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RELIG. E PÓS-MODERNIDADE, Texto 5. ARTE e INTOLERÂNCIA, 2025.

Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Religião e Pós modernidade do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr. A ARTE PÓS-MODERNA. Novas Mídias. "A arte sempre obriga a filosofia abstrata a cair na realidade. Os artistas expressam o que crêem em formas concretas (...) A arte pós-modernista demonstra as consequências do pensamento pós-moderno vivamente. Mais importante ainda, são as artes, sobretudo, os comunicadores das óticas de mundo na cultura". Um aspecto importante a destacar é a dedicação dos comunicadores para atuar junto da cultura popular na busca da "mente da massa". No entanto, "nem toda arte pós-moderna reflete o pós-modernismo. Mais uma vez recordamos que, "pós-moderno" refere-se ao tempo em que vivemos; e "pós-modernismo" refere-se à ideologia que está aparecendo como uma reação tanto às formas modernas como às formas cristãs de se ver a realidade". Neste sentido, artistas pós-modernos podem atuar contra a cultura atual, pois em reação diante da modernidade eles buscam valores antigos, vindo se contrapor aos pós-modernistas. Assim, "a reação contra o modernismo tem muitas características que os cristãos podem compartilhar e aplaudir. De forma que, as ideias pós-modernas estão revitalizando as artes, abrindo-as para o passado e a vida humana cotidiana". (p. 87, Veith Jr, 1999). Um dos valores da arte moderna e especialmente da pós-moderna é a substituição da arte como expressão da "beleza ideal e sentido objetivo", de modo que artistas se dedicam "criar obras de pura imaginação particular". Vemos que a modernidade rejeitou Deus, mas manteve os absolutos, vindo a fracassar em seus anseios, de modo que o pós-modernismo reage aos fracassos modernos, abandonando assim, completamente os absolutos. "O clima intelectual e espiritual descrito nos capitulos anteriores encontra plena expressão nas artes. (...) A indústria do entretenimento espalha a ideologia pós-modernista de casa em casa onde haja aparelho de televisão". Terry Eagleton: "Existe, talvez, certo grau de consenso de que o artefato pós-modernista típico seja lúdico, auto-ironizante e até esquizóide; e que reaja à austera autonomia do alto modernismo descaradamente, adotando a linguagem do comércio e da mercadoria. Sua posição para com a tradição cultural é de pasticho irreverente, e sua planejada falta de profundidade destrói aos poucos todas as solenidades metafísicas, por vezes com uma estética de esqualidez e choque". (p. 88, 1999). Características e elementos: arte modernista, "afetam alto propósito, a integridade do artista e da obra de arte e a busca de suas próprias visões da verdade; e, "os pós-modernistas brincam com sua arte, são abertamente comerciais e não tem nenhuma pretensão à verdade". "De fato, segundo a ideologia pós-modernista, tudo é ficção; toda verdade é uma ilusão criada por convencionalismos sociais. Os artistas pós-modernistas procuram realçar a percepção dessas convenções embaçando as fronteiras entre verdade e ficção. Fazem isso jogando com os convencionalismos da arte". (p. 89). Elementos: modernistas, validam a personalidade única do artista, vendo-o como um indivíduo único, buscando profundidade, a realidade interior e verdades complexas"; e, pós-modernistas entendem a auto-identidade como ilusão, desejam fazer uma "colagem de estilos diferentes", recicláveis e como produto de massa, sendo "obcecados por superfícies e por aparências superficiais". (p. 89, 1999). A arte pós-modernista entende que o contexto da cultura é importante, valorando "o relacionamento da obra com a sociedade, a natureza, a vida humana"; e essa aproximação junto da realidade abre perspectivas para vislumbrar aspectos espirituais e morais, sendo uma estética pós-moderna que poderá servir aos artistas e analistas cristãos. "Os pós-modernistas, entretanto, rejeitam os absolutos morais e religiosos, da mesma forma como rejeitam os absolutos estéticos. Buscam ligar a obra de arte à vida, mas a forma em que o fazem é moldada por sua visão da vida". (p. 90). "A arte pós-modernista tipicamente deixa de empregar um só estilo unificado; é uma colagem de muitos estilos (...) um quadro pós-modernista poderá ser um pasticho da Mona Lisa (em estilo renascentista), um deus grego (estilo clássico) e o Pato Donald (arte pop), todos dançando num cenário super-realista (...) Jacques Derrida afirmou que a forma primordial do discurso pós-modernista é a colagem. A arte da época costuma montar imagens discrepantes e sentidos incompatíveis, produzindo, ele diz: 'um significado que não pode ser nem univoco nem estável'. (...) A chave que liga as características principais da sociedade pós-moderna (...) até o pasticho esquizóide da cultura pós-modernista é o desvanecimento de um senso de História. Nosso sistema social contemporâneo perdeu sua capacidade de conhecer seu próprio passado; já começou a viver em "um perpétuo presente" sem profundidade, definição ou identidade segura". (p. 92). Ao mesmo tempo em que a nova tecnologia da TV busca preservar a história da TV, ao trazer e remeter a programas do passado, também utiliza esse encontro para produzir o que temos visto como apenas um "pasticho esquizóide". "A televisão reduz toda sua história a um perpétuo presente que ocorre simultaneamente em nossas telas, vazio de contexto e significado. A História não é algo do qual podemos tirar lições ou interpretar nossa própria época. Pelo contrário, a História torna-se um 'estilo'. (...) a cultura pós-modernista... fica reciclando o passado (...) Essa abordagem da História também funciona para atualizar o passado. Os historiadores revisionistas reinterpretam os eventos passados de acordo com preocupações contemporâneas, vendo a História através da lente do feminismo, do multiculturalismo e da política pós-marxista. Em vez de recriar a mentalidade daquela época, as versões contemporâneas apresentam o passado como espelho de nossa própria época". (p. 93). O pós-modernismo tem "fixação pelas aparências, as superfícies e os impactos instantâneos que não tem força de sustentação no passar do tempo". Gera uma sociedade que exige "gratificação instantânea nas artes e entretenimento. Enquanto os livros estimulam a reflexão interior, as imagens no vídeo apresentam só as aparências superficiais. As pessoas a quem faltam crenças também tem falta de identidade pessoal e vida interior. Portanto são, em todo sentido da palavra, superficiais. Essa superficialidade se manifesta nas artes naquilo que Jameson chama de "falta de profundidade planejada", de forma que personagens, lugares e situações planos e sem profundidade são utilizados tanto para ironizar a sociedade, como também se tornam um "valor estético positivo". (p. 94, Veith Jr, 1999). "Andy Warhol deu o nome de "A Fábrica" ao seu estúdio, e contratou operários para produzir em quantidade gravuras de Marilyn Monroe e outros ícones da cultura pop... As reproduções em massa supostamente libertam a arte das instituições ricas e abrem o processo artístico ao povão... Warhol também tinha a característica de nivelar o trivial e o profundo... Preparava em silk-screen fotografias de acidentes horríveis - corpos destroçados em desastres de carro, um homem empalado num poste de telefone... O trágico e o trivial estão reduzidos ao mesmo nível de banalidade". (p. 97). (...) "A despeito do aparente auto-engrandecimento dos artistas de performance, a arte pós-modernista se empenha num ataque proposital contra a qualidade humana do ser... a arte produzida em massa tem a virtude de desumanizar tanto o artista como a obra... assim como a brutalidade da televisão e do cinema nos dessensibiliza para a violência, Warhol procurava intencionalmente amortecer a sensibilidade humana. Para Warhol e outros pós-modernistas, a personalidade é algo que é preciso evitar (...) Alguns pós-modernistas, como Warhol, afetam uma pose de abertura impassiva diante da massa da sociedade... Outros pós-modernistas são furiosamente políticos... Ambos os campos, entretanto, minimizam o papel do artista e ridicularizam a noção de que a arte exista para elevar a sociedade". (p. 98/99). "A INTOLERÂNCIA DA TOLERÂNCIA: a crise da tolerância que, redefinida, se tornou repressiva, perigosa e intelectualmente debilitante. (...) Enquanto querem que as outras religiões se restrinjam à esfera privada, os secularistas insistem que tem o direito de controlar a esfera pública porque estão certos (de tudo que pensam e definem) - completamente inconscientes? de que estão tentando impor sua cosmovisão sobre os outros que dela discordam". (p. 3, D. A. Carson, 2013). 1. "INTRODUÇÃO: A face mutante da tolerância". (p. 12). Muitos pensam que falar acerca da "intolerância da tolerância" seja uma contradição e algo sem sentido. Inclusive, porque a tolerância é o tema crucial da atual cultura ocidental, e que não deve haver questionamentos, pois "a tolerância se tornou parte da "estrutura de plausibilidade" ocidental"; sendo um termo usado por Peter Berger "para se referir às estruturas de pensamento aceitas por uma cultura específica de forma geral e quase inquestionável". Ele entende que culturas mais fechadas carregam estruturas complexas e absorvem proposições conflitantes, enquanto que as estruturas de "uma cultura bastante diversificada" como a ocidental, são "estruturas de plausibilidade... necessariamente mais restritas, pelo fato de haver menos posições sustentadas em comum". (p. 11/12). Assim, sair em público questionando as estruturas plausíveis se torna algo logo taxado de "insensível, de mau gosto e grosseiro". Neste sentido, "a noção da tolerância está mudando e, com as novas definições, a forma da própria tolerância mudou... a triste realidade é que essa nova tolerância contemporânea é inerentemente intolerante. Não enxerga as suas próprias falhas, pois possui uma atitude de superioridade moral; não pode ser questionada, pois se tornou parte da estrutura de plausibilidade do mundo ocidental. Pior ainda, essa nova tolerância é socialmente perigosa e, com certeza, intelectualmente debilitante. Até o bem que deseja realizar é feito melhor de outras maneiras". (p. 12). Observe que no dicionário Oxford, "tolerar" significa "suportar, aguentar (dor ou sofrimento)". Há um segundo significado, que diz que tolerar é "permitir que exista, seja feito ou praticado sem interferência de autoridade ou sem ser molestado", e há um terceiro entendimento que declara que tolerar é "suportar sem repugnância; permitir intelectualmente ou em gosto, sentimento ou princípio; transigir". E no Dicionário Webster, significa "consentir; permitir; não interferir; reconhecer e respeitar; suportar, aturar", e ainda, "aceitar a existência de perspectivas diferentes para reconhecer o direito das outras pessoas de ter crenças ou práticas diferentes sem tentar reprimi-las". (p. 12/13). E como complemento ao dicionário Encarta, temos: "1. Aceitação de perspectivas diferentes - a aceitação de perspectivas diferentes dos outros, por exemplo, em questões religiosas ou políticas, e imparcialidade em relação às pessoas que sustentam essas perspectivas". Observe essa essencial diferença, pois além de aceitar a existência de uma posição diferente, deve-se aceitar a própria posição em si, de forma que a pessoa não mais se opõe a ela. Ou seja, "a nova tolerância sugere que aceitar a posição do outro significa crer que essa posição seja verdadeira ou, pelo menos, tão verdadeira quanto à sua própria. Mudamos de permitir a livre expressão de opiniões contrárias para aceitar todas as opiniões; saltamos de permissão da articulação de crenças e argumentos dos quais discordamos para a afirmação de que todas as crenças e todos os argumentos são igualmente válidos. Assim passamos da antiga para a nova tolerância". (p. 13). Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor do Seminário Presbiteriano do sul, extensão Curitiba.

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