacia de Cristo, a importância da fé, o batismo infantil e a eleição, dentre outros." A Confissão de Fé da Guanabara contém 17 parágrafos que desenvolvem temas bem definidos: - doutrina da Trindade, com ênfase nas naturezas humana e divina de Cristo; - doutrina dos sacramentos, sobre Ceia e Batismo; - questão do livre arbítrio; - autoridade dos ministros; - divórcio e casamento de bispos; - intercessão e oração pelos mortos. "O texto faz diversas referências aos concílios da igreja antiga e aos pais da igreja, revelando os conhecimentos históricos dos seus autores (...) utilizam uma linguagem tirada do Credo Niceno (381) e de Calcedônia (451). As expressões "o Filho eternamente gerado do Pai" e "o Espírito Santo, procedente do Pai e do Filho" (Filioque) são bem conhecidas na história da teologia". A Confissão destaca 4 personagens da história da igreja; que são: Tertuliano (160-), Cipriano (200-), Ambrósio (339-) e Agostinho (354-). (Matos, p. 44-45, 2007). CONFISSÕES de Fé Reformadas. (livro: Harmonia das Confissões Reformadas). Introdução. O contexto histórico destas Confissões de Fé origina do período em que as igrejas reformadas desenvolveram Sete Confissões, as quais foram comparadas pelos autores a fim de que seu conteúdo fosse apresentado em sua singularidade e harmonia para conhecimento dos estudantes e fiéis. "As igrejas reformadas dos séculos 16 e 17 produziram várias coleções de confissões reformadas ortodoxas que diferenciavam a fé reformada tanto do Catolicismo Romano como de outros grupos de igrejas protestantes." Conforme vimos, as Confissões de Fé formam um terceiro grupo de anúncio e declaração da Palavra de Deus para os Cristãos protestantes, sendo que a Bíblia (Escrituras) é o documento primário, o Credo Apostólico é o documento secundário e as Confissões são o documento terceiro, sendo que as Confissões de Fé Cristãs Reformadas limitam o seu texto ao conteúdo das Escrituras, enquanto buscam fundamentar e esclarecer a interpretação bíblica estabelecida por essa vertente cristã oriunda do século 16, a partir da Reforma Protestante. Neste grupo de confissões reformadas, temos: as confissões da "família suiça", que são a Primeira Confissão Helvética (1536), a Segunda Confissão Helvética (1566), e a Fórmula de Consenso Helvética (1675). A "família anglo-escocesa", que contém a Confissão da Escócia (1560), com os Trinta e Nove Artigos (1563), a Confissão de Fé de Westminster (1646-47) e os Catecismos Maior e Breve de 1647. E ainda, a denominada "família germânico-holandesa", que apresenta três formas: a Confissão de Fé Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1563) e os Cânones de Dort (1618-19). Sendo que, "as sete mais adotadas pelas várias denominações reformadas... são as Três Formas de Unidade, a Segunda Confissão Helvética e a Confissão e os Catecismos de Westminster." O propósito dos organizadores da comparação e apresentação da visão singular destas Confissões, é de que "esta harmonia permitirá fácil acesso ao conteúdo das grandes confissões reformadas e também ajudará os cristãos holandeses reformados, os húngaros reformados, os ingleses presbiterianos e outros cristãos reformados a apreciar mais profundamente as confissões desses diversos grupos (...) A beleza deste livro é que ele ressalta a harmonia entre as confissões reformadas, a despeito da diversidade de suas inúmeras tradições históricas." (Beeke, 2006). DOUTRINA Reformada. Comparação. A Trindade! Tema: A santa trindade. 1. Confissão Belga: "Deus é um em essência, porém distinguido em três pessoas. De acordo com essa verdade, e com essa Palavra de Deus, nós acreditamos num só Deus, que é de uma só essência, na qual há três pessoas, realmente, verdadeiramente e eternamente distintas, conforme suas propriedades incomunicáveis, ou seja, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 2. Catecismo de Heidelberg: P. 25: Por que você fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo se há apenas uma divina essência... R: Porque Deus se revelou desse modo na sua Palavra, que essas três pessoas distintas são o único, verdadeiro e eterno Deus. 3. Segunda Confissão Helvética: "Cremos e ensinamos que o mesmo Deus infinito, uno e indiviso é um ser inseparavelmente e sem confusão, distinto em pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e, assim como o Pai gerou o Filho desde a eternidade, o Filho foi gerado de modo indescritível, e o Espírito Santo verdadeiramente procede de um e de outro, desde a eternidade e, assim, deve ser adorado como ambos (...) Enfim, aceitamos o Credo dos Apóstolos, porque ele nos comunica a verdadeira fé." 4. Confissão de Fé de Westminster: "Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. O Pai não é de ninguém - não é gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho." 5. Breve Catecismo de Westminster: "Há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três são um Deus, da mesma substância, iguais em poder e glória." 6. Catecismo Maior de Westminster: "Na Divindade há três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; essas três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais." Confissões de Fé. SÍMBOLOS DE FÉ da IPB. "A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única norma de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em virtude de a Bíblia não apresentar as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura." (p 67). As autorizadas Confissões de Fé protestantes vieram a se consolidar através de movimentos "pós-reforma", como destaca McGrath: "Tanto a Reforma protestante quanto a católica, foram sucedidas por um período de consolidação da teologia, em ambos os movimentos. No seio do protestantismo, luterano e reformado (ou "calvinista"), iniciou-se o período conhecido como "ortodoxia", caracterizado por sua ênfase em normas e definições doutrinárias. (...) O luteranismo e o calvinismo eram, sob muitos aspectos, bastante semelhantes. Ambos alegavam ser evangélicos e rejeitavam, de modo geral, os mesmos aspectos centrais do catolicismo medieval. Entretanto, eles precisavam se diferenciar." (p 112 -114, 2005). Nesse contexto, anotamos que "a Confissão de Fé e os Catecismos são conhecidos, historicamente, como Símbolos de Westminster. Eles foram elaborados pela Assembleia de Westminster (1643-1648), convocada pelo Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários, litúrgicos e administrativos para a Igreja da Inglaterra." (Matos e Nascimento, p 67, 2007). REFERÊNCIAS. MATOS, Alderi Souza e NASCIMENTO, Adão Carlos. O que todo presbiteriano inteligente deveria saber. Santa Bárbara d´Oeste, SP : Socep Editora 2007. BEEKE, Joel R e FERGUSON, Sinclair B. Harmonia das confissões de Fé Reformadas. Edit Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006 (páginas 9 a 12, 20-21). MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Edit Sheed, São Paulo SP, 2005. VAN Dixhoorn, Chad B. Catecismo Maior de Westminster. Origem e composição. Edit Os Puritanos. Recife, PE, 2012. (páginas 7 a 16). WATSON, Thomas. A Fé Cristã. Estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster. Cultura Cristã, São Paulo SP, 2009. (pg 7 a 15). Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor do Seminário Presbiteriano do sul extensão Curitiba e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana do Brasil.

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