O filme "À Espera de um Milagre" (do Diretor Frank Darabont), baseado em texto de Stephen King, conta em seu "drama existencial" a história de um homem negro enorme com feições gentis que é acusado injustamente de matar duas meninas de forma cruel e abusiva.
O ambiente da narrativa do filme é a penitenciária de Could Mountain, na década de 1930 na região sulista dos EUA, sendo que o astro de cinema Tom Hanks é o policial Paul Edgecomb, supervisor da equipe de vigilância dos presos que aguardam a pena de morte.
O cotidiano relacional entre os presos e policiais é marcado por personagens diversos e situações bizarras, até que uma perspectiva poética assume as rédeas do enredo quando conhecemos o preso John Coffey, (Michael Clarke Duncan), condenado injustamente pelo homicidio das meninas.
A partir deste enredo, a espiritualidade do Sacrifício presente na Paixão de Cristo na Páscoa é um tema profundo da existência de que podemos refletir alguns aspectos na história do personagem John Coffey, um inocente à espera de um milagre.
Afinal, esse não é o único milagre que aguardamos na impactante história que se torna o drama essencial do filme. Pois para além e adiante do que se pensa e imagina, o nosso preso inocente Coffey também carrega na alma e no corpo a capacidade de realizar milagres diversos, especialmente a cura de doenças das pessoas que cruzam seu caminho. Sim, ele foi preso com as meninas mortas em seus braços e tomado de sangue por todo o corpo, exatamente porque dedicou todo seu esforço para ressuscita-las.
Nesse contexto, sabemos que Jesus de Nazaré foi o cidadão palestino de origem judaica que demonstrou ser o Messias de Deus Pai Todo Poderoso ao morrer na sexta-feita e ressuscitar no domingo. Depois, ainda viveu mais 40 dias aqui no planeta e encontrou quase 500 pessoas até subir aos céus de corpo e tudo.
Ocorre que o fato essencial da Paixão da Páscoa - ou seja, o sofrimento e morte cruéis de Jesus na sexta-f revela que esse ato de sacrifício ocorreu exatamente para curar a humanidade de uma enfermidade e maldição gravissimas - a morte comum e histórica das pessoas. Pois o ato da morte encerra a existência de todos os seres humanos neste mundo, numa experiencia que deixa saudades e dor, e causa angústias e temor em todo mundo que um dia já nasceu.
Observe que a realidade espiritual da paixão da páscoa é que a cura da morte da humanidade foi um fato histórico e transcendente que provocou grande dor e desgraça na pessoa de Jesus, exatamente quando Ele entregou a sua vida e espírito pra ser tragado pela morte no lugar dos cristãos.
Essa mesma perspectiva de sofrimento ocorre quando o preso inocente John Coffey realiza alguns milagres, pois ele também absorve e toma para si próprio as doenças e horrores dos enfermos que se dedica a curar. Uma das cenas impactantes apresenta o modo como ele absorveu em seu organismo as células cancerosas de uma pessoa doente, até cuspi-las de forma violenta como se fora uma praga bíblica.
Neste sentido, as cenas em que visualizamos as curas milagrosas de homens e mulheres doentes no filme revela um aspecto do que houve na crucificação e morte de Jesus de Nazaré. Pois o Messias de Deus levou consigo a morte da espécie humana para curar as pessoas desta enfermidade maldita, sendo que o seu sofrimento fisico e existencial ocorreu exatamente porque Jesus abraçou as nossas enfermidades e castigo como se fora uma "esponja" de nossos pecados, que recairam todos sobre o Filho de Deus.
Uma vivência espiritual predita pelo Profeta Isaias 700 anos antes do nascimento de Jesus, em que aprendemos que o Messias seria o Servo Sofredor, na citação do evangelista Marcos do tema do cap. 53 do livro do profeta: "O Filho do Homem deve sofrer muitas coisas e ser rejeitado (...) ser morto e depois de três dias ressuscitar" (Mc. 8.31).
Junto desta verdade bíblica, o Profeta Daniel revelou a vinda do Filho do Homem como o Rei dos céus e da terra, um conhecimento que Jesus mesmo anotou sobre si, conforme Marcos 14.62; "Vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu".
Sendo que foi o teólogo e pensador cristão John Stott quem bem explicou a unidade destes dois conceitos proféticos, ao dizer que "Jesus fez algo que ninguém antes dele havia feito: ele fundiu a glória de Daniel 7 com o sofrimento de Isaías 53 a fim de ensinar que somente através do sofrimento ele entraria em sua glória. Ao usar a expressão: "o Filho do Homem deve sofrer", ele uniu as duas imagens." (p. 140, 2007).
Diante destas profecias, dedicar um tempo para refletir a Paixão de Cristo como o sofrimento necessário do Filho de Deus na obra de cura da humanidade, também conduz os cristãos a entender porque um bom número das virtudes que eles devem praticar na sociedade igualmente irão maltratar o coração e gastar o corpo dos que obedecem a Jesus, afinal, é assim que se vence o mal com o bem.
Bom filme. Feliz Páscoa!
Referências. A Bíblia toda, ano todo : meditações diárias de Gênesis a Apocalipse / John Stott : tradução: Jorge Camargo. - Viçosa, MG : Ultimato, 2007.
Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de ciências da religião, tendo publicado o livro, Resenhas espirituais de Meditações cinematográficas, com quase 40 análises de filmes, Editora Dialética, 2020.
Esse texto tem objetivo didático na disciplina de Símbolos de Fé no Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba. Daí a utilização de resumos e citações mais longas no interesse de oferecer aos alunos o conteúdo apropriado para o entendimento necessário aos debates e explanações em aula. CONTEÚDO de Aula: CONTEXTO HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. TEOLOGIA REFORMADA. "Trata-se da teologia oriunda da Reforma (calvinista) em distinção à luterana. O designativo "reformada" é preferível ao calvinista... considerando o fato de que a teologia reformada não provém estritamente de Calvino." (Maia, p. 11, 2007). OS CREDOS E A REFORMA. "Os credos da Reforma são as confissões de fé e os catecismos produzidos nesse período ou sob sua inspiração teológica. Os séculos 4 e 5 foram para a elaboração dos credos o que os séculos 16 e 17 foram para a feitura das confissões e dos catecismos. A razão parece evidente: na Reforma, as...
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