segunda-feira, 30 de outubro de 2023

RELIG. E PÓS-MODERNIDADE, Texto 5. Seminário Presbiteriano do sul extensão Curitiba, 2023.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Religião e Pós modernidade do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2023. A ARTE PÓS-MODERNA. Novas Mídias. "A arte sempre obriga a filosofia abstrata a cair na realidade. Os artistas expressam o que crêem em formas concretas (...) A arte pós-modernista demonstra as consequências do pensamento pós-moderno vivamente. Mais importante ainda, são as artes, sobretudo, os comunicadores das óticas de mundo na cultura". Aspecto importante é a dedicação dos comunicadores para atuar junto da cultura popular na busca da "mente da massa". No entanto, "nem toda arte pós-moderna reflete o pós-modernismo. Mais uma vez, "pós-moderno" refere-se ao tempo em que vivemos; "pós-modernismo" refere-se à ideologia que está aparecendo como reação tanto às formas modernas como às formas cristãs de se ver a realidade". Neste sentido, artistas pós-modernos podem atuar contra a cultura atual, pois em reação diante da modernidade eles buscam valores antigos, vindo se contrapor aos pós-modernistas. Assim, "a reação contra o modernismo tem muitas características que os cristãos podem compartilhar e aplaudir. As ideias pós-modernas estão revitalizando as artes, abrindo-as para o passado e a vida humana cotidiana". (p. 87, Veith Jr, 1999). Um dos valores da arte moderna e especialmente da pós-moderna é a substituição da arte como expressão da "beleza ideal e sentido objetivo", de modo que artistas se dedicam "criar obras de pura imaginação particular". Vemos que a modernidade rejeitou Deus, mas manteve os absolutos, vindo a fracassar, enquanto que o pós-modernismo reage aos fracassos modernos, abandonando completamente os absolutos. "O clima intelectual e espiritual descrito nos capitulos anteriores encontra plena expressão nas artes. (...) A indústria do entretenimento espalha a ideologia pós-modernista de casa em casa onde haja aparelho de televisão". Terry Eagleton: "Existe, talvez, certo grau de consenso de que o artefato pós-modernista típico seja lúdico, auto-ironizante e até esquizóide; e que reaja à austera autonomia do alto modernismo descaradamente adotando a linguagem do comércio e da mercadoria. Sua posição para com a tradição cultural é de pasticho irreverente, e sua planejada falta de profundidade destrói aos poucos todas as solenidades metafísicas, por vezes com uma estética de esqualidez e choque". (p. 88, 1999). Características: arte modernista, "afetam alto propósito, a integridade do artista e da obra de arte e a busca de suas próprias visões da verdade; e, "os pós-modernistas brincam com sua arte, são abertamente comerciais e não tem nenhuma pretensão à verdade". "De fato, segundo a ideologia pós-modernista, tudo é ficção; toda verdade é uma ilusão criada por convencionalismos sociais. Os artistas pós-modernistas procuram realçar a percepção dessas convenções embaçando as fronteiras entre verdade e ficção. Fazem isso jogando com os convencionalismos da arte". (p. 89). Elementos: modernistas, validam a personalidade única do artista, vendo-o como um indivíduo único, buscando profundidade, a realidade interior e verdades complexas"; e, pós-modernistas entendem a auto-identidade como ilusão, desejam fazer uma "colagem de estilos diferentes", recicláveis e como produto de massa, sendo "obcecados por superfícies e por aparências superficiais". (p. 89, 1999). A arte pós-modernista entende que o contexto da cultura é importante, valorando "o relacionamento da obra com a sociedade, a natureza, a vida humana"; e essa aproximação junto da realidade abre perspectivas para vislumbrar aspectos espirituais e morais, sendo uma estética pós-moderna que poderá servir aos artistas e analistas cristãos. "Os pós-modernistas, entretanto, rejeitam os absolutos morais e religiosos, da mesma forma como rejeitam os absolutos estéticos. Buscam ligar a obra de arte à vida, mas a forma em que o fazem é moldada por sua visão da vida". (p. 90). "A arte pós-modernista tipicamente deixa de empregar um só estilo unificado; é uma colagem de muitos estilos (...) um quadro pós-modernista poderá ser um pasticho da Mona Lisa (em estilo renascentista), um deus grego (estilo clássico) e o Pato Donald (arte pop), todos dançando num cenário super-realista (...) Jacques Derrida afirmou que a forma primordial do discurso pós-modernista é a colagem. A arte da época costuma montar imagens discrepantes e sentidos incompatíveis, produzindo, ele diz: 'um significado que não pode ser nem univoco nem estável'. (...) A chave que liga as características principais da sociedade pós-moderna (...) até o pasticho esquizóide da cultura pós-modernista é o desvanecimento de um senso de História. Nosso sistema social contemporâneo perdeu sua capacidade de conhecer seu próprio passado; já começou a viver em "um perpétuo presente" sem profundidade, definição ou identidade segura". (p. 92). Ao mesmo tempo em que a nova tecnologia da TV busca preservar a história da TV, ao trazer e remeter a programas do passado, também utiliza esse encontro para produzir o que temos visto como apenas um "pasticho esquizóide". "A televisão reduz toda sua história a um perpétuo presente que ocorre simultaneamente em nossas telas, vazio de contexto e significado. A História não é algo do qual podemos tirar lições ou interpretar nossa própria época. Pelo contrário, a História torna-se um 'estilo'. (...) a cultura pós-modernista... fica reciclando o passado (...) Essa abordagem da História também funciona para atualizar o passado. Os historiadores revisionistas reinterpretam os eventos passados de acordo com preocupações contemporâneas, vendo a História através da lente do feminismo, do multiculturalismo e da política pós-marxista. Em vez de recriar a mentalidade daquela época, as versões contemporâneas apresentam o passado como espelho de nossa própria época". (p. 93). O pós-modernismo tem "fixação pelas aparências, as superfícies e os impactos instantâneos que não tem força de sustentação no passar do tempo". Gera uma sociedade que exige "gratificação instantânea nas artes e entretenimento. Enquanto os livros estimulam a reflexão interior, as imagens no vídeo apresentam só as aparências superficiais. As pessoas a quem faltam crenças também tem falta de identidade pessoal e vida interior. Portanto são, em todo sentido da palavra, superficiais. Essa superficialidade se manifesta nas artes naquilo que Jameson chama de "falta de profundidade planejada", de forma que personagens, lugares e situações planos e sem profundidade são utilizados tanto para ironizar a sociedade, como também se tornam um "valor estético positivo". (p. 94, Veith Jr, 1999). "Andy Warhol deu o nome de "A Fábrica" ao seu estúdio, e contratou operários para produzir em quantidade gravuras de Marilyn Monroe e outros ícones da cultura pop... As reproduções em massa supostamente libertam a arte das instituições ricas e abrem o processo artístico ao povão... Warhol também tinha a característica de nivelar o trivial e o profundo... Preparava em silk-screen fotografias de acidentes horríveis - corpos destroçados em desastres de carro, um homem empalado num poste de telefone... O trágico e o trivial estão reduzidos ao mesmo nível de banalidade". (p. 97). (...) "A despeito do aparente auto-engrandecimento dos artistas de performance, a arte pós-modernista se empenha num ataque proposital contra a qualidade humana do ser... a arte produzida em massa tem a virtude de desumanizar tanto o artista como a obra... assim como a brutalidade da televisão e do cinema nos dessensibiliza para a violência, Warhol procurava intencionalmente amortecer a sensibilidade humana. Para Warhol e outros pós-modernistas, a personalidade é algo que é preciso evitar (...) Alguns pós-modernistas, como Warhol, afetam uma pose de abertura impassiva diante da massa da sociedade... Outros pós-modernistas são furiosamente políticos... Ambos os campos, entretanto, minimizam o papel do artista e ridicularizam a noção de que a arte exista para elevar a sociedade". (p. 98/99). "A INTOLERÂNCIA DA TOLERÂNCIA: a crise da tolerância que, redefinida, se tornou repressiva, perigosa e intelectualmente debilitante. "...enquanto querem que as outras religiões se restrinjam à esfera privada, os secularistas insistem que tem o direito de controlar a esfera pública porque estão certos - completamente inconscientes de que estão tentando impor sua cosmovisão sobre os outros que dela discordam". (p. 3, D. A. Carson, 2013). 1. "INTRODUÇÃO: A face mutante da tolerância". (p. 12). Muitos pensam que falar acerca da "intolerância da tolerância" seja uma contradição e algo sem sentido. Inclusive, porque a tolerância é o tema crucial da atual cultura ocidental, e que não deve haver questionamentos, pois "a tolerância se tornou parte da "estrutura de plausibilidade" ocidental"; sendo um termo usado por Peter Berger "para se referir às estruturas de pensamento aceitas por uma cultura específica de forma geral e quase inquestionável". Ele entende que culturas mais fechadas carregam estruturas complexas e absorvem proposições conflitantes, enquanto que as estruturas de "uma cultura bastante diversificada" como a ocidental, são "estruturas de plausibilidade... necessariamente mais restritas, pelo fato de haver menos posições sustentadas em comum". (p. 11/12). Assim, sair em público questionando as estruturas plausíveis se torna algo logo taxado de "insensível, de mau gosto e grosseiro". Neste sentido, "a noção da tolerância está mudando e, com as novas definições, a forma da própria tolerância mudou... a triste realidade é que essa nova tolerância contemporânea é inerentemente intolerante. Não enxerga as suas próprias falhas, pois possui uma atitude de superioridade moral; não pode ser questionada, pois se tornou parte da estrutura de plausibilidade do mundo ocidental. Pior ainda, essa nova tolerância é socialmente perigosa e, com certeza, intelectualmente debilitante. Até o bem que deseja realizar é feito melhor de outras maneiras". (p. 12). Observe que no dicionário Oxford, "tolerar" significa "suportar, aguentar (dor ou sofrimento)". Hà um segundo significado, que diz que tolerar é "permitir que exista, seja feito ou praticado sem interferência de autoridade ou sem ser molestado", e há um terceiro entendimento que declara que tolerar é "suportar sem repugnância; permitir intelectualmente ou em gosto, sentimento ou princípio; transigir". E no Dicionário Webster, significa "consentir; permitir; não interferir; reconhecer e respeitar; suportar, aturar", e ainda, "aceitar a existência de perspectivas diferentes para reconhecer o direito das outras pessoas de ter crenças ou práticas diferentes sem tentar reprimi-las". (p. 12/13). E como complemento ao dicionário Encarta, temos: "1. Aceitação de perspectivas diferentes - a aceitação de perspectivas diferentes dos outros, por exemplo, em questões religiosas ou políticas, e imparcialidade em relação às pessoas que sustentam essas perspectivas". Observe essa essencial diferença, pois além de aceitar a existência de uma posição diferente, deve-se aceitar a própria posição em si, de forma que a pessoa não mais se opõe a ela. Ou seja, "a nova tolerância sugere que aceitar a posição do outro significa crer que essa posição seja verdadeira ou, pelo menos, tão verdadeira quanto à sua própria. Mudamos de permitir a livre expressão de opiniões contrárias para aceitar todas as opiniões; saltamos de permissão da articulação de crenças e argumentos dos quais discordamos para a afirmação de que todas as crenças e todos os argumentos são igualmente válidos. Assim passamos da antiga para a nova tolerância". (p. 13). 2. A IGREJA e as Afirmações sobre a VERDADE. (p 101 ss). Um formando de Harvad em 1991 afirmou que o termo para expressar o que haviam aprendido na universidade era simplesmente "confusão", pois as proposições expostas desejavam livra-los de toda e qualquer definição e certeza, de modo que eles poderiam se tornar "devotos a quaisquer valores que desejamos, com a mera condição de que não acreditemos que eles sejam verdadeiros". (p. 101). Trata-se de um problema recorrente a partir dos valores da nova tolerância, que ao definir a impossibilidade de se afirmar que algo está errado, é uma tolerância que "torna-se sinônimo de neutralidade ética ou religiosa". O contraste com a antiga tolerância é grande, já que aquela "requer que tomemos uma posição entre essas declarações éticas e declarações sobre a verdade antagônicas, pois se não fizermos isso, não estamos em posição de tolerar algo de que discordamos". (p. 102). Assim, entende-se que a crise existente nos mais diversos campos culturais da humanidade, desde a educação e política até a religião, tem origem no desprezo para com a antiga tolerância e no fortalecimento da nova tolerância. "Tanto a antiga tolerância quanto a nova tolerância, não são uma posição intelectual, mas sim uma reação social." A tolerância de antigamente traduz a posição de tolerar, conviver e aguentar valores e ideologias, pessoas e grupos de quem discordamos; enquanto a nova tolerância "é o compromisso social de tratar todas as ideias e pessoas de forma igualmente correta, exceto pessoas que discordam dessa perspectiva da tolerância". (p. 102). Os praticantes da nova tolerância desprezam qualquer raciocínio e sabedoria, propostas e princípios no objetivo de manter a superioridade da sua visão de tolerância. Todos que entendem valor na antiga tolerância devido a terem abraçado valores e posições como sua verdade, "são rotulados como intolerantes e excluídos, não merecendo mais lugar à mesa." (p. 102). "Em nenhum lugar esse conflito é mais profundo do que nas perspectivas contraditórias sobre a relgião, em geral, e sobre o cristianismo, em particular". (p. 102). Até defensores da pós-modernidade entendem que os que desejam transformar o texto bíblico em um tema de literatura nas universidades acabam sacrificando da Bíblia o que os cristãos dizem que ela é, a verdade. Jesus também surge como um modelo da nova intolerância, para os que defendem que Ele é "infinitamente tolerante"; sendo que a verdade bíblica apresenta que Deus é não somente tolerante, mas também bondoso e paciente diante da anarquia existencial de nossos pecados, com o destaque de que não é uma tolerância infinita, pois Profetas e Jesus afirmaram sobre o dia da ira do Senhor, e da volta do Cristo ao mundo nesse momento de juízo. Observe que Jesus ensina a não julgar no propósito de não condenar, e foi essa a atitude de Jesus diante de todos os tipos de pecadores, no entanto, Jesus mesmo afirmou a importância de saber e escolher entre o certo e o errado, além de anunciar a existência do inferno como lugar de julgamento aos homens. (p. 106/7). A atuação da nova tolerância em perseguir aos que contrariam seu pensamento avança não apenas na cultura em geral, mas também dentro de instituições que existem exatamente a partir de posições de verdade e valores próprios, como a Igreja. Quando a Igreja Católica afirma ser contra o aborto, e políticos católicos decidem votar a favor do aborto na regulação das leis, e em consequência, são disciplinados dentro de suas paróquias, a mídia afirma que estas igrejas agem com intolerância por agirem apenas no resguardo interno do que acreditam, e diante dos fiéis que ali estão porque crêem. Daí, surge a questão: "Será que nenhuma igreja, na qualidade de organização privada, tem o direito de disciplinar seus adeptos segundo suas crenças e políticas declaradas? (...) Muitos se lembram do discurso bastante conhecido do presidente Abraham Lincoln (...) - "Vocês dizem que acham que a escravidão é errada, mas censuram qualquer tentativa de contê-la. Há alguma coisa que vocês consideram errada, com a qual não estão dispostos a lidar como errada? Por que vocês são tão cuidadosos, tão sensíveis a esse mal e não a outro? (...) não devemos chamar de errado na política, pois isso seria trazer a moralidade para dentro da política e não devemos chamar de errado no púlpito porque seria trazer a política para dentro da religião (...) e não há nenhum lugar, segundo vocês, em que uma coisa errada pode ser chamada de errada." (p. 108). 3. ASPECTOS das afirmações CRISTÃS sobre a VERDADE. (p. 114 ss). O fato é que os cristãos que acreditam na bíblia irão definitivamente abraçar e defender a existência de certas verdades, sendo que, neste contexto, "as ideias seguintes são sugestivas, mas não exaustivas", no desenvolvimento de nosso autor: A verdade fundamentada na revelação, que apresenta que o conteúdo bíblico foi dado aos homens em eventos miraculosos. A verdade associada à história cristã primitiva, sendo algo que demonstra o modo como os apóstolos e líderes da igreja cristã inicial buscaram defender e manter a verdade do evangelho de modo intencional e correndo risco de morte. A verdade e o amor, sendo conceitos que a nova tolerância coloca como contrários, enquanto que o apóstolo João esclarece na sua primeira carta o teste da verdade, teste do amor e teste da obediência para os cristãos, sendo "que esses três testes devem ser aplicados juntos: não se trata de dois melhores dos três, nem existe a opção de passar em um deles e ser reprovado nos outros dois (...) Pois conforme C S Lewis destacou, 'Se Deus é Amor, ele é, por definição, algo mais do que simples bondade. E parece... apesar de ter nos repreendido e condenado tantas vezes, (que) jamais se referiu a nós com desprezo. Ele nos prestou o intolerável cumprimento de nos amar, no sentido mais profundo, mais trágico e mais inexorável". (p. 124/25). A verdade e a evangelização, como um conteúdo essencial da verdade pra se estabelecer diante do mundo e apresentar às pessoas, pois o "cristianismo insiste que em seu cerne residem boas novas sobre o que Deus fez em Jesus Cristo, novas a respeito de Deus que são verdadeiras, novas acerca do que Deus fez em Jesus Cristo que são verdadeiras, novas que podem salvar pessoas da ira que está por vir, então os cristãos devem falar sobre Cristo e trazer os outros para ele. Seria inconcebível não fazê-lo, não apenas porque é a verdade, mas porque é uma verdade de importância enorme e inimaginável". (p. 125). REFERÊNCIAS. CARSON, D. A. A Intolerância da Tolerância. traduzido por Érica Campos_São Paulo: Cultura Cristã, 2013. VEITH JR, Gene Edwards. Tempos pós-modernos. Uma avaliação cristã do pensamento e da cultura da nossa época. tradução: Hope Gordon Silva, Editora Cultura Cristã, São Paulo SP, 1999. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor do Seminário Presbiteriano do sul, extensão Curitiba.

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